You are on page 1of 134

Geologia e Geofísica do Petróleo

Brasília-DF.
Elaboração

Daniela de Melo Apoluceno

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação................................................................................................................................... 4

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa...................................................................... 5

Introdução...................................................................................................................................... 7

Unidade i
GEOLOGIA GERAL................................................................................................................................ 9

Capítulo 1
A Geologia como Ciência e a Busca da Compreensão do Planeta Terra.................... 9

capítulo 2
Tempo Geológico............................................................................................................. 14

capítulo 3
Formação e Evolução da Terra...................................................................................... 21

capítulo 4
Tectônica de Placas e Noções de Geologia Estrutural............................................... 32

capítulo 5
Minerais, rochas e ciclo das rochas............................................................................. 47

capítulo 6
Rochas sedimentares: processos e ambientes deposicionais........................................ 62

Unidade iI
GEOLOGIA dE petrÓleo................................................................................................................... 68

capítulo 1
Rochas geradoras e fatores que condicionam a geração
de hidrocarbonetos......................................................................................................... 70

capítulo 2
Rochas reservatório e carreadora............................................................................... 77

capítulo 3
Trapeamento de hidrocarbonetos e rochas selantes ou capeadoras ...................... 81

capítulo 4
Trinômio Geração – Migração – Acumulação ............................................................ 82
capítulo 5
Potencial de hidrocarbonetos nas bacias sedimentares brasileiras e noções de
reservas.............................................................................................................................. 84

Unidade iII
GEOfÍsica dE petrÓleo.................................................................................................................... 91

capítulo 1
Propriedades físicas de rochas e fluidos....................................................................... 92

capítulo 2
Perfilagem de poços........................................................................................................ 97

capítulo 3
Métodos potenciais: magnetometria e gravimetria, métodos elétricos................... 109

capítulo 4
Métodos Sísmicos............................................................................................................ 117

Para (não) finalizar..................................................................................................................... 133

referências................................................................................................................................... 134
Apresentação
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

7
Introdução
Para quem deseja trabalhar ou se especializar na indústria do petróleo e gás, é de fundamental
importância o conhecimento acerca dos processos envolvidos na deposição das rochas e das
diversas propriedades geológicas utilizadas para a compreensão de jazidas de hidrocarbonetos,
além dos métodos geofísicos empregados na sua descoberta e monitoramento ao longo do tempo de
exploração da jazida.

Este caderno se propõe, por meio de uma leitura fácil e interativa, explicar os principais elementos
da Geologia e Geofísica do Petróleo. Para tal, na unidade I, vamos falar sobre a Geologia geral, os
princípios do estudo geológico, a composição e a formação das rochas, até chegarmos ao capitulo
6, no qual veremos as rochas sedimentares, cujo entendimento constitui a base da Geologia do
Petróleo. A unidade II é dedicada à Geologia do Petróleo e iremos falar sobre as características das
rochas geradoras, selantes e reservatórios, o trinômio geração – migração – acumulação, além de
explicar os parâmetros petrofísicos utilizados na caracterização de rochas reservatórios. Na unidade
III, para finalizar este caderno, veremos os métodos geofísicos utilizados na indústria de petróleo.

Na elaboração deste caderno, procurei explicar os termos científicos e técnicos de maneira clara
e espero que ele seja um guia na sua formação, contribuindo para o desenvolvimento dos seus
conhecimentos e fornecendo o embasamento necessário à compreensão da importância Geologia e
da Geofísica para a prática da atividade como Engenheiro de Petróleo e Gás.

Objetivos
»» Prover o embasamento geológico e geofísico necessário ao engenheiro de petróleo e
gás, no que se refere à compreensão e o conhecimento dos termos técnicos. Visando
fornecer ao profissional o entendimento dos conceitos geológicos e geofísicos, que
são fundamentais na indústria petrolífera.

8
GEOLOGIA GERAL Unidade i

Capítulo 1
A Geologia como Ciência e a Busca da
Compreensão do Planeta Terra

“Puisque je doute, je pense; puisque je pense, j’existe”, traduzido do francês, da


publicação original “Discours de la Méthode” (1637), para o latim “Cogito, ergo
sum”, a célebre frase é traduzida para o português como “Penso, logo existo”. René
Descartes, filósofo e matemático francês.

Geologia
Do grego: geo (terra) e logos (conhecimento, palavra, razão).

A Geologia é a ciência que procura decifrar a história evolutiva da Terra, desde a sua formação até
o presente, a partir do estudo das rochas. A Geologia estuda a constituição e estrutura da Terra, os
fenômenos que se desenvolvem na crosta, seus mecanismos e suas causas, fornecendo subsídios
para que outras ciências investiguem a interação desses fenômenos com o clima ou a vida na
Terra, por exemplo. Mas a Geologia, apesar de ser considerada uma ciência exata, é uma ciência
fundamentada principalmente no elemento TEMPO, e assim, pode também ser considerada, em
sua essência, uma ciência que investiga a história.

A importância do estudo da geologia


A Terra é o princípio de todas as atividades humanas. Assim, se somente focarmos no desenvolvimento
social e econômico de uma sociedade, podemos afirmar que a sua capacidade de obtenção de
matéria-prima e recursos energéticos está diretamente ligada aos conhecimentos geológicos.
Entretanto, outra questão é de fundamental importância para o homem: compreender e refletir
sobre si mesmo e sobre o mundo ao seu redor. Se a frase “Penso, logo existo” remete à condição
humana no tempo presente, é implícito à natureza humana a sede de conhecimento a respeito do
seu passado, principalmente para poder entender a sua posição no seu habitat presente e futuro.
Veremos ao longo desta unidade que os processos geológicos além de moldar a geografia do planeta,
determinando a evolução de oceanos e montanhas, por exemplo, têm influência direta no clima da

9
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

Terra e, desta maneira, o estudo da Geologia está intrinsecamente relacionado à compreensão do


nosso habitat.

E quais são os princípios do estudo da Geologia?

O objetivo de toda ciência é explicar como o Universo funciona e como toda ciência, a Geologia
segue um método científico.

»» Método científico: metodologia de pesquisa baseada em observações e experimentos


e no conceito de que os eventos físicos têm explicações físicas mesmo se estas estão
atualmente fora da nossa capacidade de entendimento.

Figura 1 – Desenvolvimento do método científico. Processo científico: Contínua descoberta e compartilhamento


de evidências para confirmar, descartar ou revisar hipóteses, teorias e modelos.

Observações e
experimentos
Acaso

HIPÓTESE

Não
Mudanças
Revisar
Confirmada?
ou
Sim
Descartar

TEORIA

Não
Mudanças
Revisar
Confirmada?

ou
Sim
Descartar

MODELO CIENTÍFICO

Mudanças

De acordo com Press et.al. 2006.

10
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

A Geologia como ciência


“O resultado, portanto, de nossa presente investigação é que não encontramos
nenhum vestígio de um começo, nenhuma perspectiva do fim”. Do livro “Theory of
the Earth” (1788), de James Hutton, médico e geólogo escocês, ao se referir à ação
dos processos geológicos.

Questões geológicas já intrigavam filósofos gregos, como Xenófanes (V a.C) e Aristóteles (IV a.C). E
no século XV, Leonardo da Vinci (1452-1519) reconheceu a natureza orgânica dos fósseis, atentando
para o fato de que se os fósseis marinhos são encontrados atualmente em rochas acima do nível do
mar isto indicaria que a Terra havia sido elevada ou que o nível do mar havia abaixado. Mas, até
os séculos XVII e XVIII, predominava o conceito do ser humano como o centro do Universo, e a
história evolutiva da Terra era estudada basicamente de acordo com as escrituras bíblicas.

