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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Bacharelado em Gestão de Serviços de Saúde

ANDERSON CADAR RANGEL

ESTUDO DIRIGIDO - CÓDIGO DEFESA DO CONSUMIDOR

A tutela penal e os crimes nas relações de consumo

MOURA JUNIOR, Osvaldo; MARTINS, Paulo César Ribeiro. A tutela penal e os crimes nas relações de
consumo. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 90, jul 2011. Disponível em:
<http://ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9784&revista_caderno=3

1. Descrever como se deu a evolução e os efeitos das relações de Consumo e a proteção


legal e jurídica dos Consumidores.

A ONU estabelece em 1985, na sua 106a Sessão Plenária,


através da Resolução nº 39/248, o princípio da
vulnerabilidade do consumidor, reconhecendo-o como a
parte mais fraca na relação de consumo, e tornando-o
merecedor de tutela jurídica específica, exemplo que foi
seguido pela legislação consumerista brasileira. Criava-se,
assim, uma série de normas internacionais de proteção do
consumidor, com o objetivo de universalizar esse direito. As
regras ali contidas tinham por finalidade oferecer diretrizes
para os países, especialmente os em desenvolvimento, para
que as utilizassem na elaboração ou no aperfeiçoamento das
normas e legislações de proteção e defesa do consumidor,
bem assim encorajar a cooperação internacional nesse
sentido.

Antes mesmo de ser incluída na Carta Constitucional de


1988, a defesa do consumidor, no Brasil, teve como marco
mais significativo a edição da Lei nº 7.347/85, conhecida
como Lei da Ação Civil Pública, com vistas à proteção dos
interesses difusos da sociedade. No mesmo ano, criou-se o
Conselho Nacional de Defesa do Consumidor.
o direito do consumidor possui fincas na Constituição
Federal de 1988, cuja garantia de defesa do consumidor
encontra-se consagrada em seu art. 5º, XXXII.
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2. Descrever sobre os princípios que norteiam a política nacional das relações de


consumo.
Princípio da Proteção da Confiança do Consumidor -
proteção da confiança do consumidor no vínculo contratual,
assegurando o equilíbrio do contrato, como por exemplo,
proibir cláusulas abusivas e garantir uma interpretação
sempre pró-consumidor. Se refere, ainda, à proteção da
confiança na prestação contratual, vale dizer, garantir ao
consumidor a adequação do produto ou serviço, bem como
evitar riscos e prejuízos oriundos destes produtos ou
serviços. Contempla ao consumidor uma garantia de
proteção em relação ao mercado de consumo, ou seja, dá
poderes ao Estado para desenvolver e promover padrões de
qualidade e de segurança adequados, garantindo a
durabilidade e desempenho do produto ou serviço.

Princípio da Segurança - estabelece que o fornecedor


deverá garantir ao consumidor a segurança do produto ou
serviço em todos os aspectos. Os produtos e serviços
colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à
saúde ou segurança dos consumidores, exceto os
considerados normais e previsíveis em decorrência de sua
natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em
qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e
adequadas a seu respeito

Princípio da Transparência - impõe aos contratantes


lealdade recíproca, vale dizer, pretende a transparência da
relação, visando a boa-fé antes, durante e após a relação
contratual. Sua pretensão é evitar cláusulas abusivas, que
restrinjam os direitos do consumidor.

Princípio da Vulnerabilidade - dispõe do “reconhecimento


da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo”
e, com isso, pretende garantir ao consumidor o equilíbrio na
relação desigual existente no contrato estabelecido entre
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fornecedor e consumidor. No Brasil, temos que a


vulnerabilidade da pessoa física é presumida, porém, quanto
à pessoa jurídica, sua vulnerabilidade será analisada no caso
concreto e, caso não reste demonstrada, tal relação será
considerada empresarial.

Princípio da Informação - A informação clara e precisa é


requisito fundamental na relação de consumo, posto que
qualquer informação falha, enganosa ou omissa gera
responsabilidade do fornecedor. Assim, é dever do
fornecedor transmitir ao consumidor as informações
concernentes ao produto ou serviço de forma simples e
acessível.

