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Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 430.959 - DF (2017/0334125-4)

RELATOR : MINISTRO FELIX FISCHER


IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTICA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITORIOS
PACIENTE : MARCOS MARCIO SANTANA
EMENTA

PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO


ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. RECEPTAÇÃO. ART. 180, CAPUT, DO CP.
DOSIMETRIA. CONDENAÇÕES DEFINITIVAS ATINGIDAS PELO
PERÍODO DEPURADOR DE 5 ANOS. CONFIGURAÇÃO DE MAUS
ANTECEDENTES. POSSIBILIDADE. UTILIZAÇÃO NA EXASPERAÇÃO
TANTO A TÍTULO DE MAUS ANTECEDENTES QUANTO DE CONDUTA
SOCIAL E DE PERSONALIDADE. MOTIVAÇÃO INIDÔNEA. BIS IN
IDEM. PENA-BASE. CRITÉRIO MATEMÁTICO. SUPOSTO EXCESSO E
DESPROPORCIONALIDADE NO AUMENTO. INOCORRÊNCIA. HABEAS
CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
I - A Terceira Seção desta Corte, seguindo entendimento firmado pela
Primeira Turma do col. Pretório Excelso, firmou orientação no sentido de não
admitir a impetração de habeas corpus em substituição ao recurso adequado,
situação que implica o não conhecimento da impetração, ressalvados casos
excepcionais em que, configurada flagrante ilegalidade apta a gerar
constrangimento ilegal, seja recomendável a concessão da ordem de ofício.
II - Embora o Supremo Tribunal Federal ainda não haja decidido o
mérito do RE n. 593.818 RG/SC – que, em repercussão geral já reconhecida (DJe
3/4/2009), decidirá se existe ou não um prazo limite para se sopesar uma
condenação anterior como maus antecedentes –, certo é que, por ora, este
Superior Tribunal possui o entendimento consolidado de que, decorrido o prazo
de cinco anos entre a data do cumprimento ou a extinção da pena e a infração
posterior, a condenação anterior, embora não possa prevalecer para fins de
reincidência, pode ser sopesada a título de maus antecedentes. Precedentes.
III - Diante da existência de precedentes em ambos os sentidos e tendo
em vista a ausência de definição da matéria pelo Plenário do Supremo Tribunal
Federal, não há como qualificar de abusiva ou de ilegal a decisão que opta por
uma das duas correntes.
IV - "A circunstância judicial conduta social, prevista no art. 59 do
Código Penal, compreende o comportamento do agente no meio familiar, no
ambiente de trabalho e no relacionamento com outros indivíduos. Vale dizer,
os antecedentes sociais do réu não se confundem com os seus antecedentes
criminais. São vetores diversos, com regramentos próprios. Doutrina e
jurisprudência. 2. Assim, revela-se inidônea a invocação de condenações
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anteriores transitadas em julgado para considerar a conduta social
desfavorável, sobretudo se verificado que as ocorrências criminais foram
utilizadas para exasperar a sanção em outros momentos da dosimetria. 3.
Recurso ordinário em habeas corpus provido" (RHC n. 130.132/MS, Segunda
Turma, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 10/5/2016, DJe de 24/5/2016,
grifei).
V - A existência de condenação definitiva também não é fundamento
idôneo para desabonar a personalidade do paciente, sob pena de bis in idem.
Ademais, não é possível que o magistrado extraia nenhum dado conclusivo, com
base em tais elementos, sobre a personalidade do agente. Assim, não havendo
dados suficientes para a aferição da personalidade, mostra-se incorreta a sua
valoração negativa, a fim de supedanear o aumento da pena-base (precedentes).
VI - Quanto ao critério numérico de aumento para cada
circunstância judicial negativa, insta consignar que "A análise das
circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal não atribui pesos absolutos
para cada uma delas a ponto de ensejar uma operação aritmética dentro das
penas máximas e mínimas cominadas ao delito. Assim, é possível que "o
magistrado fixe a pena-base no máximo legal, ainda que tenha valorado tão
somente uma circunstância judicial, desde que haja fundamentação idônea e
bastante para tanto." (AgRg no REsp 143071/AM, Sexta Turma, Relª. Minª.
Maria Thereza de Assis Moura, DJe 6/5/2015).
VII - Não há desproporção na reprimenda-base aplicada, porquanto
existe motivação particularizada, vinculada à discricionariedade e à
fundamentação do magistrado, ausente, portanto, notória ilegalidade a justificar a
concessão da ordem de ofício, neste ponto.
Habeas corpus não conhecido. Contudo, ordem concedida de ofício
apenas para afastar a valoração negativa da conduta social e da personalidade,
reduzindo-se a pena imposta para 1 (um) ano e 8 (oito) meses de reclusão, mais
pagamento de 16 (dezesseis) dias-multa, mantidos os demais termos da
condenação.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima


indicadas, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça,
por unanimidade, não conhecer do pedido e conceder "Habeas Corpus" de ofício, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Reynaldo Soares da Fonseca e Ribeiro
Dantas votaram com o Sr. Ministro Relator.

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Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Joel Ilan Paciornik.

Brasília (DF), 22 de março de 2018 (Data do Julgamento).

Ministro Felix Fischer


Relator

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