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Colao Eades Dirgha por} Ginsbuny _ Ana Mae Barbosa (org.) fulo oalos |aois : _ENSINO DA ARTE: MEMORIA E HISTORIA SY, B= perspectiva Aw Equipe de realizag8o~ Fag de texto: Adriana Carvano Arijo e Sous: Revsto de prov: racer A. de Olver: Sobrecapa:Sexpi Kon, Pronto: Ricardo Neves, Sergio Kan e Raquel Femandos Abmnches um projeto moderno em acaéo “pioneira” de ensino da arte ~ no Museu de Arte de Sao Paulo Rita Luciana Berti Bredariolli LDedigue! mina vides cnamizando ue bind de mis sma ruponsdbilidade: a integraga da cra com 0 ne ea vibilagao do verdadero encomro eave 0 no¥0 € ‘mortal cian seco respite na intgridade do se proesso red de devenvlsimento esimbolo ct semen do Jaane @ men de arte como laboraorio vive do que ex tee mors expressing em espertenclas arias e eleva sh exprito amano. ABORATORIO VIVO" cupando mil metros quadrados da sede dos Diirios Asociados no ¥o Guilherme Guinke, 0 Museu de Arte de Sto Paulo foi inau~ jo em 2 de outubro de 1947, Seu programa fora elaborado de cdo com as concepedas modemnas de museu', assumindo o cariter m“museu-vivo”,dinémico, voltadod edueaeoartistica-culturalde Bi grande piblico. Este “novo sentido social” do museu inspirave ‘Depotmento de Succ Rodrigues sobre “Clube fy de Arte” do Museu ede Sto Paulo ‘Um museu moder defines como uma insu ign a uma fungH0 89°) snaradac impalsonada por sea relaeionarento com inca privada. Em storia farcon dana macchinacutarle dol’SDD ogg (Museu, Hiss ode una Maquina Cultura doe SOD ate Hoje, Lanfranc Binn, ao elaborar earcterizagio de soa moder, dstaca dis marcos origins primei 13 quando da sberora do British Museum, expand a form-musea” por seu i pic, sburand ns carctritias da Sociedade moviera, burguess "ite": do detorminado pela Revolngao Francesa, responsive! pela compresnsto do Icom "mafqvin eduativa ble” ste padrao de muscu moderne as *musew etal heucato pbc, fos aéeadoe difundido, nda as palavras deste autor, poles insitiqdes none-amiercanas,fmaas como modelo para moses ‘mu apart 8 Pés-Pircra Guerra, Ox musewsnorte-mercaos as demon 1b aspra d burguesia do séeulo xv, diferente dos eurepes, Tonga hia none wei pielpoe no norires ds mvrads das Musas” de iis ws ENSINO DA ARTE: MEMORIA EHISTORIA sun programagao dirigida “especificamente & massa no informada, ‘nem intelectual, nem preparada”. Museu de Arte de Sto Paulo for assim definido e conccbido como o grande redentor de um pais imer s0 em uma “cultura em inicio”. Estabelecer 0 Masp como um museu moderno, voltada para x ‘educaga0 de um grande piblico, era uma preocupagio notével na fala de seus fundadores, organizadores ¢ colaboradores,reiterada desde «| sua inauguragdo plas paginas dos jornais e revistas do grupo Distios Asociados, “porta-vor™ oficial dos eventos promovidos por Assis (Chateaubriand, AAs atividades educativas no Masp tiveram seu inicio antes mes: mo de sua inauguragao', caso, por exemple, do curso de preparagay para monitores’. Em “O Museu como Era”, fcaram registrados os ‘cursos promovides pelo muscu na tentativa de tomé-lo um “org nismo vivo” a fim de “manter o interesse” das “trezantas pessoas” que o froqiientavam. Para cstimular esta freqléncia, o “Museu es- tabeleceu um constante didlogo com piblica”, eriando cursos de historia da arte, de arquitetura, de teatro, de estética, de historia ¢ es ‘ética do cinema, entre outros, sempre acompanhades por “conferén: ins, debates, projegdes, audipdes, recitais, concertos ete.”. Actistay « intelectuais brasileiros e estrangelzos eomo De Ruggero, Silvio D'Amico, Germain Bazin, Alberto Cavaleanti, Deoclécio Redig de Campos, Gilberto Freyre, José Lins do Rego, José Geraldo Vieirs, (Oscar Niemeyer, Heitor Villa-Lobos, Murilo Mendes, Hans-Joachim Koellrentter entre outros, foram alguns dos que passaram pelo Mas promovendo cursos ou palestras. O Masp fora instituldo como “um auténtico museu vivo, um museu-escola, uma casa de cultura CLUB INFANTIL DE ARTE: UMA EXPERIENCIA “PIONEIRA” DE ENSINO DA ARTE NO MASP. entre os cursos organizados no Masp um foi especialmente dedicado As eriangas. Criado pela atriz de teatro de bonecos Suzana Rodrigues. ‘© Club Infantil de Arte, "sociedade dos pequenos amigos do Museu”, 2.1. Bo Bad, Fungo Social do Museu, Habitat, 1, . 17 3A. Chateaubriand, Esplndide Conquista do Espirito Coletivo: @ Museu Vi «que ebit suas ports ao povo de Sto Paulo, O Dicro se Sda Paulo, 10. 