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ESTADO DO MARANHÃO

MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL


8ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA ESPECIALIZADA
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO
CONSUMIDOR
________________________________________________________

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO


DA ___VARA CÍVEL DA COMARCA DE SÃO LUÍS

URGENTE

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO


DO MARANHÃO, por sua Representante Legal Promotora de
Justiça, titular da 2ª PROMOTORIA ESPECIALIZADA NA
DEFESA DO CONSUMIDOR DA CAPITAL, com endereço na
Avenida Daniel de La Touche, nº 2.800, Sala 77, Retorno da
Cohama, nesta Capital, no uso de suas atribuições legais e,
com arrimo nos artigos 127 e 129 da Constituição
Federal, 4º e 5º da Lei Federal 7.347, de 24 de junho
de 1.985 , art. 81, par. único, I, II e III do CDC, bem

____________________________________________________________________________
Av. Daniel de La Touche, n.º 2800, Sala 77 – Retorno da Cohama, São Luís - MA
1
CEP 65060-645 Fone: (98) 3219-1921 Fax: (98) 3219-1940
e-mail: litiacavalcanti@yahoo.com.br
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como nos artigos 282 e seguintes do Código de


Processo Civil, ajuizar a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE


TUTELA ANTECIPADA

em face de:

(1)ELETROMIL ADMINISTRAÇÃO E PARTICIPAÇÃO


SOCIETÁRIA LTDA, CNPJ nº 10.437.445/0001-97, com
domicílio na Rua São Vicente de Paula, nº 300 A, sala 107,
João Paulo, nesta cidade;

(2)EMPREEDIMENTOS ELETROMIL E PARTICIPAÇÕES


LTDA, CNPJ nº 10.281.222/0001-83, com domicílio na Rua
São Vicente de Paula nº 300 A, sala 105, João Paulo, nesta
cidade;

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(3)M.S. GOMES FACUNDE – ME, CNPJ nº


03.697.474/0001-22, com domicílio na Rua Getúlio Vargas nº
578, Centro, Bacabal/MA;

(4)E.F.F. COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO LTDA – ME,


CNPJ nº 69.399.145/0001-03, com domicílio na Rua Tácito
Caldas, nº 45, Centro, Açailândia/MA;

(5)ELETROMIL COMÉRCIO DE MÓVEIS LTDA, CNPJ nº


09.310.671/0001-23, com domicílio na Rua Getúlio Vargas nº
578, Centro, Bacabal/MA;

(6)EDUARDO FERNANDO FACUNDE, brasileiro, casado,


empresário, natural de Bacabal/MA, filho de Antônio Pereira e
Maria das Graças Fernandes Facunde, portador da cédula de
identidade nº 1510418200000 SSP/MA e CPF nº
408.702.693-91, residente na Rua Luís Domingues, nº 409,
Cururupu, Bacabal/MA ou na Rua Rui Barbosa nº 221, Centro,
Bacabal/MA;

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(7)MARIA SAILENE GOMES FACUNDE, brasileira, casada,


empresária, natural de Bacabal/MA, filha de Luzinete Souza
Gomes, portadora da cédula de identidade nº 135502934
SSP/MA e CPF nº 408.671.703-44, residente na Rua Luís
Domingues, nº 409, Cururupu, Bacabal/MA ou na Rua Rui
Barbosa nº 221, Centro, Bacabal/MA;

(8)BRUNA SUELLEN GOMES FACUNDES, brasileira,


solteira, empresária, natural de Bacabal/MA, filha de Maria
Sailene Gomes Facunde e Eduardo Fernandes Facunde,
portadora do CPF nº 042.268.693-03, residente na Rua Luís
Domingues, nº 409, Cururupu, Bacabal/MA ou na Rua Rui
Barbosa nº 221, Centro, Bacabal/MA;

(9)EDUARDO FERNANDES FACUNDE JÚNIOR, brasileiro,


casado, natural de Brasília/DF, filho de Maria Sailene Gomes
Facunde e Eduardo Fernandes Facunde, portador da cédula de
identidade nº 02666724200323 e do CPF nº 352.982.837-78,
Empresário, residente na Rua Luís Domingues, nº 409,

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Cururupu, Bacabal/MA ou na Rua Rui Barbosa, nº221,


Centro, Bacabal/MA,

tendo em vista os fatos e fundamentos jurídicos a seguir


aduzidos:

LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

É de fácil percepção a legitimidade do


Ministério Público para atuar no presente caso, visando a
defesa dos interesses difusos, coletivos e individuais
homogêneos, conforme previsto no art. 81, par. único,
incisos I, II e III da Lei 8.078/90.

Em decorrência do descumprimento da
oferta consistente no fornecimento do contrato denominado

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de “compra e venda parcelada de bens entre firma e


empresa”, também chamado de “compra premiada”, mostra-
se inadiável a proteção dos consumidores expostos às
práticas lesiva efetivadas pelos requeridos, caracterizando-se
assim, a tutela dos interesses difusos, que são aqueles de
titularizados por pessoas indeterminadas.

Não obstante, se revela inadiável a tutela


dos interesses coletivos dos consumidores (art. 81, par.
único, II do CDC) que firmaram contrato com a ré, tendo em
conta abusividade das cláusulas do contrato, assim como das
práticas comerciais adotadas pelas empresas requeridas.