Pode-se atribuir a Nicolau Steno (1638-1686) o estabelecimento dos primeiros princípios geológicos
cujo reconhecimento perdura até os dias de hoje. Os princípios de Steno, por vezes são denominados,
regem as relações temporais e espaciais entre sequências de rochas sedimentares. São os princípios
da: superposição, horizontalidade original e continuidade lateral. Quando formos discutir acerca
dos métodos relativos de datação geológica, no capítulo seguinte, vamos falar mais detalhadamente
desses princípios. Mas, o clima intelectual ainda permanecia o mesmo e o conceito bíblico continuava
influenciando as primeiras tentativas de esclarecer a evolução geológica da Terra, e conceitos como
o netunismo, que atribuía a formação de todas as rochas à separação das terras e águas durante a
Criação, estabelecido na segunda metade do século XVIII, perdurou até cerca de 1840.

A consolidação da Geologia como ciência só ocorreu como consequência de dois grandes movimentos:
o Iluminismo, (movimento cultural do século XVIII, na Europa), que permitiu substituir as
explicações sobrenaturais por leis naturais para explicar fenômenos da natureza, e a Revolução
Industrial, que a aumentou a procura por matérias primas e recursos energéticos, exigindo maior
conhecimento geológico. E o embasamento dessa consolidação veio dos estudos de James Hutton,
naturalista escocês (1726-1797), que atribuiu uma origem para as rochas ígneas, fundamentando o
conceito de plutonismo, oposto ao netunismo, além de fornecer subsídios para a Geologia moderna
ao constatar que a história evolutiva da Terra era mais longa e complexa do que se imaginava até
então, com a introdução do princípio de causas naturais. Mediante o princípio, Hutton argumentou
que todo o registro geológico pode ser atribuído à ação de processos atuantes atualmente, como
erosão, sedimentação, vulcanismo, sem a intervenção divina.

No século XIX, o princípio de causas naturais é popularizado sob o prisma do uniformitarismo


pelo escocês Sir Charles Lyell (1797-1875), ao publicar o clássico “Principles of Geology”. O
uniformitarismo pode ser resumido na frase “O presente é a chave do passado”.

Entretanto, atualmente sabemos que a intensidade e a natureza dos processos atuantes na Terra variam
ao longo do tempo e que nem todos os fenômenos geológicos significativos podem ser observados
nos dias de hoje. Também temos o conhecimento para afirmar que nem todos os eventos geológicos
ocorrem de forma lenta e que a longa evolução da Terra é marcada por eventos extremos e raros, que
envolvem mudanças rápidas. Desta maneira, o conceito de atualismo é mais aceito hoje para explicar

11
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

o princípio das causas naturais. Este conceito é similar ao uniformitarismo, se baseando na afirmação
da continuidade das leis naturais que regem a Terra, mas ele aceita que as condições geológicas que
reinavam a época dos diferentes registros geológicos (rochas) poderiam ser diferentes das atuais.

Assim, podemos afirmar que, nos dias de hoje, a Geologia é embasada no conceito do atualismo. O
presente continua sendo a chave do passado, pois continuamos estudando os processos geológicos
análogos atuais para entender os processos que originaram as diferentes rochas que descrevemos,
mas temos o conhecimento necessário, inclusive por meio da interação com outras ciências, como
a física, a química e a biologia, para compreender que existem diferenças entre os processos
geológicos ao longo do tempo evolutivo da Terra. Na realidade, o estudo das rochas e dos fósseis
nos mostram que o passado nunca foi exatamente igual ao presente, considerando como tempo
presente os registros feitos pelo homem desde que existe documentação escrita há cerca de 6 mil
anos de historia da civilização humana. Sabemos que os processos geológicos ocorrem numa vasta
gama de escalas espacial e temporal, um vulcão pode entrar em erupção rapidamente e uma falha
geológica pode abrir uma fenda no solo durante um terremoto, mas eventos como o soerguimento
de uma montanha ou a abertura de um oceano levam milhões de anos.

Quadro 1 – Principais componentes e fontes de energia do sistema Terra.

A energia solar energiza esses componentes


Atmosfera: invólucro gasoso que se estende desde a superfície terrestre até uma altitude de cerca de 100 km
Hidrosfera: Esfera de água compreendendo os oceanos, lagos, rios e a água subterrânea
Biosfera: toda matéria orgânica relacionada à vida próxima à superfície terrestre
O calor interno da Terra energiza esses componentes
espessa camada rochosa externa da Terra sólida que compreende a crosta e a parte inferior do manto até uma
Litosfera:
profundidade média de cerca de 100 km; forma as placas tectônicas
fina camada dúctil do manto sob a litosfera que se deforma para acomodar os movimentos horizontais e verticais das
Astenosfera:
placas tectônicas
manto sob a astenosfera, estendendo-se desde cerca de 400 km até o limite núcleo-manto
Manto inferior
(cerca de 2.900 km de profundidade)

camada líquida composta predominantemente de ferro liquefeito, estendendo-se desde cerca


Núcleo externo:
de 2.900 km até 5.150 km de profundidade

esfera mais interna constituída predominantemente de ferro sólido, estendendo-se desde cerca
Núcleo interno:
de 5.150 km até o centro da Terra (cerca de 6.400 km de profundidade)

Fonte: de acordo com Press et.al. (2006).

Mas, a Geologia não pode ser vista como uma ciência que busca entender somente eventos passados.
A Geologia moderna deve estudar todo o intervalo da história da Terra, contribuindo para uma
visão integrada ao dinamismo do nosso planeta, visto que os processos geológicos são os principais
agentes modificadores da Terra. Assim, atualmente, outro enfoque também tem sido dado ao estudo
da Geologia, buscando entender a Terra como um conjunto, como um sistema de componentes
interativos, um sistema aberto que troca energia e massa com seu entorno. Essa visão engloba no
sistema Terra todas as partes do nosso planeta e suas interações, dividindo esse sistema em três
geossistemas globais: o sistema do clima, o sistema de placas tectônicas e o sistema do geodinâmico
(PRESS et.al., 2006).

12
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

O sistema do clima envolve grandes trocas de massa e energia entre a atmosfera e a hidrosfera,
interferindo diretamente na biosfera (organismos vivos), sendo todos esses componentes energizados
pela energia solar. Mas, veremos que o sistema do clima interage diretamente com os dois outros
geossistemas. Os sistemas de placas tectônicas e do geodínamos são, por sua vez, energizados pelo
calor interno da Terra. O sistema de placas tectônicas, governado por movimentações de placas,
englobando o manto, a astenosfera e a litosfera (subdivisões do interior da Terra), é responsável pela
grande maioria dos eventos geológicos como vulcanismos e terremotos. E o sistema do geodínamo
ocorre no núcleo da Terra (núcleo interno e externo), e responde pelo campo magnético terrestre.

No capítulo III, vamos falar mais da formação e da importância do sistema do geodínamo. No capítulo
IV, vamos descrever o sistema de placas tectônicas e então voltaremos, após descrever detalhadamente
os sistemas do geodínamo e de placas tectônicas, a falar das interações entre os geossistemas e vamos
compreender a importância dessas interações com o clima e com a vida na Terra.

Lembra que falamos que a Geologia pode ser considerada também uma ciência
histórica devido à importância do elemento TEMPO?

Isso ocorre porque, ao contrário das outras ciências exatas, a Geologia busca
desvendar por meio de estudo das rochas fenômenos que ocorreram há milhares,
milhões ou mesmo bilhões de anos atrás. A questão é que as rochas são registros
esparsos e incompletos, o que torna a investigação geológica bastante complicada.

Para estudar os eventos passados, por meio da descrição das rochas, a Geologia utiliza uma
padronização no tempo, mediante a elaboração de uma escala de tempo geológico, que é adotada
no mundo inteiro. A definição de tempo geológico e da escala adotada atualmente é discutida no
capítulo seguinte.

Quais foram os principais eventos utilizados para decifrar a história da Terra?

13
capítulo 2
Tempo Geológico

Uma escala de tempo baseada na evolução


da Terra
A escala do tempo geológico divide o tempo da Terra em éons, eras, períodos, épocas e idades.
Vamos ver quais foram os critérios utilizados para classificar o tempo evolutivo da Terra e como
evoluiu esse conhecimento sobre o tempo geológico. Mas, inicialmente, podemos falar que o tempo
geológico é baseado nos principais eventos geológicos e/ou biológicos que marcaram a evolução da
Terra desde a sua formação, há 4,56 bilhões de anos até o presente.

