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Artigo

Pensar desde a América Latina: em defesa


das epistemologias do Sul*
Suze Piza**

Resumo Abstract
O artigo trata dos limites e da extensão da produção The article deals with the limits and extent of the
de conhecimento na América Latina tal como tem sido production of knowledge in Latin America as it has
praticada na maior parte das instituições de nosso con- been practiced in most institutions of our continent.
tinente. Partindo do questionamento das bases episte- Starting from the questioning of the epistemological
mológicas consideradas universais, propõe-se a quem bases considered universal, it is proposed to the one
se pretende pesquisador/a nas Humanidades uma who seeks in the Humanities a radical positioning by
tomada de posição radical pelas Epistemologias do Sul the Epistemologies of the South so that it is the pro-
para que seja produção de um conhecimento situado duction of a knowledge situated with a geographical,
com sentido geográfico, histórico e ético nas mais diver- historical and ethical sense in the most diverse areas
sas áreas do conhecimento. of the knowledge.
Palavras-chave: América Latina. Conhecimento. Epistemo- Keywords: Latin America. Knowledge. Epistemologies of
logias do Sul. the South.

A produção de conhecimento na Fi- de uma ciência humana contemporâneas


losofia e nas ciências humanas precisa ser verdadeiramente críticas e que sejam fun-
pensada. É necessário reconsiderar as bases dadas em outro terreno que não o do pre-
epistemológicas que fundam nosso pensa- conceito travestido de evidência filosófica
mento sobre o mundo e, sobretudo, os con- e científica. Nossos currículos nas escolas
ceitos que formam a semântica pela qual te- de educação básica e nas universidades,
mos pensado e pela qual nos compreende- com raras exceções, reproduzem teorias
mos como pessoas, como sociedade e como do passado como se fossem teorias do pre-
intelectuais. Existe todo um caminho a per- sente, e de forma, muitas vezes, acrítica. A
correr para a construção de uma Filosofia e maioria das grandes teorias estudadas nas

* Data de recebimento: 21/11/2017.


** Suze Piza é filósofa, professora no Programa de Pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal do ABC (UFABC), na linha de Ética
e pensamento político. Doutora em Filosofia pela Unicamp, organizadora da obra Subjetividade e ética na América Latina, publicada pela
Editora Nova Harmonia.
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mais diversas áreas das Humanidades foi plo, Jessé de Souza, sociólogo brasileiro, tem
produzida em outros contextos histórico- se empenhado em evidenciar o quanto a dis-
-geográfico-culturais sendo, consequen- tinção entre povos racionais (ou do espírito
temente, deslocada de nossos problemas. – europeus) versus povos passionais (ou do
Quando isso ocorre, as teorias muitas vezes corpo – africanos, latino-americanos) é base
acabam por legitimar aquilo que deveriam de um dos grandes mitos fundadores do
denunciar. Brasil e um grande farsa inventada por uns
As bases epistemológicas usadas ao e repetidas por muitos, com grande prejuízo
longo dos últimos séculos na América La- para a leitura que fazemos de nossa socieda-
tina foram tomadas por nossos intelectuais de, a qual reverbera até hoje.
como bases universais. A produção teórica O papel dos mitos fundadores sempre foi
europeia e a produção teórica latino-ameri- criar identidade, criar elos e construir socie-
cana europeizada1 partiram do pressuposto dades e nações, mesmo se criados com base
de que o que se diz na Europa, e mais re- em fantasias – o importante nunca é que eles
centemente nos Estados Unidos, se refere sejam verdadeiros, e sim que o povo ao qual
ao humano universal, a todos os humanos eles se referem acredite neles e os reprodu-
e, portanto, diria respeito a nós também. za como verdade. A visão que temos de nós
Muitos dos textos e obras que são ensina- mesmos está aí fundada e é ponto de partida
dos e repetidos em nossas instituições es- para nosso conhecimento sobre o mundo.
colares têm como única garantia de geniali- Esse ponto de partida não é do senso co-
dade e contribuição filosófica ou científica o mum, como apregoa quem atua nas Huma-
fato de seus autores terem nascido em con- nidades, e sim também dos filósofos e dos
tinentes que têm a prerrogativa de produzir cientistas das ciências humanas.
conhecimento sobre o mundo. Seja na Filo- Em que os filósofos brasileiros têm
sofia, na Sociologia, na História, na Antro- acreditado? Em que quem produz ciência
pologia, na Psicologia, na Psicanálise, nos humana no Brasil tem acreditado? Quais
vemos cercados por teorias que só são estu- são os mitos que sustentam a visão que
dadas e reestudadas pois foram produzidas temos de nós mesmos? Por que teorias
em determinado território.2 das Humanidades que nos desfavorecem
A genialidade de muitos teóricos da Filo- como povo e limitam nossa capacidade
sofia e das ciências humanas está apenas na de compreender nosso mundo continuam
sua certidão de nascimento, essas teses têm a ser reproduzidas sistematicamente por
seguido entre nós sem crítica e os grandes nós? Essas questões precisam ser enfren-
mitos fundadores de nossas sociedades la- tadas, precisamos questionar nossos pres-
tino-americanas (presentes em grande parte supostos. Defendo que parte significativa
dessas teorias clássicas do mundo antigo ou dos trabalhos produzidos hoje por nós re-
da chamada modernidade) são reforçados flete a pobreza espiritual que temos dentro
década a década. Apenas a título de exem- das universidades, e tal pobreza é oriunda

