You are on page 1of 20
1 sitar ated ok upg 181 Cael Aer € picid edie seed Beno Ps, Bas LSA t Diretos para a ngua poeiogwesa no Haas ges pela LIVRARIA FRANCISCO ALVESEDITGRA S ISBN BS 265 12263 Eine: na CALM Revi dos og: TORGE LUE LUE esto das prom 4p CESAR DA ROCHA ‘ Fabtoragto bacon: DHACEM VIRTUAL CUP Beast Catalogaghe safer Sindieno Hace des Exitones Ge L605 PU Auber, Sart ‘nats Stace Benue Hed Ca Ache knee Sabor Ccuatanice Pore Bi be Bot Frmccs Alves 198 (iapatny Trafug defimoseds Revoir aie ttiectern Dibingaa Ise ms 253 1 Reni, Sone, 08885 ~ Catia Fema = Dial L Tiss Série oma Cou > _BeAUVOM.S ase 1991 LIVIARA FRARCISCOALYES EDITORA 814 ‘Rua Sete de Setemaro, 177 = Centro “20S ~ Ric de Jauciea - RU (021) 220-9198 (02d 224-3288 Carol Ascher Simone de Beauvoir: Uma vida de liberdade ‘Troaugto: SALVYANO CAVALCANTL DE PATA Francisco Alves Editora ie Hasan 8 quae CAPETULO TV O SSGUNDO SEXO ‘Ora, oqus estranhemente cistingue a situagto da mulher & squcesta — umscrlivre e au-Gnomescomo todas ascriaturas duniaras — enconira-se, emtretanta, vivende mura rive ‘onde € constrangida pelos homens a assume a cor digo de Sutra 2 Semaata Sexo 0 Sesurdo Sexo fo publicado na Frangh em 1948, em dois volumes, com uma diferenga de seis meses de ura para @ outro, O primeiro volume vendeu: vinle € dois ruil exem- plares na primeira semana. Bssas vendas, porém, nao refke+ tam nenhurya atitude de generosidade: Insa.isfeita, frigida, pridpica, ninfomaniaes, Iesbies, mu. ther que jai fez muis ale Gem ahortos. Eu era tudo, aé mie solicira, Algums pessoas se oferecem paracutar nrinba fi ez, ou ara amainar meu apetite vaginal; premetcram-re moctrar algumis verdad, nos termos mais grossziros, mas sempre om nome da verdade, de bem, do belo, em nore a side e é dn poesia, tudo 0 que fora mereeidumente extras ado sob meus pes. Simone de Beauvoir foi acvertida de que perderia amai- ‘pos (sun espasta fo. a de que, se os perdesse, nao seriam amigas; homens como Sastre, Bost, Merleau-Ponty, Leiris, 167 Gincometti, ¢ a grupo do Les Temps Mfadernes, ela cowsisle- ‘tava como ‘verdadviros demecratas, lantoem telagio a esse assunto, quanto a qualquer outro”), Prangoise Mauriac deu inicio a uma série de artigos no Le Figaro Littéaire concla- ‘mando a juventude a condsnar 2 porrogrefia em geral, ¢ os Irabalhes de Simone em particuler. Num restaurante, no boulevard Moni parnasse, onde estava ucompanhada dz Nel- ‘son Allen, Simone conta que ficou ser do abservads durante todo ojantar. ‘Cora publicagio do segundo volume da liveo, a reagie dda critica parece ter sido ainéa mais exagerada: ‘Os criticos ficaram enfarecidas; nao havia discordanein fas mulheres sempre foram iguais aos homens, 38 mulheres ‘estavam para sempre fadadas a serem inferieres, tude 0 que cu dssera eta ¢e eonbee mento comum, nig havia ums pala- yma verdadgira no livre... E era uma potre moga neurtica, epnmida, frusirada, enganada pela vica, machona, muiher que nunca fers amor discito, inycjosa, amergurada cheia de comstexcs de inferioridade em re agie acs homens, ¢, em relacdo hs mulkercs, corroida pelo ressentimento.” Simone die que, acima de tudo, “foi etacada pela capi- Lolo sobre a maternidae. Muitos homens declararam que eu no tinha © dreita de discutir scbre a mulher poryue nunca tivera filhos; ¢ eles?™ Houve, também, criticas de gente mais présima, Cams, por quem Sirrone tinhaalgema afeigéo (0 rompimento eam Sartre ainda nao ecorrcra), queixou-se de que ela fzera 9 homem francés parecer sidi- culo — mas accescentou que ela poderia ver mencioniado 0 fato de que o& homens, também, sofeery por no serem capazes de ver na mulher uma verdadeira compannetra. ‘Quanta us partidos & organizagdes politicas, a direita francesa “detestou olivea”, eopapa ocolocoa na listanezra. Eacsquerda, por sua vez, nao reagiu muita melhor. Simone ¢ Sartre jf cstavam de ponta com os comunistas, por terem 168 criticade’a Ruissin, ¢ 06 politicas no sitio”. "Por que vergonha ¢ tristeza” Por que rio ama restauragic de energiae orgulho? Finalmente, cm 21 de fevereiro de 1953, Seturday Review ublicou uma reportagem de capa, “Seis Especialistas Dis- ‘cutem © Segundo Sexo" (embatida dentro de “Um Paine! de Sumidades Eximina..."), para a cual havia eolhido as opinides da psiquiatrs Karl Menninger; 0 escritor Philip Wylie (autor de Generation of VipsrsiGeragao de Viboras, 1942, que alnea © poder e © parasitism das mulheres ame- sieanas, ¢ defende que o homem americano deveria reunir suasforgase expandira “democracia”, o dinhciroe opode=i americaro pelo mundo afora; o escrior Astley Montagu; ama dona-de-casa ¢ poeti do “verso branco”, Phyllis MeGuiniey; a antrapologa Margaret Mead; ¢ Olive Gold- man, na época representante cos Estacos Unistos ne Comis si da Situagio da Mulher nas Nagées Unidas. 170 Menninger elucidau a tese de Simone de Beauvoir para os leitores da Sauarday Review: “Somente porque *acks sio es ¢ mais fortes de que n¢s raulheres, een eonseqea- de exccuti-lo, voces homens iém feito coisas incseo por Muito tempo... iste nfo comet ¢ vacds deseriam envergonhuar-se © mudar tais coi- sas”. Ao que cle respordeu que Simone de Beauvoir havia lo corretamente seus devercs de case, sem estar “fumilia- rizada intimamente coma exséncia da moderno pensamento psicanalit.co no que tange 4s satisfacdes e insatisfagdees fe- min nes, Segundo a sua divertida interpretagio de Freud, a civilieagdo exige necessariamente s repressio do individuo, Ges.a repressio repousa pri cipalment2 sobre es rulnzres, Foi a tese de Freud, naseide da cnorme experiéneia clinica de muitos profissionais desde a sua observagio inicial, que osofrimento da espécie humana infligida pela civilizagio muiio diferente ne natureza destas iner2pagées absessivas & cedigas.. as quais recorre Mlle de Beauvoir. Pois Freud fez oque Mle de Beauroi- nunes. pensou em fazer, cle levou ‘cm consideragio alguns dos objetivos da vida ¢ a naiereza cde nossas satisfagées mais futimas. Mlle de Beauvoir men- iona bem Fouco, par exemplo, a alegrie de se amar uma ccianga”, Uma interpre tagia clara da posigiie de Menninger, presente decerto no dmago de toda 4 sua argumentagio aniifeminista, & que os alvas da mulber individualmente devem se: sacrificados 4s grandes finalidades da Farnilia © ao