Para compreender o tempo geológico, os autores Teixeira et.al. (2008) no livro Decifrando a Terra,
fizeram uma equivalência interessante ao distribuir os principais eventos que marcaram o tempo
evolutivo da Terra, como se eles tiverem ocorrido ao longo de um ano. Fazendo um resumo desta
comparação, temos o seguinte:

Equivalência da idade da Terra (4,6 bilhões de anos) em um ano (365 dias):

»» Rochas mais antigas fevereiro;

»» Mais antigas evidências de vida março;

»» Diversificação dos eucariontes meio de outubro;

»» Invertebrados simples meio de novembro;

»» Domínio dos dinossauros do meio ao fim de dezembro;

»» Homo Sapiens última noite do ano.

Essa comparação nos permite perceber o quão curta é a nossa existência em relação ao tempo da
Terra. Mas, podemos ir mais além, nos questionando quanto à evolução da vida e aos fatores que
levaram a Terra a essa história evolutiva.

Será que o conhecimento geológico pode esclarecer alguns fatos relacionados ou


condicionantes desta evolução?

A figura seguinte resume o tempo geológico, fazendo uma associação com os eventos biológicos
dominantes em cada idade:

14
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

Figura 2 – A fita e a espiral do tempo geológico

(Grotzinger et. al.; 2007; www.caveofthemounds.com)

15
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

Apesar de existirem controvérsias quanto às idades das divisões do tempo geológico, a escala do
tempo geológico associando os eventos que marcaram cada uma das divisões é bem representada
no quadro a seguir:

Quadro 2 – A escala do tempo geológico, considerando os eventos geológicos e biológicos. Informalmente,


alguns autores ainda dividem o éon Arqueano, acrescentando o éon Hardeano, para idades anteriores a 4
bilhões de anos, antes do registro mais antigo de rochas terrestres.
Éon Era Período Época Eventos Idade (Ma)

Holoceno Fim da Era do Gelo e expansão da


civilização humana 0,01-presente
Quaternário
Cenozóico

Pleistoceno Inicio da Era do Gelo


1,8-0,01
Plioceno Clima frio e seco, extinção dos grandes mamíferos,
aparece o Homo Habilis 5,3-1,8
Mioceno
24-5,3
Terciário Oligoceno
33-24
Eoceno
54-33
Fanerozóico

Paleoceno Domínio dos mamíferos, angiospermas


(plantas com flores) e insetos 65-54
Cretáceo Extinção dos dinossauros
Mesozóico

Surgem as plantas com flores 142-65


Jurássico Separação América do Sul e África
200-142
Triássico Inicia a fragmentação do Pangea,
Domínio dos dinossauros 251-200
Permiano Primeiros répteis gigantes e extinção
Paleozóico

dos trilobitas 290-251


Carbonífero Primeiros répteis, florestas pantanosas
propiciam primeiros depósitos de carvão 359-290
Devoniano Continentes colidem formando o Pangea
Surgem os anfíbios, plantas com sementes 417-359
Siluriano Plantas vasculares
443-417
Ordoviciano Surgimento de plantas não vasculares e
peixes no meio aquático 495-443
Cambriano Explosão adaptativa de invertebrados com
conchas e carapaças 545-495
Mais antigas evidências de invertebrados
Arqueano Proterozóico

simples, sem conchas ou carapaças 1.000-545


Surgem os primeiros eucariontes
2.000-1.000
Primeira evidência de clima glacial em
grande escala

2.500-2.000
Consolidação final dos primeiros grandes
continentes 3.500-2.500
Mais antigas rochas preservadas na Terra
e mais antigas evidências de vida 4.000-3.500
Formação e diferenciação da Terra
Formação da atmosfera e hidrosfera
4.560-4.000

Adaptada de Teixeira et.al.(2008).

Mas, como foi definida a escala de tempo geológico e como ela é medida?

16
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

Os métodos de datação e a definição da


escala de tempo geológico
A geocronologia é o ramo da Geologia que trata de datação de rochas, sendo baseada em dois métodos.

»» RELATIVO – utiliza métodos de medição do tempo geológico que fornecem idades


relativas, como métodos químicos orgânicos e inorgânicos, métodos biológicos ou
paleontológicos e métodos estratigráficos. Os métodos químicos estabelecem a
alteração química de uma amostra com o tempo. A estratigrafia estuda os estratos,
suas relações e a sucessão dos eventos no tempo. A paleontologia é embasada na
descrição de fósseis, que são restos e vestígios de animais e plantas preservados
nas rochas, representativos de cada período geológico. E os métodos biológicos são
baseados na taxa de crescimento de organismos em relação ao substrato no qual os
organismos se desenvolvem (anéis e taxas de crescimento).

»» ABSOLUTO – fornece idades absolutas, sendo baseado em métodos radioisotópicos


que medem a taxa de desintegração atômica de uma amostra, ou seja, o tempo
necessário para a transformação de um elemento químico em outro, pela mudança
de número atômico, em decorrência da perda de elétrons e energia. Este método
pode ser utilizado também em associação com o método paleomagnético, que
estuda os padrões de inversão dos polos magnéticos.

As primeiras datações relativas foram baseadas na aplicação dos princípios de Steno no


estudo de fósseis, ainda na transição entre os séculos XVIII e XIX, pelo inglês William Smith
e os franceses Cuvier e Brongniart. Os princípios de Steno de superposição, horizontalidade
original e continuidade lateral de sequências sedimentares definem condições de deposição dos
estratos obedecendo as seguintes premissas: sedimentos se depositam em camadas, as mais
velhas na base e as mais recentes sucessivamente acima, as camadas sucessivas são depositadas
horizontalmente e as camadas são continuas, estendendo-se até as margens das bacias de
deposição ou se afinam lateralmente. Dependendo do meio deposicional, esses princípios não
se aplicam estritamente, mas eles continuam, mesmo atualmente, a serem fundamentais na
análise geológica das relações temporais e espaciais entre corpos sedimentares, embasando
a estratigrafia.

Utilizando esses princípios como base, Smith, na Grã-Bretanha, e Cuvier e Brongniart, na


França, estabeleceram o conceito de correlação fossilífera ou bioestratigráfica ao determinar uma
equivalência temporal entre faunas e floras fósseis iguais descritas em rochas diferentes e distantes
entre si, criando, assim, o princípio da sucessão biótica. Este princípio estabelece que as rochas
contendo fósseis podem ser correlacionadas temporalmente entre si, assumindo que cada tempo
geológico é caracterizado por uma fauna e/ou flora representativas dos organismos que viviam
durante aquele intervalo de tempo.

Surgiram, então, duas teorias para explicar a sucessão de fósseis no registro geológico: o catastrofismo
de Cuvier e a evolução biológica de Charles Darwin. Cuvier defendia que os registros fósseis eram
resultantes de extinções cataclísmicas globais, enquanto Darwin explicava a evolução biológica
como resultado da seleção natural, as extinções representando eventos naturais.

17
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

Figura 3 – Exemplos de fósseis, da esquerda para a direita: (A) amonite, molusco cefalópode que se extinguiu
ao final do Cretáceo. Fonte: Wikipédia; (B) inseto mumificado em âmbar de idade terciária. Fonte: Museus Klaus
Honninger Mitrani; (C) molde da carapaça de um trilobite, que se extiguiu no Paleozóico. Fonte: Science photo
library; (D) pegada de dinossauro em rochas do Triassico, expostas no Museu de Halle (Alemanha).
(A) (B) (C) (D)

—————
1 cm

Princípio utilizado para a correlação fossilífera, e datação relativa, segundo Grotzinger et.al. (2007).

Fonte: <www.noticias.terra.com.br>.

