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16 ‘© BSPIRITO DAS I ‘emo confonme a seus costumes ou a suas incinagdes € como ‘numa repiblica nao se tém dante dos clos, e de maneira Wo presente, 0 instumentes dos males dos quais se que, ¢ Como até a es parecer ilar mais os executors dle falar ‘menos, ela € nonmalmente siuada nas repablcas e excluida das monarquias. Efi, como nas democracias © povo parece ‘mais ov menos fazer © que quer, stuowse a lberdade nestes tipos de govemo e confundiu-se 0 poder do powo coma lise. dade do povo. capiruLo mt Que 6a liberdade £ verdade que nas democracias © povo parece fazer 0 ‘que quer, mas a liberdade politica no consiste em se fazer ‘0 que se quer, Em um Estado, isto &, numa sociedade onde cexistem leis, 2 liberdade 6 pode consistir em poder fazer 0 aque se deve querer ¢ em niio ser forcado a fazer 0 que no se temo direito de querer. Deve-se ter em mente o que é a independéncia e o que €. liberdade. A liberdade € 0 direito de fazer tudo o que as, leis permitem; © se um cidadao pudesse fazer © que «las proibem ele jé ndo tera lberdade, porque os outros também {eriam este poder. cAPfruLo IV Continuacao do mesmo assunto ‘A democracia e a arstocracta nao sto Estados livres por natureza. A liberdade politica s6 se encontra nos governos moderados. Mas ela nem sempre existe nos Estados modera- dos; 56 existe quando nio se abusa do poder; mas trata-se de ‘uma experiéncia etema que todo homem que possui poder € levado a dele abusar; ele vai até onde encontra limites. Quem lira! Até a vitude precisa de limites. Para que no se possa abusar do poder, & preciso que, pela disposigdo das coisas, o poder limite o poder. Uma cons- SEGUNDA PARTE 167 tinuigdo pode ser tal que ninguém sofa obrigado a fazer as coisas a que a lei ndo obriga e a nao fazer aquelas que a lei permite. caPiTUuLo v ‘Do objeto dos diversos Bstados Ainda que todos os Estados possuam em geral 0 mesmo objeto, que € conservar-se, cada Estado, no entanto, possui tum que the € particular. O crescimento era. 0 de Roma; 4 guerra, 0 da Lacedemdnia; a religito, 0 das leis judaicas; 0 comércio, 0 de Marselha; a tranqiilidade pOblica,o das leis da China'; a navegacio, o das eis dos habitantes de Rodes; ali berdade natural, 0 objeto da organizacao dos selvagens; em ‘geral, a8 delicias do principe, o dos Estados despoticos; sua sl6ria e a do Estado, o das monarquias; a independéncia de ‘cada particular € 0 objeto das leis da Poldnia; e 0 que disto resulta, a opressio de todos’ Baste também uma nagio no mundo que tem como objeto direto de sua constituisto a liberdade politica. Vamos texaminar 0s principios sobre os quais ela se fundamenta. Se forem bons, a liverdade apareceri como num espelho. Para descobrir a liberdade politica na constituicio, no 4 necessirio tanto esforgo, Se podemos vé-la onde ela est, se f a encontramos, por que procuri-la? caPiruLo VI ‘Da constituigdo da Inglaterra Existem em cada Estado trés tipos de poder: 0 poder legislativo, 0 poder executivo das coisas que dependem do direto das gentes e 0 poder executivo daquelas que depen- dem do direito civil ‘Com o primeiro, o principe ou o magistrado cria leis por uum tempo ou para sempre e corrige ou anula aquelas que oram fetas. Com o segundo, ele faz a paz ou a guerra, en- via ou recebe embaixadas, instaura a seguranca, previne inva 168 ogspinsTo Das 1s ses. Com 0 terceio, ele castiga os crimes, ou juga a8 que rela entre 0s partculares. Chamaremos a este tltimo poder de julgar e 20 outro simplesmente poder executivo do Es ‘ado. A liberdade politica, em um cidadao, € esta tranquilidade de espito que provém da opiniao que cada um tem sobre a sua seguranca; e para que se tenha esta liberdade & preciso ue © govemo seja tal que um cidadao nio possa temer outro cidadio, ‘Quando, na mesma pessoa ou no mesmo corpo de ma- ssistratura, 0 poder legislatvo esté reunido a0 poder executi- Vo, no existe lberdade; porque se pode temer que o mes- ‘mo monarca