1 Aquela que é produzida na América Latina com pressupostos, teses e conteúdo estrangeiro, europeu ou estadunidense.
2 Se parte dessas teorias sobre o “humano” se tivesse sido produzida na África ou na América Latina seria motivo de escárnio.
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da mesma pobreza que temos no que cha- a partir de e desde nossas origens. Ser origi-
mamos de espaço público. nal, em suma, é tratar daquilo que nos diz
Não há crítica verdadeira das bases respeito como povo.
epistemológicas que nos orientam, as crí- Apesar de ter como foco a produção do
ticas empreendidas por nós estão sempre conhecimento nas Humanidades, quero
dentro dessas bases, o que nos leva ao chamar atenção em especial para uma de-
máximo a ser vanguarda. Em última ins- las, a Filosofia, até porque não há nenhu-
tância, continuamos dentro do mesmo ma das Humanidades que prescinda dela
modelo de pensamento inócuo. A mu- na sua produção de uma ou outra maneira.
dança desse estado de coisas exige uma Há uma obra pouco conhecida (e, quando
reconstrução das matrizes institucionais conhecida, nada reconhecida) no mundo da
que nos orientam todos os dias e que mo- Filosofia no Brasil que será trazida aqui por
delam nosso pensamento. Meu objetivo mim para iniciar a reflexão sobre reprodu-
neste texto é problematizar esse contexto ção sem crítica de teorias no Brasil. Roberto
epistemológico em que estamos inseridos Gomes, filósofo e escritor, escreveu um li-
e propor uma tomada de posição dos(as) vro que faz uma crítica ostensiva à falta de
pesquisadores(as) a favor de epistemolo- personalidade e originalidade dos filósofos
gias situadas. no Brasil.3 Trata-se da obra Crítica da ra-
zão tupiquim. Esse texto, já em sua 12a edi-
ção, mas demasiadamente desconhecido no
Pensar desde e não apenas na meio filosófico, faz de maneira bem-humo-
América Latina rada uma leitura do tipo de racionalidade
Pensar na América Latina não é su- (filosófica?) que há entre-nós.
ficiente para superar o estupor teórico e Examinando nossa razão tupiniquim,
prático em que nos encontramos, pois há Roberto Gomes (1990) caracterizará nos-
muito conhecimento produzido na Amé- sa razão como afirmativa, ornamental, de-
rica Latina. É necessário pensar desde a pendente e deslocada. O filósofo invoca,
América Latina, promover um pensar que em muitos momentos, Mario de Andrade,
tenha sentido para nós, que contribua para por motivos óbvios (o passado é lição para
que vivamos melhor e para que possamos se meditar não para reproduzir). Não en-
superar o que nos torna social, econômica traremos aqui em uma das discussões mais
e culturalmente subalternos em relação a fundamentais da obra, que é a relação entre
outros povos e em relação a nós mesmos. Filosofia e cultura, queremos apenas chamar
A proposta de um pensar desde é a de um a atenção para a caracterização dessa razão
pensar original – o que não significa pensar brasileira, para talvez compreender o atual
o que ninguém nunca pensou ou ainda usar estado de coisas em torno da mera reprodu-
a produção teórica como produto de inova- ção e de uma infindável produção de comen-
ção, novidade: o pensar original é o pensar tários filosóficos em nossas universidades.

3 A crítica pode ser facilmente estendida às ciências humanas.


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Roberto Gomes fala em uma Razão de mera cópia. Especificamente no


