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ALTA GERÊNCIA

46 HSMManagement 79 • março-abril 2010 hsmmanagement.com.br


gestão
na era da

E
m seu laboratório de nidade. Por quê? Quais as outras?
inovação em gestão Em entrevista Qualquer inovação na maneira de
na London Business exclusiva a HSM conectar os seres humanos é uma
School, em Londres, o conquista. Por exemplo: a mídia, as
estudioso da estratégia Management, formas de comunicação e locomo-
Gary Hamel se impôs ção modernas, como o telefone, o
uma missão quase impossível –ou,
no mínimo, “megalomaníaca”: in-
Gary Hamel afirma telégrafo e o automóvel, ou, ainda,
a energia elétrica, que nos permite
ventar o futuro da gestão. Afinal, que a velocidade distribuir os meios de produção.
nos últimos anos, as empresas
inovaram em ritmo acelerado em para criar Mas esses são exemplos todos de
áreas como desenvolvimento de
produtos e tecnologia, mas faz déca-
tornou-se mais inovação tecnológica. Por que a ges-
tão pode ser comparada a todas es-
das que um âmbito fundamental, o importante do sas? Essa é uma comparação deve-
da gestão, permanece virtualmente ras inusitada...
inalterado. Em geral, o progresso econômico é
Segundo o célebre expert dos ne- que desenvolver produto de um ou mais entre qua-
gócios, autor, entre outras obras, de
O Futuro da Administração e maior
conhecimento. tro tipos de inovação: a social, a
institucional, a tecnológica e a de
responsável pelo principal esfor- gestão.
ço de inovar na área gerencial em Foi graças à inovação social, por
todo o planeta, estamos entrando
ele adverte: exemplo, que saímos de um siste-
em uma nova era econômica, que se quiserem ma feudal e valorizamos as pessoas
ele denomina “era da criatividade”, por sua contribuição, que vai além
e faltam à gestão as qualidades para sobreviver, de sua raça ou gênero.
enfrentá-la. Com inovação institucional, eu
Em entrevista a HSM Management, estou falando dos avanços que cria-
Gary Hamel avisa: a gestão precisa-
rá acompanhar essa evolução, quei-
os gestores ram leis empresariais, regimes de
patentes e outros sistemas.
ra ou não, e se aproximar do que é o precisarão
ser humano.
acompanhar
O sr. descreve a gestão como uma essa evolução A entrevista é de Chris Stanley, colabora-
das principais conquistas da huma- dor de HSM MANAGEMENT.