Utilizando o princípio da sucessão biótica, os geólogos europeus no século XIX definiram os períodos da
escala de tempo geológico ainda hoje adotada para a sequência Fanerozoica (Cambriano, Ordoviciano,
Siluriano, Devoniano, Carbonífero, Permiano, Triássico, Jurássico, Cretáceo, Terciário e Quaternário).
E também subdividiram alguns destes períodos em épocas e unidades menores. Semelhanças e
diferenças entre os fósseis permitiram agrupar esses períodos nas Eras Paleozoica, Mesozoica e
Cenozoica, delimitadas pelas grandes extinções do fim do Permiano e Cretáceo, respectivamente.
Desta maneira, ficou definida praticamente a escala de tempo geológico do Cambriano em diante.
Entretanto, ainda tratava-se de uma datação relativa, não sendo possível estabelecer no século XIX o
tempo envolvido entre um período e outro, ou seja, quanto uma rocha seria antiga que a outra.

Por que os geólogos do século XIX só conseguiram identificar os períodos mais


recentes que o Cambriano?

18
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

Como visto anteriormente, os geólogos do século XIX conseguiram estabelecer a escala de


tempo geológica, ainda atualmente utilizada, somente para os períodos após o Cambriano. Essa
classificação só foi possibilitada pela grande quantidade de registros fósseis nas rochas mais novas
que o Cambriano, pois os fósseis anteriores ao Cambriano são menores e pouco preservados no
registro sedimentar. Então, a pergunta que deveríamos fazer não é porque eles conseguiram somente
identificar os períodos mais recentes que o Cambriano, mas porque o registro fóssil do Fanerozoico
é tão distinto do registro do pré-cambriano? Para isto, temos que entender a evolução da biosfera
da Terra, e vamos discorrer sobre esse tema no item 3.4, mais adiante.

O escasso registro fóssil dos períodos pré-cambrianos, portanto, não permitiu que as rochas mais
antigas fossem identificadas pelos cientistas do século XIX. Até o inicio do século XX, as várias
tentativas para estimar a idade da Terra eram baseadas na acumulação de sedimentos e de sal
nos oceanos, e chegavam a uma idade máxima de 1526 milhões de anos, como podemos ver na no
quadro que se segue:

Quadro 3 – Tentativas de estimar a idade da Terra, antes da descoberta dos métodos radiométricos.

Espessura (m) Taxa sedimentar


Idade estimada
Ano Autor de sedimentos utilizada
(milhões de anos)
considerada (cm/1000 anos)
1860 Phillips 21.960 22,9 96
1869 Huxley 30.500 30,5 100
1871 Haughton 54.024 3,54 1526
1878 Haughton 54.024 - 200
1883 Winchell - - 3
Valores diferenbtes para rochas dásticas e rochas
1893 Walcott 35-80
químicas
Tempo necessário para salinizar os mares, originalmente
1899 Joly 90
de água doce
34
102.400 (Fanerozóico e Proterozóico)
1909 Sallas (fanerozóico e 305 + 17 (Arqueano, estimado)
Proterozóico) + 29 (lacunas no registro):
Total = 80

Fonte: Segundo Teixeira et.al.(2008).

As idades pré-cambrianas só foram identificadas mais tarde, no inicio do século XX, com a
descoberta da radioatividade e o desenvolvimento de técnicas de datação radiométricas das rochas,
estabelecendo o método de datação absoluta, que permitiu, entre outros feitos, estabelecer a idade
da Terra em 4,56 bilhões de anos.

Para entender a utilização dos métodos radiométricos para datar as rochas, temos que entender
alguns conceitos. Como veremos mais detalhadamente adiante, as rochas são formadas de minerais,
que por sua vez, têm uma composição química especifica. Os elementos químicos constituintes dos
minerais são formados de átomos e os métodos de datação absoluta são baseados no decaimento
radioativo, que é uma reação espontânea que ocorre no núcleo do átomo instável, conhecido como
elemento-pai, que se transforma em um átomo estável ou elemento-filho. Durante o decaimento

19
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

radioativo, cada elemento-pai leva um determinado tempo para se transformar em elemento-filho,


sendo essa taxa de desintegração denominada constante de desintegração. A metade do tempo para
essa transformação é chamada de meia-vida. O conhecimento da meia-vida dos vários isótopos e
a medição da razão entre os isótopos na amostra de rocha permite a datação da rocha em questão.

Os métodos radiométricos mais comumente utilizados na geocronologia são: K-40Ar (Potássio-


40

Argônio), 87Rb-87Sr (Rubídio-Estrôncio), U-Pb (Urânio-Chumbo), 207Pb-206Pb e 147Sm-143Nd (Samário-


Neodímio). A escolha do método radiométrico depende principalmente da composição química
da rocha a ser datada e da sua provável idade. Todos os métodos exigem laboratórios químicos
especializados e as razões entre os isótopos são determinadas num equipamento denominado
espectrômetro de massa. O método do C14 é aplicado em registros geológicos e biológicos mais
jovens, pois a meia-vida do isótopo é de apenas 5.730 anos, fazendo com que este método seja
bastante utilizado na Arqueologia e nos estudos climáticos e oceanográficos.

Quadro 4 – Isótopos mais utilizados em datações radiométricas.

Elemento-Pai (Radioativo) Elemento-Filho (Estável) Meia-Vida (bilhões de anos)


Potássio 40 ( K)
40
Argônio 40 ( Ar)
40
1,3
Rubídio 87 (87 Rb) Estrôncio 87 (87 Sr) 48,8
Samário 147 (147 Sm) Neodímio 143 (143 Nd) 106
Tório 232 (232 Th) Chumbo 208 (208 Pb) 14,01
Urânio 235 (235 U) Chumbo 207 (207 Pb) 0,704
Urânio 238 ( 238
U) Chumbo 207 ( 207
Pb) 4,47
Rênio 187 (187 Re) Ósmio 187 (187 Os) 42,3
Fonte: Teixeira et.al. (2008).

As datações radiométricas permitiram a determinação da idade da Terra e as eras geológicas


foram agrupadas nos éons Arqueano e Proterozóico, para as sequencias anteriores ao Cambriano,
e Fanerozoico, para as idades mais recentes. Os diferentes períodos e épocas foram datados e
subdivididos. Ainda existem muitas controvérsias quanto às datações e subdivisões das épocas em
andares são adotadas localmente, mas as grandes divisões e a ordem de grandeza das datas adotadas
na tabela do tempo geológico apresentada na figura 4 são globalmente aceitas.

E você, já conseguiu responder as questões anteriores? Se o tempo geológico está


intrinsecamente relacionado aos eventos biológicos, podemos nos questionar também
se os eventos geológicos podem ter tido uma influência na evolução biológica?

20
capítulo 3
Formação e Evolução da Terra

Das teorias acerca da formação do


nosso planeta
Se a Geologia tem como objetivo estudar o planeta Terra, compreender a sua formação e evolução
exige um conhecimento acerca do nosso Universo e do sistema solar. A teoria mais aceita postula
que o Universo tenha sido originado por uma grande explosão cósmica, o Big Ben, que ocorreu há
cerca de 13 a 14 bilhões de anos atrás. Antes disso, toda a matéria (e energia) estava concentrada em
um único ponto de enorme densidade e a partir do Big Ben, o Universo, num processo contínuo de
expansão, formou ao longo do tempo as galáxias e estrelas, inclusive o nosso sistema solar.