Por fim, e um dos aspectos de maior


importância da presente ação, consiste em assegurar o
resultado prático da obrigação, consistente em garantir o
máximo de bens possíveis existentes no patrimônio das
pessoas físicas e jurídicas requeridas, com vistas a reparação
pelos danos de ordem material e moral sofridos pelos
consumidores dessa modalidade atípica de contratação.

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A Constituição Federal assim dispõe:

Art. 127. O Ministério Público é instituição


permanente, essencial à função jurisdicional
do Estado, incumbindo-lhe a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e
dos interesses sociais e individuais
indisponíveis.

Art. 129. São funções institucionais do


Ministério Público:

III - promover o inquérito civil e a ação civil


pública, para a proteção do patrimônio
público e social, do meio ambiente e de
outros interesses difusos e coletivos;

A Lei nº 7.347/85 ao disciplinar a tutela


dos interesses difusos e coletivos traz o Ministério Público
como um dos legitimados:

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Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação


principal e a ação cautelar:

I - o Ministério Público;

O Código de Defesa do Consumidor,


por seu turno, ao cuidar da defesa do consumidor em juízo,
estabelece como um dos legitimados, o Ministério Público para
tutela dos direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos. No mesmo diploma legal, está previsto no art.
90, a regra de aplicação subsidiária do Código de Processo
Civil e da Lei de Ação Civil Pública.

Ao discorrer sobre a matéria Antônio


Herman Benjamin, assim leciona:

Após intensas discussões nos tribunais,


houve ampla aceitação jurisprudencial da
legitimidade do Ministério Público para
ajuizamento de ações coletivas, com
restrições pontuais, entre elas a exigência de
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verificação, em concreto, da relevância social


do objeto da ação, quando se tratar de
interesse coletivo ou individual homogêneo,
considerando a destinação constitucional do
órgão: defesa de interesses sociais e
individuais indisponíveis (art. 127 da CF).1

O Superior Tribunal de Justiça, em


diversas ocasiões, tem enfatizado a significativa contribuição
do Código de Defesa do Consumidor para a tutela coletiva,
em especial a partir da atuação do Ministério Público,
vejamos:

Na sociedade contemporânea,
marcadamente de massa, e sob os influxos
se uma nova atmosfera cultural, o processo
civil, vinculado estritamente aos princípios
constitucionais e dando-lhes efetividade,
encontra no Ministério Público uma
instituição de extraordinário valor na defesa
da cidadania.

1
BENJAMIN, Antônio Herman V. Benjamin; MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe.
Manual de direito do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p.395
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(STJ, REsp 105.215, Rel. Min. Sálvio de


Figueiredo Teixeira, Quarta Turma, DJ.
18/08/97)

O Ministério Público está legitimado pelo


Código de Defesa do consumidor para
ajuizar defesa coletiva quando se tratar de
interesses ou direitos individuais
homogêneos.
(STJ, REsp 308.486, Rel. Min. Carlos Alberto
Menezes Direito, Terceira Turma, DJ.
02/09/02)

Na mesma esteira o Supremo Tribunal


Federal, assim decidiu:

Ministério Público - Legitimidade para propor


ação civil pública quando se trata de direitos
individuais homogêneos em que seus
titulares se encontram na situação ou na
condição de consumidores, ou quando
houver uma relação de consumo. É
indiferente a espécie de contrato firmado,
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bastando que seja uma relação de consumo.


Precedentes. (STF, RE 424048 AgR/SC 1ª
Turma, rel. Min. Sepúlveda Pertence, j.
25.10.2005, DJ 25.11.2005)

Dessa forma, restara plenamente


demonstrada a legitimidade ativa do Ministério Público para
atuar na defesa dos interesses dos interesses difusos,
coletivos e individuais homogêneos dos consumidores dos
contratos de “compra premiada” fornecidos pelos réus.

DA COMPETÊNCIA

O art. 93, II do Código de Defesa do


Consumidor, prevê a competência da Capital do Estado
quando da ocorrência de dano regional, in verbis:

Artigo 93 - Ressalvada a competência da


Justiça Federal, é competente para a causa a

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justiça local:
I - (...);
II - no foro da Capital do Estado ou no do
Distrito Federal, para os danos de âmbito
nacional ou regional, aplicando-se as regras
do Código de Processo Civil nos casos de
competência concorrente.

É exatamente essa a hipótese aqui


versada, onde a lesão aos direitos dos consumidores através
do oferta e fornecimento dos contratos de “compra premiada”
ocorreu em diversos municípios maranhenses, sobretudo nesta
Capital.

Portanto, a competência para o


processamento e julgamento da causa será uma das Varas
Cíveis da Comarca de São Luís/MA, a teor do art. 93, II do
CDC.

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DA PIRÂMIDE FINANCEIRA

Elias de Oliveira define o esquema


piramidal como sendo “um ardil conhecido, vez por outra
aparecendo com ares de novidade. São uma espécie de
capitalização captadora, em que os últimos ficam sempre
espoliados.(...) Forma-se uma “cadeia” a partir dos primeiros
depositantes, numa sucessividade multiplicadora que pode
subir ao infinito. É claro que, se mesma se interrompe – o
que fatalmente acontece – os últimos sairão burlados”.

Esta modalidade de golpe foi criada por


Charles Ponzi em 1919, sendo copiada, desde então de
diversas formas. Válido citar o recente caso ocorrido nos
Estados Unidos, em que o ex-presidente da Nasdaq,
Bernard Madoff causou um prejuízo financeiro de US$ 50
bilhões de dólares utilizando-se do aludido engodo.

