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memoria

30 anos de
regulamentação
Depoimento de Antônio Marcos Chaves
Antes de se tomar uma da profissão de psicologista, ra turma formou-se em 1960,
profissão regulamentada, a Psi¬ como na época era denomina- pela PUC do Rio de Janeiro.
cologia era exercida principal- da a profissão. Havia, naquela "Começou-se, então - disse
mente por médicos e profis- época, um movimento no sen- ele - a mostrar-se as especifi-
sionais ligados à educação, sen- tido de oficialização da profis-cidades do trabalho, tanto na
do que a formação em filosofia são. Os profissionais, através prática quanto nas reuniões
se dedicava mais aprofundada- desse movimento organizado, científicas, consolidando uma
mente à matéria. pretendiam traçar os limites de profissão".
O presidente do Conselho atuação, definindo os espaços Mas as conquistas da psico-
Federal de Psicologia, Antônio específicos da Psicologia. A- logia viriam logo a serem sig-
Marchos Chaves, lembra tam- conteciam, com esse objetivo, nificativamente retardadas com
bém que em 1934 a disciplina reuniões simultâneas em diver- o golpe militar de 1964 e a
só era obrigatória nos cursos de sos estados". instalação no país de um re-
filosofia, ciências sociais e pe- Segundo Antônio Marcos, gime repressivo e exercendo
dagogia. esse movimento culminou na grande controle sobre os mo-
"A Psicologia - diz ele - só formalização da Lei 4.119, que vimentos organizados então
se tomou presente em todas as regulamentou a profissão no existentes.
licenciaturas quando a Univer- dia 27 de agosto de 1962. "Essa "Foi um momento muito
sidade de São Paulo criou uma regulamentação - disse ele - difícil - diz Antônio Marcos -
cadeira específica para a veio encontrar a grande maio- pois a relação da Psicologia
matéria". ria dos psicólogos atuando em com a sociedade foi impedida
Isso ainda foi na década de instituições. O trabalho em con-pelo regime de 64. Logo o Mi-
40, fruto da movimentação dos sultórios era bem restrito". nistério da Educação decidiu
profissionais mais ligados a fazer mudanças no currículo,
doença mental e ajustamento instituindo aPsicologia Comu¬
educacional. Corporativismo nitária".
"Mas a primeira organiza- "O que se pretendia com
ção representativa da profissão Os primeiros anos que se isso - continua o psicólogo - era
surgiu em 1954 - afirma Antônio seguiram à regulamentação da o desenvolvimento de técnicas
Marcos Chaves - com a criação profissão foram caracterizados que possibilitassem a pene-
da Associação Brasileira dos por movimentos pela ocupação tração em diversos grupos da
Psicólogos, com sede no Rio de de espaços, estabelecimento de sociedade, com o intuito de
Janeiro". limites de atuação, defesa do seduzi-los para a prática do
Surgiram entãoas primeiras campo profissional ainda ocu- Estado. Rejeitou-se o projeto
publicações especializadas para pado principalmente por mé- do governo por ser, na verdade,
o pessoal que trabalhava na dicos. um instrumento de manipu-
profissão e estudantes. A "Foi uma luta bastante lação de massas".
primeiradessas publicações foi difícil e com característica Em 1970 veio a reestrutu-
a revista "Arquivo Brasileiro fortemente corporativa" - co- ração da universidade e o in-
de Psicotécnica". menta Antônio Marchos centivo à privatização do ensi-
"Essa associação - continua Chaves, lembrando também no, o que provocou um aumen-
Antônio Marcos - elaborou, que paralelo à essa movimen- to muito grande do número de
também, um anteprojeto de lei tação surgiram os primeiros cursos de Psicologia. "Foi ou-
objetivando a regulamentação cursos de Psicologia. A primei- tro fator ruim para a ciência e a
memória

profissão - considerou Antônio Psicologia Clínica, ampliando ser um espaço permanente de


Marcos - pois surgiram escolas a atuação na Psicologia Orga- interlocução entre a profissão e
sem controle, baixa qualidade nizacional (trabalho) e na área a sociedade.