afirmativa, pois contrariando toda a histó- período moderno, filósofos europeus
ria da Filosofia, em que filósofos negam uns como Descartes, Kant, Schopenhauer,
aos outros – negam seus mestres e negam, Nietzsche e Heidegger, entre muitos
portanto, o passado –, os filósofos brasilei- outros, acentuaram veementemente
ros ocupam basicamente seu tempo com este caráter pessoal e próprio do ato de
a afirmação das teorias já desenvolvidas e, pensar. A Filosofia europeia é resul-
normalmente, afirmando as interpretações tado de uma grande coragem existen-
mais correntes dessas filosofias. Interpre- cial, de um poderoso ato de vontade
tações não esperadas, não pensadas ou que criadora. (2013, p. 214).
ultrapassam muito o limite do comentário
são consideradas errôneas e acusadas, mui- Tanto Roberto Gomes quanto Julio Ca-
tas vezes, de não representar a Filosofia em brera concordam com o fato de que a Filo-
questão. Quando é escutada, essa interpre- sofia deveria estar ligada à criação de algo
tação ousada passará a vida em um tribunal e não apenas à reprodução ou cópia do que
de justificativas e defesas. já existe. A natureza da modernidade está
Alerta Roberto Gomes, intimamente ligada ao uso do próprio inte-
lecto. E isso exige certa independência do
Antes de mais nada, Sócrates diz intelecto do outro.
não a tudo que o precede, como Tales A chamada razão tupiniquim é tam-
havia dito não as cosmogonias e como bém Razão ornamental. Parece, por vezes,
Platão dirá não a Sócrates – encon- que os conceitos e teorias servem apenas
trando em Aristóteles aquele que lhe de ornamento para o intelectual, sem fun-
diz o contrário [...] qualquer momen- ção para o conhecimento ou para a ação ou
to criador foi na origem uma negação com função nefasta de justificar determi-
[...]. Há uma condição para esse não. nados interesses. É Razão dependente, pois
A crítica é algo para ser assumido, é sempre reproduz a matriz europeia, recen-
uma posição do espírito. (1990, p. 31). temente a estadunidense, e ainda repete os
autores mais consagrados dessas culturas.
Na mesma linha de avaliação de Rober- A própria noção de pesquisa no Brasil pas-
to Gomes, a obra Diário de um filósofo no sa muitas vezes por elencar quem disse o
Brasil, do filósofo Julio Cabrera, afirma que que, incluindo a bibliografia secundária
o hábito de repetição de teorias não foi her- sobre os temas, não como forma de avan-
dado dos europeus, afinal: çar no conhecimento, mas de mostrar que
se sabe, fazer uma revisão do que foi dito.
Seja o que for, entretanto, que Inúmeras vezes isso não passa de simples
pensarmos das produções filosóficas catalogação e inventário, não se faz a revi-
vindas da Europa, elas se caracterizam são de literatura para ir além e dizer aqui-
sempre pela sua atitude de fazer Filo- lo que ainda não foi dito, ou para pensar
sofia por intermédio das próprias for- a partir dali, e sim porque temos de fazer,
ças reflexivas num veio autoral, e não mostrar que sabemos.
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Por fim, é uma Razão deslocada. Sabe- Teríamos assim, na atual situação
mos que pensamentos do passado podem de institucionalização da Filosofia bra-
ter vigência em qualquer tempo. Sabemos sileira, pelo menos dois tipos de textos
que problemas do passado também podem filosóficos e suas nuanças e casos inter-
ser problemas do nosso tempo. Mas, quanto mediários – 1) os textos-comentário
de produção filosófica no Brasil trata daquilo (marcadamente históricos e exegé-
que não tem mais lugar no tempo e, princi- ticos, de exposição do pensamento
palmente, nenhuma vinculação com nosso de autores europeus; 2) os textos do
espaço? São filosofias que não nos pertencem. pensamento-com (quando os autores
Uma razão com posição bem definida, locali- europeus são trazidos à tona dentro de
zada ou ainda situada, sabe o que trazer à tona um processo de pensamento próprio)
em um dado momento – e esse não parece ser que poderíamos chamar talvez de re-
o nosso caso. Os discursos são trazidos e, com flexão acompanhada ou texto acompa-
eles, as verdades contidas neles sem justifica- nhado. A existência desse tipo de tex-
tiva, e parecem se bastar a si mesmos. to justificaria dizer que não é verdade
Com todas as características levantadas que a totalidade da produção filosófica
por Gomes delineia-se a denúncia da insis- institucional vai contra a concepção
tente produção de comentários filosóficos, filosófica europeia de um filosofar au-
sociológicos, antropológicos... E a consta- tônomo.4 (CABRERA, 2010, p. 226).
tação mais importante é perceber o fato que
ainda não conseguimos superar: o comen- A discussão sobre a produção de Fi-
tário filosófico ou das ciências humanas é losofia no Brasil (que tem já uma tradição
entendido por nós como um longo cami- que remonta a filósofos latino-americanos
nho para a autonomia. Não se pergunta até como S. Bondy, L. Zea e E. Dussel) entra
que ponto essa prática não nos desvia dela. em uma questão mais complexa e profun-
O hábito de dizer o que o outro diz como da. O que motivaria a reprodução de Filo-
prática filosófica ou científica nos aproxima sofia na América Latina? Temos uma Fi-
ou nos distancia de toda e qualquer auto- losofia original? Podemos ter? O que seria
nomia ou de pensar por nós mesmos? Nos- isso? Recentemente se inserem de maneira
sa relação com a tradição do pensamento é análoga nessa tradição os trabalhos do so-
precária, não temos conseguido sequer pen- ciólogo Jessé de Souza5 que, de outra forma,
sar com os referenciais que escolhemos; aos e em especial na Sociologia, questiona nos-
poucos que se aventuram em ir além restam sa reprodução sem crítica de teorias estran-
o sofrimento da recusa da academia e a falta geiras e mesmo de teorias brasileiras que
de reconhecimento de sua produção. foram forjadas com pensamento europeu
Esse tema também foi discutido por em forma e conteúdo.
Julio Cabrera, em sua obra Diários de um Muitos filósofos se dedicaram a pensar
filósofo no Brasil: essa questão em nosso continente. Chama-

