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INTRODUÇÃO
Na sequência do estudo das cartas às igrejas da Ásia Menor, estudaremos a terceira
carta, endereçada à igreja de Pérgamo. Nesta carta, o Senhor Jesus mostra que não há
como termos vida espiritual verdadeira se nos misturarmos com o mundo.
Prosseguindo o estudo das sete cartas que o Senhor Jesus mandou enviar às igrejas da
província romana da Ásia, que constitui a parte substancial do estudo proposto pela
CPAD para este trimestre no livro do Apocalipse, estudaremos a terceira carta, a carta
encaminhada ao anjo da igreja e, por conseguinte, à igreja de Pérgamo.
Não há como identificar quem era o anjo da igreja de Pérgamo. A Bíblia é silente a
este respeito e este silêncio é eloquente, visto que, uma vez mais, a Bíblia mostra que o
Senhor não quer envergonhar aquele cujo arrependimento quer incentivar ou estimular,
uma importante lição que os crentes hodiernos devem aprender. Jesus não identifica este
anjo, nem permitiu que isto se fizesse pela história, para que não houvesse humilhação
ante os seus graves erros cometidos. A única coisa que se sabe é que ele era o sucessor
de Antipas, este, sim, identificado pelo Senhor Jesus, que havia sofrido o martírio e foi
chamado pelo Senhor de “minha fiel testemunha” e alguém que “não negara o nome de
Jesus” (Ap.2:13).
O Senhor Jesus Se identifica para a igreja de Pérgamo como sendo “Aquele que tem
a espada aguda de dois fios”. Esta identificação do Senhor, por primeiro, indica a
“guerra espiritual” que há entre a Igreja e o mundo. “…Espada na simbologia profética
das Escrituras Sagradas representa castigo ou guerra. Ela distingue vencidos de
vencedores…” (SILVA, Severino Pedro da. Apocalipse versículo por versículo. 3. ed.,
p.38). Vemos, portanto, que a Igreja não deve jamais se esquecer que está em permanente
guerra com o mundo e com o pecado e que, portanto, é impossível haver alguma trégua
ou acordo com o sistema maligno no qual o mundo está imerso (I Jo.5:19).
O “ecumenismo”, que foi adotado como comportamento oficial da Igreja Romana a partir
do Concílio Vaticano II, que completa, neste ano de 2012, cinquenta anos, mas que tem
suas raízes algumas décadas antes, tendo dado origem ao Conselho Mundial das Igrejas,
é uma atitude que busca fazer com que “diferenças doutrinárias” sejam desconsideradas
e que haja uma união em torno da pessoa de Cristo, como se isto fosse possível abrindo-
se mão da verdade, da Palavra de Deus. Nada mais é que a nítida rendição da verdade
diante das inúmeras inovações que representaram significativos desvios doutrinários ao
longo dos séculos na história da Igreja. Mas, ao contrário do que propõe o ecumenismo,
devemos seguir o que fez Antipas, ou seja, “não negar o nome de Jesus”.
OBS: Por isso, vemos com muita suspeita, para não dizer o mínimo, movimentos que
algumas lideranças têm feito “em prol da paz mundial”, associando-se com pessoas que,
decididamente, não creem em Jesus Cristo, como é o caso de alianças forjadas
ultimamente entre alguns líderes e o falso cristo Reverendo Moon no Brasil e entre alguns
líderes e os muçulmanos nos Estados Unidos. Como servos de Deus, devemos, sim,
defender a “tolerância religiosa”, a “liberdade religiosa”, pois o Evangelho é uma
proposta que Deus faz ao homem, proposta esta que esbarra no livre-arbítrio que o próprio
Deus deu ao homem. Não podemos impor a fé em Cristo a qualquer homem, mas pregar
o Evangelho para que este homem possa ser salvo, mas deixando o homem
completamente livre para crer, ou não, no Evangelho. É esta a postura que devemos ter
com relação a outros credos religiosos e a segmentos cristãos apartados da sã doutrina,
inclusive com eles se unindo para o bem-estar da sociedade, mas jamais admitirmos uma
comunhão de princípios e crenças, pois isto seria negar o Senhor Jesus. Lembremo-nos
disto!
Mas a identificação do Senhor como “Aquele que tem a espada aguda de dois fios”,
também nos fala a respeito de qual a arma de ataque que temos nesta “guerra espiritual”
que existe contra o mundo e o diabo. A “espada aguda de dois fios” é a Palavra de
Deus (Ef.6:17; Hb.4:12).