A hipótese da nebulosa, elaborada pelo filósofo alemão Kant, em 1755 e retomada recentemente
pelos astrônomos, propõe que o sistema solar tenha se originado a partir da rotação lenta de uma
nuvem difusa constituída de gases, principalmente hidrogênio, hélio e poeira fina. A força da
gravidade teria provocado a atração entre corpos devido a suas massas, resultando numa contração
da nuvem e na aceleração da rotação das partículas, formando um disco achatado com matéria
concentrada em seu centro, acumulando-se como uma protoestrela, que seria a origem do nosso sol
(Figura 4). Uma grande parte da matéria da nebulosa ficou concentrada na protoestrela, que ficou
envolvida por uma nuvem de gás e poeira, a nebulosa solar. A atração gravitacional foi responsável
pela agregação de poeira e material condensado em pequenos blocos ou planetesimais de cerca de
1 km. Esses planetesimais, por sua vez, colidiram e se agregaram, formando corpos maiores, sendo
que os maiores dentre eles, com maior atração gravitacional, foram se agregando para formar os
nove planetas do sistema solar. Os quatro planetas interiores (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte)
têm composição diferentes dos planetas exteriores (Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão). Os
planetas interiores são pequenos e constituídos de rochas e metais, enquanto os quatro gigantes
exteriores são formados de gelo e gases, e Plutão, o mais distante, é uma bola gelada de metano,
água e rocha. Isso ocorre devido à proximidade dos planetas interiores ao sol, o fluxo de calor
impelindo a maior parte dos gases e líquidos leves que havia nesses planetas. Os planetas interiores
são separados dos exteriores por um cinturão de asteroides.

Assim, estima-se que a formação da Terra ocorreu por meio de um processo semelhante ao dos
meteoritos, envolvendo a acreção de material da poeira cósmica que colidiam no protoplaneta
Terra por efeito da atração gravitacional. Esse processo foi gradativamente elevando a temperatura
e aumentando a massa da terra, pelo fato de agregar materiais residuais da nebulosa. A partir da
datação radiométrica dos meteoritos que foram encontrados na Terra e que são interpretados como
formados ao mesmo tempo dos planetas interiores, foi estabelecida a idade do início do processo
de acreção destes planetas do sistema solar, inclusive a Terra, em cerca de 4,56 bilhões de anos.
Cálculos indicam que os planetas interiores tenham adquirido seu tamanho atual em menos de 100
milhões de anos.

21
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

Figura 4 – A evolução dos planetas (Grotzinger et. al.; 2007) e o sistema solar

Fontre: Teixeira et.al., 2008.

Mas, no início a Terra era formada por um aglomerado de material quente, uma massa rochosa
indistinta, sem atmosfera ou hidrosfera, bombardeada frequentemente por impactos de uma
chuva de poeira cósmica, meteoritos e cometas (bólidos) de várias composições e tamanhos.
Estima-se que esses impactos de corpos que formaram crateras maiores que 500 km de diâmetro
tenham durado até cerca de 500 milhões de anos. Não temos registro deste período geológico,
pois as rochas terrestres mais antigas preservadas, o Gnaisse Acasta (Canadá) datam de um pouco
mais de 4 bilhões de anos. Por isso, alguns sugerem informalmente, para o período anterior a
esse evento, o nome de éon Hadeano ou fase cósmica para esse período de evolução da Terra.
Veremos a seguir, como a Terra evoluiu dessa massa rochosa indistinta para o planeta no qual
vivemos atualmente.

22
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

A estruturação do planeta e a
sua composição
O protoplaneta Terra era constituído de uma massa rochosa primordial, que sofria impactos
constantes de planetesimais e de corpos maiores nessa fase inicial, sendo a energia resultante dessas
colisões equivalentes à energia de milhões de bombas nucleares. Parte dessa energia cinética foi
convertida em calor e o aumento da temperatura foi um dos fatores mais importantes para a evolução
da Terra, pois permitiu que o ponto de fusão de alguns elementos constituinte do protoplaneta fosse
atingido, ocasionando a fusão do ferro, níquel e silicatos. A fusão da massa rochosa primordial
permitiu que esse material fosse submetido ao processo de diferenciação.

Figura 5 – Estrutura interna da Terra. Este modelo foi obtido a partir das velocidades de ondas sísmicas, cujas
diferenças nas velocidades de propagação (Vp, para ondas P, e Vs, para ondas S) são mostradas na figura da
parte inferior.

Fonte: Teixeira et.al. (2008).

A diferenciação é responsável pela subdivisão do interior da Terra segundo a densidade dos


elementos químicos que a constituem em três grandes zonas: núcleo, manto e crosta, do centro
para a superfície, respectivamente. O ferro e o níquel que são os mais densos se movem ao centro
da Terra, enquanto os elementos com densidade média, como os silicatos associados ao magnésio
ocupam a zona média da terra, e os silicatos menos densos atingem a temperatura de solidificação
na parte mais externa. Desta maneira, segundo o modelo atualmente aceito, a Terra apresenta um

23
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

denso núcleo composto principalmente de ferro e níquel, uma crosta formada de rochas mais leves
e um manto residual entre ambos (Figura 6).

Figura 6 – Modelo atualmente aceito para a variação da densidade com a profundidade no interior da Terra
e para a composição química dos núcleos interno e externo (inner e outer core), do manto (mantle) e da
crosta (crust).

Fonte: Grotzinger et.al. (2007).

O conhecimento acerca da subdivisão da Terra em camadas é baseado principalmente no estudo de


propagação de ondas sísmicas no interior da Terra. Milhares de sismógrafos distribuídos ao longo
do mundo permitem aos sismólogos medir com bastante precisão o tempo de trajetória de ondas
sísmicas provocadas por terremotos ou ainda por explosões nucleares. As ondas sísmicas utilizadas
nesse estudo são as ondas P (longitudinal ou compressional) e S (transversal ou cisalhante), que
sofrem refração e reflexão em interfaces entre camadas com velocidade e densidade diferentes, e são
captadas pelos sismógrafos. As velocidades de propagação das ondas sísmicas (Vp, para as ondas P
e Vs, para as ondas S) variam de acordo com a densidade das rochas que compõem cada camada e
de suas resistências à compressão e ao cisalhamento, que dependem da composição e da estrutura
cristalina das rochas. Considerando um mesmo meio de propagação, Vs é cerca de metade da Vp,
sendo que a onda S só se propaga nos meios sólidos. Desta maneira, a não propagação da onda
S numa zona mais externa do núcleo permitiu distinguir esta zona como líquida e subdividir o
núcleo em externo, sólido, e externo, líquido. As camadas e subdivisões do interior da Terra são
separadas entre si por descontinuidades que marcam diferentes comportamentos de Vp e Vs. As
principais destas descontinuidades são aquelas que separam o núcleo do manto (descontinuidade

24
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

de Gutenberg) e o manto da crosta, a descontinuidade de Mohorovicic, comumente denominada


simplesmente Moho, que é caracterizada por uma zona de baixa velocidade sísmica e deve seu nome
ao sismólogo iugoslavo que a descobriu em 1909. Desta maneira, os sismólogos puderam elaborar
o modelo mostrado na figura 9, mas para entender a estrutura e composição dessas camadas, os
cientistas devem associar esse modelo sismológico a outros estudos geológicos.

A crosta, camada mais externa da Terra, é subdividida em crosta oceânica e crosta continental.
A crosta oceânica é menos espessa, apresentando cerca de 7 km de espessura. Ela mostra uma
velocidade sísmica média de 7 km/s, sendo composta essencialmente de basalto e gabro (rochas
ígneas máficas – mais ricas em magnésio e ferro) recobertos de sedimentos. A crosta continental
é mais espessa, podendo variar de cerca de 40 km de espessura embaixo dos continentes ou ainda
chegar a 70 km de espessura embaixo de altas montanhas. Ela é composta principalmente de
granitos (rochas ígneas intrusivas félsicas – mais ricas em sódio, potássio e sílica), mas apresenta
uma grande variedade de rochas sedimentares e metamórficas, o que confere uma velocidade média
de propagação das ondas inferior à da crosta oceânica (6 km/s). De uma maneira geral, a oceânica
é constituída principalmente de Silício e Magnésio (SIMA, mais densa), enquanto a continental é
formada predominantemente de Silício e Alumínio (SIAL, mais leve). Ambas são menos densas que
o manto superior, composto principalmente de peridotito (rocha ígnea ultramáfica – mais rica em
ferro, magnésio e cálcio) que apresenta uma velocidade sísmica média de 8 km/s.

Atualmente, os conhecimentos acerca das diferentes zonas do interior da Terra permitem caracterizar
de maneira bastante precisa o núcleo, apesar de se tratarem de inferências baseadas em modelos e
na propagação de ondas sísmicas.

