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REVISÕES

Avaliação económica
dos medicamentos
ARMANDO DE MEDEIROS*

RESUMO
A avaliação económica dos medicamentos é um novo ramo do conhecimento que pretende ajudar médicos e decisores na escolha de alter-
nativas terapêuticas, baseando-se na relação entre o custos dos medicamentos e os benefícios resultantes da sua utilização.
Os principais tipos de avaliação económica de medicamentos são: minimização de custos, custo-benefício, custo-efectividade e custo-uti-
lidade.
Os médicos da carreira de clínica geral, enquanto prescritores e geradores de encargos para o Serviço Nacional de Saúde, devem ter algu-
mas noções de avaliação económica dos medicamentos que lhes possibilitem efectuar uma leitura crítica dos artigos de fármaco-econo-
mia que, cada vez mais, lhes vão sendo facultados.

Palavras-chave: Custo-Benefício; Custo-Efectividade; Custo-Utilidade; Fármaco-Economia

to, que junta saberes da medicina, tema específico, a «Pharmaco-eco-


IENTRODUÇÃO
DITORIAIS da farmacologia e da economia é nomics».
designado avaliação económica dos
via quotidiana gira à vol- medicamentos ou fármaco-econo-

A ta de escolhas: a roupa
que se veste, aquilo que
se come, as compras que
se fazem, os livros que se lêem, etc.
A actividade médica também se
mia.
Embora os médicos sejam, tra-
dicionalmente, avessos à «intromis-
são» da economia nas suas decisões,
começam a perceber que os recur-
OS QUÊS E OS PORQUÊS
DA EDITORIAIS
AVALIAÇÃO ECONÓMICA

A avaliação económica, em medi-


caracteriza por uma contínua rea- sos económicos são um bem finito cina, pode definir-se como um con-
lização de escolhas, nomeadamen- e, por isso, a sua afectação a uma junto de métodos de investigação
te, em relação à prescrição de medi- determinado programa – vacinação, que avalia os custos e os benefícios
camentos. rastreio, etc. – implica a sua não uti- das tecnologias médicas a fim de
O crescimento dos encargos eco- lização noutro projecto. É esta no- comparar alternativas1.
nómicos resultantes dessa pres- ção, que os economistas baptizaram Tem numerosas aplicações, des-
crição faz com que, progressiva- de custo-oportunidade, que ajuda a de a avaliação dos custos versus os
mente, os governos ocidentais te- compreender a importância das nos- benefícios da instalação de equipa-
nham começado a sentir a necessi- sas escolhas, enquanto consumido- mentos hospitalares até à avaliação
dade de avaliar, não só a qualidade, ras de recursos. económica de um determinado
eficácia e segurança dos medica- O presente artigo pretende con- medicamento em relação a outro.
mentos mas, também, a relação en- tribuir para aquilo que Descartes Qual a importância da avaliação
tre os seus custos e os benefícios re- chamou a solidez do nosso conheci- económica?
sultantes da sua utilização. mento, numa área que tem tido um • Comparação de alternativas que
Este novo ramo do conhecimen- interesse crescente nos últimos anos nos possam ajudar a estabelecer
com a edição de dezenas de artigos critérios de decisão.
*Assistente Graduado de Clínica Geral do
Centro de Saúde de Faro. Pós-Graduação em
na literatura internacional e o apa- Por exemplo, para sabermos se
Avaliação Económica dos Medicamentos recimento de uma revista sobre este vale, ou não, a pena o estabeleci-