ou 0 mesmo senado cri leis tiknicas para exe ccutélas tranicamente ‘Tampouco existe liberdade se 0 poder de julgar nto for separado do poder legislative e do executivo, Se estvesse lunido a0 poder legislativo, o poder sobre a vida e a liberdade dos cidados seria arbitrrio, pois 0 juz seria legislador. Se estivesse unido a0 poder executvo, o juiz poderia tera forga ‘de um opressor. Tudo estaria perdido se o mesmo homem, ou 0 mesmo ‘corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo exercesse 0 trés poderes: 0 de fazer as les, 0 de executar as resolu- (es pablicas e 0 de julgar os crimes ou as querelas entre 0s paticulares 'Na maioria dos reinos da Europa, o governo & modera- do, porque o principe, que possui os dois primeiros pode- deixa 2 seus stiditos 0 exercicio do terceiro, Entre os tur 0s, onde estes tr€s poderes estao reunidos na pessoa do sultio, reina um horsivel despotismo, Nas repiblicas da tilia, onde estes tés poderes estd0 reunidos, se encontra menos liberdade do que em nossas monarquias. Assim, o govero precisa, para se manter, de meios t20 violentos quanto 0 governo dos turcos; prova disto ‘Slo 0s inquisidores de Exadot e 0 tronco onde qualquer delator pode, a qualquer momento, langar um bilhete, com sua acusagio, ‘Vejam qual pode sera situalo de um cidadlo nestasre- ppablicas. O mesmo corpo de magistrtura possui, como exe- SEGUNDA PARTE 169 ctor das leis, todo 0 poder que se aibuiu como legislador. Pode arasar 0 Esado com suas vontades gerais , como tam- bem possui o poder de jugar, pode destuir cada cidadio com suas vontades patculares. {Ali todo 0 poder € um 36, anda que nio tea a poms pa exterior que revela um principe despetic, ele fase sent todo instante. Assim, 08 principes que quiseram tomar-se despoticos sempre comegaram por reunie em sua pessoa todas as magis- traluras, e viros rls da Europa reuriam todos os grandes ‘cargos de seu Estado, ‘Creio que a pura arstocracia hereditra das repablicas 4a Iulia nao corresponde precisamente a0 despotsmo da ‘sia. A mulidio de magisrados suavza por vezes a magis: ‘watura; nem todos 08 nobres possuem Sempre Os Mesos objetvos; formamse diversos tbunais que moderam uns 08 outros. Assim, em Veneza, 0 grande conselho tem a le- Bislacio, o prada execugao, os quarena,o poder de jul far. Mas 0 mal esl em que estes diferentes uibunals 20 for ‘mados por magistados Go mesmo corpo, © que constitu um mesmo poder. (poder de jlgar no deve ser dado a um senado per- manente, mas deve ser exercido por pessoustradas do Scio {do povo! em certs momentos do ano, da manera prescra pela le, para formar um tbunal que s6 dure 0 tempo que a necessidade requer. esta forma, © poder de jugar, to tesvel entre 0s ho- mens, como mo ett lgado nem a cero estado, nem a cena profiseo, toma-se, por assim dizer, invisvel e nulo. Nao se {tm continuamente juizes sob os olhos, e teme-se a magisra- tra, ¢ no os magisrados. E até mesmo necessirio que, nas grandes acusagoes, 0 cximinoso, de acordo com ale, escolha seus julzes; ov pelo ‘menos que possa recusar tm nimero to grande deles que aqueles que sobrarem sejam tidos como de sta escolha ‘Os dois outros poderes poderiam ser dados anies a smagisados ou a corpos permanentes, porque nlo slo exer ids sobre neahum particular, endo wm apenas a vontade genl do Esado, 0 outa exccusao desta Vontade ger 170 ( ssplRrTO Das 1x15 ‘Mas, s¢ 0s tribunals no devem ser fxs, 0S julgamen- tos devem sé-lo a tal ponto que nunca sejam mais do que lum texto preciso da lei. Se fossem uma opinio particular do juiz, viverlamos em sociedade sem saber precisamente 0s ‘compromissos que ali assumimos. E até mesmo necessirio que os julzes sejam da mesma condigdo do acusado, ou seus pares, para que ndo possa pen- ‘sar que caiu nas mios de pessoas inclinadas a lhe fazerem violencia Se 0 poder legislative deixa a0 executivo 0 direto de render cidadios que podem dar caugi0 de sua conduta, rio hé mais liberdade, a menos que scjam presos para