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Governo do Estado do Ceará

Universidade Federal do Ceará - UFC


Secretaria da Ouvidoria-Geral e do Meio Ambiente - SOMA
Superintendência Estadual do Meio Ambiente – SEMACE
Instituto de Ciências do Mar – LABOMAR

Programa:
Zoneamento Ecológico e Econômico (ZEE)
da Zona Costeira do Estado do Ceará

Mapeamento das Unidades


Geoambientais da Zona
Costeira do Estado do Ceará

Fortaleza / Novembro 2005


2 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Governador do Estado do Ceará


Lúcio Gonçalo de Alcântara

Reitor da Universidade Federal do Ceará


René Teixeira Barreira

Secretário de Estado da Ouvidoria-Geral


e do Meio Ambiente - SOMA
José Vasques Landim

Superintendente da Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará -


SEMACE
Romeu Aldigueri de Arruda Coelho

Presidente da Fundação Cearense


de Pesquisa e Cultura
Francisco Antônio Guimarães

Diretor do Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR


Luís Parente Maia

Equipe de Coordenação do Programa ZEE


Luís Parente Maia – LABOMAR
Maria Dias Cavalcante – SEMACE
3 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

EQUIPE RESPONSÁVEL

Geólogo Luís Parente Maia (Prof.Dr. Diretor do Instituto de Ciências do Mar –


Labomar – UFC) Coordenador

Engenheiro Geólogo José Reginaldo Lima Verde Leal (Mestre em Geologia


Ambiental) Coordenador dos Trabalhos de Campo

Geólogo Givaldo Lessa Castro (Mestre em Geologia) Coordenador de Síntese e


Relatório Final

Geóloga Mônica Pimenta Castelo Branco (Profa. Dra. em Sensoriamento Remoto e


Coordenadora de SIG e Mapoteca Digital)

Geólogo Leonardo Hislei Monteiro Uchoa (Mestre em Ciências Marinhas e Tropicais)

Geólogo André Luiz Viana Cruz (Mestrando em Geologia)

Geóloga Helena Maria de Almeida Lessa (Mestre em Geologia)

Geógrafa Maria Valberlândia do Nascimento Silva (Mestre em Geologia)

Engenheiro de Pesca Reynaldo Marinho (Mestre em Engenharia de Pesca)

Engenheiro de Pesca Raimundo Nonato Conceição (Prof Dr. de Ecologia e Recursos


Naturais)

Oceanógrafo Manuel Bensi (Mestrando em Ciências do Mar)

Geógrafa Marizete Nogueira Rios (Mestranda em Geologia)

Luís José Cruz Bezerra (Graduando em Geologia)

Eduardo Guilherme Gentil de Farias (Graduando em Engenharia de Pesca)


4 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 2.1 Composição RGB 432 do LANDSAT 7 ETM..................................... 16


FIGURA 2.2 Composição RGB 543 do LANDSAT 7 ETM+ de 2001..................... 19
FIGURA 2.3 Composição RGB 321 do LANDSAT 7 ETM+ 2001.......................... 20
FIGURA 2.4 Composição RGB 752 do LANDSAT 7 ETM+ 2001.......................... 21
FIGURA 2.5 a) LANDSAT RGB 543 resolução espacial de 30 metros. b)
LANDSAT Banda 8 resolução espacial de 15 metros ....................... 22
FIGURA 2.6 Extrato de uma imagem Quickbird de composição RBG 321 com
resolução espacial de 0,6 metro. ...................................................... 23
FIGURA 2.7 Estuário do rio Jaguaribe (CE), mapeado a partir da combinação
entre as composições coloridas RGB 543 e 432 LANDSAT 7ETM+, e
fusão com a banda 8 (Resolução de 15m)........................................ 26
FIGURA 3.1 Estrutura Física e Tempo em Escalas Múltiplas. .............................. 31
FIGURA 3.2 Imagem de Satélite de Icapuí, onde se observa uma inflexão da costa
de NW-SE para E-W, com a formação de depósitos submersos e
laguna. .............................................................................................. 45
FIGURA 3.3 Imagem de Satélite, com os depósitos submersos na foz do rio
Acaraú............................................................................................... 46
FIGURA 3.4 Terminologia de Perfis de Praias (Modificado de U.S.A.C.E, 1992). 47
FIGURA 3.5 Estágios extremos de Praias (Modificado de U.S.A.C.E, 1992)........ 51
FIGURA 3.6 Principais modos de formação de corredores preferenciais de
deflação............................................................................................. 91
FIGURA 3.7 Classificação de Dunas Simples ....................................................... 98
FIGURA 3.8 Morfologia e depósitos de uma Planície de Inundação. (Modificado de
Federal Interagency Stream Restoration Working Group, 2000). ... 140
FIGURA 3.9 Elementos de um Corredor Fluvial.. ................................................ 145
FIGURA 3.10 Terraços nos riachos não incisos (A) e incisos (B e C)(Modificado de
Federal Interagency Stream Restoration Working Group, 2000). ... 147
FIGURA 3.11 Imagem de Radar onde se observa o litoral do estado do Ceará
desde a fronteira com o estado do Rio Grande do Norte até o vale do
rio Timonha. .................................................................................... 148
5 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

FIGURA 3.12 Imagem de radar mostrando a diferenciação das unidades


geoambientais................................................................................. 149
FIGURA 3.13 Imagem mostrando o antigo vale do rio Jaguaribe e a Chapada do
Apodi. .............................................................................................. 150
FIGURA 3.14 Imagem mostrando os dobramentos de rochas cristalinas ............. 151
FIGURA 3.15 Imagem de radar tridimensional do Maciço de Baturité e serras de
Aratanha e Maranguape.................................................................. 151
FIGURA 5.1 Matriz de Peculiaridade X Impacto da Ocupação ........................... 204

LISTA DE TABELAS

TABELA 2.1 Comparativo dos comprimentos de onda (µ) das bandas. ................... 15
TABELA 5.1 Enquadramento das Unidades Geoambientais .................................. 202
6 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS............................................................................................... 04
LISTA DE TABELAS............................................................................................... 05
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................. 08
2 METODOLOGIA ........................................................................................... 12
2.1 Pesquisa bibliográfica ................................................................................ 12
2.2 Etapas de campo......................................................................................... 13
2.3 Reinterpretação das feições e unidades das imagens ............................ 13
2.4 Processamento digital de imagens (PDI).................................................. 13
2.5 Satélite landsat............................................................................................ 15
2.6 Interpretação da composição RGB 432 .................................................... 16
2.7 Interpretação da composição RGB 543 .................................................... 18
2.8 Interpretação da composição RGB 321 .................................................... 18
2.9 Interpretação da composição RGB 752 .................................................... 20
2.10 QuickBird..................................................................................................... 22
2.11 Delimitação das unidades geoambientais ................................................ 25
2.12 Mapa de zoneamento geoambiental.......................................................... 26
3 AMBIENTES E UNIDADES GEOAMBIENTAIS........................................... 28
3.1 Comentários gerais..................................................................................... 28
3.2 Frente marinha ............................................................................................ 35
3.2.1 Depósitos sedimentares submersos ............................................................. 42
3.2.2 Praias............................................................................................................ 46
3.2.2.1 Beachrocks (arenitos de praia) ..................................................................... 56
3.2.2.2 Bermas e falésias.......................................................................................... 67
3.2.2.3 Cordões litorâneos ........................................................................................ 73
3.2.2.4 Barras ........................................................................................................... 82
3.2.3 Terraços marinhos ........................................................................................ 83
3.2.4 Planície de deflação...................................................................................... 87
3.2.5 Dunas costeiras ............................................................................................ 97
3.2.5.1 Classificação de dunas ................................................................................. 97
3.2.5.2 Paleodunas ................................................................................................... 99
3.2.5.3 Dunas fixadas por vegetação...................................................................... 102
7 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

3.2.5.4 Eolianitos .................................................................................................... 107


3.2.5.5 Dunas móveis ............................................................................................. 112
3.3 Corredores fluviais ................................................................................... 118
3.3.1 Planícies flúvio-marinhas ............................................................................ 120
3.3.1.1 Médio litoral-médio...................................................................................... 120
3.3.1.2 Médio-litoral superior................................................................................... 134
3.3.2 Planície fluvial ............................................................................................. 138
3.4 Terras Altas ............................................................................................... 144
3.4.1 Tabuleiros pré-litorâneos ............................................................................ 152
3.4.2 Chapada do Apodi ...................................................................................... 165
3.4.3 Planalto da Ibiapaba ................................................................................... 172
3.4.4 Maciços residuais........................................................................................ 175
3.4.5 Depressão sertaneja ................................................................................... 191
4 UNIDADES GEOAMBIENTAIS E AS ESTRUTUTURAS ESPACIAIS DOS
ECOSSISTEMAS ....................................................................................... 199
4.1 Escalas espaciais de ecossistemas ........................................................ 199
5 PLANEJAMENTO E CLASSIFICAÇÃO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO .
.................................................................................................................... 202
6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES..................................................... 219
7 REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA ............................................................... 221
8 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

1 INTRODUÇÃO

O objetivo principal do Zoneamento Ecológico Econômico - ZEE é servir de


base para os sistemas de planejamento em todos os níveis da administração pública
e gerenciamento, em diversas escalas de tratamento, das informações necessárias
à gestão do território. Na sua execução utilizamos como orientação e sistemática de
todos os trabalhos as Diretrizes Metodológicas para o Zoneamento Ecológico
Econômico do Brasil elaboradas em 2004 pelo Ministério do Meio Ambiente e
Amazônia Legal, cujos objetivos específicos são:

• Levantar, caracterizar e mapear, em sua totalidade, as áreas ocupadas com


intervenções antrópicas, manguezais, salgados, apicuns, áreas de
preservação permanente, unidades de conservação, áreas potenciais para
implantação de novos empreendimentos e áreas com outros usos;
• Quantificar as áreas de manguezais protegidas por legislação ambiental e
áreas potenciais para o cultivo de camarões e/ou outros usos;
• Fornecer elementos para o licenciamento de novos empreendimentos de
carcinicultura e atualização da legislação pertinente;
• Fornecer bases para o ordenamento do espaço territorial, objetivando a
defesa dos ecossistemas;

Na cartografia para o planejamento territorial utilizam-se dois enfoques de


acordo com as escalas dos mapas e abrangência territorial, ou seja, o enfoque
estratégico e o enfoque tático.

O enfoque estratégico, ocupando o alto da cadeia político-gerencial, dá-se em


dois níveis de escalas geográficas: escala de reconhecimento e escala intermediária,
usando o ZEE para chegar ao prognóstico da interação entre as potencialidades e
limitações, tendo em vista grandes áreas do domínio federal ou regional.

A escala de reconhecimento abrange áreas amplas representadas em


pequenas escalas (igual ou inferior a 1:500.000) e forma um modelo de
representação espacial, que permite vislumbrar grandes estruturas e processos
9 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

regionais, para sintetizar as relações entre as diversas feições ou características do


território objeto do planejamento.

As escalas intermediárias (entre 1:500.000 e 1:250.000) variam em função


das necessidades e disponibilidade de informações, principalmente cartográficas,
preferencialmente a nível de Estados da União.

O enfoque estratégico tem por objetivo esclarecer aos administradores e a


sociedade sobre os problemas e suas possibilidades de resolução, além de mostrar
as oportunidades da sociedade, em termos de futuro, subsidiando a definição de
políticas, planos e programas, visando uso e valorando os recursos naturais, tendo
em vista a dinâmica de ocupação, em consonância com a dinâmica dos sistemas
ambientais. Assim, é preciso maximizar a eficiência da relação do uso econômico e
resultado social versus recursos naturais.

O enfoque tático, com escalas variando de 1:250.000 até 1:10.000, abrange


os âmbitos: estadual, municipal, ou mesmo empresarial, e tem por objetivo apoiar o
gerenciamento de ações que possam proteger e preservar os recursos naturais a
nível local; reduzir os riscos de perda de capital natural e na atividade econômica;
subsidiar planos diretores, de manejo de unidades de conservação e de
monitoramento e avaliar os impactos ambientais de áreas urbanas.

As escalas de semi-detalhe, ou seja, maiores que 1:50.000, permitem uma


melhor visualização e compreensão de subsistemas ambientais. A unidade de
análise neste nível de precisão é a Unidade Territorial Básica (UTB), produto de
intersecção dos sistemas naturais versus o uso, que é mais adequada aos objetivos
do território, passando pelo órgão licenciador ambiental.

O ZEE do estado do Ceará, elaborado na escala 1:25.000, se enquadra no


enfoque tático (operacional), visando atingir o grau de detalhe de informações
adequadas às decisões estaduais e municipais, cuja variável principal é a
sustentabilidade ambiental e econômica dos microssistemas, qualidade ambiental e
proteção de ecossistemas específicos. Os principais produtos estão relacionados ao
10 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

diagnóstico do meio físico-biótico, meio sócio-econômico e meio jurídico-


institucional; situação atual, prognóstico, cenários e proposição de zonas.

Em alguns momentos, de acordo com as exigências da legislação,


especialmente a Resolução do CONAMA no 341, de 26 de setembro de 2003, Art. 3o,
o detalhe atingiu a escala 1:10.000, com informações extraídas de interpretações de
fotografias e imagem de satélite de alta resolução espacial (satélite Quick Bird).

É evidente que os ZEEs, nas diversas escalas, não se substituem,


complementam-se, tanto em propósitos, quanto em enfoques e linguagens. Porém,
não se chega ao macro diagnóstico pela simples soma dos diagnósticos detalhados.
É necessário que as instituições públicas adaptem e uniformizem os procedimentos
para que o acesso às informações seja facilitado e, as discussões e resultados
tenham o maior número de participantes possível.

A própria Constituição do estado do Ceará no seu Capítulo VIII (Do Meio


Ambiente), Art. 266 reza que, “O Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado
deverá permitir,
I - Áreas de Preservação Permanente;
II - Localização de áreas ideais para instalação de parques florestas, estações
ecológicas, jardins botânicos e hortos florestais ou quaisquer unidades de
preservação estaduais e municipais;
III - Localização de áreas com problemas de erosão, que deverão receber
especial atenção dos governos estadual e municipal;
IV - Localização de áreas ideais para reflorestamento.”

A Lei no 7.661, de 16 de maio de 1968, que Institui o Plano Nacional de


Gerenciamento Costeiro, no seu Art. 2o, Parágrafo Único, considera “Zona Costeira
o espaço geográfico de interação do ar, do mar e da terra, incluindo seus recursos
renováveis ou não, abrangendo uma faixa marítima e outra terrestre, que serão
definidas pelo Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro – PNGC. O Decreto no
5.300 de 7 de dezembro de 2004, que regulamentou a Lei no 7.661, em seu Artigo 7o
define a função do Zoneamento Ecológico Econômico Costeiro - ZEEC: “orientar o
processo de ordenamento territorial, necessário para a obtenção das condições de
11 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

sustentabilidade do desenvolvimento da zona costeira, em consonância com as


diretrizes do Zoneamento Ecológico Econômico do território nacional, como
mecanismo de apoio às ações de monitoramento, licenciamento, fiscalização e
gestão”.

Este zoneamento abrange todos os municípios do litoral do estado do Ceará


e, ainda, alguns municípios interioranos, onde se desenvolve atividade em
carcinicultura.
12 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

2 METODOLOGIA

2.1 Pesquisa Bibliográfica

A etapa inicial do projeto consistiu no levantamento de todas as informações


relacionadas com os aspectos cartográficos, estruturas espaciais de ecossistemas
fluviais, geologia regional, geomorfologia, geofísica, hidrologia e hidrogeologia,
assim como os dados referentes às diretrizes metodológicas do ZEE. Estes dados
foram sumarizados e as informações relevantes utilizadas na etapa de
sistematização do relatório e, algumas vezes, inseridas na redação do texto.

Em relação ao conteúdo ilustrativo do presente relatório, inicialmente, a


coletânea de imagens digitais adquiridas em trabalhos anteriores foram catalogadas
por localidades e legendadas, visando, dessa maneira, organizar o banco de
informações. Essa etapa foi complementada pelos registros fotográficos obtidos
durante as excursões de campo.

O estudo da evolução da dinâmica costeira cearense, visando a determinação


das áreas em processo progradacionais e erosionais, a avaliação do processo
migratório dos campos de dunas, a migração das desembocaduras fluviais e a
individualização das unidades geoambientais, contou com informações extraídas por
interpretações de imagens de sensoriamento remoto, entre as quais se destacam as
imagens mutitemporais dos satélites multiespectrais da série LANDSAT (5 e TM7),
com resoluções espaciais de 30 (todas as bandas do Landsat 5) e 15 metros (na
banda pancromática do Landsat TM7), dos satélites de alta resolução espacial,
IKONOS e QUICK BIRD, de resolução espacial de 4 metros e 0,60 metros,
respectivamente, e fotografias aéreas multitemporais.

No estudo da correlação entre as unidades geoambientais, em escala


regional, foram utilizados dados do Shuttler Radar Topography Mission (SRTM) da
NASA/USGS.

O processo de georreferenciamento das fotografias aéreas foi realizado por


intermédio de Pontos de Controle (PC) obtidos em campo e nas imagens de satélite.
13 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

2.2 Etapas de Campo

As informações obtidas pelas interpretações das imagens de sensoriamento


remoto geraram uma base cartográfica para a individualização das unidades
geoambientais que, posteriormente, foram complementadas e averiguadas nas
etapas de campo.
As excursões de campo foram direcionadas para o conhecimento da natureza
litológica dos afloramentos, coleta de amostras para análises laboratoriais, descrição
das feições morfológicas, avaliação das direções do transporte sedimentar eólico
nos campos de dunas, reconhecimento dos tipos de perfis praias e composição do
acervo fotográfico.

2.3 Reinterpretação das Feições e Unidades das Imagens

A associação das informações permitiu o reajuste das delimitações das


unidades geoambientais representadas na base cartográfica, tornando-a, portanto,
rica em informações detalhadas, tais como atitudes das unidades geológicas,
delimitação entre as menores unidades geoambientais, identificação dos depósitos
eólicos, dentre outras.

2.4 Processamento digital de Imagens (PDI)

Neste trabalho foram utilizadas as imagens digitais multiespectrais do satélite


Landsat 7 ETM+ na faixa espectral do visível-infravermelho (VISIR, com resolução
espacial de 30 metros), e pancromática (PAN com resolução espacial de 15 m)
georeferenciadas para o datum horizontal SAD 69. As imagens foram selecionadas
admitindo um baixo índice de nebulosidade e com datas de geração pelo satélite nos
anos mais recentes possíveis para que o mapeamento fosse de caráter bem atual.

O software para processamento digital das imagens foi o ENVI The


Environment for Visualizing Images ver 3.5 e para a integração de dados
georreferenciados o software ArcGIS versão 8.1.
14 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

As atividades de geoprocessamento envolveram o processamento digital de


imagens de sensoriamento remoto e a integração de dados em estrutura de SIG
(Sistema de Informação Geográfica).

Em seguida foram realizados os procedimentos de análise e interpretação das


assinaturas espectrais predominantes e a seleção das composições coloridas das
bandas para a geração de imagens com caráter multiespectral. Do conjunto de
imagens coloridas, foram interpretadas aquelas que proporcionaram melhor
distinção das unidades de paisagem, levando em consideração às áreas das
unidades geoambientais e acidentes geográficos. Essas imagens coloridas, quando
combinadas às imagens provenientes das filtragens direcionais, contribuíram na
detecção visual de linhas e bordas, provavelmente marcadoras dos limites entre as
unidades. Nas imagens digitais monocanais e coloridas resultantes, foram aplicados
os procedimentos de interpretação visual, utilizando as variações de cor, brilho e
intensidade dos pixels na determinação espacial detalhada dos elementos da
paisagem. Também foram utilizados os procedimentos automáticos de detecção
disponíveis nos softwares.

As imagens resultantes das diversas composições entre as bandas


espectrais, propiciam, para o caso dos estuários, uma excelente discriminação das
principais unidades de paisagem. Como referência de base para a identificação das
feições admitiu-se as composições das bandas espectrais LANDSAT: 432, 543, 321
e 752 todas sob sistema RGB (Red, Green e Blue). Para melhor obtenção na
definição dos contornos foi utilizada a Banda 8 de resolução pancromática (15
metros) para o satélite LANDSAT 7 ETM+.

Para otimização dos trabalhos na base estrutural do software ArcGIS os


projetos foram divididos de acordo com as cenas Landsat. Os mangues e fazendas
de camarão estão identificados e situados geograficamente de acordo com os seus
respectivos estuários. Possibilitando uma análise espacial mais ágil.
15 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

2.5 Satélite Landsat

O Landsat 7 ETM+ é o mais recente satélite em operação do programa


Landsat, financiado pelo Governo Americano. Este satélite foi lançado em abril de
1999, com um sensor a bordo chamado de ETM+ (Enhanced Thematic Mapper Plus
– Mapeador Temático de Maior Realce). As imagens Landsat 7 ETM+ são
compostas por 8 bandas espectrais que podem ser combinadas formando diversas
composições coloridas a fim de realçar as feições de interesse.

Entre as principais melhorias técnicas, se comparado ao seu antecessor o


satélite Landsat 5 TM (Thematic Mapper – Mapeador Temático), destaca-se a banda
espectral 8 (banda Pancromática) com resolução de 15 m (Tabela ), em perfeita
sintonia com as demais bandas; melhorias nas características geométricas e
radiométricas; e o aumento da resolução espacial da banda termal para 60 m. Esses
avanços tecnológicos permitem qualificar o LANDSAT 7 como sendo o satélite mais
interessante para a geração de imagens com aplicações diretas até a escala
1:25.000. Com relação a outros sensores de média resolução (15 a 30 metros) o
LANDSAT 7 ETM+ dispõe de imagens com melhor relação custo benefício dos
dados gerados a partir delas por recobrir grandes áreas e oferece esses níveis de
escala.

Tabela 2.1 - Comparativo dos comprimentos de onda (μ) das bandas espectrais dos
sensores LANDSAT.

Sensor 1 2 3 4 5 6 7 8
0.45 0.52 0.63 0.76 1.55 10.4 2.08 -
TM
0.52 0.60 0.69 0.90 1.75 12.5 2.35 -
0.45 0.53 0.63 0.78 1.55 10.4 2.09 0.52
ETM+
0.52 0.61 0.69 0.90 1.75 12.5 2.35 0.90
16 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

2.6 Interpretação da composição RGB 432

Ao utilizar a composição RGB 432 Lansat 7 ETM+ os tipos de cobertura


vegetal estão bem diferenciados, com as áreas de manguezais em tons de vermelho
escuro, rugosidade média e aparecem compondo aglomerados e/ou faixas estreitas
às margens das principais drenagens que mantém comunicação direta com água do
mar (Figura 2.1).

Os manguezais degradados destacam-se facilmente pela coloração de


marrom-escuro a preto mantendo, contudo a rugosidade média, freqüentemente
bordejada por uma estreita faixa de manguezais vivos. Estas áreas estão
diretamente associadas às regiões com carcinicultura, bem demarcadas pela forma
poligonal dos tanques e resposta espectral em tons azul-claro.

As áreas de caatinga arbustiva-arbórea fechada e caatinga arbórea fechada,


por vezes indistintas e por isso definida como mata de caatinga densa, ocorrem com
coloração vermelho vivo e rugosidade média a fina. As áreas de caatinga arbustiva-
arbórea aberta são descritas como caatinga rala, são marcadas pela coloração
marrom-avermelhado e rugosidade média, decorrente da participação de solo e
rocha expostos nas respostas espectrais dessas porções do terreno.

Figura 2.1 - Composição RGB 432 do LANDSAT 7 ETM+ (agosto de 2002), Imagem da
desembocadura do rio Jaguaribe-CE.
Observar áreas de manguezais em tons de vermelho escuro na margem direita do rio.
17 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

As áreas de solo exposto e com pouca vegetação, quando presentes nas


áreas com substrato dos litotipos da Formação Barreiras, mostram-se com alta
rugosidade e tons de marrom-avermelhado a marrom-claro decorrentes da ampla
participação de rochas desagregadas, material argiloso e rico em óxidos e hidróxidos
de ferro. Nas áreas onde a vegetação foi totalmente retirada e os terrenos
aplainados para construção de obras de engenharia (áreas industriais,
assentamentos, expansão de cidades, etc.) o solo exposto mostra-se com coloração
variável de marrom-claro a azul, dependendo do tipo litológico no substrato, mas a
detecção é facilitada devido à forma freqüentemente poligonal.

As áreas urbanas mostram-se também com coloração variando de bege a


azul, devido à grande quantidade de solo/obras exposto, mas com textura em grade
que caracteriza os arruamentos, e algumas concentrações que denotam a presença
de bosques, e parques com vegetação. As áreas de planície de inundação das
drenagens são marcadas por tons de azul claro, devido aos bancos de areia por
vezes com água ou alguma umidade. As planícies de maré próximas às zonas
costeiras assumem cores variáveis de marrom e azul esverdeado, devido a maior
participação de material lamoso e umidade alta.

Os campos de dunas móveis são tipicamente marcados por cores que variam
do branco ao amarelo-claro, devido à presença de areias inconsolidadas e ausência
de vegetação, por vezes com formas de cordões e barcanas que denotam a
orientação dos ventos na região. As depressões interdunares e a planície de
deflação, com lagoas e/ou vegetação rasteira, mostram coloração marrom
avermelhadas.

As zonas de praias assumem cores que variam de branco, quando com areia
livre e seca, a marrom azulado, quando com alguma umidade ou ainda sob
influência das alturas das marés. As águas oceânicas apresentam coloração
variando de azul marinho, azul anil e azul claro à medida que se aproxima da faixa
litorânea, variação decorrente da diminuição da profundidade e aumento na
quantidade de sedimentos em suspensão próximo à linha de costa.
18 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

2.7 Interpretação da composição RGB 543

Esta composição espectral é muito difundida para trabalhos relativos a


zoneamento do uso e ocupação do solo tendo em vista a percepção de feições
geográficas expostas. Composição mais utilizada na identificação de antropismo
como zonas urbanas, loteamentos ou regiões que sofreram intervenção humana que
podem ser representadas por uma coloração rósea com leves tons de cor marrom e
limites pouco sinuosos. Os loteamentos podem se apresentar com tons
esverdeados, isto varia com o percentual de áreas desmatadas, vegetação de
planície fluvial, flúvio-marinha ou de inundação com coloração rósea azulada
tendendo para lilás, quando circundam corpos d´água e em função de suas
profundidades as tonalidades podem variar de azul claro a escuro (Figura 2.2). Não
é recomendada a utilização dessa composição de cores para o reconhecimento de
diversos tipos de vegetação principalmente a distinção de mangue e vegetação de
tabuleiro, ou mesmo a diferenciação dos tipos de mangue: degradado, denso ou
pouco denso, entre outros.

2.8 Interpretação da composição RGB 321

Esta composição corresponde à visualização mais próxima a natural, como se


observássemos as feições terrestres dentro de uma aeronave em vôo. Também
permite a visualização das feições marinhas submersas rasas e plumas de
descargas dos rios.

Apresenta-se bastante importante na identificação dos limites de zonas


urbanas, ocupação, afloramentos rochosos, mas principalmente para a identificação
do uso do solo. Os manguezais se apresentam de baixa rugosidade e tons
esverdeados muito escuros. Distingui-se dos outros tipos de vegetação que
circundam os mangues pela presença de água na planície de flúvio-marinha, os
corpos d´água, como lagoas ou açudes apresentam índices de reflectâncias muito
próximo dos campos alagados marinhos. Solos expostos aparecem bem marcados
com cores claras que variam de amarelo a branco.
19 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

As plumas de sedimentos da deriva litorânea são bem marcadas pela


diferença de cor entre os sedimentos em suspensão, que estão próximo à costa e o
azul “oceânico” das porções mais distantes. Esta coloração azul esbranquiçada pode
ficar mais escura ou mais intensa em função o aumento das descargas fluviais em
períodos mais chuvosos. Além da diferenciação de cor a zona da deriva litorânea
também é marcada por estruturas em forma de vórtices das manchas. Tais
estruturas se forma pela própria dinâmica das correntes marinhas e clima de ondas
atuantes na zona costeira, pela presença de ilhas ou de bancos arenosos ao fundo
(Figura 2.3).

Figura 2.2 – Composição RGB 543 do LANDSAT 7 ETM+ de 2001. As zonas alagadas têm
resposta espectral em tons lilás a róseo.

Os recifes são principalmente realçados pela espuma formada pela


arrebentação das ondas, logo após a arrebentação também se podem observar
manchas amareladas com nuances da cor verde pela presença das algas que
compõem o recife.

Em alguns casos a utilização da técnica de realce no processamento digital


de imagens pode aumentar ainda mais o nível de resolução espectral.
20 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Figura 2.3 – Composição RGB 321 do LANDSAT 7 ETM+ 2001. No detalhe as plumas de
sedimentos em suspensão e realce da planície flúvio-marinha.

2.9 Interpretação da composição RGB 752

Esta composição realça as planícies fluviais e flúvio-marinha em comparação


as vegetações de tabuleiro ou outras que as circundam. As diferenciações das
tonalidades de verde para os tipos de vegetação se diferem muito quando
comparadas às regiões estuarinas com zonas vizinhas a estes ecossistemas que se
apresenta com verde escuro. Também se mostra muito eficiente para o mapeamento
das zonas urbanas que se distinguem com bastante contraste entre as outras
feições pela cor amarela queimado (Figura 2.4).

Tem como principal objetivo o uso desta composição a identificação de áreas


aterradas em zonas de manguezais e os limites da planície flúvio-marinha com a
planície fluvial. É também utilizada para estudos em escalas regional para geologia
estrutural.
21 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Figura 2.4 – Composição RGB 752 do LANDSAT 7 ETM+ 2001, imagem da região do estuário
do rio Coreaú, Camocim, Ceará.

A banda espectral 8 do satélite Landsat 7 ETM+ tem resolução geométrica


pancromática, ou seja, em quanto às outras 7 bandas espectrais apresentam
resolução de 30 metros a pancromática tem resolução 15 metros (Figura 2.5).
Quando o mapeamento é realizado utilizando as ferramentas de sensoriamento
remoto com as imagens LANDSAT nos é permitido a produção de cartas numa
resolução escalar de 1:50.000 quando utilizamos a acuidade da banda 8
(pancromática) a escala do mapeamento pode alcançar escalas maiores que
1:25.000.