Quando o Senhor Jesus orava pelos Seus discípulos, a chamada oração sacerdotal, fez
questão de pedir ao Pai que Sua Igreja fosse santificada na verdade, i.e., na Palavra de
Deus (Jo.17:17). Na “armadura de Deus” descrita pelo apóstolo na carta aos efésios, a
única arma de ataque é a “espada do Espírito”, que é a Palavra de Deus (Ef.6:17).
A única arma que a Igreja tem para atacar as hostes espirituais da maldade é a
Palavra de Deus. A infiltração do mundo na igreja, permitida pelo pastor da igreja de
Pérgamo, era devida ao não-uso desta arma de ataque. Quando a Palavra de Deus deixa
de ser utilizada nas igrejas locais, o mundo nela entra, pois não há como se impedir o
avanço do maligno, que não é fustigado, atacado por esta poderosa arma que o Senhor
deixou para o Seu povo. Não há como nos mantermos separados do pecado eficazmente
senão pela meditação e ensino da Palavra de Deus.
Uma das principais armadilhas do inimigo de nossas almas nestes dias é o de retirar a
Palavra de Deus da vida dos que cristãos se dizem ser. Até mesmo as reuniões das igrejas
locais têm tido supressão do tempo da Palavra. Vivemos hoje um crescente analfabetismo
bíblico entre os servos do Senhor, o que permite a infiltração do mundo e toda heresia e
falso ensino.
A negligência com a Palavra de Deus faz com que não haja qualquer ataque aos
movimentos do adversário no meio do povo de Deus, visto que todas as demais armas
postas à disposição dos crentes são defensivas (cinto da verdade, couraça da justiça,
calçados da preparação do evangelho da paz, escudo da fé, capacete da salvação - Ef.6:13-
17). O pastor da igreja de Pérgamo estava bem defendido contra as hostes espirituais da
maldade, mas, ao contrário do seu colega de Éfeso, não atacava o trabalho deletério que
o inimigo estava a fazer no meio de seu rebanho, já que não se utilizava da Palavra de
Deus (Ap.2:2).
Há uma preocupante tendência em nossos dias entre as lideranças das igrejas locais
em ter um comportamento passivo diante do crescente mundanismo que tem
tomado conta dos que cristãos se dizem ser. Em nome de uma “modernidade”, de uma
“adaptação aos tempos de hoje”, tem-se permitido a invasão do pecado e do mundo em
nossas igrejas. São os “pastores de Pérgamo” de nossos dias. Não podemos concordar
com esta conduta, pois ela foi severamente repreendida pelo próprio Senhor Jesus! Há
um abismo entre o que é cultural e, portanto, humano, passageiro e mutável e a sã
doutrina, que é divina, eterna e imutável. A Palavra de Deus permanece para sempre
(Is.40:8; Mt.24:35; Lc.21:33; I Pe.1:23). O que a Bíblia Sagrada condenava quando foi
escrita, continua a condenar em nossos dias. Não podemos “flexibilizar” as Escrituras,
como muitos têm feito e como deixava fazer o anjo da igreja que estava em Pérgamo.
O fato de “a espada aguda” ter “dois fios”, isto mostra, com clareza, que a Palavra de
Deus deve ser a regra de fé e prática tanto para os ministros, que a ensinam, como
para os demais crentes. Não há qualquer “autoridade” da parte dos ministros em relação
às Escrituras. Todos estão sujeitos à Palavra de Deus, que foi posta acima do próprio
Deus, como nos ensina o Sl.138:2. A Palavra é o próprio Cristo (Jo.1:1; Ap.19:13), que
foi posto acima de todo o nome (Fp.2:9). Assim, a nenhum ministro do Evangelho, a
nenhuma liderança na Igreja foi dado o poder de se sobrepor às Escrituras. O chamado
“Magistério da Igreja”, ou seja, o ensino que as lideranças postas por Cristo na Igreja dá
ao povo de Deus jamais pode contradizer ou deixar de levar em conta o que está na Bíblia,
pois lhe é inferior.
O Senhor Jesus repete, nesta carta, a expressão “Eu sei as tuas obras”, para demonstrar
que é a cabeça da Igreja (Ef.1:22; 5:23), aquele que vê tudo quanto se faz no meio do Seu
povo. Ele é onisciente, tem conhecimento de tudo quanto sucede em Seu corpo, de sorte
que não há como querer enganá-lo. Não há maior tolice do que tentar ludibriar o Senhor
Jesus.
