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Dissertação
Pelotas, 2016
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Pelotas, 2016
3
Banca examinadora:
........................................................................................................................................
Prof. Drª. Ariela da Silva Torres (Orientadora)
Doutora em Engenharia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
........................................................................................................................................
Profª Drª Ângela Azevedo de Azevedo
Doutora em Engenharia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
........................................................................................................................................
Prof. Drª. Nirce Saffer Medvedovski
Doutora em Estruturas Ambientais Urbanas pela Universidade de São Paulo
........................................................................................................................................
Prof. Drª. Rosilena Martins Peres
Doutora em Engenharia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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Agradecimentos
Em primeiro lugar a Deus, o meu melhor amigo. Ele cuida de mim nos
mínimos detalhes e me concede saúde para honrar as oportunidades que me levam
a realização dos meus projetos e dos sonhos Dele pra mim.
Ao Espírito Santo, meu companheiro inseparável. Ele sempre me direciona
para o caminho da vitória.
À Jesus Cristo, o meu maior exemplo de superação. Ele sempre aposta no
meu potencial.
Aos queridos professores Ariela Torres e Charlei Paliga que, acreditaram no
meu potencial e com muita competência e dedicação, orientaram este trabalho e
tornaram esta trajetória produtiva, através de um convívio leve e alegre.
Aos professores das disciplinas do PROGRAU que me inseriram no universo
da arquitetura e da pesquisa.
Aos colegas mestrandos e bolsistas do grupo NEPAMAT, pelo apoio e
contribuições durante este período de desafios.
À Marques Imóveis, por viabilizar o acesso aos residenciais estudados.
Ao IFSUL, pelo incentivo através da licença capacitação.
Aos meus estimados colegas da Coordenadoria de Design do IFSUL, pelo
suporte e encorajamento.
Ao meu amado marido Cristiano, que abraçou este meu projeto e, ao longo da
caminhada, se esforçou para me ajudar em tudo. O meu psicólogo preferido
trabalhou muito em casa para manter esta mestranda no foco e ainda feliz.
À minha preciosa filha Lauren, que me acompanhou nos estudos dentro do
ventre e após o nascimento. Ela é a expressão do infinito amor de Deus por nós. A
sua existência tornou esta jornada ainda mais desafiadora, mas incrivelmente
maravilhosa.
À minha extraordinária mãe Sandra, certamente a maior incentivadora dos
meus estudos. Sempre incansável, me auxiliando em tudo, para que mais esta
vitória fosse alcançada.
Ao meu incomparável pai João Mozart, por todo cuidado que tem comigo.
Juntamente com minha mãe, ele sempre está disposto a me ajudar, abdicando das
suas rotinas para cuidarem, tão carinhosamente, da nossa Lauren.
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Resumo
Abstract
In Brazil, there are historic problems in social housing. Roméro and Vianna (2002)
point out the need to evaluate the current situation of housing, as well as the
satisfaction of its users and any demands. This paper aims to conduct a comparative
study of pathological manifestations incidents at various times surveys, on two sets
Social Interest Housing facades of built in Pelotas / RS through the Programa de
Arrendamento Residencial (PAR). Furthermore, investigate the user’s perception of
the deficiencies in order to improve the projects quality and durability, direct to
appropriate actions in the existing use phase. The methodology is based on technical
inspections through direct observation of the two sets that form the case of study, for
the purpose of surveying and registration information through records, photographs
and graphic representations. The post-occupation of the structured interview type
evaluation method was set to the search results for the user perception. From the
current technical survey carried out in residential Solar das Palmeiras and Paraíso it
was found that the main pathological manifestations presented were cracks and
moisture, and the problems with detachment coating and less representative dirt. A
comparative study was carried out between the data collected during the INQUALHIS
Project (Quality Indicators Generation of Collective Spaces in Social Housing
Enterprises) and the data obtained in the current study. The Residential Solar das
Palmeiras had approximately 7.5 times more impact on current research, conducted
seven years and eight months later. Residential Paraíso had 111 times more
incidences eight years and three months after the first survey, still evident
predominance of cracks and moisture problems. In two surveys cracking appears
more frequently in west and north facades. Concerning the humidity, the south
facade has a higher incidence of problems than all other fronts. The order of
relevance demonstrated by users with anomalies regard coincide with the technical
survey in Residential Solar das Palmeiras. However, not in Paraíso. Although the
majority of respondents consider that the facades are in reasonable condition and
good, almost all respondents reported being necessary maintenance work.