As delineações dos limites das feições identificadas são realizadas a partir


desta banda pancromática, dando mais precisão na definição dos limites e cálculos
de área.
22 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Figura 2.5 – a) LANDSAT RGB 543 resolução espacial de 30 metros.


b) LANDSAT Banda 8 resolução espacial de 15 metros, maior definição nos contornos das
feições geográficas presentes nas imagens.

2.10 QuickBird
O sensor mais recente capaz de capturar imagens da Terra com resolução
espacial de alta precisão. Foi lançado em outubro de 2001, e tem o objetivo de dar
suporte nas aplicações de gerenciamento urbano ou rural, avaliação de riscos
ambientais, levantamentos cadastrais ou mapeamentos em escala de detalhe dentre
outros mais específicos. O sistema é composto por três bandas espectrais do campo
visível, com resolução espacial de 2,4 metros, mais uma banda pancromática de
reduz o tamanho do píxel (unidade mínima que compõe a imagem) a 0,61 metros.
Apresenta 4 bandas multiespectrais: azul (450-520 nm); verde (520-600 nm);
vermelho (630 a 690 nm); Infravermelho próximo (760-900 nm), com resolução
espectral de 2,44 no nadir e 2,88 a 25º do nadir, reamostrado para 2,80 e
ortoretificado. A banda pancromática tem resolução espacial de 0,61 metros no nadir
e 0,72 a 25º do nadir.

O satélite QuickBird adquire imagens pancromáticas e multiespectrais de


forma simultânea, através de uma fusão entre estas é gerado um produto com
resolução espacial de 0,61 m, com representação em cor natural ou infravermelho. A
tecnologia de digitalização de 11 bits por píxel induz 2048 níveis de tons de cinza, o
que objetiva um produto de grande precisão geométrica. Assim, pode ser observado
nas escala de tons de cinza a riqueza de detalhe nas imagens utilizadas. A grande
resolução radiométrica (11 bits) e a grande janela espectral do sensor pancromático
23 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

permitiu uma alta capacidade de descrição dos demais ambientes caracterizados


pela presença de vegetação verde.

Através da alta qualidade da imagem é possível identificar várias unidades


paisagísticas somente com a análise visual da imagem, mas as definições das
feições naturais têm auxílio de informações de campo, como característica edáficas
e interpretação geomorfológica (Figura 2.6).

Figura 2.6 – Extrato de uma imagem Quickbird de composição RBG 321 com resolução
espacial de 0,6 metro. Região próxima a foz do rio Acaraú e ao município de Itarema, Litoral
oeste do Ceará, 2003. Zona de mangue exposta diretamente ao mar. Região povoada e também
de com atividade de carcinicultura. Na ampliação foi aplicado um filtro de realce do tipo
Gaussiano diferenciando os tipos de vegetação de mangues pela variação das tonalidades de
verde.
24 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Checagem de campo é um procedimento onde são registradas todas as


informações de forma descritiva, no terreno, com o maior detalhe possível dos
pontos de interesse, também são registradas outras observações onde só é possível
diferenciar as feições geomorfológicas, condições edáficas e identificação de regiões
com tipo específico de vegetação. Na checagem de campo são realizados também
registros fotográficos em meio digital. O processo é finalizado com a elaboração de
uma banco de dados com descrição de campo, com registro fotográfico e
georreferenciamento desses pontos.

Resumo técnico:

Lançamento: 18 Outubro 2001, Base Aérea Vanderberg, Califórnia, USA


Lançador: Boeing Delta II
Órbita: 450 km de altitude, 93.5 min/orbita, cruza equador 10:30 am (desc)
Inclinação: 97.2 graus heliosíncrono
Largura do swath: 16.5 km no nadir (nominal)
Sensor Pancromático: Resolução espacial: 0.61 metros no nadir, 0.72 m 25º do
nadir. Reamostrado para 0.70 m e ortorectificado. Banda espectral: 450-
900 nm
Sensor Multiespectral: Resolução espacial: 2.44 metros no nadir, 2.88 m 25º do
nadir. Reamostrado para 2.80 m e ortorectificado. Bandas espectrais: 450-
520 nm (azul); 520-600 nm (verde); 630 a 690 nm (vermelho); 760-900 nm
(IV próximo).
Dinâmica: 11 bits/pixel

I. Montagem e calibração dos produtos do imageamento do satélite


quickbird;
II. Consulta do acervo de base cartográfica pré-existente;
III. As imagens Quickbird revelaram um alto nível de detalhe, isto resultou na
definição das unidades mais relevantes ao objetivo do trabalho.
Montando então uma base específica ao tema a ser abordado no mapa
proposto;
IV. A vetorização, das feições identificadas, foi feita numa escala de
visualização de 1:2000 e/ou 1:1000 para melhor definição dos contornos
25 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

(Topologia) das unidades mapeadas. Podendo então apresentar um


produto do mapeamento sob uma escala de 1:5000 com bastante
confiança, este nível de detalhe deve ser coerente com o nível de detalhe
da imagem utilizada.
V. Outro detalhe sobre a metodologia é a oportunidade de poder utilizar um
traço geométrico em territórios antropizados, regular onde a morfologia é
planificada, e mais curvilíneos em regiões de colinas ou montanhas.
VI. Este método de elaboração de cartas de uso e ocupação do solo, já
conhecido, utiliza ainda como ferramenta, os critérios prevalência
(feições de grande expressão escalar), de maior verossimilhança (feições
de grande expressão espectral), checagem de campo com auxílio de
técnicas de GPS e dados auxiliares no processo interpretativo.
2.11 Delimitação das Unidades Geoambientais
Após a interpretação e análise dos produtos de processamento digital das
imagens foram realizadas algumas campanhas de campo para checagem das
feições mapeadas e tomada de pontos de controle para aferição das unidades
naturais de interesse.

As imagens devidamente georreferenciadas são salvas no formato GEOTIFF


e posteriormente carregadas no Software ArcGIS 8.1. A partir daí são traçados os
limites estruturais das unidades geoambientais onde as áreas são calculadas, para
cada setor individualizado, o somatório resulta em área total de cada unidade (Figura
2.7).
26 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Figura 2.7 – Estuário do rio Jaguaribe (CE), mapeado a partir da combinação entre as
composições coloridas RGB 543 e 432 LANDSAT 7ETM+, e fusão com a banda 8 (Resolução de
15m).

2.12 Mapa de Zoneamento Geoambiental

No mapa de Zoneamento Geoambiental, realizado na escala 1:25.000, as


unidades identificadas e delimitadas foram agrupadas acordo com os processos
ambientais dominantes e associadas às estruturas espaciais de ecossistemas
definidas pelo Federal Interagency Stream Restoration Working Group (2000) e
discutidos anteriormente.

Dessa maneira, o produto cartográfico do Zoneamento Geoambiental conta


com um vasto conteúdo de informações das feições naturais da zona costeira
cearense, referentes a quantificação das unidades identificadas, a evolução natural
dos recursos naturais envolvendo, principalmente, as áreas de manguezais e
recursos hídricos superficiais.

Nas indicações e sugestões de uso e ocupação do solo, além das vias de


acesso e toponímia, são indicadas as áreas de instabilidade e passíveis de
ocupação com graus de peculiaridade e de impacto dentro do Roteiro Metodológico
para Gestão de Área de Preservação Ambiental do IBAMA (Amaral, 2001), em
27 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

quatro zonas: Proteção Prioritária, Proteção Especial, Conservação Prioritária e


Conservação Especial.
28 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

3 AMBIENTES E UNIDADES GEOAMBIENTAIS

3.1 Comentários Gerais

A compreensão dos fenômenos naturais que atuam sobre uma determinada


área e da seqüência das transformações por ela sofrida é geralmente mais
importante que o simples mapeamento das unidades geoambientais desta região.
Os mapas de zoneamento são sempre estáticos, representando o estado das
feições no momento em que elas foram cartografadas. No caso da dinâmica
costeira, ela é tão mutante que se torna necessária uma discussão sobre as
oscilações do nível do mar e a atuação dos agentes destas transformações, para
que possamos acompanhar todas as evoluções, e prever o que pode ocorrer ao
longo do tempo, com objetivo de alertar aos planejadores urbanos dos riscos que
estarão sujeitos, se contrariarem a marcha indiferente da natureza (Leal, 2003).

A Unidade Geoambiental, ou Unidade Territorial Básica (UTB), definida no


Apêndice 1 (Glossário) das “DIRETRIZES METODOLÓGICAS PARA O
ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO DO BRASIL”(2004), “exprime o
conceito geográfico de zonalidade através de atributos ambientais que permitem
diferenciá-la de outras unidades vizinhas, ao mesmo tempo em que possui vínculos
dinâmicos que a articulam a uma complexa rede integrada por outras unidades
territoriais. Estas UTB´s são definida por foto-interpretação, no processo manual de
observação e identificações de regiões e imagens de satélite” (Lucena, 1998).

O Decreto no 5.300 em seu Art. 2o, item XV, define Unidade Geoambiental
como sendo a ”porção do território com elevado grau de similaridade entre as
características físicas e bióticas, podendo abranger diversos tipos de ecossistemas
com interações funcionais e forte interdependência”, ou seja, são faixas ou regiões
de mesmas características de origem e forma que podem ser individualizadas nos
mapeamentos, para se estabelecer os condicionamentos de uso e ocupação. Elas
podem pertencer a um único ambiente, ou fazer parte de meios diferentes. Daí a
necessidade de agrupá-las dentro dos ambientes de origem, onde há domínio de
uma dinâmica responsável por sua formação.
29 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Uma grande dificuldade para todos os profissionais que pretendem mapear


uma determinada região, que englobe o litoral, é a classificação de costas e praias.
Finkl (2004) lembra que as “classificações de costas são, de algum modo,
enigmáticas, porque a maioria das costas é composta de feições que se superpõem,
de processos terrestres, costeiros e marinhos, produzindo características e formas
multifacetadas e poligênicas, num arcabouço geológico herdado”. Ele afirma que a
dificuldade de definir costa é porque elas representam manifestações transitórias
espaciais e temporais, que são locais de associações únicas de processos
erosionais e deposicionais. Antes mesmo de sugerir ou sistematizar qualquer
classificação, ele faz uma ressalva de que a proposta é vista como uma tentativa de
aproximação, que pode ser modificada.

Ao recapitular as classificações, ele cita a de Mill, datada de 1843, onde o


autor discute as bases lógicas e princípios do processo da classificação. Depois,
aborda a classificação de Cotton (1952), baseada na estabilidade geodinâmica de
regiões costeiras e, secundariamente, nas oscilações do nível do mar. A
classificação de Jonhson (1919) se baseia nos processos relacionados com as
variações do nível do mar enquanto que a de Shepard (1948) leva preferencialmente
em conta a ação de agentes não marinhos. Outras classificações se apóiam em
avanço da linha de praia (Valentin, 1952).

Uma outra classificação proposta abordada por Finkl (2004) apóia-se na


sensibilidade das costas ao derramamento de óleo, que leva em conta o tipo e a
forma do material que as constitui, seja este material coeso ou inconsolidado.

Na classificação de ambientes costeiros/marinhos usando imagens de


satélite, Finkl (2004) baseou-se num programa de oceano costeiro do NOAA
denominado Change Analysis Project (C-CAP) que usa sensoriamento remoto digital
e medidas in situ, georreferenciados com GPS, para monitorar as mudanças nos
habitats das terras úmidas e terras altas adjacentes.

Este autor sugere o uso de imagem de satélite, no lugar das fotos aéreas
convencionais, para mapeamento de terras úmidas. A padronização do banco de
dados do C-CAP para monitorar a cobertura e mudanças no habitat, nas regiões
30 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

costeiras dos Estados Unidos, leva em conta, para um melhor conhecimento de:
terras altas costeiras, terras úmidas e habitats submersos, além das divisões
administrativas, que, no nosso caso, seriam os municípios.

O Sistema de Classificação de Cobertura do C-CAP, segundo Klemas et al.


(1993, apud Finkl, 2004) inclui três superclasses: terras altas, terras úmidas e terras
submersas. Estas superclasses foram sudivididas em classes e sub-classes que
refletem as relações ecológicas e classes de coberturas, que podem ser
diferenciadas inicialmente por interpretação das imagens de sensoriamento remoto
por satélites. Este sistema foi adaptado e compatibilizado (Finkl, 2004) para ser um
sistema de classificação padrão nacional, inclusive do U.S. Geological Survey (Land
Use and Land Cover Classification Sistem).

No projeto de Implantação da Área de Proteção Ambiental (APA) de Canoa


Quebrada em Aracati (2001 e 2002), foi usada pela primeira vez, pela equipe que
ora participa deste ZEE, no zoneamento geoambiental, a classificação que
englobava as unidades em quatro ambientes: marinho, eólico, flúvio-marinho e fluvial
(corredor fluvial com canal fluvial, planície de inundação e franja de transição de
terras). O critério de ambientes incluía os conceitos de terras altas e úmidas
(corredores fluviais) (GAU, 2002; Leal & Maia, 2002; e Leal, 2003) semelhantes
àqueles que seriam abordados por Finkl (2004).

Em 2002-2003, parte da mesma equipe que participa deste projeto, realizou


um trabalho de zoneamento geoambiental do litoral leste do estado do Ceará, cujas
unidades geoambientais foram classificadas grupadas em três ambientes: marinho,
flúvio-marinho e continental (Maia et al., 2004).

Nos trabalhos do ZEE da Zona Costeira do estado do Ceará, os tipos de


levantamentos realizados foram compatíveis com aqueles sugeridos por Finkl (2004)
e outros autores para um trabalho desta envergadura. A escala do projeto (1:25.000)
é considerada, por ele, como de detalhe, onde a representação morfoestrutural
fornece uma base para incorporar a dependência do relevo na estrutura
geomorfológica, o tipo de rocha, estruturas e agentes modeladores prevalecentes.
31 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Um conceito novo que tem tomado impulso nos últimos tempos é o de


Recuperação de Corredores Fluviais. Ele está muito bem sintetizado no National
Engineering Handbook, do USDA – Natural Resources Conservation Service,
publicado em 1998 e revisado em 2000, na parte 653, referente à Stream Corridor
Restoration, de responsabilidade do Federal Ingeragency Stream Restoration
Working Group - FISRWG. A terminologia é nova e os termos foram redefinidos, por
isso os temas sobre rios e riachos abordados neste trabalho são todos baseados
nestes conceitos. As paisagens (landscapes) e os corredores fluviais (stream
corridor) são ecossistemas que podem ocorrer em diferentes escalas espaciais. Para
entender o seu funcionamento é preciso levar em conta que ele envolve movimento
de material e várias fontes de energia, como aquecimento e resfriamento das águas,
atividade de organismos vivos, seja em ambientes internos, ou externos (Leal,
2003).

Segundo os ecologistas, numa paisagem, a estrutura espacial pode ser


definida através de quatro termos: matriz, mancha, corredor e mosaico,(Fisrwg,
2000) (Figura 3.1).

Figura 3.1 - Estrutura Física e Tempo em Escalas Múltiplas (Modificado de Federal Interagency
Stream Restoration Working Group, 2000).
32 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Matriz pode ser definida como uma cobertura de terra (land cover) que é
dominante e interconectada com a maioria das superfícies de terra. Comumente, a
matriz representa florestas ou campos cultivados, mas teoricamente pode ser
qualquer cobertura de terra.

Mancha (patch) é uma área não linear (polígono), que é menor do que a
matriz e se diferencia no seu interior.

Corredor (corridor) é um tipo especial de mancha que une as outras manchas


na matriz. Tipicamente, um corredor tem forma alongada ou linear, tal como corredor
fluvial (stream corridor).

Mosaico (mosaic) seria um grupo de manchas em que nenhum deles é


suficientemente amplo para estar interconectado através de toda a paisagem.

Os termos básicos para definir a estrutura espacial levam em consideração a


escala de abrangência em cada caso, daí a relevância da definição de “escala de
bacia hidrográfica”. Este termo é uma forma de escala espacial, que também pode
englobar os corredores fluviais, porém com um sentido mais amplo já que este
último está intimamente relacionado ao sistema de drenagem. Em maior escala,
pode-se definir Região (region) como uma ampla área geográfica com um
macroclima e uma esfera de interesses e atividades humanas em comum (Forman,
1995, apud FISRWG, 2000), como, por exemplo o semi-árido do nordeste brasileiro.
Os elementos espaciais encontrados em escala regional são chamados paisagens
(landscapes).

Dentro deste padrão de classificação, o termo matriz engloba desertos,


pastagens áridas, florestas e zonas agricultáveis. Em escala regional, as manchas
incluem, os lagos, terras úmidas, áreas reflorestadas, zonas metropolitanas, terras
usadas para agricultura, todos de maior porte. E, finalmente, os corredores que
relacionam as cadeias de montanhas, os vales dos maiores rios e desenvolvimento
interregional ao longo de um corredor de transporte (transportation corridor).
Segundo o Federal Interagency Stream Restoration Working Group – FISRWG
(2000), a paisagem: ”é uma área geográfica caracterizada por sistema de
33 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

componentes repetidos, que incluem comunidades naturais como manchas de


florestas e terras úmidas e áreas sujeitas a alterações antrópicas, tais como terras
de cultivo e vilas. As paisagens podem variar de tamanho, desde poucos, a milhares
de milhas quadradas”.

Paisagens, manchas (terras úmidas e lagos) e corredores (corredores fluviais)


são comumente descritos como ecossistemas. A matriz é normalmente identificada
em termos de ecossistemas de comunidade de vegetação natural predominante (tipo
pradaria, floresta e terras úmidas), ou dominados por uso das terras (agricultura e
ocupação urbana). A diferenciação entre as paisagens e outras áreas baseia-se em
feições características formadas pelos seus elementos estruturais, e a cobertura de
terra predominante, que engloba suas manchas, corredores e matrizes.

As matas, dentro de uma matriz de terras agricultáveis e terras úmidas, numa


matriz urbana, são exemplos de manchas em escala de paisagem. Os corredores
nesta escala incluem linhas de cumeadas, auto-estradas, e corredores fluviais.
Estes, em escala de paisagem, são ecossistemas de ambientes externos e internos
(paisagem do entorno) e são de grande importância, também, em outras escalas. Os
corredores são caminhos para os movimentos de material, energia e organismos,
unem manchas e funções, como condutos entre ecossistemas e seus ambientes
externos. Os corredores fluviais têm uma quantidade muito grande de funções pelo
tipo de material e organismos encontrados nesta união de paisagens.

Como exemplo de manchas (patches) na escala dos corredores, levando-se


em contas ambientes naturais ou antrópicos poder-se-ia citar: terras úmidas;
manchas de florestas, capoeiras, pastagens; lagos em meandros abandonados;
desenvolvimento comercial ou residencial; ilhas em canais e áreas de recreação
passiva tais como locais de piquenique. Os principais corredores na escala de
corredores fluviais são formados por elementos, o próprio canal e a comunidade
vegetal em ambos os lados do canal. Neste caso podem ser incluídos, bancos dos
riachos, planície de inundação, afluentes, trilhas e estradas. Na escala do córrego,
manchas, corredores e matriz de fundo são definidos dentro ou próximos do canal e
incluem elementos do riacho propriamente dito e as planícies de inundação.
34 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Outro aspecto importante é a escala temporal, que é um conceito crítico no


planejamento e projeto de restauração de um corredor fluvial, correspondente ao
tempo. O uso da terra é fator que pode perturbar um corredor fluvial que se agrava
com o passar do tempo. E, finalmente não pode ser descartado um fenômeno
natural, mas que é normalmente agravado com atividade antrópica,a inundação. Sua
freqüência é que vai dar a previsão da probabilidade dela acontecer (FISRWG,
2000).

Pelo fato dos movimentos de material, energia e organismos, estarem ligados


ao deslocamento das águas, o conceito de bacia hidrográfica é de fundamental
importância no planejamento e execução de restauração de corredores fluviais. No
entanto, não se pode falar em “escala” no caso de bacia hidrográfica, embora ela
possa ocorrer em escalas múltiplas. A bacia hidrográfica é definida por Dunne e
Leopold (1978, apud FISRWG, 2000) como “uma área de terra que é drenada pela
água, sedimento e materiais dissolvidos com um conduto comum em algum ponto do
canal do riacho”.

As estruturas ecológicas dentro das bacias hidrográficas podem ser ainda


descritas em termos de matriz, mancha, corredor e mosaico. Porém, a estrutura de
bacia hidrográfica deveria ser centrada em elementos como zonas de alto, médio e
baixo curso; divisores de águas; encostas superior e inferior; terraços, planícies de
inundação e deltas; e feições dentro do canal. Tudo isso pode ser encontrado ao
longo do litoral cearense.

Em detalhe, os recobrimentos das bacias hidrográficas e paisagens em


variação de tamanho são definidos pelos diferentes processos ambientais. Enquanto
a paisagem é definida originalmente por características terrestres de cobertura de
terras que pode se prolongar até através dos divisores de água, onde terminam as
feições mais características, os limites das bacias hidrográficas são baseados nos
próprios divisores de água. Além disso, os processos ecológicos que ocorrem nas
bacias hidrográficas são mais estreitamente relacionados com a presença e
movimento de água; entretanto, tal como os ecossistemas em funcionamento, as
bacias hidrográficas também diferem das paisagens. A grande diferença entre as
escalas de bacia hidrográfica e paisagem é precisamente porque os estudiosos
35 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

deveriam considerar ambas no planejamento e projeto de restauração de corredores


hídricos (FISRWG, 2000).

Neste projeto, para tornar mais fácil a compreensão do leitor, as unidades


geoambientais foram agrupadas em três ambientes:
• Frente Marinha - abrange as praias com suas bermas ou falésias; os
depósitos submersos; os beachrocks; os cordões litorâneos e os terraços
marinhos, submetidos à ação direta do mar; as feições modeladas pelo
vento como planície de deflação, campos de dunas costeiras móveis,
fixadas por vegetação, paleodunas e eolianitos; lagunas e lagoas freáticas
ou formadas por barramento dos rios na proximidade da foz, por areias
transportadas pelo vento.
• Corredor Fluvial – Segundo FISRWG (2000), corredores fluviais são
caminhos para os movimentos de materiais, energia e organismos, que
unem manchas e funções, como condutos entre ecossistemas e seus
ambientes externos. Eles são formados pelo próprio canal e a comunidade
vegetal em ambos os lados do canal, incluindo os bancos de riachos,
planície de inundação, afluentes, trilhas e estradas. No mapeamento, os
Corredores Fluviais foram considerados como pertencentes a duas
Unidades Geoambientais: Planície Flúvio-Marinha e Planície-Fluvial.
• Terras Altas – São áreas não inundadas, mesmo nas maiores enchentes,
embora elas possam ter sido esculpidas, nas formas atuais, pelos cursos
d’água.

3.2 Frente Marinha

Neste ambiente, os principais agentes da dinâmica são o mar, com as


oscilações de seu nível ao longo do tempo, e, na atualidade, as marés semi-diurnas,
as ondas e o vento.

A configuração tectônica regional da margem continental brasileira foi


estabelecida na distensão ocorrida no Cretáceo Inferior, devido a separação dos
continentes Africano e Americano. Os grandes lineamentos do Pré-Cambriano foram
reativados em falhas de gravidade, com hosts e grabens (Campos et al., 1974), que
36 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

condicionam a configuração da linha de costa atual do nordeste brasileiro paralela à


estruturação tectônica geral.

Mais recentemente, Carvalho et al. (2005), estudando a morfogênese costeira


do litoral oeste do Ceará, entre Cumbuco e Matões, verificaram que a morfologia do
embasamento Pré-Cambriano influenciou a geometria desta faixa de litoral.

A largura da plataforma continental este-sudeste brasileira aumenta do norte


(20 km) para o sul (100 km). A plataforma é anomalamente rasa com uma quebra
aproximadamente constante a uma profundidade de 60 a 80 metros, cujos
sedimentos são primariamente carbonáticos. Na maior parte da plataforma interna
mais rasa, que tem 30 metros, é coberta de areias terrígenas (Melo et al., 1975).

Os depósitos de leques aluviais datados do Plioceno Superior da Formação


Barreiras cobrem quase continuamente a costa brasileira. A linha de falésias do
Pleistoceno, escavada nos sedimentos desta formação marca o limite continental
das planícies Quaternárias (Dominguez et al., 1987).

O clima do litoral era tropical úmido, com precipitação pluviométrica entre


1.500 e 2.000 mm, enquanto que no interior, a densidade de chuvas ficava entre 500
e 1.000 mm (Andrade, 1964).

As marés eram semi-diurnas, as marés médias variando entre 1,5 metro


(Norte) e 1,0 metro (Sul), com amplitudes de 2,3 metros na região mais ao norte e
1,7 metro no sul (Dominguez et al., 1987).

Segundo Bittencourt et al. (1979), três importantes episódios transgressivos


afetaram o litoral brasileiro durante o Quaternário. O mais antigo, a Transgressão
Antiga (>120.000 anos); a Penúltima Transgressão, que atingiu o máximo há 120 ka,
quando o nível do mar se posicionou 8 ±2 m acima do presente nível do mar (Martin
et al., 1982) e a Última Transgressão, que alcançou o máximo há 5.1 quando o nível
do mar subiu 5 metros acima do nível do mar atual (Martin et al, 1980).
37 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

A regressão entre as duas últimas transgressões atingiu menos 110 metros,


há 18.000 anos (Meireles & Maia, 1998). Segundo estes autores, nos últimos 7.000
anos observa-se que, em geral, as evidências determinadas no estado do Ceará
apresentam algumas similaridades com a evolução proposta para o litoral leste do
Brasil, que os levou a aceitar a curva de flutuação do nível do mar associada por ser
o único documento existente para a região.

Martin (1988) sugere a seguinte evolução paleogeográfica das planícies


costeiras entre Macaé (RJ) e Maceió (Al):

Estádio 1 – Sedimentação da Formação Barreiras, provavelmente durante o


Plioceno, em clima semi-árido, sujeito a chuvas esporádicas e violentas, com
formação de leques aluviais coalescentes em sopés de encostas mais ou menos
íngremes. Nível do mar era mais baixo que o atual, por isso, os sedimentos da
Formação Barreiras recobriam amplamente a plataforma continental (Bigarella &
Andrade, 1964).

Estádio 2 – Transgressão Antiga. A deposição dos sedimentos da Formação


Barreiras foi interrompida com a passagem para o clima semi-úmido (Vilas Boas et
al., 1979, apud Martin, 1988), seguido de uma transgressão provavelmente no
Pleistoceno, depois de ter ocorrido uma transgressão conhecida na Bahia com
Antepenúltima Transgressão (Bittencourt et al., 1979, apud Martin, 1988), com
erosão da poção externa da Formação Barreiras e formação da linha de falésias.

Estádio 3 – Sedimentação dos Depósitos Continentais Pós-Barreiras. Na


regressão que se sucedeu a Antepenúltima Transgressão o clima passou
novamente a semi-árido com deposição de novos sedimentos continentais, formado
de leques aluviais coalescentes, no sopé das falésias esculpidas nos sedimentos da
Formação Barreiras.

Estádio 4 – Máximo da Penúltima Transgressão. Na fase transgressiva


seguinte, que atingiu o máximo por volta de 120.000 B.P., os depósitos continentais
do estádio anterior foram total ou parcialmente erodidos. No caso de erosão
38 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

completa, as linhas de praia foram trabalhadas pelas ondas. Já os baixos cursos dos
vales foram afogados, formando estuários e lagunas.

Estádio 5 – Formação de Terraços Marinhos Pleistocênicos. A regressão que


sucedeu à Penúltima Transgressão deu origem aos terraços pleistocênicos, com
cristas de praias progradantes.

Estádio 6 - Máximo da Última Transgressão. Na última fase transgressiva, o


relevo superimposto aos terraços pleistocênicos pela dissecação e os sedimentos da
Formação Barreiras foram invadidos pelo mar. Depois do afogamento da planície
costeira formaram-se as ilhas-barreiras que separaram a ligação entre o mar aberto
e o restante dos terraços marinhos pleistocênicos. As lagunas, em algumas regiões
se instalaram atrás das ilhas-barreiras. As datações de radiocarbono de conchas de
moluscos e fragmentos de madeira forneceram uma idade de 7.000 anos B.P.,
mostrando que estas ilhas-barreiras já estavam instaladas antes do máximo da
última Transgressão.

Estádio 7 – Construção de Deltas Intralagunares. Nas lagunas formadas nas


desembocaduras dos principais cursos fluviais formaram-se deltas intralagunares,
com canais distributários, dispostos segundo padrão pé-de-pássaro.

Estádio 8 – Formação de Terraços Marinhos Holocênicos. Quando o nível do


mar baixou depois da última transgressão de 5.100 anos B.P. formaram-se os
terraços marinhos a partir das ilhas-barreiras originais, com progradação da linha de
costa. O rebaixamento do nível do mar transformou as lagunas primeiramente em
lagoas e, depois, em pântanos.

As evidências de oscilação do nível do mar ao longo da zona litorânea do


estado do Ceará, abordadas em trabalhos anteriores (Meireles, 1991; e Meireles &
Maia, 1998) foram verificadas nos trabalhos de campo deste projeto, principalmente
no litoral Extremo Oeste, no município de Jijoca de Jericoacoara, na praia de
Jericoacoara, onde as exposições quartzíticas, situadas no limite superior da face de
praia, encontram-se marcadas pelo desenvolvimento de uma série de cavernas,
39 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

atualmente, posicionadas em cotas altimétricas, pelo menos 4 ou 5 metros mais


elevadas, do que o nível médio das marés.

Estas cavernas apresentam em suas superfícies registros de processo de


abrasão marinha (Fotos 3.1 a 3.3). Observa-se também, em cotas mais baixas,
marcas de abrasão marinha (Foto 3.4).

A formação de beachrocks em níveis mais elevados que o mar atual mostra


também as oscilações do nível do mar ao longo dos tempos (Foto 3.5).

Nos trabalhos de campo do ZEE foram encontradas evidências de oscilação


do nível do mar através de exumação de paleomangues ao longo de todo o litoral
cearense; cordões litorâneos soldados ao continente, como em Icapuí, Almofala,
Acaraú e Bitupitá e paleobeachrocks imersos nas dunas, como registrado na
localidade de Volta do Rio, no município de Itarema (Foto 3.6).

Foto 3.1 – Afloramento de quartzito, em Jericoacoara, localizado no limite superior da face de


praia onde ocorrem cavidades posicionadas acerca de 4 a 5 metros acima do nível atual do
mar, resultantes do processo de abrasão marinha.
40 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.2 - Detalhe das marcas de abrasão marinha que ocorrem na caverna do afloramento de
quartzito na praia de Jericoacoara.