4 No livro, Cabrera destaca, além de Kant, outros autores que indicam claramente a preocupação com o filosofar autoral e autêntico.
5 Ver A tolice da inteligência brasileira.
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rei a atenção para um debate clássico de dois de termos sido colonizados, dentre outras
filósofos de suma importância para essa dis- situações, foi decisiva para a criação desse
cussão: S. Bondy e L. Zea. Ambos tratam hábito. A colonização, como afirma Dussel,
da questão da produção de Filosofia e nos colonizou nosso “mundo da vida” e, con-
oferecem uma perspectiva para se pensar a sequentemente, orientou nossa percepção
originalidade. Apresentamos abaixo a dis- e constituiu nosso imaginário.6 Talvez esse
cussão central desse debate, ainda pouco co- fato por si só justificasse a relação que temos
nhecido, que nos serve para contextualizar o com o europeu (ou o estadunidense), que
problema de pensar desde a América Latina. muitas vezes parece de pura subserviência
Os dois autores, Bondy e Zea, tratam das epistemológica: um verdadeiro complexo
mesmas questões: “Si há habido o no una de vira-lata.
filosofía de nuestra América, en caso de res- Leopoldo Zea concebe a Filosofia lati-
puesta negativa si podría haberla y bajo qué no-americana como uma Antropologia que
condiciones y, por último, hasta qué punto tie- se desenvolveu progressivamente temati-
ne sentido y valor tomar como tema u objeto zando a questão do ser do homem america-
privilegiado de atención la realidad latinoa- no e uma Filosofia da história e da cultura.
mericana”. Essas questões são tratadas res- A Filosofia é original e autêntica para ele
pectivamente nas obras Existe una filosofía quando tem vinculação com a nossa ori-
de nuestra América? (BONDY, 1998) e La gem e trata de nossos problemas. Mesmo
filosofía americana como filosofía sin más não sendo uma Filosofia produzida no solo
(ZEA, 1975). em que esses problemas estão, é, portanto,
Salazar Bondy responde à primeira per- possível uma apropriação de filosofias de
gunta afirmando a não existência de uma outros povos e ainda ser original.
Filosofia hispano-americana pelo fato de E. Dussel é outro caso que merece aten-
que o que tem ocorrido historicamente ção nessa discussão, por ser um filósofo
é apenas repetição (o que estamos chaman- de produção incansável sobre a libertação,
do aqui de reprodução de teorias). Quanto tanto em uma dimensão econômica (liber-
à segunda pergunta, Salazar Bondy afirma tação da condição econômica de submissão
a necessidade de romper com o sistema de a outros povos), quanto epistemológica (li-
dependência e subdesenvolvimento a que bertação da Filosofia e das ciências huma-
estão subjugados os países hispano-ameri- nas do eurocentrismo).7 Em um conjunto
canos como única condição para se produ- de conferências publicadas na obra 1492: o
zir um pensamento libertado e libertador. encobrimento do outro – a origem do mito da
Há, portanto, uma dependência da liberta- modernidade, publicada no Brasil em 1993,
ção econômica para que haja uma liberta- Dussel trata da conquista à colonização do
ção filosófica ou teórica. mundo da vida (Lebenswelt). Apropriando-
A tese de Bondy é acompanhada por -se do conceito husserliano de mundo da
outros filósofos que defendem que uma sé- vida, Dussel vai aplicá-lo à compreensão
rie de circunstâncias históricas, como o fato do fenômeno da colonização da América