Princípio da Harmonia - pretende que as partes


reconheçam a diferença e vulnerabilidade existente nesta
relação, respeitando tal situação e garantindo a consequente
proteção nesse sentido, buscando equilíbrio na relação de
consumo, sempre embasado na boa-fé de ambas as partes.

Princípio do Equilíbrio nas Prestações - no inciso III, do


artigo 4º, do CDC, vislumbramos outro princípio: “equilíbrio
nas relações entre consumidores e fornecedores”. A
inobservância a tal princípio pode gerar a anulação da
cláusula ou até do negócio jurídico. Ou seja, caso o contrato
apresente cláusula ou conteúdo que deixe o consumidor em
posição inferior, ou ainda, que gere desvantagens à este,
poderá o contrato ter sua validade questionada judicialmente,
podendo gerar a anulação da cláusula desvantajosa ou até
do contrato.
Sua importância é tamanha que o artigo 51, § 1º, III, CDC,
determina que, entre outros casos, presume-se exagerada a
vontade que: “se mostra excessivamente onerosa para o
consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do
contrato, o interesse das partes e outras circunstancias
peculiares ao caso”. Vale dizer, caso haja em cláusula ou no
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próprio contrato, onerosidade excessiva, está será passível


de anulação.

Princípio da Boa-fé Objetiva - O princípio da boa-fé objetiva


é considerado o mais importante na relação de consumo, na
relação jurídica. E estabelece que entre as partes do vínculo
jurídico deverá haver lealdade e cooperação, evitando
condutas que possam lesar a expectativa da outra parte.

Princípio do Acesso à Justiça - o CDC garante ao


consumidor o direito de acesso à Justiça. Assim, dispõe o
artigo 83, do CDC: “Para a defesa dos direitos e interesses
protegidos por este código são admissíveis todas as
espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e
efetiva tutela”. Ou seja, procura garantir ao consumidor maior
acessibilidade e facilidade em buscar seus direitos perante o
judiciário.

3. Faça uma análise dos artigos 63 a 74 do Código de Defesa do Consumidor,


considerando o texto apresentado.

Os delitos descritos no CDC punem o agente que pratica


alguma das condutas descritas nos Artigos 63 a 74 com penas
de multa, detenção ou restrição de direitos, nos termos do Art.
78, do mesmo Código. Tais condutas típicas visam proteger o
consumidor contra a nocividade e periculosidade de produtos
e serviços, fraudes publicitárias, publicidade enganosa e
abusiva e práticas abusivas. Nessa modalidade de infração
penal o bem jurídico protegido é são os direitos do consumidor
reconhecidos no Artigo 6º, do Código de Defesa do
Consumidor e nos capítulos que o sucedem e que disciplinam
a qualidade dos produtos e serviços, a prevenção e a
reparação de danos sofridos pelo consumidor. Assim, por
exemplo, ao descumprimento da obrigação do fornecedor
constante do Artigo 21, do CDC que trata do fornecimento de
serviços de reparação de produtos, incide a tutela penal da
norma do Artigo 70, também do CDC.
O Artigo 63 trata da segurança das relações de consumo
sob o aspecto difuso e abstrato. Note-se que não é necessário
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a comprovação do nexo causal entre a conduta tipificada e a


efetiva nocividade à saúde ou segurança do consumidor.
A conduta típica é a omissão de dizeres e sinais na
oferta e apresentação do produto. Deste modo, ao se
distribuir no mercado determinado produto ou serviço sem
observar a periculosidade e a nocividade constitui dolo
eventual, capaz de caracterizar o crime descrito no artigo em
comento.
O Artigo 64 protege-se a segurança do consumidor e
penaliza o fornecedor que se omitir em comunicar para a
autoridade competente acerca da nocividade ou
periculosidade de produtos, após a sua distribuição no
mercado de consumo. A dificuldade em aplicação dessa
norma reside na identificação temporal do termo “posterior”,
uma vez que colocado o produto no mercado inicia-se o
transcurso do tempo para que o fornecedor possa comunicar
a autoridade competente e os consumidores acerca de
eventual nocividade ou periculosidade do produto. Referido
tempo pode ser minutos ou anos