O pastor de Pérgamo demonstrou ser um crente sincero, um crente que não temia a
morte. Mesmo tendo sucedido a Antipas, que havia morrido por causa da fé, não mudou
a sua conduta de serviço sincero ao Senhor Jesus. Era um crente fiel que reteve a sua
fidelidade ao Senhor mesmo num momento difícil, de perseguição e de aparente vitória
do inimigo com a morte de Antipas.
Uma grande qualidade deste pastor é que o fato de ter se tornado o pastor daquela igreja
não mudou a sua maneira de ser, a sua maneira de viver. Quantos, infelizmente, quando
galgam posições na igreja local mudam seu comportamento, mudam seu modo de ser e
de viver. Antes de se tornarem líderes, eram humildes, prestativos, amorosos, educados e
cordatos. Depois que são consagrados ou assumem posições de relevância na estrutura
hierárquica da igreja local, passam a ser arrogantes, querem apenas ser servidos, são
truculentos, estúpidos e ríspidos. Alguém já disse que se quiser saber quem
verdadeiramente é alguém, dê-se-lhe poder.
Este pastor, porém, não era um hipócrita, nem tampouco um dissimulado. Como era nos
dias de Antipas, continuou a ser quando foi levado ao pastorado daquela igreja. Se somos
imitadores de Cristo (I Co.11:1), temos de ser como o Senhor, ou seja, o mesmo em
qualquer situação ou circunstância (Hb.13:8). Podemos dizer, amados irmãos, que
estamos no mesmo grupo do pastor de Pérgamo?
O pastor de Pérgamo prosseguia esta jornada de fidelidade de seu antecessor. Será que
temos este mesmo comportamento por parte das novas lideranças que têm assumido as
igrejas locais neste centenário das Assembleias de Deus, em que vivemos uma nítida
mudança de geração? Será que a quarta geração de líderes de nossa denominação vai
seguir os passos de piedade deixados pelas gerações anteriores?
Para sermos “fiéis testemunhas”, uma das coisas que devemos fazer é não nos deixar
influenciar pelo ambiente que nos cerca. O pastor de Pérgamo reteve o nome de Jesus
apesar de estar numa cidade que o próprio Jesus chama de “o trono de Satanás”, ou seja,
um local onde havia o domínio absoluto do inimigo de nossas almas, pois, como já vimos,
era um centro de adoração explícita ao diabo, sem falar em todas as demais atividades
religiosas demoníacas que lá se realizavam. Pérgamo era uma “cidadela”, uma “fortaleza”
do inimigo no mundo greco-romano, o centro dos poderes malignos.
Apesar disto, o pastor de Pérgamo não tinha deixado de ser menos crente, nem tampouco
havia se deixado influenciar pelo ambiente. Hoje em dia, existe uma crença generalizada
de que “a pessoa é produto do meio onde vive”, crença esta que deve ser rechaçada pela
Igreja, pois é antibíblica. O meio, sem dúvida alguma, influencia a pessoa, mas ela não é
produto do meio onde vive. Fosse assim, jamais a Igreja existiria, pois, o Senhor Jesus
diz que ela está no mundo, embora do mundo não seja (Jo.17:11,16). Se assim é, vemos,
claramente, que estar no mundo não implica em ser influenciado por ele.
Outro precioso ensino que nos dá o pastor de Pérgamo é que a sua guerra espiritual
independia de qualquer “conquista territorial espiritual” da cidade de Pérgamo.
Nos últimos anos, temos assistido a diversos ensinamentos da chamada “teologia da
batalha espiritual” em que se defende que os crentes devem “guerrear contra os espíritos
territoriais” e “dominar os territórios espirituais dominados pelo diabo e seus demônios”.
Já houve até quem contratasse helicópteros para “ungir com óleo” cidades e bairros, sem
falar em pessoas que têm urinado para “demarcar territórios” para o Senhor Jesus também
em cidades e bairros. Nada mais falso e tolo, amados irmãos!
Pérgamo, diz o Senhor Jesus, era “o trono de Satanás”, “a habitação de Satanás”. Não
havia dúvidas de que as hostes malignas tinham em Pérgamo o seu quartel-general, que
ali estava o comando de todo o paganismo, de toda a atividade maligna daqueles dias.
Isto, porém, não levou o pastor de Pérgamo a iniciar uma “batalha espiritual contra os
espíritos territoriais”. Não, não e não! Com sua vida piedosa e sincera diante de Deus,
com seu fiel testemunho, o pastor de Pérgamo não estava, em absoluto, debaixo do poder
das potestades, nem deveria fazer qualquer “ação de batalha espiritual”, que não fosse a
pregação do Evangelho, o real e genuíno poder de Deus. Temos uma guerra constante
contra o mal, que será vencida por nós se formos fiéis ao Senhor até a morte e nos
santificarmos a cada dia. É assim que venceremos o maligno, não com simpatias ou ações
que mais parecem feitiçaria do que qualquer outra coisa. Acordemos, amados irmãos!
