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09/04/2018 O Chile e a armadilha dos países de renda média | Opinião | EL PAÍS Brasil

OPINIÃO

TRIBUNA

O Chile e a armadilha dos países de renda média


A armadilha na qual o Chile pode estar caindo é a de querer replicar
um Estado de bem-estar ao estilo europeu em um país que ainda não
é rico
JUAN CARLOS HIDALGO

16 MAI 2014 - 02:36 CEST

Por muitos anos os economistas estudaram se existe uma “armadilha dos países
de renda média” que explicaria por que algumas nações parecem ficar a meio
caminho entre a pobreza e a prosperidade. A análise é pertinente considerando
que na América Latina temos um país que, estando às vésperas do
desenvolvimento, parece começar a renegar o próprio êxito.

Segundo a teoria, os países de renda média podem ver-se enredados no


subdesenvolvimento ao não poder competir com as nações mais pobres em
abundância de mão de obra barata nem com as mais ricas em desenvolvimento
tecnológico. A ausência dessas vantagens competitivas explicaria por que as
nações parecem experimentar uma queda em suas taxas de crescimento
econômico quando a renda per capita nacional se encontra entre os US$ 11.000 e
US$ 16.000, aproximadamente (medido em paridade de poder aquisitivo, PPA).

No entanto, como afirmara a revista The Economist em um artigo esclarecedor há


 
um ano, a evidência empírica não parece sustentar tal tese. Embora um país
possa sofrer uma desaceleração em seu ritmo de crescimento à medida que se
aproxima de nações desenvolvidas, em nenhum sentido isso implica um
estancamento econômico. Isso parece explicar o caso do país mais avançado da
América Latina.

https://brasil.elpais.com/brasil/2014/05/14/opinion/1400025795_972749.html 1/4
09/04/2018 O Chile e a armadilha dos países de renda média | Opinião | EL PAÍS Brasil

Com US$ 19.067 (PPA) em 2013, o Chile tem a renda per capita mais alta da
América Latina. Seu êxito econômico foi acompanhado de grandes avanços
sociais e institucionais: a CEPAL indica que conta com o desempenho mais
impressionante em redução do nível de pobreza nos últimos 20 anos na região
(de 45% em 1990 para 11% em 2011). O Chile está na frente na América Latina em
desenvolvimento humano, segundo as Nações Unidas. E o World Justice Project o
situa como o país com as instituições democráticas mais fortes da região – um
fato destacável, pois foi a última nação da América do Sul a abandonar a ditadura
militar.

O Chile alcançou o status de país de renda média em 2003. Nos 10 anos


anteriores a esse marco histórico teve uma taxa média de crescimento anual de
4,6% enquanto na década seguinte a média foi de 4,7% ao ano. Não houve
desaceleração. Ao contrário, segundo projeções do Fundo Monetário
Internacional, para 2008 o país andino superaria o limite de US$23.000 que
qualifica uma nação como “desenvolvida”.

O contínuo êxito econômico chileno se assenta em sua decidida aposta em um


modelo de livre mercado. Em 1975 essa nação tinha a economia mais fechada da
América Latina, de acordo com a medição dos países pelo índice de Liberdade
Econômica no Mundo, publicado anualmente pelo Fraser Institute. Depois de anos
de profundas reformas estruturais durante o regime de Augusto Pinochet, que
posteriormente foram consolidadas e até ampliadas pelos governos
democráticos de centro-esquerda, o Chile conta hoje com a economia mais
aberta e moderna da região.

No entanto, o Chile bem poderia estar sofrendo de outro tipo de armadilha do


desenvolvimento. A chegada ao poder de um novo governo de esquerda ocorre
depois de vários anos de descontentamento social e de protestos, principalmente
estudantis, que, no fundo, exigem acabar com o modelo econômico que deu
 
origem a tanto progresso. O historiador chileno Mauricio Rojas descreve a ironia
como “o mal-estar do sucesso”: uma classe média frustrada não por suas
carências materiais, mas por aspirações desproporcionais de desenvolvimento.
Esse inconformismo, que provocou uma radicalização da outrora pragmática
esquerda chilena, se traduziu em maiores demandas redistribuitivas.

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As primeiras medidas anunciadas pela presidenta Michelle Bachelet indicam que


seu governo efetivamente procurará maior intervenção do Estado na economia,
iniciando com uma reforma no sistema de impostos que pretende elevar a carga
tributária em três pontos porcentuais do PIB. A isso se somam promessas de
educação superior gratuita e subsídios a medicamentos.

A armadilha na qual o Chile poderia estar caindo é a de querer reproduzir um


Estado de bem-estar social à europeia em um país que ainda não é rico. Não foi
mediante altos impostos e um elevado gasto público que a Europa conseguiu o
desenvolvimento. Ao contrário, como demonstra o atrofiado desempenho
econômico do Velho Continente nos últimos 15 anos, até economias
industrializadas como as europeias podem cair sob o peso de onerosas
estruturas estatais.

Desse modo, pelo menos no caso particular do Chile, a verdadeira armadilha do


desenvolvimento não se assentaria na ausência de vantagens competitivas vis-à-
vis outras nações, mas sim nas expectativas desmesuradas de uma classe média
que se sentiu rica antes do tempo. É muito cedo ainda para determinar se o Chile
verá seu caminho em direção à prosperidade descarrilar, mas certamente sua
experiência nos próximos anos servirá de lição para o restante da América Latina.

Juan Carlos Hidalgo é analista de políticas públicas sobre a América Latina no Centro para a
Liberdade e Prosperidade Global do Cato Institute em Washington, DC.

ARQUIVADO EM:

Michelle Bachelet · Crescimento econômico · Crise econômica · Chile · Recessão econômica


· Conjuntura econômica · América do Sul · América Latina · América · Economia · Educação

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