grande fluxo da Civilizacic, que necessitam da mulher pure reproduzir e criar os “los; ¢ de que a muth conseguirte, deveria se voller para aquilo que éa fi do grupo: o prazer de criar ¢ ntantera vida. ‘O restante do painel da Saturday Review poxlé ser rapi- damente resumido. Philip Wylie deve ter surpreendido os ceditores a0 chamar G Segundo Sexo de “um dos raras gran- ds liveos de nossa era” (talvez, de sva visio antagdnica, cle tenhasido expaz dese juntara Simone ra crenga de quealgo i7! estawa drasticamente errado). Par outro leda, ele diseordou da Enfase dela nos meios materials, ccondmicos e sociais puraumasnlugio. Ashicy Montagu, cscrevendoantes Joseu estudo roje famoso sobre a superiaridade das mulheres, proclamou que 0 livra de Simone “se ealoca logo ands Submissto das Metheres, I", escrite cerca de oitenta anas antes, Phillys McGinley, a resenhadorn para cuja vida olivre deve ter caasado um impacto muito pessoal, cescreveu desafiadoramente, “Que vergenha para mim! Que direito tenho ew de sepuir minhas tarefas tiviais, com tama nha desfagatez® Camo passo traigecizamente cantar ao 361 gua no suco de laranja ow colocar uma fetia de pito na tostadeica sletrica?”. A Sra, Mctimley taibém acusau Si- mone d: falta de realismo sobre existirem dois sexos « removendo scus subjtivismes ca cozinha, afirmou, “Se se pode assumir um auténtica panto de vista impessoal, entio nnio importa quem escreve ramences nu pinta tclas ow des cobre um novo planeta”. Uat comentario irdnico, uma vez que para $ mone & precisamente desta visio impessoal que ‘nada importa. Margarct Mead, que embora tenha # duas eras dz conscientizagao feminista, cortinuaria até mor- tera dissociar de cutras mulheres sua interessante vide ¢ sua enorme ambigdo, alegou cue “ao denegrir a maternidad ela constréi uma imagem na qual o iinico Todo de uma mulher atingir a irtegricade completa € ser a mais préxino possivel um diplice da homem” (IMargeret Mead, na ver~ dade, teve um filha), E Olive Goldman forneceu a interpre lagio “sébria, mas torta, de uma preocusada funciondria piblica: 2mbor: o pragressa tenha sido cla-arente aleansa- do, disse ela, o fata de win:e © cinea cnes de sufragies ra lerem producido igual ninern de mulheres na vida pilblica, implica em haver algo nas anudheres i pedinda-as ce alcan- gar a igualdade completa, Una vex que © Segunda Sexo & um estudo amplo da interna izagio da opressio, a n0gi0 mecanicista de Goldman das oportunidades para as mu- 172 heres indéa que ou cla nde passou da orelha do livro, ou. dele entendeu to pouca quendo os cutros comentaristas, Parece estranho.cue osresenhadores de O Seguade Sexy estivesser. geralmen ieressados 2 enfoque que ins- prow aobra. Acusagiis Ue que O Seyuriae Seco fei macalalis com jargoes marxistas ou cx stencialistas difieiimente tocu- ram nos questionamentos do listo. Na percepgao tardia de: \Finta anos, parece cla cue os comentaristas ac mesmo empo 0 viram com Geulas “vermethes” e ficaram arrasades pela sua mensagem: “um autor feminino (foi crucial nie o ser de um homem) discutia que a vida para as tulhzres através da hist6ria ten sido dificil e, essecialmente, degra- dante, e que a situacio sobreviveu as necessidades.” G Se- genée Ser foi Fido coro um tratado feminista, somado a ‘outras ideologias impopulares. Qualquer pessoa pode ser contra todo 0 “pacote”. Quase anics de se compreender a categoria das mu- ihcrescomo ada Outta, que € umadascontribuighes tesricas do livro, 6 leitor experimenro das mulheres como ostras: = com um grupo que, su ieientemente estranho, nia parece incluir o-s2u autor. Simone de Beauvoir declarcu, com fre~ J8encia, que ndo comegara a lrabalhar em O Segundo Sexo nna condigio de feminista. Quando em 1946, aos 38 anos, decidiu-se a escrever um livro sabre as mulheres, cla estava imeressuda rincipulmente ¢, de certo modo, confusa a respaito di condigéo “delas”, Por um lado, ela tinha formu- lado algumas premissas teorices inieiais sobre as mulheres em Pour wne Marate de UAmbigtité, a fim de esclarecer de que modo as zircunstncias sociais podem limitara libercade individual er grupos oprim des. De outro, ela pretendera cscrever algumas memtrias “Ao dese ar falar sore mim mesma, fente de que. para isto, eu teria primeisn de descrever a condigdo das mulheres em geral”.’" Cu, como chi disse numa das suas iltims ¢nirevistas filmadas, “Quan- 175 do comscei a escrever. . eu queria es ocar talvez um ensai’ sobre mim: mesma, nfo precisamente minas memérias. Foi 0 pensar nisto que me pareceu necessirio, srimeiramente, me situar como mulhere eorpreender 0 que sigaificava ser uma mulher," Na époc aparzntemente acreditow gue ser mulhes nio tina feito quakyuer liferenga em sua vide, ¢ foi Sartre quem sugeriu que isto nia era verdade. Quanto a sentir-se uma feminista: “Eu me tornel sabre urna de pois que o livre conquistou outras mulheres”."* Um auiéntice genio na répida acumulagio e absongin ds mialeria!, Simone nesquisou ¢ esereveu seu iro sobre as mu- Ineresem dois anose meio, Tendo principiadc em oatubrode 1946,¢ emoregado meses, de ¥ezem quando, para viagens aos Estados Unidos e para escrever 0 seu relato jor: LA mérigeue art Jour le Jour, cle conseguin, eniretanto, terrminar O Segunde: Seuo (vil paginas, er» francés) err junho de 1949. O ‘seu ease: umoreso com Nelsor: Allrven, que comegou durante sua prmeirs estada nos Estados Liides, deve ter farmado 0 panodksfundo para algamas dassuas idgias sobre asecualidade € mulheres apaixenacias. Ademais, experiéncias de mulheres americanas forneceram, € cla-o, as comparagies com as mu- Iheres francesa, as quais ela recorre per tocoO Segundo Sexo, bbem coraaem L Amsénipue ate Jour de Jur. Os mtodes de Simone refletem a alteridade com a qual cela visualiza as mulheres, tem como, talvex, cs seus prdprios temores de se aproximar demais do scu tema, “A principio eu pensei naguils que scria uma mucher aos ethos alhelos, comecei a falar sobre os mitos feraininas.en-quanic funcionam para as hamens e para certes escritores, Depois, achei neces sirio cxaminar glcbalmente a realidade, isto £, em qualquer cash, afisiclogia, a istnia ¢, finalmente, a estudar a evolugio da condigao da mulher”. * Obsiamente 0 produto das idiossin- criticas fortalezas e fracuevas de