O pastor de Pérgamo não negou a fé em Cristo Jesus, ou seja, apesar do nítido risco
de vida que estava a correr, pois seu antecessor tinha sido martirizado, não quis
contemporizar com os moradores daquela cidade, nem tampouco mudar seu estilo de vida
diante da presença de tantos e poderosos credos pagãos e satânicos. Manteve a sua
conduta de acordo com as Escrituras, não abriu mão do Evangelho nem de Cristo. Não
procurou “deixar de ser radical” como muitos têm feito nos dias de hoje. Não procurou
se “modernizar”. Não, não e não! Manteve sua fé na Palavra de Deus, naquilo em que
havia crido no início de sua vida com Jesus. Podemos dizer que estamos a fazer o mesmo?
Quem não negar a fé em Cristo Jesus, quem O confessar diante dos homens também não
será negado por Cristo diante do Pai, também terá seu nome confessado pelo Senhor Jesus
diante do Pai (Mt.10:32; Lc.12:8). Quem confessa que Jesus é o Filho de Deus, ou seja,
que Jesus é o único e suficiente Senhor e Salvador, que é Deus e que não há como se
admitir outro meio de se chegar ao Senhor, este mostra, com sua atitude, que Deus está
nele e ele em Deus (I Jo.4:15). Podemos dizer que estamos a fazer o mesmo?
Mas, apesar das importantes qualidades pessoais apresentadas pelo pastor de Pérgamo,
vemos que o Senhor Jesus, dentro de Sua natural e essencial imparcialidade, também
aponta alguns graves defeitos que possuía aquele pastor, defeitos que o Senhor Jesus disse
serem “algumas poucas coisas”, mas que era algo mortal para a Igreja.
Embora pessoalmente o pastor de Pérgamo fosse uma pessoa sincera, com vida espiritual
louvável e elogiável, enquanto líder era uma lástima. Sua pusilanimidade saltava aos
olhos do Senhor, pois disse que aquele pastor “tens lá os que seguem a doutrina da
Balaão”, como também “tens também os seguem a doutrina dos nicolaítas” (Ap.2:14,15).
Embora fosse um verdadeiro e genuíno cristão, o pastor de Pérgamo tinha permitido
que, no meio de seu rebanho, existissem tanto os balaamitas quanto os nicolaítas.
Aquele pastor tinha permitido que, no seio da igreja de Pérgamo, houvesse já um grupo
numeroso de crentes que haviam se desviado espiritualmente e, apesar disto, nenhuma
atitude havia sido tomada por aquele pastor. “…Pérgamo representa decadência espiritual
para a igreja, bem como todos os cristãos que seguem seus princípios doutrinários. A
palavra de ordem para esta igreja paganizada, que está mais para política do que para
cumprir suas finalidades e compromissos com o Evangelho, é que existe contra ela uma
espada afiada de dois gumes, que ferirá o pastor e toda a comunidade, se não se
arrependerem…” (SILVA, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a
eternidade, v.7, p.44).
Com relação à “doutrina de Balaão”, assim se manifesta o pastor Severino Pedro da Silva:
“…Na epístola de Judas (Jd.11), há referência a três homens caídos do Antigo
Testamento: ‘Caim…Balaão…Coré’ (cf. Gn.4:1-24; Nm.16,22,23,24). Nos dias
neotestamentários, seus nomes são tomados como figuras expressivas dos falsos
ensinadores que, segundo se diz, entrariam no ‘seio’ da Igreja Cristã (cf. II Pe.2:15). No
texto em foco, é-nos apresentada ‘a doutrina de Balaão’. (…). A doutrina de Balaão, que
também se transformou no seu erro era que, raciocinando segundo a moralidade natural,
e assim vendo erro em Israel, ele supôs que Deus, justo que era, teria de amaldiçoá-lo.
Era cego para com a moralidade da cruz de Cristo, mediante a qual Deus reforça a
autoridade, de tal modo que vem ser justo e o justificador do pecador que olha para
Cristo…” (Apocalipse versículo por versículo. 3.ed., p.40).
Balaão, então, querendo, de qualquer maneira, ter acesso aos tesouros que lhe haviam
sido prometidos pelo rei Balaque, aconselhou o rei a usar mulheres para seduzir os
israelitas pois, se eles deixassem a Deus e se prostituíssem e sacrificassem a Baal-Peor (e
o culto a Baal-Peor envolvia rituais de prostituição, de relacionamentos sexuais, pois era
um típico “culto de fertilidade”), poderiam ser amaldiçoados, como era o desejo de
Balaque.