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No Brasil, as empresas começam a A gestão deve-se voltar para outro preciso construir os novos modelos
sentir essa inovação com a chamada objetivo que não eficiência, então? de gestão: liberdade, variedade e ló-
“Lei do Bem”, a primeira a seria- Deve-se reinventar. E há um bom gica de mercado.
mente incentivar a inovação... motivo para as empresas quererem A liberdade é o primeiro princípio,
Exato. Isso pode fazer muita dife- investir nisso. Os dados que cole- portanto. É impossível pretender
rença. O terceiro tipo é a inovação tamos em pesquisas nos permitem que uma instituição seja adaptável
em tecnologia, que é a do telefone, deduzir que as inovações na gestão se ela for controlada totalmente, a
do telégrafo, do automóvel, como –os avanços fundamentais em nos- partir de cima. Quando observamos
comentamos. sa maneira de motivar, organizar, os sistemas que têm demonstrado
A inovação na gestão é o quarto planejar, delegar e avaliar– produ- ser adaptáveis ao longo de décadas
tipo, porque converteu tudo isso de zem vantagens mais duradouras. e séculos –os biológicos, as demo-
que falamos na possibilidade de um cracias, os mercados, as cidades–,
verdadeiro progresso econômico. O sr. poderia mencionar empresas o que salta aos olhos em todos eles
Até que aprendêssemos a reunir as que adotam novos princípios de ges- é que, conforme as normas de uma
pessoas, fazer as coisas em escala e tão e que, com isso, obtêm vantagem multinacional típica, são mais autô-
produtivamente, essas fantásticas competitiva? nomos. A questão reside em como
inovações não mudaram significati- É perigoso citar casos particulares, oferecer às pessoas mais liberdade
vamente nosso padrão de vida. porque esses desafios são novos. Há sem cair no caos.
Você sabe como e por que foi cria- organizações com mais consciên-
da a gestão, não sabe? cia do que outras, como o Google, A variedade...
À medida que o mundo se torna
mais incerto, fica mais difícil prever
o futuro. Não podemos mais elabo-
“Há três princípios em torno dos quais é rar estratégias para dez ou 20 anos;
preciso construir os modelos de gestão: temos de experimentar constante-
mente coisas novas, de baixo custo,
liberdade, variedade, lógica dE mercado” e ver o que funciona e o que não
funciona.
Em resumo, trata-se de criar mais
que é uma empresa em busca de opções e fazer mais experimenta-
Imagino que sim, mas me diga... um modo de criar uma vantagem ções, de um lado, e de ter menos
Um século atrás, as questões ur- evolutiva: tenta não se enamorar do grandes visões e menos estratégias,
gentes eram duas: como aumentar status quo, para que a velha guarda de outro.
o capital e a produtividade dos tra- não vença, internamente, à custa da
balhadores. Então, “inventou-se” a vanguarda. E o que é lógica dos mercados?
gestão para encontrar as respostas O que eu posso dizer é que muitas Temos indicativos de que, cada vez
a elas: como conseguir que as pes- companhias já estão testando no- mais, precisamos aplicar a lógica
soas fizessem as mesmas coisas, vos modelos de gestão de maneira dos mercados às organizações. Os
todas as vezes, com variações míni- marginal. Um exemplo é o Bank of mercados não são infalíveis, mas, a
mas e eficiência crescente, seja para New Zealand. Trata-se de uma pe- menos que estejam distorcidos –por
criar semicondutores com bilhões de quena entidade, com 189 sucursais, má política pública, por exemplo–,
transistores, seja para produzir au- que permite aos gerentes de cada são muito mais eficazes do que as
tomóveis com poucos defeitos. Essas unidade fixar o próprio horário de hierarquias, quando chega o mo-
conquistas surgiram de um grupo de abertura. Creio que nenhum banco mento de designar recursos para
indivíduos que pensavam na melhor fez algo parecido. A ideia era que os as novas ideias. Em um mercado,
maneira de dirigir as atividades hu- gerentes se sentissem donos de uma se decido que quero vender minhas
manas em grande escala. empresa e, para isso, seria necessá- ações da empresa X para investir na
Agora, ao mesmo tempo que a rio proporcionar-lhes essa liberda- Y, não tenho de consultar ninguém,
efi­ciência operacional continua es- de de decisão. simplesmente o faço.
sencial, tornou-se muito difícil criar Uma das coisas que sabemos, com
uma vantagem duradoura baseada Liberdade é importante para a ino- base nos sistemas sociais, por exem-
exclusivamente nela. Sempre have- vação em gestão, então? plo, é que, quanto mais concentrado
rá um concorrente capaz de fazer as Muito. Há pelo menos três princí- estiver o poder político, menos re-
coisas a um custo menor. pios centrais em torno dos quais é siliente ele será. Nos mercados, o

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poder se espalha, e muitas pessoas


tomam decisões todos os dias so-
bre o que comprar ou onde investir.
Nas hierarquias, uma minoria tem
o monopólio de fixar a estratégia e a
direção, e isso pode ser fatal em um
mundo de fortes descontinuidades.