de ensino e uma formação mui- Educacional. "As questões corporativas -
to ruim dos estudantes. Hoje, 30 anos após a regu- afirma Antônio Marcos - se não
O país conta hoje com 102 lamentação da profissão, a atu- estão superadas, têm confor-
cursos de Psicologia, dos quais ação dos psicólogos centra-se mação diferente agora. Não se
30% estão concentrados em São nas clínicas, na educação e na luta mais pela defesa do profis-
Paulo. Este estado conta hoje área do trabalho mas uma nova sional mas, sim, da profissão
com 35 mil psicólogos, do total perspectiva de mudança surge. enquanto necessária social-
de 75 mil inscritos no país. "A tendência - diz Antônio Mar- mente".
"Mas muitos se formam e nem cos - é a socialização da Psico- Dessa forma, amplia-se a
mesmo se inscrevem nos con- logia. A atuação deve se dar participação dos psicólogos nos
selhos regionais, o que signifi- mais nas instituições e menos mais diversos acontecimentos
ca que esse número poderia se no trabalho individualizado". de cunho social, como a 9-
bem maior. Pelo que se estima, Segundo ele, a tendência é Confederação Nacional de
50% dos formados nunca pra- a de o psicólogo deixar de ser Saúde; 2a Conferência Nacio-
ticam a profissão". um profissional liberal e se tor- nal de Saúde Mental, Luta An¬
O Rio de Janeiro conta, hoje, nar um trabalhador ligado à timanicomial, interlocução
com 18 mil profissionais ins- instituição. "São mudanças que com o MEC discutindo cursos
critos. Minas Gerais aparece consideramos conquistas e de Psicologia e outros como o
em terceiro lugar, com 10 mil. avanços na prática profissio- Programa Anti-Aids, do Mi-
Esses profissionais estão em nal. Há o repensamento do cor- nistério da Saúde.
grande concentração nas capi- po teórico. O trabalho será mais
tais e, segundo o presidente do valorizado socialmente, assu-
CFP, Antônio Marcos Chaves, mindo espaços de maior im-
um dos importantes trabalhos portância".
que deve ser desenvolvido é a Ainda para Antônio Mar-
abertura de diálogo com as es- cos, a profissão passa por uma
colas, discutindo currículos e transformação na espectativa
qualidade do ensino oferecido. de que se encontre caminhos no
contexto social brasileiro e la¬
Mudança tino-americano tornando-se
cada vez mais significativa para
Segundo Antônio Marcos, a população.
o perfil do profissional de Psi- O Conselho Federal de Psi-
cologia, no final da década de cologia, que criou os primeiros
70, passa por uma mudança. "O sete conselhos regionais, busca
pessoal já tendia mais para a refletir como a entidade pode

Análise de Regina Helena de Freitas Campos


Regina Helena de Frei- sil, em 1962, ao definir não só ticando a Psicologia nas mais
tas Campos, PhD pela Univer- as condições de formação, mas diversas instituições.