res. ponder, sem postergaglo, a uma acusagao que @ lei tomo capital neste caso, estio realmente livres, ji que estio sub- ‘metidos apenas a0 poder da li ‘Mas se 0 poder legislativo se acreditasse em perigo de- vvido a alguma conjuragio secreta contra 0 Estado, ou a al- _gum entendimento com os inimigos de fora, ele poderia, por ‘um tempo curo¢ limitado, permits ao poder executivo man- dar prender os cidadios suspeitos, que s6 perderiam sua liberdade por um tempo para conservi-la para sempre. Eeeste € 0 tinico meio conforme 8 razio de suprir 8 ma- sistratura tirhnica dos éforos e dos inguisidores de Estado de ‘Veneta, que também sio despétics. ‘Como, em um Estado livre, todo homem que suposta- ‘mente tem uma alma live deve Ser governado por si mesmo, seria necessirio que 0 povo em conjunto tivesse © poder legislativo. Mas, como isto € impossvel nos grandes Estados © sujeto a muitos incoavenientes nos pequenos, € preciso que fo povo faga através de seus representantes tudo 0 que #0 pode fazer por si mesmo, ‘Conhecemos muito melhor as necessidades de nossa ci- dade do que as das outras cidades, e julgamos melhor a ca- pacidade de nossos vizinhos do que a de nossos outros com= patriots, Logo, em geral nao se devem tirar os membros do corpo legistativo do corpo da nacio, mas convém que, em ‘cada lugar principal, os habitantes escolham urn representan- te para si SEGUNDA PARTE m A gande vantagem dos representanes € que eles sio capazes de discus asuntos, © povo ndo € nem um pou Co capaz dio, 0 que consul um dos grandes inconvenien- tes da democracta, ‘Mio € necestirio que os representantes, que receheram daqueles que os escolheram una instrogio geal recebamn ‘uta paricular sobre cada assunto, como Se pratica nas di ‘tas da Alemanha. £ verdade que, desta maneira, a palavra dos deputades seria melhor expresio da vor da ragio; nas isto provocaria demorasinfinias, omata cada deputado ‘ senhor de todos 0s outros, e nas ocasioes mais urgents, toda a forga da ragao podera ser eid por um capicho. ‘Quando os depulados, como diz muito bem sidney, re- peesentam vim grupo de pessoas, como na Holand, devem Dresar conta tucles que os elegeram: 0 mesmo M80 ocOme {uando sto deputads pelos burg, como ta Ingatera, Todos os cidadios, nos diverscs dso, devem ter 0 dlicto de dar seu voto para esolher seu repesertante; exce- to aqueles que esto em tl esado de baixeza, que se const ders que ndo tem voniade propre, Hava um grande vicio na maira das anigas repabli- cas: € que 0 povo tnha o direto de tomar decisdesatvas, que demandavam alguma execugio, coisa da qual ele € in- Gipar. He +6 deve paniipar do govemo para escolher sews representantes, 0 que est bem a sev alcance. Poi, se hi outs pessoas que conhecem ogra preciso da capacidade dos homens, cada um € capaz, no entato, de saber, em ge- tal se aquele que escolhe € mais eslareido do que a maio- fa dos outs, (© ‘corpo representante tampouco deve scr excolhido part tomar alguma deciso aia, coisa que no fara direto, nas pars fazer leis, ov para ver se foram bem execwtadas acquelas que fez, coisa que pode muito bem fazer, até mes. mo, 96 ele pode fazer bem. Sempre hd, num Estado, pesoas distintas pelo masci- mento, pelas riquezas ou pelas honras; mas se elas estives- ‘sem confunidas no meio. do povo e 36 tvessem uma vor como a dos outros a iberdade comm seria sua escravidio, ¢ clas nao teiam nenhum interesse em defendela, porque & m O wsPlerTo Das Las imaioria das resolugdes & contra elas. A parte que thes cabe na legislagio deve entio ser proporcional as outras vanta- ‘gens que possuem no Estado, o que acontecerd se formarem lum corpo que tenha 0 direito de limitar as iniciativas do ovo, assim como 0 povo tem o direito de limtar as deles. ‘Assim, 0 poder legislative sera confiado a0 corpo dos robres e a0 corpo que for escolhide para representa 0 po- vo, que terto cada tim suas assembletas e suas deliberagdes separadamente, e opinides e interesses separados. ‘Dos trés poderes