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Obsessão - Vítima ou Parceiro

27/06/2002

Fato muito comum presenciado nas casas espíritas (ou mesmo fora delas, pois que
obsessão/mediunidade tem sido um assunto hoje largamente disseminado) é a afirmação
de que determinada pessoa que está sofrendo algum tipo de perturbação de fonte
desconhecida (visões, aparições, pensamentos ou vozes constantes, idéias estranhas,
fatos extraordinários etc) estar sendo “vítima de obsessão” - às vezes taxadas de leves,
graves ou ainda gravíssimas.

Nada de anormal no fato de ser identificada como obsessão (seja qual grau for: simples,
subjugação, fascinação, vampirismo). O que aqui se quer questionar e dar ênfase é o
fato de ser acrescida do qualificativo “vítima”. Com efeito, o que se quer dizer seria que
o acometido da anormalidade psíquica estaria sendo assediado por alguém
desencarnado, como uma presa indefesa, por acaso, sem conexão entre causa e efeito.
Em uma palavra: por simples maldade!

Entretanto, há grave erro - seja do paciente, seja do atendente da casa espírita no


chamado plantão espiritual - em qualificar o primeiro como sujeito passivo indefeso,
sacrificado às paixões ou interesses do ente desencarnado, que “escolheu ao léu”, “à
toa”, sua incauta vítima.

O processo obsessivo não é uma rua de mão única, não é telefone de um só bocal, não é
linha de rádio só emissora e sem recepção, não é agulha sem linha; como não é também
fruto do acaso, como não é um acidente imprevisto e ocorrido a esmo, como ainda não é
um jogo de sorte/azar.

Não, não. Tem causa. Tem às vezes muitas causas. E em nenhuma delas o paciente é
vítima de ninguém. Ao contrário. É um misto de agente/paciente; é exatamente a fonte
causadora do assédio espiritual, qual seja, da obsessão.

A propósito, lembremo-nos das palavras de Kardec (Evangelho Seg. o Espiritismo, Cap.


XXVIII, item 16): “Os maus Espíritos somente procuram os lugares onde encontrem
possibilidades de dar expansão à sua perversidade. Para os afastar, não basta pedir-lhes,
nem mesmo ordenar-lhes que se vão; é preciso que o homem elimine de si o que os
atrai. Os Espíritos maus farejam as chagas da alma, como as moscas farejam as chagas
do corpo. Assim como se limpa o corpo, para evitar a bicheira, também se deve limpar
de suas impurezas a alma, para evitar os maus Espíritos.”

Ora, trocando em miúdos, temos que um determinado Espírito é atraído, literalmente,


pelas más tendências, pelos vícios, pelos defeitos, pelas ações do encarnado, com quem
passa a vivenciar essas mesmas tendências, em regime de reciprocidade. Então, o
obsidiado não seria vítima do obsessor, mas um parceiro, um semelhante, um igual, um
sócio, um companheiro, enfim.

Tecnicamente, chamaríamos a ocorrência de “atração sintônica”: um é atraído pela


sintonia de gostos e pensamentos do outro... simplesmente!
Não é por outra razão que os doutos em Espiritismo, especialmente nas ocorrências dos
fatos mediúnicos (pois que a obsessão é um fato mediúnico de baixo teor fluídico, uma
associação de idéias entre ambos os envolvidos), taxam-na como uma parceria. E o
fazem de maneira enfática, grave, até mesmo assustadora, mas real. Vejamos, em letras
garrafais para que ninguém mais diga que não viu ou não se deu conta:

A obsessão é “O ENCONTRO E A CONJUGAÇÃO DE DUAS FORÇAS


SIMPÁTICAS EM PERMUTA DE AFINIDADES”. (DR. BEZERRA DE MENEZES
(Espírito), em “Dramas da Obsessão”, psic.)

...De sorte que: CONJUGAÇÃO quer dizer (no dicionário comum) união, ligação,
conjunção, conexão; SIMPÁTICA quer dizer atraente, apreciada, adepta, aprovada,
agradável, concordante, harmônica; PERMUTA quer dizer troca consentida, transação,
comércio, partilha; e, afinal, AFINIDADE quer dizer semelhança, analogia, correlação,
parentesco, ligação.

Seria necessário algo mais preciso para afastar-se o sentido de vítima?!

E mais:

“É UMA INFESTAÇÃO DA ALMA, SEMELHANTE À INFECÇÃO DO CORPO


CARNAL, PRODUZIDA POR VÍRUS E BACTÉRIAS.” (Prof. HERCULANO PIRES,
em “Mediunidade”, pg. 57)

Enfim, em resumo, a obsessão nada mais é do que “É UMA PARCERIA SINISTRA”.


(idem, pg. 65) E o Prof. Herculano conclui, depois de analisar o estado moral da
humanidade terrestre, cujas mentes são verdadeira fonte de instalação do processo
obsessivo - pela comunhão de idéias e pela identidade de gostos entre encarnados e
desencarnados, que vibram no mesmo diapasão, pensam nas mesmas coisas e agem do
mesmo jeito -, conclui que a situação é gravíssima, pois que “A OBSESSÃO
TORNOU-SE O MAL DO SÉCULO”.(idem, pg. 139)

Como recomendado no Evangelho Segundo o Espiritismo, no trecho acima citado, para


eliminar a obsessão, para quebrar a parceria sinistra, para “livrar” a criatura padecente,
SERÁ PRECISO MELHORÁ-LA, MODIFICÁ-LA; será preciso eliminar dela o que
atrai o Espírito maldoso.

E isso somente se dá com a REFORMA do ser, quebrando um dos elos da


cadeia/corrente sinistra que se estabeleceu. A melhora de um deles (seja o encarnado,
seja o desencarnado), põe por terra definitivamente o processo obsessivo.

E, nisso, o Espiritismo está em grande vantagem: sua bandeira maior é melhorar a


humanidade, laborar o “homem novo” em cada um, por fraternidade, por caridade e por
amor - como pregou o Cristo - e não por simples proselitismo, para angariar adeptos.
Melhorando o Ser, estará quebrando o círculo vicioso estabelecido no processo
obsessivo e, assim, estará esvaziando os manicômios e casas de saúde mental, onde uma
grande parte de pacientes sofre distúrbios que poderiam ser resolvidos simplesmente
com uma terapia espiritual.

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