o Artigo 65, do CDC tem como objeto jurídico material a


saúde e integridade física do consumidor contra a prestação
de serviços de alto grau de periculosidade assim classificado
por autoridade competente. A grande crítica que se encontra
na doutrina é acerca da imprecisão da intenção do legislador
que não indica quem é a autoridade competente, tampouco o
que é serviço de alto grau de periculosidade.
O Artigo 66 do CDC tipifica como crime “fazer afirmação
falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a
natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança
desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou
serviços”. O objeto jurídico protegido neste tipo penal é a
confiança e a segurança a que deve prevalecer nas relações
de consumo.
Art. 68. Fazer ou promover publicidade que
sabe ou deveria saber ser capaz de induzir o
consumidor a se comportar de forma
prejudicial ou perigosa a sua saúde ou
segurança:
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Pena - Detenção de seis meses a dois anos


e multa
Novamente, o legislador demonstra a preocupação com
a saúde e segurança do consumidor. Este dispositivo penal
pune quem faz ou veicula propaganda que sabe ou deveria
saber ser capaz de induzir o consumidor a ter um
comportamento prejudicial ou perigoso a sua saúde.
Art. 69. Deixar de organizar dados fáticos,
técnicos e científicos que dão base à
publicidade:
Pena Detenção de um a seis meses ou
multa

O Artigo pretende punir quem não organiza dados


fáticos, técnicos, e científicos que dão base à publicidade.
Essa tipificação tem por objetivo assegurar a efetiva garantia
que o Código de Defesa do Consumidor dispõe no Artigo 36,
parágrafo único: “O fornecedor, na publicidade de seus
produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para
informação dos legítimos interessados, os dados fáticos,
técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem”.
Art. 70. Empregar na reparação de
produtos, peça ou componentes de reposição
usados, sem autorização do consumidor:
Pena - Detenção de três meses a um ano e
multa

Pelo presente dispositivo penal será punido aquele


fornecedor que na reparação de produtos, utilizar peças ou
componentes de reposição usados, sem autorização do
consumidor.
Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça,
coação, constrangimento físico ou moral,
afirmações falsas incorretas ou enganosas ou
de qualquer outro procedimento que exponha
o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou
interfira com seu trabalho, descanso ou lazer:
Pena - Detenção de três meses a um ano e
multa
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Por esta norma, a intenção do legislador não é


impedir a cobrança pelo credor em face do consumidor
inadimplente, mas apenas estabelecer limites para o exercício
deste direito de cobrar. Assim, a ação regular do credor em
face do devedor não é proibida, apenas a cobrança abusiva é
vedada.
Art. 72. Impedir ou dificultar o acesso do
consumidor às informações que sobre ele
constem em cadastros, banco de dados, fichas
e registros:
Pena – Detenção de seis meses a um ano
ou multa
A infração penal descrita na norma acima não diz
respeito à veracidade ou não das informações, mas apenas
está adstrita a conduta de impedir ou dificultar o acesso por
parte do consumidor. Dessa forma, o fornecedor não poderá
cobrar pelas informações consultadas, no máximo poderá
solicitar um prazo para disponibilizar as informações ao
consumidor.
Art. 73. Deixar de corrigir imediatamente
informação sobre consumidor constante de
cadastro, banco de dados, fichas ou registros
que sabe ou deveria saber ser inexata:
Pena - Detenção de um a seis meses ou
multa.

A infração penal deste artigo consiste em


deixar de corrigir informação cadastral sobre o consumidor,
que sabidamente sabe ser inexata, implica em pena de
detenção de um a seis meses ou multa. É direito do
consumidor exigir que qualquer informação inverídica sobre
seus dados cadastrais seja corrigida imediatamente pelo
arquivista que terá cinco dias para comunicar as alterações
aos eventuais destinatários.(art. 43 ,§3º, CDC).
Art. 74: Deixar de entregar ao consumidor o
termo de garantia adequadamente preenchido
e com especificação clara de seu conteúdo.
Pena - Detenção de um a seis meses ou
multa
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A ultima infração penal contra as relações de


consumo que descreve a conduta típica delituosa daquele
fornecedor que deixa de entregar ao consumidor o termo de
garantia preenchido e com especificações acerca do conteúdo
do produto.

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