dos quais falamos, o de julgar €, de alguma forma, nulo, $6 sobram dois; e, como precisam de ‘um poder regulador para moderi-los,a parte do corpo legis- lav que € composta por nobres € muito adequada para produzir este efeito. ‘© corpo das nobres deve ser hereditio, Ele o € em. primeiro lugar por sua natureza; e,aliés, € preciso que pos- Sua um grande interesse em conservar suas prerrogativas, ‘odiosas por si mesmas, e que, num Estado livre, devem sem- pre estar em perigo. ‘Mas, como um poder hereditério poderia ser induzido a seguir scus interesses particulares e a se esquecer dos do ovo, & preciso que nas coisas em que se tem muito interes- se em corrompé-lo, como nas leis que concemem & arreca- dacao de dinheiro, ele $6 participe da legislagio por sua fa- cculdade de impedir, endo de estar. CChamo faculdade de estatuir 20 direito de ordenar por si mesmo, ou de corrigir 0 que foi ordenado por outrem. CChamo faculdade de impedir ao direto de anlar uma resolu- ‘o tomada por outrem 0 que era © poder dos tdbunos de Roma. E ainda que aquele que possua a faculdade de impedir também possa ter © dreito de aprovar, no entanto, esta apro- vagio nao & mais do que uma declaracio de que ele nao faz uso da faculdade de impedire deriva dest faculdade. (© poder executivo deve estar entre as mios de um mo- area, porque esta parte do governo, que precisa quase sempre de uma acio instantinea, € mais bem administrada por um do que por virios; a0 passo que o que depende do poder legislativo 6 com frequéncia mais bem ordenado por muitos do que por um s6. SEGUNDA PARTE m3 Pols, se no houvesse monarca e o poder executive fos se confiado a um certo nlmero de pessoas tiridas do compo legislative, no havera mais liberdade, porque os dois pode- res estariam unidos, pancipandlo as mesmas pessoas, por vvezes,e podendo sempre participar de um e de outro. Se 0 corpo legislative passase tm tempo considervel sem se reuni, nio haveria mais liberdade. Pos acontecera uma destas duas coisas: ou ndo haveria mais resolugio legisla twa, € 0 Estado cairia na anarqua; ou estas resolugoes seam tomnadas pelo poder executivo, eel se tamara absolito Seria inl que o compo leislaivo estvesse sempre ret ido, Seria incémodo para os representantes , als, ocupa- tia demais 0 poder executivo, que nlo pensatia em execu- tar, mas em defender suas prerrogativas € o dito que tem de executar. ‘Alem disto, seo corpo lepsaivo estivesse continuamen- te reunido, poderiaacontecer que 6 se chamariam novos de putados para o lugar daqueles que momesiem,e, neste ca, ‘uma vez corrompido 0 corpo legislatvo, 0 mal no tera re rmédio. Quando diversos corps leisativos sucedem uns 205, Coutres, 0 povo, que tem ma ma opinizo do compo legislatvo tual, coloca, com razio, suas esperangas naqucle que vrk depois. Mas se fosse sempre 0 mesmo corpo, © povo, vendo- © wma vez corrompido, nao esperaia mais nada de Suas leis tomar sea furioso, ou cairia na indolénca ‘0 corpo legisltivo no deve convocar si mesmo, pois se considera que um corpo #8 tem vontade quando est re ido; e, se nlo se convocasse unanimemente, alo se saberia dizer que pare seria verdadeiramente 0 corpo legislaivo: a ‘que estivesse reunida, ou aquela que mo estivesse. Se pos- suisse 0 direto de promogar a si mesmo, podria acontecer «que nao se prorrogasse nunca, © Ue seria erigeso No aso fem que quisesse atentar contra © poder executivo.além dis: $0, existe perddos mais convenientes do que outros para a reinido do corpo legslaiv: logo, & preciso que scja 0 poder executivo que regulamente a época e a duragdo destas assem- bieias, em relagto s crcunstancias que conhece Se 0 poder executvo no tive 0 dirlto de limitar as in ativas do corpo legislavo, este serk despbtico; pois, como m4 (O-BSPIRITO DAS Lé15 cle podert ouorgarse todo 0 poder que puder imaginr, anulard os outros poderes. ‘Mas no € precio que o poder legsatvo tenha rec- procamente a fauldade de limitar 0 poder executivo, Pos, Sendo a execucao limtada