O sr. diz que os executivos devem


aprender com outras disciplinas ex-
ternas à gestão, em uma visão, eu me
arrisco a dizer, pós-moderna. Além
dos mercados, que outros exemplos
o sr. destacaria? Por quê?
Se pretendem vencer no futuro,
as organizações têm de encontrar
maneiras de energizar as pessoas,
para que não apliquem no traba-
lho apenas suas capacidades, mas
também sua paixão e iniciativa. E o
que lhes infunde esse compromisso
mais profundo? A resposta certa é
“alguma causa”, um objetivo maior
do que o de fazer dinheiro, maior do
que interesses individuais.
Gente ainda precisa encontrar senti-
do para as coisas –sempre precisará. O “O que infunde um compromisso mais
ser humano é assim, não adianta igno-
rar essa característica. Aliás, outras ca-
profundo nas pessoas é alguma causa, um
racterísticas humanas que não devem objetivo maior do que o de fazer dinheiro”
ser ignoradas são o desejo de ter algu-
ma autonomia e o desejo de pertencer
a uma comunidade, pequena, onde verdade– minam nossa capacidade mano também se adapta a mudanças
exista confiança. de gerar valor no longo prazo, o que naturalmente, não?
A empresa deve estar comprome- requer que as evitemos. A maior parte dos seres humanos
tida com um propósito valioso. Foi o é muito adaptável, com certeza. Eu
que disse Jack Welch recentemente, Ou seja, não se pode seguir cega- conheço muitas pessoas que, no
com uns 20 anos de atraso. Esse íco- mente a métrica do lucro... meio da carreira, aceitam um novo
ne da gestão admitiu publicamente Sim. Na verdade, é necessário en- emprego com salário menor, mu-
que maximizar a riqueza do acionis- contrar um sentido mais amplo dam de país, aprendem um novo
ta como motivação primária é uma para o que se faz. Nas organizações idioma, reinventam-se. Todos têm
ideia estúpida. E ele tem razão. tecnocratas, superestruturadas, já talento natural para inovar, seja
perdemos o sentido das coisas, por escrevendo um blog, plantando um
Sai lucro, entra causa? Lucro não exempo. Fazemos porque todos fa- jardim, escrevendo poesia etc.; isso
deve mais ser a principal métrica de zem. Depois, nós, gestores, ficamos é da constituição humana.
desempenho para as empresas? nos perguntando por que os funcio- O problema é que algo estranho
Não é bem isso que estou dizendo. nários agem de modo automático. É acontece quando vamos trabalhar,
Se alguém não usa bem seu capital tão óbvio... como se nos desvinculássemos de
e não devolve algo aos acionistas, nossa humanidade, e isso faz com
não merece estar na empresa. No O sr. fala de como são os seres hu- que nossas empresas sejam menos
entanto, creio que confundimos o manos intrinsecamente e eu penso: adaptáveis, menos inovadoras e
que é placar nesse jogo. Há manei- como as empresas são organizações menos envolvidas em grandes cau-
ras diversas de lastrear o preço das de seres humanos, elas não deve- sas do que nós.
ações, e algumas delas –muitas, na riam ser assim também? E o ser hu- Na organização, o espírito é o se-

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Saiba mais sobre gary hamel


O prestigioso The Wall Street Journal reconheceu Gary Hamel ed. Campus/Elsevier). Hamel é professor de gestão de estraté-
como o pensador de negócios mais influente do mundo, e a gia da London Business School. Atualmente, lidera a iniciativa
revista Fortune chamou-o de líder mundial em estratégia. Sua do primeiro laboratório de gestão do mundo, o Management
obra O Futuro da Administração (ed. Campus/Elsevier) foi es- Lab (MLab), que busca a inovação em gestão. Lá, as empresas
colhida pela Amazon como o melhor livro de negócios de 2007. mais inovadoras e os acadêmicos mais conceituados trabalham
Entre outros best-sellers seus estão Liderando a Revolução, juntos para criar, hoje, as melhores práticas de negócios do
com C.K. Prahalad, e Competindo pelo Futuro (ambos, também amanhã. Hamel estará na ExpoManagement 2010.

guinte: importam a eficiência e a ros “inovadores” que nos levaram a uma espécie de jogo da moralidade,
produtividade; todo o resto é futili- essa situação? no qual se exibiram todos os vícios
dade. Não deveria ser assim. Temos As causas da crise financeira são humanos. Percebemos com clareza
de nos orgulhar de nossos feitos em complexas. Eu diria que a crise se o que acontece quando as empresas
produtividade e qualidade, lógico, explica em três níveis. Primeiro, estão motivadas pela cobiça, sem
mas é hora de seguir adiante. tecnicamente: a conversão de ati- senso de responsabilidade em re-
vos, o excesso de investimentos a lação à sociedade em seu conjunto.
O sr. fala em reduzir a burocracia, crédito, os modelos e premissas que Vimos a soberba e a avareza.
a hierarquia e os sistemas de con- não foram provados, as concentra- Por fim, a terceira dimensão foi o
trole tradicionais. Mas o que a re- ções bancárias (entidades que eram completo fracasso de nosso sistema
cente crise financeira destacou não muito grandes para quebrar). regulatório.
foi justamente a falta de controle, a Creio que, por trás disso, há uma
falta de uma, digamos, “burocracia segunda explicação, muito mais hu- ... o que chegou a ser qualificado
necessária”? Não foram os banquei- mana. Na realidade, assistimos a como uma crise do capitalismo...
Alguns descreveram o ocorrido
como uma crise do capitalismo, sim,
“[a maioria das empresas] utiliza um modelo mas eu não creio que se trate disso
–de modo algum. O que nos colocou
organizacional quase idêntico ao que foi nesse problema –os instrumentos
aplicado na construção das pirâmides do financeiros derivados (baseados em
outras garantias), a inadimplência,
egito, fora de sintonia com a sociedade” as falsas permutas e as obrigações
de dívida com garantia– foi o fato de
que não havia mercado para esses
instrumentos.
Em outras palavras, não se pode
falar de fracasso de um mercado
sem um mercado! Fazia anos que
os banqueiros resistiam à regulação
desses mercados.
É preciso mudar os mecanismos de
controle. Na maioria das empresas, a
maneira de controlar as pessoas se
dá por meio de rigorosas descrições
de cargo, de uma rede de processos e
Bank of New Zealand tem exemplo protocolos, de fortes relações de su-
de inovação em gestão com a criação de pervisão e hierarquia. É um modelo
um board de funcionários de organizacional quase idêntico ao que
linha de frente foi aplicado na construção das pirâ-
mides do Egito, totalmente fora de