6 Em 1492 o encobrimento do outro.


7 Boaventura de Sousa Santos tem trazido a tese de que deve haver uma Epistemologia do Sul.
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[Latina] e fará uma reflexão fantástica que é, pode haver motivos sociais (ou mais
leva o conceito de descobrimento a um tra- particularmente institucionais) que levam
tamento mais adequado: o de encobrimento a maioria dos intelectuais apenas a repro-
do outro. Segundo Dussel, processos de duzir pensamentos elaborados por outro e
colonização não dominam apenas o espaço, nem sequer pensar junto.
o tempo, a geografia e a história, portanto, Não é incomum encontrar nos oposi-
nem apenas a cultura com o domínio da lín- tores da produção de conhecimento entre
gua e da religião de um povo; a colonização nós aqueles que questionam a capacidade
é também uma colonização do mundo da racional do brasileiro, afinal, a atividade de
vida dos sujeitos, da somatória dos sentidos pensar é cansativa, exige uma grande capa-
e, por conseguinte, da percepção e do ima- cidade de abstração, e nós, brasileiros, se-
ginário dos mesmos. ríamos mais familiarizados com a imagem
Segundo Dussel, do que com o conceito, seríamos mais vin-
culados à intuição que à intelecção e mais
Colonização do mundo da vida emocionais que racionais. Esse pressuposto
não é aqui uma metáfora. A palavra epistêmico, ao forjar essa visão sobre nós,
tem sentido forte, histórico, real [...]. sustenta sem crítica nenhuma as teorias
A colonização da vida cotidiana do na- que foram produzidas acerca de nós. A tese
tivo, do escravo africano depois, foi o de fundo dessa caracterização emocional da
primeiro processo “europeu” de “mo- nossa gente resulta no fato de que aqui não
dernização” de civilização, de subsu- poderia haver um Platão ou um Kant, um
mir (ou alienar) o Outro como si mes- Marx ou um Bourdieu; no limite disso está
mo [...]. É o começo da domesticação, a tese de que haveria um limite racional da
estruturação, colonização do “modo” língua portuguesa.
como aquelas pessoas viviam e repro- A obra Conversas com filósofos brasi-
duziam a vida humana. Sobre o efeito leiros, talvez uma das poucas que trata
daquela “colonização” do mundo da do tema da produção de Filosofia no Bra-
vida se construirá a América Latina sil e que tenha tido alguma recepção na
posterior. (1993, p. 43).8 academia, indica um pouco de como essa
questão é tratada entre nós. O conceito de
Partindo desse princípio, uma série de Filosofia Nacional, ou Filosofia brasileira,
mecanismos sociais presentes em nosso é rejeitado pela maioria dos entrevistados,
continente, dentre eles os que produzem afinal a Filosofia é tomada como universal.
alienação em massa, poderia também es- Tema controverso, pois não há rejeição
tar entre os motivos do nosso pensamento necessária da expressão Filosofia francesa
nacional ser o que é ou ainda não ser. Isto ou Filosofia alemã.9

8 Dussel usa os conceitos de Husserl, como mundo da vida, intencionalidade, percepção, imaginário, sentido, sem, no entanto, reproduzir
Husserl. Considera esses conceitos para pensar algo que Husserl não pensou, nem poderia pensar.
9 Ninguém se surpreende quando essas expressões aparecem nos corredores das bibliotecas, na catalogação dos livros e ainda mais nos
nossos congressos de Filosofia. O estranhamento vem quando se intenta que a Filosofia latino-americana ou brasileira seja chamada, é aí
que volta o conceito de universalidade.
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Por vezes, no discurso (e podemos ver na tarefa de uma produção filosófica que
isso em parte das entrevistas que compõem tenha a ver com a nossa origem, como diria
o livro), fala-se que não existe Filosofia re- L. Zea, mas, devemos perguntar: é possí-
gional; no entanto, sabemos que, no mundo vel, mesmo no nível da contribuição à uma
da Filosofia, essas Filosofias existem, assim Filosofia universal, pensar em contribuição
como nas Ciências Humanas. Ninguém se sem pensar em produção filosófica desde o
surpreenderá se for identificado como fa- nosso continente? E se a Filosofia não faz
zendo Filosofia alemã, grega ou francesa, isso e dá fundamentação teórica para tantas
não se chama a universalidade para colocá- ciências, como fica a produção de conheci-
-las no seu devido lugar. Marilena Chauí, mento em nosso continente?
em sua entrevista para a construção da obra Mesmo que no âmbito da contribui-
Conversa com filósofos brasileiros, responde ção precisemos pensar com que realmente
à questão que foi feita a todos os entrevis- poderíamos contribuir, poderíamos con-
tados: Seria possível falar de uma “Filosofia tribuir com a tarefa de explicar e comen-
brasileira”? Como você vê a relação entre Fi- tar o autor? Textos que serão usados com
losofia e a cultura brasileira? E afirma, ressalva e sempre acompanhados com a
orientação do professor de que precisamos
Com relação a essa questão, faço lidar com o próprio autor e no original.10
minhas as palavras do professor Lívio Não tenho dúvida que entre nós há muitos
Teixeira. Quando a revista Aut Aut intelectuais que não se contentam com essa
fez um número dedicado ao tema “Fi- tarefa de repetir o já dito e se aventuram em
losofia no Brasil”, perguntaram-lhe reflexões próprias, cada um à sua maneira
sobre a existência de uma Filosofia e com determinados limites. A maioria, no
brasileira. Ele disse que preferia falar entanto, se convenceu ou foi convencida,
em “contribuições brasileiras à Filoso- como afirma Paulo Arantes, respondendo à
fia”. Esta demarcação me parece mui- questão sobre os conceitos que orientavam
to boa, me parece preferível a falar em sua produção filosófica:
uma Filosofia brasileira. (NOBRE;
REGO, 2000, p. 309). Bom, como se diz em assembleia,
essa proposta [a produção filosófica
A descida de degrau de uma discussão nacional] está prejudicada. Não tenho
sobre produção de Filosofia autêntica ou reflexão filosófica própria e original e,
originalmente brasileira para a contribui- portanto, não posso ter conceitos que
ção brasileira à Filosofia, que se pretende orientem essa reflexão. Não é coque-
universal, parece incomodar menos. Ain- terie, não estou fazendo charme ao di-
da assim, gostaríamos de chamar a atenção zer que nunca fiz Filosofia. Não posso
para o fato de que a questão da produção nem dizer que pretendi fazer Filosofia
continua em voga, ou seja, podemos com- porque, quando entrei na Faculdade,
preender aqueles que não querem entrar a primeira coisa que me disseram foi:

10 O que certamente é bem mais frutífero.


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“Você não vai ser filósofo. Isso não exis- produção e reprodução de pensamento filo-
te. Filosofia não tem conteúdo e não é sófico no Brasil, não se restringem absolu-
matéria transmissível. Esqueça isso. tamente à Filosofia. Parte significativa das
Você será um técnico em bibliografia ciências humanas, até por se fundarem nas
filosófica”. Quem alimentava essa pre- teorias filosóficas e estarem dentro do mes-
tensão de ser filósofo era o pessoal da mo jogo acadêmico, encaixam-se inúmeras
linha Tobias Barreto e Miguel Reale ou vezes no mesmo perfil descrito acima. Que
Vicente Ferreira da Silva, entre outras fazer diante desse quadro?
sumidades. (NOBRE; REGO, 2000,
p. 354-355, grifos nossos).
Epistemologias do Sul: repertório
Creio que a citação dispensa comentá- metodológico para enfrentar as
rios. Mas, é bastante ilustrativa de algumas tragédias que se anunciam
ideias que estou discutindo aqui. Fazer Fi- Pensar desde exige uma verdadeira re-
losofia é coisa para pretensiosos e parece volução epistemológica e consequente
que a atividade para a qual somos formados tomada de posição do intelectual do Sul.
é a técnica em bibliografia filosófica. Boaventura de Sousa Santos e um gran-
É curioso perceber que a própria tra- de número de intelectuais de peso do Sul
dição europeia que reverenciamos tanto tematizaram nas últimas décadas essa re-
enaltece a criação e a produção contextua- volução e elaboraram em diversas obras
lizada. Julio Cabrera ressalta em seu texto as bases para o que se denominou Episte-
passagens sobre a autonomia e a produção mologias do Sul. Dentre outras coisas, tais
de Filosofia presentes em alguns de nossos epistemologias defendem que devemos ter
principais filósofos. Kant, inserindo a dis- como pressuposto para a produção do co-
cussão sobre a autonomia (posta de manei- nhecimento uma relação outra dos ‘sujeitos
ra incisiva na Resposta à pergunta: O que é que pesquisam’ com ‘o que é’ estudado, de
o esclarecimento?) e em uma pedagogia apli- forma que a pesquisa tenha sempre uma
cável, afirma a respeito do professor: “[...] conotação ética (e, portanto, vínculo com
em suma, ele não deve ensinar pensamentos, o lugar onde tal conhecimento é produzi-
mas a pensar; não se deve carregá-lo, mas do) e os valores culturais de quem produz e
guiá-lo, se quer que ele seja apto no futuro a para quem se produz o conhecimento. Isso
caminhar por si próprio” (KANT, 1992, p. significa de antemão que as Epistemolo-
174). Além disso, fica a recomendação kan- gias do Sul pressupõem um posicionamento
tiana de que devemos construir algo sobre teórico-político.11 Não se trata apenas de
os conteúdos filosóficos que foram apreen- novos conteúdos para serem assimilados e
didos e entendidos, mas que esse é o come- que permitam pensar os nossos problemas,
ço da construção filosófica, e não o fim. ou novas teorias para serem produzidas,
A apresentação do debate que relatei até mas sim de repensar também nossos mé-
aqui, na maioria descrições mais focadas na todos e nossas técnicas de pesquisa e com-