A “doutrina de Balaão” leva os incautos ao pecado porque, sem a Palavra de Deus, não
nascem raízes na vida espiritual de alguns e eles são facilmente levados pela aparência
enganosa e atrativa que se constrói na fronteira entre a Igreja e o mundo. Sem ter raízes,
os crentes superficiais são facilmente levados pela beleza e atração do mundo e do pecado,
não suportando a perseguição, a provação e o sofrimento, sucumbindo a uma mentalidade
baseada no prazer e na emoção. Sem que deixemos germinar em nós, de modo profundo,
a Palavra de Deus, que é a semente (Mt.13:20,21), seremos seduzidos pelo colorido
enganador do diabo e passaremos a comungar com o pecado, cometendo tanto o pecado
da idolatria (pois substituiremos Deus por outrem) quanto o pecado da infidelidade
espiritual (passaremos a nos relacionar com outrem e não mais exclusivamente com o
Senhor).
Mas, além da “doutrina de Balaão”, o pastor de Pérgamo tinha permitido surgir, no meio
de seu rebanho, aqueles que “seguiam a doutrina dos nicolaítas”. Já falamos desta
doutrina ao analisarmos a carta à igreja de Éfeso. Ali, o pastor de Éfeso, diligente e zeloso
com a doutrina, não tinha permitido que os nicolaítas entrassem em seu rebanho. Aqui,
porém, eles não só tinham entrado como também já tinham ali os seus seguidores.
Já vimos que os “nicolaítas” eram os que defendiam que o corpo para nada valia, que
tentavam introduzir no meio do povo de Deus o gnosticismo, a doutrina segundo a
qual a matéria é essencialmente má e deve ser completamente desconsiderada em
nossa vida espiritual. É uma doutrina muito próxima a “doutrina de Balaão”, mas que
dela se diferenciava ao defender que o acesso à espiritualidade dependia de “mediadores”,
de “seres iluminados”, algo que não era exigido pelo ensino balaamita.
O pastor de Pérgamo tinha permitido que, no seio da igreja, surgissem aqueles que criam
que seu acesso a Deus dependia de “mediadores”, de uma “casta superior de crentes”.
Começaram a surgir, portanto, na igreja de Pérgamo, aqueles que se intitulavam
“detentores do acesso dos crentes a Cristo”, “iluminados”, o que causava intensa
fragmentação no corpo de Cristo.
Em nossos dias, não tem sido diferente. Muitos têm assumido a necessidade de
“mediadores” entre Cristo e os crentes, criando um verdadeiro “sacerdócio” que leva o
povo ao encontro de Jesus, esquecendo-se de que só há um mediador entre Deus e os
homens, Jesus Cristo homem (I Tm.2:5; Hb.8:6). Não é porventura o que temos visto no
chamado “movimento celular”, onde os “líderes de células” são tidos como verdadeiros
“pais espirituais” dos demais membros das células, a quem os crentes devem irrestrita
submissão e obediência? Tudo isto contraria visceralmente as Escrituras que são
categóricas ao nos ensinar que a ninguém devemos chamar de Rabi ou de Pai, a não ser a
Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e ao nosso Pai que está nos céus (Mt.23:7-10),
como também que não devemos ser escravos de homens (I Co.7:23).
O Senhor Jesus, pela segunda vez nestas cartas, diz que aborrece a doutrina dos nicolaítas
(Ap.2:6,15). Esta insistência do Senhor em afirmar que aborrece tal doutrina deve ser um
grande alerta para nós, a fim de que não permitamos, em momento algum, a criação de
“mediadores” que neguem o sacerdócio universal de todos os crentes, uma reivindicação
histórica da Reforma Protestante, mas que tem sido, perigosamente, deixada de lado em
nossos dias, basta ver que já há, em nosso meio, quem defenda que os pecados sejam
confessados apenas para o ministro…
Diante deste quadro, o Senhor Jesus Se dirige ao pastor de Pérgamo com a seguinte
mensagem: “Arrepende-te pois, quando não, em breve virei a ti e contra eles
batalharei com a espada da Minha boca” (Ap.2:16).
