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Aula: 01

Temática: A Construção da Didática como Campo de


Conhecimento: A Antiguidade

Como todo saber produzido pela humanidade, o saber cons-


truído sobre o trabalho pedagógico, o trabalho de educar, de
situar a pessoa no mundo, com os Outros, para o mundo em
que vive, é resultado da ação humana, sobre e com o mundo, na tentativa
de compreender melhor esse mundo que a própria humanidade constrói
de acordo com aquilo que, essa mesma humanidade, acredita ser melhor
para o mundo que está vivendo/construindo.

O que queremos dizer com isso? Queremos dizer que o trabalho de educar
é um saber/fazer que está sendo construído na medida em que se aplica/
repensa esse mesmo saber/fazer. Você reparou que utilizamos algumas
palavras com a barra (/)? Essa barra de pertencimento entre as duas pala-
vras significa que compreendemos o saber e o fazer como ações que per-
tencem uma à outra, ou seja, são inseparáveis. Do mesmo modo, sempre
que aplicamos algo que sabemos, estamos repensando, voltando a pensar
sobre aquilo que já sabemos.

Nesta primeira unidade do nosso curso, vamos apresentar a construção da


Didática como um campo de conhecimento próprio. Por isso vamos sintetizar,
em algumas aulas, um processo histórico de mais de 30 séculos, pois o traba-
lho pedagógico vem acompanhando a humanidade desde seus primórdios.

Na matéria História da Educação estudamos que, durante muitos séculos,


a formação de uma pessoa acontecia no próprio âmbito familiar, pelo papel
central do pai, chefe da família, por isso que atualmente classificamos, ca-
tegorizamos esse fazer como uma prática pessoal. Naquela época famílias
abastadas, famílias de boa condição econômica, podiam contratar um tu-
tor, um pedagogo para a formação de seus filhos. Desse modo, a formação
dos jovens estava intimamente relacionada à posição econômica que essa
família possuía, ou seja, à classe social a que esse jovem pertencesse.

Um pesquisador sobre esse assunto é o italiano Mario Alighiero Mana-


corda (1914). Em suas pesquisas, Manacorda (1991) concluiu que a Edu-
cação como prática social se inicia no período histórico da Antiguidade,
mais precisamente nas cortes da antiga Mesopotâmia, no Oriente Médio,
o que atualmente se considera o território do Iraque. Segundo Manacorda
(1991) é no Oriente Médio que se origina a noção de escola como local
para a educação dos jovens. Essa primeira noção de escola, construída no
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Oriente Médio vai se estender, posteriormente, para a Grécia e Roma.

Manacorda (1991) observa que temos que ter muito cuidado com as pala-
vras família, educação, escola, pois essas palavras, na Antiguidade, eram
utilizadas com significados muito diferentes dos que utilizamos atualmen-
te. Historicamente, a Educação foi confiada, primeiramente, à família que,
sempre que pode, contratou educadores aos seus filhos. A partir dessas
informações nós podemos concluir que os primeiros filhos que foram “edu-
cados” por profissionais que se dedicavam a esse trabalho foram os filhos
dos poderosos: dos faraós, dos reis, imperadores, senadores romanos.

Uma das referências mais antigas que encontramos sobre o trabalho pe-
dagógico está na “Odisséia”, um dos principais poemas épicos da Grécia
Antiga, atribuído ao poeta Homero, que viveu no século VIII antes de Cristo
(a.C). No poema “Odisséia”, Homero faz referência à personagem de Men-
tor, o tutor que tem a função de disciplinar o jovem Telêmaco, filho de Ulis-
ses. Repare que no poema de Homero o tutor tem a função de disciplinar o
jovem. Read (1973) observa que na Antiguidade a palavra “disciplina” pos-
suía, originalmente, o mesmo significado que a palavra Educação, e era
entendida como sendo a instrução dada ao discípulo por um mestre sobre
qualquer assunto, quando a Educação ainda era uma prática pessoal.