Figura 7 – Mecanismos de correntes de convecção: (a) na astenosfera; (b) no manto.

Fonte: Teixeira et.al. (2008).

O modelo mais aceito para explicar a movimentação de material no interior da Terra é o de


correntes de convecção (Figura 7). As correntes de convecção são movimentos de ascensão de
calor provocados pela composição e pelo estado físico de cada uma das subdivisões do interior da
Terra. Essas correntes funcionam similarmente a convecção de calor dentro de uma chaleira de

25
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

água fervente, o material mais quente sobe enquanto o mais frio desloca-se para o fundo. Segundo
a teoria, essas correntes são responsáveis por movimentações importantes no núcleo e no manto.
Voltaremos a falar dessas correntes de convecção no capítulo de tectônica de placas e para descrever
o sistema do geodínamo.

Mas, o que é o sistema do geodínamo e como ele funciona?

O sistema do geodínamo
Como vimos no item anterior, o núcleo da Terra é constituído de Ferro e Níquel e apresenta uma parte
interior sólida (núcleo interno) e uma parte exterior líquida (núcleo externo). Como sabemos que a
fusão de cada elemento químico depende da temperatura e da profundidade (pressão) as quais esse
elemento é submetido, o modelo mais aceito para explicar este fato é baseado em cálculos teóricos
que mostram que a temperatura do geoterma (curva que define a variação entre a temperatura e a
profundidade no interior da Terra) é superior a do solidus do ferro (curva que define a variação do
ponto de fusão do elemento) no núcleo externo, permitindo que este permaneça em estado líquido
(Figura 8). A composição e a fluidez do núcleo externo são responsáveis pelo sistema de geodínamo.

Figura 8 – Variação do geoterma e do solidus do ferro com a profundidade e temperatura da Terra.

Fonte: Segundo Teixeira et.al. (2008).

O sistema do geodínamo envolve os processos responsáveis pela geração do campo magnético


terrestre. Estes processos se desenvolvem no núcleo externo por meio da atuação de correntes
de convecção de calor (semelhantes àquelas desenvolvidas no manto – Figura 7) que provocam
a movimentação da liga metálica que o compõe. Semelhantemente ao funcionamento de um
dínamo, essa movimentação da liga metálica do núcleo externo foi responsável pela geração do
campo magnético (Figura 9), provavelmente ainda durante as fases finais de diferenciação da

26
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

Terra, e este campo seria mantido pela continuidade da atuação dessas correntes de convecção
na liga metálica do núcleo externo, compondo um sistema autossustentável, que independe de
alimentação externa. Os mecanismos responsáveis por gerar essas correntes de convecção de
calor no núcleo externo podem estar associados ao seu resfriamento/solidificação e conversão em
núcleo interno sólido.

Figura 9 – (A) Representação esquemática do mecanismo de geração do campo magnético dipolar, indicado
pelas linhas de força formadas a partir das correntes de convecção de calor no núcleo. (B) Interação entre o
vento solar e a magnetosfera.
(A) (B)

Fonte: Segundo Teixeira et.al. (2008).

O campo magnético terrestre exerce uma importante função, pois por meio da sua interação com as
emanações de energia solares, ele atua como um escudo que protege a atmosfera terrestre da ação
direta dos ventos e tempestades solares (Figura 9). Parte da energia solar é resultante da conversão
de massa em energia produzida pela fusão nuclear do sol, que continua até hoje. Este processo,
iniciado pela elevação da temperatura da protoestrela, que deu origem ao sol, a milhões de graus, é
uma reação nuclear, em que átomos de hidrogênio sob altíssimas pressão e temperatura fundem-
se gerando átomos de hélio. Uma parte desta energia gerada é emitida sob a forma de luz, como
uma explosão. Modificações repentinas no campo magnético do sol também provocam explosões
na superfície do sol na forma de tempestades solares. Essas partículas emanadas do sol, quando
atingem cerca de 60 mil km de altitude, são desviadas pela magnetosfera terrestre em direção aos
polos. Na atmosfera superior dessas regiões, as partículas solares se chocam com os átomos de
oxigênio e nitrogênio e produzem radiação nos comprimentos de onda do verde e do vermelho,
respectivamente, gerando um efeito luminoso denominado  aurora, cuja intensidade depende da
intensidade da atividade solar. As auroras, que normalmente ocorrem entre 60 km e 150 km de
altitude, recebem o nome de boreais quando ocorrem próximas ao polo norte e austrais quando
próximas ao polo sul. Em casos extremos, as tempestades solares podem causar colapso em
sistemas de distribuição de energia elétrica, panes em satélites, destruir transformadores e circuitos
eletrônicos. As tempestades de menor intensidade podem causar blackouts de radiocomunicação
que afetam diretamente as regiões polares. Atualmente, estima-se que as explosões solares causem
aproximativamente 1 bilhão de dólares em prejuízos e quem mais sofre com essas perdas são as
concessionárias de energia elétrica e equipamentos de satélites, que por estarem em órbita não
recebem a proteção das camadas mais altas da atmosfera, que bloqueiam as partículas solares,
principalmente os raios-x.

27
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

Figura 10 – O campo magnético da Terra funciona como linhas de força. Uma agulha de bússola aponta para o
polo norte geográfico porque ela se orienta na direção da linha de força total.

Fonte: Segundo Grotzinger et.al. (2007).

O campo magnético terrestre funciona como um enorme imã, formado por linhas de força
geomagnéticas que apontam para fora do campo no polo norte magnético e para dentro do campo
no polo sul magnético, comportando-se, portanto, como um campo dipolar (figura 9 e 10), como se
a Terra tivesse no seu centro uma barra magnetizada inclinada cerca de 11° em relação ao seu eixo
N-S. Essa inclinação do campo magnético em relação ao eixo N-S da Terra é chamada declinação
magnética. Esta declinação varia ao longo do tempo geológico, tendo o Norte magnético apresentado
inclusive reversões. As diferentes polaridades do campo magnético, como são denominadas essas
reversões, são determinadas pelo estudo das variações do campo magnético terrestre ao longo do
tempo geológico ou paleomagnetismo terrestre (Figura 11).

Figura 11 – Variações na polaridade do campo magnético terrestre a partir do Cretáceo, e detalhe dessas
variações com os nomes dos eventos para o período de 4,5Ma ao recente.

Fonte: Segundo Grotzinger et.al. (2007).

28
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

O estudo do paleomagnetismo é baseado em medidas do norte magnético da época de consolidação/


solidificação das rochas remanescente nos minerais magnéticos que compõem estas rochas e na
datação das mesmas.

Mas como, o planeta Terra evoluiu a partir de uma massa rochosa para um planeta
vivo com biosfera, atmosfera e hidrosfera?

A evolução do planeta
Como vimos nos capítulos anteriores, a Terra sofreu nos seus primórdios um processo de
diferenciação que possibilitou a sua divisão interna em zonas de composição diferentes. Outro
processo de diferenciação, também ocorrido há mais de 4 bilhões de anos atrás, permitiu, desta vez,
a separação da superfície terrestre em litosfera, hidrosfera e atmosfera. Desde então, a evolução
geológica do planeta é regida pelos seus principais processos, constituintes e modificadores, como
plutonismo, vulcanismo, tectonismo, intemperismo, erosão, entre outros. Nós vamos falar destes
processos mais adiante, mas gostaríamos agora de procurar entender como a Terra evoluiu para um
planeta vivo.

Os cientistas concordam que durante os primeiros 500 milhões de anos da história da Terra, o planeta
era continuamente bombardeado por uma chuva de poeira, meteoritos e cometas de composições e
tamanhos variados, formando crateras de mais de 500 km de diâmetro. Alguns levantam a hipótese
destes impactos terem extinguido qualquer forma de vida que pudesse ter tentado se desenvolver,
tornando-se verdadeiros “eventos esterilizantes”. Esses impactos de grandes dimensões parecem ter
se tornado menos frequentes a partir de 4 bilhões de anos. E se alguns cientistas postulam que essas
colisões foram eventos esterilizantes, muitos afirmam que os choques de meteoritos na fina camada
da crosta recém-formada teria desencadeado fenômenos de vulcanismo primitivo, que liberava lava
e vapor d’água, que ao se condensar originou as primeiras chuvas, ocasionando a diminuição da
temperatura ao longo de milhões de anos e a formação de oceanos primitivos, simultaneamente
com a atmosfera dando origem as primeiras formas de vida nos oceanos. Existe também a teoria de
que a água e outros elementos seriam transportados juntamente com os bólidos que se chocavam
com a Terra.