por naturea, & init lit 2lém do que o poder executvo exerce-se sempre sobre co. Sas morentiness,E 0 poder dos trbunos de Roma era vi cioso, enquanto nto somentc lmitava a lgislagao como também a propria execugd, o que causava grandes males ‘Mas, a, num Estado live, 0 poder legativo no deve tero dircto de fear o poder executvo, tem o diet e deve tera faculdade de examinar de que maneia asks que cou foram exccutadas e € esa a vantagem que possi ete go- vero sobre on de Creta eda Lacedemonia, onde os cosmos 0s foros nio prestavam contas de ua administarlo Mas, qualquer que seja este exame, 0 corpo legilativo no deve ter o poder de ulgara pesta e por conseguint, 2 ‘onduta daquee que execu. Sua pesca deve ser aro, porgue, sendo necessra para 0 Estado para que o compo le Bilao do se tome tirnico, a partir do momento em que fosse acusado ou julgado, nao haveria mais liberdade. Neste caso, 0 Estado nio seria uma monaruia, © sim ‘uma repablcando live. Ma, como aquele que executa m0 pode exccutar mal sem ter maus conslhetos, que odelam 2 leis enquanto ministos, ainda que clas os favorecam en- {quanto homens, estes podem ser procuradoe © punidos. Esta a vantagem deste gavemo sobre 0 de Cnido, onde, como 2 Tei no autorizavaa levar a jlgamento os “amimones", ‘mesmo apés sua administraio’, 0 povo nunca podia cobrar 2 injustigas que the haviam feo ‘Embora em geri o poder de jugar nto deva extaruni- do a nenhuma pane do legit, ito est suo a ues excerbes, findadas no interesse particular daquele que deve ser julgado. (Os grandes esti sempre expostos a inva, ese fossem jnlgados pelo povo poderam esar em pengo, © mio gos. tam do privilgio que possi © menor dos cidadios, num Exado lire, qve € 0 de sr fulgado por ses pares. Assim, € pretao que’os nobre sg levadon io ae tibunais cr ‘SEGUNDA PARTE 175 nrios da nacio, e sim a esta parte do corpo legislativo que & composta de nobres. Poderia acontecer que a lei, que & 20 mesmo tempo cla- rividente e cega, fosse, em cenos casos, rigorosa demais, ‘Mas 08 juizes da nacio sfo apenas, como jf dissemos, a boca que pronuncia as palavras da lei sio seres inanimados ‘que nao podem moderar nem sua forra, nem seu rigor. As sim, 6a parce do corpo legislaivo que acabamos de dizer ter sido, em outra oportunidade, um tribunal necessirio que se ‘mostra de novo necesséria agora; sua autoridade suprema deve moderar a lei em favor da propria lei, sentenciando ‘com menos rigor do que ela. Poderia ainda acontecer que algum cidado, nos negé- os piblicos, violas os direitos do povo e cometesse crimes {que 0s magistrados estabelecidos nao soubessem ou ndo qui- sessem castgar. Mas, em geral, © poder legislativo nao pode julgar e © pode menos ainda neste caso panicular, onde ele representa parte interessida, que € 0 povo. Logo, ele $6 pode ser acusador. Mas diante de quem fari a acusagio? Tri rebaixar-se diante dos tibunais da lei, que Ihe sioinferores © ‘compost, aliés, de pessoas que, sendo do povo como ele, seriam levadas pela autoridade de to grande acusador? Nao: preciso, para conservar a dignidade do povo ¢ a seguranga, do particular, que a parce legislativa do povo faca a acusagdo perante a pare legisativa dos nobres, que nio tem nem os ‘mesmos intesesses, nem as mesmas paixées que ela, sta € a vantagem que possu este governo sobre a mai fia das repOblicas antigas, onde havia tal abuso, € 0 povo fea ao mesmo tempo juiz.e acusador. © poder executivo, como jd dissemos, deve panicipar da legislagao com sua faculdade de impedit, sem o que ele seria logo despojado de suas prerrogativas. Mas se poder legislativo participar da execucio © poder executivo estari Jgualmente perdido. ‘Se o monarca participasse da legislagdo com poder de decidir, nao haveria mais liberdade. Mas, como & necessirio, no entanto, que partcipe da legslacao para se defender, preciso que tome parte nela com a faculdade de impedie. 