Simone x5 poderia ter sido escrito por ume mulher que necess'tava de uma ineursic na histdria da fémea a fim de retornar a si prépris, i Nurra entrevista com John Geeassi em 1976, Simone refletia sobre a “ma fe" que finha sido ama parte de sua ide antes le esc-ever G Segundo Sera, “Eu demonst-ci que poderia discutir filosofia, arte, literatura cte., num nivel masculina’, Reservei fasse li 0 que fosce exclusivemente feminil pars mim mesma”. Sirioae obsceva que sea eapac- dade de ganhar a vida camo qualguer intelectual macho, hem como ser levadla a série por sews pares masculinos, tormaram “muito fécil parariim esquecer que urna secret nic paderia de modo sigur cesfrutar des mesmos priv tos. Ela no paderia sentar mum café ¢ ler um liven sem se Molestada, Ela era raramente convideda a festas araga & ‘suz mente’. Ela nao poderia firmarsua prépria propritdade, Eu poderia”. Mas, ao pesquiser © escrever O Segundo Sexo, iz Simone que chegou a entender que seus frivilSgios “resultavam de haver abdicado, em alguns aspectns decisi vos, pelo menos, da miaha feminilidade. Se eu coloca- isto fem termos de classe econdmica, enterder-se-a ntais facil mente: eu me tornci uma colaboracionista de classe. Por dentro de @ Serundo Sexo una pena forte e-rada desereve a dificil situapio da mulher, as vezes parecondo (riturd-la numa opresséo unidimensional, como seo grau para o qual ela nic mediu seus prdprias softimentos se equilibre pelo peso da sus argumentagdo sobre as mégoas de cutrasmulheres, Mesmo quando o livre prog-ida, 0 heitor fica incerta de que a escritoracsieja lalendo sob-e um grupo do qual ela pertenga, E, nmuralmente, nio havia qualquer “grupo” na neasidio; cla era uma mulher pensagda e traba- thardo a s6s — ume mulher que tinha sido tratada larga- Tieri¢ coma se fora um hamem, A incerteza sobre o “nds” dela pode ainda ajudar a se considerar a maior proporgéo de descrigiees gue focalizam c que es homens tém feito 4s mulaeres do que sobre camouas mulheres tém seagide dent c contra os imites da situagio de ambos. A falta de, pelo menos, uma ou duas mulheres com as quais ela pederia tex ia 7a 15 conversado sabre 0 seu prejeto deve te- tornada peaica- mente inpossive| ver @ leda “hbertc" da dialética, e assim preenchet a grande inovagie do-seu projet. : 0 Segundo Sexo representa Unt rampinento grandioss 0 deserever a opressio da mulher dentro da estru.ura st ‘pedo, Em termos rasos, as mullwres estiveram aprinides alravés de hist6ria, embora esta opressie nio tenba signifi- cado que clas mao tives a Tibenlade de esoolna. Ao contriria, as mulheres fizeram apgies dentro dos limites fixados para clas, bem cone, par eczes, #lém das frenteiras destas imites, deste modo deitanco raizes para si praprias ¢ para otras, (0 Segundo Seva se baseia fundamentalmente em @ Ser eo Nada, de Sartre, mas, camo aULCOs observaram, “opera ima de transformagies na problem isia”.!” Enquanto O Ser ¢ a Nada desaprova as restrigics soviais 4 liberJade, Simone amplia sua anilise de Pour une Morale det Anabigité, argumentando que quaida os utes dhe tum individuo sao repctidamente bloqueados pelo munde exlericr, 9 individuo € oprimido, “Toda ver que a trancen déncia revai na imaneneié, naestagnacao. ocorre uma degra- dagio da existércia para o en so,” — a vida brutalieada de sujeigio para determinadas condigbes — eda fiberdade paré 4 coergiio e acon Esta queda representa uaa falta ‘moral se o sujeito consen.c nela;se ela Ihe €infligida, scletra frustragio ¢ npressio”."* As mulheres que descjam ser 0 ‘objeto de suas vidas tarto quanto ocorre com o homem, 7 Tendo lio indimerus wees O Segunaa Se:n por anos seis acho importante admitir que s6 recentemente vim a enterder a inerivel tentaiva de Simone dle Beauvoir ce deserever a rule: Gialetwamerte, Em retrospecto, acho agora que met! prépria pessimimosobre' capac dade das mulher escolheremdeterra- fdas Iituras introculdias do livre me estimetou a cmt 0 Lado te eseclha da daigiica @ fovor dis muitas provas ds condighes cpessisas. 176 am confinadas i ama a ser um objeto, “O que sizaliza particularmente: sitwagio da mulher & que ela = um ente livre e autin.2amo como vodas as crlausras hemanas — nto obstante se encomtra vivendo em um murda ende o§ homens continuam a constrangeda a assumir no wener de Oulra” tneapux de aleangar navas liberdades atcevés de projetos ro mundo, as mulheres vivem desmedidemente presas nosseus corpds, sue fisiologia, selo narcisisma, fazem projetos de si mesmas, mas em consequdncia eas scmente -ampliam sua posigia zamoa Quira (2u © Outro}. Elm scu staat como a Gutra, as mulheres so. com 05 negros € judcus — ou guaisguer outros powas oprimicos. “O ‘ecme feminine’ corresponde & “alma negrs’ e 'o sariter judeat’®” Embora a judeu no seja do inferior quanto mau inimiga, tanto maleres coma nepros “estéio sendc-ermncipa dos hoje de um paternalismo assemelhado ¢ wamtiga classe de senhores deseja ‘mznté-los em seu lugar”. Q “bem negro” & infantil, alegee, submis. A “mulher de verdade” € frivola, inlatil, irresponsavel. Por delinigéo, a Outro nia merc? ax respons abaidades & 0s bene a plo. Contuo, Simone nic conoebe 2 atividasles femininas como determinadas tatalmente, “Coocdrei a mulher num mundo se alorese darei a seu eompontamenta a dimension da Tikerdace”, dig cla, “Eu acho que ela temo poder te esoolher erite a asertiva de sua transcendncia e sua aller agio como objete; ela nie é a gangorrace diregbes contritias, sla celine solugiies de diversas posigies na eal Ao inves de su siluugée Ihe Ser imposia, como aeontese com uma crianga au la a escothe cu pelo menos @ consente™' Isto significa que, diferentemetie da crianga au de povos absolutanemie oprimidos, que no 1ém oporitinidade de escolher a mudanga, ‘assim que surge ums pessibilidade de libertzgio, constitul uma resignagie da liber- dale nao esplorar a possibilidede, uma resignagao que implica desonestidadke © qu2 consttui uma falta positive”. Na ver 7 dade, perque todas us tossas liberdades so mutuament: indepencientes, $imone implica que acumplicidade des mulhc~ res em sua propria opressio esta também frustrande a libew dade Jos homens Como is muheres sem algum acess & liberdade, julgarientos sobre os seus ats dewent ba “invergiiomeral”. Tas julgamentascever