Vimos que a escala de tempo geológico está intrinsecamente relacionada a eventos biológicos,
pois a evolução da vida no planeta está também relacionada à história evolutiva da Terra, ao
desenvolvimento e à evolução de sua atmosfera e hidrosfera, às modificações climáticas e à ocorrência
de eventos marcantes que modificaram o clima, como o impacto do bólido que ocasionou a grande
extinção em massa que marcou a transição K/T (Cretáceo/Terciário), há cerca de 65 milhões de
anos, responsável pela extinção dos dinossauros. Vamos entender como foi essa evolução?

Durante cerca de 4 bilhões de anos (a grande maioria do tempo geológico), a biosfera da Terra
foi dominada por formas microscópicas de vida procariótica, com reprodução assexuada e taxas
evolutivas lentas. Após 2 bilhões de anos, ainda no éon Proterozoico, surgiram os primeiros
organismos eucariontes, ainda microscópicos. O possível aparecimento da reprodução sexuada

29
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

(há cerca de 1 bilhão de anos) teria levado a uma maior diversidade genética e morfológica, e ao
surgimento dos primeiros metazoários megascópicos. Estes organismos, desprovidos de carapaças
duras, deixaram seus registros como impressões de invertebrados simples de “corpo mole” há cerca
de 590 M.a., ficando conhecidos como a Fauna de Ediacara.

Quadro 5 – Contrastes entre a evolução biológica Fanerozoica e pré-Cambriana.

Atributo Evolução biológica fanerozóica Evolução biológica pré-cambriana


15% do registro fóssil: 85% do registro fóssil:
Duração do período considerado
545 milhões de anos 2.900 milhões de anos
Procariotos unicelulares a coloniais,
Eucariotos multicelulares e megascópicos:
Natureza dos organismos dominantes microscópicos: basctérias, cianobactérias e
metazoários e plantas
arquebactérias
Dependência dos organismos dominantes em Independentes (anaeróbicos) ou
Obrigatoriamente dependentes (aeróbicos)
oxigênio facultativamente aeróbicos
Reprodução Sexuada Assexuada
Modo de vida/populações Especialistas, relativamente poucos indivíduos Generalistas, muitos indivíduos
Modo evolutivo (aspecto mais afetado) Morfológico (órgãos, tecidos) Intracelular-bioquímico-metabólico
Rápido. Espécies de curta duração. Extinções e
Ritmo evolutivo Lento. Espécies de longa duração
radiações sucessivas
Fonte: Segundo Teixeira et.al.(2008).

Posteriormente, entre 545 e 525 milhões de anos, um evento chamado de explosão cambriana (ou
ainda, big bang evolutivo - Figura 2) marcou uma grande proliferação e diversificação dos primeiros
animais e algas capazes de secretar partes duras de calcita, fosfato, sílica etc., deixando um registro
fóssil importante. Este fato explica porque os cientistas do século XIX, baseados na descrição de
rochas sedimentares, não conseguiram identificar eventos fossilíferos anteriores ao Cambriano e,
desta maneira, limitaram a datação relativa estabelecida inicialmente para a determinação escala de
tempo geológico somente para rochas posteriores ao Cambriano.

Assim, foi somente no éon Fanerozoico, que representa apenas 1/8 do tempo geológico, que os
organismos eucarióticos de tamanho macroscópico, morfologia mais complexa, reprodução sexuada
e taxas evolutivas mais elevadas, evoluíram e passaram a predominar. Os cientistas percebem,
ainda, que o modo e ritmo da evolução foram modificados com a expansão global e explosiva dos
animais no Fanerozoico (Quadro 5).

Eventos de extinção e diversificação dos eucariontes macroscópicos e microscópicos (microalgas,


protista etc.) marcam a evolução da biosfera terrestre. Além do evento denominado K-T (65 M.a)
, que marca a transição entre os períodos Cretáceo e Terciário ou ainda, a transição entre as eras
Mesozoica e Cenozoica, caracterizadas pelo domínio dos grandes répteis (como os dinossauros) e
dos mamíferos, respectivamente, os cientistas identificam ainda outros quatro grandes eventos de
extinção de massa, que ocorrem a aproximadamente 443, 359, 251, 200 milhões de anos (Figura
3). Entretanto, nos ecossistemas dos mares pré-cambrianos, surgiram a maioria dos processos
metabólicos necessários à vida, como a fotossíntese, que há pelo menos 2,7 bilhões de anos, atua
no sentido de formar compostos orgânicos e liberar oxigênio na atmosfera a partir de dióxido de
carbono e água.

30
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

Os eventos de extinção em massa parecem estar associados principalmente a modificações


importantes no clima global, que podem ter sido ocasionadas mediante impactos de bólidos, como
é o caso do evento K-T, ou ainda por meio de eventos geológicos de grande magnitude, envolvendo
intenso vulcanismo, colisão ou fragmentação de grandes massas continentais. Esses grandes eventos
geológicos são comprovados por evidências que mostram que a geografia atual dos continentes
representa um arranjo relativamente recente, em se tratando de tempo geológico, entre crosta
continental, crosta oceânica e nível do mar, segundo um processo dinâmico que é descrito por meio
da teoria da tectônica de placas, que é o tema do nosso próximo capítulo.

Será que a configuração dos continentes atuais é a mesma desde a formação do


nosso planeta?

31
capítulo 4
Tectônica de Placas e Noções de
Geologia Estrutural

Tectônica de placas: a teoria unificadora

Tais mudanças nas partes superficiais do globo pareciam, para mim, improváveis
de acontecer se a Terra fosse sólida até o centro. Desse modo, imaginei que as
partes internas poderiam ser um fluido mais denso e de densidade especifica
maior que qualquer outro sólida que conhecemos, que assim poderia nadar no
ou sobre aquele fluido. Desse modo, a superfície da Terra seria uma casca capaz
de ser quebrada e desordenada pelos movimentos violentos do fluido sobre o
qual repousa.

Benjamin Franklin, 1782, em uma carta para o geólogo francês Abbe J.L. Giraud-Soulavie.

A teoria da tectônica de placas é o pilar fundamental da Geologia moderna. Ela explica a grande
maioria dos fenômenos geológicos, tais como vulcanismo, terremotos e formação de cadeias de
montanhas, que se desenvolvem na crosta terrestre. Mas, como surgiu essa teoria e quais são os
métodos científicos utilizados para o seu desenvolvimento?

Segundo o texto acima podemos perceber que a noção de deriva continental é aceita há muito
tempo. Na realidade, desde o final do século XVI, quando foram elaborados os primeiros mapas do
globo, após as grandes descobertas marítimas, os cientistas europeus notaram o encaixe do quebra-
cabeça das linhas costeiras em ambos os lados do Atlântico. No final do século XIX, o geólogo
austríaco Eduard Suess sugeriu que o conjunto dos continentes atuais formara, certa vez, um único
continente gigante, o Gondwana (Figura 12). Mas, se a deriva continental era aceita, os mecanismos
para promover essa deriva não eram claros.

Assim, em 1915, o meteorologista alemão Alfred Wegener deu o primeiro passo importante para
o estabelecimento da teoria da tectônica de placas ao escrever um livro sobre a fragmentação e
deriva dos continentes, baseado em similaridades entre as rochas, estruturas geológicas e fósseis
dos lados opostos do Atlântico (Figura 18), ele utilizou um método cientifico para justificar a
teoria e postulou a existência de um supercontinente, o Pangea. Entretanto, ainda faltava uma
força motora plausível para a fragmentação do Pangea, pois Wegener sugeria que os continentes
flutuavam como barcos sobre a crosta oceânica sólida, arrastados pelas forças das marés, do sol
e da lua. E desta maneira, o autor e sua teoria foram desacreditados pela comunidade cientifica
na época.