Foto 3.3 – Vista de outro ângulo da caverna resultante do processo de abrasão marinha
registrada na praia de Jericoacoara.
41 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.4 – Processo de abrasão marinha registrado no quartzito da praia de Jericoacoara, que
ocorre em cota inferior aos registros descritos anteriormente.

Foto 3.5 – Em primeiro plano, observa-se exposição do beachrock formado sobre o quartzito,
evidenciando, assim, o nível anterior do mar mais elevado.
42 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.6 - Duna recortada pelo rio, onde se observa afloramento de beachrock em seu interior,
revelando também nível do mar mais elevado. Localidade de Volta do Rio, no município de
Itarema.

3.2.1 Depósitos sedimentares submersos

Coube a Heródoto, nascido em 484 a.C., a primazia em utilizar o termo delta,


no seu livro “História (Livro II, capítulo XIII), para denominar a região da foz do rio
Nilo, no Egito, com depósitos de “limo arrastado continuamente por suas águas”
(Livro II, capítulo XI). Nesta época, ele já registrava o crescimento do delta: “No
reinado de Méris, todas as vezes que o rio crescia apenas oito côvados (um côvado
equivale a aproximadamente meio metro), regava o país para baixo de Mênfis.
Atualmente, novecentos anos transcorridos desde a morte de Méris, se o rio não
sobe quinze a dezesseis côvados, não se espraia pelas terras adjacentes”.

Este fenômeno de acresção de um delta é, assim, explicado por Tison (1964):


“Quando um rio, transportando sedimento, deságua no mar, a diminuição da
velocidade devido a dispersão da corrente vai provocar a deposição de material
sólido, que permanecerá no local, se as correntes marinhas e as marés não o
removerem como no caso dos deltas. Entretanto, mesmo na ausência das correntes
costeiras, a deposição não se dá uniformemente em todas as direções. Se na parte
43 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

central, as águas do rio continuam o seu percurso de modo retilíneo, a dispersão se


dá lateralmente”.

Ainda de acordo com Tison (1964), sobre as bordas do avanço do rio no mar
se formarão depósitos de sedimentos grossos e areias, que constituirão, de início,
uma espécie de barras longitudinais. A medida que se processa o transporte e a
deposição do material pelas águas do rio, as barras ou dique vão aumentando de
tamanho, mas permanecendo parcialmente submersas por ação das ondas. Os
sedimentos mais finos ultrapassarão o topo destes diques e se depositarão na zona
de turbilhonamento depois destes. A formação de múltiplos braços entre os diques
se dá pelo rompimento deles, devido ao avanço do rio.

Estas areias e material mais fino, como a lama, formam corpos quase sempre
submersos em frente à costa, com as formas mais diferentes. No estado do Ceará,
merecem destaque os depósitos submersos em Icapuí, na região de Barra Grande
e, em Acaraú, na foz do rio de mesmo nome (Figuras 3.2 e 3.3).

A origem destes depósitos submersos do litoral cearense parece estar


associada a um mecanismo duplo de formação, envolvendo a influência de
flutuações do nível do mar e a deriva litorânea dos sedimentos.

Nos dois casos, os depósitos se distribuem logo após a uma forte inflexão da
linha de costa. O transporte potencial das ondas é diretamente proporcional ao
quadrado das alturas das ondas e ao ângulo de incidência.

De acordo com os estudos do Corpo de Engenharia de Costa do Exército dos


Estados Unidos, através da CERC (Coastal Engineering Reserch Center), o cálculo
da taxa potencial de transporte longitudinal de sedimentos por ação das ondas
(Maia, 1998) pode ser estimado pela equação:

Plb = 1/16 ρgHb2Cgbsen2αb

Onde, Plb é a componente longitudinal do fluxo de energia da onda; Hb, a


altura da onda; αb, o ângulo de incidência da onda; e Cgb, a velocidade da onda na
44 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

ruptura. Sendo ρ (densidade da água), e g (aceleração da gravidade) constantes,


para um determinado trecho do litoral, o transporte longitudinal será função apenas
do quadrado da altura das ondas e do ângulo de incidência das ondas na costa.

Assim, o transporte será máximo, quanto maior for a inclinação da praia,


fazendo com que as ondas quebrem mais próximo à costa, portanto com menos
dissipação de energia e, o ângulo de incidência seja o mais próximo possível de 45o,
porque 2α, igual a 90o, seria o maior valor do seno (igual a 1). Portanto, a deposição
de sedimento se daria em locais do litoral em condições opostas a essa, em que o
transporte fosse mínimo, ou seja, com ondas pequenas (praias dissipativas) e
incidência tangencial a costa (o ângulo α próximo a zero).

Analisando as imagens de satélites, podemos verificar que em Icapuí e


Acaraú existe uma inflexão da costa, passando da direção NW-SE, onde o ângulo
de incidência das ondas é bem próximo a 45o, para aproximadamente E-W, na qual,
as ondas quase tangenciam a costa. Associado a isso, os trabalhos de campo
mostraram que as regiões de Icapuí e Acaraú estão entre as praias com menor
inclinação no Estado. Com isso, houve uma diminuição do transporte gerando uma
zona de deposição onde os sedimentos mais finos são retidos.

Estes depósitos submersos fazem com que o mar recue, deixando barras e
cordões litorâneos que vão se soldando ao continente, para formar os terraços
marinhos.

No caso de Icapuí, o depósito submerso exibe um retrabalhamento pelo canal


que nasce na parte central da laguna e no vale formado entre o cordão do leste e o
continente. A semelhança de delta parece mais visível na porção oeste, e o depósito
submerso extravasa por ambos os lados do inlet e o sedimento é dominantemente
fino. Não tem, porém nenhum rio que seja responsável pelo transporte do
sedimento.

Na foz do rio Acaraú, os depósitos submersos são resultantes do transporte


dos sedimentos do rio, que não podem ser erodidos pelo movimento longitudinal das
ondas, que ainda deposita material retirado das regiões do litoral mais a leste.
45 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Um exemplo semelhante ao de Icapuí é o de Caravelas, no litoral extremo sul


da Bahia, descrito por Andrade & Dominguez (2002), com falésias da Formação
Barreiras recuadas e erodidas em forma de tabuleiros, “terraços arenosos internos”
com cristas de cordões litorâneos soldados ao continente e “terraços arenosos
externos”, localizados próximos à linha de praia atual, com cordões litorâneos
formando cristas. Lá, também, não existe um rio que pudesse fornecer sedimento
para os depósitos submersos.

Figura 3.2 – Imagem de Satélite de Icapuí, onde se observa uma inflexão da costa de NW-SE
para E-W, com a formação de depósitos submersos e laguna.
46 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Figura 3.3 – Imagem de Satélite, com os depósitos submersos na foz do rio Acaraú.

3.2.2 Praias

As praias são áreas cobertas e descobertas pelas águas do mar, acrescidas


das faixas subseqüentes de material detrítico, tais como areias, cascalhos seixos e
pedregulhos, até o limite onde se inicie a vegetação natural, ou em sua ausência,
onde comece um outro ecossistema, como observado em todo o litoral do estado do
Ceará. Elas são interrompidas apenas pelos estuários dos rios que deságuam no
mar, onde são comuns os arenitos de praia (beachrocks), como citado
anteriormente. Seu limite superior é marcado principalmente pelas bermas,
aparecimento da vegetação pioneira nas planícies de deflação/cordões litorâneos e
falésias vivas, e, de forma localizada, as dunas (Fotos 3.7 a 3.11).

As praias são definidas na Lei no 7.661, de 16 de maio de 1968, no seu Art.


10o, como: “Bens públicos de uso comum do povo, sendo assegurado, sempre, livre
e franco acesso a elas e ao mar, em qualquer direção e sentido, ressalvados os
trechos considerados de interesse de segurança nacional ou incluídos em áreas
protegidas por legislação específica”.
47 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

São também conhecidas como estirâncio ou zona inter-marés e situam-se


entre o nível médio de maré baixa e maré alta, estando limitadas superiormente
pelas bermas ou falésias (Figura 3.4).

Figura 3.4 - Terminologia de Perfis de Praias (Modificado de U.S.A.C.E, 1992).

Brandão (1998) faz referência às praias dos municípios que compõem à


região metropolitana de Fortaleza (RMF) como um depósito contínuo, alongado por
toda a extensão da Costa, desde a linha de maré baixa até a base das dunas
móveis. São acumulações de granulação média a grossa, ocasionalmente cascalhos
(próximo às desembocaduras dos rios maiores) com abundantes restos de conchas,
matéria orgânica e minerais pesados.

Morais et al. 1994 definem os sedimentos da região de Aquiraz na Costa


Leste do estado do Ceará como sendo compostos basicamente por grãos de
quartzo, variando desde arredondados a subangulosos de baixa esfericidade e
coloração variando de amarelada a acinzentada. Como acessórios observam-se,
com freqüência, turmalina verde, turmalina preta (afrisita), monazita, ilmenita,
muscovita, fragmentos de algas e de conchas. Observa-se que a proporção de
minerais pesados aumenta do nível inferior do estirâncio em direção à berma e
dunas.
48 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.7 - Praia com bermas na localidade de Sucatinga, município de Beberibe.

Foto 3.8 - Praia com falésia viva na localidade de Ponta Grossa, município de Icapuí.
49 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.9 - Vegetação pioneira no limite superior da Praia. Trecho entre a foz do rio Jaguaribe e
a localidade de Canoa Quebrada, município de Aracati.

Foto 3.10 - Praia limitada pelos Cordões Litorâneos e barras na localidade de Águas Belas,
município de Cascavel.
50 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.11 - Praia limitada por Dunas Móveis no litoral oeste do Ceará, em Paracuru.

As praias, quanto à morfologia, podem ser de três tipos com relação à ação
das ondas: reflectivas, intermediárias e dissipativas (Figura 3.5). Nas reflectivas, que
são normalmente constituídas de sedimento mais grosso, a inclinação mais forte faz
com que a arrebentação ocorra próximo à linha de costa e o espraiamento das
águas se dá com muita energia, ocasionando a reflexão quando as frentes de onda
são oblíquas, decompondo-se em duas correntes: uma longitudinal paralela à costa
e, outra, de retorno, perpendicular a mesma. (Foto 3.12).
51 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Figura 3.5 – Estágios extremos de Praias (Modificado de U.S.A.C.E, 1992).

As praias dissipativas são formadas de sedimentos mais finos, com inclinação


mais suave, de modo que as ondas arrebentam distante da costa, dissipando sua
energia (Foto 3.13). As praias intermediárias ficam entre estes dois extremos e,
segundo Wright et al. (1979); Short & Wright (1981 e 1984) apud Neto et al. (2004),
podem ainda ser subdivididas em quatro feições morfodinâmicas.

Finkl (2004) considera praias intermediárias aquelas que se situam entre as


praias reflectivas de baixa energia e as praias de energia mais alta, denominadas
dissipativas. A principal característica deste tipo de praia intermediária é a presença
da zona de surfe com barras e riflados e a formação de quatro estados de praia
(beach state): praias de terraços de maré baixa, praias de barras e riflados (rips)
transversais, praias e barras rítmicas e praia de barras e cavidades longitudinais.

Embora as praias do litoral cearense sejam dominantemente arenosas, elas


não assumem um comportamento homogêneo, em função, principalmente, de
afloramentos de rochas pré-cambrianas e fanerozóicas, entre as quais se podem
citar a Ponta Grossa, situada no litoral de Icapuí (rochas cretácicas da Formação
Açu); Pontal de Maceió, no município de Fortim (arenitos da Formação Tibau); Ponta
52 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

do Iguape, no município de Aquiraz (quartzito pré-cambriano) e Mucuripe, na Região


Metropolitana de Fortaleza (arenito ferruginoso da Formação Barreiras); Pontas do
Pecém, (quartzito pré-cambriano) e Taíba (arenitos da Formação Barreiras),
situadas no município de São Gonçalo do Amarante; e a Ponta de Jericoacoara,
município de Jijoca de Jericoacoara (quartzitos pré-cambrianos). Estes promontórios
rochosos, muitas vezes, registram as oscilações do nível do mar ao longo da
evolução da linha de costa cearense (Fotos 3.14 e 3.15).

Foto 3.12 - Praia classificada como Intermediária na localidade de Prainha, litoral leste do
Ceará, município de Aquiraz.
53 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.13 - Praia do tipo dissipativa na localidade de Arpoeiras, litoral oeste do Ceará,
município de Acaraú.

Foto 3.14 – Exposição parcial de arenito ferruginoso da Formação Barreiras, na Volta da


Jurema em Fortaleza.
54 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.15 – Afloramentos de arenitos da Formação Barreiras na praia da Taíba, município de


São Gonçalo do Amarante.

A costa cearense é marcada pela exuberância de suas paisagens mostrando


uma beleza cênica incomparável, visualizada principalmente na praia de
Jericoacoara, Ponta Grossa e no Pontal de Maceió, onde as rochas resistentes à
erosão marinha avançam em direção ao mar. (Foto 3.16 e 3.18).

Foto 3.16 - Enseada de Jericoacoara com exposição de quartzito, município de Jijoca de


Jericoacoara.
55 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.17 – Ocorrências de arenitos da Formação Tibau, na localidade de Pontal de Maceió,


município de Fortim.

Foto 3.18 - Paleomangue exumado, testemunhando o recuo da linha de costa na localidade de


Parajurú, extremo leste do município de Beberibe.
56 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

No litoral leste do estado do Ceará, os mangues podem ser encontrados nas


localidades de Barreiras e Retiro Grande (Icapuí), margem esquerda do rio
Jaguaribe e do rio Pirangi (Fortim), Parajurú e Prainha do Canto Verde (Beberibe),
Caponga e Balbino (Cascavel), Batoque e Barro Preto (Aquiraz). No litoral oeste,
eles ocorrem na margem esquerda dos rios Aracatiaçu (Itarema) e Acaraú (Acaraú),
Aranaú (Cruz), riacho Forquilha (Jijoca de Jericoacoara), Tatajuba (Camocim) e
Bitupitá (Barroquinha).

3.2.2.1 Beachrocks (arenitos de praia)

Os beachrocks são corpos rochosos alongados e estreitos, que se encontram


dispostos paralelamente à linha de praia podendo se estender na direção do mar,
constituídos de areias de praia cimentadas por carbonatos, podendo apresentar
seixos e restos de conchas. Sua espessura, em geral, não ultrapassa dois metros e
funcionam como anteparo natural para dissipação da energia das ondas, protegendo
as praias da erosão

As primeiras referências sobre beachrocks (arenitos de praia conglomerático,


com conotação genética) foram feitas por Charles Darwin quando passou por
Pernambuco em sua viagem, pela América, no Beagle e registradas em seu livro
The Voyage of the Beagle, em 1845. Nele, o autor refere-se aos beachrocks como “o
recife que forma o porto” que chamou sua atenção a ponto de afirmar: “Eu duvido se
no mundo inteiro alguma outra estrutura natural tenha uma aparência tão artificial.
Ela se estende em comprimento por várias milhas em linha absolutamente reta,
paralela a, e, não muito distante da praia. Ela varia em largura de trinta a sessenta
jardas, e sua superfície está em nível e é uniforme; é composta de arenito duro
obscuramente estratificado. Nas marés altas as ondas quebram sobre ele; na maré
vazante a parte superior permanece seca, pode então ser confundido com um
quebra-mar construído por operários Ciclópicos”.

Mais na frente ele tenta explicar sua gênese: “Nesta costa, as correntes do
mar tendem lançar em frente ao continente, compridos esporões e barras de areia
inconsolidada, e em algum deles, parte da cidade de Pernambuco (sic) se situa. Em
épocas passadas um longo esporão da mesma natureza deles parece ter se tornado
57 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

consolidado por percolação de matéria calcária que depois foi sendo gradualmente
soerguido; as partes exteriores e soltas durante este processo tendo sido removidas
pela ação do mar, e o núcleo sólido tenha permanecido como vemos agora”.

Naquela época, ele já visualizava os beachrocks como dissipadores de


energia que impediam o avanço do mar sobre o continente, protegendo a cidade:
“Embora dia e noite as ondas do Atlântico aberto, turvas com sedimento, sejam
jogadas contra as extremidades externas íngremes desta parede de rocha, que os
pilotos mais antigos notaram não haver mudança em sua aparência. Esta
durabilidade é o fato mais curioso de sua história: ela é devido a uma camada dura,
com poucas polegadas de espessura, de material calcário, totalmente formado por
sucessivos crescimentos e mortes sucessivas de pequenas conchas de Serpulae,
juntamente com alguns poucos barnacles e nulliporae. Estes nulliporae, que são
plantas do mar duras e de organização muito simples, formam uma proteção
análoga e importante na proteção das superfícies externas dos recifes de coral, atrás
e dentro das barreiras, onde os corais verdadeiros, durante o crescimento
ascensional da massa, morrem por exposição do sol e do ar. Estes insignificantes
seres orgânicos, especialmente Serpulae, prestaram um bom serviço ao povo de
Pernambuco; pois sem sua ajuda protetora a barra de arenito já teria sido erodida ao
longo do tempo e sem a barra, não haveria porto”.

Branner (1904) descreveu com detalhe este arenitos de praia, de feições e


características peculiares, chamando-os de beachrocks, que afloram desde o litoral
cearense, até às praias de Porto Seguro, na Bahia. Eles foram reconhecidos como
areia de estirâncio cimentadas por carbonato de cálcio (Diniz, 2002). Porém, de
acordo com Bricker (1971), eles podem ser formado em planícies de canais de
marés, embora a maioria dos autores prefira deixar o termo beachrock apenas para
sedimentos depositados em ambientes de praia com rápida sedimentação de
carbonato de cálcio (Diniz, 2002). (Foto 3.19).
58 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.19 – Exposição de beachrocks na praia de Barra do Correia, no município de Beberibe.

Esta deposição de cimento carbonático pode ocorrer num curto espaço de


tempo. Friedman (1998) cita o caso de uma lata de sardinha que deixada por um
período de um ano recebeu uma cobertura de material carbonático cimentante de
380 gramas.

Neste processo de sedimentação, a calcita, rica em magnésio, e a aragonita


são os principais minerais do cimento carbonático, principalmente em função de sua
precipitação estar associada à áreas de interface de ambientes típicos de água doce
e salgada, que, segundo Russell (1962) e Deboo (1962, apud Stoddart & Cann,
1965), correspondem ao local preferencial para a cimentação carbonática das areias
praiais.

Font & Calvet (1997) estudando beachrocks holocenos de areias


carbonatadas, na parte interna da plataforma arrecifal da Ilha da Reunião no Oceano
Índico, verificaram que os grãos variavam de 1 a 4 mm de diâmetro, sendo
observado, em alguns locais, a concentração de blocos decimétricos, constituídos
essencialmente de fragmentos de coral (50%) e algas rodofíceas e,
secundariamente, litoclastos vulcânicos, intraclastos, foraminíferos, fragmentos de
59 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

moluscos e equinodermos. Este conjunto de componentes biodetríticos encontra-se


cimentado por calcita magnesiana (HMC) em forma de micrito (calcita com 3 a 17%
de MgCO3), peletoidal e “bladed”, e por aragonita de forma prismática e fibrosa.

Os teores médios em sódio na calcita magnesiana variam de 100 a 1500 ppm


enquanto que os de estrôncio ficam entre 1.000 e 4.500 ppm (micrito); 1.600 e 2.100
ppm (peletoidal) e 2.700 ppm (bladed). Na aragonita, a média de estrôncio é de
10.000 ppm (equivale uma aragonita com 1% de SrCO3) e o teor médio de sódio de
3.000 ppm. Nos sedimentos internos, o estrôncio tinha um teor médio de 9.000 ppm
e, de sódio, 1.200 ppm. Em resumo, os cimentos de calcita magnesiana têm valores
relativamente baixos em estrôncio e sódio, enquanto que os de aragonita e do
sedimento interno apresentam valores muito altos em estrôncio e relativamente altos
em sódio.

Baseado nestes dados, estes autores sugerem que, numa primeira etapa, a
cimentação nos beachrocks estudados foi constituída de cimento micrítico de calcita
magnesiana devido à influência de microorganismos, possivelmente, cianobactérias.
Devido à presença destes microorganismos, a gênese deste cimento se deu em
condições de luz e, portanto, na parte mais alta do perfil do beachrock. Esta primeira
cimentação produziria a estabilização dos grãos mediante a ação cimentante e união
(“binding”) dos microfilamentos das cianobactérias. Apesar da alta energia do meio,
os teores de magnésio e sódio indicam que o cimento se originou a partir de águas
marinhas.

A segunda etapa da cimentação, constituída basicamente por cimentos


fibrosos e/ou prismáticos de aragonita e, localmente, cimento “bladed” de calcita
magnesiana, seriam gerados em condições de uma certa estabilização do
sedimento, considerando que estes cimentos, apesar de seu desenvolvimento ser
relativamente rápido, precisam de tempo para crescer. A forma de “aro” destes
cimentos implica que um sistema poroso está totalmente ocupado por água. Assim,
estes cimentos se depositam num sistema hidrológico freático. A formação destes
cimentos requer um bombeamento importante de água que percole através dos
grãos. Para precipitar o cimento em forma de “aro” é necessário que o sedimento já
esteja estabilizado e que os grãos não se movam. Localmente os cimentos podem
60 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

apresentar posições tipo gravitacional, devido o rebaixamento excepcional do nível


do mar, deixando o beachrock em ambiente vadoso (Font & Calvet, 1997).

Eles supõem ainda que estes cimentos da segunda etapa, majoritariamente


aragonítico, com menor proporção de calcita magnesiana e alto teor em estrôncio na
aragonita e alto teor de sódio tanto na aragonita quanto no cimento “bladed” da
calcita magnesiana (8 a 12% de MgCO3), teriam origem de águas marinhas. As
diferenças nos tipos de cimento foram explicadas por eles devido a mudanças das
condições microambientais do beachrock. A primeira fase ocorreu em condições
fóticas, nas zonas de supra-maré e/ou na parte alta da inter-maré, enquanto que na
segunda fase, a deposição do cimento exige percolação de água pela rocha em
regime hidrológico freático, implicando numa subsidência do beachrock. A
cimentação pelotoidal constitui a última etapa do processo.

Kindler & Bain (1993) citam velocidades de subsidência de beachrocks nas


Bahamas da ordem de 1,5 cm em dez anos.

À guisa de conclusão, Font & Calvet (1997) consideram que as causas da


distribuição dos cimentos são a idade e as mudanças climáticas. Os horizontes mais
antigos da base do beachrock apresentam um grande desenvolvimento de cimento
aragonítico, sugerindo que houve mais tempo para cimentação e que estavam
situados em meio freático. Os horizontes mais novos estavam na zona de flutuação
do freático. Ao longo dos últimos mil anos, o clima passou de muito quente, em que
a precipitação foi preferencialmente de cimentos aragoníticos para locais menos
quentes, precipitando, tanto cimentos de calcita magnesiana, como o cimento
“bladed”.

No Rio Grande do Norte, eles têm uma extensão máxima de 8 km e largura


variando entre 10 e 60 m e espessura entre 0,5 e 3,5 metros (Diniz, 2002). Segundo
este autor, a maioria dos arenitos de praia está emersa na maré baixa, mergulhando
suavemente (10o) para oceano. São constituídos de grãos grossos a finos, mal a
moderadamente selecionados e sub-angulosos a sub-arredondados, perfazendo
80% do arcabouço da rocha, com 68% de quartzo, 4% de fragmento de rochas
(arenitos finos e sílex), 3% de feldspato e turmalina, zircão, granada e opacos como
61 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

acessórios. Têm ainda bioclastos de foraminíferos, fragmentos de alga, moluscos e


valvas de ostracóides, perfazendo cerca de 5% da rocha (Oliveira et al., 1990, apud
Diniz, 2002)

Descrevendo os arenitos de praia da costa leste do Rio Grande do Norte,


Oliveira et al.(1990) e Bezerra et al. (1998) identificaram duas fácies distintas. Uma
com arenitos de granulometria média a grossa, até conglomerática, tendo com
componentes terrígenos quartzo, limonita, fragmentos de conchas marinhas e de
rochas subjacentes, com estratificação cruzada (0,2 a 1,5 m de espessura),
depositada na face praial superior e estirâncio superior. A outra fácies corresponde a
arenitos de granulometria média a grossa, em camadas tabulares e laminares (0,1 a
1,0 m de espessura) com quartzo, minerais pesados e fragmentos de conchas, como
componentes subordinados. As estruturas mais comuns são o acamamento paralelo
e as marcas de onda, típicos do estirâncio inferior/antepraia.

Chaves & Sial (1998) consideram que os beachrocks de Pernambuco, de


idade holocena são constituídos predominantemente de quartzo (90%), fragmentos
de algas em forma de carbonato (6%) e feldspatos. O cimento formado por 20 mol%
MgCO3 mostra três variedades texturais: 1) calcíferos, envolvendo os grãos
siliciclásticos; 2) micrítico, com franja acicular; e 3) calcita criptocristalina nos poros.
A estrutura do arenito mostra evidência de rocha submersa e praia de baixa energia
e o cimento precipitado sob alta pressão de CO2, como resultado da interação da
água do mar saturada de CaCO3 e não saturada em água subterrânea, em ambiente
de praia.

Brandão (1998) destaca a importância dos beachrocks ou arenitos de praia


situados nas praias de Sabiaguaba, Cofeco, Iparana e na Enseada do Mucuripe.
Segundo este autor, estas formações funcionam, muitas vezes, como proteção a
determinados setores da costa, diminuindo a energia das ondas que se aproximam
da face de praia, evitando, assim, a ação erosiva das mesmas. Em geral, são
arenitos conglomeráticos com grande quantidade de bioclastos (fragmentos de
moluscos e algas) cimentados por carbonato de cálcio.
62 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Maia et al. (1997) estudando os beachrocks do Ceará verificaram que os


grãos de quartzo são os componentes principais (45 a 57%) com granulometria entre
0,05 e 2,2 mm, sub-angulosos a sub-arredondados. Cimento variando dos tipos
“bladed” a micrítico em percentagens entre 12 e 42%, com porosidade intergranular
de 6 a 29%. Observando-se ainda, feldspatos, fragmentos de rocha e componente
biodetríticos. (Foto 3.20).

Foto 3.20 - Heterogeneidade do beachrock em Praia Nova, município de Barroquinha.

Mais recentemente, Maia et al. (no prelo), estudando os beachrocks dos rios
Pacoti, Cocó, Ceará e Cauhipe verificaram, pela composição isotópica dos cimentos,
que o cimento precipitado nos beachrocks reflete a característica de ambiente
marinho, consistindo de HMC com teores significativos de sódio e estrôncio, e
valores isotópicos de oxigênio próximos a zero e, de carbono, maiores que 2%.

Segundo estes autores, os beachrocks estão intimamente relacionados às


embocaduras dos principais rios do Ceará sendo uma interação entre os ambientes
fluvial e marinho. Sua formação seria devido ao contraste de salinidade entre água
doce e salgada, que reduz a solubilidade favorecendo a precipitação do carbonato,
na linha de costa. Muitas vezes eles podem ser encontrados associados aos
63 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

manguezais, que são também característicos do ambiente flúvio-marinho, como no


caso de Praia Nova, município de Barroquinha/CE (Fotos 3.21 e 3.22).

Foto 3.21 – Exposição de beachrock em associação com paleomangue em Praia Nova, no


município de Barroquinha.

Foto3.22 - Detalhe do contato do beachrock com o paleomangue em Praia Nova, município de


Barroquinha.
64 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Eles normalmente têm um leve mergulho para o mar e podem mesmo ser
confundidos com os eolianitos, tendo como distinção, a granulometria mais grossa,
com níveis conglomeráticos, constituídos de seixos de quartzo e restos de conchas
(Foto 3. 23).

Foto 3.23 – Em primeiro plano, Beachrocks exibindo mergulho para o mar e, em segundo
plano, falésia de eolianitos, a oeste da praia da Baleia, município de Itapipoca.

Os beachrocks podem, também, estar associados com a oscilação do nível


no mar, principalmente em locais onde barreiras naturais de dissipação de energia
das ondas ocasionem a precipitação do carbonato de cálcio e magnésio, sendo
responsáveis pela cimentação dos grãos e, conseqüente formação de beachrocks.
Este fato pode ser observado, na praia de Jericoacoara, litoral Extremo Oeste, onde
estas rochas encontram-se sobre as rochas pré-cambrianas ou associadas às
exposições da Formação Barreiras (Foto 3.24).
65 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.24 – Aflramento de beachrock sobre o quartzito na falésia de Jericoacoara.

Esta mesma oscilação do nível do mar pode fazer com que os beachrocks,
formados na beira da praia, sejam encontrados mais para o interior do continente
como se pode observar na localidade de Volta do Rio, município de Itarema (Foto
3.25).

Foto 3.25 - Beachrock imerso nas areias das dunas da Volta do Rio, município de Itarema.
66 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Os beachrocks podem ter mais de um horizonte, e se estenderem por


dezenas de quilômetros (Foto 3.26) como na Praia do Futuro (Fortaleza),
Sabiaguaba e Cofeco (Aquiraz) e Canoa Quebrada (Aracati) (Foto 3.27).

Foto 3.26 - Dois horizontes de beachrocks entre as praias do Futuro e Sabiaguaba, município
de Fortaleza.

Foto 3.27 – Afloramentos de beachrock que se estendem por vários quilômetros no mar de
Canoa Quebrada, município de Aracati.
67 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

No litoral leste, além dos locais já citados, os beachrocks podem ser


encontrados desde a foz do rio Malcozinhado, em Águas Belas, até à foz do rio
Choró, em Barra Nova, no município de Cascavel; Morro Branco, Praia das Fontes,
Uruaú, Barra da Sucatinga e Barra do Correia, no município de Beberibe e, Porto
Canoas, em Aracati. No litoral oeste, os beachrocks podem ainda ser encontrados
na margem direita do rio Aracatimirim, próximo à foz e, ainda, em frente à cidade de
Camocim.

3.2.2.2 Bermas e Falésias

Do ponto de vista de continuidade e presença marcante nas praias, as


bermas e falésias, no entanto, são as feições mais importantes das praias. A berma
é uma porção horizontal do pós-praia constituída por material arenoso e formado
pela ação das ondas e em condição do nível do mar atual. Em geral, no estado do
Ceará, apresenta-se bastante estreita e margeando a faixa de praia. No conceito do
Corpo de Engenheiros de Costa do Exército Americano (USACE), a berma é “uma
parte da praia ou pós-praia aproximadamente horizontal formada pelo depósito de
materiais sob ação das ondas” (Usace, 1992). Em algumas praias não existem
bermas e em outras pode haver mais de uma.