ser positivs, sabre onde e como as mulheres fizeram es-olhas dentra des limites de-suss circun crictiva de deieeminar a“inventividade mare!” das mulheres & apenas desigualmente atinggka, De fato, mais cle tints ar maistarde, 0 projeto espera amplunente ser felloppar qualquer escritor(a). Em ver disto, O Segundo Sexor tem enerespady Gapiilo no qual a opressia ¢ descrita com grande sigor per pardgrafos e sdginas infindus, e somente wee por outa in Polado com blocos nos quais pote-se ver como es mulheres esto optando om agindo rasta (atamenue restrita) libercade. Na prirteira parte ds livro, “Destina”, Simone examina — © rejeita ou reclobora ~ trés abordagens tearicas (e deterministas) 10 prublema das mulheres: a biokbyiea, a psicanalitica © a marxista, O questionamento del, coma Michéle Le Docuff esereveu, rezorda “o procedimento de Rousseauen 0 Contratc Social: de onde vein a ordem social que colocan os seres humanos azorrenkudas? de natures? Nao. Do direita da mais forte? A pripria “rase € irsensata, Por direita de guerta? Petitio princrpi” C primziro capitulo tedico, sobre fisiologia, foi inserid:» préximo 0 fim da obra dela, por sugestio de Sartre Este capitulo, que uliliza a ontakigia de © Ser ¢ 9: Nada em finns antagénicos, é compliceder, devo ¢ Mergaret Simman, cujis detalhado exame em seu conlexte his:drico primeino me esclarzceu a argumentagion prolurda”” Na superiicie, S- mone desvenca pesquisas bioldgicas astinalando que * visda da especie em dois sexas néo é sempre bem del e que muitas espécics sao capacts da “propagacio assexus- da’ A reagio de “sex0s Opostos” elabdrada através dk 178 sGeulos pela civilazagio ocidental néo é 0 resultada da bioto- gla mas, ae invés, € uma eriagio social com rafzes sociais, Estendends a visio existencialista geral — de que nds cria- mos a socicdade © que acreditar em qualquer parte cela como sendo dosds é metamente “ni fe" — na drea do gGrero, Mule de Beauvoir afirmas “Nao se nasce, mas, 20 cortricin, forma:se uma omlher”.”” ‘As complicagies € as problemas surgem com a questo, Ge 0 qué nossa fisiologia ou anatomia signifiea para nossa iércic do mundo, Sartre, em © Sere o Nudd, dou Tengis sewusis & nde significados ontolégicns. Mas 0 ponto de vista de Simane é obviamente de que ser uma mulher, embora nae biologicamente determina, cria uma iencie de vida diferente daqucla de ser un boraem. A tarefa dela, portanto, fai a de isolar todos os dados fisialegi- im de apresentar o sew impacto mininaizunde-o a0 im “wenepanda as diferencas fisiokégicas do sno qunlqucr signi ficdincia ontoldgica."™" [sto ¢, enquants 0 Dotpe Lise, finito © mortal faz sentido por experiéneia, a ic dle corpo alzavés do qual a gente expesimenta o undo niio tem sentido. Como Simone exprime, “estar pee: serte no mundo imolica estrilamente que existe um eaxpo que ap mesmo tempo uma east materia! no mndo ¢ um pomlo de vise ou aquela estratura especial” Fisiolog mente, a solugia dela (como aquela de Mary Wollsionc- etalt) & eriar um dualismo ideatista que deline 0 que & essencialmente humana come mental, ¢ 0 que ¢ fisiolagico como menos significative ou contigents, Esta posigao vio é caracteristicade Simone de Beauvoir, cuja filoscfia em -o¢os os utras aspectos enfatiza, se bem que em deseonierto & revolta, ¢ fisicalidad> ca eandicia huriana, A deciséa dela de rceair numa separagin cnt-c mente ¢ corpo sé pace ser compree-dida cm termos da sacialogia e elas pesquisas mé- cas disponiveis 9 final los anos 40, .odas as quais manti- mnhem que os papeis sivia-sextais deveriam ser rigidamerte 1m definidos © biologicamente determ.nados, © as mulheres serem compruvadamente inferiores. Assim, descjando evi- tar a orientagio reacionéiria dos teozias bialdgicas, Simone optow po: umn visie idealista das mulheres nav mundo ba seada na separagdio exente-corpo."? Hi ainda ur componente antagénico para a disetss da fsiologia, que parece derivar da repulsa de Simone ¢ a de Sartre A fisicelidade © particularmeste ao 2orpo feminino “Apes de um postura filosé fica que nega aimpartineia das pénis s mboliaa. Isto € fornuulado mais fortemente: numa segio posteriorsobre a infincia, reforgando incidema mente a visio de que a mente € o espirito das mulacres no sho detcrntinados por seus carpos, porém pelo semtida que Ihe dia sosicdade, Assim como.o penis derive sua privilegiadss waliagio Ja contesta social, é tamxém o context social que fez da menstrucgia uma maldigio,"” O teroeira tema € que aapsicandlise designa a transoendéncia como ur. comparta: mento “normal” cos homers, enquanto & compartam2nto “ consc~ (quenferuente fosse nccessériaparaestabcloccr uma grajgeniinero Geaparctos e adjuéros nsttucionaispara menté-la",” Eu tenho nant aco como a calegoria dos Qulo, cam a concomitomte pin «20 paré dinar, repousa na Imago cos primeiros comances Uc Simone, Mas nem elz nem Sartre estavam afinal satisfé:t0s cont festa aberdagem idcalista do confito humand, Emm sua Gita de Racdlo Ciakece, Sate funelamentaria ascoallitcs catrec proprio 6 Outro de muneica escassa, Bem t Lema Marchi, Simone atribaia opressio das mulicres na ant gi China a eatassez mate- Tink, Ela também disse que se losse reeserever O Segurdio Sexo daria aida da opresstio das mulneres uma fundamentegio ma teria! mais forte: 2 alleridedeé "nad somente um re acionarmento: idcalste... é uma rele gio depoder, baseada na esassca”.* Assim, ‘a futa coletiva pura termirar a opressio feminina — ca epressie de todes as Outros — também comprecndera o térsino da excuse. 183 de fora, “A Vida das relato,noc ual cla foraliza ruulheresi Mulheres Atuclmente” € ama teniativa de ver as mally ‘coma stjeites, de ver coma as mulheres se vGem a si mesmas cerioram sus prprias viekas por suars(se bem que com fre ia inconsciente) decisies. ‘Asz¢0 de historis comeca com asurpreendente,embora nao inédita, obscwvagio de que “aio é em dar vida mas em arrisci-la que.o hamens projeta aeima do animak es porque a superiaridade ten sido acordads na heamanigade no 90 sex ‘que a fez evancar mas aquela que mata.” Qs homens trans- ‘cendem a finitude da cxisténeia escothends % morte, ¢ dest ‘modo asseverande que a vila nfo 2c valor supremo ~ gue ‘existem finalidades mais importantes do cue a prépria vida. Porque 0 sanguc urisca a vita, engucnto a Iete “ apenas” a hatte, # alividade dos homens coraa guerreiros tradicianal- mene oscria azima da continuidade da vida, segunda Simone de Beauvoir, Bsta é a condusio a que chegarn Helene o Jen em Le Sang des Auires, once eles deci cm arr'scar as proprias ‘vidas ¢ nsvidas de outros pelo iranscedentalvalor da liberdiade. Dar a vida é imanéneia, enquanto fazer a gaerra “por uma causa justa” asscgura (ansnendéncia. 