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Conforme o site Monitor das Fraudes, o


nome do esquema deriva da pirâmide que é uma figura
geométrica, em forma de um triângulo tridimensional, ou
seja, uma figura sólida, com a ponta fina e base grande.
Apenas para exemplificar, se o esquema prevê que cada
pessoa influencie 10 novos participantes, e a pirâmide
começa com uma pessoa no topo, teremos 10 pessoas
debaixo dela, e 100 debaixo dos primeiros 10, e seguindo a
mesma projeção, teremos 1000 debaixo dos 100, e assim
sucessivamente, conforme gráfico a seguir:

1
10
100
1000

Por ser a pirâmide insustentável, o


negócio só se manterá enquanto houver novos consumidores
ingressando, a fim de pagar o ônus dos mais antigos. Para
tanto, os fraudadores se valem de diversas armadilhas para
dar ao esquema, aparência de credibilidade e prosperidade.

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No caso de Wall Street, Madoff oferecia


retornos financeiros volumosos e constantes, mesmo na
época de baixa rentabilidade da bolsa. Para isso utilizava
recursos de novos clientes, atraídos pela considerável receita
obtida no investimento. O modelo dependia do fluxo
constante de novos investidores. Se alguém interrompesse a
corrente, o que inevitavelmente ocorre nessa modalidade
fraudulenta, a pirâmide desaba sobre seu próprio peso,
lesando aqueles investidores que se encontram na base
piramidal.

DOS FATOS

Em meados de agosto de 2011, esta


Promotoria de Justiça recebera diversas reclamações
concernentes à empresa denominada Eletromil de São Luís/
MA. As demandas versavam sobre o inadimplemento dos réus
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nos contratos intitulados de “Venda e Compra Parcelada


de Bens Entre Firma e Pessoa Física”, cujo objeto seria a
aquisição de bens móveis, com a possibilidade de interrupção
dos pagamentos vincendos, mediante contemplação através
de sorteio.

Em apuração realizada nesta Promotoria


de Justiça, os consumidores relatam de forma uníssona o
esquema: Todos foram atraídos pelas vantagens dos
contratos, que possibilitava a quitação antecipada do bem
móvel, através de sorteio. Ou seja, apesar do contrato ter
como planos de pagamentos de 24, 48 e 60 meses, o
consumidor teria oportunidade de solver todas as prestações
vincendas através de sorteio. Como antes dito, este é o típico
golpe da pirâmide ou Esquema de Ponzi, onde os novos
consumidores, que estavam na base piramidal, pagavam pela
contemplação e/ou quitação dos seus antecessores.

Os consumidores que tinham seus


contratos contemplados e/ou quitados, ao verificarem que
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não recebiam o bem, buscavam a empresa dos requeridos, a


fim de resolver a questão, no que sempre lhes diziam para
aguardar, visando ganhar tempo. Ao constatarem que tudo
era um golpe travestido de legalidade, os consumidores
entraram em pânico, gerando uma verdadeira avalanche de
reclamações.

É válido ressaltar que foram registrados


contra a empresa requeridas, no Sistema Nacional de
Informações de Defesa do Consumidor - SINDEC, até o
dia 13 de março do corrente ano, 827 (Oitocentos e Vinte
e Sete) reclamações, formalizadas junto ao PROCON/MA,
das lojas de São Luís/MA, referente exclusivamente à
supracitada empresa. Todavia o acordo assinado por esse
Órgão só beneficiou, inicialmente 13 (Treze) consumidores,
sendo os demais divididos em vários meses, até o ano de
2014. Dos consumidores supostamente favorecidos com o
citado acordo, somente 1 (um) teve sua reclamação
registrada no PROCON/MA, os demais, conforme
depoimentos carreados aos autos, estranhamente
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desconheciam que eram beneficiados do aludido acordo,


vindo a terem ciência desse fato, durante sua oitiva nessa
Promotoria de Justiça.

Com este acordo, o PROCON/MA.


tranqüilizara temporariamente os clientes, criando a ilusão de
ressarcimentos dos valores devidos, permitindo com que a
empresa continuasse com as práticas delitivas e captando
mais recursos, dando base de sustentação à pirâmide.

Apesar deste Órgão Ministerial ter


requisitado à DECON, imediata instauração de inquérito
policial, através do Ofício nº 178/2011 PJECC, a autoridade
policial só efetuara a respectiva persecução criminal em 28 de
fevereiro do corrente, após deflagração de operação conjunta
com o PROCON/MA. No caderno informativo, que originou a
ação penal (Proc. nº 7085-64/2012) constam apenas
alguns depoimentos de consumidores lesados e
levantamentos do Infoseg, ou seja, nada foi investigado,

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gerando a necessidade de complementação, por este Órgão,


das apurações não realizadas pela autoridade policial.

Durante este período, inobstante o


inadimplemento dos prêmios, objeto do contrato, novos
consumidores continuaram a aderir à compra premiada das
empresas requeridas, auxiliando-os a bancar os casos dos
consumidores mais antigos, adiando o desmoronamento da
pirâmide, que já se consumara.