É importante ressaltar o fato das bermas serem formadas pela ação das
ondas. Hesp (2000) refere-se também à berma como feição em forma de terraço,
construída pelas ondas (“A berm is a wave built terrace landform”...). De acordo com
Maia (apud Leal, 2003), na América do Norte, onde as tormentas lançam água do
mar até o sopé das dunas, as bermas ocupam toda a região pós-praia, mas no caso
do Ceará, a faixa de berma está restrita à porção compreendida entre os avanços do
mar rumo ao continente, ao longo do ano. Ela tem como feição mais conspícua, a
crista da berma, que marca o limite de maré alta (Foto 3.28).

As falésias são feições típicas do litoral, formadas pela ação erosiva das
ondas sobre formações geológicas com níveis topográficos mais elevados que as
praias atuais, e que recuam formando escarpas. As falésias podem ser consideradas
vivas ou mortas, conforme a erosão marinha esteja atuando ou não.
68 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Elas foram definidas por Guilcher (apud Derruau, 1966) como um “ressalto não
coberto de vegetação, muito inclinado (entre 15o e a vertical), de altura muito
variável, no contato da terra com o mar e devido a ação ou a presença do mar”. Ela
é formada pela ação mecânica das ondas, mas a natureza da rocha erodida é
também importante (Derruau, 1966). A morfologia das praias com falésias é
modelada pelas condições da onda local e o nível do mar. Quanto maior a energia,
maior é a capacidade de solapamento e transporte de sedimento, mas a direção das
ondas influencia também a taxa de erosão e a remoção do material tombado (Usaec,
2002).

Foto 3.28 – Bermas com as barras entre a lagoa e o mar, na Prainha do Canto Verde, município
de Beberibe.

Sunamura (1973) relaciona a erosão das falésias à força erosiva da onda, à


resistência da rocha e ao ângulo de incidência das ondas sobre a falésia. O
mecanismo, segundo o referido autor é simples: a base da falésia é erodida
formando o tálus. A retirada do tálus pelas correntes marinhas vai permitir nova
erosão da falésia, com os respectivos desmoronamentos. (Foto 3.29 e 3.30).
69 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.29 - Falésia formada pelos sedimentos da Formação Barreiras (base) e a paleoduna
(topo) na praia de Sucatinga, no município de Beberibe.

Foto 3.30 – Solapamento de blocos da falésia viva na localidade de Canoa Quebrada,


município de Aracati.
70 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

A erosão vai diminuindo à medida que a resistência das camadas cresce. A


taxa de erosão é também geralmente mais baixa nas regiões onde se formam
depósitos marinhos da frente das falésias, que agem como obstáculos, para
arrefecer as ondas. Por outro lado, nas costas onde a erosão é intensa, a água é
sempre rasa na base da falésia. Quanto mais o nível do mar está próximo do nível
mais alto da água, mais intensa é a erosão (Sunamura, 1973). Este autor relaciona
algumas taxas de erosão pelo tipo de sedimento no mar do Japão e Oceano Pacífico
tais como arenitos & lamitos (0,3-0,7 m/ano), lamitos (0,9 m/ano), argila (1-2 m/ano),
depósito de leque aluvial (0,5-1,0 m/ano). Em Oregon, nas costas do mar Báltico, a
taxa de erosão em arenitos variou de 0,6 m/ano a 3 m/ano. Na Dinamarca, um
depósito arenoso revelou taxas de erosão em falésia de 6-7,5 m/ano.

Leal (2003) calculou o avanço médio da erosão na falésia da enseada de


Canoa Quebrada, município de Aracati (CE) em 1,54 m/ano, encontrando-se,
portanto, dentro da média de casos semelhantes no mundo, como relatado
anteriormente. Porém, o referido autor ressalta que “apesar da taxa de avanço,
calculada com base nas fotografias aéreas, cobrir um intervalo de tempo de 44 anos
(1958 a 2002), com toda certeza este avanço não foi uniforme ao longo dos anos,
levando-se em conta, principalmente, que as falésias localizadas na enseada entre
Canoa Quebrada e Porto Canoas, município de Aracati (CE) passaram de mortas a
vivas, devido ao maior avanço do mar nos últimos anos”.

Em alguns casos, com o recuo do mar as falésias se distanciam da linha de


costa dando origem às falésias mortas, como em Icapuí, que estão recuadas desde
a fronteira do estado do Ceará com o Rio Grande do Norte até a Barreira de Baixo.
Após a praia de Redonda, as falésias recuam novamente, até aflorarem no mar os
sedimentos da Formação Açu, em Ponta Grossa, ainda no município de Icapuí.
Estas falésias se estendem para o litoral do município de Aracati, algumas vezes
como falésias mortas, como em Retiro Grande no município de Icapuí (Foto 3.31).
71 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.31 - Falésia morta, onde se observa o contato entre as Formações Açu (base) e
Barreiras (topo), em Retiro Grande, município de Icapuí.

Neste trecho, os arenitos da Formação Açu são capeados pela Formação


Barreiras (Foto 3.22) e, à medida que se caminha para o oeste, a Formação Açu vai
dando lugar aos arenitos da Formação Barreiras, como em Lagoa do Mato, Quixaba
e Majorlândia, município de Aracati, ora em forma de falésias vivas, ora como
pequenos terraços, separando as falésias mortas da praia. Já em Canoa Quebrada,
as águas do mar recortam as paleodunas, para formar suas famosas falésias, que
estão isoladas entre a praia e o campo de dunas móveis (Foto 3.30).

No Pontal de Maceió, município de Fortim, na margem esquerda do rio


Jaguaribe, a Formação Barreiras chega a formar falésias mortas, mas o acidente
geográfico mais proeminente é o promontório de arenitos da Formação Tibau (Foto
3.17).

As falésias voltam a aparecer nas barras da Sucatinga e do Correia no


município de Beberibe (Foto 3.29), com a Formação Barreiras capeada pelas
paleodunas, ou paleodunas capeadas por dunas móveis, ora em fase de erosão
(vivas), ora recuadas, com pequenos terraços marinhos ou planície de deflação. Da
72 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

praia das Fontes até a praia de Morro Branco, as falésias vivas, ou mortas, são
constituídas de arenito da Formação Barreiras na base e paleodunas no topo. Na
localidade de Morro Branco, são encontrados os últimos remanescentes das falésias
vivas do litoral leste do estado do Ceará. Do referido ponto, até Fortaleza, somente
são observadas as falésias mortas da Formação Barreiras entre Morro Branco e a
margem direita do rio Choró, Barra Nova, Barra Velha (possivelmente, também de
paleodunas), Caponga, Balbino, Iguape e Prainha.

Somente em Iparana, Pacheco e Taíba, registram-se novamente as falésias


vivas da Formação Barreiras, que se estendem, descontinuamente, até além de
Paracuru, na margem direita do rio Curu e Alagoinha, no município de Paraipaba.
Em relação ao litoral oeste, predominam afloramentos de eolianitos como falésias
mortas em Trairí, entre Fleixeiras e Mundaú. Na faixa de praia entre Mundaú e
Almofala, os eolianitos formam, ora falésias vivas, ora falésias mortas. Entre as
praias de Baleia e Apiques, no entanto, uma pequena falésia da Formação Barreiras
pode ser observada com uma drenagem de pequeno porte recortando o Tabuleiro
Pré-litorâneo, em forma de voçoroca.

Além das falésias do quartzito do Pré-Cambriano de Jericoacoara (Foto 3.16),


no litoral extremo-oeste, somente voltam aparecer falésias em Camocim e, entre
Bitupitá e praia Nova, no município de Barroquinha.

No trecho do litoral entre Taíba (Foto 3.24) e Bitupitá (Foto 3. 32) são comuns
os recifes de arenito da Formação Barreiras dentro do mar. Estes arenitos resistiram
à erosão marinha pela maior percentagem de cimento ferruginoso, que forma
verdadeiras crostas limoníticas sobre a superfície da rocha evitando, assim, a
desagregação dos grãos do sedimento. Seriam antigas falésias que resistiram ao
avanço do mar, por sua maior resistência à erosão marinha, permanecendo como
testemunho do avanço do mar. Além da região oeste, estes recifes da Formação
Barreiras são encontrados na Volta da Jurema, em Fortaleza (Foto 3.14), e na praia
da Barra do Correia, em Beberibe.
73 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.32 – Recife de arenito da Formação Barreiras no mar de Icaraí de São Bento de
Amontada.

Em termos de avanço do mar, com erosão das praias, além das porções do
litoral sem falésias vivas é possível destacar a margem direita do rio Pirangi (Fortim),
Parajurú e Prainha do Canto Verde (Beberibe), Caponga (Cascavel), Fortaleza,
Iparana, Pacheco, Icaraí (Caucaia), Pecém (São Gonçalo do Amarante), Mundaú,
Imboaca e Fleixeiras (Trairi), Mulher de Areia e Volta do Rio (Itarema) e Camocim.

3.2.2.3 Cordões Litorâneos

De acordo com Neto et al (2004), os cordões litorâneos são barreiras


arenosas com feições alongadas paralelas à linha de costa, totalmente isolados do
continente (ilhas de barreiras) ou soldados a ele por uma das extremidades (pontais
arenosos), ou as duas, formando as barreiras ou cordões arenosos. Estes cordões
arenosos podem isolar lagunas costeiras, sedimentadas ou não por canais (inlets)
que permitem a circulação da água no ciclo das marés entre a laguna e o mar
aberto. Nas desembocaduras destes canais formam-se depósitos de material areno-
lamoso (delta de maré), dentro da laguna (delta de maré enchente), ou no mar (delta
de maré vazante).
74 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Enquanto os cordões litorâneos permanecem emersos no litoral, e sem


grande modificações na forma de seu contorno, as barras, além de serem estruturas
de menores dimensões que os cordões litorâneos, elas, ora estão emersas, ora
submersas, mudando, sistematicamente, de lugar e forma.

Claudino-Sales e Peulvast (2004) referem-se aos cordões litorâneos da região


de Icapuí como barreiras e ilhas de barreiras, que ocorrem em frente a lagunas e/ou
estuários, e que são construções de areias emersas, alongadas ao longo da praia
separando o mar aberto das terras úmidas, tendo normalmente mais de um
quilômetro de comprimento, sendo resultado da deposição de sedimentos na zona
proximal da praia (nearshore) pela ação das ondas e correntes geradas por ondas
ou marés.

No século IXX, Beaumont (1885, apud Claudino-Sales & Peulvast, 2004)


sugeriu que os cordões litorâneos seriam uma acumulação de sedimentos
ascendentes na forma de shoaling (upward shoaling scheme) e migração no sentido
da praia de barras de areias supramaré, tendendo à estabilização. No mesmo ano,
Gilbert (1885, apud Claudino-Sales & Peulvast, 2004) propõem uma origem
completamente diferente para estas estruturas, sugerindo que um spit era formado a
partir de um promontório (headland), com uma eventual abertura em um ou mais
lugares para formar uma ilha barreira com inlets de marés.

Posteriormente, Johnson (1919 apud Claudino-Sales & Peulvast, 2004)


advogou que as barreiras são formadas por afogamento de dunas costeiras e cristas
de praia, com o soerguimento do nível do mar.

Para formação das barreiras do litoral cearense, Claudino-Sales & Peulvast


(2004) sugerem uma série de condicionantes: (1) abundância de sedimentos na
zona de praia; uma topografia plana e rasa na zona proximal da costa (nearshore), e
presença de espaços de acomodação favoráveis à sedimentação e estabilização de
depósitos de areia; (2) do ponto de vista da dinâmica, elas se formam em (a) costas
dominadas por ondas extensas, estreitas e estáveis (wave-dominated barriers), (b)
combinação de processos gerados por ondas e marés, produzindo barreiras de
energia mista e barreiras em baquetas de tambor, e (c) costas onde as correntes
75 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

longitudinais acumulam grandes quantidades de sedimentos, construindo barreiras


ligadas (attached) ou barreiras spits e (d) segmentos de costa onde a energia fluvial
também participa da dinâmica da praia, permitindo a formação de spits duplos. Estes
autores consideram que as barreiras identificadas no litoral do estado do Ceará, com
comprimento entre 1 e 15 quilômetros, pertencem à classe de “pequenas barreiras”
na classificação de Dingle e Clifton (1994) comumente formadas em (1) condições
de domínio de ondas, e (2) condições de energia mista (dominada por ondas e
correntes costeiras). Nas bocas dos rios ou no seu entorno, sua formação seria
dominada por energias de correntes fluviais e de marés.

Na escala trabalhada no zoneamento geoambiental torna-se impossível


separar, de maneira acurada, as barras dos cordões litorâneos, pois nem sempre é
possível verificar, pelas imagens de satélite LANDSAT, se a feição se situa sempre
acima do nível médio de maré alta, ou simplesmente está temporariamente emersa.
Assim, em imagens tomadas na maré baixa, muitas barras podem ser interpretadas
como cordões litorâneos.

No caso do rio Jaguaribe, observa-se que a energia derivada das correntes


fluviais é quase nula devido aos barramentos, assim os depósitos são
caracteristicamente controlados pelas correntes e ondas. Excetuando-se a foz deste
rio, em todos os demais foram individualizados os Cordões Litorâneos e Barras
durante o mapeamento das unidades geoambientais. Além destas regiões de
estuários de rios verificou-se em Icapuí a existência de um par de cordões, que
separam o mar aberto da laguna (Foto 3.33).
76 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto3.33 – Cordões litorâneos nos dois lados da laguna formando um inlet em Requenguela,
município de Icapuí.

No rio Pirangi, estes Cordões Litorâneos e Barras fizeram com que a foz do
rio fosse deslocada vários quilômetros para oeste. Entre as bocas dos rios Choró e
Malcozinhado, os cordões litorâneos intercalados com barras são contínuos, alguns
trechos com mais de um cordão com no caso da foz do rio Malcozinhado. (Foto
3.34). No rio Pacoti, sua foz está quase fechada por beachrocks e um Cordão
Litorâneo.
77 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.34 - Cordão Litorâneo em Águas Belas, município de Cascavel.

Na foz do rio Curú, cuja margem direita é limitada pelos sedimentos da


Formação Barreiras, observa-se que os Cordões Litorâneos são responsáveis pelo
deslocamento dessa feição para oeste (Foto3.35).

Foto 3.35 - Cordão Litorâneo obstruindo a foz do rio Curú, no município de Paracuru.
78 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Uma exposição expressiva de uma série de Cordões Litorâneos pode ser


observada na foz do rio Mundaú, que é barrado a leste por um campo de dunas
móveis (Foto 3.36).

Foto 3.36 - Cordões Litorâneos barrando o rio Mundaú na sua foz, entre os municípios de Trairí
e Itapipoca.

Entre Icaraí de São Bento de Amontada e Almofala, os rios Aracatiaçu e


Aracatimirm têm seus cursos barrados na foz, por Cordões Litorâneos que fizeram
as respectivas embocaduras migrarem para oeste (Fotos 3.37 e 3.38).
79 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.37 – Cordão Litorâneo separando o rio Aracatiaçu do mar em Moitas, município de São
Bento de Amontada.

Foto 3.38 - Cordão Litorâneo na foz do Aracatimirim, em Itarema, sendo trabalhado pelo vento.
80 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Na região litorânea que vai desde Itarema até a foz do rio Acaraú, os Cordões
Litorâneos se estendem quase continuamente, formando, às vezes, uma sucessão
deles que já foram soldados ao continente, constituindo um Terraço Marinho.
Alguns, mesmo na praia estão sendo trabalhados pelo vento (Foto 3.39).

Foto 3.39 - Típico Cordão Litorâneo da praia de Almofala, município de Itarema, sendo
trabalhado pelo vento.

Estes sistemas de cordões voltam aparecer em profusão na área entre


Mangue Seco, depois de Jericoacoara até Camocim (3.40).
81 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.40 - Cordão Litorâneo da foz do riacho Forquilha em Guriú entre os municípios de Jijoca
de Jericoacoara e Camocim.

No extremo oeste do litoral do estado do Ceará, além do Cordão Litorâneo


que barra a foz do rio Palmeiras, outro cordão pode ser observado na margem
direita do Timonha, ambos no município de Barroquinha (Fotos 3.41 e 3.42).

Foto 3.41 - Cordão Litorâneo da margem direita do rio Palmeiras, município de Barroquinha.
82 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.42 - Cordão Litorâneo da margem direita do rio Timonha, município de Barroquinha.

3.2.2.4 Barras

Segundo Mikhailov (1964), as barras são características da grande maioria


dos rios que deságuam no mar. A formação de uma barra, seu tamanho e forma
dependem da intensidade do mar e dos processos de interação com água doce, que
ocorrem na boca dos rios. Fatores como correntes marinhas, ação de ondas,
correntes de marés e soerguimento do nível do mar podem muitas vezes evitar a
formação de deltas, porém independentemente de como são formadas, as barras
podem ser encontradas nas embocaduras de qualquer rio.

De acordo com este autor, para formar uma barra na embocadura de um rio,
é suficiente ter fluxo de água que possa transferir os sedimentos do rio. A ação da
onda no processo da formação de barras é um efeito complexo e contraditório. A
ação de ondas alarga as barras e aumenta a profundidade das águas depois delas.
Nas tormentas, as barras são transportadas para o continente e as ondas
transportam o material acumulado depositando em outros locais, mudando a
configuração original das barras.
83 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Outros agentes de destruição das barras são as correntes de marés que


erodem as barras e redepositam as areias causando variação de profundidade das
águas. Se o poder de transporte das correntes longitudinais excede o volume de
descarga de sedimento pelo rio, a barra é destruída, do contrário, ela cresce
sensivelmente (Mikhailov, 1964).

Concluindo, Mikhailov (1964) sugere que a formação de barras e ilhas são


características da maioria das embocaduras dos rios, no mais diversos ambientes e
sua formação é predeterminada, principalmente, pela dinâmica do fluxo do rio e pelo
volume da descarga de sedimento do rio. Outros fatores (ação das ondas, correntes
de marés, crescimento de vegetação, colmatação de sedimentos em suspensão,
etc) deformam ou modelam as barras formadas pelo fluxo do rio e facilitam ou
retardam seu desenvolvimento.

Durante a primeira fase da atividade de formação da barra, o rio é o fator mais


importante e a velocidade do rio tem um significado decisivo, à medida que as barras
e os demais depósitos da boca do rio se formam. Num estágio posterior, as formas
recém-criadas como alargamento do canal do rio e bifurcação em canais separados
há uma interação entre os processos costeiros. Se os agentes de consolidação das
barras não ocorrem, o processo de formação de barras se desenvolve ao longo de
linhas de alargamento e estreitamentos periódicos do fluxo do rio.

3.2.3 Terraços Marinhos

Os Terraços Marinhos são, em geral, antigos depósitos de origem marinha,


com formas tabulares e topos planos, geralmente com cotas altimétricas inferiores a
cinco metros, que foram soldados à planície costeira. No estado do Ceará a maior
extensão superficial dos terraços marinhos ocorre em Icapuí, envolvendo a área de
laguna, abrangendo a faixa de praia desde a localidade de Barreiras até Rio Grande
do Norte. Estes terraços marinhos, segundo Meireles (1991) e Meireles & Maia
(1998), são terraços referentes a um segundo nível mais alto do mar no Pleistoceno,
formados no ciclo regressivo que se seguiu à última transgressão (5.100 anos). De
acordo com os referidos autores, eles apresentam uma distribuição paralela à costa,
84 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

podem ter largura de 400 a 3.000 metros e estão presentes em planícies costeiras
com ausência de dunas atuais.

São constituídos de depósitos de praia de areia média quartzosa com


fragmentos de conchas. Morfologicamente, mostram ondulações que se
assemelham a uma série de cordões litorâneos que foram sendo soldados ao
continente à medida que o mar foi recuando. Em Icapuí, se estendem desde o sopé
das falésias mortas até o final da planície de deflação, ou das bermas.

Claudino-Sales e Peulvast (2004) sugerem que, em Icapuí, esta planície


marinha é um sistema de sete barreiras paralelas, construídas sucessivamente com
cristas e dunas frontais (backshore dunes) de, no máximo três metros de altura.
Estas estruturas são típicas de planície com barreiras de energia mista (drumsticks
barriers), começando por uma progradação em condições de domínio de ondas, que
foram submetidas a influência de marés com alargamento da planície e terras
úmidas. As barreiras e spits de areia são incorporados à planície por transgressão
das dunas frontais (backshore dunes) nas partes úmidas (Foto 3.43).

Foto 3.43 - Terraço Marinho de Icapuí exibindo ondulação devido às cristas dos cordões
litorâneos, soldados ao continente.
85 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Segundo estes autores, a presença do delta de maré vazante sugere


mudanças na evolução da planície, por estar exposto diretamente à ação das ondas
como mostram a convexidade das linhas. As ondas ao se aproximarem perdem
energia e sofrem refração, invertendo a deriva longitudinal na parte interna desta
estrutura. Assim, parte da areia é depositada na parte externa do cordão (spits
progradantes), porquanto os sedimentos eram menos abundantes corrente abaixo,
passou haver erosão das barreiras de areia, condições transgressivas, rápido
estreitamento da planície para NW e desenvolvimento de um spit reverso atrás do
delta, no lado noroeste do inlet de maré.

Uma das evidências do recuo do mar, na formação do Terraço Marinho de


Icapuí, são as falésias mortas que formam um “teatro grego” envolvendo a cidade,
algumas com dunas no topo (Foto 3.44).

Foto 3.44 - Terraço Marinho no município de Icapuí, observando-se falésias mortas e dunas
vegetadas no topo, em segundo plano.
86 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Em vários outros locais do litoral cearense foi verificada a existência de


terraços marinhos, como nas localidades de Itarema (Foto 3.45), Acaraú, Icaraí de
Amontada e Bitupitá (Foto 3.46), além de áreas de ocorrências tão restritas, que não
puderam ser destacados na escala do mapeamento, como Retiro Grande, em Icapuí
(Foto 3.31).

Foto 3.45 - Terraço Marinho entre as localidades de Almofala e Torrões, no município de


Itarema.
87 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.46 - Terraço Marinho na localidade de Cruz das Almas, município de Barroquinha.

3.2.4 Planície de Deflação

As Planícies de Deflação são superfícies planas horizontais, ou ligeiramente


inclinadas, que se estendem desde o limite de maré alta, até à base do campo de
dunas. Nestas superfícies predomina a remoção de sedimentos pelos processos
eólicos, com formação de feições residuais. Segundo Hesp & Thom (1990) são
comumente encontradas ao longo das bordas voltadas para o mar dos campos de
dunas progressivas, que migram para o continente.

Estes autores afirmam ainda que as Planícies de Deflação são alongadas e


formam superfícies relativamente extensas e planas e que são muito comuns na
costa leste da Austrália, onde, inicialmente, as dunas frontais (foredunes), já
estabilizadas, são erodidas pelas ondas e escarpadas. A erosão do vento retira a
vegetação da face de sotavento (steep stoss) resultando numa erosão gradual e
para retaguarda (backwearing). À medida que a escarpa é erodida, sua frente se
retrai rumo ao continente, e uma superfície de deflação começa a se formar na
região voltada para o mar. Uma bacia de deflação forma-se e vai se tornando cada
vez mais larga. As areias transportadas da bacia de deflação e erodidas das dunas
88 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

frontais são transportadas para o continente, para formar lençóis de dunas


transgressivas, tabulares e onduladas que recobrem as antigas faces de barlavento
de dunas frontais ou dunas mais antigas que avançaram mais para o continente.
Este processo continua até que a duna frontal inteira tenha sido removida e uma
planície de deflação tenha ocupado a antiga posição da duna frontal. A deflação
prossegue até que o nível de base tenha sido atingido (Hesp & Thom, 1990).

Este processo descrito acima pode ser observado no campo de dunas


costeiras entre Canoa Quebrada e a foz do rio Jaguaribe (Foto 3.47).

Foto 3.47 - Planície de Deflação originada pelo avanço do Campo de Dunas Móveis entre a
localidade de Canoa Quebrada e a foz do rio Jaguaribe, município de Aracati.

Carter et al (1990) sugerem que os processos eólicos removem o material


mais fino, em superfícies planas, ou ligeiramente inclinadas, deixando no local um
material de granulação mais grossa. Segundo eles, na formação da Superfície de
Deflação, em certas ocasiões, a erosão eólica (deflação), quase completa, pode
levar à formação de amplas estruturas tipo terraços. Eles se distinguem dos terraços
marinhos por terem sido modelados pelo vento.
89 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Esta faixa da planície litorânea é relativamente plana e, é de lá que o vento


retira a areia para formar as dunas, principalmente, no litoral cearense onde as
dunas frontais não são comuns e têm pouca expressão superficial. A formação da
superfície plana é rápida e, à medida que vai se tornando mais uniforme, diminui a
turbulência do vento, responsável pelo transporte da areia. Às vezes o vento é tão
brando que não tem energia para carregar os grãos de areia por grandes distâncias,
acumulando o sedimento nas depressões da própria superfície de deflação.

Esta planície de deflação vai sendo erodida e rebaixada pelo vento, até atingir
as proximidades do nível do lençol de água. Neste estágio, a umidade, que pode
ascender por capilaridade, impede a retirada da areia pelo vento, a superfície se
estabiliza e começa a desenvolver a vegetação pioneira, constituída de gramíneas
adaptadas às condições de praia.

Mesmo que o nível do lençol freático não seja atingido, a Planície de Deflação
pode ser estabilizada, se a erosão eólica atingir um horizonte de sedimento de
granulação mais grossa, composto de seixos ou de conchas, com cimento ou nível
argiloso compacto, como é o caso da planície fluvial do rio Jaguaribe, onde o vento
não tem energia suficiente para transportar os sedimentos argilosos. Ao se formar a
cobertura vegetal, a areia passa a ser retida pelas raízes das plantas, mesmo que o
lençol de água seja rebaixado, no período seco. Porém, nos casos que a deflação
atinge o lençol freático, podem formar grandes lagoas nestas planícies. (Foto 3.48).
90 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.48 – Planície de Deflação com lagoa freática cuja origem está associada à erosão eólica,
localizada entre Prainha do Canto Verde e Barra do Correia no município de Beberibe.

Quando esta vegetação pioneira de gramíneas é destruída por uma seca,


animais pastando, trânsito de carros ou construções, a deflação pode ser retomada
através de corredores preferenciais de deflação (blowouts) (Foto 3.49). Esta última
feição é muito encontrada nas planícies de deflação, principalmente no seu início,
por ser, ela própria, um agente de deflação.

O termo blowout, foi traduzido por Maia (apud Leal, 2003), como “corredor
preferencial de deflação”. De acordo com Carter et al. (1990), “O termo genérico
blowout é normalmente empregado para descrever uma cavidade, depressão,
buraco ou baixada dentro de um complexo dunar”. Melton (1940) usou o termo para
descrever dunas parabólicas, geradas por deflação de superfícies de areia. Já
Bagnold (1941) o define como uma abertura escavada pelo vento no lado oposto
(otherwise) de uma duna transversa contínua. Os corredores preferenciais de
deflação (blowouts) formam-se rapidamente em dunas vegetadas, onde morfologias
estáveis e instáveis podem coexistir (Carter et al., 1990) (Figura 3.6).
91 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.49 – Blowout iniciado na Planície de Deflação e se estendeu até o Campo de Dunas, em
Canoa Quebrada, município de Aracati

Hesp (2000) propõe a formação de um corredor preferencial de deflação,


como erosão eólica numa superfície formando um lobo deposicional na frente do
blowout deixando uma depressão, que é a bacia de deflação cercada lateralmente
por paredes de erosão, conforme Figura 3.6 abaixo:

Figura 3.6 – Principais modos de formação de corredores preferenciais de deflação


(Modificado de Hesp, 2000)
92 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Outros fatores que dão início aos blowouts são: o aumento da velocidade do
vento que sopra na praia, ou erosão de costa com avanço do mar para o continente.
Em todos os casos, no entanto há sempre uma influência externa. Na realidade, na
literatura geológica, os blowouts designam, cavidades, depressões ou calhas dentro
da planície costeira. Estes corredores ocorrem não apenas nas planícies de
deflação, mas também em dunas fixadas por vegetação ou móveis. Eles podem ser
cavidades rasas de forma oval ou de molheira, as bordas com forte inclinação e
deposição de areia em forma de uma cauda do lado do transporte do vento. (Foto
3.50).

Foto 3.50 - Blowout na Planície de Deflação de Parajuru, município de Beberibe

Noutros casos, eles formam calhas alongadas, profundas e estreitas e


paredes de inclinação mais forte e maior quantidade de areia depositada no sentido
do vento. À medida que as paredes destes corredores vão se desmoronando e o
vento, transportando a areia do interior, estas cavidades vão se alargando. O
aprofundamento se faz até que seja atingido o nível de água ou um horizonte mais
resistente ou mais grosseiro. O vento é mais veloz ao longo da porção central da
cavidade, por isso, a deposição de areia, na extremidade do corredor no sentido do
fluxo, forma uma meia lua com recurvamento para fora. Se o vento continua
93 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

soprando com intensidade, estes corredores continuam evoluindo no sentido do


vento.
Outras estruturas típicas da planície de deflação são os Rebdous (Foto 3.51),
termo árabe para definir uma elevação de areia da ordem de metros, que se forma
em torno de uma pequena árvore (buisson) ou arbusto (Dresch, 1986; Joly, 1997,
apud Claudino Sales, 2002). A referida autora utiliza o termo rebdous, “no sentido de
morro dunar esculpido pela deflação, ... às vezes associado aos blowouts
desenvolvidos sobre o lado voltado para o vento” (“dans le sens de bute dunaire
sculptée par la déflation ... parfois associée à des blowouts dévelopés sur le cote au
vent”).

Foto 3.51 – Rebdous típico de erosão eólica na Planície de Deflação de Barra Nova, município
de Cascavel.

