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1. Neste poema nós vemos um diálogo entre dois sujeitos. Podemos nomear um de
sujeito poético (“guardador de rebanhos) e o outro de interlocutor (o que se cruza
no seu caminho). Ambos têm diferentes perspetivas da realidade.
1.1. Distingue, pois, a realidade para os dois sujeitos poéticos e evidencia as
diferenças entre a poesia de Alberto Caeiro e a de Fernando Pessoa ortónimo.
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...
1. Álvaro de Campos é caracterizado por ter três fases. Insere este poema na fase
correspondente, justificando com excertos do texto.
2. Evidencia o recurso estilístico que predomina na terceira estrofe e expõe o seu
valor estilístico.
3. O resultado das perspetivas de vida apresentada é diferente. Explica-o.
4. Os quatro últimos versos do poema são expressivos. Revela como o sujeito
poético conseguiu evidenciar este cansaço, anunciado desde logo no título.
Resolução
Alberto Caeiro - «Poema décimo»
«Muita coisa mais do que isso, A repetição da palavra “coisa(s)” remete para
Fala-me de muitas outras coisas. memórias, para uma quantidade enorme de
De memórias e de saudades acontecimentos passados, presentes e
E de coisas que nunca foram.» futuros, que surgem no interlocutor.
«Nunca ouviste passar o vento. Tudo isso são mentiras, pois a única realidade
O vento só fala do vento. é o presente/o vento. O interlocutor vive em
O que lhe ouviste foi mentira, mentira.
E a mentira está em ti.»
1. Neste poema nós vemos um diálogo entre dois sujeitos. Podemos nomear um de sujeito
poético (“guardador de rebanhos) e o outro de interlocutor (o que se cruza no seu caminho).
Ambos têm diferentes perspetivas da realidade.
1.1. Distingue, pois, a realidade para os dois sujeitos poéticos e evidencia as diferenças
entre a poesia de Alberto Caeiro e a de Fernando Pessoa ortónimo.
A realidade é distinta para os dois sujeitos poéticos. Enquanto que para o “guardador de
rebanhos” a realidade é apenas o sentir, sem pensar ou imaginar, uma vez que já existia antes
e existirá depois da sua existência (“Que é vento, e que passa”). A realidade é, assim, o momento
presente (“O vento só fala do vento”). Por conseguinte, o seu interlocutor defende que o
vento/realidade é muito mais, pois permite evocar a memória, o passado, a saudade e o futuro
(“De memórias e de saudades/E de coisas que nunca foram”).
Estas posturas distintas perante a vida parecem remeter para as filosofias de Fernando Pessoa
Ortónimo e de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa Ortónimo defende uma poesia assente no
fingimento artístico, no incómodo causado pelo pensamento, evadindo-se muitas vezes para o
sonho ou para a infância, o bem perdido, de forma a encontrar uma réstia de felicidade.
quando ele afirma “O que lhe ouviste foi mentira / E a mentira está em ti” parece que Caeiro
pretende referir-se a Fernando Pessoa como aquele que não consegue sentir as coisas como
elas são na realidade. Todavia, ao recordarmo-nos dos versos do ortónimo, este parece
responder-lhe: “Dizem que finjo ou minto / Tudo o que escrevo. Não. / Eu simplesmente sinto /
Com a imaginação. / Não uso o coração.”
Caeiro é o mestre do ortónimo e dos outros dois heterónimos e conseguiu-o com uma
linguagem simples, sem trabalho artístico da métrica e da estrofe. A poesia de Caeiro é,
assim, natural como ele.
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...
1. Álvaro de Campos é caracterizado por ter três fases. Insere este poema na fase
correspondente, justificando com excertos do texto.
Este poema pertence à terceira fase (intimista) de Álvaro de Campos, fase em que se verifica
um cansaço, um tédio, pelo excesso vivido na segunda fase, que não trouxe a felicidade
desejada (“Um supremíssimo cansaço”; “A subtileza das sensações inúteis, / As paixões
violentas por coisa nenhuma […]. Este cansaço.”) Esta é sem dúvida a fase em que Álvaro de
Campos parece ser uma extensão de Fernando Pessoa pelo seu tédio e angústia existencial.
2. Evidencia o recurso estilístico que predomina na terceira estrofe e expõe o seu valor
estilístico.
Na terceira estrofe predomina a estrutura paralelística anafórica nas seguintes passagens: “Há
sem dúvida quem…” e “Porque eu…”. Esta estrutura permite a construção de um paradoxo, que
opõe o poeta aos outros.