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REVISÕES

mento de um programa de rastreio to de preços que são independentes de artigos de avaliação económica5
do cancro da próstata, temos que da avaliação económica. em revistas prestigiadas.
avaliar os custos desse programa e Em Portugal os preços dos novos
a sensibilidade e especificidade do medicamentos são estabelecidos
teste que vamos utilizar e, a partir pela Direcção-Geral do Comércio e COMPONENTES DE UMA AVALIAÇÃO
desses dados, podemos estabelecer da Concorrência, tomando como EDITORIAIS
ECONÓMICA DE MEDICAMENTOS
qual a melhor alternativa: não efec- indicador o preço mais baixo desses
tuar o teste, efectuá-lo a todos os medicamentos em três países de
homens adultos ou efectuá-lo ape- referência: Espanha, França e Objectivo
nas em determinados grupos Itália2. Em termos práticos, a avaliação eco-
etários. • Decisões sobre reembolsos e co- nómica de medicamentos pretende
• Utilização racional dos recursos pagamento determinar se um novo medica-
disponíveis. As regras actualmente existentes mento, embora mais caro, tem van-
O custo real de qualquer progra- na maioria dos países da União tagens clínicas (maior eficácia, me-
ma não é o valor monetário do seu Europeia, incluindo Portugal, pare- lhor perfil de efeitos secundários,
orçamento, mas sim os ganhos em cem apontar para que, a médio pra- maior comodidade de administra-
saúde que se deixaram de ter e que zo, a avaliação económica passe a ção, etc.) em relação aos medica-
seriam proporcionados pela exe- ser um dos critérios para a compar- mentos já existentes no mercado e
cução de outro programa de que se ticipação de medicamentos. se essas vantagens clínicas compen-
abdicou para efectuar o primeiro. • Decisão sobre a inclusão em for- sam o aumento de custos. Para isso,
• Estabelecimento de critérios de mulários ou em orientações tera- determina-se o impacto do novo
eficiência. pêuticas medicamento no estado de saúde e
Os recursos utilizados devem ser Os estudos de avaliação econó- nos custos dos cuidados de saúde e
empregues com eficiência, isto é, mica tendem a ser um dos critérios compara-se com o medicamento-
deve haver uma relação favorável de inclusão de medicamentos em -padrão e, eventualmente, com ou-
entre a quantidade de recursos uti- formulários e protocolos terapêuti- tras alternativas terapêuticas.
lizados e o efeito pretendido e, para cos (hospitalares, regionais ou na- O objectivo de uma avaliação
que isto aconteça, são necessárias cionais) num grande número de paí- económica de medicamentos pode
duas premissas fundamentais: ses europeus, como a Alemanha, a ser muito variado:
análise sistemática das alternativas França, a Holanda, o Reino Unido e • Comparticipação de novos medi-
disponíveis e não iniciar um novo a Suécia3. camentos.
programa sem uma avaliação prévia • Melhoria dos critérios de decisão, • Interesse económico da comer-
do programa que o antecedeu. ao nível da prescrição cialização de um determinado me-
Actualmente, há países e regiões, Os estudos de avaliação econó- dicamento.
como a Austrália e a província de mica são, por vezes, usados pela in- • Interesse social da implemen-
Ontário, no Canadá, em que os dústria farmacêutica como uma tação de uma nova vacina ou de um
medicamentos candidatos a com- componente do marketing dos seus determinado rastreio.
participação têm que apresentar um produtos. Essa acção é, geralmente, Como em qualquer outro tipo de
estudo de avaliação económica que levada a cabo a nível do prescritor análise, o objectivo deve ser clara-
demonstre o seu interesse em ter- individual, especialmente em países, mente definido antes de se iniciar a
mos de custos versus benefícios. como a Alemanha e o Reino Unido, avaliação, porque vai condicionar
Na Europa, esses estudos não em que é feita a monitorização dos todo o seu desenrolar.
têm um carácter obrigatório e o seu custos da prescrição. A realização
uso potencial pode ser a vários destes estudos, quando suportados Perspectiva
níveis: pela indústria farmacêutica, coloca A perspectiva de um estudo de ava-
• Negociação de preços a nível na- problemas de credibilidade que de- liação económica é o ponto de vista
cional vem ser analisados com um grande sob o qual essa avaliação vai ser
Praticamente todos os países da espírito crítico. Nos últimos anos, efectuada. Consideram-se, geral-
União Europeia têm um mecanis- têm sido publicadas políticas edito- mente, quatro tipos diferentes: da
mo de negociação e estabelecimen- riais4 e guidelines para a submissão sociedade, do terceiro pagador, do