Complementary methods used post-occupancy evaluation were effective for results
obtaining, correlating the observation made by experts and user perception in
relation to existing pathological manifestations on the studied housing facades.
Lista de figuras
Figura 145 Parte da fachada frontal do bloco “B” do Residencial Paraíso lavada por
moradores dos primeiros andares .......................................................... 132
Figura 146 Parte da fachada frontal do bloco “B” do Residencial Paraíso lavada por
morador .................................................................................................. 132
Figura 147 Parte da fachada frontal do bloco “C” do Residencial Paraíso lavada por
morador .................................................................................................. 132
Figura 148 Porcentagem da percepção do usuário em relação à situação das
fachadas do Residencial Paraíso ........................................................... 133
17
Lista de tabelas
Sumário
1 Introdução .............................................................................................................. 21
1.1 Contexto da pesquisa .......................................................................................... 21
1.2 Objetivos da pesquisa ......................................................................................... 23
1.2.1 Objetivo principal .............................................................................................. 23
1.2.2 Objetivos específicos........................................................................................ 23
1.3 Delineamento da pesquisa .................................................................................. 23
1.4 Estrutura da dissertação...................................................................................... 24
1.5 Delimitações da pesquisa.................................................................................... 25
3 Metodologia ............................................................................................................ 63
3.1 Estudo de caso.................................................................................................... 63
3.1.1 Levantamento das manifestações patológicas ................................................. 66
19
5 Resultados ............................................................................................................. 83
5.1 Levantamentos das manifestações patológicas nas fachadas do Residencial
Solar das Palmeiras ........................................................................................... 83
5.1.1 Fissuras/Trincas ............................................................................................... 84
5.1.2 Umidade ........................................................................................................... 86
5.1.3 Sujidades.......................................................................................................... 91
5.1.4 Descolamento de revestimento ........................................................................ 94
5.1.5 Localização, origens e causas das manifestações patológicas no Residencial
Solar das Palmeiras ......................................................................................... 96
5.1.6 Comparativo entre os dados do levantamento do Projeto INQUALHIS e os
obtidos na atual pesquisa no Residencial Solar das Palmeiras ....................... 99
5.2 Levantamentos das manifestações patológicas nas fachadas do Residencial
Paraíso ............................................................................................................ 102
5.2.1 Fissuras/Trincas ............................................................................................. 103
5.2.2 Umidade ......................................................................................................... 106
5.2.3 Descolamento de revestimento ...................................................................... 112
5.2.4 Sujidades........................................................................................................ 114
5.2.5 Localização, origens e causas das manifestações patológicas no Residencial
Paraíso........................................................................................................... 118
5.2.6 Comparativo entre os dados do levantamento do Projeto INQUALHIS e os
obtidos na atual pesquisa no Residencial Paraíso ......................................... 120
5.3 Entrevistas com os moradores do Residencial Solar das Palmeiras................. 123
5.4 Entrevistas com os moradores do Residencial Paraíso .................................... 128
1 Introdução
uma série de atividades programadas que prolongam sua vida útil a um custo
compensador.
No Brasil, houve um crescimento na área da habitação, mas infelizmente
existe um histórico de problemas relacionados às habitações de interesse social que
compõem este cenário. Cabe salientar que a situação econômica do país favorece a
alta procura dos brasileiros a aquisição de moradias de baixa renda, em função de
custo e auxílios financeiros cedidos pelo governo. Roméro e Vianna (2002) apontam
a necessidade de avaliar a situação desses conjuntos habitacionais na realidade
atual, seu impacto em termos de habitação social irradiando nas vizinhanças e na
cidade, a satisfação de seus usuários e as eventuais demandas latentes.