Apenas para registrar, em breve


somatório realizado através de valores declarados em
depoimentos de 54 (Cinquenta e Quatro) consumidores
ludovicenses, alcançou-se o total de prejuízo no quantum de
R$ 396.663,00 ( Trezentos e Noventa e Seis Mil,
Seiscentos e Sessenta e Três Reais). Em Castanhal, Pará,
o dano ao consumidor alcançou uma cifra de,
aproximadamente, R$ 30.000.000,00 (Trinta Milhões).
Estima-se que no Maranhão, os danos sejam também, nesse
mesmo montante.
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Enquanto o Esquema de Ponzi, até


então utilizado de diversas formas, sempre foi focado na
captação de capital de pessoas de poder econômico alto, os
réus arquitetaram uma forma de apropriar-se de dinheiro de
trabalhadores extremamente pobres, que viram, na proposta
da Compra Premiada, uma maneira de adquirir bens que
jamais poderiam ter, em condições normais de mercado. Daí
o sucesso dos requeridos, qual seja, a credulidade do
consumidor.

Os demandados, visando a facilitação da


entrada de vítimas em seu esquema fraudulento, sequer
realizava consulta nos órgãos de restrição ao crédito. Além de
tudo simulavam a aparência de contrato de consórcio, onde o
consumidor pagava sem o recebimento imediato do bem,
ficando sujeito, tão qual no consórcio, ao sorteio ou quitação,
o que ocorresse primeiro. A grande vantagem, como antes
dito, era exatamente o esquema de pirâmide, pois que,

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ocorrendo o evento da contemplação, o consumidor parava de


pagar as parcelas vincendas.

DO DIREITO

A Constituição Federal, no seu art. 5º,


XXXII, estabelece:
Art. 5º (...)
(...)
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a
defesa do consumidor;

Esse preceito representa uma garantia ao


cidadão, a partir do reconhecimento pelo Poder Constituinte
Originário da situação de desequilíbrio existente na relação
jurídica de consumo.

A partir da norma constitucional, o


legislador editou o Código de Proteção e Defesa do
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Consumidor, que estabeleceu no art. 4º, I, o princípio da


vulnerabilidade, que segundo Antônio Herman Bejamin […] é
uma situação permanente ou provisória, individual ou
coletiva, que fragiliza, enfraquece o sujeito de direitos,
desequilibrando a relação de consumo. Vulnerabilidade é uma
característica, um estado do sujeito mais fraco, um sinal de
proteção.2

Outro postulado básico do Código está


consignado no art. 4º, III, que estabelece como princípio da
Política Nacional das Relações de Consumo, a boa-fé objetiva,
que se traduz em comportamentos dos participantes das
relações de consumo que traduzam a noção de honestidade,
lealdade, eticidade etc.

Não se pode olvidar também do que


preceitua o art. 6º, IV do CDC, que estabelece como direito
básico do consumidor a proteção contra a publicidade
enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou

2
Id. Ibid. p. 71
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desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou


impostas no fornecimento de produtos e serviços.

Como se observa, os contratos intitulados


de “compra premiada”, estão eivados de nulidade, conforme
prescreve o art. 51, IV, IX, X e XV do CDC, que mesmo
com os esforços de integração, não há como subsistir o
negócio jurídico, haja vista a existência de ônus excessivo aos
consumidores, como se pode observar nas cláusulas
contratuais do contrato de adesão a seguir transcritas:

8ª – A VENDEDORA realizará sorteios,


mensalmente, nas dependências de sua sede,
na presença dos clientes que comparecerem,
independentemente da quantidade, através de
objetos (bolas, papéis etc...) previamente
numerados, acessíveis a todos, correspondentes
ao número de participantes.

(…)

11ª – Poderá o(a) COMPRADOR(A) requerer


formalmente a rescisão do presente contrato,
situação em que poderá resgatar o que pagou,
em mercadorias escolhidas na Eletromil, no
prazo máximo de 60 (sessenta) dias, após o
término deste contrato, deduzidas as despesas
fiscais, contábeis e de serviço, que não
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ultrapassarão de 15%(quinze por cento), do


montante pago.
12ª O presente contrato será considerado
rescindido independentemente de notificação
judicial ou extra, quando o(a) COMPRADOR(A)
deixar de pagar 03 (três) prestações
consecutivas, caso em que será reembolsado(a)
nos termos da cláusula 11ª.
(…)
Fica eleito o foro desta Comarca de Bacabal-
MA., para dirimir quaisquer dúvidas ou
controvérsias referentes ao presente contrato,
com exclusão de qualquer outro por mais
privilegiado que seja.

Não bastasse a abusividade das cláusulas


acima, as empresas requeridas incorriam em práticas
abusivas, principalmente a tipificada no art. 39, XII do CDC,
que veda ao fornecedor deixar de estipular prazo para o
cumprimento da sua obrigação.

Nos contratos em questão, os


consumidores apesar de serem sorteados, não recebiam o
bem objeto do ajuste, ficando ainda a mercê dos requeridos
que fixavam prazos variáveis de 30, 60 e 90 dias para o
cumprimento da obrigação, mesmo sem qualquer previsão
legal ou contratual nesse sentido. Ainda assim, esse prazos
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tinham caráter exclusivamente protelatórios, na medida em


que serviam de engodo para que as empresas requeridas
ganhassem tempo, objetivando atrair novos consumidores
que serviriam de base de sustentação da pirâmide.