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prestador de cuidados de saúde ou inputs aos recursos consumidos no loriza as variações na produtividade
dos doentes. A definição da pers- tratamento de uma determinada pa- económica como resultado da inter-
pectiva sob o qual uma avaliação vai tologia e consequências, benefícios venção terapêutica, no decurso da
ser feita está intimamente ligada aos ou outputs aos ganhos em saúde re- doença.
objectivos que se pretendem atingir. sultantes desse tratamento. • Método da vontade de pagar -
O resultado da avaliação também Os custos podem ser de três tipos: Valoriza quanto os indivíduos estão
depende do tipo de perspectiva pois a) Directos - Custos derivados da dispostos a pagar para reduzir a
aquilo que é custo-efectivo numa actuação terapêutica como, por probabilidade de doença ou morte.
(Ex.: de uma clínica privada) pode exemplo, consultas, medicação, exa- c) Intangíveis - Custos que não se
não ser custo-efectivo noutra (Ex.: mes auxiliares, hospitalização, podem quantificar como, por exem-
do Governo). transportes de e para as consultas plo, os custos psicológicos para o
Tipos de perspectivas: médicas, etc. doente resultante da sua depen-
• Da sociedade - É o tipo de pers- Alguns destes custos podem ser dência de terceiros ou para o agre-
pectiva mais abrangente e, por isso, determinados de um modo mais ou gado familiar resultantes da morte
o que engloba uma análise mais menos directo em estudos pros- ou incapacidade de um dos seus
exaustiva de todos os custos e bene- pectivos, mas há outros como, por membros. Este tipo de custos é de
fícios. Destina-se, por exemplo, a exemplo, avaliar retrospectivamente muito difícil avaliação e não costu-
avaliar programas ou tratamentos o número de consultas ou o tipo de ma ser considerado em estudos de
que implicam grandes recursos exames auxiliares que devem ser pe- fármaco-economia.
económicos, que podem ter conse- didos para seguir uma determinada As consequências também po-
quências no bem-estar social. patologia que podem ser analisados dem ser de três tipos:
• Do terceiro pagador - O terceiro através de métodos de consenso, que • Clínicas - Melhoria do estado de
pagador pode ser o governo, com- têm o objectivo de definir níveis de saúde, que se pode traduzir, por
panhias de seguros outro tipo de concordância em assuntos contro- exemplo, em menos dias de hospi-
sub-sistemas privados. Está espe- versos. talização, menos exames auxiliares
cialmente interessado nos custos Os métodos de consenso podem consumidos, anos de vida ganhos,
que terá que pagar aos prestadores ser de vários tipos, sendo os mais etc.
dos cuidados de saúde, pelo que se usados: • Económicas - Ganhos de produ-
preocupa com a eficiência da • Grupos nominais - Consistem ção resultantes, por exemplo, de um
prestação de cuidados. numa reunião de grupos-alvo com regresso ao trabalho mais precoce.
• Do prestador de cuidados de interesses comuns numa determi- • Psicossociais - Melhoria na qua-
saúde - Pode ser uma clínica priva- nada área, com o objectivo de conse- lidade de vida do doente e/ou dos
da, um hospital público, um centro guir informação qualitativa acerca seus familiares.
de saúde, um grupo de médicos, etc. de um determinado assunto6.
Neste tipo de perspectiva, é impor- Painéis Delphi - Consistem, tam- Desenho do estudo
tante a redução dos custos da bém, na auscultação de um de- No desenho do estudo deve-se entrar
prestação de cuidados (custos di- terminado grupo-alvo, geralmente em linha de conta, por um lado, com
rectos), mas já não são importantes especialistas numa determinada a metodologia que se vai empregar
os custos derivados da falta de pro- área, mas a discussão não é feita na e, por outro, com o tipo de análise
dutividade profissional dos doentes presença física dos participantes, que se quer efectuar.
(custos indirectos). mas sim por via indirecta, geral- A metodologia tem a ver com o
• Do doente - A perspectiva dos mente a via postal. modo como são avaliados os custos
doentes preocupa-se mais com a b) Indirectos - O valor monetário e as consequências e o tipo de
qualidade de vida e com os custos das alterações na produtividade que análise económica a efectuar tem a
da prestação de cuidados que não o doente vai ter como consequência ver com a forma como vão ser valo-
são pagos ou comparticipados pelo da morbilidade ou da mortalidade7. rizados os benefícios terapêuticos.
terceiro pagador. Há duas abordagens principais Há quatro tipos principais de es-
para estimar o valor monetário dos tudos de avaliação económica de
Custos e consequências custos indirectos: medicamentos: minimização de cus-
Convencionou-se chamar custos ou • Método do capital humano - Va- tos, custo-benefício, custo-efectivi-