No litoral do estado do Ceará, as planícies de deflação são mais


desenvolvidas onde os ventos são mais intensos e constantes, como é o caso das
praias de Canoa Quebrada (Aracati); Parajurú, Prainha do Canto Verde, Barra do
Correia e Morro Branco (Beberibe), Barra Nova, Caponga e Balbino (Cascavel),
Batoque, Iguape e Prainha (Aquiraz); Icaraí, Tabuba, Cumbuco, Cauípe e Pecém
(Caucaia); Preá (Cruz), Jericoacoara, Tatajuba (Camocim) e Bitupitá (Barroquinha)
(Fotos 3.52 a 3.54).
94 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.52 – Planície de Deflação com lagoa, falésia morta da Formação Barreiras e Campo de
Dunas no topo, entre Morro Branco e o rio Choró, município de Beberibe.

Foto 3.53 – Planície de Deflação vegetada entre as localidades de Preá, município de Cruz e
Jericoaocara, município de Jijoca de jericoacaora.
95 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.54 - Planície de Deflação na localidade de Jericoacoara, observando-se, em segundo


plano,uma duna isolada do tipo barcana, município de Jijoca de Jericoacoara.

Na faixa litorânea situada entre Guriú e Camocim é possível verificar a ação


niveladora do vento por sobre a Superfície de Deflação, remobilizando as areias
depositadas em episódios anteriores, ficando preservada uma superfície constituída
por sedimentos de granulação mais grossa que não foram transportados pela ação
eólica. Este processo resulta em estruturas de marcas de onda, e blowout, que
indicam o sentido do progresso da deflação (Foto 3.55).
96 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.55 - Planície de Deflação entre Tatajuba e Camocim (PTO10) com blowout e marcas de
onda, evidenciando a deflação.

Em determinados trechos localizados em frente à cidade de Camocim pode-


se observar uma extensa área de caranúbas da planície fluvial, soterradas por
lençóis eólicos que, atualmente, evidenciam a remoção das areias, dando início ao
desenvolvimento de uma Planície de Deflação. (Foto 3.56).

Foto 3.56 - Processo de desenvolvimento de uma Planície de Deflação, sobre a Planície Fluvial,
em frente à sede da cidade Camocim.
97 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Em Bitupitá, as dunas móveis migraram deixando uma ampla Planície de


Deflação, estabilizada pela vegetação (Foto 3.57).

Foto 3.57 – Planície de Deflação gerada pelo avanço das Dunas Móveis em Bitupitá, município
de Barroquinha.

3.2.5 Dunas Costeiras

3.2.5.1 Classificação de Dunas

As Dunas são definidas na Resolução CONAMA nº 303, de 20 de março de


2002, como “unidade geomorfológica de constituição predominantemente arenosa,
com aparência de cômoro ou colina, produzida pela ação dos ventos, situada no
litoral ou no interior do continente, podendo estar recoberta, ou não, por vegetação”
Art. 2º Inciso X). Quando recobertas por vegetação são classificadas como dunas
fixas.

O somatório das dunas móveis e fixas que ocorrem numa mesma célula
costeira são os campos de dunas. As células costeiras correspondem a trechos do
litoral cujos limites são definidos por acidentes geográficos, como estuários,
promontórios, dentre outros.
98 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Ao propor a classificação das dunas eólicas, Pye e Tsoar (1990) as definem


como sendo “uma crista ou morro de areia empilhada pelo vento”. Segundo eles, as
dunas, individualmente, variam em comprimento de menos de um metro até dezenas
de quilômetros com altura oscilando de dezenas de centímetro até mais de 150
metros.
Quanto ao tamanho, modo e relação, os referidos autores consideram as
dunas como simples (formas individuais de dunas que estão espacialmente
separadas de suas vizinhas), compostas (duas ou mais dunas do mesmo tipo que
são coalescentes ou superimpostas), e dunas complexas (dois ou mais tipos de
dunas que coalesceram ou foram superimpostas).
A classificação de dunas simples adotado neste trabalho foi baseada naquela
proposta por Pye e Tsoar (1990) adaptada para abranger apenas os tipos existentes
no litoral cearense (Figura 3.7).

Figura 3.7 - Classificação de Dunas Simples


(Modificada de Pye e Tsoar, 1990)

Como podemos verificar, a classificação baseia-se no modo de acumulação


das areias. No estado do Ceará, as dunas mais comuns são as barcanas,
transversais, sand sheet, parabólicas e hummock.

É evidente que num mapeamento de caráter regional, seria impossível


destacar cada tipo, por isso, neste zoneamento geoambiental, estas unidades foram
englobadas, levando-se em conta o modo de formação e a idade das dunas em:
paleodunas, dunas fixadas por vegetação, eolianitos e dunas móveis, embora as
99 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

paleodunas e os eolianitos nem sempre possam ser individualizados na escala do


mapeamento.

3.2.5.2 Paleodunas

São depósitos eólicos mais antigos sem forma definida apresentando na


porção superior o desenvolvimento de solos. Apresentam cor avermelhada em
função do grau de oxidação do ferro, formadas, na sua maioria, pelo transporte
eólico de sedimentos arenosos, com granulometria entre 2 e 0,2 mm, podendo
ocorrer nos mais variados tipos de litoral. Sua origem depende do tamanho do
sedimento, característica do perfil de praia e regime de ventos. (Short & Hesp, 1982
e Carter, 1986)

Correspondem a geração de dunas litorâneas mais antigas do litoral


cearense. Elas têm os grãos de areia rejuntados pelo cimento ferruginoso, daí sua
coloração vermelha. As expressões mais notáveis do ponto de vista cênico no litoral
leste do estado do Ceará correspondem às falésias de Canoa Quebrada (Leal,
2003) e registros no topo de falésias de Ponta Grossa e Morro Branco. No litoral
oeste merecem destaque as paleodunas de Paracuru, Baleia, Trairi, Preá e
Tatajuba. Na maioria das vezes, elas estão erodidas e recobertas por dunas mais
recentes (Foto 3.58).

Em geral, elas têm estrutura maciça e uniforme, como na região entre a


localidade de Preá e Jericoacoara, município de Cruz (Foto 3.59). Porém, em outros
locais podem ser observadas as estratificações cruzadas (Foto 3.60).

São comuns, principalmente nas falésias do litoral leste, onde o processo de


percolação de água lixivia o ferro do cimento, dando-lhes uma coloração cinzenta
(Foto 3.61).

Brandão (1998) define as paleodunas da Região Metropolitana de Fortaleza –


RMF como sendo formadas por areias bem selecionadas, de granulação fina a
média, por vezes siltosa, quaartzosas e/ou quartzo-feldspáticas, com tons
amarelados, alaranjados ou acinzentados. Normalmente são sedimentos
100 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

inconsolidados, embora em alguns locais possam apresentar um certo grau de


compactação. Trata-se de uma geração mais antiga de dunas, apresentando o
desenvolvimento de processos pedogenéticos, com a conseqüente fixação de um
revestimento vegetal de maior porte. As espessuras variam em torno de 15 metros,
próximo à linha de costa, com progressiva redução em direção ao interior e com as
formas dissipadas em algumas áreas.

Foto 3.58 – Paleoduna recoberta por duna móvel na localidade de Baleia, município de
Itapipoca.
101 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.59 - Paleodunas maciças entre a localidade de Preá e Jericoacoara, município de Cruz.

Foto 3.60 - Estratificação cruzada na duna de uma geração posterior à paleoduna (em segundo
plano) na entrada de Morro Branco, município de Beberibe.
102 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

3.2.5.3 Dunas Fixadas por Vegetação

Autores como Pye & Tsoar (1990), consideram que a vegetação é o principal
fator de controle da forma das dunas costeiras. As dunas fixadas por vegetação mais
comuns são dunas hummock, parabólicas e lineares vegetadas. As dunas
hummocks são montes de areia de forma irregular com a superfície parcial ou
totalmente vegetada e altura média inferior a 10 metros, embora possam atingir até
30 metros. Dentro deste tipo de dunas, Pye e Tsoar (1990) englobaram hedgehogs,
shadows dunes, coppice dunes, nebkas e rebdous. Elas são mais comuns em áreas
de erosão eólica, como as planícies de deflação, e não podem ser mapeadas na
escala utilizada. (Foto 3.62).

As dunas parabólicas simples têm forma de U ou V, em planta, com os braços


laterais direcionados segundo o sentido. Quando elas migram e se alongam,
chegam a atingir a forma de grampo de cabelo (hair pin). Pye & Tsoar (1990)
acreditam que a forma destas dunas é governada pela intensidade e a variabilidade
da direção do vento, fonte e quantidade de areia disponível, além da natureza dos
terrenos vegetados, sobre os quais as dunas se movem.

No litoral cearense as dunas parabólicas ocorrem em profusão na região do


Iguape, onde se registra a duna fixada por vegetação mais alta do litoral (Foto 3.63),
Pecém e Icaraí de Amontada, onde é possível observar a secção de uma duna
parabólica formada através de um blowout na estrada que liga a referida localidade
a Moitas (Foto 3.64).

As dunas lineares vegetadas variam em altura, de alguns metros até poucas


dezenas de metros, e têm perfil arredondado na seção perpendicular ao
alongamento do corpo. Formam feições paralelas de alguns quilômetros e, quando
individualizadas, podem atingir até centenas de quilômetros de comprimento. A
vegetação está restrita às partes baixas dos flancos e ausentes nas cristas. O
conjunto forma ramificações em forma de Y (Pye & Tsoar, 1990). Elas podem ser
vistas na Planície de Deflação da localidade de Jericoacoara (Foto 3.65).
103 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.61 - Paleodunas exibindo o processo de lixiviação do ferro do cimento, e areias


monazíticas na praia de Majorlândia, município de Aracati.

Foto 3.62 - Rebdou fixado por mangue, localizado em frente à sede do município de Camocim.
104 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.63 – Dunas parabólicas vegetadas entre as localidades de Iguape e Batoque, município
de Aquiraz.

Foto 3.64 - Duna parabólica gerada por um blowout entre as localidades de Icaraí e Moitas, no
município de São Bento de Amontada.
105 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.65 - Dunas lineares vegetadas na localidade de Jericoacoara .

Além das dunas vegetadas com formas características, são encontradas no


litoral cearense com muita freqüência dunas móveis que foram fixadas pela
vegetação, principalmente a sotavento dos campos de dunas. A vegetação nasce e
cresce nas partes mais baixas, induzida pela água de chuva que penetra nas dunas
e flui no sopé. Sua expressão não é mais conspícua porque são constantemente
soterradas pelo avanço do campo de dunas móveis. (Foto 3.66 a 3.68). Elas são
mais novas que as dunas parabólicas e eolianitos e, possivelmente, da mesma idade
das dunas hummocks.
106 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.66 - Vegetação fixando dunas em Barra Velha, município de Cascavel.


107 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.68 – Duna parcialmente fixada por vegetação no município de Trairi.

3.2.5.4 Eolianitos

Os eolianitos ou cascudos são depósitos eólicos cimentados por carbonato de


cálcio em ambiente continental, com diagênese próxima à superfície, envolvendo
principalmente águas pluviais. São relativamente recentes, sem forma definida, mas
marcando a morfologia litorânea, pelos horizontes mais resistentes à erosão e ao
transporte eólico.

O termo eolianito foi originalmente utilizado por Sayles (1931, apud Pye &
Tsoar, 1990), para descrever “rochas sedimentares consolidadas que tenham sido
depositadas pelo vento”. Porém muitos autores preferem usar este termo para
designar apenas areias eólicas cimentadas por calcita diagenética inicial (Foto 3.69).

Os eolianitos quaternários ocorrem amplamente em ilhas oceânicas e linhas


de praia continentais nas regiões áridas e semi-áridas onde o suprimento de
sedimento silícicoclástico é restrito e as taxas de produção de carbonato biogênico,
ou formação de ooides, são altas. A extensão, distribuição vertical e composição de
cimento carbonático refletem a abundância e composição de grãos de carbonato no
108 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

sedimento hospedeiro, a quantidade de água passando através da coluna de areia,


o efeito da vegetação no regime da mistura do solo, e a natureza episódica ou outro
modo de sedimentação eólica (Pye & Tsoar, 1990).

Os grãos de carbonato são principalmente compostos de aragonita, calcita


com alto teor de magnésio (contendo > de 5 mol% de MgCO3), calcita com baixo
teor de magnésio, ou misturas destes minerais. Muitos ooides, gastrópodes, corais e
algas são predominantemente compostos de aragonita, que é o mineral
dominantemente encontrado em muitos dos depósitos litorâneos de baixa latitude.

A água da chuva, que entra no topo da coluna da duna de areia, está


inicialmente sub-saturada em minerais carbonáticos. Entretanto, como a aragonita e
a calcita de alto Mg são mais solúveis que a calcita de baixo Mg, as águas que se
infiltram tornam-se saturadas com relação à calcita de baixo Mg, enquanto estão
ainda sub-saturadas com relação à aragonita e à calcita de alto Mg. A precipitação
de cristais de cimento de calcita de baixo Mg pode, portanto, ocorrer
simultaneamente com a dissolução da aragonita e da calcita de alto Mg.

A precipitação da calcita de baixo Mg mantém a solução sub-saturada com


relação a aragonita, ocasionando, assim sua dissolução continua. A dissolução de
allochems de aragonita e calcita de alto Mg pode gerar grande quantidade de
espaços vazios, tanto antes, quanto depois do preenchimento dos poros
circundantes por cimento calcífero. No último caso, grande quantidade de poros em
forma de mofo (mouldy) são formados, que podem ser preenchidos cimento
posterior. A dissolução da aragonita ou calcita magnesiana e substituição da calcita
pode ainda ocorrer quase simultaneamente (Pye & Tsoar, 1990).

Reeckmann & Gill (1981, apud Pye & Tsoar, 1990) estimam que levou
100.000 anos para o desaparecimento da calcita com alto Mg e 600.000 anos para
desaparecimento da aragonita nos eolianitos de Vitória do Sul. Já Gavish &
Friedman (1969, apud Pye & Tsoar, 1990) relacionaram a perda total de calcita de
alto Mg nos eolianitos a um período de 10.000 anos e completa perda de aragonita
em 50.000 anos, no eolianitos de Israel.
109 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

O teor inicial de carbonato de cálcio para cimentar as areias em locais da


costa de Israel foi estimado por Yaalon (1967, apud Pye & Tsoar, 1990) entre 8 e
10%, onde a densidade pluviométrica anual fica entre 300 e 600 mm. Este teor
inicial mínimo de carbonato vai aumentando nas regiões de maior densidade
pluviométrica ou taxas menores de evaporação, que chega a 25% nas dunas
costeiras de Natal (Yaalon 1982, apud Pye & Tsoar, 1990).

Pye & Tsoar (1990) consideram que o clima tenha um efeito importante na
diagênese dos eolianitos porque ele controla a disponibilidade de água meteórica e,
por isso, a intensidade e taxa da alteração do mineral carbonático. Segundo estes
autores, a precipitação de cimento carbonático na zona vadosa é catalisada pela
remoção da umidade do subsolo através da evapotranspiração. Durante o período
de déficit líquido da umidade, a água proveniente do subsolo é devolvida à
atmosfera através das raízes e folhas. Quaisquer íons dissolvidos que não sejam
removidos pelas plantas são então precipitados no solo à medida que a umidade
residual torna-se supersaturada. As cimentações em torno das raízes de plantas são
chamadas rizoconcreções (Kindle, 1923, apud Pye & Tsoar, 1990) e podem ter
vários metros de comprimento e dezenas de centímetros de diâmetro, mas podem
atingir calcificação de tubos com 15 μm de diâmetro que foram interpretados como
filamentos das raízes calcificados (Foto 3.70).

As áreas de maior incidência dos eolianitos do estado do Ceará são Pecém,


Paracurú, Trairi, Baleia, Apiques, Icaraí de Amontada, Almofala e Bitupitá.
110 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.69 – Eolianitos localizados na porção oeste da praia da Baleia, município de Itapipoca.

Foto 3.70 – Rizoconcreções, estruturas originadas a partir de cimentações entorno das raízes
de plantas observadas nos eolianitos da praia de Almofala.
111 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Maia et al. (1997) estudando os eolianitos do litoral do Ceará atribuem como


fatores essenciais e determinantes para formação dos eolianitos a dinâmica
climática, a acumulação biogênica das formações dunares e a hidroquímica. Eles
são bem laminados com estratificação plano-paralela (Foto 3.71), embora possam
exibir estratificação cruzada. Maia et al. (no prelo) fazendo um estudo comparativo
entre eolianitos e beachrocks, utilizando composição isotópica dos cimentos,
verificaram que os eolianitos são cimentados em ambiente continental com
diagênese próxima à superfície, envolvendo, principalmente, águas pluviais.

Foto 3.71 – Estratificação plano-paralela em afloramento de eolianito na localidade de Pecém.


112 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.72 - Estratificação cruzada em eolianitos entre as localidades de Baleia e Apiques,


município de Itapipoca.

3.2.5.5 Dunas Móveis

A subsidência das costas ocasiona intensa erosão dos sedimentos litorâneos,


com redistribuição ao longo das praias e formação de dunas. Quando o suprimento
de sedimento é grande e as dunas não são estabilizadas pela vegetação, podem se
formar extensos campos de dunas móveis e lençóis dunares (sand sheet) (Foto
3.73). Dentre as dunas de areia fina, formadas por acumulação devido às mudanças
de rugosidade dos terrenos ou flutuações aerodinâmicas (Pye & Tsoar, 1990), a
mais comum no litoral do Ceará é a barcana (Foto 3.74).
113 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.73 – Campo de Dunas Móveis em Cano Quebrada, município de Aracati

Foto 3.74 – Campo de Barcanas de Jericoacoara.


114 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Os lençóis dunares foram definidos como “áreas de areias


predominantemente eólicas com as faces de deslizamento geralmente ausentes”
(Kocurek & Nielson, 1986, p. 795, apud Pye & Tsoar, 1990). O tamanho dos grãos
varia de areia fina a silte, com selecionamento pobre, o que lhe confere uma
distribuição bimodal (Pye & Tsoar, 1990).

Os campos de dunas progressivos são depósitos eólicos de areias, formados


pelo movimento de areia no sentido do vento, sobre terrenos vegetados ou
subvegetados. Na maioria dos casos dos campos de dunas ativos, eles não são
vegetados e variam em tamanho desde pequenos lençóis (centenas de m2) até
verdadeiros mares de areia, de vários quilômetros quadrados. Sua ocorrência
depende da abundância de suprimento da areia costeira, associada a uma forte
energia eólica na praia.

Por causa das falésias que dominam o litoral leste do estado do Ceará, no
trecho entre Icapuí e Canoa Quebrada, os campos de dunas são raros e o que se
observa são dunas de topo de falésia (cliff-top dunes) (Foto 3.75) e dunas em
rampas ascendentes (Foto 3.76).

O campo de dunas móveis contínuo mais expressivo do estado do Ceará se


estende entre a localidade de Porto Canoas e a foz do rio Jaguaribe, onde podem
ser observados os tipos barcanóides, sand sheets e dunas de precipitação (Fotos
3.77).

Outros campos de dunas móveis extensos ocorrem entre Iguape e a Prainha


se estendendo até Fortaleza. No litoral oeste da cidade, entre o Pirambú e a Barra
do Ceará, dunas de porte elevado movimentam-se soterrando casas e ruas.

Brandão (1998) descreve as dunas recentes ou móveis da Região


Metropolitana de Fortaleza – RMF como formadas a partir da acumulação de
sedimentos removidos da face de praia, distribuindo-se como um cordão contínuo
disposto paralelamente à linha de costa, possuindo uma largura média de 2 a 3
quilômetros e espessura da ordem de 20 metros.
115 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Segundo o autor, sua continuidade só é interrompida pela presença de


planícies fluviais e flúvio-marinhas, ou ainda pela penetração até o mar de
sedimentos da Formação Barreiras (praia de Iparana e promotórios formados por
cangas lateríticas (ponta do Mucuripe) e quartzitos (ponta do Iguape).

Em geral, ocorrem capeando a geração de dunas mais antigas, embora em


algumas áreas, estejam assentadas diretamente sobre os sedimentos terciários da
Formação Barreiras. Litologicamente, são constituídas por areias esbranquiçadas,
bem selecionadas, de granulação fina a média, quartzosas com grãos de quartzo
foscos e arredondados e muitas vezes encerrando níveis de minerais pesados,
principalmente ilmenita.

Foto 3.75 - Dunas no topo de falésia em Ponta Grossa, município de Icapuí.


116 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.76 - Dunas em rampas ascendentes, sobre a Formação Barreiras e paleodunas na praia
de Uruaú, no município de Beberibe.

Foto 3.77 – Duna avançando sobre a Planície Fluvial do rio Jaguaribe na Canavieira, município
de Aracati.
117 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Merece destaque, ainda, o campo de dunas móveis que se inicia na Tabuba


estendendo-se pelo Cauhipe, Pecém e Paracuru, Trairí e Baleia e Marinheiros
(Itapipoca). Porém, o maior campo de dunas barcanas do Estado do Ceará está em
Jericoacoara (Foto 3.78 e 3.79).

Foto 3.78 – Duna do tipo barcana localizada nas imediações de Jericoacoara, município de
Jijoca de Jericoacoara, utilizada com freqüência pelos visitantes para observar o por do sol.
118 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.79 – Dunas do tipo Barcanóides que ocorre na localidade de Marinheiro, no município
de Itapipoca .

3.3 Corredores fluviais

São constituídos pelo próprio canal do rio e a vegetação que ocorre em


ambos os lados do canal. Neste ambiente ainda estão incluídos os bancos de areia
dos riachos, planície de inundação que é composta do estuário propriamente dito,
englobando ainda a planície flúvio-marinha, os afluentes, as gamboas e a planície
fluvial com seus meandros abandonados e lagoas.

Os estuários são corpos de água costeiros, semi-fechados, com livre


comunicação com o mar, onde a água salgada se mistura com a água doce do rio.
São vales afogados pela água do mar. Segundo Pritchard (1967) eles são definidos
como “um corpo d’água costeiro, semi-fechado, com livre comunicação com o mar
no qual a água salgada é mensuravelmente diluída com a água doce oriunda da
drenagem continental”. Dalrymple et al. (1992, apud Reynolds, 1998) simplificam a
definição, chamando estuários de “vales de rios afogados”.

Stonnel (1951, apud Schubel, 1971) propõe a classificação dos estuários,


segundo o mecanismo de movimento dominante, em: Estuários Dominados por
119 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

ventos; Estuários dominados por Marés e Estuários Dominados por Rios. Porém,
esta classificação está relacionada apenas às características físicas, sem levar em
conta a diversidade dos ecossistemas atuais e a importância das marés nas
misturas; os aportes esporádicos de água doce; a mistura costeira nas proximidades
dos grandes rios e estuários tropicais onde a evaporação possa influenciar a
circulação, a presença de organismos dispersos ou construindo arrecifes (corais e
ostras) ou terras úmidas (EPA, 2001). A Environmental Protection Agency dos
Estados Unidos define águas costeiras no manual “Nutrient criteria – Tecnical
guidance manual – Estuarine and coastal marine waters” (2001) “como sendo
aqueles sistemas marinhos que se distribuem entre o limite da maré alta média
(mean highwater) da linha de base da costa e a zona de quebra do gradiente
topográfico da plataforma, ou aproximadamente 20 milhas náuticas mar adentro
quando a plataforma continental é extensa”. Nos estuários encontram-se as
planícies flúvio-marinhas, com seus manguezais, salgados e apicuns (Foto3.80).

Foto 3.80 - Salgado e manguezal na localidade de Volta do Rio, no município de Itarema.


120 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

3.3.1 Planícies Flúvio-Marinhas

São as superfícies planas de um estuário, que se situam entre o nível médio


da maré baixa de sizígia e o nível médio de maré alta equinocial. São aquelas áreas
que sofrem as maiores influências da água do mar. No litoral cearense, as partes
mais baixas estão cobertas pelo menos duas vezes por dia de água salgada, por se
situar entre os níveis médios das baixas-marés e preamares de quadratura, definida
como Médio-Litoral Médio na Resolução COEMA nº 02, de 27 de março de 2002
(DOE de 10/04/02).

As partes mais elevadas somente são atingidas pelas preamares de sizígia e


equinociais e, “a faixa de terra delimitada pelo nível médio das preamares de
quadratura e nível extremo de preamares de sizígia equinociais, somente inundadas
em intervalos de quinze dias e o permanece sendo por períodos contínuos de
aproximadamente cinco dias”, foi definida pela mesma Resolução COEMA, como
Médio-litoral superior.

3.3.1.1 Médio litoral-médio

Nesta região encontram-se os manguezais, definidos na Resolução CONAMA


nº 303, de 20.03.02, como Áreas de Preservação Permanente (Art. 3º, inciso IX),
constituindo: “ecossistema litorâneo com influência flúvio-marinha, que ocorre em
terrenos sujeitos à ação das marés, formado por vasas lodosas ou arenosas
recentes, às quais se associa, predominantemente, a vegetação natural conhecida
como mangue, com influência flúvio-marinha, típica de solos limosos de regiões
estuarinas e com dispersão descontínua ao longo da costa brasileira, entre os
estados do Amapá e Santa Catarina”.

Os manguezais no mundo inteiro ocupam uma área total de 162.000 km2, dos
quais de 10.000 a 25.000 km2 somente no Brasil. Sua maior distribuição ocorre entre
os trópicos (23º27’N e 23º27’S), embora, em alguns casos, possam se estender até
os paralelos 32ºN e 39ºS. Nos climas rigorosos, eles não conseguem subsistir, por
isso, seu maior desenvolvimento se dá na região do Equador.
121 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

A ocorrência de grandes comunidades de manguezal depende de cinco


fatores básicos, segundo Walsh (1974):
• Temperaturas altas (tropicais).
• Substratos aluviais, onde predominam lodos ricos em matéria orgânica.
• Costas livres de fortes ondas, que impeçam o assentamento das sementes.
• Águas salinas, entre 0,5 e 3,0%.
• Grandes amplitudes de marés e pequena declividade da costa, garantindo
grande penetração da maré salina.

De acordo com Fernandes & Peria, in Schaefer-Noveli (1995), as condições


ideais para o pleno desenvolvimento dos manguezais estão próximas das seguintes
características:
• Temperaturas médias acima de 20ºC;
• Média das temperaturas mínimas não inferiores a 15ºC;
• Amplitude térmica anual menor que 5ºC;
• Precipitação pluviométrica acima de 1.500 mm/ano, sem prolongados
períodos de seca;
• Principais características das espécies obrigatórias de mangues do
nordeste brasileiro;
• Rizophora mangle: raízes em forma de escora, porte de até 19 metros de
altura e 30 centímetros de diâmetro. É conhecida como mangue verdadeiro,
vermelho e sapateiro;
• Laguncularia racemosa: atinge 12 metros de altura e 30 centímetros de
diâmetros. É chamada mangue branco, ou ainda mangue manso ou
mangue rasteiro;
• Avicennia germinans e Avicennia schaueriana: alcançam 11 metros de
altura e 20 centímetros de diâmetro. Popularmente são conhecidas como
seriúba, seriba, mangue amarelo ou canoé;
• Conocarpus erecta: chegam a 10 metros de altura e 30 centímetros de
diâmetro. É mangue de botão;
As espécies marginais do nordeste brasileiro são:
Hibiscus tiliaceus (Linn): é a mais cosmopolita das restingas e próximo às
praias, além dos manguezais. É chamada embira dos mangues.
122 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

• Acrosticum aureum (Linn): conhecida como samambaia do mangue.


• Dalbergia hecastophyllum, (Linn) Taub.: leguminosa
• Dadonea viscosa (Jacq.): conhecida como vassoura vermelha
• Sesuvium portucalacastrum (Linn.): aizoácea de porte herbáceo, conhecida
como bredo de praia
• Sporobolus virginicus (Linn.) Kunth e Frimbistilyles glomerata (Retz):
plantas de solo silicoso.
• Diplanthera sp.: Formam prados bordejando os manguezais.

Salinidade

Como as espécies vegetais de mangue são halófitas, elas são resistentes a


ambiente salino. Por isso, as outras variedades não podem competir com elas neste
ambiente, ao contrário de ambiente de água doce, em que a vegetação não halófita
impede a formação de bosques de manguezais. Segundo Fernandes & Peria in
Schaefer-Noveli (1995), das plantas típicas de mangue, as de menor tolerância ao
sal são do gênero Rhizophora (mangue vermelho), por isso só ocorre onde a água
intersticial do sedimento tem teores sal abaixo de 50 o/oo. Já o Avicennia (mangue
preto) é um dos gêneros mais tolerantes, aceitando teores de sais nas águas
intersticiais entre 65 e 90o/oo. O mangue tinteira (Laguncularia) tem tolerância
intermediária entre os dois.

Pelo fato da salinidade nos manguezais variar com os períodos de chuva e


estio, Coelho (1965/6 b, apud Costa & Alcântara Filho 1987) estabeleceu os regimes
quanto às salinidades nos estuários dos rios do nordeste:
• Regime marinho: salinidade geralmente superior a 30o/oo ;
• Regime polihalino: salinidade geralmente superior a 30o/oo, embora muito
reduzida na baixa-mar;
• Regime mesohialino: salinidade raramente superior a 30 ou inferior a 1o/o;
• Regime oligohialino: salinidade raramente superior a 5 e comumente inferior
a 1o/oo, na baixa-mar.
123 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Marés

O fluxo de água salgada dos manguezais é controlado pelas marés. São


estas incursões periódicas que permitem a colonização, pela vegetação de mangue,
impedindo a proliferação de outras espécies, que poderiam impedir o
desenvolvimento dos manguezais. Por isso, seus limites são controlados pela
distância máxima de penetração da água salgada. As marés são responsáveis pela
renovação da água intersticial e superficial, a oxigenação delas e transporte, seleção
e fixação de propágulos, além da redistribuição da matéria orgânica (folhas, galhos,
sementes, restos de animais, etc.) de forma particulada e/ou em dissolução, na
circunvizinhança.

Substrato

Uma característica do substrato é sua heterogeneidade. Ele pode ser


originado no próprio local, através da decomposição de folhas, galhos e restos de
animais constituindo as turfas, ou ainda conter em sua composição, material
proveniente de desagregação de diversos tipos de rochas, trazidos tanto por ondas,
quanto por ventos, correntes litorâneas ou rios. Em geral, os substratos dos
manguezais, além da grande quantidade de matéria orgânica, são altamente salinos,
pouco consistentes e normalmente de coloração cinza escuro, quando não têm por
embasamento recifes de coral, ou a areia é dominante.