Os estudos nesta área, de ocorrência de manifestações patológicas em
habitações de baixa renda, permitem estabelecer medidas adequadas que
promovam maior qualidade e durabilidade das edificações e maximizem a satisfação
dos usuários. É fundamental obter dados que apontem melhorias nos procedimentos
das etapas de projeto, produção, operação e manutenção, e evitem anomalias em
futuros empreendimentos.
Considerando o exposto anteriormente, torna-se necessário estabelecer
mecanismos de retro-alimentação a partir da avaliação de desempenho técnico
focado na origem das manifestações patológicas, semelhantemente ao trabalho
realizado por Medvedovski (2010), bem como buscar dados quanto à percepção do
usuário em relação às anomalias verificadas, com o intuito de fornecer informações
que motivem ações que resultem em uma maior satisfação dos moradores.
A escolha do Programa de Arrendamento Residencial (PAR) para realizar
este estudo, ocorreu em função de que este é um dos principais programas
habitacionais desenvolvidos no país. O fato de selecionar empreendimentos
localizados em Pelotas/RS é relevante porque a cidade possui um número
expressivo de conjuntos construídos dentro desta modalidade, sendo contemplada
com dezoito empreendimentos, além de existirem pesquisas anteriormente
realizadas (como por exemplo, a pesquisa INQUALHIS, desenvolvida pela
Universidade Federal de Pelotas) que possibilitam estudos comparativos das
manifestações patológicas incidentes em períodos distintos.
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Este trabalho tem como objetivo principal realizar um estudo comparativo dos
levantamentos de manifestações patológicas incidentes, em períodos distintos, nas
fachadas de dois conjuntos de Habitações de Interesse Social construídas na cidade
de Pelotas/RS através do Programa de Arrendamento Residencial (PAR). Ademais,
investigar a percepção dos usuários quanto às anomalias, no intuito de elevar a
qualidade e a durabilidade de futuros empreendimentos, direcionar para ações
adequadas na fase de utilização dos existentes, bem como, contribuir com estudos
relacionados ao tema.
2 Revisão bibliográfica
volume de obras foi declinando até a inércia em muitos estados, fazendo com que
houvesse uma espécie de dormência do tema.
Abreu (2012) caracterizou a produção acadêmica brasileira sobre o tema HIS,
no período de 2006 a 2010. As análises quantitativas foram realizadas a partir da
catalogação de 251 trabalhos no Banco de Teses e Dissertações HIS desenvolvido
pela autora. No procedimento de análise qualitativa foram analisados quatro itens:
contextos, contribuições, desafios/oportunidades e dificuldades encontradas. A
autora afirma que a produção acadêmica tem resultados relevantes e possíveis de
serem inseridos na realidade da produção de habitação social do país.
Larcher (2005) apresentou contribuições às instituições e profissionais
envolvidos na concepção e produção de HIS. Foi elaborada uma lista de verificação
de diretrizes de expansão da HIS, que permitiu a avaliação do desempenho quanto
aos atributos de adaptação ao uso e a soluções construtivas adotadas, por meio de
observações e registros realizados em dois conjuntos habitacionais da cidade de
Pato Branco no estado do Paraná. As conclusões da pesquisa apontaram para o
fato de que na ação pela melhoria das suas condições de habitação, na maioria das
vezes os moradores deste tipo de habitação realizam intervenções sem critério
técnico, resultando em soluções de baixa qualidade construtiva e de conforto.