Caso o pastor de Pérgamo mantivesse a sua atitude passiva, a sua negligência, o Senhor
disse que, pessoalmente, batalharia com a espada da Sua boca contra aqueles que estavam
a infectar o rebanho, ou seja, por meio do Espírito Santo, que é a Pessoa Divina que
glorifica a Cristo Jesus e que nos faz lembrar de Seus ensinamentos (Jo.16:14; 14:26),
levantaria outros para fazer o trabalho que o pastor de Pérgamo se negava a fazer. Temos
aqui o aviso de uma verdadeira rejeição do ministério daquele pastor.
O pastor de Pérgamo sofreria a mesma rejeição de Saul que, posto como rei sobre Israel,
desobedeceu ao Senhor, o que fez com que Deus se providenciasse um outro rei, “in
casu”, Davi (I Sm.15:26-28). O pastor de Pérgamo, se se mantivesse desobediente,
rebelde ao Senhor, acabaria por cometer o mesmo pecado dos pergamitas, ou seja, a
feitiçaria, pois a rebelião é como o pecado de feitiçaria (I Sm.15:23).
Vemos que grande risco correm os “pastores de Pérgamo” de nossos dias, que são
negligentes com a sã doutrina, com o ministério da palavra e que têm permitido grassar,
no meio dos que cristãos se dizem ser, os seguidores da “doutrina de Balaão” e da
“doutrina dos nicolaítas”. Embora sejam alguns destes, como era o anjo da igreja em
Pérgamo, pessoas devotas, sinceras diante do Senhor, sua omissão e tolerância passiva
com o predomínio do pecado os farão rebeldes contra o Senhor e, assim como Saul,
acabarão tendo um triste fim, terão o mesmo destino dos feiticeiros, que é o de ficar de
fora da cidade santa (Ap.22:15). Acordem, ministros negligentes, antes que seja tarde
demais!
Esta “igreja imperial” caracterizou-se pela sua mistura com o mundo. A partir do
momento em que o governo romano liberou o culto cristão, paulatinamente a cúpula da
Igreja começou a se envolver com o poder romano, vez que passou a ser privilegiada e
“mimada” pelos imperadores a partir de Constantino que, com a exceção de Juliano (que
reinou de 361 a 363), eram todos cristãos. Este “mimo” se consolidará em 380, quando o
imperador Teodósio I torna o cristianismo a religião oficial do Império Romano.
Este envolvimento da Igreja com o Estado romano terá consequências nefastas para a
pureza doutrinária. Milhares e milhares de pessoas, a partir de então, passaram a se
“converter” ao Cristianismo por interesses meramente políticos e sociais, uma vez que a
Igreja passou a receber vultosas quantias do governo romano e a tomar para si patrimônios
que antes pertenciam a cultos pagãos, fazendo da Igreja uma poderosa instituição,
inclusive de assistência aos mais desafortunados.
Este ingresso de “conversos” sem o devido preparo doutrinário como também sem uma
genuína conversão fez com que, aos poucos e paulatinamente, diversos costumes e
crenças pagãos fossem “cristianizados”, o que representou a paganização da Igreja. Era o
surgimento, no meio da Igreja, dos seguidores da “doutrina de Balaão”.
Entre vários desvios doutrinários que passaram a ser tolerados e aceitos, temos os
cultos dos mártires, o culto dos mortos, que logo evoluiu para uma idolatria que
caracteriza até hoje segmentos cristãos como a Igreja Católica Romana e a Igreja
Ortodoxa Grega. Eis aqui uma pequena lista dos desvios doutrinários deste período
histórico:
Ano 310 –Dentre as mais antigas tradições humanas criadas pela ICAR, se encontram a
oração pelos mortos e o sinal da cruz, as quais apareceram quase 300 anos, após a morte
de Cristo.
Ano 320 –Introdução do uso de velas.
Ano 375 –Veneração aos anjos e santos falecidos.
Ano 394 –Início da celebração da Missa.
Ano 431 –Adoração a Maria, mãe de Jesus, com a invenção do termo “Mãe de Deus”,
conforme o Concílio de Éfeso.
Ano 500 –Adoção das vestes especiais para os sacerdotes.
Ano 526 –Adoção do rito chamado “Extrema Unção”.
Ano 593 –Invenção da doutrina do Purgatório.
Ano 600 –Papa Gregório I adota o Latim na celebração da Missa.
Observação: Paulo proíbe orações em línguas estranhas e a Bíblia ensina que as orações
só devem ser feitas a Deus, nunca aos anjos ou santos. (Ver Mateus 11:28; Lucas 1:46;
Atos 10:25; Atos 14:14-18).