Os substratos são modificados pela maior quantidade de matéria orgânica e


pelas condições ambientais, como densidade pluviométrica, marés, correntes,
ondas, aportes de rios, tormentas, ventos fortes e, tipo e morfologia do litoral. O
ambiente ideal para desenvolvimento de manguezais é aquele onde o substrato é
mais fluido, com baixa declividade e granulometria mais fina, embora possam existir
em regiões de granulação mais grossa, ricas em areia e recifes de corais. Quando a
morfologia da costa gera locais abrigados, sem presença de dunas, há um domínio
de partículas finas em associação com matéria orgânica, água e sais marinhos. A
saturação em água e a grande decomposição de matéria orgânica aumentam as
condições redutoras locais, com abundância de gás sulfídrico (H2S) e baixo teor de
oxigênio dissolvido na água.
124 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

O contato do substrato com o oxigênio do ar faz com que haja uma oxidação
e geração do ácido sulfúrico, baixando o pH, através das seguintes reações:

FeS2 + H2O + 3 ½ O2 Æ FeSO4 + H2SO4


Fe2(SO4)3 + 6H2O Æ 2Fe(OH)3 + H2SO4

Segundo Costa & Alcântara Filho (1987), quanto mais fina for a argila, maior o
teor de água na lama. Estes valores estão sempre entre 25 e 88%, enquanto que as
percentagens de C e N, de origem orgânica, que estão principalmente nas frações
finas, variam de 3,06 a 6,66%, no caso de C e, de 0,13 a 0,21%, com relação ao
nitrogênio. A relação C/N mantém-se entre os valores de 18,00 e 34,00.

Estes dois elementos concentram-se mais nas zonas alagadas, porque nas
faixas emersas têm menos matéria orgânica. A maior parte da matéria orgânica que
se concentra nos sedimentos dos manguezais é conseqüência da decomposição da
sua própria vegetação, constituída principalmente de fanerógamas arbóreas.

Os sedimentos dos manguezais têm uma água intersticial, que difere


daquelas dos estuários, com relação às características físico-químicas, como
temperatura, pH, clorinidade, salinidade. Nitrogênio amoniacal, nitrito, nitrato e
fosfatos inorgânicos são mais elevados na água intersticial do que nas dos estuários
(Okuda & Cavalcante, 1963, apud Costa & Alcântara Filho 1987).

De acordo com Brandão (1998), na Região Metropolitana de Fortaleza-RMF,


os principais manguezais encontram-se associados aos rios Ceará, Cocó (Foto 3.81)
e Pacoti. Eles constituem ecossistemas complexos e frágeis, que desempenham
importantes funções ambientais tanto do ponto de vista físico como biológico e são
susceptíveis a profundas alterações em suas características, quando submetidos à
ocupação e exploração de seus recursos.
125 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.81 - Manguezal associado ao baixo curso do rio Cocó, que ocorre nas imediações da
avenida Sebastião Abreu, município de Fortaleza.

Os rios que demandam ao litoral do estado do Ceará têm, em geral, direção


norte-sul e os ventos dominantes são E e SE. Graças a esta relação e ausência de
amplas baías, a grande maioria dos estuários sofre forte influência de sedimentos
eólicos, fazendo com que os rios tenham a foz migrando para o oeste, como no caso
dos rios Jaguaribe, Pirangi, Choró, Malcozinhado e Pacoti, ou totalmente soterrada
como no caso das lagoas do Uruaú e Banana, ou mesmo, parcialmente como no
lagamar do Cauhipe (3.82 a 3.65).
126 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.82 – Migração de duna sobre o mangue da margem direita do rio Jaguaribe, próximo à
foz, entre os municípios de Aracati e Fortim.

Foto 3.83 – Migração de duna sobre o leito do rio Choró na localidade de Barra Nova,
município de Cascavel.
127 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.84 – Assoreamento do leito do rio Juá, através da migração de duna, na localidade de
Tabuba, município de Caucaia.

Foto 3.85 – Estrangulamento do leito do Cauhipe pelo avanço de duna móvel, município de
Caucaia.
128 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

O aporte de sedimentos também tem reflexo nos manguezais, que são


soterrados pelas areias eólicas, principalmente na margem direita do corpo hídrico,
como pode ser observado nos rios Curú, Mundaú, Aracatiaçu, Aracatimirim, Acaraú,
Coreaú, Palmeiras-Remédio e Timonha (Fotos 3.86 a 3.92).

Foto 3.86 - Duna recobrindo o manguezal da margem esquerda do rio Curú, no município de
Paracurú.
129 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.87 – Duna do tipo barcana envolvendo o manguezal na margem esquerda do rio
Mundaú, no município de Trarí.

Foto 3.88 – Manguezal parcialmente coberto pelas Dunas Móveis na margem direita do rio
Aracatiaçu, na localidade de Moitas, no município de São Bento de Amontada.
130 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.89 – Manguezal soterrado pelas areias eólicas na margem direita do rio Aracatimirim,
em Cascudo, no município de Itarema.

Foto 3.90 – Ocorrência de mangue recoberto pelos sedimentos eólicos na margem esquerda
da foz rio Acaraú, no município de Acaraú.
131 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.91 – Migração de duna móvel sobre a vegetação da margem direita do rio Coreaú, em
frente à sede do município de Camocim.

Foto 3.92 - Manguezal envolvido pelas dunas do tipo barcana, na margem direita do rio
Palmeiras, próximo à foz, entre os municípios de Camocim e Barroquinha.
132 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Observe-se, no entanto, que se por um lado os sedimentos eólicos recobrem


manguezais, os barramentos dos rios, por causa da açudagem, fazem com que as
areias eólicas, que atingem o leito dos rios nos estuários, formem depósitos que não
podem ser carreados para o mar, por falta de energia destes rios. Quando estes
depósitos, ou barras têm sua superfície superior entre os níveis médios de marés de
quadratura baixas e altas, elas funcionam como suporte para desenvolvimento de
novas gerações de mangues. (Foto 3.93).

Foto 3.93 - Três gerações de mangue na barra rio Jaguaribe, em frente à sede do município de
Aracati.

A migração para oeste dos estuários dos rios costeiros cearenses, recobrindo
os manguezais, com os sedimentos da planície fluvial, é outro fator natural de
destruição de mangues e pode ser observado, principalmente na margem direita,
onde o rio recortou as antigas planícies fluvial e flúvio-marinha, exumando
paleomangues, que tinham sido soterrados anteriormente pela própria planície
fluvial, no deslocamento do rio para oeste, devido a dinâmica costeira. (Foto 3.94 e
3.95).
133 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.94 - Paleomangue recoberto pela Planície Fluvial, e depois exumado, pelo rio Jaguaribe,
no município de Aracati.

Foto 3.95 - Detalhe do recobrimento do Paleomangue pela Planície Fluvial do rio Choró, no
município de Cascavel.
134 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

3.3.1.2 Médio-litoral Superior

Neste setor é que se encontram os salgados e apicuns. Segundo a Resolução


COEMA no 02, de 27.03.02 (DOE de 10/04/02), “Salgado é o ecossistema
desprovido de vegetação vascular desenvolvendo-se entre o nível médio de
preamares de quadratura e o nível das preamares de sizígia equinociais, em faixa de
terra hipersalina com valores de água intersticial acima de 100 ppm (partes por
milhão), normalmente situado em médio-litoral superior” (Foto 3.96).

Foto 3.96 - Salgado do rio Chapadas com manguezal ao fundo entre as sedes dos municípios
de Barroquinha e Bitupitá.

O apicum, de acordo com a referida resolução, é definido como: “ecossistema


de estágio sucessional tanto do manguezal como do salgado, onde predominam
solo arenoso e relevo elevado, que impede a cobertura dos solos pelas marés,
sendo colonizado por espécies vegetais de caatinga e/ou mata de tabuleiro”.
Portanto, dentro do conceito destas definições da Resolução do COEMA, salgados e
apicuns são ambientes posicionados em intervalos de cota bem definidos (Foto
3.97).
135 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.97 - Apicum (com carnaubeira), salgado (com capim ralo e sem vegetação) e manguezal
(vegetação de porte) no rio Ceará, município de Caucaia.

No caso do salgado, podemos ter esta unidade totalmente desprovida de


vegetação, em transição nítida com os Tabuleiros Pré-litorâneos, como no caso do
rio Chapadas em Barroquinha (Foto 3.98).
136 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.98 – Salgado em primeiro plano, manguezal à esquerda e Tabuleiro em segundo plano,
localizados no baixo curso do rio Chapadas, município de Barroquinha.

Em geral, os salgados constituem superfícies planas, revestidas de pirrixio, ou


seja, gramínea que suporta salinidade acima de 100 ppm, constituídas de
sedimentos argilosos e/ou arenosos nas bordas dos manguezais. (Foto 3.99). Em
outros locais, os salgados são nitidamente áreas de antigos manguezais, onde o
soterramento pelas areias eólicas, não somente mudou a granulometria do solo, mas
elevou o nível da superfície acima daquele de marés altas de quadratura, sendo
atingidos apenas nas preamares de sizígia (Foto 3.100).
137 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.99 – Salgado formado a partir do soterramento do manguezal pelo aporte de areia de
duna. Praia do Balbino, município de Cascavel.

Foto 3.100 - Salgado revestido de pirrixio, com manguezal em segundo plano, localizado na
margem direita do rio Choró, município de Beberibe.
138 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Os apicuns, atingidos apenas por marés de equinócio, ocupam as partes mais


altas dos ambientes flúvio-marinhos. Sua vegetação é freqüentemente constituída
de gramíneas e carnaubeiras que suportam solo com alto grau de salinidade. (Foto
3.101).

Foto 3.101 - Apicum (capim e carnaúba) envolvido pelo salgado (quase sem vegetação) e
manguezal (segundo plano) a norte da sede do município de Itarema.

3.3.2 Planície Fluvial

A planície fluvial é a planície de inundação do rio, localizada acima do nível


superior do médio-litoral superior, portanto, sem influência marinha. Às vezes esta
diferença de cota é inferior a um metro, como no caso do rio Jaguaribe (Foto 3.102).
139 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.102 - Planície Fluvial do rio Jaguaribe localizada acima do manguezal, município de
Aracati (?)

As planícies de inundação podem ser classificadas em planície hidrológica e


topográfica. A planície hidrológica corresponde aos terrenos adjacentes ao fluxo de
base do canal, situados abaixo da borda ou margem da calha fluvial (bankfull),
inundada a cada dois ou três anos (Figura 3.8). A planície topográfica engloba áreas
localizadas ao lado do canal fluvial, incluindo a planície hidrológica e outras terras
posicionadas acima do nível de base, alcançado por um pico de inundação anômalo.
140 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Figura 3.8 – Morfologia e depósitos de uma Planície de Inundação. (Modificado de Federal


Interagency Stream Restoration Working Group, 2000).

A planície de inundação fornece espaço temporário para expansão das águas


de inundação e para o aporte de sedimentos produzidos pela bacia hidrográfica.
Esta característica induz a criação de um novo termo, ou seja, tempo de retardo de
uma inundação (lag time of flood), que é o tempo entre o meio do período de chuvas
e o pico do escoamento superficial (run off) (Foto 3.103).

Se a capacidade do riacho para movimentar a água e o sedimento vai


diminuindo, ou se a carga de sedimento gerada da lixiviação torna-se
suficientemente grande para ser transportada, a inundação irá ocorrer mais
freqüentemente e o fundo do vale começará a ser preenchido (Fisrwg, 2000). Este
assoreamento do vale é o resultado do estoque temporário do sedimento produzido
pela bacia hidrográfica.

As feições topográficas são modeladas na planície de inundação pela


migração lateral do canal, as quais se traduzem em variação de solos e capacidade
de distribuição, fornecendo uma grande quantidade de nichos que servem de habitat
para uma diversidade de animais e de plantas.
141 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.103 – Planície Fluvial do rio Remédios, onde se observa o domínio da vegetação do tipo
Junco, no município de Barroquinha.

Segundo FISRWG (2000), as feições mais comuns nas planícies de


inundação são:
• Curvas de meandro (meander scroll) - uma formação sedimentar gerada

pela movimentação do canal;

• Atalho (chute), um novo canal formado através da base do meandro para

encurtar o curso, deixando o meandro abandonado. À medida que ele

cresce em tamanho, vai aumentando o fluxo e a capacidade de transporte.

• Meandro abandonado (oxbow) em inglês usa-se um termo que representa a

forma do meandro abandonado, ou seja, chifre de boi, depois que é criado

o atalho.

• Tampão de argila (clay plug), um depósito típico de solo que se forma da

intersecção do meandro abandonado e o novo canal principal.

• Lago de meandro abandonado (oxbow lake), um corpo de água criado

depois que o tampão de argila isolou o meandro do curso principal.


142 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

• Diques naturais (natural levees), formações construídas ao longo das

margens de alguns riachos inundados. Quando a água carregando

sedimentos ultrapassa as margens, a súbita perda de profundidade e

velocidade ocasiona a deposição do sedimento mais grosseiro da

suspensão, que se concentra nas bordas do canal.

• Depósitos de rompimento de diques naturais (splays), depósitos em forma

de delta de sedimentos mais grosseiros, que se forma quando os diques

naturais se rompem. Diques naturais e os depósitos de rompimentos destes

diques evitam que as águas que atingiram a planície retornem ao canal,

quando o nível vai baixando.

• Brejos de retaguarda (backswamp) é um termo usado para descrever as

áreas cobertas de água das planícies de inundação, que se originam com a

formação dos diques naturais.

As planícies de inundação são construídas por dois processos principais de


acresção: lateral e vertical. O primeiro tipo corresponde a deposição dos sedimentos
em barras de meandros, nas partes internas das curvaturas do riacho. Por sua vez,
o riacho ao migrar através da planície de inundação, erodindo a parte da cobertura
do meandro, vai formando a barra de meandro com material de granulação mais
grossa. É interessante notar que, sendo este processo natural, a largura do canal
não varia. O segundo tipo compreende a deposição de sedimentos de granulometria
fina nas superfícies inundadas, dando origem a depósitos sobre as margens
(overbanks deposits), como conseqüência da acresção que ocorre no topo dos
depósitos de acresção lateral, nas barras de meandro ou pontal. A acresção lateral,
no entanto, é o processo dominante e é responsável por cerca de 60 a 80% do total
da deposição de sedimentos da planície de inundação, segundo Leopold et al.
(1964).
143 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Segundo a teoria de Yang (1971, apud Fisrwg 2000), o riacho, durante sua
evolução para atingir o perfil de equilíbrio, escolhe naturalmente seu curso de água
de tal maneira, que a relação de gasto de energia potencial por unidade de fluxo de
massa ao longo de seu curso seja mínima. Por outro lado, os canais fluviais e suas
planícies de inundação estão constantemente se ajustando ao suprimento de água e
sedimento pela bacia hidrográfica. Quando se propõe recuperar os cursos d’água
degradados, deve-se levar em conta estes conceitos e entender a história da bacia
hidrográfica, seja em termos de eventos naturais ou através de intervenções
antrópicas.

As mudanças no fluxo e carga de sedimento são diárias, e vão se ajustando


às modificações da forma e rugosidade do fundo dos riachos, mas as variações
periódicas devido às condições de fluxo máximas e mínimas, como inundações, não
só removem ou destroem a vegetação, mas também criam um crescente potencial
vegetativo ao longo do corredor hídrico, com a vegetação avançando para o leito do
riacho, nos momentos de seca.

Os perfis longitudinais, raríssimas vezes, são uniformes, devido


principalmente aos diferentes tipos de rochas, tipo de vegetação e intervenção
antrópica que podem gerar regiões mais profundas ou achatadas ao longo do perfil,
formando as corredeiras e poços.

As represas construídas ao longo do curso do rio geram, invariavelmente, a


necessidade de um ajuste no perfil de equilíbrio do corpo hídrico. Isto porque,
quando as águas são barradas, há uma degradação a jusante e uma agradação a
montante. Observa-se, no entanto, que estes impactos não ficam restritos ao canal,
podendo atingir também os seus afluentes. A agradação vai ocorrer nas
desembocaduras dos tributários a jusante da represa, ou mesmo no canal inteiro.

Os efeitos de resistência diferencial à erosão das camadas do solo são


proeminentes na curvatura externa dos meandros (barras de meandro ou point bars)
e nas partes internas do meandro em pontal que se ajustam constantemente às
cargas de água e sedimentos que são transportadas pelo riacho. A rugosidade do
leito é muito importante no condicionamento do fluxo, porque quando o fluxo é
144 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

retardado, devido à rugosidade e, para manter a vazão constante, é necessário


aumentar a área da seção, através do aumento da profundidade.

De acordo com Brandão (1998), as Planícies Fluviais são áreas que abrigam
melhores condições de solo e de disponibilidade hídrica, constituindo-se, portanto,
em zonas de diferenciação geambiental no contexto dos sertões semi-áridos. No
âmbito dos terrenos cristalinos, os cursos d’água formam depósitos aluvionares
estreitos, enquanto sobre a zona pré-litorânea, à medida em que entalham os
sedimentos da Formação Barreiras, a faixa de acumulação torna-se mais
expressiva. Na Região Metropolitana de Fortaleza – RMF destacam-se as planícies
fluviais dos rios Pacoti, Ceará e Cocó, como as mais expressivas.

3.4 Terras Altas

As terras altas são áreas não inundadas, mesmo nas maiores enchentes,
embora elas tenham sido esculpidas, nas formas atuais, pelos cursos d´água.

No conceito do Federal Interagency Stream Restoration Working Group


(2000), a franja transicional das terras altas serve como ligação entre a planície de
inundação e a paisagem envolvente. Embora os processos geomorfológicos e
hidrológicos relacionados aos riachos possam ser responsáveis pela formação da
porção da franja de transição das terras altas no tempo geológico, eles não são
responsáveis, pela manutenção ou alteração de sua forma atual.
Conseqüentemente, as atividades de uso da terra têm o maior potencial para
impactar este componente do corredor fluvial, não existindo para este tipo de feição
uma seção específica.

As franjas de transição das terras altas podem ser planas, inclinadas, ou, em
alguns casos, quase verticais, podendo incorporar feições tais como encostas de
morros, alcantis, matas e tabuleiros, normalmente modificadas pelo uso da terra
(Figura 3.9). Como ponto em comum, elas se distinguem da paisagem circundante
por sua maior ligação com a planície de inundação e o curso d’água. Na passagem
das franjas de transição das terras altas para as planícies de inundação, ocorre
sempre a presença de um ou mais bancos subhorizontais, constituindo assim, os
145 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

chamados terraços, que se formam quando há uma elevação do nível de base ao


subir toda a bacia hidrográfica.

Figura 3.9 – Elementos de um Corredor Fluvial. O rio Jaguaribe é o próprio canal, a planície de
inundação compreende as planícies flúvio-marinha e fluvial com ilhas, barras, meandros
abandonados e gamboas e os Tabuleiros Pré-litorâneos de Fortim formam a transição das
Terras Altas. (Modificado de Leal, 2003).

McGee (1897 apud Suguio & Bigarella 1979) definiu terraço como um plano
horizontal, ou a superfície, de menor ou maior extensão, limitado de um lado por um
terreno mais elevado e, do outro, por uma escarpa. Para Leopold et al. (1964, apud
Fisrwg 2000), um terraço nada mais é que uma planície de inundação abandonada.
146 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Os terraços fluviais são formados quando o rio corta os sedimentos


previamente depositados em sua planície de inundação (Suguio & Bigarella, 1979).
Segundo estes autores, no desenvolvimento e no equilíbrio destes terraços, o clima
é mais importante que as oscilações do nível do mar. Nos períodos úmidos há o
desenvolvimento de uma vegetação que retém dos sedimentos, enquanto que nos
períodos secos, a cobertura vegetal começa a se degradar, permitindo a remoção do
manto de intemperismo. Leopold et al. (1964) consideram que o desenvolvimento de
terraços tem dois controles fundamentais: tectônico e climático. Para Suguio &
Bigarella (1979), “Os processos de degradação lateral atuantes durante a fase
climática semi-árida conduziram à formação de vastas superfícies aplainadas,
gerando grande quantidade de depósitos grosseiros e finos”.

Segundo o FISRWG (2000), os terraços se formam a partir da equação de


balanço do riacho. Quando o equilíbrio se rompe, há sempre uma agradação ou
degradação. Isto ocorre de três modos distintos: (1) No caso do canal entalhado,
quando há variações na vazão ou no aporte de sedimento, (2) Se a planície de
inundação original é abandonada e (3) quando a planície de inundação evolui dentro
do próprio canal alargado. Cada terraço é separado do anterior por uma escarpa,
que confina as inundações ao próprio fundo do vale (Figura 3.10).
147 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Figura 3.10 – Terraços nos riachos não incisos (A) e incisos (B e C)(Modificado de Federal
Interagency Stream Restoration Working Group, 2000).

Neste ambiente, foram identificadas cinco unidades geoambientais, embora


nem sempre individualizadas na escala do mapeamento: Tabuleiros Pré-litorâneos,
Chapada do Apodi, Planalto da Ibiapaba, Maciços Residuais e Depressão Sertaneja.
Em todas elas, dois elementos foram importantes para dar a forma atual do
modelado: litologia e erosão fluvial. Isso torna-se mais evidente quando se utiliza
imagens de radar de alta resolução (Shuttle Radar Topography Mission, do
consórcio NASA/USGS) para se estudar a área como um todo. (Figura 3.11).
148 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Figura 3.11 - Imagem de Radar onde se observa o litoral do estado do Ceará desde a fronteira
com o estado do Rio Grande do Norte até o vale do rio Timonha.

Através desta imagem observa-se que os estuários foram amplamente


inundados como se o nível do mar fosse mais elevado, para realçar suas formas e,
nesta escala, dá para se perceber a foz do rio Mossoró, no extremo leste da
imagem, a laguna de Icapuí, Ponta Grossa, os vales dos rios Jaguaribe e Pirangi
quase perpendiculares e separados, na foz, pelo Pontal de Maceió e, as serras de
Aratanha e Maranguape, quase atingindo o mar. Mais para o oeste, as serras de
Uruburetama e Meruoca destacam-se na topografia plana, ao lado do Planalto da
Ibiapaba (Serra Grande), que aponta para os rios que deságuam no litoral extremo
oeste, em número muito maior que em outros setores do litoral do Estado.

Com a aproximação do foco da imagem e mudança na tonalidade das cores


representadas em cada banda, é possível distinguir, com mais facilidade, as
unidades geoambientais pertencentes ao ambiente de Terras Altas (Figura 3.12).
Partindo-se do mar para o interior do continente, nota-se uma unidade recortada
pelos cursos d’água, que rumam para a costa, em cota um pouco mais elevada. São
os Tabuleiros Pré-litorâneos.
149 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

A unidade que aparece nos fundos dos vales dos rios mais largos e continua
se estendendo para o interior, corresponde à Depressão Sertaneja, somente
interrompida pelos Maciços Residuais, na região mais central do litoral cearense. O
limite da Chapada do Apodi, no extremo leste da imagem, não é muito nítido, mas o
Planalto da Ibiapaba se destaca por sua altitude e forma plana, na fronteira do Ceará
com o Piauí, até quase o litoral.

Figura 3.12 - Imagem de radar mostrando a diferenciação das Unidades Geoambientais

Ao aproximar a imagem, enfocando o vale do rio Jaguaribe, é possível


identificar, não somente os sedimentos da Chapada do Apodi, mas também o antigo
vale do rio Jaguaribe, quando ele desaguava entre Quixaba e Fontainha, antes de
ser deslocado pela dinâmica costeira, em direção a Fortim. (Figura 3.13).

A Chapada do Apodi, destacada, no cento-sul da imagem, em tonalidade


marrom mais escuro, entre os vales dos rios Jaguaribe, à esquerda, e do Mossoró, a
direita, prolonga-se até Ponta Grossa (intersecção do meridiano 37,5 com a linha de
costa).

O paleovale do rio Jaguaribe, que aparece na imagem de radar em tonalidade


mais clara, mostra o recorte dos sedimentos da Formação Barreiras pelo rio e seus
150 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

tributários. O atual vale, em tonalidade mais cinza, acompanha as escarpas de


Fortim, na margem esquerda e os sedimentos eólicos, pela margem direita,
atualmente recobrindo os domínios da antiga planície de inundação.

O Pontal de Maceió (Figura 3.13), que, a primeira vista, parece um delta, na


realidade, corresponde aos sedimentos da Formação Tibau, que são mais
resistentes do que os sedimentos da Formação Barreiras, apresentando-se sob a
forma de letra grega, localizando-se à esquerda da foz, e não, em frente, como
deveria ser, se fosse delta.

Figura 3.13 - Imagem mostrando o antigo vale do rio Jaguaribe e a Chapada do Apodi.
151 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Figura 3.14 - Imagem mostrando os dobramentos de rochas cristalinas

As estruturas geológicas mais evidentes podem também ser observadas


nestas imagens, como no caso do extremo oeste do Estado. Além dos dobramentos
nas unidades pré-cambrianas do Embasamento Cristalino, pode-se notar o
paralelismo destas unidades geológicas (Figura 3.14).

Figura 3.15 - Imagem de radar tridimensional do Maciço de Baturité e serras de Aratanha e


Maranguape.
152 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Para realçar as estruturas foram utilizados filtros de softwares específicos e


imagens de radar tridimensionais, girando os 360o, obtendo-se assim o ângulo mais
apropriado. (Figura 3.15). Além de destacar as elevações e o sistema de fraturas e
falhas geológicas, a rede de drenagem aparece de maneira bem mais nítida,
algumas com seus barramentos, na costa, pela dinâmica costeira.

3.4.1 Tabuleiros Pré-Litorâneos

Os Tabuleiros Pré-litorâneos são definidos na Resolução CONAMA nº 303, de


20.03.02, como “tabuleiro ou chapada - paisagem de topografia, plana, com
declividade média inferior a dez por cento, aproximadamente seis graus e superfície
superior a dez hectares, terminada de forma abrupta em escarpa, caracterizando-se
a chapada por grandes superfícies a mais de seiscentos metros de altitude” (Art. 2º,
inciso XI). Constituem Áreas de Preservação Permanente, a área situada “nas
escarpas e nas bordas dos tabuleiros e chapadas, a partir da linha de ruptura em
faixa nunca inferior a cem metros em projeção horizontal no sentido do reverso da
escarpa” (Art. 3º, inciso VIII).

Constituem superfícies planas que se encontram na transição das Terras


Altas com a Frente Marinha, que foram formados sobre os sedimentos mio-
pleistocênicos da Formação Barreiras, na retaguarda da Frente Marinha, sendo
interrompidos pelos estuários dos rios que atingem o litoral. Penetram cerca de 40
km no interior do continente e têm altitude média de 30 a 50 metros, raramente
ultrapassando 80 metros.

Em geral, os Tabuleiros Pré-litorâneos atingem o litoral, constituindo falésias


mortas ou vivas (Souza, 1988). A declividade, segundo o referido autor, varia de 2º a
5º e a amplitude entre o topo dos tabuleiros e o fundo do vale é da ordem de 15
metros. Sua cobertura arenosa e da ordem de 1,50 a 2,00 metros.

De acordo com Brandão (1998), a Formação Barreiras, que constitui os


Tabuleiros Pré-litorâneos na Região Metropolitana de Fortaleza - RMF, distribui-se
como uma faixa de largura variável acompanhando a linha de costa e à retaguarda
dos sedimentos eólicos antigos e atuais. Por vezes aflora na linha de praia,
153 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

formando falésias vivas, a exemplo da praia de Iparana. Na porção oriental da RMF,


chega a penetrar até cerca de 30 km em direção ao interior, constituindo o trecho
mais largo da faixa. Sua espessura também é bastante variada, em função do seu
relacionamento com a superfície irregular do embasamento, sobre o qual repousa
em discordância erosiva angular. É comum a presença de testemunhos isolados da
faixa principal, recortados pela erosão pluvial. Originalmente, formavam uma
superfície contínua, bem mais ampla que os limites atuais, elaborada a partir da
coalescência de leques colúvio-aluviais. Nesta unidade as associações de solos são
caracterizadas pela dominância de podzólicos vermelho-amarelos e areias
quartzosas, recobertos por vegetação secundária de porte arbóreo-arbustivo.

Ainda segundo o referido autor, litologicamente a Formação Barreiras é


formada por sedimentos areno-argilosos, não ou pouco litificados, de coloração
avermelhada, creme ou amarelada, muitas vezes de aspecto mosqueado, com
granulação variando de fina a média e contendo intercalações de níveis
conglomeráticos. Horizontes lateríticos, sem cota definida, são freqüentes e estão
associados à percolação de água subterrânea.

Seu caráter ambiental é predominantemente continental, onde os sedimentos


foram depositados sob condições de um clima semi-árido, sujeito à chuvas
esporádicas e violentas, formando amplas faixas de leques aluviais coalescentes.
Durante esta época, o nível era mais baixo que o atual, proporcionando o
recobrimento de uma ampla plataforma (Brandão, 1988).

De acordo os estudos realizados, no município de Icapuí, onde existem


falésias mortas limitando os Tabuleiros, eles ocupam o topo do platô, às vezes,
recobertos pelas dunas recentes (Foto 3.104).

No município de Aracati, o vale do rio Jaguaribe é emoldurado pelos


Tabuleiros Pré-litorâneos esculpidos sobre os sedimentos da Formação Barreiras.
Segundo Leal (2003), na margem esquerda do referido corpo hídrico, as cotas dos
Tabuleiros Pré-litorâneos variam de 25 a 32 metros, enquanto que na estrada que
dá acesso às localidades de Canoa Quebrada e Majorlândia, as altitudes não
ultrapassam 14 metros. Provavelmente, estes Tabuleiros, que se encontram mais a
154 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

leste, na região entre Fontainha e Quixaba, foram arrasados na época da deriva da


foz do rio Jaguaribe, até a posição atual. (Foto 3.105).

Foto 3.104 - Tabuleiro Pré-Litorâneo recoberto pelas dunas, no município de Icapuí.

Foto 3.105 – Tabuleiro Pré-Litorâneo, à retaguarda dos sedimentos eólicos, localizado na


margem esquerda do rio Jaguaribe, com cotas inferiores a 15 metros, no município de Aracati.
155 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

A sede do município de Fortim situa-se sobre os Tabuleiros Pré-litorâneos,


que constituem a porção mediana da margem esquerda do estuário do rio
Jaguaribe. Entretanto, próximo à foz do referido corpo hídrico, sua porção inferior
expõe rochas de natureza arenítica, consolidadas, pertencentes à Formação Tibau
(Branco 1996), que imprimem na paisagem litorânea, a configuração de promontório.
(Foto 3.106).