Uma avaliação de sistemas construtivos para HIS foi realizada por Mello
(2004) considerando o ponto de vista da industrialização na construção e da gestão
dos processos de produção. O autor detalhou sete sistemas construtivos da Caixa
Econômica Federal e um oitavo sistema, com possibilidades de recursos para
materiais. Mello (2004) conclui que as tecnologias analisadas possuem condições de
produzir HIS com eficiência diante dos requisitos de desempenho definidos nos
métodos de avaliação utilizados.
Gouveia (2013) diz que o déficit habitacional no país atinge aproximadamente
oito milhões de moradias, estimando-se que até 2023, se mantido o ritmo atual, esse
valor chegue a trinta e um milhões. Ele afirma ainda, que parte do estoque existente,
apresenta qualidade deficiente e que as construtoras apresentam dificuldades em se
adequar aos parâmetros de custo e qualidade exigidos pelo atual PMCMV.
De acordo com o Ministério das Cidades, no Brasil o Sistema Nacional de
Habitação de Interesse Social (SNHIS) foi instituído pela Lei Federal nº 11.124 de 16
de junho de 2005 e tem como objetivo principal implementar políticas e programas
que promovam o acesso à moradia digna para a população de baixa renda, que
28
compõe a quase totalidade do déficit habitacional do país. Além disso, esse sistema
centraliza todos os programas e projetos destinados às HIS, sendo integrado pelos
seguintes órgãos e entidades: Ministério das Cidades, Conselho Gestor do Fundo
Nacional de Habitação de Interesse Social, Caixa Econômica Federal, Conselho das
Cidades, Conselhos, Órgãos e Instituições da Administração Pública direta e indireta
dos Estados, Distrito Federal e Municípios, relacionados às questões urbanas e
habitacionais, entidades privadas que desempenham atividades na área habitacional
e agentes financeiros autorizados pelo Conselho Monetário Nacional (MINISTÉRIO
DAS CIDADES, 2015).
2.2.1.1 Umidade
2.2.1.1.1 Eflorescência
2.2.1.1.2 Fungos
De acordo com Tortora et al. (2005 apud Guerra, 2012), os fungos mais
típicos são popularmente conhecidos como bolores e formam uma massa visível
chamada de micélio, composta de longos filamentos, denominados hifas, que se
ramificam e se expandem. Os bolores obtêm seus alimentos absorvendo soluções
de matéria orgânica de seu ambiente.
36
Segundo Peres (2004), fissuras e trincas são pequenas aberturas que podem
surgir tanto na estrutura como nos revestimentos de uma edificação. Em geral,
considera-se fissura a abertura até 0,5 mm de espessura e trincas aquelas que
variam de 0,5 a 1,5 mm de espessura.
Já Zanni (2008), define trinca como toda a fragmentação produzida em um
elemento com característica estrutural, que o divide em duas ou mais partes e
fissura como toda fragmentação produzida em um elemento não estrutural.
Entre as diversas manifestações patológicas apresentadas nas edificações,
Thomaz (1989 apud LANNES, 2011) destaca as fissuras como sendo a mais
importante devido a três aspectos: o aviso de algum problema sério na estrutura, o
comprometimento do desempenho da obra em serviço e o constrangimento
psicológico que a fissuração exerce sobre seus usuários.
Azevedo e Guerra (2009) informam que nos casos de ocorrência de fissuras,
trincas e rachaduras, é fundamental caracterizar sua natureza, ou seja, determinar
se elas são ativas (vivas), ou inativas (mortas), mais precisamente, se a abertura
delas varia ou permanece constante ao longo do tempo. Para estes autores as
causas possíveis envolvem algum tipo de movimentação, seja do edifício em geral,
entre elementos e/ou componentes construtivos que geram nos materiais tensões,
geralmente de tração e, em alguns casos, cisalhamento. As causas mais frequentes
citadas por eles são: movimentação das fundações; movimentação higrotérmica;
movimentação por sobrecarga; movimentação por deformação excessiva da
estrutura; movimentação por retração de produtos à base de cimento; movimentação
por reação química dos materiais; dentre outras (vibrações naturais ou artificiais,
impactos acidentais etc.).