Ano 610 –Foi criado o papado, usando-se o título de origem pagã (Maximus Pontifex),
dado ao bispo de Roma pelo maligno imperador Focas, com o objetivo de desacatar o
bispo Ciríaco, de Constantinopla, o qual o havia excomungado, por ter ele assassinado o
seu predecessor Maurício. Gregório I, então Bispo de Roma, recusou o título de Papa, o
qual seria aceito pelo seu sucessor, Bonifácio III.
Observação –Jesus nunca nomeou Pedro como líder dos apóstolos, tendo apenas
ordenado que ele apascentasse as Suas ovelhas – os judeus – do mesmo modo como iria
entregar Suas outras ovelhas – os gentios – ao apóstolo Paulo. (Ver Gálatas 2:14-15;
Lucas 22:24-26; Efésios 1:22-23; Colossenses 1:18 e 1 Coríntios 3:11). Não existe relato
algum de que Pedro tenha estado em Roma e ali permanecido por 25 anos. O terceiro
bispo de Roma, Clemente, afirmou que não existe evidência alguma de que Pedro tenha
estado em Roma, no Século I.
Ano 709 –Teve início a prática pagã de beijar os pés dos papas, copiada do costume de
beijar os pés dos imperadores. (A Bíblia proíbe tal prática, conforme Atos 10:25-26;
Apocalipse 19:10; 22:9).
Ano 750 –Foi criado o poder temporal dos papas. Quando o imperador Pepino tomou
posse do trono da França, vindo da Itália, ele convocou o Papa Estevão II para lutar contra
os lombardos. Estes foram derrotados e Pepino presenteou o papa com uma parte da
cidade de Roma, uma colina chamada ??? onde se faziam vaticínios, cujo nome daria
origem ao nome “Vaticano”. Jesus recusou as glórias do mundo que Lhe foram oferecidas
por Satanás, mas o papa as aceitou. (Mateus 4:8-9; 20:25-26; João 18:38).
Ano 788 –Começou a prática de adorar a cruz e as relíquias dos santos falecidos. A grande
mentora desta prática pagã foi a monstruosa imperatriz Irene, que mandou furar os olhos
do próprio filho, Constantino VI, temendo que este lhe tomasse o poder. Logo depois,
ela convocou um concílio da igreja, a pedido de Adriano I, então Papa de Roma. Irene foi
canonizada como santa pela ICAR, onde começou a ser venerada. (A IDOLATRIA é um
pecado condenado na Bíblia, conforme Êxodo 20:4; 3:17; Deuteronômio 27:15 e Salmo
115).…”(TESTA, Stephen L. Lista dos desvios doutrinários da Igreja Católica Romana.
Como se não bastasse isso, paulatinamente, também, até por força da concessão de poder
temporal aos bispos, que passaram a ter nacos de poder do governo romano, começou a
existir uma diferenciação entre o “clero”, ou seja, os ministros, que passaram a ser
considerados “sacerdotes” e os demais crentes, chamados de “leigos”. Tinha-se, assim, a
consolidação do nicolaísmo, pois os “sacerdotes” passaram a ser os “mediadores” entre
Cristo e o restante da Igreja. Era o início da chamada “doutrina dos sacramentos”,
segundo a qual há a necessidade de um sacerdote para que se possa ministrar a graça de
Deus aos fiéis.
Tem-se, aliás, neste período, o surgimento do Papado, a ideia de que o “bispo de Roma”
é o “Vigário de Cristo”, o “sucessor de Pedro” que teria sido constituído por Cristo como
“a cabeça visível da Igreja”. O Papa é chamado de “Pontífice”, título que era, nada mais,
nada menos do que o do sumo sacerdote do culto babilônico existente na cidade de
Pérgamo. “…Pérgamo era centro de feitiçaria, magia negra e bruxaria. Diz a história
universal que, no ano 133 a.C., quando os persas receberam asilo do rei Atalo, a cidade
ainda recebeu a fama de ser a retentora dos templos da Ásia. O sumo sacerdote dos magos
era chamado de supremo construtor de pontes, o que significa ‘aquele que liga as brechas
entre os mortais e Satanás com suas hostes’…” (OLIVEIRA, José Serafim
de. Desvendando o Apocalipse: o livro da revelação, p.18). “…Também se estabeleceu
ali o culto dos Magos, de origem babilônica. O sacerdote deste culto era chamado de
Pontifex Maximus, ou, então, de ‘Principal Construtor da Ponte’ e sua suposta tarefa era
preencher o vácuo entre o homem e os poderes superiores…” (CHAMPLIN. R.N.
