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COLUNAS — ÉTICA edição 336

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A história do apóstolo João, o bispo e o lho que


perdeu o caminho
Paul Freston

Há uma história sobre o apóstolo João que faz parte da tradição


oral da igreja primitiva e que foi preservada nos escritos de
Clemente de Alexandria. (O artigo que eu pretendia publicar nesta
edição, a parte 2 sobre a “primavera árabe”, cará para a próxima.)
Ela conta que João, quando velho e morando em Éfeso, costumava
visitar as igrejas das regiões circunvizinhas. Em uma dessas
localidades, ele viu um menino bonito e forte, e encomendou-o ao
bispo local. Este levou o garoto para casa, o criou, o amou e,
nalmente, o batizou. Depois disso, relaxou no cuidado, e o jovem
foi corrompido por alguns moços de sua idade, que o levaram a
participar de atividades cada vez piores. Com o tempo, o rapaz se
acostumou com os crimes que a gangue cometia e, perdendo toda
esperança de salvação, decidiu se enveredar pelo caminho da
criminalidade, tornando-se chefe dos bandidos e adquirindo a
fama de o mais violento deles. Os anos se passaram e João voltou
à igreja onde havia deixado o garoto. Quando cobrou do bispo o “depósito”, este chorou e disse: “O menino está
morto”. “Morto como?” -- perguntou João assustado. “Morto para Deus” -- falou o bispo. “Ele se tornou mau,
devasso e, nalmente, um ladrão. Agora, ele domina a montanha perto da igreja.” Depois de ouvi-lo, João tomou
um cavalo e saiu sozinho em direção à montanha. Quando abordado pelos vigias da gangue, gritou: “Levem-me
ao seu chefe”. Quando João se aproximou dele, o jovem o reconheceu e, envergonhado, fugiu. João o seguiu como
pôde, apesar da idade, clamando: “Meu lho, por que está fugindo de mim? Tenha misericórdia. Não tenha medo;
ainda há esperança de vida! Eu prestarei contas a Cristo por você. Se necessário, sofrerei a sua morte, assim como
o Senhor morreu por nós. Não fuja, mas creia. Cristo me enviou!”. O jovem começou a chorar amarga e
copiosamente e abraçou João. Este o confortava dando-lhe garantias de que encontraria o perdão do Salvador.
Caindo de joelhos, João o beijou e o levou de volta à igreja. Nela, suplicou com muitas orações e -- lutando junto
dele em constantes jejuns, ao mesmo tempo em que acalmava a mente do rapaz com sábias palavras -- não
deixou a cidade até restaurar plenamente o jovem à igreja, como um prenúncio da ressurreição pela qual todos
ansiamos.
 
Agora, uma segunda história, de tempos mais modernos. Quando C. S. Lewis estava doente, pouco antes de
morrer, ele tinha um jovem secretário americano que, às vezes, saía para caminhar no parque. Lá ele via com
frequência um ateu muito conhecido que, apesar dos seus 97 anos, fazia uma longa caminhada todos os dias.
Este sempre perguntava ao americano se Lewis “já tinha morrido”. Ele respondia que estava muito doente. Ao que
o ateu reagia orgulhosamente: “Mas eu não tenho nada! Ainda vou durar muito!”. Um dia, o americano contou a
Lewis que tinha vontade de dizer a Deus que era injusto deixar o ateu vivendo uma vida tão longa e com tanta
saúde, enquanto Lewis estava à beira da morte, com apenas 64 anos. “E o que você acha que Deus responderia?” -
- perguntou Lewis. “Não sei”-- lamentou o americano. Ao que Lewis disse: “Que te importa?”. O jovem logo
entendeu que Lewis aludia à resposta de Jesus a Pedro, em João 21.22. Naquele incidente, depois de restaurar a
Pedro por meio da pergunta tríplice, “tu me amas?”, Jesus profetiza o martírio deste. Em seguida, Pedro pergunta
sobre o destino de João. Jesus responde que -- ainda que o futuro de João fosse diferente do de Pedro, a ponto de
aquele não só não morrer violentamente, mas nem sequer passar pela morte -- a Pedro cabia o: “Que te importa?
Quanto a ti, segue-me”.
 