Acrescenta-se as considerações já
explicitadas, que o negócio jurídico de compra premiada é
nulo de pleno direito nos termos do art. 166, IV e VI c/c
art. 167 do Código Civil, na medida em que se trata de
uma simulação de um contrato de consórcio, sendo que,
nesta última modalidade, os fornecedores possuem
autorização do Banco Central do Brasil para atuarem no
mercado financeiro, ao passo que nos contratos de “compra
premiada”, segundo Parecer da Procuradoria da Fazenda
Nacional, configuram “modalidade atípica de captação de
poupança popular”, sem previsão na Lei 5.768/71.

Por todos esses fatos, resta inadiável a


atuação do Ministério Público na defesa coletiva dos
consumidores, visando, em sede de tutela antecipada, a
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interdição dos estabelecimentos comerciais ora requeridos e o


arresto de bens dos réus, assim como, no mérito, o
requerimento de anulação dos contratos celebrados, assim
como a reparação dos consumidores pelos danos morais e
patrimoniais sofridos.

A responsabilidade civil dos requeridos é


medida que se impõe face aos atos ilícitos perpetrados
através dos contratos de “compra premiada”. Sobre o tema o
Código Civil, aplicável também às relações de consumo, a
partir do diálogo das fontes e também pela utilização da
analogia prevista no art. 7º do CDC, assim estabelece:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão


voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular


de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu

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fim econômico ou social, pela boa-fé ou


pelos bons costumes.

(...)

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts.


186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.

Observa-se que, o caso em tela, revela a


típica responsabilidade do fornecedor pelo fato do serviço,
onde a legítima expectativa dos consumidores aderentes dos
contrato de “compra premiada” restara frustrada, em razão
do descumprimento da promessa de aquisição do bem móvel
nas hipóteses de quitação do contrato ou mediante a
contemplação através de sorteio. Tal fato, além de atingir o
patrimônio das vítimas do golpe, alcançou indubitavelmente a
esfera psíquica de cada consumidor, o que enseja a efetiva
responsabilização pelos danos morais e materiais
experimentados.

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Além disso, o art. 6º, VI, do CDC,


estabelece como direito básico do consumidor a efetiva
prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos.

Ressalte-se que a responsabilidade civil,


independerá da análise da culpa, pois vigorá no sistema
protetivo do CDC a responsabilidade objetiva, a teor do
disposto no art. 927, par. único, art. 931 e art. 12 e 14
do CDC.

Esse sistema de responsabilidade é


baseado na teoria do risco da atividade, e consiste na idéia de
que os lucros da atividade devem responder pelos danos que
eventualmente causarem aos consumidores.

Sobre o tema, Felipe Peixoto Braga


Netto, ensina:
A responsabilidade civil do fornecedor,
portanto, francamente objetiva, está

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inspirada na teoria do risco proveito,


devendo, assim, quem aufere os bônus
(lucros) da atividade, responder pelos
ônus (danos) que elas venham causar a
terceiros. Ou, de igual sorte, a teoria do
risco criado, mercê da qual quem cria, por
sua atividade, um risco (insere
medicamentos perigosos no mercado)
deve responder pelos danos que dele
decorram.3

Ainda na seara da responsabilidade civil,


cumpre-nos ainda tecer alguns comentários sobre os danos
morais sofridos pelos consumidores no presente caso.

A indenização por danos morais está


prevista na Constituição Federal (art. 5º, V e X), no
Código de Defesa do Consumidor (art. 6, VI e VII),
assim como no Código Civil (art. 186 e 927).
3
BRAGA NETTO, Felipe Peixoto. Manual de direito do consumidor à luz da jurisprudência do STJ.
2ª ed. Salvador: JusPodivm, 2007. p. 95
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Historicamente no Brasil, houve uma


tendência de inadmissibilidade de reparação pecuniária em
casos de dano moral, caso não houvesse um dano material a
ele atrelado. Em alguns casos simplesmente negavam a
indenização por danos morais.

Contudo, com advento da Constituição de


1988, a jurisprudência evoluiu no sentido de admitir a
indenização por danos morais como forma de compensar o
sofrimento da vítima. Diferente, pois da indenização
ressarcitória, como é o caso dos danos materiais, onde se
busca retornar ao status quo ante.

É consabido, ademais, que o simples


inadimplemento contratual não gera dano moral. Porém, no
caso vertente, o descumprimento contratual, ocasionado pelo
recebimento dos valores pelos réus das parcelas pagas
através do contrato de compra e venda parcelada de bens

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móveis, sem a respectiva devolução, gerou e continua


gerando aflição, dor e angústia ao consumidores lesados.

Sobre o tema o Superior Tribunal de


Justiça tem se posicionado firmemente no sentido de garantir
a tríplice função do dano moral: compensatório, punitiva e
pedagógica.
O valor do dano moral tem sido enfrentado
no STJ com o escopo de atender a sua dupla
função: reparar o dano, buscando minimizar
a dor da vítima, e punir o ofensor para que
não reincida.
(REsp 550.317, Rel. Min. Eliana Calmon,
Segunda Turma, DJ 13/06/05)

Responsabilidade civil. Dano moral.


Indenização. O dano moral deve ser
indenizado mediante a consideração das
condições pessoais do ofendido e do ofensor,
da intensidade do dolo ou grau de culpa e da
gravidade dos efeitos, a fim de que o
resultado não seja insignificante, a estimular

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a prática do ato ilícito, nem o enriquecimento


indevido da vítima.
(REsp 207.926, rel. Min. Ruy Rosado de
Aguiar, 4ª Turma, DJ 08/03/00)

[…] a reparação deve ter fim também


pedagógico, de modo a desestimular a
prática de outros ilícitos similares, sem que
sirva, entretanto, a condenação de
contributo a enriquecimentos injustificáveis.
(REsp 355.392, Rel. Min. Nancy Adrighi,
Terceira Turma, DJ 17/06/02)

Como antes dito, os consumidores


aderentes dessa modalidade de contrato são oriundos das
classes mais baixas da sociedade, sendo portanto hiper
vulneráveis, onde qualquer quantia despendida interfere
significativamente no orçamento doméstico, ainda mais
quando se estar diante de um fraude.