sidade de Stanford, EUA e pro- as áreas de domínio prático que Muito antes da regulamen-
fessora de Psicologia Social e viriam a ser consideradas pri- tação da profissão, a Psicologia
de História da Psicologia da vativas do profissional, marca existiu como um domínio de
Universidade Federal de Mi- o reconhecimento da existên- saberes e técnicas visando o
nas Gerais, faz a seguinte cia de um lugar para o psicó- conhecimento e a intervenção
análise dos 30 anos da regu- logo na divisão social e técnica sobre a ação e a reflexão huma-
lamentação da profissão: do trabalho. Não que não exis- nas. Existia, sobretudo, como
"A regulamentação da tissem entre nós, no período uma esperança: a de que o sa-
profissão do psicólogo no Bra- anterior à lei, profissionais pra- ber científico e o domínio de
uma tecnologia de análise e do, um sistema universitário balho injusta; nas empresas,
manipulação da natureza hu- maduro para transmitir-lhes observamos a solidez das es-
mana viesse a contribuir para a com segurança o conhecimen- truturas de reprodução de con-
resolução de problemas e con- to necessário ao exercício dições de trabalho nem sempre
flitos de natureza psicológica profissional, assim como o es- gratificantes, muitas vezes com
crescentemente observados na pírito científico e inquisitivo recurso a conceitos oriundos de
sociedade contemporânea. que conduziria à produção de nossa própria ciência, a Psico-
A regulamentação da profis- novos conhecimentos na área. logia, e buscamos maneiras al-
são veio referendar e delimitar, O domínio da técnica foi pri- ternativas de lidar com a questão
simbolicamente, a existência vilegiado, em detrimento do do trabalho.
deste domínio técnico-científi¬ domínio do saber gerador de Todas estas observações,
co. A definição legal é portanto mais saber. embora dispersas e pouco sis-
um registro histórico dos dois Além disso, era a época do tematizadas, têm nos levado a
movimentos que lhe deram ori- regime autoritário, e a circu- novas reflexões sobre nosso
gem: o movimento social de lação das idéias na forma de papel na sociedade, e sobre
progressiva racionalização das uma reflexão mais fecunda so- como lidar com esta difícil
funções a serem desempenha- bre nossa própria prática sofria função que nos é recorrente-
das nas modernas sociedades sérias restrições. A produção mente atribuída: minorar o so-
industriais, entre as quais se do saber vivo, que resultasse frimento psíquico, criar con-
insere o conjunto de funções em um melhor conhecimento dições para o desenvolvimento
atribuídas ao psicólogo, e o acerca das condições de saúde de um sujeito social conscien-
movimento dos profissionais já mental em que vivia a própria te, autônomo e crítico, sem
engajados na prática em busca população à qual nos dedicá- contudo questionar em profun-
do reconhecimento e de segu- vamos, não encontrava muito didade a divisão social do tra-
rança para exercer a profissão. amparo nas instituições que de- balho à qual todos nos sujeita-
A comemoração destes 30 mandavam nosso trabalho. mos.
anos de existência oficial da Apesar destas condições É a partir desta problemáti-
profissão provoca a reflexão pouco propícias à formação de ca, creio eu, que todo o movi-
sobre o sentido dos saberes e um núcleo firme de reflexões mento atual de revisão da con-
práticas que têm guiado a atu¬ que orientassem a prática dos tribuição da Psicologia Cientí-
ação da comunidade dos psicó- psicólogos no país, um outro fica e da prática dos psicólogos
logos ao longo destas três últi- tipo de conhecimento veio sen- tem emergido. Observamos si-
mas décadas no Brasil. Como do gerado: o conhecimento que nais e sintomas deste movi-
participante do movimento de nasceu da própria escuta das mento em todos os foros de
implantação da profissão neste demandas dos diversos grupos debate acerca da Psicologia de
período, primeiro como estu- sociais com os quais fomos que participamos: nas univer-
dante, entre 1969 e 1974, e chamados a trabalhar. sidades, nas associações cientí-
depois como professora, Na clínica, ouvimos e bus- ficas, nos conselhos profissio-
pesquisadora e orientadora de camos compreender a fala dos nais.