Torres (2013) classifica as fissuras segundo a forma e direção:
a) segundo a forma: isoladas; disseminadas/mapeadas (em forma de rede de
fissuras) como mostrado na figura 10;
41
2.2.1.4 Sujidade
2.3.1.1 Walkthrough
Walkthrough é uma palavra da língua inglesa que pode ser traduzida como
passeio, entrevista acompanhado. Rheingantz et al. (2009) define como um método
de análise que combina simultaneamente uma observação com uma entrevista,
sendo muito utilizado na avaliação de desempenho do ambiente construído e na
programação arquitetônica. De acordo com estes autores, este percurso dialogado
complementado por fotografias, croquis gerais e gravação de áudio e de vídeo,
dentre outras técnicas de registro, possibilita que os observadores se familiarizem
com a edificação, com sua construção, com seu estado de conservação e com seus
usos e façam uma identificação descritiva dos aspectos negativos e positivos dos
ambientes analisados.
De acordo com Brill et al. (1985 apud RHEINGANTZ et al., 2009), quando o
método é utilizado em sua forma mais estruturada, são utilizados dois tipos de
grupos:
a) grupos de tarefas: compostos pelos líderes de grupo que planejam,
conduzem e relatam o processo de walkthrough. Durante a walkthrough,
um membro conduz o trajeto e faz perguntas geradoras de comentários.
Um segundo membro registra os comentários e notas, bem como onde
cada problema se localiza. O terceiro fica responsável pelas fotografias e
pela ordenação e registro dos comentários;
53
2.3.1.2 Entrevista
entre 0 e 24 anos. Verificou-se também que as regiões do estado mais atingidas são
a Metropolitana, Sul e Vale do Rio dos Sinos. O estudo contribuiu para que a Caixa
Econômica Federal estabeleça regras quanto à qualidade do material e técnicas
construtivas a serem empregadas na construção e aquisição de novos imóveis
através de financiamento, garantindo seu desempenho ao longo do tempo.
Resende (2004) destacou a importância da fachada para o edifício, uma vez
que ela constitui a fronteira entre o ambiente interno e externo e possuem funções
relacionadas à estética e à habitabilidade (proteção térmica, acústica,
estanqueidade, segurança estrutural, etc.).
Os revestimentos tradicionalmente utilizados nas fachadas de edificações são
os argamassados, cerâmicos e pétreos. Nas habitações direcionadas à população
de baixa renda os revestimentos externos são predominantemente executados em
argamassa.
Silva (2007) analisou as manifestações patológicas que interferem nos
revestimentos argamassados das fachadas de três edifícios residenciais com
múltiplos pavimentos, executados com sistemas construtivos convencionais em
Florianópolis/SC. O trabalho buscou demonstrar que as manifestações patológicas
encontradas não estão somente vinculadas à qualidade do reboco, mas, sobretudo,
às falhas de projeto e de execução, bem como à falta de manutenção nos sistemas
estruturais e em elementos construtivos, tais como calhas, lajes de cobertura,
pingadeiras, box de banheiros e paredes externas.
A degradação das fachadas de conjuntos habitacionais foi o tema do estudo
de Braga (2010). Os três conjuntos analisados em seus estudos são
empreendimentos da prefeitura da cidade do Recife/PE e possuem quatro
pavimentos. Foram observadas manifestações patológicas relativas ao uso da
pintura sobre revestimento de argamassa e realizado um estudo comparativo entre
os conjuntos. A metodologia utilizada, em primeiro lugar, foi uma adaptação de
Lichtenstein (1986), com a utilização secundária dos métodos da incidência e da
intensidade para auxiliar no registro e contabilização das ocorrências. Foram
registradas manifestações patológicas dos planos verticais de 172 fachadas, são
elas: fungos, fissuras, empolamentos da pintura, descoloração, manchas de
corrosão, eflorescências, manchas na pintura, descolamentos da pintura,
desagregamentos do tijolo e manchas de umidade no tijolo.