Com essas práticas comerciais altamente


lesivas, os réus abalaram às relações de consumo de todo o
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Maranhão, causando prejuízo financeiros à milhares de


consumidores, obtendo em contrapartida vantagem ilícita que
alcança cifras milionárias.

Por estas razões, revela-se também


imprescindível no presente caso a reparação por danos morais
coletivos.
O Superior Tribunal de Justiça afastando
as divergências sobre a questão, em recente julgado, assim
decidiu:
RECURSO ESPECIAL - DANO MORAL
COLETIVO - CABIMENTO - ARTIGO 6º,
INCISO VI, DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR - REQUISITOS -
RAZOÁVEL SIGNIFICÂNCIA E REPULSA
SOCIAL - OCORRÊNCIA, NA ESPÉCIE -
CONSUMIDORES COM DIFICULDADE DE
LOCOMOÇÃO - EXIGÊNCIA DE SUBIR
LANCES DE ESCADAS PARA ATENDIMENTO -
MEDIDA DESPROPORCIONAL E
DESGASTANTE - INDENIZAÇÃO - FIXAÇÃO
PROPORCIONAL - DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL - AUSÊNCIA DE
DEMONSTRAÇÃO - RECURSO ESPECIAL
IMPROVIDO.
I - A dicção do artigo 6º, inciso VI, do
Código de Defesa do Consumidor, é clara
ao possibilitar o cabimento de
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indenização por danos morais aos


consumidores, tanto de ordem
individual quanto coletivamente.
II - Todavia, não é qualquer atentado aos
interesses dos consumidores que pode
acarretar dano moral difuso. É preciso que o
fato transgressor seja de razoável
significância e desborde os limites da
tolerabilidade. Ele deve ser grave o suficiente
para produzir verdadeiros sofrimentos,
intranquilidade social e alterações relevantes
na ordem extrapatrimonial coletiva
Ocorrência, na espécie.
(...)
VI - Recurso especial improvido.
(REsp 1.221.756/RJ, Rel. Min. Massami
Uyeda,Terceira Turma, Julgado em
02/02/2012)

Por todas as afirmações já expostas e


diante dos relatos de milhares de consumidores nesta
Promotoria e no PROCON/MA, não resta dúvida que as
vítimas passam por uma situação de extrema humilhação,
onde muitos afirmam categoricamente que deixavam de
comprar alimentos para conseguir honrar os seus
compromissos contratuais, objetivando alcançar o sonho, na
maioria dos casos, de ter uma moto.
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Ressalte-se ainda, que os fatos ora


narrados abalaram profundamente às relações de consumo do
Maranhão, criando-se um estado de incerteza diante das
condutas ilícitas praticadas pelos réus.

É por estas razões que se faz imperiosa a


atuação do Poder Judiciário, no sentido de compelir os réus a
repararem os danos morais e materiais causados, a título
individual e coletivo.

DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

O Código de Defesa do Consumidor,


buscando garantir a efetiva reparação dos consumidores,
consagrou mecanismos mais protetivos em relação ao direito

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comum, como é caso da desconsideração da personalidade


jurídica.

Assim dispõe o art. 28, do Código


Consumerista, in verbis:

Art. 28 - O juiz poderá desconsiderar a


personalidade jurídica da sociedade, quando,
em detrimento do consumidor, houver abuso
do direito, excesso de poder, infração da lei,
fato ou ato ilícito, ou violação dos estatutos
ou contrato social. A desconsideração
também será efetivada quando houver
falência ou estado de insolvência,
encerramento ou inatividade da pessoa
jurídica, provocados por má administração.

A desconsideração tem lugar sempre que


a pessoa jurídica estiver servindo de escudo para o
cometimento de fraudes, abuso de direito ou outros atos
ilícitos.

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Visando coibir essas condutas o CDC


adotou a teoria objetiva da desconsideração, onde a prova da
intenção do agente no mau uso da pessoa jurídica é
dispensada.

Discorrendo sobre a desconsideração da


personalidade jurídica a Ministra Fátima Nancy Andrighi do
Superior Tribunal de Justiça, assim leciona:

A aplicação da teoria da desconsideração,


declara a ineficácia do princípio da limitação
da responsabilidade do sócio ao total do
capital subscrito, com o objetivo de
responsabilizá-lo, com o patrimônio pessoal,
pelos danos provocados a terceiros ou por
fraudar a lei.
(...)
[…] a desconsideração da personalidade
nada mais é do que uma forma especial de
reação do ordenamento jurídico ao mau uso
da pessoa jurídica, que visa coibir a prática
de fraude ou abuso através da personalidade
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jurídica, mas sem anular ou tornar nula a


personificação existente, produzindo,
apenas, a passageira ineficácia desta ficção
legal, para permitir o levantamento do véu
que a encobre: lifting the corporate veil.4

In casu, mostra-se imprescindível a


desconsideração da pessoa jurídica, buscando responsabilizar
as pessoas físicas requeridas, pelos danos causados aos
consumidores por terem se utilizado das suas empresas co-
requeridas, para celebração do negócio fraudulento de
“compra premiada”.