Conto essas duas histórias, como muitos terão adivinhado, por causa da morte de Robinson Cavalcanti. As
circunstâncias chocantes do acontecimento levam a duas re exões. Primeiro, uma re exão sobre a morte
precoce (sobretudo se tomarmos como base os padrões modernos de longevidade, já que ele estava com boa
saúde). Assim como o jovem secretário particular de C. S. Lewis, somos tentados a perguntar a Deus por que uma
pessoa dessas morre aos sessenta e tantos anos, enquanto tantas outras vivem mais, sem nenhuma vantagem
aparente para a humanidade. A resposta de Lewis, que é a resposta do próprio Jesus, não “explica” nada, não
satisfaz o nosso desejo de compreensão, mas recoloca o foco em nós mesmos: “Que te importa? Quanto a ti,
segue-me”. De fato, a tradição cristã relata que Pedro sofreu uma morte violenta (cruci cado de cabeça para
baixo) aos sessenta e tantos anos de idade provavelmente. João, por sua vez, viveu até uma idade muito avançada
e partiu tranquilamente, de morte natural. Nesse caso, tanto Pedro como João foram de grande utilidade para
Deus e os homens. Porém, o princípio permanece: o destino do outro não é da nossa conta, e sim o seguir a
Jesus.
 
Em segundo lugar, a morte de Robinson e de sua esposa, Miriam, provoca uma re exão a respeito do papel do
lho. Foi uma experiência tocante ler, poucos dias depois do assassinato do casal, o texto de Clemente de
Alexandria sobre o idoso apóstolo João. De certo não há um paralelo exato entre aquela história e o que
aconteceu com
ULTIMATO eles. Robinson
ONLINE não agiu como
REVISTA o bispo da história, o menino desta não mata os pais, nem temos
LOJA
(que eu saiba), na Olinda de hoje, a gura do apóstolo João. Entretanto, tiro das semelhanças e, acima de tudo, do
desfecho da história, a lição de que enquanto há vida há esperança de mudança. Há possibilidade de que a
tragédia humana não seja, em última análise, tragédia pura.
 
A história em si recompensa o exame mais profundo, sobretudo o contraste entre o comportamento do bispo e o
de João, e a sabedoria deste em não con ar em um momento inicial de quebrantamento emocional, mas
demorar-se naquela cidade para acompanhar o jovem. Inclusive com disciplinas espirituais e ensino
personalizado, para quebrar a força das reações habituais adquiridas ao longo dos anos.
 
Nenhuma das histórias que relatei “explica” duas grandes questões: a da morte precoce (sobretudo quando
violenta) e a da angústia que todo pai ou mãe sente ao ouvir um relato tão terrível a respeito de um lho. Como
gostaríamos de ter uma receita infalível de criação de lhos! Contudo, ela não existe, pois eles se tornam seres tão
autônomos quanto nós, e não há uma relação necessária e exata entre o “desempenho” dos pais e o tipo de lho
resultante dele. Em vez de “explicações”, essas histórias nos transmitem “esperança”. E esta satisfaz em um nível
mais profundo do que a explicação.
 
Conheci Robinson logo depois que cheguei ao Brasil, em 1976. Era claro para mim que se tratava de alguém de
destaque no contexto evangélico brasileiro. Sendo ele um pouco mais velho do que eu e mais adiantado na
caminhada cristã, foi uma inspiração para mim. 
 
Certamente (é só olhar na internet), o legado de Robinson não é admirado de forma unânime dentro do meio
evangélico brasileiro. Inclusive como colunista de Ultimato, ele recebeu tanto farpas quanto elogios. Entretanto,
seria uma tragédia se as controvérsias ofuscassem o valor do seu legado em pelo menos quatro áreas:
primeiramente, na área da missão integral e na abrangência da missão cristã no mundo; em segundo lugar, no
exemplo de acadêmico cristão que relacionava fé, estudo e vida universitária; em terceiro, no exemplo de
cientista social cristão, sendo um dos evangélicos pioneiros nessas disciplinas; e, nalmente, na área da
inspiração para ligar a fé evangélica à cultura e à realidade social brasileiras. Que o legado de Robinson nessas
quatro áreas seja cada vez mais estudado e ajude na formação de outras gerações de seguidores de Cristo.
 
• Paul Freston, inglês naturalizado brasileiro, é professor colaborador do programa de pós-graduação em
sociologia na Universidade Federal de São Carlos e professor catedrático de religião e política em contexto global
na Balsillie School of International A airs e na Wilfrid Laurier University, em Waterloo, Ontário, Canadá.

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