60
oito apartamentos cada. Neste estudo foram considerados não somente as unidades
habitacionais e seus edifícios, mas também sua circunvizinhança, a infraestrutura,
os serviços, a escola e as áreas livres do conjunto, aplicando os conceitos e
procedimentos metodológicos de APO, com o objetivo de aperfeiçoar esses
procedimentos e de experimentar técnicas pouco empregadas nas já desenvolvidas.
Basicamente, utilizaram aplicação de questionários aos usuários dos edifícios,
entrevistas com os técnicos da companhia habitacional, mapas comportamentais (e
de atividades) aplicados às áreas livres, vistorias técnicas, medições in loco e
grupos focais para o caso das crianças da escola.
Dentre outros aspectos, a avaliação técnica vinculou-se às manifestações
patológicas dos aspectos construtivos existentes nos edifícios que compõem o
conjunto habitacional. Os resultados encontrados foram comparados com a opinião
dos usuários a respeito das questões, sendo elaborado um diagnóstico baseado na
avaliação dos técnicos e na avaliação dos usuários.
Do ponto de vista técnico, as fachadas de todos os blocos avaliados
apresentaram diversos problemas originários de deficiências de projeto, como é o
caso das pingadeiras e dos pinos de fixação das janelas nas fachadas; de
construção, como é o caso do traço da argamassa, que provavelmente sofreu sérias
alterações durante a etapa de obra; e, finalmente, do uso e da manutenção em
pingadeiras, pinos e fachadas. Sintetizando, as fachadas apresentam problemas
técnicos de projeto, de execução e de uso e operação.
Neste conjunto habitacional estudado por Roméro e Ornstein (2003) existem
duas populações com origens diferenciadas. Na percepção dos usuários oriundos
das inscrições regulares, foi verificado que para 55% a manutenção das fachadas é
ótima e boa, e para 43%, é ruim e péssima. Já para os usuários oriundos das
favelas, a situação é inversa, ou seja, para 64% a manutenção é ruim e péssima, e
para 44% é boa e ótima. Valendo ressaltar que as tendências nas opiniões da
população oriunda da favela são mais coincidentes com as opiniões dos técnicos.
Salvati (2011) realizou um trabalho de APO em três edifícios residenciais em
alvenaria estrutural na cidade de Santa Maria/RS, com a intenção de verificar o
desempenho dos mesmos e as reais necessidades dos ocupantes. Foi realizada
avaliação técnica e comportamental, compreendendo os aspectos funcionais,
construtivos, conforto ambiental e manifestações patológicas.
62
3 Metodologia
A seleção dos residenciais para a pesquisa atual foi baseada nos seguintes
parâmetros:
a) tipologia construtiva;
b) zonas de localização;
c) quantitativo de incidência de manifestação patológica determinado na
pesquisa anterior;
d) acesso dos pesquisadores aos locais para realização dos levantamentos e
entrevistas.
65
Figura 25 - Ficha para análise de cada manifestação patológica do Residencial Solar das Palmeiras.
Figura 26 – Exemplo de planilha utilizada para reestruturar os dados coletados nos levantamentos
técnicos.
A A
BLOCO B
BLOCO D
BLOCO C
BLOCO A
Área verde
c/ bancos e
churrasqueiras
Reservatórios
Área verde c/
bancos e
churrasqueiras
Bicicletário
A A
BLOCO B
Área verde
com bancos BLOCO C
Área verde
BLOCO A com bancos
A A
Bicicletário
Figura 36 – Vista geral dos blocos, área verde e Figura 37 – Vista geral dos blocos, vias de
estacionamento. acesso e estacionamento.
81
Figura 38 – Vista frontal de bloco com espaço Figura 39 – Espaços intercalados para carros e
para estacionamento. motos.
Figura 42 – Salão de festas e área para convívio Figura 43 – Quadra esportiva e playground.
com churrasqueiras.