11 Sabemos que todas as epistemologias implicam posicionamentos teóricos-políticos, mas isso nem sempre é enunciado.
120 Pensar desde a América Latina: em defesa das epistemologias do Sul • Suze Piza

preender a fundo o epistemicídio do qual mitado, parcial, esconderam-nos o mundo


somos vítimas. Logo, trata-se de fundar que é muito maior que a compreensão “oci-
novas epistemologias. dental” do mundo – uma perspectiva que
Tudo aquilo que não é ciência, segun- não dá conta da diversidade ou da singula-
do os moldes estabelecidos pela tradição, ridade do mundo, não representa mundo
e, portanto, fora dos formatos estabeleci- –, e apresentaram a parte como se fosse o
dos por critérios acadêmicos ocidentais, foi todo, o particular como se fosse universal.
excluído do critério de cientificidade e va- Assumir as Epistemologias do Sul sig-
lidade para o conhecimento. Todas as qua- nifica perguntar que recursos temos para
lidades necessárias à produção do conhe- não sucumbir às tragédias que se anunciam
cimento foram criadas pela própria forma há muito tempo, mas que só com a pers-
de conhecimento vencedora: rigor, prova, pectiva adequada podem ser vistas. Signifi-
métodos, validação, aplicação – em suma, ca também assumir sem demagogias que é
o que é ou não verdade está decidido dentro preciso combater, como diz Boaventura de
desse campo. Aquilo que não se encaixou Souza Santos, “o capitalismo sem fim, o co-
nesses parâmetros foi morto, eliminado, lonialismo sem fim, o machismo e sexismo
desqualificado. O processo de epistemicí- sem fim”. Criar teorias de emergências, de
dio gerou um reducionismo epistemológi- urgências, que escutem os povos ou todos
co e de visão de mundo, nos deu uma visão aqueles que sofrem.
unilateral de compreensão de nós mesmos e Para tanto, é necessário criar novos
do outro. Grandes formas de saber do nos- marcos conceituais e analíticos, e isso im-
so continente foram exterminadas, e conti- plica travar uma luta dentro da própria aca-
nuam sendo exterminadas, e o que restou demia, dentro das próprias instituições que
para nós são teorias que, na maioria das não permitem ou dificultam a produção do
vezes, favorecem nossa condição subalter- conhecimento original. Nossos currículos
na, teorias que favorecem o capitalismo, o precisam passar por um processo drástico
colonialismo e o patriarcalismo. Essa tríade de descolonização, pois nossos sentidos e
sustenta ainda as bases teóricas do pensa- nossas representações precisam ser desco-
mento na América Latina. As teorias que lonizados. A luta implica criar e intensi-
prevaleceram como verdade sobre o huma- ficar diálogos entre o conhecimento oral e
no transmitem uma espécie de racismo cul- escrito, entre os saberes acadêmicos e po-
tural que se coloca a serviço de uma classe pulares, desmonumentalizar o texto escrito
(burguesa), de um gênero (masculino), de (para que seja possível a crítica), iniciar um
uma etnia (branca) e de determinados paí- processo de valorização da autoria em vez
ses (potências do capitalismo), e que mata da valorização exclusiva da autoridade, que
tudo aquilo que não é “espelho”. é o que comumente fazemos.
As bases epistemológicas que ainda dão A epistemologia vigente excluiu a luta
sustentação à verdade produzida entre nós dos povos de seus referenciais teóricos e
construíram o nosso povo como outro es- metodológicos, criou incessantemente ob-
tereotipado [inferior, selvagem, passional jetos, pautou sua produção na observação
etc.] e nos legaram um conhecimento li- empírica de um sujeito em relação aos seus
Paulus • Revista de Comunicação da FAPCOM • Volume 2 – No 3 – 1o semestre 2018 121