trabalhos de extensão no curso sujeitos sociais imersos nas O núcleo da discussão pa-
de Psicologia da UFMG, creio mais diversas relações de rece ser exatamente o ques-
que posso dar um depoimento opressão e de dominação, e na tionamento da prevalência do
pessoal sobre nossa evolução. dialétíca da perda da identi- domínio da técnica, em benefí-
dade; nas instituições de práti- cio de uma reflexão mais apro-
Quando penso na regu- cas e discursos que enfatiza- fundada sobre os fundamentos
lamentação da profissão, me vam a segregação e a exclusão ideológicos e sócio-políticos de
lembro sobretudo da enorme de sujeitos cuja problemática nossa atuação, e da produção
alegria com que nossos profes- apontava para a complexa rede de um saber relevante para a
sores nos comunicavam, em de determinantes sócio- população com a qual tra-
1972, a implantação vitoriosa antropológicos da doença men- balhamos. Também o cresci-
do Conselho Federal de Psico- tal em uma sociedade desigual, mento e o amadurecimento dos
logia: parecia que o lugar dos em rápido processo de trans- cursos de pós-graduação stric¬
psicólogos estava garantido na formação; nas instituições es- tu sensu em Psicologia, no país,
sociedade, e que o novo órgão colares, testemunhamos e re- parece-me que vem contribuin-
de controle se encarregaria de pudiamos a existência de do para o aprofundamento desta
tomar respeitável a profissão. mecanismos de controle, se- discussão, e para apontar novos
Daquela época até hoje, assisti- gregação e de exclusão de cri- caminhos para o campo de co-
mos a um crescimento enorme anças "problema" com óbvias nhecimento e para a profissão.
no número de profissionais for- consequências na reprodução Saudemos pois a emergên-
mados. Nãotínhamos,contu- de uma divisão social do tra- cia deste movimento de revisão
e de problematização das práti- Questão que implica não só
cas e saberes de que nos ocu- o incentivo à reflexão sobre a
pamos, que muito oportu- prática profissional, mas o es-
namente coincide com o tudo da história da Psicologia,
aniversário da regulamentação especialmente no Brasil. É na
profissional. É a partir dele que história que podemos encon-
poderemos responder com trar a gênese das matrizes con-
maior rigor à questão que nos é traditórias que têm orientado
colocada atualmente: qual o sig- nosso trabalho e, quem sabe, a
nificado destes 30 anos de partir da lição dos caminhos já
profissão do psicólogo, no con- percorridos, visualizar novas
texto brasileiro? sínteses". •

Depoimento de Oswaldo Barros Santos

O s anos 50 foram funda- dos grandes professores das 30 anos


mentais para a regulamentação áreas de ciências sociais, peda-
da profissão. Precisava-se com gogia e filosofia, essas foram
aos poucos sendo removidas. Segundo o psicólogopaulis¬
urgência de um organismo que ta, nesses 30 anos de profissão
fiscalizasse a prática da Psico- "Conseguimos aprovar o regulamentada, a Psicologia
logia, naquela época exercida, projeto tal qual queríamos - evoluiu muito, criando-se um
também, por muitos charlatões. afirma Oswaldo Santos - graças corpo de profissionais mais es-
"Estava cheio deles" afir- também ao deputado Clóvis pecializados.
ma Oswaldo Barros Santos, Stenzel, líder do governo na
Câmara. Ele apresentou o pro- "Mas logo após a regu-
doutor em Psicologia pela Uni- lamentação, poucos anos de-
versidade de São Paulo. jeto e o defendeu de todas as
formas possíveis contra todos pois - disse ele - houve um
Esse organismo, fruto de aumento muito grande no
um esforço conjunto de profis- os tipos de resistência".
número de escolas e uma queda
sionais de São Paulo, Minas, Poucos países naquela considerável no nível do ensi-
Rio de Janeiro, Rio Grande do época dispunham de uma lei de no. Não estou relacionando uma
Sul e Pernambuco, principal- regulamentação da Psicologia coisa à outra, pois são fatos
mente, surgiu no final daquela e, para entrar nesse restrito gru- distintos e perversos à profis-
década. po, foram necessários, só na são".