5 Resultados
5.1.1 Fissuras/Trincas
FISSURAS/TRINCAS
45% 41%
40%
34%
35%
30%
25% 22%
20%
15%
10%
5% 3%
0%
Horizontal Vertical Inclinada Mapeada
Figura 45 – Gráfico do percentual dos diversos tipos de fissuras existentes nas fachadas do
Residencial Solar das Palmeiras.
representa 56% das fissuras, enquanto que a fissura na direção vertical responde
por 14% das formas de fissuração, seguida de fissuras inclinadas com 12% das
ocorrências. Os resultados da presente pesquisa corroboram com os dados do autor
citado, pois ele também aponta a fissuração como principal problema e os tipos de
fissuras na mesma ordem decrescente de frequência: horizontal, vertical e inclinada.
No Residencial Solar das Palmeiras observou-se o aparecimento aleatório de
fissuras horizontais e verticais no revestimento (Figura 46).
Assinala-se, também, a presença de fissuras horizontais nos pontos de
contato de lajes e alvenarias que passam por ciclos de sol e chuva (Figura 47),
ocorrência que pode ser explicada pela diferença de coeficientes de dilatação
térmica dos materiais e pelas distintas dilatações provocadas pela maior ou menor
capacidade de absorver água.
5.1.2 Umidade
Figura 55 – Fungos nas superfícies do peitoril da Figura 56 – Fungos na direção em que a água
janela. escorre.
5.1.3 Sujidades
Solar das Palmeiras, são 300 moradias que no decorrer dos anos vão sendo
reformadas, sendo a colocação de revestimentos cerâmicos uma alternativa
econômica para os usuários. Em consequência desta característica do
empreendimento e da falta de regulamentação, os problemas com sujidades nos
revestimentos são intensificados, porque o corte de pisos é executado próximo as
paredes externas dos blocos, gerando partículas avermelhadas, que quando
encontram superfícies úmidas nas fachadas, facilmente formam áreas de
aglutinação, conforme mostram as figuras 67 e 68. Inclusive, durante as visitas
técnicas presenciou-se a realização deste procedimento próximo às fachadas.
0,60
0,40
0,20
0,00
Fachada Oeste Fachada Leste Fachada Sul Fachada Norte
Fachadas principais Fachadas laterais
Figura 79 – Gráfico com o número de manifestações patológicas por m² nas fachadas do Residencial
Solar das Palmeiras, de acordo com a orientação solar.
FISSURAS/TRINCAS
50% 47%
45% 41%
39%
40%
34%
35%
30%
25% 22%
20%
15% 11%
10%
5% 3% 3%
0%
Horizontal Vertical Inclinada Mapeada
Descolamento
- 2,6% - 3,8% 0,1% 2,2% - 1,8%
de revestimento
50%
40%
30%
23%
20%
8%
10% 6%
0%
Fissuras/Trincas Umidade Descolamento Sujidade
revestimento
Figura 83 – Gráfico do percentual de incidência das manifestações patológicas existentes nas
fachadas do Residencial Paraíso.
5.2.1 Fissuras/Trincas
FISSURAS/TRINCAS
60%
51%
50%
40%
30%
30%
20% 16%
10%
2%
0%
Horizontal Vertical Inclinada Mapeada
Figura 84 – Gráfico do percentual dos diversos tipos de fissuras existentes nas fachadas do
Residencial Paraíso.
Figura 85 – Fissura horizontal e fissura vertical no Figura 86 – Fissura horizontal típica nos casos
revestimento. de expansão da argamassa de assentamento.
5.2.2 Umidade
Figura 102 – Vegetações localizadas na calha do Figura 103 – Vegetações junto à viga de
telhado. fundação.
Figura 104 – Limos no alinhamento de tubos de Figura 105 – Apresentação de limos nas
queda de água pluviais. fachadas.
Figura 106 – Musgos revestindo a viga de Figura 107 – Presença de musgos e fungos na
fundação. laje de entrada dos blocos.