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dade e custo-utilidade. Os tipos de ção económica de medicamentos cias clínicas sejam excluídas da
custos e consequências que os ca- são estudos de custo-efectividade análise.
racterizam encontram-se descritos que, como o nome indica, relacio-
no Quadro 1. As situações de utili- nam o custo com a efectividade do d) Custo-utilidade
zação dos diferentes tipo de estudo tratamento, medida em anos de vida Os estudos de custo-utilidade
encontram-se sumarizadas no Qua- ganhos, casos evitados ou pre- relacionam os custos de um deter-
dro 2. venidos, etc. Embora a maioria dos minada intervenção com as conse-
ensaios clínicos sejam efectuados quências, medidas em termos de
a) Minimização de custos em condições experimentais e ava- melhoria da qualidade de vida. A
Os estudos de minimização de liem a eficácia, isto é, a capacidade medição do estado de saúde depen-
custos partem do pressuposto que de produzir um efeito, os estudos de de do tipo de intervenção que nos
as consequências do uso das dife- avaliação económica preocupam-se propomos avaliar e pode incluir vá-
rentes alternativas são iguais e, por com aquilo que acontece nas rios tipos de ítens: capacidade físi-
isso, só é necessário comparar os condições «reais» da prática clínica ca, grau de dependência, estado psi-
seus custos. Torna-se evidente que, e, por isso, avaliam a efectividade, cológico, quantidade de dor ou de so-
nestes casos, a eficiência económica isto é, o impacto desse efeito numa frimento e nível de integração social.
aconselha a escolha da alternativa determinada população. Existem várias escalas de medi-
que gera menos custos. Os estudos de custo-efectividade ção da qualidade de vida, das quais
utilizam-se, geralmente, para ava- podemos destacar:
b) Custo-efectividade liar, terapêuticas que têm custos e Escalas específicas de doença
A maioria dos estudos de avalia- efectividade diferentes onde, quase • Karnofsky Performance Index
sempre, o medicamento mais efec- • Functional Living Index - Cancer
tivo é, também, o mais caro. Este Escalas gerais
QUADRO I tipo de avaliação tem a condicionan- • Nottingham Health Profile
TIPOS PRINCIPAIS DE ESTUDOS DE AVALIAÇÃO
te de só poder comparar interven- • Sickness Impact Profile
ECONÓMICA DE MEDICAMENTOS
ções com objectivos clínicos idênti- • Short-Form 35
cos e onde todos os resultados se po- QALYs (quality-adjusted life years)
Inputs Outputs dem apresentar na mesma unidade • Rating scale
Minimização de custos $ – de medida (ex: anos de vida ganhos). • Time trade-off
Custo-benefício $ $ • Standard gamble
Custo-efectividade $ Unidades c) Custo-benefício Os QALYs relacionam o número
naturais Os estudos de custo-benefício de anos de vida ganhos com a qua-
(ex. anos de põem problemas de execução por- lidade de vida e são um tipo de es-
vida ganhos) que nem sempre é possível avaliar calas muito utilizadas em avaliação
Custo-utilidade $ Estado de saúde as consequências de um tratamen- económica de medicamentos.
(melhoria da to em termos monetários. Esta limi-
qualidade de tação de avaliar monetariamente, Alternativas terapêuticas
vida) por exemplo, a vida humana, pode As alternativas que se podem equa-
ocasionar que algumas consequên- cionar, num estudo de avaliação
económica de medicamentos, po-
dem ser de vários tipos:
QUADRO II • Comparar com o medicamento
UTILIZAÇÃO DOS DIFERENTES TIPOS DE ESTUDO DE AVALIAÇÃO ECONÓMICA com maior quota de mercado, para
a mesma indicação terapêutica.
Minimização de custos Quando os tratamentos têm as mesmas consequências clínicas • Comparar com o medicamento
Custo-benefício Quando a valorização monetária dos benefícios não suscita muita controvérsia que apresenta custos mais baixos,
ou ambiguidade para a mesma indicação terapêuti-
Custo-efectividade Quando existe um objectivo terapêutico bem definido ca.
Custo-utilidade Quando é importante valorizar a qualidade de vida • Comparar com a alternativa não
fazer nada.