"Foi o Sindicato dos Psicó- tramitação do projeto, mais de
três anos. "Para se ter uma idéia A queda da qualidade do
logos do Estado de São Paulo - ensino, na avaliação de Oswal-
disse Oswaldo Santos - onde se da dificuldade - lembra Oswal-
do Santos - a tramitação passou do Santos, foi um fenômeno
iniciou, imediatamente, um tra- não apenas brasileiro, mas
balho de elaboração de um pro- pelos governos de Juscelino
Kubitscheck e Jânio Quadros mundial, o que ele atribui à má
jeto de lei que, em 1962, veio se remuneração que os professo-
transformar na Lei 4.119". para ser aprovado no de João
Goulart. Os gaúchos sempre res passaram a ter. "Os grandes
"Mas antes que isso se tor- foram-se afastando das cáte-
nasse uma realidade - lembra - deram muita força".
dras e essas assumidas por ini-
muito esforço, muito trabalho Antes da regulamentação da ciantes. Tanto que mais tarde
teve de ser realizado. Princi- profissão, a verdadeira prática criou-se os cursos de pós gra-
palmente o de convencimento e fundamentos científicos eram duação, como forma de com¬
dos deputados que não entendi- tratados nas Sociedades Cientí- plementar o ensino obtido pe-
am direito o que estávamos ficas da época e que se respon- los alunos no estágio anterior".
querendo. Confundiam a psi- sabilizavam, também, de res-
guardar a Psicologia como ci- "Já com relação ao grande
cologia com a medicina". número de escolas que surgiu -
Segundo o psicólogo, um ência. "Nessas sociedades - diz
Oswaldo Santos - difundia-se a afirma - o que aconteceu foi
grande número de modificações uma superoferta de profissio-
foi apresentado ao projeto, mas técnica mas não tinha-se ne-
nhum poder de fiscalização". nais no mercado. Veio o avil-
graças a atuação permanente tamento salarial e os psicólo¬
gos passaram a trabalhar pela Seleção instituições mas mantendo a
pouca remuneração. Baixou-se clínica. Isso por uma questão
o nível de exigência, diminuiu- Agora, na avaliação de Os¬ de simples renda satisfatória".
se a renda, o status profissional waldo Santos, ocorre uma
e, consequentemente, a quali- seleção natural na categoria,
dade do serviço prestado". dentro da qual os profissionais
vão progredindo segundo a
"Agora - continua Oswaldo própria capacidade. "Os bons
Santos - o número de cursos ficam - afirma - e os outros se
parou de crescer e o Conselho afastam.
Federal de sicologia vem ten- "Paralelamente à essa
tando dialogar com as escolas, seleção - diz ele - os psicólogos
no sentido de influir nos cur- dirigem-se cada vez mais em
rículos, melhorando essa qua- maior número para o trabalho
lidade perdida. Mas as escolas nas instituições, por reivindi-
sempre vêm se mostrando mui- cação da própria sociedade. A
to resistentes". tendência é trabalhar nessas

Análise de Halley Bessa


Médico, psicólogo e Concretamente, na história, Numa relação apenas e¬
psiquiatra, Halley Bessa lem- na sequência dos acontecimen- xemplificativa e não exausti-
bra que a Psicologia veio da tos, a Psicologia atual veio da va, longe disso, poderíamos
pedagogia, da medicina e até pedagogia e da medicina. Even¬ lembrar: oriundos da pedago-
mesmo da engenharia. tualmente, da engenharia: a gia: Oswaldo de Barros Santos,
Ele é formado pela Univer- Psicologia do Trabalho. Odete Lourenção Von Kolck,
sidade Federal de Minas Gerais Matilde Neder, Arrigo Leonar-
Dois grandes vultos-sím¬ do Angelini (do 1o CFP - 73/
e, após lecionar em diversas bolos foram Helena Antipoff e
escolas, dedica-se agora ape- 76). Da medicina: Durval de
Ulisses Pernambucano (ambos Morais, Enzo Azzi, em São Pau-
nas à Clínica. lembrados como pioneiros no lo, e em Minas, Paulo Saraiva e
Sobre os 30 anos de regu- no 1/92 em "Psicologia: ciên- o autor destas linhas. Das ciên-
lamentação da profissão, envi- cias e profissão", do Conselho
ou o seguinte artigo a esta re- cias sociais: Suzy V. Cambra-
Federal de Psicologia). Uma, ia, Virgínia Leone Bicudo, esta
vista: deixou sua marca de raízes "pi¬ também do1oplenário do CFP.