6 implicagio deste mo- do de ver, combiraula & visio das consciénsias individuais em combat2 umas com as outras, € extraida de Pour wme Mora'e de EAmbigiiré onde Simone escreve, “toda ecnstrugio in-phica 0 ultraje da ditaxlurs da violéncia".” Aqui, a gente tende a perguniar: E ¢ viekincia meoessiria 2 corsimugio porque se relaciona & transcendéncii ou porque a transcendéncia foi definida em termos das atividades dos homens? Simone de Beauvoir mantém que “A soziedade sempre, foi miscula; o pader politica esteve sempre nas méos des homens", Embora ela detalhe certcs ganhes obtides pelos mulheres através dos sempos, come uma lei aprovada na Frangaem 1762 estabelecende adivareia, sun postura é ade que estas corsiitufrar geralmente "vit6rias insignifieantes” 1d © costume enfreatcu 3 lei de tal mancira que ¢s dircitos legais obtidns para cs molheres foram amplamente conver- tidox ema “lixerdade” para © pabre esalitdrio aw para “viver em pecado”. Quanlo ao papel das mulheres emoora a passividade histdrice das mulheres ten! exagercela na edigic: inglesa de @ Segunde Sexo’, a propeia rereralizagio de Simone & de que o papel das mulheres tem sido como «la Qu Mu las Reroinus sin peeulites: aventin ibite manos pela imgar/nea dessewatas do que pela Isridede dos seus Tastos. Logo, se com ararmos Joana D'Arc, Mme. Rolan, Flora Tristan, com Richelieu, Danton, Lenin, veremos que a grander dchs € prinordiaimente subyetiva clas sio figuras excmplares ao invés ¢e agentes histrieos, grande homem brota das massas © 5 prajeta para # frente plas circunstdncias; as masias de MLIBERES esis 2) gam da histécia, ¢ as circtnstacias conslituem um obs'Geel> para cada individuo, nao win tranypolim. Aim de madae a face do mundo, £ primesirantente necessariu estar firmemenieaccra- sdo-ncle; mas as malhetes que estéo firmemente ent socicslade moveraa sia ajuelas gue esto subjagadas 2 rio ver designadlas para ai ago por autoridade diving — © fenljo ebss demorsiraram ser tic capazes q.santo os homens ~ a is her arsbivioss wa herosna sie monstrex estronha.”* ALM, Ponhley, of trecuioe inglés, coitou quase 30 ppiginas, inclusive eric cas Visas Je nerl0 Ge cingdenta mulheres Tran: fsa — artistas, militares © femnitrstas — © consegdentemente fexicerbou a pintura de Simone da subjuigagio histérica das mu: theres, Sinton, GUeexE Minin euidadosameMte os textos Fanceses 4 ingleses,agsinzla que a sentido do movimento ce mulheres na sisidriaé ademaisalterado porconveriertempa deverboe future ative em sempos preténtes ou pasivas. Seria interessante saber ‘rome Parsley fol sicalhida para tcsdutor do lio. Bibloge de rofissio, cle na pritica de endeu a visia convencinnal das mu heres tendo *gatureza complementar” & das hemens em suas prsiprias obras. 185 Q sentimerto das mulheres como a Outra emerge poly menos com a mesma ferca em sua discusio do mita. “As mulheres afc scesiahelecem como osuje:toe dai nicerigiram nenhum mito vil ne qual sous prejetas se refletisseny, elas ainda sonhiam os solos dos homens", dig cla. Nao somente ‘as mudhcres foram destituickas ds formas culturais pata relle- tirem sua propria subyetividade, masa mitologia «los homens labora em doce temurt ¢ ruideso ho-ror i passive ¢, me centanto, selvagem Alleridade que impuserag ds mu heres. sandlise de Sime di itagem das mulheres no mito es seus resultados para asvidasreaisddas niu eres ¢ brilhante,prenun: ciando andiises semclhantes por escritores eontempordineos dos Estados Unidos, tais como Dinnerstein, Urther, Chedorcre ¢ Griffin Simone de Beauvoir afirma que,com toda a ambi- valincia que os homens sentem pela ratarcza, crjaram ne “Mulher a O.tra como Nat vineza, Ela €-0 cas, terra e agua da qual ui a vida." A mulher éa ncite, a caveena, as sombras, © inferno. O hosrorquea ruber isspira aos Fomens' 0 horrar de sua propria conting que ele projet neta, exreve Simone, antecipando a eluborugéo- de Dinnerste. destetera. Os homens pcogaram civ lizar odesesto mitico,que cles proprias imaginaram 2 teceram em contos infindaveis nssiam despertara Bela Adormecida, se apoderurem de roe: “0 cvamento & um mode de inunizar o hamen contra a sua prpria esposa”, mas as *vamirase feiiceinas” continuam a. atrai-lo."* As roupas que as mulheses usam as remodelam ¢ as refreiam, exprimindo as ligagdes delas com 4 raiureea através da reafirmagio do artificies “As mulheres 5 tornam planta, pantera, diaman:e, madrepérola, matizando ores, pelos, as, conchas, pcnas com seu corpo; cla se perfi- rma pura expelir um sromadeisioe de rosa, Ifas plumas, sede, pérohs & perfumes server: também para esconder a =racsa animal da sya carne, o seu odor.” Enquanto os homeas temeni a sua cantingsneia carnal, também o pavor de cove Jhecer ¢ morrer é expcrimentado através da mulher, Enguanto 186 “normalmente © hemem nda vivencic homens icosos como anc”, mulheres velhas nao so somente sem fascinie: “elas severe dio misturads ao medo”.”