objetos. As Epistemologias do Sul pro- serão conhecimentos parciais em relação


põem criar ecologias do saber, cuja cen- aos outros conceitos e práticas oriundos de
tralidade estará no conhecimento nascido outras realidades.
na luta dos povos a partir da perspectiva A tomada de posição do pesquisador
de quem sofre e de onde se sofre; propõem que pensa desde o Sul deve garantir o direito
que se pare de criar objetos e que se mul- de todos à autoidentificação e à autovalida-
tipliquem sujeitos. Que em vez de obser- ção dos conhecimentos a partir dos resul-
vação, pautemos nossas produções na re- tados alcançados, e não apenas a partir do
ciprocidade, que desenvolvamos nossa ca- caminho trilhado dentro de padrões reco-
pacidade de escutar e não apenas de ouvir, nhecidos e estipulados pela academia con-
o que propiciará uma horizontalidade para sagrada. Deve permitir que se revejam as
produção de conhecimento que é sempre geografias e as histórias, pois as geografias
transformador. e histórias consagradas são muitas vezes si-
Bases epistemológicas do Sul carre- mulações, relações de pessoas com o espaço
gam de maneira imanente um sentido que produzem representações e não dizem
geográfico para o pensamento: ‘de onde respeito a nós e sim a elas.
eu falo’ e ‘por que eu falo’ estão direta- No intuito de não matar mais conhe-
mente ligados ao ‘para quem eu falo’? A cimento, o pesquisador e a pesquisadora
forma como eu penso e atuo nesse mundo terão de combater o pensamento abismal
permite a escrita de uma cartografia de – entre os que sabem e os que não sabem –,
lutas e saberes de onde estamos situados evitando assim mais fraturas epistêmicas
nessas lutas. Os lugares de lutas são polí- que só nos levam ao erro, da mesma for-
ticos, culturais e também epistêmicos, a ma terão de quebrar os mitos (de raça, de
geografia não pode ser um assessório na superioridade de gênero, da racionalidade
produção de conhecimento. Se assim for, como determinação do que é o humano, de
continuaremos reproduzindo a depen- distinção ontológica entre um povo e o ou-
dência, a escravidão, a miséria. tro, entre uma classe e outra) e quebrar os
Todo esse quadro vai tornando cada novos mitos que foram e estão sendo cria-
vez mais evidente que a universalidade é dos na tentativa de inverter os anteriores e
uma farsa epistêmica, afinal aquilo que é que acabaram criando novas formas de su-
tomado como universal é só a representa- balternização e distinção. A produção de
ção de um povo sobre outro. Nada mais. conhecimento e pensamento desde a Amé-
O universal que as Epistemologias do Sul rica Latina deve criar formas de construir
consideram é sempre um ‘universal situa- novas representações de autodetermina-
do’, tem limites bastante definidos e seu ção e autoidentificação, livrando-nos de
contorno é o de povos com experiências uma semântica e de seu respectivo marco
análogas. Todo conhecimento pode ser teórico, sempre dependentes de reconhe-
ao mesmo tempo global e local: conheci- cimento do que vem de fora.
mentos que resolvem problemas pontuais Cada pesquisador tem a tarefa de iden-
de um povo podem ser intercambiáveis se tificar o imaginário social que coloca os
os contextos forem análogos, mas sempre latino-americanos em posição subalterna, e
122 Pensar desde a América Latina: em defesa das epistemologias do Sul • Suze Piza

isso deve ser feito dentro sua própria área


Considerações finais
de atuação; deve identificar os referenciais
A reflexão que propus neste texto é um
teóricos que têm fortalecido a visão distor-
convite para um confronto com nossos há-
cida de nós mesmos e como tais referenciais
bitos acadêmicos mais arraigados e com a
agem contra a vida. No entanto, fazer isso
visão de mundo que nos cerca e prolonga
não implica silenciar nenhum conheci-
nossa condição subalterna econômica e cul-
mento. Não se trata de instaurar um novo
tural. Os referenciais que apresentei ao lon-
conhecimento que suplante o anterior do-
go do texto são de pensadores sul-america-
minador, mas sim de abrir perspectivas.
nos e também de uma Europa marginal que
Não se trata, portanto, de fazer uma des-
pôde, somente por isso, alargar perspecti-
colonização conservadora e hierarquizante
vas de conhecer e nos convidar a pensar
que negará todo e qualquer diálogo com a
com outras bases. Essas fontes teóricas já
tradição europeia ou de outros povos, não
trafegam entre nós há muitas décadas, mas
se trata de cometer novos epistemicídios.
raramente foram escutadas. Nos últimos
Os avanços e saberes constituídos nas mais
anos, a produção chamada descolonial, de-
diversas áreas podem ser úteis nas mais di-
colonial ou pós-colonial tem tomado nossas
versas situações e para diversos povos, o
bibliotecas, nossos congressos, nossos tex-
ponto principal que se defende é de produ-
tos e hoje já começa a trazer frutos para a
ção original de conhecimento.
produção do conhecimento entre nós.

Referências bibliográficas
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CABRERA, J. Diário de um filósofo no Brasil. Ijuí: Unijuí, 2013.
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NOBRE, Marcos. Conversas com filósofos brasileiros. São Paulo: Ed. 34, 2000.
SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula. (Orgs.) Epistemologias do Sul. São
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SOUZA, Jessé. A tolice da inteligência brasileira. Ou como o país se deixa manipular pela elite.
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ZEA, La filosofía americana como filosofía sin más. 3. ed. México: Siglo XXI Editores, 1975.

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