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“Um velho pai, nobre e rico, tinha dois filhos, que amava
ternamente. Um dia, o menor se apresentou, pedindo-lhe o seu
patrimônio, para ir a uma terra distante e viver a conforme a sua
vontade. Com a dor mais intensa, com as lágrimas nos olhos, aquele
pai deu ao filho a parte dos bens que lhe diziam respeito. E o infeliz
saiu da casa paterna, e se foi para uma região distante. Aí, vítima
das paixões sensuais, ao invés de enriquecer como ele havia
pensado e aumentar as possibilidades de seus prazeres, consumiu
tudo. Contra a vontade, gastou ele as mais belas energias da vida e,
ao invés, sob a sua fronte, o estigma vergonhoso da culpa. Para
viver, encontrou finalmente um patrão, que o colocou na guarda dos
porcos, de animais imundos. Sem um pedaço de pão, o miserável
se reduziu a se alimentar com a lavagem, até que, entristecido pela
desgraça, voltou novamente a si, compreendeu e chorou o seu
deplorável estado. Recordou a abundância que gozavam os
servidores da sua casa e disse: Eu vou me levantar, e vou voltar ao
meu Pai - surgam et ibo ad patrem meum. Vou lhe dizer que me
aceite como um dos seus empregados. Direi que o ofendi, que não
sou mais digno de me chamar seu filho. Levantou-se e se pôs a
caminho. No entanto, o pobre pai, desde o dia em que o filho tinha
partido, não tinha mais encontrado repouso. Tinha-o chorado
inconsolavelmente. Dia e noite. Perguntando a todos, notícias do
seu pobre filho. Quando, eis, apoiado na sua janela, vê vir em sua
direção um pobre mendigo, um pobre jovem. O coração palpita
forte, quem sabe seria o filho que retorna... Com os olhos fixos por
um momento, finalmente o reconhece. Realmente é o filho que
retorna, corre ao seu encontro e estende-lhe os languidos braços,
beija-o várias vezes, e com lágrimas de comoção lhe diz: Filho meu,
eu te acreditava morto, que dia de consolação é este para mim. Eu
te vejo retornar à minha casa, para os braços de teu pai que te ama.
Agora, sim, morro contente”.
Diz Roberto abade que, se o filho pródigo tivesse tido sua mãe, ou
não se teria afastado da casa paterna, ou para ela teria retornado
mais depressa. Mas tu, pecador, tu pecadora, tens a mãe... Ei-la:
Maria Santíssima. Vinde aos seus pés nesta noite, ergue a voz e
dizei com lágrimas nos olhos: Virgem Santíssima, Mãe de
Misericórdia e dos pecadores, quantas vezes com os meus pecados
andei longe do teu Filho, mas, eis-me aqui, eu retorno arrependido,
e tu, implora para mim, piedade, perdão, misericórdia.
Jovem, meu filho, Jesus Cristo te diz: que mal eu fiz para que assim
me ofendas? Minha jovem, responde a Jesus Cristo, que te pergunta
esta noite: Minha filha, que desprazer tiveste de mim para me
amares assim tão pouco? Eu abri para ti o caminho do céu, ó tu,
bárbara, me abres com a dura lança o coração. E tiveste coragem de
fazê-lo... e como não se rompe o coração no peito! Ah, consola-me
esta noite com as tuas lágrimas e com teu arrependimento. Vem,
sim, ó homem, vem aos pés de Jesus Cristo, e chorando, diz-lhe
com todo o coração: Senhor, misericórdia, Senhor, perdão e
piedade!
12. Prédica sobre o Inferno. O missionário pregador procurava
sacudir a alma dos ouvintes com visões terríveis, que
esconjurava convidando a fazer penitência através da
DISCIPLINA (uma espécie de flagelo): ele mesmo se flagelava
diante dos fiéis.
... as cartas dos primeiros cristãos que eram jogados nus e inermes
como pasto para os leões famintos que rasgavam suas carnes,
trituravam seus ossos, bebiam o seu sangue. Mas, se vamos crer no
apóstolo São Paulo, é muito mais terrível cair nas mãos do Deus
vivo. O qual, como um leão faminto, se lançará sobre os miseráveis
condenados, para punir sem nenhuma misericórdia, as suas
iniquidades.
Povo caríssimo, Jesus Cristo não vos abençoou esta noite. Ele
segurou o meu braço. Mas, Senhor, porque não quiseste abençoar
este povo? Não foram almas que te custaram o sangue? Não vês
como choram e te pedem perdão?
Sim, responde Jesus Cristo. Vejo que chora aquela menina
inocente, aquela velhinha que sempre me amou. Mas vós
pecadores, duros e obstinados, não! Não posso vos perdoar, não
posso vos abençoar!
Ó, não, Senhor! Tu deves perdoa-los, tu deves abençoa-los. Eis, eu
me ofereço nesta noite. Eu quero chorar por estes pecadores
obstinados. Eu quero fazer penitência por eles. E tu, ó minha Nossa
Senhora, abençoa esta minha penitência...
- Estou me dando conta de que essa pregação sobre a morte não vos
deixou impressionados. Talvez tenha sido, quem sabe, pela minha
incapacidade. Não soube pregar-vos sobre a morte a ponto de
comover-vos. O que, então, farei agora?
Povo caríssimo, Jesus Cristo não vos abençoou. Ele segurou o meu
braço. Escutai o que vos diz Jesus Cristo nesta noite:
- Ah, meu Jesus, este teu belo corpo, flor do paraíso, quem deixou
em tão mísero estado? Quem o desconjuntou? Escuta meu irmão,
irmã minha bendita, quem foi o bárbaro, e prepara-lhe tuas lágrimas
de arrependimento.
Mulher, olha, olha que coisa fizeste, com os teus pecados, como
tornaste o corpo de Jesus, quem chuva de açoites lhe custou as tuas
desonestidades, as tuas infidelidades. E então, pede-lhe perdão, diz-
lhe com todo o coração: Jesus Cristo meu, piedade, perdão,
misericórdia.
Ah, Mãe Dolorosa, quem foi que matou este teu Filho? Ele era o
teu tesouro, a tua alegria, a tua consolação, quem foi o cruel que
tanto ultrajou o teu coração de mãe? Escuta ó homem, escuta ó
mulher, quem foi que causou tanta dor a esta mãe dolorosa...
A Prédica Grande.