Por todas essa razões, é que se busca


desvelar temporariamente as pessoas jurídicas, ora
requeridas, buscando coibir o mau uso desta, bem como
atingir o patrimônio pessoal dos empresários com o fito de
assegurar a efetiva tutela dos consumidores.

4
ANDRIGHI, Fátima Nancy. Desconsideração da personalidade jurídica no Código de Defesa do
Consumidor e no Novo Código Civil. Disponível em: <http://bdjur.stj.gov.br> Acesso em:
12/04/2012.
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DOS PRESSUPOSTOS DA TUTELA ANTECIPADA –


ART. 84 DO CDC C/C ART. 273 DO CPC

A antecipação de tutela representa a


possibilidade do juiz garantir os efeitos práticos da tutela
jurisdicional antes da sentença ou recurso de apelação sem
efeito suspensivo.

O art. 273 do CPC estabelece os


pressupostos para a concessão da tutela antecipada, sendo
eles a prova inequívoca e a verossimilhança da alegação, bem
como o receio de dano irreparável e de difícil reparação.

Em harmonia com o direito básico do


consumidor de facilitação de sua defesa, o Código de Defesa
do Consumidor, por sua vez, consignou no art. 84, § 3º,
critérios menos rígidos para a concessão da liminar em sede
de tutela coletiva, exigindo apenas o relevante fundamento

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da demanda e o receio de ineficácia do provimento final


(fumus boni iuris e periculum in mora), vejamos:

Art. 84. (…)


(...)
§ 3° Sendo relevante o fundamento da
demanda e havendo justificado receio de
ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz
conceder a tutela liminarmente ou após
justificação prévia, citado o réu.

Ainda nesta sede, o art. 273, §7º do


Código de Processo Civil estabeleceu expressamente o
princípio da fungibilidade entre a tutela antecipada e a tutela
cautelar, assim dispondo:

Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da


parte, antecipar, total ou parcialmente, os
efeitos da tutela pretendida no pedido
inicial, desde que, existindo prova
inequívoca, se convença da verossimilhança
da alegação e:
I - haja fundado receio de dano irreparável
ou de difícil reparação; ou

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II- fique caracterizado o abuso de direito de


defesa ou o manifesto propósito protelatório
do réu.
(...)
o
§ 7 Se o autor, a título de antecipação
de tutela, requerer providência de
natureza cautelar, poderá o juiz,
quando presentes os respectivos
pressupostos, deferir a medida cautelar
em caráter incidental do processo
ajuizado.

O Superior Tribunal de Justiça já teve a


oportunidade de enfrentar o tema, conforme julgado assim
ementado:
Processo civil. Arresto. Possibilidade de seu
deferimento nos autos de um processo de
conhecimento, sem a propositura de medida
cautelar autônoma. Fundamentos do acórdão
não impugnados. Requisitos para a
concessão da medida. Caução. Dispensa.
(STJ, REsp 709.479/SP, Rel. Min. Nancy
Andrighy, Terceira Turma, DJ 1/12/2006)

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A presente ação objetiva, em sede de


tutela antecipada a interdição de todos os
estabelecimentos comerciais em nome dos requeridos,
bem como a indisponibilidade dos bens móveis e
imóveis destes, como medidas assecuratórias que visam a
reparação dos danos patrimoniais e extra-patrimoniais
originários da lesão aos direitos difusos, coletivos e
individuais homogêneos experimentados pelos consumidores
aderentes do contrato de “compra premiada” fornecidos pelos
requeridos, que figuram como pedidos principais da presente
Ação Civil Pública.

A conservação do patrimônio dos


requeridos mostra-se imprescindível, na medida em que se
buscará a indenização por danos morais e materiais sofridos
pelos consumidores que aderiram ao contrato de “compra
premiada”, ainda mais tendo em vista que os requeridos
pessoas físicas encontram-se foragidos da Justiça do Pará e
do Maranhão, onde já foram expedidos os decretos de prisão
preventiva.
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Cumpre ressaltar que os réus respondem


ao Processo Criminal nº 7085-64/2012, em curso na 8ª
Vara Criminal da Capital, pela prática dos crimes previstos
no art. 171 do CPC, art. 288, CP, art. 7º VII, da Lei
8.137/90 e art. 2º, IX e X da Lei 1.521/51.

Com efeito, as presentes medidas


cautelares revelam-se imperiosas para efetiva reparação dos
danos causados aos consumidores do contrato de “compra
premiada”, que na esperança de terem um bem móvel
adquirido através dessa modalidade de negócio, acreditaram
piamente nas empresas requeridas, não sabedores que
estavam sendo vítimas de um golpe.

De tudo o que já foi exposto, ficara


evidenciado de forma cristalina a necessidade de se assegurar
o resultado útil do presente processo através do presente
pleito de tutela antecipada, estando presentes os requisitos
do fumus boni iuris e periculum in mora.
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O periculum in mora reside na


necessidade de se garantir a efetiva reparação pelos danos
patrimoniais e morais perpetrados pelos réus, que ludibriaram
os consumidores maranhenses através do golpe da “compra
premiada”.
Reforça-se a isso, o fato dos requeridos
estarem com a prisão preventiva decretada nos Estados do
Pará e Maranhão, e até então não terem sido localizados, o
que demonstra a real necessidade de assegurar os bens dos
devedores, evitando-se, com isso, a dilapidação patrimonial,
conforme disposto no art. 813, I e II do CPC.