4."A primeira preccupacto de profesor Piero Maria Bardi fo forma joven ‘qs pdesiem esclarcero pile sobre quesies de ne. Anes des inauguraga @ ‘Museu de Ae ji ea uma Esco O Mute Come Era, Dire de Sao Pave, p. 3-4 5. Desrito na matéia “Monitores para © Museu de Are assinads por Arlint Siva divulgada pes evista O Crueira 6-0 Museu com Fra, 07st 7. Tero ailizado pels artista eprofessra de ais Hehe de Carvalho, canlemp rea de Suzana Rodrigues ose referers Clu Infill de Ae. A.A Crianga no Museu, © Dilro de io Phy, 3 A LIBERDADE como miéTODO 19 ‘naugurado no dia 5 de abril de 1948, Como eventos de sta aber- , foram realizadas palestras sobre teatro de bonecos ¢ a pega O nfantil de Arte evincidiam com as aspiragdes ¢ conceitos presentes {Hos discursos educacionais, elaborades e difundidos desde o fina: do lo x1x e inicio do Xx, reiterados e intensificados depois da eclo- das Grandes Guerras: 0 anseio por formar individuos integros, icados imielectual, emocional, estétiea & mocalmente, capazes de de forma cooperativa, constituindo, portanto, uma sociedade quilibrada e controlével. Estes objetivos ficam explicitos na fala de i2ana Rodrigues sobre seu trabalho no Club Infantil de Arte. O res gito & individualidade da crianga e a educagdo estética como meio Ede ascenstio moral, permeando atividades voltadas 20 congragamento Goletivo, io constantes de seu texto ¢ refoream a certeza de sua imer- $20 no vértice das idéias modemistas sobre arte e educagao. Propiciar um ambiente adequado para “dar & crianga condigao de se expressar como ela quer”, era ponto bisico da concepgao de trax Iho da diretora do Club Infantil de Arte. O professor deveria manter espeito aquilo que a crianga estivesse expressando, deveria “entrar ‘mundo dela” esta seria a graga do professor de arte. A interferéncia § deve ocorrer quando a crianca estiver se repelindo, caso contri, @ estiver “interessada vivamente no que esté fazendo (...] respeita J deixa ela 14 fazendo™. Para Suzana Rodrigues, @ liberdade de expresso foi um “logue de migica” naqueles anos de 1940 © 1950, as criangas eram “incentivadas a colar copiar desenhos, prin- mente de tampas de caixas de bombons com muitas paisagens de sada a ver com a nossa realidade e 0s nossos invernos"”, ‘estudos centrados no relacionamento entre a evolugao da espé- ‘humana ¢ 0 desenvolvimento infantil so citados pelo professor hhumano, por meio de estudo comparativo entre a evolugdo da es ie € do individuo, foi a responsivel pelo despertar do interesse 4, Rods, lnrovina Conceia «Rita Breda 10, Dapoimento Condo Ris Breall 11, A. Praia, © Lohapatinie yperimental de Pv sprite 2a ENSINO DAARTE: MEMORIA E HISTOR ALIBERDADE CONG METODO 2 dda psicologia pelo desenho infantil”. Em 1887, foi publicado 4 Arte da Crianca de Corrado Ricci. Um ano depois Bernard Perez, Iu cava A Arte e a Poesia da Inféincta, Ambos infuéncias para James Sully, autor de Estudos sobre a Infancia, obra langada no final dow ‘anos de 1890, considerada fundamental dentre estas primeiras pes: ‘quisas. Estes estudos moveram outros ao longo do século Xx, come os de George-Henri Luquet, Sylvio Rabello, Nereo Sampaio, Piaye! e Inhelder, Viktor Lowenfeld, para citar alguns dos nomes mais po pulares. AS iias destes autores, bem como as de muitos outros do “mez” varias palestras foram realizads!", mobilizando os eireu- artistico e intelectual paulistano as discusses modemnistas sobre lacionamento entre arte e psicologia, destacando as manifestagi sivas infantis espontineas, como possibilidades de reconheci- lento da evolugao da espécie humana. Dentre as palestras realizadas ‘caM durante 0 “mez” dos loucos € das criangas, estava a do Dr. 0 de Alcantara, publicada em resumo pela revista Rumo sob 0 Jo “Ensaio de Psychologia ¢ de Pedagogia do Desenho Infantil” ACtiangas-Artistas, Doidos-Artistas” traz um texto exemplar, pelo inicio do século xx" expandiram-se para os campos artistic ¢ cll = gemetegistro das idgias recorrentes no universo modemnista, sobre a re- cacional, estimulanda um interesse cada vex maior pela expresso infantil, principalmente aquela manifestada “espontaneamente”, ocr sionando desdobramentos teéricos, até a culmindncia da instituigio «da “livre-expressio" como “inétodo", tstas. Neste, afirma-se que os desenbos das eriangas, quando “no pidamente controlados pelos professores", teriam uma “profunda incia psychologica {sic]", pois evidenciariam “todo o drama Concomitante a proliferacdo destas pesquisas sobre o desens imico dos homens das cavernas, do epithecanthropus erectus”, volvimento e expresso anistica da erianga, tomaram-se comuns is gpresentando como num “panorama” da espécie humana, as “formas mostras de produgGes infantis, excitando discussGes e acirrando @ gems ume evolucdo longinqua™. As produgdes infantis, segundo 0 texto, curiosidade sobre esta manifestagdo expressiva. Jonathan Fineberg'* do geradas pelo impulso livre do lipis desdobrariam toda a “tra :menciona 0 final dos anos de 1890 como period inicial das exyxr in da vida e do mundo, todos 0s cataclysmas [sic] da alma e de sigdes de trabalhos infantis. Marcel Brauschvig'* faz referéncia a a jolorosa caricatu ‘uma exposigto sobre a “Arte na Vida das Criangas”, reatizada em {fade tudo” apresentando-a numa “simplicidade de formas {sic} © de Berlim em margo de 190], montada em sete sepdes dentre 2s quain 2” que faria “inveja aos grandes artistas”. Os “verdadeiramente decoragao da escola ¢ da casa, os livros © estampas ¢ a “erians des artistas”, seriarn aqueles que proctuzissem com a mesma “es- leo desenho infin, las tnhar como bass a teora ds rocapiclago qu, ne 250, procuavaexplicarapscogénese humana ulizaido o desenho infant emo um ‘esiamento de comparacio ene evolupfo da espcie es evelup do individu” W Coutinho, A Cold de Desens Infars do Acervo Maria de Arad, p 42. 15. Rejane Coutiato estbsleces um quads de referencias tedica, onde ect 0: virios autores do final de sésulo xe primeira metade do x que realiarun pes {quis relaconando a expresso inal ea picoogi. CF. Syivio Rebello eo Dew Inf. 97-107. 