176 (© BSPIRITO DAs L&I A causa de que 0 govero tenha mudado em Roma foi ‘que 0 Senado, que tinha uma parte do poder executivo, ¢ 08 ‘magistrados, que tinham a outa, no possuiam, como © po- vo, a faculdade de imped is entlo a constituigio fundamental do governo de que falamos. Sendo 0 corpo legislaivo composto de duas partes, uma prende a outa com sua mitua faculdade de impedir. Ambas estardo presas a0 poder executivo, que esta- ele mesmo preso 20 legislativo. Estes trés poderes deveriam formar um repouso ou uma inagao. Mas, como, pelo movimento necessério das coisas, les slo obrigados avangar, serio obrigados avangar concertadamente. ‘Como o poder executivo 56 faz parte do legistativo com sua faculdade de impedis, nto poderia participar do debate das questdes. Nao nem mesmo necessirio que proponha, porque, podendo sempre desaprovar as resolucoes, pode rejeitar as decisdes das propostas que niio gostaria que tives- sem sido feitas Em algumas republicas antigas, onde o povo em con- junto debatia as questdes, era natural que o poder executive as propusesse e as debatesse com ele; sem isto, haveria nas resolugdes uma estranka confusto. Se o poder executivo estatuir sobre a arrecadagao do di- ‘theiro pabico de outra forma que ndo a de seu consenti- mento, nfo haveri mais liberdade, porque ele se tomar legislativo no ponto mais imporante da legislagto. ‘Se 0 poder legislaivo estani, no de ano em ano, mas ppara sempre, sobre a arrecadagio dos dinheiras_piblics, Corre o rsco de perder sua liberdade, porque o poder exec tivo no dependerd mais dele; e quando se possui tal direito para sempre & bastante indiferente que o recebamos de nés ‘4 de outrem. O mesmo ocorre se ele estatuir, nao de ano em {ano, mas para sempre, sobre as forcas de terra ¢ de mar que deve confiar a0 poder executivo. Para que aquele que executa no possa oprimir, & pre- ‘iso que 05 exércitos que se lhe confiam sejam do povo € tenham 0 mesmo espirito do povo, como aconteceu em Roma até a época de Mario. E, para que sea assim, 36 exis- SEGUNDA PARTE 7 tem dois meios: ou que aqueles que sio empregados no txercto possuam bens suficientes ara responder por a onda perante os outros cidadios ¢ 56 escjum aistados por um ano, como se prticava em Romi; 0, se 8 poss tim corpo de tropas permanent, onde os sokdadoss#0 uma das partes mais vis da nagio, é preciso que o poder legislati- ‘vo posta dsolvé-to quando quiser, que os sldados morem ‘om os cidadios © mio haja'nem acampamento separado, nem casema, nem prag de goers ‘Uma vez esabeleido 0 exéreto, ele nto deve depen- der imediatamente do como leisltvo, ¢ sim do poder exe- ‘tvo, esto pela natures da coisa, consstindo sua atau ‘lo mas em aga0 do que em deliberaio. ‘E da maneira de pensar dos homens que se valorize mais 4 coragem do que a tmider, #atvidade do que» pradéncia; 4 forga do que'os conselhos. O exéreto sempre desprezart tm senado erespetars seus ofciais. Nao daa importing 4s ordens que Ihe serto enviadas da pare dem compo ‘omposto por homens que acharatimidos por iss indig- nos de comandalo. Assim, to logo 0 exércto depender Uricamente do compo legisivo, 0 governo se tomar ait tar Ese alguma ver aconteceu 0 contro, foi em raz de Slgumasciteunstindas exraodinrias, ou porque o exercRo ‘est sempre separado, ov porque ele € compost de viros ‘compos que dependem cada um de sua provincia particular, ‘ou porque as ckdades capitis s40 pragasexcelentes, que se ‘rotege s6 por sua steaglo e onde mio hi wopas ‘A Tolanda goza de ainda maior seguranga do que Ve- neta; ela afogaria a8 ropasrevotads, ela as faa morer de fome. Els no se encontram em citades que poderam dar- thes subsite; logo, esta subsistincia € preci. Se, no caso em que 0 exérito€ goverado pelo corpo legislatv, crcunstinias paicularesimpedirem governo de se tomar mit, caitse-a em outros inconvenienes, de ‘dua coisas, uma: ou sera necestrio que o exérto desta ‘ governo, ou que o govero enfaqueya 0 exert este enfaquecimento ter uma causa muito fata: nas cert da propria fraqueza do gover. 