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Árvore de decisão maior precisão de estimação9. mais eficaz, mas mais caro do que o
A árvore de decisão é um diagrama São exemplos de situações em fármaco padrão, vai gerar por cada
que ilustra todos os caminhos al- que é necessário utilizar uma técni- doente tratado com esse novo me-
ternativos em resposta a um deter- ca de modelização: dicamento.
minado problema. Tem o objectivo • Extrapolar a progressão dos re- Esta técnica utiliza, essencial-
de estimar, por um lado, a efectivi- sultados para além do que é obser- mente, conceitos económicos rela-
dade, o beneficio ou a utilidade de vado num ensaio clínico. cionados com a noção de custos
um determinado tratamento e, por • Extrapolar endpoints a partir de marginais o que, em linguagem
outro, estimar os seus custos. resultados intermédios. menos técnica, significa a alteração
Para cada estratégica terapêutica • Modelizar o resultado observado nos custos provocada por cada novo
alternativa, os custos e consequên- num ensaio clínico ou num conjun- output (cada peça que é fabricada,
cias que lhe correspondem e a pro- to de ensaios clínicos, para reflectir cada dia de hospitalização, cada
babilidade de ocorrerem, são lista- acerca do que poderá ser o resulta- doente tratado com sucesso, etc.).
dos de uma forma sequencial e apre- do numa situação clínica diferente. A análise incremental relaciona a
sentados graficamente8. Depois de a eficácia de um medicamento com os
representação gráfica estar concluí- Actualização seus custos e, através desses dados,
da, preenche-se, da direita para a es- Como só muito raramente todos os determina a custo-efectividade in-
querda, os valores correspondentes custos e benefícios de uma determi- cremental de uma determinada te-
às probabilidades de ocorrência de nada terapêutica ocorrem simul- rapêutica em relação a outra.
cada consequência do tratamento, taneamente, torna-se necessário Por exemplo, num estudo de ava-
bem assim como dos seus custos. combinar os custos e os benefícios liação económica de medicamentos
presentes e futuros, em unidades em que se pretenda avaliar um novo
Dados clínicos que se possam comparar10. anti-epiléptico, que é mais eficaz,
Os dados clínicos podem ser con- De um modo geral, as pessoas mas mais caro, em relação ao anti-
seguidos dos seguintes modos: têm tendência a valorizar mais o pre- -epiléptico padrão, a análise incre-
• Dados provenientes de ensaios sente do que o futuro e, por esse mo- mental vai-nos dizer qual é o custo
clínicos já existentes. tivo, torna-se necessário utilizar adicional que teremos de suportar
• Dados recolhidos, retrospectiva- uma taxa de actualização que per- por cada doente que vai deixar de ter
mente, na altura do estudo económi- mita actualizar essa desvalorização crises epilépticas (devido à diferença
co. ao longo do tempo (discounting). de eficácia dos dois fármacos).
• Modelização ou síntese utilizando Mesmo num mundo com inflação
dados de várias fontes. zero e sem taxas de juro bancárias, Análise de sensibilidade
• Dados prospectivos recolhidos si- é vantajoso receber um benefício A análise de sensibilidade é a técni-
multaneamente com o estudo eco- mais cedo ou pagar os custos de um ca mais usada para lidar com a in-
nómico. determinado benefício o mais tarde certeza. Consiste em alterar um ou
A modelização consiste numa di- possível, porque isso permite mais vários parâmetros do estudo, dentro
versidade de técnicas utilizadas para opções11. de certos limites plausíveis, e veri-
permitir que uma avaliação possa A taxa de actualização tem algu- ficar o efeito que essa alteração
ser extrapolada para além do que é ma subjectividade, mas costuma provoca na decisão final.
observado directamente. Representa basear-se na taxa de juro do mer- Quando uma pequena variação
uma versão simplificada da com- cado de capitais a longo prazo. Em num determinado parâmetro vai al-
plexidade real. Portugal, o Ministério da Saúde terar o resultado do estudo, isto é,
Uma técnica de modelização adaptou o valor de 5% como refe- um medicamento que era mais cus-
muito utilizada é a meta-análise, um rência para a taxa de actualização to-efectivo do que outro passe a ser
método estatístico que nos permite dos custos e consequências12. menos custo-efectivo, concluímos
combinar resultados de vários en- que o resultado da avaliação é pouco
saios ou estudos levados a cabo so- Análise incremental consistente. Se, por outro lado, ape-
bre um mesmo tema. O objectivo A análise incremental emprega-se sar de fazermos variar um ou mais
perseguido é a obtenção de um quando se pretende avaliar custos parâmetros o resultado final da ava-
grande poder estatístico ou uma adicionais que um novo fármaco, liação se mantém, significa que