14.1. Fnebere. The Imocent Bye, Aries, 15. Etorty etm, 16, Crises Anists, Doldow Arita, Rom, “esptito revolacionrio [...] eorageme [J ativa patcipayo" de Ann Malfati ao tentar “abrir novas perspectivas para as emboloradas ates plésteas no Brasil", clareando espago para inumeros jovens 05 impul sionando “na Jut por um ideal que nose atinge, mas euja deteminagdo por isso € toda a grandeza de uma vidal™, Anita Maat, tomou-se peo Fessora de desenhio em 1928, quando regressa ao Brasil depois de unr temporada de estudos em Paris. Ao verter sua formacao "modema” ¢ pressionista” para suas zulas, Anita inova a coneepeao de ensino de desenho vigente, 20 considerar os “sentimertos” infantis: “meu metho do [sic] € meramente mecanio [sic] e intitvo, orientado por observe es psychologicas [sic] que me induzem a aproveitar 6 sentimento do alumno [sicl”". Este trecho, referente & um artigo do jomal Correia dy Terie, presenta também usa exemplificagao deste seu métod a part da descrigdo de uma série de desenhos realizado sob a sugestio de uma representacdo de um piquenique. O jomalistaressaltava a diversidade Ue resultados, calcados na subjctividade, nenhuma das figuras correspon dia is regularmente esperadas: "Nenhum delles(...] eve a sugestao do almogol..] pareceré estranha esta diversidade. Funda-se, todavia, b+ jectiamente[sic), naquillo [sic] que produziu maior sensoglo na eriangn [.--]dos desenhos [..] depreende-se o clevado grau de fantasia"™, ‘As mencionadas “obras” foram comentadas por Tarsila Amaral no artigo “Instrucgo Artstica-Infantil™ veiculado pelo Correto da Tarde de 28 de Agosto de 1931; neste texto, avalia a importncia das exposi- ses ocortidas em 1930 para a arte moderna, Afirma a importincia da “Sinstrucgo artistica” por ser a *manifestago contemporinea de pen- dores artisticos que possam vira ser grandes valores”. Destaca e eloyia 6s trabalhos criads sob orientado de Anita por obter “promissores ssultados, cutivando principalmente a imaginagao de seus alumnos™ ‘Mirio de Andrade foi outro modernista interessado por esta ex= Posigio, dedicando a ela um artigo no Diario Nacional de 23 de no- verabro de 1930. Nele exalta a qualidade espontinea dos trabalho, criticando aqueles que demonstravam ainda uma certa propensio copia , “trios como Cambuci”. Para o emtico, nesta mostra “hava ndo 56 muito que aprender, como teoria de pintura ¢ como psicologia, ‘mas também umas ts ou quatro obras-primas indiscutiveis"™ 20.5, Rods, Ana Mali grande pnt rai, © Dri de Se Past 2) A Mal, Mosrando Cratos Canis pra Si Forno Arie tea, Correio da Tarde, 22 le ber 25-Tenta viedo plo Correo do Tad 28 jen 1931, pd A.M. Bato, fara Que Hsia Res anc 24 3: Ie, em. 25. M. 6 Ande, Ph nh. |ALINERDADE Como METODO Nesta descoberta de Yobras-primas™ dentre 9 selasfin exposta, istas”™ a valocizagdo da producio infantil como objeto aristico ‘Mario concebia a produ infantil como “obra de arte”, mas no, ga. Possuia eritérios de julgamento para qualificar 0 valor artistico de uma obra ¢ responsabilizava o acaso se porventura se deparasse "uma “verdadeira obra de arte realizada por eriangas"* % Coneomitante ao interesse pela ane infantil, desde a década de 930, a freqiiéncia de exposigoes de trabalhos infantis aumentava no 10 paisa, mas foi a exposigo de desenbos de eriangas ingle ‘de 194), que foi considerada pelos modernos da segunda gerago Epmo a de fundamental importancia para a mudanga de mentalidade onseqilente valorizasio da produsdo grificae plstica da eran mans Rodrigues também a mencionow quando levantou os fatores Aves pelo despertar do iteresse pela arte da erianga durante ada de 1940. sta mostra foi trazida ao Brasil por uma iniiativa conjumsa de inistério da Educagio, Museu Nacional de Belas Artes, instituto No nal de Estudos Pedagsgicos (Inep), Associugio Brasileira de Educa p, Assovingdo dos Artistas Brasileiros e Sociedade Braslcra de Cultura lesa. Aapreseniagdo do catilogo & assinada por Herbert Read. > Inicialmente montada no Museu Nacional de Belas Artes do Rio Janeiro, vajou para outras quatro cidades brasleras, inclusive 6 Paulo, sendo instalada na Galeria Presies Maia, em Dezembro de $941 e vsitada por 26 mil” expectadores registrados. => Cecilia Meireles dedica dois artigos da sua Pagina de Edueagan jomal A Manhd a este evento. A primeira dels, do dia 5 de outu- de 1941, taz a inauguragdo da mostra no dia anterior, descrev= Fmontagem orgenizada seguindo a idade dos “jovens anistas", ava- fundo-a positivamente, pois assim 0 espectador poderia acompanher de um enterevedor desenho de uma crianga de ts anos até as 26. R. Coutinho, A Colo de Desenhor Infants do Acero Mévio de Andrac "2. Misi de Antrade coecionoy desenhos infants Rejane Coutinho ealogi nou eta coleySo que eta arguvad no Init do Estos Hrasleos (EE), ado ta Universidade de Sto Pao. Rate trabalho fi dserito em sua tse 82 trad ocima citaca, nota 26. A autora define of ncios desta cole entre os arms 19201927, quando Mario java se tomado professor de histrin dn arte no Cox rio Musca. Alem das pesqus picoldgicas em torn dos fesenhos intent, fame Coutnko aponta come fetor do scree de Miro de Andrade pea poauio, dn erianga.o proprio dette modernist sxe a yolEmica produto artsticn ds 3s, ds eucoe © dos primitives. 