Foto 3.106 – Tabuleiro Pré-litorâneo da margem esquerda do rio Jaguaribe com cotas
oscilando entre 25 e 32 metros. Município de Fortim.

Na região entre as localidades de Itaiçaba e Jaguaruana, os Tabuleiros são


recortados pelos vales dos afluentes da margem esquerda do rio Jaguaribe,
expondo as rochas do embasamento cristalino que constituem a Depressão
Sertaneja. No município de Beberibe, ao longo da BR 304, no trecho desde o acesso
a Icapuí até Boqueirão de Cesário, os Tabuleiros Pré-litorâneos se apresentam sob
a forma de extensas áreas com plantação de cajueiros (Foto 3.107).
156 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.107 – Tabuleiro Pré-litorâneo com plantação de cajueiro, no Km 5 da BR–304. Em


segundo plano, a serra do Félix, no Boqueirão de Cesário, no município de Aracati.

A partir da Barra do Correa até Morro Branco, os Tabuleiros Pré-litorâneos se


estendem até o litoral formando falésias, na maioria das vezes, vivas, merecendo
destaque o setor localizado a leste de Morro Branco, correspondendo a Unidade de
Conservação Integral, denominada Monumento Natural das Falésias (Foto 3.108).
157 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.108 - Tabuleiro Pré-litorâneo, formado pelos sedimentos pertencentes à Formação


Barreiras, inserido nos Domínios do Monumento Natural das Falésias, projetando-se até a
linha de praia onde formam falésias vivas. Localidade de Morro Branco, município de Beberibe
(599.272m-E/9.540.460m-N).

No trecho compreendido entre a foz dos rios Choró e Malcozinhado, os


Tabuleiros Pré-litorâneos recuam, voltando a se aproximar do litoral entre as
localidades de Caponga e Pindoretama, onde é possível observar um sistema de
falhas de gravidade, aproximadamente paralelo à costa, que seccionou os
sedimentos da Formação Barreiras em forma de batentes, conforme pode ser
observado entre a estrada Caponga-Pindoretama e a praia do Balbino. O rio da
Caponga está encaixado neste sistema de falhas de gravidade. (Foto 3.109).

As exposições dos Tabuleiros Pré-litorâneos nas porções interioranas da


zona costeira cearense, além das localidades citadas anteriormente, mostram a
grande extensão desta unidade, como pode ser observado na localidade de Iguape,
no município de Aquiraz (Fotos 3.110).
158 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.109 – Tabuleiro Pré-litorâneo, com cobertura vegetal densa, localizado, também, entre a
estrada Pindoretama-Caponga e a praia do Balbino. Município de Cascavel.

Foto 3.110 - Tabuleiro Pré-Litorâneo à retaguarda dos sedimentos eólicos que formam a duna
parabólica do Alto do Iguape, no município de Aquiraz.
159 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Em relação ao litoral oeste, merecem destaque os Tabuleiros Pré-litorâneos


da praia de Iparana (Caucaia) e Taíba (São Gonçalo do Amarante), onde a
Formação Barreiras projeta-se até a linha de praia, formando falésias vivas.
Retornam em Paracurú (Foto 3.111), Alagoinha (Paraipaba), Mundaú (Trairi), Icaraí
de Amontada (Amontada) e, a sul e oeste da praia de Baleia, no município de
Itapipoca. A partir deste setor, a Formação Barreiras volta a aflorar, somente, no
litoral do município Camocim, com a fácies ferruginosa (Foto 3.112).

Foto 3.111 – Tabuleiro Pré-litorâneo da Formação Barreiras constituindo um destaque


topográfico na sede do município de Paracuru.
160 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.112 – Tabuleiro Pré-litorâneo da Formação Barreiras constituindo escarpa na margem


esquerda do rio Coreaú, no município de Camocim.

Os testemunhos dos Tabuleiros Pré-litorâneos, mais ocidentais, verificados


neste trabalho, localizam-se entre Bitupitá e Praia Nova, no município de
Barroquinha (Foto 3.113).

Foto 3.113 - Tabuleiro Pré-Litorâneo recoberto por duna e recortado por ravinamentos, entre
Bitupitá e Praia Nova, no município de Barroquinha.
161 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

As vias de acesso às comunidades litorâneas, construídas através do Projeto


PRODETUR, foram implantadas em domínio morfológico dos Tabuleiros Pré—
Litorâneos. Este caso pode ser verificado no município de Caucaia, à margem da CE
085 (Foto 3.114).

Foto 3.114 – Tabuleiro Pré-litorâneo localizado às margens da rodovia estruturante, CE – 85, no


município de Caucaia.

A morfologia dos Tabuleiros assume ampla extensão territorial no município


de Itapipoca, onde o relevo suave ondulado ocupa a faixa posicionada na retaguarda
dos campos dunares entre Itapipoca e Morrinhos. (Foto 3.115).
162 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.115 - Tabuleiro Pré-Litorâneo à retaguarda dos sedimentos eólicos, na localidade de


Marinheiro, no município de Itapipoca.

Na porção sul dos municípios de Itarema, Acaraú, Cruz, Jijoca de


Jericoacoara, Granja, Camocim, os Tabuleiros Pré-litorâneos ocupam uma faixa de
larga extensão. (Foto 3.116).
163 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.116 - Tabuleiro Pré-Litorâneo localizado nas circunvizinhanças da sede do município de


Jijoca de Jericoacoara.

O Litoral Extremo Oeste cearense exibe extensas áreas de Tabuleiros Pré-


Litorâneos, principalmente, entre os municípios de Camocim e Barroquinha (Foto
3.117) e, ainda, da sede do município de Barroquinha, até os domínios da planície
costeira ou das rochas cristalinas de Chaval (Foto 3.118).
164 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.117 – Tabuleiros Pré-Litorâneos localizados às margens da CE - 082, entre os


municípios de Camocim e Barroquinha.

Foto 3.118 – Tabuleiro Pré-Litorâneo, na localidade de Pajeú, nas proximidades de Bitupitá, no


município de Barroquinha
165 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

3.4.2 Chapada do Apodi

A Chapada do Apodi, situada na porção sudoeste do estado do Ceará, foi a


única a ser individualizada no presente mapeamento geoambiental, em função da
sua área de abrangência. Ela é limitada por uma linha de escarpa irregular que vai
bordejando o rio Jaguaribe, com cota máxima de 90 metros e suave caimento em
direção ao litoral, e para leste, pelo domínio das rochas arenosas da Formação Açu,
Bacia Potiguar (Braga et al., 1981). De acordo com o Mapa Geológico do Estado do
Ceará, (CPRM 2003) a Formação Açu é constituída de arenitos cinzentos e
avermelhados, de granulação fina a média, localmente conglomeráticos,
interestratificados com siltitos cinzentos, calcíferos ou não e folhelhos cinza escuros
e amarronzados. As maiores cotas altimétricas situam-se na localidade de Maxixe,
município de Quixeré, onde atingem valores de até 151 metros (Foto 3.119).

Na porção leste e sul da área dominam os calcários esbranquiçados


homogêneos (Foto 3.119), com intercalações de margas, folhelhos e siltitos,
pertencentes à Formação Jandaíra. Os calcários são fraturados com intensa
dissolução cárstica e reprecipitação de carbonato de cálcio e argila (Foto 3.120).

Foto 3.119 - Vale do rio Jaguaribe, em primeiro plano, e Chapada do Apodi em segundo plano,
observados da CE -123, próximo à entrada para a localidade de Itaiçaba.
166 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Os calcários cretácicos da Formação Jandaíra (Foto 3.121) e os argilitos,


siltitos e arenitos finos do nível superior da Formação Açu formam paredões
abruptos, enquanto que os clásticos grosseiros da base se estendem até o
embasamento cristalino. Os desníveis no sul chegam a 40 metros (Braga et al.
1981).
167 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.121 - Brecha carbonática com dissolução e precipitação de calcita (branca) e argila
(ocre), em pedreira na Chapada do Apodi.

Em geral, na região do litoral dos municípios de Aracati e Icapuí, os


sedimentos da Formação Açu encontram-se capeados pela Formação Barreiras,
aflorando sob a forma de falésias nas localidades de Ponta Grossa e Redonda.
Localmente, constituem afloramentos dentro do mar (Fotos 3.122 a 3.126).
168 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.122 - Afloramentos do arenito da Formação Açu, constituindo falésia na praia de Ponta
Grossa, no município de Icapuí.

Foto 3.123 – Detalhe do modo de ocorrência do arenito da Formação Açu, na praia de Ponta
Grossa, no município de Icapuí.
169 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.124 - Falésia mostrando o contato do Arenito da Formação Açu (base) e a Formação
Barreiras (topo) na praia de Retirinho, no município de Aracati.

Foto 3.125 - Detalhe do contato do arenito da Formação Açu (base mais vermelha e variegada)
e a Formação Barreiras, entre as praias de Retirinho e Ponta Grossa, no município de Icapuí.
170 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.126 - Afloramentos do arenito da Formação Açu se estendendo da praia ao mar entre as
praias de Ponta Grossa e Redonda, no município de Icapuí.

Embora situado estratigraficamente abaixo do arenito da Formação Açu, o


calcário da Formação Jandaíra, que normalmente só afloraria na porção sul da
Chapada do Apodi, por um condicionamento tectônico, ele pode ser observado na
falésia de Ponta Grossa, intercalado no arenito da Formação Açu (Foto 3.127).
171 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.127 - Calcário da Formação Jadaíra (branco) intercalado com arenito da Formação Açu,
na praia de Ponta Grossa, no município de Icapuí.

Devido à ocorrência de sedimentos carbonáticos no sudoeste da área de


abrangência do ZEE, os solos são mais argilosos e férteis (cambissolos) (Foto
3.128), enquanto que, mais para leste e norte, onde afloram os arenitos da
Formação Açu, a cobertura é mais arenosa e o solo mais ácido.
172 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.128 – Solo do tipo Cambissolo recobrindo o calcário da Formação Jandaíra que lhe deu
origem, na Chapada do Apodi.

3.4.3 Planalto da Ibiapaba

O Planalto da Ibiapaba limita os estados do Ceará e Piauí, ocupando,


portanto, a porção oeste do território cearense e o extremo sudoeste da área de
abrangência do ZEE.

A unidade corresponde a ponta norte do Planalto, constituindo a borda leste


da cuesta, que mergulha suavemente rumo ao Piauí. Na área do projeto, a leste do
município de Granja, onde o relevo torna-se plano, com cotas altimétricas de 700
metros, a serra de Santo Hilário e o morro do Buriti Jirau, que corresponde à maior
elevação da área (789 metros), representam os relevos residuais dessa unidade
(Fotos 3.129 a 3.138).

A região aplainada encontra-se capeada pelos sedimentos do Grupo Serra


Grande, de idade siluriana (435 milhões de anos), pertencentes à Bacia do
Parnaíba, litologicamente constituído por rochas conglomeráticas, na base, e
173 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

arenitos, por vezes feldspáticos, com intercalações de siltitos e folhelhos, de


ambiente fluvial e marinho raso (CPRM 2003).

Foto 3.129 – Vista Panorâmica do Planalto da Ibiapaba, em segundo plano, contrastando com a
Depressão Sertaneja em primeiro plano, observados da BR-222, próximo à localidade de
Penanduba.

Foto 3.130 – Outro detalhe da Depressão Sertaneja, em primeiro plano, e o Planalto da


Ibiapaba, em segundo plano, observados da BR-222, na subida da Serra Grande.
174 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.131 – Depressão Sertaneja, Maciços Residuais e do Planalto da Ibiapaba. Ao fundo.

O sistema de ravinamento, com flancos voltados para norte e leste do


Planalto, dá origem a uma série de riachos que constituem a Bacia Hidrográfica dos
rios Timonha e Coreaú (Foto 3.132). Os riachos que drenam a porção oeste
compõem a Bacia do rio Parnaíba.

Foto 3.132 – Planalto da Ibiapaba exibindo ravinamento dendrítico.


175 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

3.4.4 Maciços Residuais

A morfologia do pediplano é quebrada pelos inselbergs, serras e maciços que


se destacam na paisagem pela forte linha de ruptura. Geralmente, são rochas
granitóides, migmatíticas ou quartzíticas, mais resistentes à erosão diferencial. Os
topos são quase sempre nivelados e chegam a atingir cotas superiores a 700 ou 800
metros.

Graças a estas características formam um ecossistema diferenciado com


mata tropical, densidade pluviométrica superior à média das regiões circunvizinhas e
clima ameno.

Na faixa costeira, eles compõem os maciços pré-Litorâneos de Souza (1988),


que são compartimentos de relevo como as serras de Uruburetama, Maranguape e
Aratanha. A serra de Uruburetama, segundo o referido autor, forma um bloco quase
compacto de 1.000 km2, e é a única delas que está dentro da área do ZEE. O
padrão de drenagem é dendrítico a subdendrítico, porém em inúmeros setores, ele
pode ser retangular. (Foto 3.133).

Foto 3.133 - Maciço de Uruburetama no fundo da Depressão Sertaneja entre Umirim e Tururú.
176 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

O Maciço Uruburetama é constituído dominantemente de granitóides (tsγ)


encaixados no Complexo Tamboril-Santa Quitéria que é uma associação de granitos
migmatíticos com granitóides neoproterozóicos, ortognaissses migmatíticos e níveis
de calciossilicáticas, anfibolitos e meta-ultramafitos (CPRM 2003) (Foto 3.134).

Foto 3.134 - Partes do paleossoma de rocha migmatítica, englobadas pelo neossoma,


observadas em corte da rodovia CE – 016, no município de Itapipoca.

Em Itapipoca, estes maciços atingem cotas máximas de 979 metros acima do


nível do mar, na localidade de Boca das Pedras. Outra área com testemunhos
expressivos dos maciços residuais é a região de Caucaia, limite norte de ocorrência
das rochas do Complexo Tamboril-Santa Quitéria, que se estendem desde o maciço
de Baturité, continuam nas serras da Aratanha e Maraguape, até quase o litoral de
Caucaia. (Fotos 3.135 e 3.136).
177 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.135 - Maciços Residuais em segundo plano, à margem do Km 21 da rodovia


estruturante, CE – 085, no município de Caucaia.

Foto 3.136 - Pedreira no maciço residual na rodovia estruturante CE-085, no trecho entre o
acesso à lagoa do Banana e o lagamar do Cauhipe, no município de Caucaia.
178 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Trata-se da mesma seqüência do Complexo Tamboril-Santa Quitéria descrito


no maciço de Uruburetama (CPRM 2003). Além dos maciços residuais das rochas
desta seqüência no boqueirão de Araras, cortado pela Br -222 e compreendendo as
serras da Conceição e do Câmara, além da serra do Juá mais a leste e serrotes, das
Ipueiras, Cajazeiras, Salgadinho e Pedreiras mais a oeste, estes maciços residuais
são constituídos de granitóides diversos como biotita granitos, monzonitos, sienitos e
quartzo monzonitos. Algumas destas rochas são lavradas como pedreira no
Boqueirão de Araras, na BR – 222. (Fotos 3.137 e 3.138).

Foto 3.137 – Boqueirão de Araras, em segundo plano, observado do trevo para o Pecém na
BR-222, no município de Caucaia.
179 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.138 - Pedreira da Pyla, na serra da Conceição, na margem da BR – 222, Boqueirão de


Araras, no município de Caucaia.

As cotas mais elevadas estão ainda na serra de Maranguape com 827 metros
de altitude, fora da área do projeto. A serra da Conceição tem cotas de apenas 518
metros.

Na entrada de São Bento de Amontada aflora um granito cinza claro, fino com
fratura conchoidal, na margem da CE -085 (Foto 3.139).
180 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.139 – Granito com fratura conchoidal na CE - 85, entrada de São Bento de Amontada.

Na região oeste, restam ainda os Maciços Residuais de Morrinhos, Marco e


Granja. Neste último município, as serras de maior expressão são as de Gameleira
(702m) e São Joaquim (530 m) constituída de quartzitos puros a micáceos,
laminados intercalados com xisto, rochas calciossilicáticas, milonitos xistos,
formação ferrífera e vulcanitos da Formação São Joaquim (NPmsj), Grupo
Martinópolis (CPRM 2003). São comuns corpos migmtíticos e graníticos de pequena
expressão entre Granja e Camocim e, em Barroquinha (possivelmente granitóide
Itaporanga), que não puderam ser destacados no mapeamento, pela pequena
dimensão (Fotos 3.140 e 3.141).
181 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.140 - Maciço Residual do granito Granja entre Camocim e Granja.

Foto 3.141 – Detalhe do granito Granja nas imediações da sede da cidade de Granja.
182 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Em Marco, a feição mais marcante dos Maciços Residuais é a serra da


Tucunduba, porém sua cota não ultrapassa 200 metros. As rochas são da suíte
granitóide Itaporanga (NP3γ2i), composta de granitos e granodioritos de granulação
grossa a porfirítica (CPRM, 2003). No município de Morrinhos, destacando-se na
Depressão Sertaneja, observa-se, um testemunho na entrada da cidade e o morro
Redondo, a sudoeste da sede do município (Fotos 3.142 e 3.143). Este morro é
constituído de ortognaisses kinsigíticos, granulítos e migmatitos bandados e
dobrados do Complexo Granja (PPig) encaixados na Formação São Joaquim
(NPmsj)(CPRM, 2003).

Foto 3.142 - Maciço Residual, localizado na margem da CE – 085, no trecho entre a entrada
para a sede do município de Acaraú e Morrinhos.
183 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.143 - Maciço Residual do Morro Redondo, entre Morrinhos e Mutambeiras.

No litoral oeste, o Maciço Residual de maior destaque visual é o morro de


Jericoacoara (foto 3.144). Corresponde a quartzitos (NPmsj), puros e micáceos
compactos e laminados, em parte com cianita e sillimanita ou estaurolita,
pertencentes à Formação São Joaquim do Grupo Martinópole (CPRM, 2003).
184 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.144 - Maciço Residual de quartzito, localizado nas imediações da sede do distrito de
Jericoacoara, no município de Jijoca de Jericoacoara.

Este quartzito, que aflora na praia e se estende para o mar, é um dos cartões
postais de uma das mais belas praias do mundo (Fotos 3.145 e 3.146).

Foto 3.145 – Afloramento de quartzito, conhecido como Pedra Furada de Jericoacoara,


localizado na praia de Jericoacoara, no município de Jijoca de Jericoacoara.
185 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.146 - Detalhe do afloramento de quartzito conhecido como Pedra Furada de


Jericoacoara.

Entre as localidades de Jericoacoara e Preá, registra-se a ocorrência de um


afloramento de migmatito no mar, próximo à praia, possivelmente pertencente ao
Complexo Granja (PP1g), mas que não foi cartografado pela CPRM (2003) por sua
pequena dimensão (Foto 3.147).
186 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.147 –Vista parcial de migmatito que aflora no mar, entre as localidade de Preá e
Jericoacoara, no município de Jijoca de Jericoacoara.

Entre os municípios de Granja e Camocim, os granitóides do Complexo


Granja afloram no leito do rio Coreaú, entre os manguezais (Foto 3.148)

Foto 3.148 – Granito Granja aflorando no leito do rio Coreaú entre os municípios de Camocim e
Granja.
187 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Na área de entorno do município de Chaval, extremo noroeste do Ceará, os


granitóides que formam Maciços Residuais afloram também na margem esquerda do
estuário do rio Timonha (Foto 3.149).

Foto 3.149 – Em primeiro plano observa-se ocorrência de Mangue na margem esquerda do rio
Timonha. Em segundo plano, os granitóides formando os Maciços Residuais, nas imediações
da sede do município de Chaval.

No litoral leste, na Região Metropolitana de Fortaleza, o grande destaque é


para o morro Cararú, na margem direita da rodovia CE-025, que dá acesso à
localidade de Porto das Dunas, nas proximidades do Condomínio Residencial
Alfaville. Trata-se de um fonolito da Suíte Magmática Messejana, explorado com
pedreira. (Foto 3.150).
188 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.150 - Fonolito do Morro do Cararu, localizado na margem direita da rodovia CE-085, que
dá acesso à localidade de Porto das Dunas, no município de Fortaleza.

No município de Cascavel, os testemunhos dos Maciços Residuais são


representados pela serra da Mataquiri, serrote Bebedouro e o complexo das serras
do Brito, Bento, Pequena e Redonda. O ponto culminante é a serra do Brito com 246
metros acima do nível do mar. São constituídos de quartzitos finos, possivelmente,
da Formação Santarém (PP4os), embora suas áreas de ocorrência sejam muito
pequenas para serem cartografadas no Mapa Geológico do Ceará, realizado pela
CPRM (2003) (Foto 3.151).
189 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.151 – Maciço Residual de quartzito, representado pela serra Mataquiri, localizada a
sudoeste da sede do município de Cascavel.

Em Beberibe, a serra do Félix, no boqueirão do Cesário é o Maciço Residual


de maior expressão, com seus 285 metros de altitude. Esta linha de serra é
constituída de quartzitos encaixados nos micaxistos da Formação Santarém (PP4os)
(CPRM, 2003). (Fotos 3.152 e 3.153).
190 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.152 – Maciço Residual representado pela serra do Félix, próximo à localidade de
Boqueirão de Cesário, no município de Beberibe.

Foto 3.153 – Detalhe da serra do Félix nas proximidades da localidade de Boqueirão de


Cesário, no município de Beberibe.
191 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Estes quartzitos da Formação Santarém são também responsáveis pelos


maciços residuais nos municípios de Aracati (monte Ererê) e Itaiçaba (serra do
Boqueirão) com cotas de 134 e 62 metros, respectivamente. (Fotos 3.154). Na
porção oeste da sede do município de Itaiçaba, os quartzitos da Formação Santarém
afloram, porém com pouca expressão topográfica.

Foto 3.154 – Detalhe da linha da serra do Boqueirão, observada da rodovia CE 123, no


município de Itaiçaba.

3.4.5 Depressão Sertaneja

De acordo com Brandão (1995), este domínio geomorfológico é o que ocupa


maior área de distribuição no âmbito da Região Metropolitana de Fortaleza. É uma
superfície de aplainamento do cristalino recortando os mais variados tipos litológicos,
formando extensas rampas pedimentadas, começando no sopé dos maciços
residuais e caindo suavemente para os fundos dos vales ou litoral. Sua topografia
varia de plana a ligeiramente ondulada, embora a dissecação possa deixar
localmente relevos colinosos.
192 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Souza (1988) considera que a altura média desta superfície fica entre 130 e
150 metros e recorta rochas dos Complexos Migmatitico-Granítico e Gnáisso-
Migmatítico, além do Grupo Ceará.

De acordo com o Mapa Geológico do Ceará (CPRM, 2003), a Depressão


Sertaneja da área do ZEE recortou não só as rochas do Complexo Ceará,
principalmente, os paragnaisses e ortoganisses da Unidade Canindé (PPcc) (Fotos
3.155 a 3.157), mas também os granitóides neoproterozócos, parcialmente
gnaissificados, do Complexo Ceará PP(NP)cc e migmatitos e granitóides do
Complexo Tamboril-Santa Quitéria (NP(PP)ts.

Foto 3.155 - Depressão Sertaneja no domínio dos paragnaisses da Unidade Canindé, no trecho
entre o Boqueirão de Câmara e o rio Cauhipe, no município de Caucaia.
193 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.156 - Depressão Sertaneja recortando migmatitos e granitóides do Complexo Tamboril-


Santa Quitéria, na margem da rodovia BR-402, entre as sedes dos municípios de Umirim e
Tururu.

Foto 3.157 - Depressão Sertaneja no domínio das rochas do Complexo Ceará, no trecho entre a
sede do município de Itapipoca e a localidade de Barrento.
194 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.158 - Depressão Sertaneja recortando granitóides e migmatitos do Complexo Tamboril


Santa Quitéria e paragnaisses da Unidade Canindé (Complexo Ceará) entre as sedes dos
municípios de Itapipoca e Amontada.

Mais para o extremo oeste do Estado, a Depressão Sertaneja aplainou


principalmente os ortognaisses (PP1g), granulitos e migmatitos (PP1gg) do
Complexo Granja e os xistos das formações Santa Terezinha (NPmst) e Covão
(NPmc) do Grupo Martinópolis (Foto 3.159 a 3.161).
195 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.159 - Depressão Sertaneja sobre os ortognaisses do Complexo Granja, no trecho entre
as sedes dos municípios de Morrinhos e Santana do Acaraú.

Foto 3.160 - Depressão Sertaneja ondulada entre as sedes dos municípios de Granja e
Martinópolis.
196 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.161 - Depressão Sertaneja sobre os ortognaisses e migmatitos do Complexo Granja


entre as sedes dos municípios de Camocim e Barroquinha.

No setor leste da área de abrangência do ZEE, a Depressão Sertaneja está


inserida nos paragnaisses e ortognaisses parcialmente migmatizados e xistos da
Unidade Acopiara (PPa); ortognaisses e paraganisses migmatizados e gnaisses do
Complexo Jaguaretama (PPjgn), além de micaxistos da Formação Santarém
(PP4os) do Grupo Orós (Fotos 3.162 e 3.163).
197 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Foto 3.162 – Região de transição entre os Tabuleiros Pré-litorâneos, em primeiro plano, e a


Depressão Sertaneja, em segundo plano, observada na rodovia CE -123, nas proximidades da
sede do município de Itaiçaba.

Foto 3.163 - Ondulação da Depressão Sertaneja recortando gnaisses e xistos nas


proximidades da entrada da sede do município de Itaiçaba.
198 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Na região do Boqueirão de Cesário, os sedimentos da Formação Barreiras se


estendem até quase o sopé da serra do Félix, restringindo, em muito, a exposição da
Depressão Sertaneja. (Foto 3.164).

Foto 3.164 - Depressão Sertaneja observada da rodovia BR – 304, restrita ao sopé da serra do
Félix, na localidade Boqueirão de Cesário, no município de Beberibe
199 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

4 UNIDADES GEOAMBIENTAIS E AS ESTRUTURAS ESPACIAIS DOS


ECOSSISTEMAS

4.1 Escalas espaciais de ecossistemas

Os ecossistemas, como já vimos, podem ser estudados ao nível de escalas


espaciais e subdivididos pelo tamanho da área: regional, paisagem, corredor fluvial,
riachos e trechos. Os elementos estruturais, matriz, mancha, mosaico e corredor, já
definidos no Item 1. são aplicados em cada escala. A escala regional cobre uma
área geográfica ampla com macroclima definido e esferas de atividades humanas e
interesses semelhantes, como por exemplo, o semi-árido nordestino. As paisagens
são elementos de até milhares de quilômetros quadrados, dentro da escala regional
que, por sua vez, englobam também os corredores fluviais. A escala de riacho trata
de um corredor fluvial de pequena escala, correspondente a um rio secundário ou
terciário. E, finalmente, a escala de trecho abrange apenas uma porção destes
riachos.

As paisagens, por serem uma escala intermediária e incluírem corredores


fluviais, são as mais utilizadas nos estudos de ecossistemas. Elas são áreas
geográficas que contêm um sistema repetido de componentes espaciais como
manchas, mosaicos, matrizes e corredores, podendo incluir domínios naturais e
áreas ocupadas por localidades e degradadas por atividades antrópicas.

Assim, a área litorânea do Ceará pode perfeitamente ser classificada como


uma paisagem. Seus domínios naturais e unidades geoambientais foram
enquadrados dentro da estrutura espacial da paisagem como corredores fluviais,
matrizes, mosaico e manchas

Dentro do quadro de escalas de ecossistemas, em princípio, as unidades


geoambientais mapeadas no zoneamento seriam englobadas como matrizes pela
sua continuidade. As feições geográficas e as Unidades Geoambientais não
mapeáveis estariam incluídas nas manchas. Os mosaicos apareceriam apenas
quando houvesse uma concentração de manchas em um determinado local. Esta
estrutura espacial de ecossistema, porém, não é assim tão rígida. Para que uma
unidade possa ser considerada matriz é necessário que, no seu interior, possa
200 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

conter manchas, por exemplo, vegetação ou lagoas litorâneas, na planície de


deflação.

Por outro lado, as estruturas sedimentares submersas, embora mapeáveis,


nenhuma mancha foi diferenciada no seu interior na escala deste trabalho, portanto
seriam melhor enquadradas como manchas. As praias, por sua continuidade ao
longo dos 573 km do litoral cearense, somente interrompida pelos estuários, seriam
consideradas matrizes. As feições (acidentes) geográficas (bermas, falésias e
beachrocks) no seu interior ou periferia foram classificadas como manchas. Os
cordões litorâneos poderiam estar englobados nas manchas, mas alguns, como
aqueles da margem direita do rio Acaraú e Timonha, contêm várias manchas no seu
interior, funcionando, portanto, como matrizes. Os Terraços Marinhos como os de
Icapuí, Itarema, Acaraú e Barroquinha, que são ocupados através da atividade
antrópica como coqueiral e cultura de subsistência, além de lagoas e laguna devem
ser considerados matrizes.

Um caso interessante de ser discutido é o dos Campos de Dunas. Tomando a


estrutura de paisagem da APA de Canoa Quebrada, Leal (2003) considerou as
Dunas Móveis como matriz e, a vegetação fixadora das dunas e Paleodunas como
manchas, por se encontrarem no seu interior, ou nas bordas. Neste caso particular,
o Campo de Dunas Móveis e Fixas, que forma uma superfície contínua com
extensão de 2.073 hectares era a maior unidade geoambiental dos 6.400 hectares
da APA de Canoa Quebrada (Leal, 2003).

Porém, considerando todo o litoral do Estado, e a dificuldade de se


individualizar todos os tipos de dunas, o ideal seria considerar, como matriz, o
Campo de Dunas como um todo e chamar de mancha, os diversos tipos
(Paleodunas, Dunas Fixadas por Vegetação, Eolianitos e Dunas Móveis),
mapeáveis, ou não, na escala do trabalho. Mesmo as Dunas Móveis, que têm maior
expressão e foram mapeadas como uma unidade geoambiental única, muitas vezes
elas aparecem como barcanas isoladas, dentro da Planície de Deflação de
Jericoacoara.
201 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

É evidente que os estuários, como ambiente, fazem parte da estrutura


espacial denominada corredor fluvial, dentro da paisagem litorânea. Suas duas
planícies, a flúvio-marinha e a fluvial são tipicamente matrizes. Os manguezais,
mesmo individualizados na escala de mapeamento, são considerados manchas,
neste trabalho, que não tem por escopo, o estudo específico de zonação dos
manguezais. Por esta mesma razão, os salgados, apicuns, barras e ilhas, estão
incluídos nas manchas ou mosaicos, por serem descontínuos.