"A história da Psicologia agetianas" e "claparedianas" e
antes da legislação (Lei 4.119), o outro, de fontes médicas e Publicações anteriores a
de 27/8/62) pode ser dividida clínicas - ambos no afã de com- 1962 foram diversas debaten-
em dois aspectos ou fases: um, preender e ajudar o ser huma- do o exercício, regulamenta-
o da Psicologia-ciência, como no. ção e a legislação sobre a ati¬
elaboração autônoma, assis¬ Dada à vastidão territorial e vidade e sua profissionaliza-
temática dos fatos e atos psi- à variedade cultural do Brasil, ção. Podemos citar: "Boletim
cológicos; o outro, o da apli- aqui a Psicologia foi surgindo e de Psicologia", da Sociedade
cação desses conhecimentos, se desenvolvendo circunstan- de Psicologia de S. Paulo, dez.
na vivência intrapessoal desses cialmente, segundo as emergên¬ 53, Mar.-Junho - artigos de
fenômenos e na reação inter- cias histórico-geográficas, Madre Cristina Maria, da
pessoal dos indivíduos, na bus- políticas e mesmo civilizató- "Sedes Sapientiae", sobre "For-
ca e interpretação dos conflitos rias (tecnologia, desenvolvi- mação do Psiólogo e regu-
internos e relacionais de cada mento sócio-econômico) de lamentação da profissão" e
um consigo mesmo e nas re- cada região. "Problemas da formação do
lações de uns com os outros. Psicólogo", de Annita de Cas-
Em São Paulo, Roberto tilho e Marcondes Cabral.
Seria, uma primeira fase, a da Mange, engenheiro, inaugurou
pesquisa, da compreensão, e a pesquisa e ditou rumos da Em 1975 publica a revista
segunda, a da aplicação, da Psicologia do trabalho, tendo um número comemorativo do
clínica. Isto é: a da profissio- realizado o primeiro curso de 30o aniversário da S.P.S.P.,
nalização. psicotécnica no Brasil. abrangendo o período de 1945
a 1975, com artigos de Arrigo do trabalho e na clínica. mil em todo o país. Já se sente
Angelini ("Aspectos atuais da Na inexistência da legis- uma quase saturação de merca-
profissão de Psicólogo no Bra- lação específica "que oferece a do. Mas não faltam oportu-
sil", de Silvia Leser de Melo garantia e a segurança para o nidades para os que se formam
Pereira ("Psicologia - carac- exercício independente da capacitados técnica e seria-
terísticas da profissão") e de profissão que a lei de 1962 veio mente.
Odete L. von Kolck ("A for- trazer, aqueles que se dedica- Se aumentou o número de
mação e as funções do psicó- vam à Psicologia o faziam profissionais, por outro lado,
logo clínico no Brasil"). através do magistério ou de al- abriram-senovas oportunidades
"Psicologia - ciência e guma instituição educacional, de trabalho. Da Psicologia
profissão", dp. C.F.P., dezem- assistencial ou hospitalar, ou Clínica, individual, se passou
bro de 1979, traz uma extensa mesmo em serviço de seleção, ao tratamento grupal e até co-
colaboração de Antonio Ro- treinamento e orientação munitário.