38. M. de Andee, Piura Infant 29.8. G. Peosa. The Infvence af Brglsh Art Bchctton Upom Briton Art om 104, 2 ERSINO DAARTE: MEMORIA E HISTORIA AtineRDADe como MerODO mas composigdes dos adolescentes de dezessete™. Ainda neste artigo thi consideragdes sobre 0s tabalhos expestos, notando que temas malt fe udanga funcional do professor, 0 qual passari a sugert ao in- “Sombrios” vio surgindo nas produgdes de acordo com a idade: “id de impor Read também discorreu sobre o ambiente de aprendiza- os doze anos esti tudo trangia [...]. Mas © grupo dos treze anos Souja nginizasao deveri propiciae "ume atmosfera que induza tem uma inspiraglio menos sossegada”. A reago do publico também © Isa a exteriorizar a fantasia rica e cheia de vida que esté em sua foi comentada, lamentando-se a falta de compreensio e de “elegin = fie”, dotando a aprendizagem de naturalidade e prazer, como tam- cia” de alguns espectadores que no contemplavam com a “devidi no queria, Suzana Rodrigues, para o seu Club Infantil de Arte sériedade uma exposicgo que, afinal, nesta altura dos tempos, tem © A livre-expressdo era para 0 trballio de Suzana Rodrigues 0 seu um significado especial”. No pardgrafo final de sua erOniea, deposi Principal motivador. No entanto, € nesessino fazer deixar clara a sperangas nas palestras” a serem realizadas durante a mostra, eam ao desta “lvre-expressto", cio significado indica @ conquista forma de esclarecimento pars aqueles de “alma volvel dita, arteleducagao “renova, futo das mudangas propiciadas por ‘bscurecida”, fazendo com que “estes desenhos sejam para tod 0 mentaligade modernisa,vineulada 4s teorias do eampo da psico- aque esto sendo para os anistas verdadcros, © para os verdadcion Ja, em caja concep8o ainda era presente adiscusso sobre 0 concei+ edvcadores — um encantamento completo, uma festa poética um so jae liberdade. E exernpar um pequeno techo da autora Lucie A. Me rho © uma purificao no meio dos das atrozes a que assistmios™ al, contido na apresentagdo do livr0 Tear de Titres en la Esevele Em sea segundo texto de 10 de outubro de 1941, Celia Meirstea Os Marinetes ra Escold, pois nole& exposta, sntetieamene, adie registra a abertura da mostra que ocorreria no dia seguinte. Exalta Tiberdade requecida por estes teéricos modemos. Engana-se quem seit valor educativo, recomendanda-a para todos aqueles, além dos Gea live-expressio,em seu sentido iniial, era um estilo & pais ¢ professores, que “podem influir na obra de educagdo artistica’ uma produgao absolutamente sem restrigdes. A liberdade era um con: Segue dizendo tratarse de una étima oportunidade para discussbea Rei debatido, tizha um significado definido no conjunto deste ides sobre arte, pois "as erangas, os primitivas e 0: oueos s20 05 que se ‘Lacie A. Me, Call apresenta a Tiberdade como outorga de direita acham em melhores condides de dar exernplos de arte verdadeis, na de expressaro que parca €signficativoe de maximo inte porgue se move em uma aimosfera sem resrigtes, onde o impulso no entanto,wata-ce de uma fiberdade restrie, dirigida,limitada friador assume formas de intira liberdade postica™ a rontema ene a dferenga da express2o pessoal eoexibicionisma, Herbert Read, na abertura ao catilogo desta exposigBo, chamou deando o dstngeo feta por John Dewey entre selPexpression evel a atengio para as alteragdes oorrdas no mito educaciona durante n posure, Para Lucie Call, reverberando as reflexdes de seu tempo, primeira metade do século xx, devido a0 “nosso erescente conheci+ mento da base psicoligica da pedagogia", Mosira-se consciente de aque a situagao do ensino da are no curriculo escolar esté distanle de uma solugto bem sucedida, mas admite as mudaneas ocasioni+ das, motivadas pel atuagdo de James Sully, Franz Cizek e Ebenezer Cooke, chamando-os de “pioneiros de reforma”, os quais foram, se- undo Herbert Read, responsiveis pela érdua tarefa de “reivindicat b valor estétieo" dos desenbos infantis produzidos gob as circunstin+ cias da ivre-expresséo. = Transformages ocorridas no sistema eseolar estartam forgando lores iniuigos da ete originale foe sto w cenge desowerada, a submissio jews [il odencido, a negligenca[sil ¢wsupericilgade, © ambiente proprio da desodevivtcu on muisalios ais de honradeze sincerdade. A eianga deve Snir pes para buscar em si mesmo slgoiovimo para dizee™ Herbert Read conceitua a livre expressiio no defini e distinguir tipos de expressio: a instintiva, inata © indireta, equivalente & iporigio”; ¢ a expressio direcionada a um fim, direta e concen “revonhecida por Read como sentimento. Em outras palavras, 30. Nos das 16623 de outro de 1941, Fram ratzads una sri de pletion sobre desenfos infans,promovias pela AAB, AssoeingSo dos Arisias Brasileiros Georgina de Albuquerque, Lourengo Flt, Cesta Kelly e Peregrine Junior, compre Farm grupo palestante do dis 16 de outubro, A conferacta do dia 28 de cut fo ‘eliza Welisa Mavnbo, Anucrio do Masen Nacional de Blas Ares, pT. 31.€ Metles, Deen de CracgasIglesas emt. A, dle Azevedo Filho, Core ia betes: erties de educa v. 8p. 15-17 52. € Merle, Desens bins, Crime Bc, 127129. 