* So as mulheres que oxemplificam a verdad de que vivendo como seres humenos confinam as pessoas i finitudle v & morie. Renovando otema além ce Simone, poder-se-4 argumen- tae, como fez Dinnerstein,quea guera é também umadetesa contra a carnalidade humana, um meio pelo qual os homens tornam o trabalho de Natuseza em suas préprias ros, Os filtimos dois tergos de O Seguncio Seco detalhamm a vida das mulheres em nessos dics. & um compéndio mecigo. inspi- dor, extemuants, cobtinds o desenvolvimento das merini- nhasem mulheres, suas primelres iniclagbes sexunis, i&sbl mutheres casadas, mies, amiaades jininas & vidas soc.ais, prastitutas, adtilteras, cartesdis, mulheres independentes, misti- case mulheres de idade. Para cada periodo ousituagiode vida, Simone pinta retcatns -nastrando que “juntamentc com ade» manda autintica de sujeite que desaja w liberdade soberana, exste no existent ume ansedade inauldntica pela resignagio ¢a fuga: os deleites da passividade sio feitos pera parecerem: desejiveis 41 mocinkia por pais e educadares, livros © mitos, mulheres ¢ hamens; ...a centagaio se tora cada vex mais insidioss; € cla € mals fatzlmentc incinada a ceder = esses delcites it medida que o vo da sua trarscondéncia & arverues- sado contra obsticwios mais ésperas’ No sexo core no amor, as mulheres auma sociedade patriarcal sto sempre ameegadas com violagko, dominaczo & dependénca. A primeira exseriéacia sexual da rapariga 5,com frequéncia, meramente uma trutal ¢ apavorante experiencia de penewraglo. Até o sexo heterassexual amadurecido nao é localizado: “e corpo dela promate conclusées imprecisas sobre eo ate dearer. Quanto para 0 amor, ele “.,..6presenta na sta forma mais tocante a maldigéa que repousa pesadamente na mulher confinada no un‘verso feminino, mule- mutilzda, insuficie-te em si mesma” © matriménio dé & suubher “certs 187 participagio no mundo", mas.an preco dese sornar wma cats do homem.” O sexe no casamento # meis somo um incest, uma wz que o crotismné um movimento para a Oulra Pessoa, para o Outro Ser, ¢, na imimidade de um casal, “macido © esposa se forma um para ooutrao meso" (navamente um ‘eco liccional se Tunifesta), Somente ne adultério pose a mu- Iher aoureniemente encontrar qualguer satisfago sexual, mas neste 2aso ula é Lerrivelmen‘e dependente, 2 meres dos capri- chos Cos homens, Por causa cas difereneas ds poder, hi 2ouc esperanga para as mulhe-es que escothem a honesticdade com os homens. “Confrentando o homem, a mulher esta sempre spresentando; ela mente quaralo aprescnits a ele uma perso~ nmagens imaging através da mice, do vestusrio, das frases estuudacas Coisa curiosa, a segio mais positiva de Simane sobre as possibilidaces psicossociais das mulheres é a que se refers & lésbica, Embora aqui, comoem autras partes, stia lirgurager eveque umbigiiidaule — ex'stem frases como “concenada f inversio’, © que & na vercade uma tradugio incorreta de voud ou “destinad — as mult sfo constantemente retratadas come scletivas, ¢ fazendoautént-eas opgdes. Uma mulher, como sujeito da agao, “tem um elemento agressiva cemsua sensualidade queniiadsatis{zito no corpomaseuling, daf os conilios que 0 seu eratisma deve de algum mado superar”, A iésoica demonstra sua subjetvidade por “sun recast da macho ¢ sua atracia pela carne feminina”, Avy invés do lesbiarismo see uma negagio da propria femin li- dace de alguém, Simone argumenta que, em muitos casas, 2 lésbica esti, de “ato, aceitarde ser uma mu her Repensando o pradigma (reudiano a fim de enfatizar a fase pré-edip-ana ¢ a fixagio primaria das mulheres as suas mics, cla prenuncia varias escritoras feministas da atualidade com o seu raciozinio de que “se a natureza tiver de ser invoceda, pode-s: dizer que todas ax mulheres so naturalmente homossexuais”.” 188 De certo moda, surpreendentemente, dado o relative isslamente de Simone de mulheres da sua propria idade, cla também pinta um fetrato pesitive dis amizades festininas. *O mundo das mulheres, pera cla, € um contra-unieersa”, fp qual elas criam scus préprias valores. Quando as mu- ihneres esti juntas. questinnama autoridade ¢ a intel-géncia dos homens quc.as deminam, zombamda mera dace” que as impede de ter abortos, pu condenam o adultgria € a mentira. Sabendo que 0 afdigo masculing nie é o delas, as etiam “normaslocais”, pelas quais julgam o mundo esi proprias; a fim de passar 0 ulgamentoas otras ¢ para regular sizt prépria conduta, as mulkeres neaxssitar muito iais engenhosidade menud de gue us homers”! Fa.o significative, a seqzo sobre a materridade comega com uma discussin sobre os horrores do aborto jlegal (O Seguads Sexo foi escrito numa époea na qual s mulheres francesas nio tinham acessa legal a quaquer forma de con ttole da ratalidade; em 1971, Simone de Beausoir e varias cerilenas de outras mulheres assinaram 0 Manifesce des 343 ‘uma ac missiio priblica de Lerem praticade um aborto ilegal como partede ums dus primeiraseampanihas fear inistas pare fazer a ahorto eutros métndos an:icoacepeionais apa. mente acessiveis as mulheres francesas). Mas, para amulher (que decid: ter umn bebé, nem ela nemva crianga sio vistas sob uma lug favorvel: C grande perige que amexga o infante em nosse cultut reside no fato €c = mic A qual cle € canfiado Cx toda 4 sua impottncia ser quase semprs uma mulher descontente, sexualmente ela € frigida ow insatisfeita; socialmiente ela se sente nferior a> homem, Ela ado tem qualque: conerole na munda ou no futuro. Ela buses compensar todas estas frus. iragis através da seu fiho." Esta parte, cam sua quase rejeigo de quelquer espe- range pata miles ¢ seus fils, provecou wm certo mimero ise em mulheres ¢ homens de todas as correntcs politica, Desde entia, em diversas entrevistas, Simone fentau amainer sua pasigao, aficmando que scb cestas cond goes (cssisténcia ¢ infincia, koa administragao do lar, renda familar indeperdente c assim por diamte) ter um filho pode ser uma escolla ap-opriea para (ultras) mulheres.” © quinhdo da Uona-de-casa, com ou sem empregacas forece as mulheres ““ustificativa social’, mas nenhura transeendéacia, Em lugar disto, sot as melhores circunstin- ciasccondmicas, lustrar 2anelas, lavar rcupas, limpar méveis ofereceri umasatistagic deser dull e ter prazer material, m2s som 2scapsattria du iimanéneia eo redusida affrmagao de individualidade”. “E, seb circumstincias empobrecedoras, nenhuma satisfacde € passivel; a cheupane permanece uma choupanaapesar do suo e das kigrimas da mulher". Simone de Beauvoir leva avante o seu casa, argumentendo que 3 trabalho dom “pase negative”. “Lanar, passe a ferro, varrer pond 4s claras rolos de fhapas acultas cob as guorda-raupas — todos estes defeitos de degradagan sin lumber ume negagia de vide; pois o tempd simaltanea- mente cria ¢ desiréi, c somente © seu aspecta negative reocupa a doméstica”.