Vamos transcrever um trecho de uma obra de Manacorda (1991), sobre os


modos de educar na Antiguidade. Vamos ler com atenção:

“No mundo clássico greco-romano, tinha-se produzido a crescente junção


– no interior do sistema de formação das classes dominantes – da escola
do escriba com a escola do cidadão-guerreiro, o que, em parte, significou,
a respeito das civilizações orientais, a subtração à casa sacerdotal do mo-
nopólio das ciências teóricas, da cultura e, em suma, o primeiro exemplo
de uma cultura laica, ou melhor, a superação da rígida divisão do trabalho
no interior das classes dominantes.” (MANACORDA, 1991, p. 120).

A partir da leitura da citação direta anterior, nós podemos concluir que os pri-
meiros modos de educar e as primeiras escolas que se organizaram nas so-
ciedades antigas já visavam à manutenção das classes dominantes no poder.
Também podemos concluir sobre as diferenças existentes na formação das
pessoas a depender da função que ocupariam dentro dessa classe dominante,
porém na Grécia e Roma antigas procurou-se aliar a formação do cidadão de
modo que ele pudesse dominar tanto a escrita quanto as táticas de guerra.

Na próxima aula continuaremos com essa vista panorâmica sobre a His-


tória para compreendermos a formação da Didática como um campo de
estudo próprio.

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• INFORMAÇÃO IMPORTANTE

Vamos dar uma “dica” importante sobre a produção de textos acadêmi-


cos, textos produzidos por meio de pesquisa no ambiente universitário
e científico. Nossos textos acadêmicos têm que se apoiar em pesquisa
de estudiosos reconhecidos na área do conhecimento. Esses estudiosos
publicam suas pesquisas em formato de livros, ou artigos em revistas
especializadas. Essa é uma prática que também tem sua “tradição”, seu
“código”. Por isso, em nossas aulas fazemos referência aos livros e artigos
desses estudiosos que consultamos para produzir nossos textos. Na aula
texto que acabamos de ler você encontrou:

MANACORDA (1991). O que significa isso? Que todo o trecho escrito por
mim naquele parágrafo é resultado da leitura que fiz do livro desse autor.
Como você pode saber que livro é esse?

Observe: no texto que escrevemos sempre colocamos o SOBRENOME do


autor em letras maiúsculas e a DATA de edição do livro consultado entre
parênteses. Ao final de cada unidade didática você encontra a lista de
referências bibliográficas, ou seja, todos os livros que pesquisamos para
poder produzir nossas aulas. Se você consultar a lista de referências biblio-
gráficas você vai descobrir que o livro consultado é:

MANACORDA, Mário Aliguiero. Marx e a pedagogia moderna. São Paulo:


Cortez: Autores Associados, 1991.

Esse modo de fazer referência aos autores consultados está padronizado


pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), por meio da Norma
Brasileira de Referência (NBR), de número 6023, que foi editada em 2002.

Quando queremos comprovar a exatidão das conclusões que extraímos da


leitura do livro, também podemos fazer uma “citação direta”, ou seja, pode-
mos transcrever um trechinho do livro, tal como fizemos na página 2 desta
primeira aula. Nesse caso temos que transcrever o trecho tal qual o autor
escreveu, colocar entre aspas e, entre parênteses: (SOBRENOME DO AU-
TOR, ano de publicação, página na qual se encontra o trecho transcrito).

Agora que você já está de posse dessa informação impor-


tante, faça bom uso da mesma. Nos textos que você pro-
duzir para as atividades do nosso curso, coloque sempre a
fonte consultada, o livro, ou artigo que você leu e lhe ofereceu a base para
os seus questionamentos, o fundamento para o texto que você produzir,
combinado? Afinal, aprendemos uns com os outros e faz parte da ética
acadêmica citar esse “Outro” na nossa aprendizagem.

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