32, Exposed de Deseo de sealers so Gretta. Catlogo do expen so, 1941-1002, = 54, ana Mac Barbs sbord 0 conteto de expresso eant-expresstoelbero+ por Jota Dewey, dcmonsrand, pea reproduea de un Fagen de exo date " rescapagie em eiztr desenvolimeto infnil “E comum as eraes SG dejo deve exposure plo Gesenboe ela cot Se 8 Howtos adel dar nese lasso, peti que at sem controle, o desenvolvimento dacs uramente oeulanal. &necestrio, mediante crea, sugestos ergy excar hs corcincia do ue exe do gun deve fzer" em John Dewey e 0 Ensine de “Arena Bras 7. 8. AS Dy are There a Hvenel,p.8 3p, Ara Arte. 1920, ENSINODAARTE: MEMORIA E1ISORIA primeira trata-se de reapdes impulsivas, instintivas; a segunda ses 4 expresso claborada destas alividades reativas deseonenas. Estas disposigdes impulsivas, por serem rolativamente inditetas © aparen temente ndo dinigidas & um objetivo, s20 chamadus de “express livre”, as quais podem “dar origem 2 uma necessidade de expres so muito positive”, no entanto, 0 autor ressalta em uma antecipa- edo suzestiva, que “expressao ‘livre’ nio quer dizer necessariamenle expressto ‘artistica"™. A expresso livre, segundo Herbert Read, era pottanto um impuiso a ser elaborado, para ento promover 0 efetive desenvolvimento, num primeiro momento, da erianga e depois da sua ate, pois 0 que estava em jogo nesta concepeao era a formagio in tegral da crianga e no a sua produgio artstca. A arte infantil, neste ‘aso, era.a ponte para, através dela, atingira educagio. Este pensamento de uma educacio pavtada er uma “Tiberdade” orientada, em elaboragao desde as concengBes de Rousseau, aravessou ‘© tempo tingindo as idéias de Dewey, adentrando a década de 1940 como representagao de um avango na quslidade da edueagao infant vislumbre de uma formago integral da crianga na interseglo entre in lectoe sensibilidade. Nos anos de 1970, © mesmo ideal libertria acaba assumindo as vestes do pejorative fassez-faire, formato oportunisia de ant-educagdo artistica, intencionalmente esvaciads de significado, na {qual as eriangas era obrigadas a produzir por produzir, muito coma cm nossas escolas durante a década opressora, gerando resracesso ¢ esvaziamento cultural iberdade de expresso perde seu sentido pi coldxicoe antistioo para tomar-se um fazer em desatino. Parte desse quadro se deve & forma de incluso do ensino de arte na escola, Aguilo que poderia ter sido muito bem aproveitado para a formagao dos alunos ~ no easo muitos slunes, pois 0 ensino da arte ‘era finalmente dectarado obrigatbrio em todas as escola, piblicas ou privadas ~ torara-se aberragao. De um dia para outro, num s6 gol. as escolas se vim obrigadas a incluir em seu eurriculo uma discipli- nua nova —que sequer foi caracterizada como ta de acordo com 0 tea da Let de Direrizes e Bases responsivel por sua imposiglo - sem ‘qualquer profissional devidamente qualificado para ministré-la. NSo se tata de obra do acaso a incluso da arte no cutriculo durante & periodo de ditadura militar. Em 1966, 0 Ministerio da Educagao rece beu o “auxilio” de tecnicos da United State Agency for International Development (usaib) para desenvolver o programa educacional bra- sileiro, Programa este de cunho tecniista-profissionalizamte, apro- priado para o “abastecimento” de mao-de-obia para as indistias {imultinacionais) em instalagdo no Brasil. No rastro deste plan, em 197], pela to 5692171, insttufda em 11 de agosto, impoem-se como obrigatria a educagdo artistica nas eseotas, assim como, pela mesin Tei, as disciplinas de educugao moral c fviea, edugngto fisica e prom ramus de sade, reincidéncin de um prajeld.edueagional moderno, ne A LineRDADE COMO MéTODO wr lendo claramente no controle socal pela edueage, Mais uma vera fb debatida equagto modema: arte aliada ao condicionamento fsico, nico, moral, ¢ civieo da populagto, em prol de uma sociedade rolivel por sin paver centralizador. uma educagao na qual, ent ese alguma haveria espago para a abordagem erica, A escola da dead de 1970 “deveria ser um ambiente a-ritico, processador de um ‘o-aprendizagem fragmentado, estereotipado, neutro e que con- pissed “repetitividade obsessiva c & obedineia™”” Seis anos depois, o relatéro sobre 0 tratamento ser dado aos porentes curriculares previstos no artigo 7 da Lei n* 5692/71, fa ma escola das palavras, acabou por ofcializar 0 falssez-fore tf das aulas de “educagio antstca” da década de 1970: “Neste qua~ aro, confirma-se a inequivoca importineia da educasto artstca, “que uma matéri, mas ume area bastante generose e sem contornos Fos, lutuando ao sabor das tendénciase dos interesses”™. "h livre-cxpressio defendida nos idos de 1948 ainda respirava Sos ares das ulopias modernistas, apoiando-se ei Seus pressupostos, librando-se sobre o objetivo definido de uma renovacko do ensi- ‘a arto, por isso, legitima. Suzana Rodrigues, entusiasta do novo, Eaiénia c envolvida com mudancas de seu contexto “moderno”, nc Sesxou, em fla alguma de reiterar a importancia da “lvre-expressto" dds mesma forma nfo deixou de salientar 0 valor da figura de fessor como orientadar em determinados momentos considerados mos Suzana Rodrigues assegurava a liberdade de expressao da erian- 2, porém respeitando 0s limites impostos pela observagio da natu 3a, evidenciando reminiseéncias roménticas em sua empostagio jodera, ao abrigar na mesma atitude a “imaginagio e 9 observe Beto". Sea crienga cometesse algum “absurd” er sua representacin natural, era teva observaro sou moxtelo e comparando-o con feito, chegar & constataglo de seu “erro”. Sun livte-expressio ert ptida pelo limite da abservacio da natureza, prSxima & concepgén iahn Dewey. Proxima lambém do texto do programa pedagde para os jardins de infincia e escolas primérias de Femando de vedo: "em vez de comigr-Ihe a expressto, guicla [a crianga] nes rvagées[...] 