™ © As descngies tanto da doma-de-casa ¢uamtoda mae reeardam as escrigihes dus mesnkas Categorias em Mémoires dine Jeune Fille Range. Lela escreve sobre a miter dade: Ha muito tempos ext dee dedicar mint vida 08 labores imtelectuais. Zari me chccou quando deekirou, num tom ce Provocante: “Trazer nove filhos an mundo como & mune fez & Tio bom cuante escrover livres". Eu nic podia ver qualque- denaminacioe comum entre estes dois medos de vida, Tr filos, que po= sun vex teriam mals fies, era simplesmente tae mesma velhi misica ad infiniaum;c eradito,o artista, 0 escritor ¢ © pensador criaram outros mundios, dos de Jogura © Ina, nas quais tudo tem seu propScita, 190 Com : sua caracteristica necusa um abrayar a moralie die burguesa, Simone de Beauvoir deserove © arrseaclo trchalhe dz prostitute como um problema mst pscolégiee: ou moral; ela julga os motives das estrelas de Cinema v artistas de cabaré, a quem aponia como: cepen- denies psicologicamente dos homens, de mocks muito mais rigorose. A atri — 3 medida emque depende ce um homer cglua meramente pars alimentar seu qareisisma, 6 scu ew como a Outra — ¢ vist igualmente com severidade, Muitas habilidades ¢ tarefas maruais de nulherss sia consideradas simplesmente “>assalcmpos" com paciéne a © solar isan mst Ew deme live pena da existGacia mondtons das pesto cerestidas. Quando eompreend que, em eunto espago de tempo, aqucle sca tambéma meu destinn, enteci em parict, Una tere cou estava ajudandt: mamic a lavar, ca lavava 08 putas © GW OS tenxugava, pela janela eu podia ver a parede cos alejamenies, © uiras corinhis mms quis 2s mulhewcs estavem eshiegando. earclasou descascando icgumes. Tedadia almogo ejanter, toda hora lavando, todas pqucles horas, equclasinfingas © repel as hora, tudo levandovaparte :Igumar poderia eu viverd:qucl=jeito? ‘Une imagem de to desolada clareza daqualaié hoje mc lembro: uma fivira de quadradas arzentns, diminuinds de acorcks 20m as leis da perspective, mas toxios achatidos, todos iden tices, even. endive para além d's honzente; cles eam os «ia, serranns € ‘nos. Deals oda sik uc ct nasi 6 i pata a cera Mas Fie noite Jo que fora ne dia anlerioy; eu estava firmemente me iperieigomndo, passoa pass>; ris, quindoe:s relevant al enconiravaapenas im Sane loresten, sen menco Cinna fae, que-sentido tinh? ‘Niio, cu disse # mim mesma, arrumando uma pitha ce pratos no guardi-lougas; ruin vida id evar a alguma part. Embora as memtirias foxsem escritas depois de O Segwado Sead, relletineo, portasto, a mais alia consciéneia nesta drea, elas sxclarcoem. as ‘das conclusies politicas ¢ filostficas de Simon: sobre as aiskd des Las mal cre. 19 passividide, A (emea escritora eriativa ou artista freq cern niente produ pore ser bemesucedia ou recompemst seu onan es motives ma A “mulher independente” enfrenia uma cord kaant entre desakar na passividace feminina ow se mazhucar 110 comportamzntovirl,o queimplica ura “cesvalorizagio sexi] e social de si mesma”, Fara toxlos os tiposde situagtes ferini- nas descritas, » maquilzgem e a indumentiris. descmpenham uma parle importante erequerernum peso tribute; olhendo e confinando as mulherss de modo concrete, elas ainda tabs Iham simbolicamente pre relorcar a passividade enlatizzinds amuther como Obje:o ¢ exacerhando-the-os temores de enve- Ihecer. Contuda, asrmul eres concentram suasenengiascm stat paren, talvex mais do que em qualcucr outra pearts, deci- dindo se deverdo provaear inveja em nutras mulheres, altar os homens ou simplesmente para garantir sua independéncia, ‘Como Simone de Beauvoir antevé o fim de pattiai“eade em O Segendo Sera? Devem existir duas opgSes. A primeira envalve unt ato coetivo dé von nulheres, de 4) de sua propri sociedade para 0 “socialisma demacr porcue ela podia lor € ouvir sobre a realidade de ama saciedax: socialista (se bem que preblemética) edo tivesse nenhum movimento feminisia em sua experifncia, a descri- Gio dels ds meavionadn sociecade se desenvalve de modo mais completo, “Um munde oade homens 2 mulheres pu- dessem ser (guais é ficil de visualizar, pois isso precisamente Enque a Revalugic Sovietica prometew", diz cla com gar dice. Issc incluiria ctiar e educar mogas rapazes do meamss modo, concedendo ios homens € mulheres salirios igua s para trabalhar sob as mesmas eondigbes, ¢ desenvelvendo uma “libereade erotica”, apliciwel nto a mulheres quanto 92 abamens. 0. seria num acirco fv nos espasos, Jissolive! aulimaticamente; a maternidade seria roluntir.a (o<|ue significa controle de natalidads 3 0 aborto tora de ser legal e acessivel}; a licengas para a gravidex seria pag:spelo Estado, aaissist@acia’ inFaincin obrigatoria sos servigos doméstices reduzihas.an minim. estas condizées, “a cringe pereeberia em tome. de si um munud andrsipino ¢ nly uns mundo masculing”. 2 Embora nem todas as difsrengas sexuais fossem elimi- nadas, clas eessariam = rercer qualquer papel social de- rminarte. Haveria uma“ gualdade difererciel”. Simone termina O Seyuneo Sexo com a forza moral das bean cuthecitias ubservagbeccle Maresubreascelagies nite es eN0s,ocardler desc unis, segundo cie, indica o nivelgeral da cspéc ¢ humana: "a relagie da homem coma mulher $a mais natural de ser humano pare ser humana, Por els se demanst-a, por consegainte, a que ponte o compoarismenta tural do homer (ornou-se/mmano ou até que panic o ser humano (oenou-se seu ente matured, x que pomto a nanarez humana se lornou sua netareea”. "O easo”, dia a Sra de Beauvoir, “nde poderia ser melhor definide”."* O Segunclo Sexo & um wre de coragem ¢ criatividade, Eu diga isto tendo eu mesma experimemads » enerme culdde de rover G mands, até com uma vvida cultura feniinina om redor iar ¢ confirmmar, A clarcza da visite do tivo fa-lo comparar-se a Black (Skia, White Masks, de Frante on, que também vi-ou a realidadc pelo aves — noseu case ps.ra expor os mecanis- ins oculos da epressieo racial. Para apreciar completamente © Semunds Sexo, deve-se comprecader que ele foi escrito ao isolamenio de oulras mulheres pensando a respeita de mulheres, bem coma um isolamento quase total de cut-os iniclectuais da sexo ferai- i nino, Nao samente nao cxistia nenium animado, ow mesmo 195 awlormecide, moviniento feninista, mas os temas da opres- sodas mulheres diffeilmente poderiam parecer impart tes no fim des anos 40. Entre Hitler, Stalin ¢ a bomba _ut6mica, « maioria do pova francs nie se preocupaya com i questho da mulher, Igualmentc, como diversos artigos reoentes tm agugadamente demonstrado, a teoria cxisten- ciaista com que contava a autora estava livre de sexisria inconsciente cm seus argumentos bem. come em suas