Pérgamo: In:Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.5, p.223). “…Em 378, Damaso,
então bispo de Roma, apercebido do título vacante [i.e., o título de Sumo Sacerdote da
Ordem Babilônica, que havia sido transferido de Pérgamo para Roma em 133 a.C. e que
passou a ser usado por todos os imperadores romanos, a partir de Júlio César, até 375,
quando o imperador Graciano a ele renunciou – observação nossa] e querendo amealhar
prestígio para o seu bispado, assumiu-se como Sumo Pontífice da Ordem Babilônica…”
Nota-se, pois, que, a partir de 312 e até os idos de 800, a chamada “igreja imperial” irá
cristalizar o seu “casamento com o mundo”, a sua comunhão com a “Babilônia”, este
sistema mundano gentílico que foi retratado no sonho de Nabucodonosor que foi
interpretado por Daniel (Dn.2) e que só será destruído ao término da Grande Tribulação,
quando o Senhor Jesus vier livrar Israel das mãos do Anticristo (Ap.17-19).
Tudo quanto nos foi revelado aqui na Terra, através das Escrituras Sagradas, porém nada
é em comparação ao que nos está reservado na glória, pois “…as coisas que o olho não
viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou
para os que o amam.” (Is.64:4; I Co.2:9). Aquele que se mantiver firme servindo ao
Senhor terá acesso ao não-revelado, aquilo que era somente reservado ao próprio Deus
(Dt.29:29). Por isso, o Senhor Jesus diz que não somos apenas servos, mas Seus amigos
(Jo.15:15). Por isso, como diz o pastor José Serafim de Oliveira, “…o crente em Jesus
não precisa ter saudades das panelas de carne, dos pepinos, alhos e das cebolas do
Egito…” (op.cit., p.19), devendo, “antes ter o seu prazer na lei do Senhor e nela meditar
de dia e de noite” (Sl.1:2). Para não sermos atraídos pelo mundo, precisamos nos debruçar
na Palavra de Deus, que nos é mais doce do que o mel (Sl.119:103).
A segunda promessa diz respeito a “ter uma pedra branca e, na pedra, um novo
nome”, motivo por que alguns estudiosos entendem serem três e não duas as promessas.
Há muitas interpretações a respeito do significado da “pedra branca”. Entendem alguns
que esta pedra era conferida a quem fosse absolvido num processo judicial; outros, ao
escravo que era liberto e que passava a carregar esta pedra para provar a sua libertação; a
outros, ainda, era objeto que se dava a quem vencesse corridas ou lutas; para outros, era
um símbolo de amizade entre duas pessoas, cada qual levando metade da pedra que era
partida ao meio e, por fim, um troféu que recebia o guerreiro que voltava vitorioso da
batalha.
OBS: “…Os juízes, naqueles dias, ao julgar uma pessoa, tinham por hábito darem uma
pedra preta, para os que fossem condenados à morte; e uma pedra branca, para os que
fossem inocentados e colocados em liberdade. Não existe pedra mais branca do que Jesus,
e estar fundamentado n’Ele significa dizer que terá uma vida nova e um novo nome. Deus
conhece quem são os que já têm o novo nome, pois esse novo nome representa a
personalidade individual, obtida exclusivamente mediante o novo nascimento.…”
(SILVA, Osmar José da. op.cit., p.45).
Mas, nesta pedra branca, diz o Senhor Jesus, será escrito um novo nome, que ninguém
conhece senão o que o recebe. Temos aqui a demonstração de que o vencedor, que
desfrutou de uma intimidade com o Senhor durante a sua peregrinação terrena, não será
“anulado” nos céus. Muitos acham que os crentes serão verdadeiros “zumbis” nos céus,
seres que não se reconhecerão, seres que não terão noção alguma de individualidade.
Nada mais falso!
O Senhor Jesus, aqui, mostra-nos com absoluta clareza que cada crente desfrutará de uma
intimidade própria com o seu Senhor. Este “novo nome que ninguém conhece senão o
que o recebe” nada mais é que a manutenção de nossa individualidade e de nossa
intimidade com Cristo mesmo na dimensão eterna. Cada um de nós terá um
relacionamento particular e exclusivo com o Senhor, sem deixar de ser o povo de Deus
que para sempre habitará com o Senhor (Ap.21:3).
Quem jamais negou o nome de Jesus aqui na Terra, terá um nome exclusivo que o
aproximará de modo particular e profundamente íntimo com o seu Senhor no céu.
Perseveremos, pois se já é maravilhoso desfrutar da intimidade com o Senhor aqui neste
mundo, que não será desfrutar de uma intimidade com o nosso querido Salvador nos
novos céus e nova terra? Aleluia!