0 professor chamara a atengdo para as despropo- es [.-] para que o aluno va aprendendo a comparar grandezas © 37.5. Benedetti Ate € Tunsformogdes nat Culture Escolar p28. 38. CHPSG, Sobre oTratamnento 9 Ser Dado aos Componentes Curses Pe os no Arig Pd ein, 3692/7, Parecer ce, $4077 "9, Ant Me Batboa lias ie 0 ensno da are movi pes relacto dates Ente minngawabwerynAd em coms inpiagtoo romantiame. Ver Jef Dew fo Rosin rt 0 ral BB ia: 20 FENSINO DAARTE: MEMORIA EISTORIA poss ele proprio corigit-se em futuros trabalhos"™ Indo mais longe, ate a raiz destes conceitos, préxima as preocupagdes de Jean Jacques Rousseau quanto a0 euidado em estabelecer limites @ liberdade do = prendiz, para desenvolver-Ihe 2 responcabilidade, mantends 0 ate {0 aos ensinamentos da natureza, mas sempre com muita diserii, Para Suzana Rodrigues “a professor deve falar 0 minime possive, se ele puder set mado melhor”. A interferéncia se estabelece em mo ‘mentos decisivos, a0 perceber a atitude repetitiva da crianga ou a0 notar 0 seu distanciamento dos modelos naturais ‘taro que se uma criaga esiverdeseahundo a igs humana com ita dees, sen \etos, 0 papel do professor €chepar mult abilmente edz: op Vamos char nes rmdosioha, pe sux miczinhs agi ¢ vanes conar un, dois, quatro, cine ‘quanto € que tem? Vamos contr quant tem. Eno chest erado, ao poses ssi dessa manera voes val induzindo ur evianga a obserar melhor fer mth, opi melhor, reprodzt relbor, ea es aprendendo a entender que no & com oi (quer vezes precise socom ¢: una mio, cinco ded", Em declaragées recentes, Suzana Rodrigues ainda defendeu a idéia de dar livre abertura as manilestagdes antsticas da erianga, provendo-a de um ambiente que “faa valer sua personalidade”, sas ‘com orientagdes expressas por um didlogo democritice, uma “toca de idéias”. Pois as vezes “nio & como ela quer as vezes precisa ser como é”. A liberdade deve ser respeitads, no entanto limitada pela otientagdo e responsabilidade, distante do degradado, laissez-faire, {que tanto contribuiu para a fragilidude do ensino da arte ALIBERDADE NO MUSEU: ATTVIDADES DO CLUB. INFANTIL DE ARTE plano de curso do Ciub Infantil de Arte foi assunto em 1 de abril dde 1948, do jomal 0 Diirio da Noite, cuja matéria destacava 0 card ter abrangente do plano quanto ao piblico almejado. Abaixo do titulo inka a seguinte chamada: “Suzana Rodrigues elaborou interessante plano, que abrangeré todus as criangas de $, Paulo, das pragas publi- cas, dos asilos, dos hospitais™. (© programa elaborado por Suzana Rodrigues para 0 Club Infantil de Arte mostrava-se comio extensdo dos seus ideais ¢ de trabalhos an- teriotes com teatro de bonecos, enfatizando a produgto coletiva do teatro de bonecos ea “iberdade” expressiva de cada crianga, Dividia-se 0 Fe soonest bos fb Dove Eden bh pt ‘1S Roig Evra Cncedi Ria Brth {25 Rain Pim aan ce nt re 13, Trabalhars no Programa Exduewcional Mentido gum Awito pele Muxew de ‘Ante, Didrio da Noite. ‘relaiaate A LneRDADE CoMOETODO 20 ix duas partes chamades de Plano A ¢ Plano B. A eriagao de histo- modelagem dos personagens, confec¢ao de figurinos, desenhos cenérios, representaglo de histrias ¢ desenho livre, bem como jeto de wm “trabalho exiemno”. voltado para apresentagses em 1g2s publieas e jardins de bairros populosos da cidade, interessan- Bie arregimentando as criangas para o Club”, faziam parte do Plano Concluindo as atividades componentes deste segmento do pro- 1, Suzana Rodrigues planejou uma “sintese do trabalho geral, vistas ao ‘Museu de Arte™, propondo a insergaa das produgdes ants a0 acervo do Museu, nesias palavras: “selegao de desenhos, inos ¢ cenarios, cabegas modeladas e historias para figurarem colegdes infantis do “M. de. A”. + O Plano B era reservado @ “outras atividades" pensadas no in- fercmbio entre o museu, hospilas e asilos de criangas. Na descrigao seis itens integrantes desta parte identificamos os principios do fue mais tarde se tonaria a “Binguedoterapia™, © item “a” propu- ‘20 Museu a organizagto de visitas para criangas , quando ofere- a a elas “audigbes de misica, possibilidades (materiais © mcios) a desenhar, madelar, confeccionar figurinos e improvisar historias ‘eatrinho”. Esta idéia inicial nao foi concluida totalmente, houve eragGes, explicadas pela propria Suzana Rodrigues, justificando, que a ida ao “musev, é para passear ndo para desenhar. Se quiser de- tudo bem, mas ndo € uma coisa que tena que fazer. Para ela ais agradvel & passear, entfo eu suspendi esse negécio!