Figura 108 – Manchas de umidade abaixo Figura 109 – Descolamentos com empolamento e
da instalação de floreiras. eflorescências na laje da entrada do bloco.
Figura 112 – Descascamento da pintura na viga Figura 113 – Descascamento da pintura no peitoril.
de fundação.
Figura 118 – Descolamento em placa resultante Figura 119 – Descolamento em placa na aresta da
da instalação de cabos. parede devido a impacto.
114
5.2.4 Sujidades
Figura 126 – Sujidade gerada pelo escorrimento Figura 127 – Escrita executada na fachada do
de elemento orgânico. residencial.
Figura 128 – Manchas de corrosão junto aos Figura 129 – Mancha de corrosão devida à oxidação
aparelhos de ar condicionado. nos elementos de fixação do ar condicionado.
Figura 130 – Manchas de corrosão Figura 131 – Mancha de corrosão causada pela
decorrentes da oxidação da grade de oxidação do varal se secagem de roupas.
proteção da janela.
0,80
0,61
0,60
0,40
0,20
0,00
Fachada Norte Fachada Sul Fachada Oeste Fachada Leste
Fachadas principais Fachadas laterais
Figura 132 – Gráfico com o número de manifestações patológicas por m² nas fachadas do
Residencial Paraíso, de acordo com a orientação solar.
Fissuras/Trincas 50 6113
Umidade 25 2199
FISSURAS/TRINCAS
70% 66%
60%
51%
50%
40%
30% 32%
30%
20% 16%
10%
2% 2%
0%
0%
Horizontal Vertical Inclinada Mapeada
Descolamento
12% 9% 9% 9% - 8% - 7%
de revestimento
Descolamento
revestimento
Umidade
31%
Fissuras/Trincas
33%
36%
Figura 136 – Porcentagem das manifestações patológicas, de acordo com a relevância dada pelo
usuário do Residencial Solar das Palmeiras.
16
14
12
10 Menos
Mais ou Menos
8
Mais
6
0
Lavagem Pintura Reparo revestimento
28%
Pintura
34% Lavagem
Reparo revestimento
38%
Figura 139 – Intervenção de limpeza realizada por morador do bloco “D” em fachada dos fundos do
Residencial Solar das Palmeiras.
27% 23%
50%
14%
Descolamento revestimento
17%
Sujidade
Fissuras/Trincas
31%
Umidade
38%
Figura 141 – Porcentagem das manifestações patológicas, de acordo com a relevância dada pelo
usuário no Residencial Paraíso.
20
15
Menos
Mais ou Menos
10 Mais
0
Lavagem Pintura Reparo revestimento
23%
Pintura
37% Reparo revestimento
Lavagem
40%
imagens das figuras 144 a 147 mostram fachadas com orientação sul, onde paredes
de alguns apartamentos do 1º e 2º pavimentos, que são mais acessíveis para
manutenções, foram lavadas por iniciativa dos moradores. Nestas imagens fica clara
a diferença entre as partes que foram lavadas e as que não foram.
Figura 144 – Parte da fachada dos fundos do Figura 145 – Parte da fachada frontal do bloco
bloco “A” do Residencial Paraíso lavada por “B” do Residencial Paraíso lavada por moradores
morador. dos primeiros andares.
Figura 146 – Parte da fachada frontal do bloco Figura 147 – Parte da fachada frontal do bloco
“B” do Residencial Paraíso lavada por morador. “C” do Residencial Paraíso lavada por morador.
23% 20%
57%
fachadas oeste e norte nos distintos estudos. Concernente à umidade, a fachada sul
apresenta maior frequência de problemas do que todas as outras fachadas em
ambos os levantamentos.
Referências
ANDRADE, T.; SILVA, A. J. C. Patologia das Estruturas. In: ISAIA, Geraldo Cechella
(Ed.). Concreto: ensino, pesquisa e realizações. São Paulo: IBRACON, 2005. 2v.
cap.32, p.953-983.