178 O ssPiRETO DAS LEIS Se quisermos ler a obra admirivel de Téclto, Sabre os costumes dos germanos®, veremos que foi deles que 08 in- sleses traram a idéia de seu governo politico. Este belo sis- tema foi descobento nos bosques Assim como todas as coisas humanas tém um fim, © Es- tado do qual falamos perderi sua lberdade e perecerd, Roma, Lacedem@nia © Canago pereceram. Ele perecerd quando 0 Poder legislativo for mais comupto do que 0 poder executvo. Nao € de minha algada examinar se os ingleses gozam atualmente desta lierdade ou no, Para mim € suficiente dizer que ela estl estabelecida por suas les, e no vou além. ‘io pretendo com isto rebaixar 0s outros govemos, ‘nem dizer que esta extrema liberdade politica deve mortficat aqueles que 56 gozam de uma liberdade moderada. Como eu dia tal coisa, eu que penso que até mesmo o excesso de razio nem sempre € desejivel e que os homens se acomo- ‘dam sempre melhor nos meios do que nas extremidades? Harrington, em seu Oceana, também examinow qual cra o mais alto grav de liberdade a que a consttuicdo de um. Estado pode ser levada, Mas pode-se dizer dele que 56 pro- ccurou por esta liberdade depois de havé-la desprezado e ‘que construiu Calcedénia tendo a costa de Bieancio diante dos ols, capfruLo vir Das monanqulas que conbecemos ‘As monarquias que conhecemos no possuem, como aquela da qual acabamos de falar, a lberdade como objeto dliteto; elas 86 tendem para a gloria dos cidadaos, do Estado «edo principe. Mas desta gléca resulta um espirto de liberda- de que, nestes Estados, pode fazer coisas tio grandes e talvez contribuir tanto para a felicidade quanto a propria iberdade, elas, 0s ts poderes ndo estio distribuidos e fundidos ‘segundo 0 modelo da constinicio da qual falamos. Possuem ‘cada um uma distribuigio particular, segundo a qual se apro- ximam mais ou menos da liberdade politica; e, se dela ndo se aproximassem, a monarquia degeneraria em despotsmo. SEGUNDA PARTE 179 ‘CAPITULO Vu Por que os antigos ndo tinbam uma idéia muito ‘clara da monarquia (0s antigos no conheciam 0 govero fundado num cor ‘po de nobreza,e ainda menos © governo fundado num corpo Iegislavo formado pelos representantes de uma nacio. AS repoblicas da Grécia eda Tala eram cidades que possum ‘cada uma seu governo € reuniam seus cidadios dentro de SUS muros. Antes qUe os romanos tivessem absorvido todas as reptblicas, quase no havia rei em lugar nenhum, na Iulia, na Gali, na Espanha, na Aleman; tudo eram peque- ros povos ou pequenas repablicas; a a Africa estava sub- metida a uma grande; 2 Asia Menor estava ocupada pelas ‘coldnias gregas. Logo, ndo havia exemplo de deputados de ‘idades nem de assembléias de Estados; precisava-se ir até a Pérsia para encontrar 0 governo de um s6. i erdade que havi republics federaivas; vis cid des enviavam deputados a uma assembleia. Mas afirmo que ‘no havia monarquia baseada nesse modelo. Eis como se formou o primeiro plano das monarquias ue conhecemos. As nagGes gerfnicas que conguisaram 0 império romano eram, como se sabe, muito livres. E s6 ler sobre este assunto Ticito, Sobre as castumes dos germanos. Os conquistadores espalharam-se pelo pais; moravam nos campos pouco nas cidades. Quando estavam na Ger minia, toda a naglo podia reunirse. Quando foram disper- sos pela conquista, 140 0 puderam mais. No entanto, era preciso que a nagio deliberaste sobre seus negocios, como © fazia antes da conquista: ela o fez através de representan- tes. Eis a origem do govemo gotico entre nés. Foi, no inicio, uma mistura de aristocracia e de monarquia, Havia o incon” veriete de que o bao povo er escrvo. Eun Dom Bo ‘verno que tinha em sia capacidade de se tomar melhor. Costume velo dar carta de alfa, e logo liberdade civ do povo, as prerrogativas da nobreza e do clero, 0 poder dos res encontraramse em tal concerto, que no creio que tenha havido na terra um governo to bem moderado quan- to. foio de cada pare da Europa durante 0 tempo em que

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