™. ‘Continuando, Suzana Rodrigues expe no quarto item seu desig- Inio de criar “a possibilidade de incentivar os “brinquedos em equi com grupos de criangas frogientadoras”, reiterando que seri mnsiderada a “imaginagio criadora da crianga na confecgio destes quedos”. Nos dois sitimos itens fica estabelecido como objetivo, intercdmbio entre © Museu de Arte de Sao Paulo e 03 hospitais. O Blano encartegava o Museu pela procura por eriangas hospitalizadas, Efoferecendo-Ihes pequenos "Teatros de titeres' proprios pars funci nar ern leitos”, as eriangas mais préximas da cura divertiriam as mais joentes. Estes seriam instruidas para confeccionar pequenos “teatros sombra” e outros “divertimentos proprios”. Além deste trabalho fom os bonecas, Suzana Rodrigues planejou atividades plisticas, Ueterminando a distribuigdo de grand= quantidade de papel e tinta para que as criangas desenhassem “livremente”, incluindo também ‘como parte desta atividade, pequenas “exposigdes ambulantes nos F) a4,parattamente &s atviaes no Museu de Aste de Sto Paulo, Suzana Rod E gues desenvolvia oabulho em hooptise aslo. No inal de dcada de 1940 esa Frisitvs gantou ndoriedae econguistos sv iemtidade, a0 er apelidada "Bringue- flterapa, nome ern pelo Dx Enis Aguiar de Cavan, médico do hospital ds Cline de Paul, “45,8, Kil Anois Concedida 9 Ria Breda, aia ENSIMO DA ARTE: MEMGRIA E HISTORIA hospituis, constaulo de gravaras, desenhos, pinturas mais interessantes sobre essas mostras” para aquelas que escrevot sem “historias (Sie] mais interessantes” ¢ para as que modelassem “personagens mais curiosos” Rememorando © ambiente do Club Infantil de Arte, Suzana Rodrigues nos contou que o inicio de seu trabalho acontecia em uma ante-sala, chamada Sala Suja, onde as criangas pintavam sem qual {quer intervengaio em grandes papéis estendidos, presos sobre as pare des, usando tintas naturais © comestiveis “feitas com frutas, era com ‘a mao que elas desenhavam, fazia aquete embaralhado de beterraba com laranja, com espinafte, tudo que desse cor de uma forma natural, se libertando™ ‘A crianga passava algum tempo apenas experimnentando o mate Fal. Depois cansava-se da monotonia da atividade ¢ comegava, pot cela mesma, a elaborar um desenho, Neste momento, era condurida para uma outra sala, Primeiro “faziam aquela bobagem na sala sujal depois iam para “o trabalho na outra sala, de atuagao, de trabalho, de ‘ocupagao pessoal de cada um™’ 'A Sala Suja era uma espécie de método usado em instiuigtes inglesas voltadas a0 tratamento de jovens “delinqdentes”. Tbiapabs Martins a0 tedigit um artigo" sobre 0 trabelho realizado por Suzana Rodrigues em asilos ¢ hospitais da cidade de Sao Paulo, menciona esta atividade, usando-a como introdugo ao seu artigo, Seu texto foi base do em uma publiceggo da Unesco, 0 B Correo do més de feverciro de 1950, que divulgou tal experiéncia apontando a eficécia deste “méto- do” no tratamento de jovens agressivos. O artigo demonstrava que a ppassagem pela Sala Suja, auxitiava a liberagao da agressividade cont a, dando “vast & raiva primitiva”, liberando “seus pesadelos, temores ce Sonos”. Assim como as eriangas do Club Infantil de Arte, apés esse exercicio de “liberaglio”, os jovens cram levados para a “sala da calma da limpeza”, onde praticariam agies mais organizadas e construtivas “Entdo, curam-se!, Por todo © conteddo do texto, sintetizado por esta ilvima expressio, este jomalistae critico de arte configum a ideologia predominante de sua época, responsével pela condugo do ensino da art, vista, entZo, como um tratamento contra os males do espirito. ‘Suzana Rodrigues, atenta a seu contexto, movida pelos conceitos modernos de educagdo, inseriu a experincia da Sala Suja entre as ati vvidades do Club Infantil de Arte, inicialmente desenyolvidas a partir da produgio do teatro de marionetes, esiendendo-se pouco a poco para 46 Idem, 437. dem. biden 48. Martina, O Dieta da Crane Cheap ate, aque pudessen | despertar interesse nas eriangas. Finalizando Plano B, a sugestio de instituir prémios para as criangas que apresentassem “opines ALIRERDADECOMO METODO a Epurras artes, Poesias de Cecilia Meireles, Garcia Lorea eram fon. feitura assim como “as aventura de Dom Quixote, as tramas de Rskeaspeare”. Audic2o das misicas de Villa-Lobos outro complemen ormacio das criangas Freqlientadoras do Club Infantil de Aste, "As critnas eram divididas em grupos, cada qual responsavel por tarefa, jo era “essencial”. Alguns produziam o enredo, outros enitio, Rgurino, € modelagem das cabegas dos bonecos, sempre rientacdo “segura © razodvel, porém de absoluta discrigao” 2 qual contribuindo com sua pare para a realizagio de um iinico Fabalho coletivo. Esta atividade, assim realizada, segundo Suzana Rodrigues, desenvolveria nas criangas habilidades importantes para ybom relacionamento social renga que assim iabulberem |] adqusro desembaroo, erdendo tee Byun, que €nyatas vezes um empociho e um cerpleno, desswolver2oo Se Spi Heinle que lhe dara rapide © arplinide 20 racic, adguirro a nogho de had, pea public mosta de se tabalho, Finalmente esa organizarao do fecvolvimenta sort silencosamente [| rovendo o adapta da rings para & pid efcertement © o trabathocoletivo eva bastante apreciado por Suzana Rodrigues, pois era compreendido