As Terras Altas do projeto, que são superfícies de erosão, como os Tabuleiros


Pré-litorâneos, Chapada do Apodi, Planalto da Ibiapaba e Depressão Sertaneja, por
suas extensões e continuidades são, sem sombra de dúvidas, consideradas
matrizes. Porém, os Maciços Residuais e lagoas, que ocorrem no interior destas
matrizes, foram enquadrados como manchas.
202 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

5 PLANEJAMENTO E CLASSIFICAÇÃO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

Em seu “Roteiro Metodológico para Gestão de Área de Preservação


Ambiental” (Arruda, 2001), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis – IBAMA sugere a aplicação de tipologias como Zona de
Proteção e Zona de Conservação, levando em conta que Zona de Proteção é
prevista no Código Florestal e, o termo Proteção foi utilizado “para uma zona
ambiental onde predominam políticas com alto nível de restrição ao uso do solo,
tolerando-se uso existentes compatíveis e promovendo-se atividades de interesse
ambiental”.

Na Zona de Conservação, o IBAMA, (Arruda, 2001), ao estabelecer políticas


de uso sustentável dos recursos ambientais, adotou níveis de controle mais brandos,
privilegiando, ainda, os programas de controle e recuperação ambiental.

Figura 5.1 – Matriz de Peculiaridade X Impacto da Ocupação


Nota: (Modificado de Arruda, 2001)
203 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Na sua aplicação, foi estabelecida a matriz acima para análise de quatro


situações, englobando condições de ocupação em que o único parâmetro é a
magnitude do grau de impacto; enquanto, as peculiaridades ambientais de cada
local seriam: a fragilidade e a importância.

A cada uma das quatro zonas foram atribuídas duas características, uma de
peculiaridade e outra de impacto: Zona de Proteção Prioritária (ZP1); Zona de
Proteção Especial (ZP2); Zona de Conservação Prioritária (ZC1); e Zona de
Conservação Especial (ZC2).

Zona de Proteção Prioritária – Corresponde a áreas de alta peculiaridade e


alto impacto. Esta alta peculiaridade corresponde às feições que são difíceis de se
encontrar em outros locais, sendo, pois, raras, daí sua alta proteção e grande
restrição aos usos que foram anteriormente implantados.

Zona de Proteção Especial – São áreas raras em ocorrência, mas a


ocupação não é assim tão intensiva, que possa causar grandes impactos. Assim, é
recomendada, nesta zona, a manutenção da proteção das áreas de alta
peculiaridade e a regulamentação do uso e ocupação, para que as atividades não
causem danos a estas feições raras.

Zona de Conservação Prioritária – Corresponde às áreas não peculiares


que podem ser comuns na região, mas que a ocupação intensiva pode causar
grandes impactos. Neste caso, deve haver um ordenamento da ocupação e
incentivo a uso e atividades compatíveis com as características das peculiaridades.

Zona de Conservação Especial - É a zona mais equilibrada do ponto de


vista ambiental, porém, são imprescindíveis medidas de conservação integradas
com recuperação e tentativas efetivas de redução de impactos negativos.

É evidente que esta classificação em quatro zonas, não exclui as Zonas ou


Áreas de Preservação Permanente, definidas por lei, e que impedem a ocupação
com empreendimentos, mas que nelas são exercidas muitas atividades, temporárias
ou não.
204 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Cada uma das unidades geoambientais delineada no Mapa de Zoneamento


foi enquadrada, nas Zonas de Proteção Permanente ou em uma das quatro zonas e
colocadas em quadros com característica de cada zona, metas ambientais, usos e
atividades permitidas, toleradas e proibidas, baseado nas tabelas propostas para
APA de Canoa Quebrada (GAU, 2002 e Leal, 2003) (Tabela 5.1).

Tabela 5.1 – Enquadramento das Unidades Geoambientais

ZONA DE PRESERVAÇÀO PERMANENTE 1


(PRAIA (ESTIRÂNCIO))
• Áreas frágeis com ecodinâmica de ambientes fortemente
instáveis.
• No perfil vertical situa-se entre as marés baixa e alta,
cobertas, pelo menos duas vezes por dia, pela água do
Características
mar.
• Ocupa a faixa de praia entre a zona permanentemente
inundada e as bermas ou falésias.
• São terrenos de marinha (Patrimônio da União).
• Preservação do patrimônio ambiental e paisagístico.
• Uso controlado dos recursos hídricos.
• Recuperação de áreas degradadas.
Metas Ambientais
• Reordenamento/ disciplinamento do uso e ocupação do
solo.
• Educação ambiental.
INDICAÇÃO DE USOS/ATIVIDADES
• Pesquisa científica.
• Implantação de projetos de recuperação de áreas
degradadas.
• Uso da praia para banhistas e pescadores.
Permitidos
• Ancoradouro de barcos de pesca.
• Área de lazer e de jogos.
• Outras atividades, desde que possuam o licenciamento
ambiental.
• Barracas e tendas móveis.
Tolerados • Circulação de veículos automotores.
• Comércio ambulante.
• Construção de barracas de praia.
• Construção em alvenaria.
• Construção de fossas.
Proibidos
• Cercamento de áreas de domínio público.
• Ocupação de espaço junto às falésias.
• Qualquer atividade sem o devido licenciamento ambiental.
205 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Tabela 5.1 – Enquadramento das Unidades Geoambientais (continua)

ZONA DE PRESERVAÇÀO PERMANENTE 2


(BEACH ROCKS OU ARENITOS DE PRAIA)
• Areias com seixos e conchas cimentados com cimento
carbonáticos. Têm pouca espessura, mas podem ter
grandes extensões.
• Situam-se na foz dos rios, atuais ou pretéritas.
• Funcionam como dissipadores de energia das ondas.
• São responsáveis pela estabilidade de muitas regiões
Características
costeiras.
• Situam-se, quase sempre entre as marés alta e baixa,
portanto dentro da praia,mas também nas zonas
permanentemente inundadas
• Podem proteger enseadas e reduzir das forças das ondas,
formando piscinas naturais.
• Manter a integridade dos “beachrocks” através da
proibição da retirada de blocos e interdição de qualquer
Metas Ambientais construção sobre os mesmos, ou outras atividades
degradadoras.
• Educação ambiental.
INDICAÇÃO DE USOS/ATIVIDADES
• Pesca artesanal em sua proximidade.
• Pesquisa científica.
Permitidos
• Outras atividades, desde que possuam o licenciamento
ambiental.
• Utilização como ancoradouros provisórios.
Tolerados
• Utilização das piscinas naturais por banhistas.
• Todas e qualquer atividade que coloque em risco a
estabilidade dos “beachrocks”.
Proibidos • Usar blocos como material de construção.
• Abertura de acesso para o mar através dos mesmos.
• Qualquer atividade sem o devido licenciamento ambiental.
206 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Tabela 5.1 – Enquadramento das Unidades Geoambientais (continua)

ZONA DE PRESERVAÇÀO PERMANENTE 3


(DUNAS FIXAS)
• Áreas de Preservação Permanente, de acordo com a
legislação ambiental.
• Áreas de moderada a forte instabilidade ambiental,
constituídas de areia fixada por vegetação ou cimento
Características
químico.
• Baixo suporte para edificações.
• Alta susceptibilidade à poluição dos solos e dos recursos
hídricos.
• Preservação do patrimônio ambiental e paisagístico.
• Manejo ambiental da flora e da fauna.
Metas Ambientais • Uso controlado dos recursos hídricos.
• Recuperação da áreas degradadas.
• Educação ambiental.
INDICAÇÃO DE USOS/ATIVIDADES
• Pesquisa científica.
• Implantação de projetos de recuperação de áreas
Permitidos degradadas.
• Outras atividades, desde que possuam o licenciamento
ambiental.
• Atividades controladas de ecoturismo, inclusive
Tolerados implantação de trilhas ecológicas.
• Extrativismo animal e vegetal controlados.
• Toda e qualquer atividade que coloque em risco a
estabilidade dos ecossistemas, tais como desmatamento,
Proibidos aberturas de estradas, circulação de veículos, caça,
queimadas, construções, loteamentos etc.
• Qualquer atividade sem o devido licenciamento ambiental.
207 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Tabela 5.1 – Enquadramento das Unidades Geoambientais (continua)

ZONA DE PRESERVAÇÀO PERMANENTE 4


(MANGUEZAIS)
• Áreas de Preservação Permanente, de acordo com a
legislação ambiental.
• Ares frágeis com ecodinâmica fortemente instáveis.
• Ecossistema que ocupa a planície flúvio-marinha na faixa
Características
entre as marés baixa e alta.
• Alta produção de matéria orgânica.
• Local de grande bio-diversidade e berçário de inúmeros
animais e plantas.
• Preservação do patrimônio ambiental e paisagístico.
• Manejo ambiental da flora e da fauna.
Metas Ambientais • Uso controlado dos recursos hídricos.
• Recuperação de áreas degradadas
• Educação ambiental.
INDICAÇÃO DE USOS/ATIVIDADES
• Pesquisa científica.
• Implantação de projetos de recuperação de áreas
degradadas.
Permitidos • Pesca artesanal controlada.
• Aqüicultura.
• Outras atividades, desde que possuam o licenciamento
ambiental.
• Atividades controlodas de ecoturismo, inclusive
Tolerados implantação de trilhas ecológicas.
• Extrativismo animal e vegetal controlados.
• Toda e qualquer atividade que coloque em risco a
estabilidade dos ecossistemas, tais como desmatamento,
Proibidos aberturas de estradas, circulação de veículos, caça,
queimadas, construções, loteamentos etc.
• Qualquer atividade sem o devido licenciamento ambiental.
208 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Tabela 5.1 – Enquadramento das Unidades Geoambientais (continua)

ZONA DE PRESERVAÇÀO PERMANENTE 5


(DUNAS MÓVEIS)
• Áreas legalmente protegidas.
• Forte instabilidade ambiental.
Características • Baixo suporte para edificações.
• Alta susceptibilidade à poluição dos solos e dos recursos
hídricos.
• Preservação do patrimônio ambiental e paisagístico.
• Uso controlado dos recursos hídricos.
Metas Ambientais
• Recuperação das áreas degradadas.
• Educação ambiental.
INDICAÇÃO DE USOS/ATIVIDADES
• Pesquisa científica
• Implantação de projetos de recuperação de áreas
degradadas.
Permitidos
• Usinas eólicas (aerogeradores).
• Outras atividades, desde que possuam o licenciamento
ambiental.
• Atividades controladas de ecoturismo, inclusive
implantação de trilhas ecológicas.
Tolerados
• Poços ou cacimbas para abastecimento de água para
consumo humano e dessedetação de animais.
• Todo e qualquer tipo de construção que interfira na
dinâmica costeira.
Proibidos • Toda e qualquer atividade que coloque em risco a
estabilidade dos ecossistemas, tais como estradas,
construções, loteamentos etc.
209 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Tabela 5.1 – Enquadramento das Unidades Geoambientais (continua)

ZONA DE PROTEÇÀO PERMANENTE 6


(LAGOAS E RIOS (PERENES OU TEMPORÁRIOS))
Características • Áreas legalmente protegidas.
• Preservação do patrimônio ambiental e paisagístico.
• Uso controlado dos recursos hídricos superficiais e
subsuperficiais.
• Recuperação da áreas degradadas.
• Proteção das lagoas interdunares, por serem importantes
Metas Ambientais recursos hídricos, protegidas por lei e de grande beleza
paisagística.
• Proibir a ocupação das Áreas de Preservação
Permanente.
• Monitoramento e controle do uso destes recursos naturais.
• Educação ambiental.
INDICAÇÃO DE USOS/ATIVIDADES
• Pesquisa científica.
• Implantação de projetos de recuperação de áreas
degradadas.
• Pesca artesanal controlada.
• Aqüicultura.
Permitidos
• Utilização da água para balneabilidade, esportes náuticos,
pesca desportiva e de subsistência,consumo humano,
dessedentação de animais, irrigação etc.
• Outras atividades, desde que possuam o licenciamento
ambiental.
• Bares e restaurantes no entorno, desde que dotados de
Tolerados
infra-estrutura adequada
• Construções nas área de preservação permanente dos
recursos hídricos.
• Utilização descontrolada de água das lagoas.
• Circulação de carros na área de preservação permanente
Proibidos
desses recursos hídricos.
• Deposição de lixo e efluentes nos recursos hídricos e nas
suas áreas de entorno.
• Qualquer atividade sem o devido licenciamento ambiental.
210 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Tabela 5.1 – Enquadramento das Unidades Geoambientais (continua)

ZONA DE PROTEÇÃO PERMANENTE 7


(FALÉSIAS E ESCARPAS)
• Áreas de Preservação Permanente, de acordo com a
legislação ambiental.
• Ambientes instáveis e que funcionam como dissipadores
da energia das ondas.
Características • Estão submetidas a processos ativos de erosão devido a
ação do mar e a ocupação antrópica.
• Desempenham importante papel ao impedir o
soterramento das comunidades pelo transporte eólico.
• Apresentam grande valor paisagístico.
• Preservação do patrimônio ambiental e paisagístico.
• Recuperação da áreas degradadas.
Metas Ambientais
• Disciplinamento da urbanizaçãp nas áreas de entorno.
• Educação ambiental.
INDICAÇÃO DE USOS/ATIVIDADES
• Pesquisa científica.
• Implantação de projetos de recuperação de áreas
degradadas.
Permitidos
• Obras que reduzam a erosão e a evolução das voçorocas,
como sistemas de micro e macrodrenagem das águas de
chuvas.
• Atividades controladas de ecoturismo, inclusive
implantação de trilhas ecológicas e Mirantes que
Tolerados
permitam apreciar as paisagens das falésias.
• Instalação de aerogeradores.
• Circulação indiscriminada de pessoas e veículos sobre as
falésias.
• Construção de barracas, mesmo de madeiras, no sopé ou
Proibidos
no topo das falésias.
• Recorte das falésias de qualquer espécie.
• Qualquer atividade sem o devido licenciamento ambiental.
211 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Tabela 5.1 – Enquadramento das Unidades Geoambientais (continua)

ZONA DE PROTEÇÃO ESPECIAL


(SALGADOS E APICUNS)
• Considera-se salgado a região da planície flúvio- marinha,
pouco acima dos manguezais, que sofre influência das
águas do mar nas marés de sizígia.
• A região é plana, o solo arenoso e salino e a vegetação é
constituída de gramíneas resistentes ao sal (halófitas).
Características • Os apicuns são áreas da planície flúvio-marinha que só
são atingidas por água do mar nas marés de sizígia
equinociais e se situam entre a planície fluvial e o nível de
maré alta dos manguezais e salgados.
• Ambientes de transição, tendendo a estabilidade quando
em equilíbrio natural.
• Áreas legalmente protegidas.
• Áreas sensíveis do ponto de vista ecológico.
• Ocupação controlada com implantação de projetos de
pequeno e/ou médio impacto ambiental.
Metas Ambientais • Fiscalização e monitoramento dos projetos implantados ou
em implantação.
• Recuperação daS áreas degradadas.
• Disciplinamento da urbanizaçãp nas áreas de entorno.
• Educação ambiental.
INDICAÇÃO DE USOS/ATIVIDADES
• Pesquisa científica.
• Atividades controladas de ecoturismo, inclusive
implantação de trilhas ecológicas.
• Implantação de projetos de recuperação de áreas
Permitidos
degradadas.
• Pesca, captura e extração artesanal de organismos
aquáticos
• Abrigo para embarcações.
• Projetos de aqüicultura localizados acima do nível médio
de maré, com 20% de área de salgado ou apicum
preservadas.
Tolerados
• Projetos de implantação de salinas localizados acima do
nível médio de maré, com 20% de área de salgado ou
apicum preservadas.
• Toda e qualquer atividade que coloque em risco a
estabilidade dos ecossistemas, tais como estradas,
Proibidos
construções, loteamentos etc.
• Qualquer atividade sem o devido licenciamento ambiental.
212 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Tabela 5.1 – Enquadramento das Unidades Geoambientais (continua)

ZONA DE CONSERVAÇÃO PRIORITÁRIA 1


(PLANÍCIE DE DEFLAÇÃO e TERRAÇOS MARINHOS)
• A planície de deflação é a superfície superior da região de
Pós-Praia, fonte de sedimentos para formação de dunas.
• Quando a deflação atinge o nível de base próximo a
freático a umidade da água impede a retirada dos grãos
de areia pelo vento, por causa da tensão superficial,
iniciando-se o desenvolvimento da vegetação pioneira e a
conseqüente estabilização da superfície. Esta estabilidade
é relativa precária, uma vez que retirada a cobertura
vegetal a superfície pode ser desestabilizada.
Características
• Os terraços marinhos são planícies construídas por ação
marinha.
• Quando a deflação atinge o nível de base próximo a
freático. A umidade da água impede a retirada dos grãos
de areia pelo vento, por causa da tensão superficial.
• Começa o desenvolvimento da vegetação pioneira e a
conseqüente estabilização da superfície.
• Esta estabilidade é relativa precária. Uma vez retirada a
cobertura vegetal a superfície pode ser desestabilizada.
• Ocupação planejada e controlada.
Metas Ambientais • Uso controlado dos recursos hídricos superficiais e
subsuperficiais.
INDICAÇÃO DE USOS/ATIVIDADES
• Ocupação com baixa densidade demográfica, ou seja,
lotes grandes, com baixa taxa de ocupação.
• Implantação de projetos turísticos em consonância com
Permitidos
estudos da dinâmica costeira.
• Outras atividades, desde que possuam o licenciamento
ambiental.
• Grandes movimentos de terra que alterem a estabilidade
relativa da superfície de deflação.
Proibidos • Todas e qualquer atividade que resulte em supressão da
cobertura vegetal deixando o solo descoberto.
• Qualquer atividade sem o devido licenciamento ambiental.
213 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Tabela 5.1 – Enquadramento das Unidades Geoambientais (continua)

ZONA PROTEÇÃO ESPECIAL DAS PLANÍCIES FLUVIAIS


• São constituídas dominantemente por sedimentos finos
(argila e silte) com alto teor de sais, tendo como vegetação
Características natural o pirrixio e as carnaubeiras.
• O lençol freático aflora à superfície na época das chuvas e
rebaixa muito na época da seca.
• Ocupação planejada e controlada.
• Uso controlado dos recursos hídricos superficiais e
subsuperficiais.
• Fiscalização e monitoramento dos projetos implantados ou
Metas Ambientais
em implantação.
• Recuperação da áreas degradadas.
• Disciplinamento da urbanizaçãp nas áreas de entorno.
• Educação ambiental.
INDICAÇÃO DE USOS/ATIVIDADES
• Pesquisa científica.
• Atividades controladas de ecoturismo, inclusive
implantação de trilhas ecológicas.
Permitidos
• Implantação de projetos de recuperação de áreas
degradadas.
• Atividades compatíveis com as inundações periódicas.
• Projetos de aqüicultura.
• Exploração mineral.
Tolerados
• Criação extensiva de gado.
• Construção de vias de acesso.
• Toda e qualquer atividade que coloque em risco a
estabilidade dos ecossistemas, tais como estradas,
Proibidos
construções, loteamentos etc.
• Qualquer atividade sem o devido licenciamento ambiental.
214 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Tabela 5.1 – Enquadramento das Unidades Geoambientais (continua)

ZONA DE CONSERVAÇÃO ESPECIAL DOS TABULEIROS, CHAPADA DO


APODI, PLANALTO DA IBIAPABA E DEPRESSÃO SERTANEJA
• Os tabuleiros, chapadas e superfície Sertaneja são os
terrenos mais estáveis do litoral, por isso devem ser
preservados pelo seu valor em termos de ocupação.
• São áreas planas, cobertas de uma vegetação típica, e se
prestam para cultura de subsistência e intensiva e
Características ocupação habitacional e comercial.
• O lençol freático é mais profundo e mais protegido que nas
outras unidades, daí sua importância para o
abastecimento de água local, através de poços tubulares e
cacimbas.
• Ambientes estáveis em condições de equilíbrio natural.
• Ocupação planejada e controlada.
• Uso controlado dos recursos hídricos superficiais e
subsuperficiais.
• Fiscalização e monitoramento dos projetos implantados ou
em implantação.
Metas Ambientais
• Recuperação da áreas degradadas.
• Diversificação das atividades econômicas.
• Ordenamento e disciplinamento do uso e ocupação do
solo.
• Educação ambiental.
INDICAÇÃO DE USOS/ATIVIDADES
• Pesquisa científica.
• Atividades controladas de ecoturismo, inclusive
implantação de trilhas ecológicas.
Permitidos
• Implantação de projetos de recuperação de áreas
degradadas.
• Todas as atividades passíveis de licenciamento ambiental.
• Lançamento em superfície de efluentes sem tratamento
prévio.
• Disposição inadequada de lixo e materiais tóxicos.
Proibidos
• Corte indiscriminado na vegetação.
• Prática indiscriminada de queimadas.
• Qualquer atividade sem o devido licenciamento ambiental.
Nota: (Modificado de GAU, 2002 e Leal, 2003)
215 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

As áreas ocupadas pelas Unidades Geoambientais da região englobada pelo


Zoneamento Ecológico-Econômico da Zona Costeira do Estado do Ceará estão
relacionadas no quadro abaixo:
Unidades Áreas
Geoambientais (Km2)
Beachrocks 0,71
Chapada do Apodi 2.236,55
Cordões Litorâneos 12,11
Depósitos Submersos 61,23
Depressão Sertaneja 10.976,65
Dunas Fixadas por Vegetação 4852
Dunas Móveis 263,3
Eolianitos 30,63
Praia 25,8
Maciço Residual 848,05
Planalto da Ibiapaba 828,96
Planície Fluvial 1906,86
Planície Flúvio-marinha 307,32
Planície de Deflação 324,7
Recifes do Arenito Barreiras 11,02
Tabuleiros Pré-litorâneos 11.538,69
Terraços Marinhos 141,83

Na faixa litorânea, a grande parte das unidades ou feições geográfica está


protegida por lei, como área de preservação permanente (APP), tais como praias e
todos as feições nelas encontradas, falésias até 100 metros do seu limite, dunas
fixas e 90% das dunas móveis em cada município, os manguezais e recursos
hídricos superficiais e o entorno.

Restam para ocupação, os Terraços Marinhos, as Planícies de Deflação e


Fluvial e as superfícies de erosão (Tabuleiros Pré-litorâneos, Chapada do Apodi,
Planalto da Ibiapaba e Depressão Sertaneja) e os Maciços Residuais.
216 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

Os Cordões Litorâneos são um caso a parte, em termos de uso e ocupação.


Quando eles ocorrem isolados do continente ou ligados por uma ou duas
extremidades, ele, invariavelmente, pertenceria à faixas de praia, de difícil ocupação
por causa da ação das ondas e marés. Se estão dentro continente, como no caso de
Icapuí, Itarema, Acaraú e Bitupitá, passam a formar os Terraços Marinhos.

Os Terraços Marinhos têm servido mais à cultura de subsistência, mas


também de veraneio. O principal disciplinamento seria a exigência de baixa
densidade de ocupação. Para isso, os loteamentos aprovados deveriam ter lotes
mínimos de 5.000 metros quadrados e taxa de ocupação inferior a 50% do terreno.
Como é uma região de alta peculiaridade (raridade), pois ocupa apenas 141,83 km2
dos 29.562,93 km2 da área total do ZEE. Se tiver alta ocupação, fatalmente recairá
na Zona de Proteção Prioritária (alta peculiaridade e alto impacto).

Pelos mesmos motivos e, com muito mais razão, pela sensibilidade da área, a
ocupação da planície de deflação tem de ser controlada, evitando aprovação de
loteamentos com lotes pequenos e exigindo baixa taxa de ocupação. Estas áreas
por serem baixas e planas têm problemas sérios de abastecimento de água e
esgotamento sanitário. Se forem construídas cacimbas e fossas sépticas em pouco
tempo de ocupação intensiva estaria transformada numa verdadeira cloaca.

As Planícies Fluviais têm sempre o risco de inundação. As obras de proteção,


em cada local específico, poderiam ser feitas para permitir o uso das terras.
Acontece que nestas áreas, o lençol freático, dependendo da época do ano, pode
estar quase na superfície (período de chuvas) ou a dezenas de metros de
profundidade (período seco). Por serem partes baixas de terrenos, isso dificulta, não
só a captação de água para o abastecimento, como também o esgotamento
sanitário. Portanto, estas áreas seriam ideais para hortas comunitárias, criatórios de
peixes em cativeiro, ou alguma cultura de subsistência de ciclo curto, por causa das
inundações.

Os Tabuleiros Pré-litorâneos, Chapada do Apodi, Planalto da Ibiapapba e


Depressão Sertaneja são as áreas mais estáveis do ponto de vista ambiental para
ocupação urbana, infelizmente não tem apelo visual que possa atrair o turista ou o
217 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

veranista. Todo plano diretor deveria prever a ocupação destas planícies na


expansão das cidades. Por serem terras altas e planas, os serviços de
abastecimento de água e esgotamento são mais fáceis de serem realizados,
portanto mais baratos, o solo e subsolo são estáveis, sem problema de fundação
para uma ocupação urbana.

Com relação à atividade agrícola, os solos da Depressão Sertaneja são mais


irregulares e pobres, perdendo em atrativo para os terrenos de Tabuleiros Pré-
litorâneos, Chapada do Apodi e Planalto da Ibiapaba. Os tabuleiros são muito planos
com solos arenosos (areias quartzosas) muito ácidos que precisam de corretivo.
Prestam-se à cultura de fruteiras como cajueiros, coqueiros, mangueiras e
gravioleiras, porém têm deficiência hídrica. Seus aqüíferos têm vazões relativamente
baixas para uma rocha sedimentar, aumentando o custo da irrigação.

As perspectivas econômicas de agricultura irrigada na Chapada do Apodi são


muito maiores. Os cambissolos de decomposição do calcário Jandaíra são solos
ideais para prática de agricultura irrigada de frutas e hortaliças, por sua fertilidade e
estabilidade do terreno. Associado a isso, os terrenos são ainda planos que
permitem a mecanização. A oferta de água poderia ser não só do rio Jaguaribe, mas
também dos aqüíferos das cavidades cársticas do calcário Jandaíra. Não seria
recomendável a utilização das águas do aqüífero Açu em irrigação, porque é uma
água de excelente qualidade, inclusive classificada como mineral e apropriada para
o consumo humano.

Na porção da Chapada do Apodi onde ocorrem os arenitos Açu, o solo é mais


pobre e as reservas hídricas mais restritas, pois não tem cabimento usar uma água
de excelente qualidade para o consumo humano (aqüífero Açu), em irrigação.

No Planalto da Ibiapaba, os arenitos e conglomerados do Grupo Serra


Grande de idade siluriana têm solo ácidos constituídos de areias quartzosas, são
propícios à agricultura, por serem planos, mas precisam de corretivo para elevar ao
pH. A irrigação somente pode ser feita com água subterrânea de excelente
qualidade, porém com custos altos de bombeamento, que seria econômico para
fruticultura de alto valor agregado, como semente de hortaliças e flores.
218 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

As atividades dos perímetros irrigados do Baixo Jaguaribe, Curu-Paraipaba e


Baixo Acaraú não serão abordas aqui porque serão assunto do estudo sócio-
econômico do projeto.

Por último, sobrariam os salgados que, na região, são, algumas vezes,


manguezais e antigas salinas, onde o antigo mangue foi retirado e, o terreno
recoberto pela areia das dunas móveis e das planícies fluviais que migraram,
impedindo o desenvolvimento da vegetação de mangue.

Porém, abaixo desta camada de areia, ocorrem as argilas com matéria


orgânica dos mangues, ou da planície fluvial. Ambas de difícil ocupação urbana pela
quantidade de sal que têm no interior. Outros Salgados, como o de Barroquinha são
áreas de cotas mais elevadas e pouca relação com o Manguezal, a não ser a
proximidade. Lá estão mais associados aos Tabuleiros Pré-litorâneos.
219 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

No Mapeamento das Unidades Geoambientais, dentro do Zoneamento


Ecológico Econômico do Litoral do Estado do Ceará, foram diferenciados três
ambientes: Frente Marinha, Corredores Fluviais e Terras Altas.

A Frente Marinha engloba todas as feições modeladas pelo mar e vento,


desde Beachrocks, Praia, Cordões Litorâneos e Barras, Terraços Marinhos, Planície
de Deflação, Paleodunas, Campos de Dunas com suas Dunas Móveis e Fixadas
pela Vegetação e Eolianito. Os acidentes geográficos como Recifes do Arenito
Barreiras, Bermas, Falésias e Escarpas foram também individualizados no
mapeamento.

Neste ambiente é onde existe maior preocupação no uso e ocupação do solo,


não só pelo interesse como área que tende a ser intensamente ocupada, mas
também pela fragilidade do meio em que os agentes modeladores atuam com
grande intensidade.

Nos Corredores Fluviais, com suas Planícies Flúvio-marinha e Fluvial, a


principal preocupação é o caudal ecológico com sua capacidade de suporte, tendo
em vista a exploração de seu potencial socioeconômico, mantendo intactas suas
condições originais e, principalmente protegendo o ecossistema mais sensível: os
manguezais. Dentro dos Estuários foi sugerida a prioridade da ocupação da Planície
Fluvial, deixando, em princípio de ocupar a Planície Flúvio-marinha, principalmente
porque grande parte dela está recoberta de mangues, formando o ecossistema
manguezal que é Área de Preservação Permanente (APP).

As Terras Altas são o ambiente mais estável dos três, do ponto de vista de
capacidade de suporte para ocupação, porém com menores atrativos para uso e
ocupação do solo.

A aplicação mais imediata deste mapeamento é e criação de uma legislação


que proteja as unidades e os acidentes geográficos mais sensíveis, disciplinando
220 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

seu uso e ocupação e estes mapas gerados sirvam de base para tomada de decisão
não só por parte da Superintendência de Meio Ambiente – SEMACE, mas também
pela Secretaria de Turismo para estabelecimento de prioridade nos projetos
turísticos e indicação de áreas interditadas a edificações por serem APP. A
Secretaria de Infra-estrutura poderá se basear neste trabalho para estabelecer
critérios de prioridade das obras estruturantes que tanto ajudam a desenvolver o
Estado do ponto de vista socioeconômico.
221 - ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO DA ZONA COSTEIRA – CEARÁ

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