casuais metéloras,” No erlanta, diante de tados estes obsticuks plos simediatos, § mone passou dois anos detalhancio as vidas de mulheres através cos séculos. Se a lingeagem dela parece as vezes inflamada, au scus argumentes sobrecarn gados com infinitas mi ndeiss de apaic, o momento histSrico os oscrewew deve sve reenedadle, “O Segundo Sexo cade isplamente ¢ da defensiva — uma Tighe para mulhercs escriterras som uma. comunidad minina", escreve Mary Lowenthal Felstiner rum ensato de apoio sobre o jugar do livro na his.dria. “A justificativa dos direitos cin muller parece vie da profundidade do-seu rela.o, de maneira que nada pode ser dite de uma s6 vee. Superes- truturas sZo forjadas para firmar detalhes, € estes sito acu- mulados como'se para covstir possiveis falas. Lé-se O Segtan- do Sexo como se cain pessivel fato € pensamenta tivesse: estar inclufdo, de autzo modo alguns Ieitores paderiam re eusar-se a.acreditar que as mulheres sofressem suberdina- a0". Mais de vinte anos mais tarce, La Vieillesse ("The Coming of Age", em sua ayuada tradugéo ingkesa) soft dos mesmos problemas de Jetalhamento infinite, e pelos mesmos motives. Tem-se dito que gragasaa existencialismo ser “baseato em coneeitos de liberdade respensabildade, poderia im- plicitamente conduzir & teoric de feminismo".”’ Embors 0 paradigma da liberdade dentro da coergio ni se realize, 0 Segundo Sexo é 0 pameiro e ainda 0 Unica livra a oferece: feoria Cialética que pods lever em conta tanto a opresséio objetiva Is (cminina quanto a possitilidade de sua libe-agio, Outr ‘obras cue focalizim a opressia das mulhe-es yenslem deixar leitor com aszatimento das mulheres eomovitimis, enquanio aqueles que Vem aS SUCCSSOS hislozices das mulheres deixam Ima ferramenta snalitica nas mies de Forgascls oposigio e repressie contra asquais ecorreram suceysos, Nao evis.e oui Lvro que eu conhega com taig c fazer julgamentos marais sobre a diversidade de caminhos nos quais a mulher iransila ¢ além des seus limites. O modelo de Simenc de Beauvoir lac pe-mite mos- tar camo as mulheres, meciante scus proprios atcs, sia -e(implic=s; contude, dizer isla nao &“eulpar a vitima", ema frase que se tornow populir na Esguerda ¢ na movimento Teminista. Aocontririn,é de per ov ¢ para conferir is mulneres © tespeite qualquer individua selecionaulo © responsével. As pessoas fomam stecisies para rompe- ow permanceer em variadas graus de sujeigéo; por veces nenhuma decisio positiva & viivel. Entretanta, tormasseadecisto,¢ 0 individuo é resp. ssivel por ea O isolamento de Simone de quilquer mov mento de mulheres enquame eerevin o livte pode eens ituir uma Fado pela qual o lada subjetive da sua diabética existne cialista seja fraco © menue consistent do que ¢ Lada que Uescrove os meeanismos de cocrgiio Frederick Jamesen, um cnsaio sobre Sarire diclincia eargumentodg Karl Kor Je que hi duas linguiag2ns no tragedo de Marx para momen: os expeeiliges da hisldria: “A énfase 10 falor subjetivo, na sistoria da uta de chasse, que noturalmente Emais evidemtc no Manifest (1848), rc Tete um period ae genuine atividade ewolucionéria, no qual, em: conseqéencia, as Forgas revohu- aptas a sentir a bistécia como resultado de halho de Das Kepival (1857) entre tanto, que enfutiza fortemente a importincia dos f2to-es ecendmizos & a evolagao intema da economia, comesponde 5 a um periods de reagio (€ Segunito Impérie) no qual & necessiiro precisamerte mostrar que as revolugoes ni: ‘corrent até que 0 tempo esteja madero, mas yUs ela ambeém o inevitive! resultado da elsboraglio das ecr tr digdes econdimicas interaus"” "4 Critica diy Ruziio Diakéicn, de Sautre, escrita durente a Guerm de Indepeniéreia cha ‘Axgelia, dic Jameson, pare ser comparada 20 Manifesto oe Mare: pergue Sartre estava pessoal e profundamente engs- jado, ele padleria faacr ao modelo ezonémie de Mary ume critica de come os individuos decidem formar gropes, © can 0s grupos se enrijecen: on debandam, no process de caiagaa da historia, Robert W, Stone fez um enfoque sinilla:, comparand o isolamenie politico de Sartre enquamtu escie vin O Seree Nadi cam seus compromissos politioes durante ‘os anos em que trabalhava na Critics, Como O Copitat, au O Sere 0 Nad, av qual O Segunda Seva se inspisou lurgariente, aanilise de Simane de Beau voir é 0 produlo do isolamento ¢ da ausénein de qualquer movimento politico, Como as demas livros, sua fora dcriy da sua ctitira aos mecanismas da presse, Nas palavtas de Istincr, “O Segunda Seco parce: satislazer apenas a me ede do que esta geraygio deseja conbecer". Fala dos meias Telos juaisa dominagio do mache canstrangeanmulher, mas € incompleto «quanta “aoscaminhos do pester da mulher que fez @ mundo marchar" ‘Scjam quais lorem as sues desigualdaies, ¢ ele estd longe de ser um Lvra perfeita, O Segundo Seco tem provavelment sido a obra mais importante para o fe-ninismo americane, bem coma para o feminism da maioria Gos paises ca Busopa Ceidentel. Sondre Dijkstra argumenta convincentemente que The Feminine Mysiiaue, de Bely Friedan, que vendeu nals exenplares nos Estades Unidos ¢ inidalmente nio prestcu qualquer iributo a Simone de Beauvoir, é uma tentativa cle “passar uma esponja” par as leitores americancs ras mensa gene mais radicuis de Simone es acitando-the o escope e idea 16 lixando suas andilises (em resunio: para curar“o peaiblema que no fem nome", as mulheres deveriam “pensar dferente~ mente” sobre suns vidas)." Por todas as critieas que foram dirigivas a O Segeda Sere, ¢ houve muilas erilices fellas por Jeminisias, ele € ain oorsi¢eradi coma “a base Lecriea da teoria feminista radical." A Dialeticu dé Sexa, dc Shulawsith Firestone, que se tcrnou 9 documenta te6rien para esta cnda dv femirismo, foi dedicada a "Simone de Beauvoir, que saan. ‘cue sua imegridade*. A.cscritora inglesa Juliet Mitzhele auto- ‘ada principal critica Feminista da radio freudiana, Paicand- lise ¢ Femtaismo, chama o Segyndo Sexo de “a Tink bésica de qual outras obras exp icilamente ... cia implicitamente: (que todas nacseritoras feministcsdevem ier lida) partiram”. Uma cclegiio interessante ¢ vigorosa de ensaios de ferninisias Fane cosas, G Now Femunismo Fromcés, comega con: a Introdkego de Simone a O Segundo Sec porque “ocups uma os

You might also like