como um exercicio de responsbilidade. Qutra Gividade em grupo realizada no Club Infantil de Arte, indispensivel mum atelier moderno, ert 0 uso de grandes pedagos de papel como me para desenlo € pinturas, Suzana Rodrigues lembrow destes tbalhos,alribuindo a eles especial importincia pelo cariter colet Jo “Sempre em equipe, nunca individuatizado, sempre em equipe”, criangas pintavam ¢ desenhavam sentadas ao cho ou em pé, quan ‘os papéis eram fixados a pazede, Fra uma “organizagao coletiva, sos trabalhavam para um fim comum, um desenno 38°. Um poco ste, receou & perda destes “grandes rolos de papel”, afinal somen- gente muito especializada” para entender como "coisa preciosa” gqucles grandes papéis enrolados "A rexponsabilidade ex antanomia eram também exercitadas pela esentagao pablica das pegas criadas pelas criangas e pela organ ao de exporigdes de suas produgdes plsticas egrficas. Ao buscar dis objetivos, Suzana Rodrigues estimulava os alunos a refitir pbre seus prOprios trablhos ¢ os de seus colegas, decarando sua referencia por submeter os taballios das criangas # outras criangas, pois as considera} excclentes erticas™. Advertiu, no entanto, que te tipo de atividade somente era possivel depois de algumm tempo trabalho 49,0 Verdalszoeato Inn ¢a Adwpigo de Cranja pars a Vida, 0 Di 530. Bnrovieta Concedidn a Rita Bredarol 51 ide an ENSINO DA ARTE MEMORIA FISTORA © procedimento metodolégico usado para o exereicio do julyye »iento critico das criangas iniciava-se com a escolha de trabalbos para ‘@ montagem de uma exposiggo, “inclusive com as proprias eriangas, cles gostam de escolher”. Os trabalhos ficariam dispastos em int pparede “na altura deles para poderem olhar bem” As criangas seria rmotivadas 4 olhar os trabalhos expostos © a debater sobre as escolhiix até chegarem 2 um resultado satisfatério, Depois, passeavar pelis ‘obras e emitiam seus comentiios. Desta forma as criangas acabavam também por compreentir ‘os procedimentos de preparagio de exposigdes, iguais aguelas com as quiais couviviam no cotidiano do Museu de Arte de S40 Paulo: “Participivamos de todos os eventos, inclusive tinhamos acesso as fi ses preparatérias [| AS eriangas adoravam paticipar de montagens de texposigdes, sobretudo a de artistas mais préximos de seu universo”™ 0s alunos do Club Infantil de Arte, além de participar das mon: lagens e visitar com fregiéncia 0 acervo do Museu, sendo todas a “novas aquisigdes batizadas pelas visita, comentirins © perguntas das criangas”, mantinham contato com “todos os artistas que faziam expr sig6es no Masp [...] tanto nos espagos da mostra como no atelies” Suzana Rodrigues exp6s os bencficios facilidades devorrentes di integragao entre o Museu de Arte de So Paulo ¢ 0 Club Infamtil de Arte para a concluséo de um processo de aprendizazem®, Conhocenda ox “bastidores” do museu a erianga entraria em contato com a “realidad do cotidiano” desta instituieZo e a0 conviver com a preparagio de “ver nissages, a fimpeza das salas, a chegada de caixas”, cbservariam todo 0 processo de organizac2o e respeito pelas obras de arte™: Pelos relatos colhidos, concluimos que o acesso das criangas as _mostras € acervo eram em certos momentos monitarados por Suzana ‘ou pelos monitores do Museu: outras vezes as criangas eram deixadas livres para visitar as obras de acordo com seus interesses (tipo de atividade pretendida determinava a qualidade da vi- sita, Mas, havia um passeio constante. De “quinze em quinze dias, de vvinte em vinte dias”, as riangas eram levadas por Suzana Rodrigues “a um passeia pela pinacoteca”. Durante 9 percurso alguns #6 ol vam, outros comegavam a desenhar usando a obra como contraponto 0 seu trabalho, descebrindo, por comparacéo, que suas produgtes 1Go eram ima “porearia”. © quadro mais apreciado era “aquelas duns meninas de Renoir" © contato com os artistas era um evento comum para as eriengas do Club Infamil de Arte, Em algumas ocasibes de forma espontinea, 52.8, Rodrigues, Depoinanto de icon Rodrigues sere 0 Chube eft e Arte hy Mase cde Art te So Pant, ‘8. Mem. SMe bide, 55, Revise Canosa Rl Bioanal ALIRERDADE Como METODO aia il de Arte, como a de maior sucesso entre as criangas, lembrow site de Alexander Calder. (© Museu era um estimulo constante para aquelas eriangas & na Rodrigues, contradizendo, um dos lugares comuns da retdrica fernista* (talvez os modemistas ndo sejam tao modernistas quan- mnsaimos), reconheceu. 0 “quanta o fazer integrado a0 conhecer apreendido por aquelas eriangas que estavam sendo estimuladas ‘expressar livremente. A convivéneia com obras de arte da miaior ssiio cultural ao inves de inibir propiciava o dislogo, a troca de as, enriquecia o processo criador™. Liberdade, respeito ¢ responsabilidade eram palavras insistente- fe mencionadas por Suzana Rodrigues, conformando seu discurso arte edueagilo, o qual denotava a crianga como “simbolo da se- ue do futuro”, dotada de “ingenuidade e pureza”. A cla deveria ser piciado um ambiente adequado, para poder, com absolutaliberdade, ra todas as suas emogdes, pois reprimidas, poderiam se “reverter aagressividade”. Neste processo de auto-conhecimento, a partir do

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