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Vale do Silício, na Califórnia, EUA:


inspiração para a gestão pública,
segundo Hamel

sintonia com a sociedade, que tende Que bobagens? Todos os princípios que abordei são
à tribo, ao net­working. O problema é Que foi diferente de todas as outras aplicáveis à administração pública,
que, nesse processo controlador hie- crises da história –mais global do sim. Houve –e há– burocratas que,
rárquico, eliminam-se a criatividade que local–, que estava relaciona- em vez de trabalhar em prol do ob-
e a iniciativa pessoal. da com a interdependência entre jetivo mais amplo de proteger os
as empresas, que era impossível investidores e a economia, refugia-
E há realmente outro modo de con- prevê-la. Isso tudo são bobagens. ram-se no fato de que essa não era
trolar as pessoas? Os gestores aca- Contávamos com todos os poderes e sua obrigação regulatória particular
bam argumentando que a teoria, na os marcos regulatórios necessários e esconderam sua cabeça na areia,
prática, é outra... para administrar a situação, porém um comportamento clássico de fun-
Sim, claro que há! Voltemos ao Bank não os usamos. cionário sem poder, submetido a
of New Zealand. A organização con- A comissão federal que tem po- controle excessivo.
fiou que seu experimento funciona- der para controlar e supervisionar Se observarmos alguns dos gran-
ria, porque cada gerente de unidade os bancos investidores nos Estados des problemas que os governos en-
conta com uma sólida demonstra- Unidos não o fez. O comitê de finan- frentam –relativos a clima, assistên-
ção de ganhos e perdas, o que lhe ças do Congresso norte-americano cia médica, previdência–, veremos
permite avaliar o verdadeiro cus- tinha o poder de governar a Fannie que muitos deles não podem ser re-
to de seus fundos. E os funcioná- Mae e a Freddie Mac, empresas que solvidos de cima para baixo. Preci-
rios recebem salários e prêmios de estavam por trás dos problemas com samos de criatividade nas soluções.
acordo com o relatório de resulta- as hipotecas. Não o fez. E o pior de
dos. Então, é possível controlar as tudo é que, nos dois casos, a omissão O que requer menos controle?
pessoas sem apelar à hierarquia. O provavelmente teve razões políticas. Não, não significa que não se deva es-
controle deve ter um objetivo final Há uma crise política mais pro- tabelecer certos marcos. Tomemos a
claro, basear-se em transparência funda que a financeira. A verdade internet como exemplo. Sem dúvida,
e na vigilância entre os pares. Se é é que os bancos tinham em suas é o empreendimento mais criativo
praticado assim, além de ser eficaz, mãos todos esses políticos e admi- no qual os seres humanos já embar-
não prejudica nem a paixão, nem a nistradores públicos. caram. O que aprendemos com ele?
criatividade. Para começar, temos de contar com
Além disso, não é controle que Então, esse não é um problema cir- alguns princípios, padrões e normas
falta ao setor bancário, é regula- cunscrito a economias emergentes, sobre interoperabilidade entre plata-
mentação; e uma que seja aplicada. como a brasileira e outras... Gover- formas independentes. Um grupo de
Falaram-se muitas bobagens sobre nos e políticos poderiam a­­pren­­­der pessoas precisou reunir-se e definir
essa crise, o que atrapalha a visão algo com as inovações da gestão so- o que significava HTML, XML e coi-
clara sobre o que acontece. bre as quais o sr. fala? sas assim.

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empresa = pessoa,Por Gary Hamel


Se observarmos uma empresa como a Apple, por exem- “Como eu construo uma empresa na qual você possa
plo, o que você acha que mais importa para quem traba- confiar?”. Essas pessoas jurídicas fazem perguntas de
lha lá? Suas perguntas são assim: “Como unir a arte e pessoas físicas, percebe? Agora, a maioria das empresas
tecnologia em algo que as pessoas adorem?” ou “Como levanta uma questão bem diferente: “Como me certificar
construir uma empresa que mostre nossa paixão por de que estou sendo zeloso, eficiente e operando com bai-
construir coisas belas?”. E se prestarmos atenção à xos custos?”. Nem todo mundo é o Steve Jobs, claro; ele
Whole Foods, veremos eles se perguntando: “Como fa- é um em um milhão! Mas você não precisa ser. Precisa
zer algo que reflita a profundidade do ser humano?” ou apenas humanizar o negócio.