Aos outros, “aos idealistas”, ele atribui o amor do infinito, o desejar o infinito e até o não desejar
nada. Porém, ele autocaracteriza-se por não ser nenhum destes idealistas. Ele afirma amar
“infinitamente o finito”, desejar “impossivelmente o possível” e querer “tudo, ou um pouco
mais, se puder ser, / ou até se não puder ser…”.
Em suma, com este recurso estilístico, pretende opor a sua postura à dos três tipos de idealistas.
Forma de construção da resposta:
1. Identificação do recurso estilístico e exemplificação/justificação com o texto;
2. Reforço da oposição entre os dois, seguido de conclusão.
Nota: A estrutura paralelística consiste na repetição da mesma estrutura sintática; a anáfora
é a repetição da mesma palavra no início de cada verso.
A perspetiva de vida é diferente, logo, o resultado também será diferente. Para aqueles que
amam o infinito, a vida é “vivida ou sonhada”; para quem deseja o impossível, a vida é “vivida
ou sonhada”; para quem deseja o impossível, o sonho é “sonhado ou vivido”; para aqueles que
não querem nada, a vida é “a média entre tudo e nada”; e para o sujeito poético, a sua
perspetiva de vida só lhe aufere cansaço, mas com uma “felicidade” infecunda, pois ele descobre
uma razão para a sua fraqueza: a incapacidade de realização.
Em suma, todos são felizes, pois encontram as suas respostas de uma maneira diferente.
Forma de construção da resposta:
1. Introdução;
2. Desenvolvimento, fazendo a referência às estrofes três e quatro; a enumeração é feita,
recorrendo-se ao ponto e vírgula para não tornar a resposta extensa e complexa;
3. Conclusão, apresentando quem, segundo o sujeito poético, consegue ser feliz.
4. Os quatro últimos versos do poema são expressivos. Revela como o sujeito poético
conseguiu evidenciar este cansaço, anunciado desde logo no título.
Na última estrofe, o sujeito poético apresenta o resultado de cada perspetiva de vida. Nos
últimos quatro versos, ele acentua o seu cansaço, como sendo “infecundo”, “supremíssimo”. O
adjetivo no grau superlativo absoluto sintético (“supremíssimo”) é reforçado com a repetição
da sua terminação (“íssimo”). Esta repetição permite que a voz do sujeito poético se arraste,
fomentando, ainda mais, a ideia de cansaço.
Por fim, as reticências finais fecham o poema com a ideia de continuidade do cansaço, aquele
mesmo que já havia sido anunciado no título. É um cansaço normal (“cansaço assim mesmo, ele
mesmo, / Cansaço […]”, advindo da necessidade de amar “infinitamente o infinito”, desejar
“impossivelmente o possível” e porque quer “tudo, ou um pouco mais, se puder ser, / Ou até se
não puder ser …”
O poema inicia com a confirmação do sujeito poético a Lídia do sofrimento que o destino lhe
causa (“Sofro, Lídia, do medo do destino”). Este medo da inexorabilidade da vida perante a
morte, vai estendendo as suas ramificações pelas restantes estrofes. Assim, nos restantes versos
da primeira estrofe, ele refere metaforicamente a brevidade da vida (“A leve pedra que um carro
ergue”) e pede ao coração que se acalme, que não se inquiete, para não sofrer (“As lisas rodas
do meu carro, aterra/ Meu coração.”)
Na segunda estrofe, ele afirma afastar-se de tudo o que o muda (“odeio e fujo”). Solicita aos
deuses, aqueles que também estão sujeitos ao fatum, que deixem a sua vida, sem interferir nela
(“Deixem-me os deuses minha vida sempre / Sem renovar”).
Por fim, na terceira estrofe, através de um enjambement, ele continua a ideia anterior: pedido
aos deuses para não interferirem na sua vida, que os seus dias passem, mas que ele fique “quase
o mesmo”. Termina o poema, afirmando que deseja ir para a velhice de uma forma natural
(“Para a velhice como um dia entra/ No anoitecer.”)
Em conclusão, ele começou o poema afirmando o seu medo perante a morte, foi aditando que
recusava a mudança e terminou o poema afirmando o seu caminho para a velhice/morte, de
uma forma muito natural.
Ricardo Reis prima pelas filosofias do estoicismo e do epicurismo. Neste poema, essas
características estão bem evidentes.
A própria referência aos deuses, que nada podem fazer e que não podem controlar o futuro, é
um reflexo desta disciplina epicurista (“Deixem-me os deuses minha vida […]”).