O fumus boni iuris, por sua vez, decorre


das práticas abusivas por parte dos réus, consubstanciadas
na violação dos princípios da boa-fé objetiva, acarretado pelo
descumprimento dos milhares de contratos firmados, o que
gerou prejuízos gravíssimos aos consumidores, que são, na
grande maioria, oriundos das camadas mais pobres da
sociedade.
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Ante toda a fundamentação até aqui


expendida, diante da relevância do fundamento da demanda
e considerando os graves prejuízos sofridos pelos
consumidores maranhenses, de ordem patrimonial e moral, e
visando assegurar o resultado útil dos pedidos principais da
presente demanda, requer o Ministério Público, seja
concedida, inaudita altera pars, a antecipação dos
efeitos da tutela, determinando:

a) o arresto de tantos bens quanto


necessários dos réus para garantia da obrigação de pagar
quantia em dinheiro ao Fundo Estadual de Defesa do
Consumidor pelos danos difusos e coletivos;

b) o arresto de tantos bens dos réus


necessários para garantia da obrigação de pagar quantia em
dinheiro aos consumidores que firmaram contratos com os
réus, pelos prejuízos sofridos de ordem patrimonial e moral;

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Para efetivação da ordem judicial acima,


requer-se a notificação dos Cartórios de Registro de
Imóveis onde possam constar bens dos réus.

Além dessa medida, requer-se a


expedição de Ofício ao Banco Central do Brasil, para que
informe em prazo determinado, os valores disponíveis em
contas bancárias e aplicações financeiras em nome dos
requeridos, determinado-se a quebra do sigilo bancário e a
indisponibilidade dos valores encontrados em nome dos
réus pessoas físicas e jurídicas.

Requer-se também a quebra judicial do


sigilo fiscal e a indisponibilidade dos respectivos bens,
expedindo-se Ofício a Receita Federal do Brasil para que
informe, no prazo determinado por Vossa Excelência, os bens
contantes nas declarações prestadas pelos réus, pessoas
físicas e jurídicas.

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c) a desconsideração da
personalidade jurídica dos réus, nos termos do art. 28 do
CDC;

d) a interdição total das empresas rés


e suas respectivas filiais, registradas na Junta Comercial
do Maranhão – JUCEMA;

e) a publicação de edital no órgão oficial,


nos termos do art. 94 do CDC, a fim de que os interessados
possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo
de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por
parte dos órgãos de defesa do consumidor.

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DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer o Ministério


Público do Estado do Maranhão:

a) a confirmação da antecipação dos


efeitos da tutela concedida;

b) a declaração de nulidade dos


contratos de “venda e compra parcelada de bens entre firma
e pessoa física” fornecidos pelos réus;

c) a condenação dos requeridos pelos


danos morais e materiais causados aos consumidores, com a
conseqüente devolução em dobro das parcelas pagas,
monetariamente atualizadas, a ser apurada em processo de
liquidação conforme art. 97 e seguintes do CDC;

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d) a condenação dos requeridos a título


de indenização por dano moral coletivo no valor de R$
20.000.000,00 (vinte milhões de reais), a ser revertido
ao Fundo Estadual de Proteção e Defesa dos Direitos
Consumidor;

e) seja determinada a citação e


intimação postal da Ré no endereço acima fornecido, a fim
de que, advertida da sujeição aos efeitos da revelia, nos
termos do art. 285 do Código de Processo Civil,
apresente, querendo, resposta aos pedidos ora deduzidos, no
prazo de 15 (quinze) dias;

f) seja determinada, no despacho


saneador, a inversão do ônus da prova em favor dos
consumidores, ora representados, na qualidade de substituto
processual, por este Órgão Ministerial, conforme determina o
inciso VIII do artigo 6º do Código de Defesa do
Consumidor, em razão da verossimilhança das alegações e

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da inequívoca hipossuficiência dos consumidores frente ao


caso concreto;
g) seja determinada a desconsideração
da personalidade jurídica das empresas requeridas, nos
termos do art. 28 do CDC;

h) a publicação de edital no órgão oficial,


nos termos do art. 94 do CDC, a fim de que os interessados
possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo
de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por
parte dos órgãos de defesa do consumidor;

i) a condenação dos requeridos ao


pagamento das custas processuais, monetariamente
atualizada;

j) a dispensa do pagamento de custas,


emolumentos e outros encargos, desde logo, à vista do
disposto no artigo 18 da Lei 7347/85 e no artigo 87 da
Lei 8078/90;
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l) sejam as intimações do autor feitas


pessoalmente, mediante a entrega dos autos, com vistas a
Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor, situada na
Av. Daniel de La Touche, nº 2.800, nesta cidade, conforme
art. 236, § 2º, do Código de Processo Civil;

m) a produção de provas documentais,


testemunhais, periciais e pelo depoimento pessoal dos réus e
de seus representantes legais, sob pena de confesso, bem
como por todos os meios de prova admitidos em direito.

Atribui à causa o valor de R$


100.000,00 (cem mil reais), por se tratar de valor
inestimável, que somente será apurado após a sentença
condenatória na fase de liquidação.

São Luís/MA, 27 de setembro de 2012.

Lítia Teresa Costa Cavalcanti


Promotora de Justiça
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