Ao mesmo tempo, no entanto, Uma coisa é certa: os problemas dos, ele compreendeu que vivemos em
criou-se uma plataforma na qual a sistêmicos não se resolvem a partir de um mundo no qual há cada vez menos
inovação local é factível. cima, e sim mediante a experimenta- coisas seguras. Ele pôde ver como isso
ção social. Há que se determinar que afetaria as organizações.
Mas alguns não poderiam argumen- algo funcione, para depois evoluir so- Mas, neste momento, creio que esta-
tar que a organização da internet bre isso. Não se podem ver todas as va- mos entrando em uma terceira etapa.
não é um caso muito particular, ex- riações e complexidades locais a partir Passamos de um mundo industrial, em
ceção que confirma a regra? do centro. Assim, elaboram-se políticas que a riqueza provinha da capacidade
Discordo. Quer outro exemplo? Vol- gerais que têm uma infinidade de cus- de acumular e empregar o capital, para
temos uns dez ou 15 anos e pense- tos imprevistos. um mundo de conhecimento, em que a
mos no velho sistema de telefonia. riqueza era gerada pela capacidade de
Nele, toda a inteligência residia na Isso é radical... crescer e empregar habilidades e com-
conexão central. Empresas como Al- Sim, é usar mecanismos de mercado petências. Agora, avançamos rumo a
catel, Nortel e Siemens fabricavam em vez de hierarquia, que contam com uma economia criativa, na qual até o
os equipamentos e a única manei- um objetivo claro, mas não são ortodo- próprio conhecimento está se conver-
ra pela qual as operadoras –British xos quanto aos meios para alcançá-lo, tendo em produto indiferenciado, cujas
Telecom, Deutsche Telecom, AT&T– pode ser tão ou até mais importante vantagens se dissipam muito rapida-
podiam lançar novos serviços era para governos do que para empresas. mente. Nesse contexto, o fator que fará
reprogramando essas conexões cen- Isso porque, nos governos, há mono- –e marcará– diferença será a velocida-
trais, o que era oneroso e consumia pólios legais sem pressão de concor- de com que se produzirá algo novo.
muito tempo. Toda a inteligência, en- rência, sem possibilidade de quebra.
tão, migrou até as fronteiras da rede. Aliás, eles têm menos mecanismos de Uma das palavras-chave para criativi-
Hoje, se alguém quer fazer uma cha- controle quando põem em ação uma dade é velocidade, portanto...
mada pelo Skype, só precisa baixar o política inapropriada ou, simplesmen- Sim. Em um mundo aberto, no qual
programa no computador. te, estúpida. as ideias podem vir de qualquer lugar,
até as pessoas mais criativas sofrem
Por favor, me ajude a transportar Em 2009, celebramos os 100 anos de a enorme pressão de concorrer como
esses exemplos para os governos... nascimento de Peter Drucker. A teoria indivíduos. Hoje, posso comprar ideias
Sempre me chamou a atenção o fato de da administração de Drucker vem re- em qualquer lugar do mundo a um
todos os políticos que conheço dizerem sistindo à prova do tempo, em sua opi- preço muito baixo.
que empreendimentos gerados em lu- nião? Como? As mesmas pressões econômicas
gares como o Vale do Silício são vitais. Em geral, creio que se sustenta bas- que vimos, primeiro, no trabalho dos
Por que não termos um Vale do Silício tante bem. Drucker é um dos autores operários e, depois, no trabalho analí-
de políticas públicas? Ele está por che- mais visionários que já existiram. Há tico das pessoas de escritório serão as
gar, assim como estão surgindo novos dois aspectos em particular que, em que veremos sobre o que denomino
empreendimentos sociais diferentes. meu julgamento, ele entendeu desde “trabalho sem uniforme”, em que ves-
Todas as grandes burocracias gover- o início. timos camisetas em vez de ternos.
namentais do mundo têm de separar Um deles foi a transição da econo-
cerca de 10% ou 20% de seu orçamento mia industrial à do conhecimento.
anual para financiar isso. O segundo foi o fato de que, dentre to- HSM Management

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