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REVISÕES

podemos confiar mais no resultado 1997; 0: 83-92. Masson, 1997.


dessa avaliação. 3. Drummond M, Rutten F, Brenna 10. Weinstein MC, Stason WB.
Na prática, a análise de sensibili- A, Pinto CG, Horisberger B, Jönsson B, Foundations of Cost-effectiveness analy-
et al. Economic evaluation of pharma- sis for health and medical practices. N
dade é feita para variações das do-
ceuticals - an European perspective. Eng J Med 1977; 296:716-21.
ses de medicamentos, do efeito tera- Pharmacoeconomics 1993; 4:173-186. 11. Drummond FD, Stoddart GL e
pêutica esperado, dos custos, das 4. Kassirer JP, Angell M. The Torrance GW. Allowance for differential
taxas de actualização, etc. Journal’s policy on cost-efectiveness timing of costs (discouting and the an-
analysis. N Eng J Med 1994; 331:669- nuitization of capital expenditures). In:
-70. Methods for the Economic Evaluation of
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
EDITORIAIS 5. Drummond MF, Jefferson TO. Health Care Programmes (2ª ed.) Oxford,
Guidelines for authors and peer revie- Oxford Medical Publications 1997: 68-
wers of economic submissions to the -74.
Os resultados finais de um estudo BMJ. BMJ 1996; 313:275-283. 12. Silva EA, Pinto CG, Sampaio C,
de avaliação económica de medica- 6. Fink A, Kosecoff J, Chassin M, Pereira JA, Drummond M, Trindade R.
mentos devem ser cuidadosamente Brook R. Consensus Methods: charac- Orientações metodológicas para estudos
analisados, nomeadamente através teristics and guidelines for use. Am J de avaliação económica de medicamen-
das seguintes questões: Public Health 1984; 74: 979-83. tos. Lisboa. Infarmed, Lisboa, 1998.
Os resultados são semelhantes 7. Luce BR, Elixhauser A. Assessing
Costs. In: A. J. Culyer (ed.). Standards
ao de outros estudos já efectuados?
for socioeconomic evaluation of health
Os resultados podem ser genera- care products and services. Berlin, Endereço para correspondência:
lizados? Springer-Verlag, 1990: 56-67. Armando de Medeiros
Os resultados põem problemas 8. Freund DA, Dittus RS. Principals Urbanização de S. Luis, Lote F -
éticos ou outro tipo de problemas of pharmacoeconomic analysis of drug Bloco B, 1o Esq.
não económicos? therapy. Pharmacoeconomics 1992; 1: 8000-494 FARO
20-32.
9. Bégaud B, Arias LHM. Diccionário Recebido em 22/09/01
CONCLUSÃO
EDITORIAIS
de Farmacoepidemiologia. Barcelona, Aceite para publicação em 06/05/02

A avaliação económica de medica-


mentos deve ser feita por uma ECONOMIC EVALUATION OF MEDICINES
equipe multidisciplinar em que en-
trem, pelo menos, médicos e/ou far- ABSTRACT
macêuticos e economistas. No en- Economic evaluation of medicines is a new area of knowledge which aims to help physicians and deci-
tanto, é do nosso interesse enquan- sion makers to choose among therapeutic alternatives based on the relation between the cost of
to profissionais de saúde, geradores medicines and the benefits arising from their use. The main types of economic evaluation of medicines
de encargos para o Serviço Nacional are: minimisation of costs, cost-benefit, cost-effectiveness, and cost-usefulness.
de Saúde, ter algumas noções bási- General practitioners, being prescribers and generators of costs for the National Health Service, should
cas que nos possibilitem fazer uma have some notions on economic evaluation of medicines which will allow them to critically read the
leitura crítica dos artigos de fárma- pharmacoeconomics articles that are made more and more available to them.
co-economia que, cada vez mais, nos
vão sendo facultados. Key-words: Cost-Benefit; Cost-Effectiveness; Cost-Usefulness; Pharmacoeconomics.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EDITORIAIS
1. Szucs TD. General concepts of
pharmacologic evaluations. In: Introduc-
tion to pharmacoeconomics. Course
Notes. London, 1995.
2. Medeiros A, Rações C, Peres M,
Santos P. Política de preços e compar-
ticipações. Comércio e Concorrência

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