drigues Soares resenhando a profissional (SENAI, SENAC, A Psicologia organizacio-
Psicologia no Brasil relatada ISOPT, SOSP e outros congê- nal - desdobramento da Psico-
por médicos e educadores, a neres" (Apud Angelini). logia industrial - ainda regis-
legislação nacional sobre Psi- Entidades de Psicologia: trada no ciclo básico de lei -
cologia antes de 1962edepois, Associação Brasileira de Psi- abriu-se à compreensão dos
até 1979. Vale a pena consultá- cologia, Associação Brasileira problemas e conflitos na orga-
lo. de Psicologia Aplicada. So- nização, no mundo da tecnolo-
Os "Arquivos Brasileiros de ciedade de Psicologia de São gia e dos negócios. A pesquisa
Psicologia Aplicada", do Insti- Paulo, Sociedade Mineira de de mercado, a avaliação de
tuto de Seleção e Orientação Psicologia, isolada e conjunta novos produtos e da reação dos
Profissional" (ISOP), da ou solidariamente se empe- possíveis consumidores; as téc-
fundação Getúlio Vargas, em nharam junto aos poderes Exe- nicas de anúncio e divulgação
seu volume 25, março/1973, cutivo e Legislativo para nos meios de comunicação de
publica sobre "a Psicologia no "procurar demonstrar que o des¬ massa: imprensa, rádio e tele-
Brasil", artigo de Franco Lo envolvimento social e as apli- visão; as novas correntes edu-
Presti Seminerio e José Cave¬ cações da Psicologia que já se cacionais visando o desenvolvi¬
liere e outro de Antonio Gomes observavam na época (50/60) mento da criança e do adoles-
Penna e Eliezer Schneider so- estavam a exigir que viesse a cente e criando novos proble-
bre "Formação e exercício da estabelecer a formação regular mas de aprendizagem.
profissão de Psicólogo". Os de psicólogos e a regulamentar Todas essas oportunidades
mesmos "Arquivos" (Vol. 34, (os futuros Conselhos) suas são novos campos de atuação
jan-mar/82, publica "A Psico- atividades profissionais para para o psicólogo: problemas
logia clínica no Brasil", de Elisa todo o território nacional" (ain- sempre novos para cada gera-
Dias Veloso, também ex-con¬ da Angelini). ção servem para manter novos
selheira do CFP. Com esse apoio e regu- confrontos e criar novos confli-
"Anteriormente à promul- lamentação legais (das Leis tos, cuja superação exige nova
gação da Lei 4.119, de 1962, a 4.119/62 e 5.766/71) os que já aprendizagem, novos treina-
profissão de psicólogo vinha exerciam atividades de psico- mentos, novos métodos e no-
sendo exercida no Brasil por logia nas escolas e instituições, vos sistemas referenciais (psi-
profissionais formados no es- aproveitando a oportunidade coterapia, psicanálise, compor-
trangeiro e mais aqueles que, (art. 21 da lei básica) puderam tamental, gestalt, transacional,
tendo realizado aqui cursos su- regularizar seu exercício. Num logoterapia ' análise existen¬
periores, especialmente nas primeiro momento registran¬ cial-humanista) e tantas outras
áreas da educação, da filosofia do-se no antigo MEC e depois, alternativas." •
e das ciências sociais, passa- inscrevendo-se no respectivo
vam a trabalharem instituições Conselho Regional.
onde realizavam aplicações da E dadas as condições so-
Psicologia, complementando ciais, ante a demanda cada vez
desta forma, no próprio tra- maior, não apenas a juventude
balho, a sua formação acadêmi- mas até os menos jovens, acor-
ca" (Angelini). reram aos vários cursos que se
Ficou reservado aos educa- dispuzeram ao atendimento da
dores o maior interesse. Lem¬ lei.
brem-se Lourenço Filho, Noe- Abriu-se um número cada
mi Silveira Rufolfer e Helena vez maior de vagas e, de menos
Antipoff. Não apenas na edu- de mil em 62, já atingimos,
cação mas também nas áreas senão ultrapassamos, os cem

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