32
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

Figura 12 – Pangea e sua divisão em dois continentes, Laurásia a norte e Gondwana o sul, pelo Mar de
Tethys. Segundo

Fonte: Teixeira et.al.(2008).

Figura 13 – Evidências utilizadas por Wegener para embasar a sua teoria: fósseis do réptil Mesosaurus encontrados
no América do Sul e na África, e rochas mais antigas com estruturas geológicas similares encontradas nos
diferentes continentes.

Fonte: Adaptada de Grotzinger et.al. (2007).

O embasamento sólido para a teoria de tectônica de placas surgiu somente após a segunda guerra
mundial, com o mapeamento da Dorsal ou Cordilheira Meso-Atlântica submarina e a descoberta do
vale profundo na forma de fenda. Os geólogos descobriram que a maioria dos terremotos do Oceano
Atlântico estava próxima a esse vale em rifte, caracterizando esta feição como tectonicamente ativa.
A partir de então, vários cientistas começaram a estudar, primeiramente, as rochas que compõem
a crosta oceânica desenvolvida em ambos os lados da Cordilheira Meso-Atlântica e, em seguida, os
fundos oceânicos ao longo da superfície da Terra, compondo assim o embasamento da teoria da
tectônica de placas.

Dentre eles, destaca-se o trabalho de Harry Hess e Robert Dietz (1962) que propuseram que a
crosta separa-se ao longo de riftes nas dorsais mesoceânicas e que o novo fundo oceânico forma-se
pela ascensão de uma nova crosta quente nessas fraturas. Este novo fundo oceânico expande-se

33
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

lateralmente a partir do rifte num processo contínuo de formação de placa, a partir da cordilheira
meso-oceânica. Esse estudo foi corroborado com a descoberta de que as rochas vulcânicas que
constituem essa nova crosta oceânica estão dispostas segundo bandas magnéticas de polaridades
inversas, formando no fundo do assoalho oceânico um padrão zebrado e simétrico em relação à
Cordilheira Meso-Atlântica (Figura 14). As rochas que compõem esse padrão, que está relacionado
com inversões do campo magnético da Terra na época de cristalização dessas rochas, foram datadas,
permitindo constatar que as rochas mais recentes estão mais próximas da cordilheira e que as
rochas são mais antigas segundo o seu afastamento desta cordilheira. Assim, a crosta oceânica pode
ser considerada com uma grande banda magnética em que está registrada a história das inversões
do campo magnético da Terra. E, desta maneira, os cientistas conseguiram reconstituir a idade a
partir das bandas magnéticas reconstruindo a história da formação da crosta oceânica que recobre
os diferentes fundos marinhos e atualmente sabe-se que as rochas mais antigas do fundo oceânico
datam de pouco mais de 180 milhões de anos.

Figura 14 – Bandas magnéticas simétricas constatadas ao longo da Cordilheira Meso-Atlântica

Um navio levando a bordo um magnetômetro ... alternando-se em bandas de alto e baixo


sensível registra as anomalias magnéticas... magnetismo.

Essas bandas magnéticas apresentam uma distribuição simétrica em ambos os


lados da Cordilheira Meso-Atlântica.

Fonte: Adaptada de Grotzinger et.al. (2007).

34
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

Figura 15 – Idades das rochas que compõem os assoalhos oceânicos mostrando o padrão simétrico das bandas
magnéticas desenvolvido em ambos os dados das cordilheiras meso-oceânicas.

Cada banda colorida


representa crosta oceânica
formada no mesmo intervalo
de tempo. As linhas de
tempo de mesma idade são
chamadas isócronas.

Milhões de anos (Ma)


Fonte: Adaptada de Grotzinger et.al. (2007).

Assim, foi encontrada a força motora que separa as placas litosféricas: a subida de material magmático
ou magma, responsável pela abertura do oceano e formação da crosta oceânica, composta de rochas
ígneas cristalizadas que vão sendo empurradas pelas rochas mais novas, continuamente formadas e
com seus minerais metálicos adquirindo a direção do norte magnético da época da sua cristalização,
sendo estes os responsáveis pelas bandas magnéticas com polaridades reversas, indicando inversões
contínuas do campo magnético. Esse processo explica a separação das placas, mas e a formação de
cadeias de montanhas e os vulcanismos associados?

Os estudos subsequentes que consolidaram a teoria da tectônica de placas identificaram três tipos
de limites entre elas: divergente, convergente e transformante. A partir disso, a superfície da Terra
foi dividida, como um mosaico composto de 13 principais placas tectônicas, além de algumas
placas menores. Estas placas, relativamente rígidas, que integram a litosfera e por isso são também
denominadas placas litosféricas, são compostas da crosta (oceânica e continental) e de parte do manto
superior. De acordo com a teoria da tectônica de placas, essas placas se movem sobre a astenosfera,
composta de material rochoso mais plástico, formando um substrato denso que se comporta como
um fluido viscoso, no qual ocorrem deformações plásticas na escala de tempo geológico. Este
comportamento das placas sobre a astenosfera é explicado sob a ótica do princípio da isostasia, que
explica o mecanismo em que uma rocha mais leve flutua sobre um substrato mais denso.

A subida de magma é atribuída à presença de correntes de convecção desenvolvidas no interior


do manto, ocasionadas pela subida de material quente e descida de material frio, mais denso.
Inicialmente, a teoria de tectônica de placas considerava as correntes de convecção como sendo a
única força motora do processo de movimentação de placas, mas atualmente, é mais aceito que o
próprio empuxo das placas, ou seja, o movimento de placas mais densas sob as placas menos densas

35
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

em ambientes convergentes (subducção de placas) seria uma força motora mais plausível. É possível
que esses processos estejam de alguma forma associados, sendo responsáveis pela movimentação
das placas conjuntamente.

Figura 16 – A superfície da Terra representada como um mosaico de 13 principais placas rígidas litosféricas,
mostrando limites divergentes (marcados com setas vermelhas), convergentes (marcados com setas azuis) e
transformantes (marcados com setas amarelas), cujas velocidades de movimento relativo são representadas
pelos números marcados ao lado das setas (em mm/ano).

Fonte: Grotzinger et.al. (2007).

Os limites divergentes são representados, na sua fase mais tardia, pelo desenvolvimento de
oceanos, mas este tipo de limite se instala por meio de um processo chamado rifteamento, que é
desencadeado pela subida do magma e pela ação de forças extensionais (estiramento). O rifteamento
é o desenvolvimento de uma associação de rupturas ou quebras nas rochas (denominadas falhas
geológicas, estruturas que iremos melhor descrever no próximo item deste capítulo) que compõem
a crosta continental (uma placa rígida litosférica única), com padrão relativamente simétrico e
escalonado, na forma de degraus, formando uma depressão mais profunda no eixo da abertura
(Figura 18), podendo alcançar mais de 10km de profundidade. Essa fase inicial pode durar alguns
milhões de anos. Um exemplo atual de um rifte nesta fase é o rifte do leste africano ou Rifte Vale
Africano, que começou a se desenvolver há cerca de 20 Ma atrás e atualmente constitui uma fenda
com aproximadamente 56 km de extensão. Nesta fase de separação de placas nos continentes, o
desenvolvimento de vales em rifte é caracterizado por atividade vulcânica e terremotos distribuídos
sobre uma zona mais larga que a dos centros de expansão oceânicos. O rifteamento é iniciado no
ponto ou junção tríplice, a partir da qual três riftes se desenvolvem formando um ângulo de cerca
de 120º entre eles (Figura 19). Normalmente, dois riftes continuam a se desenvolver e um deles
é abortado nesta fase da evolução da estrutura divergente. A partir desta quebra inicial, as forças
divergentes atuantes puxam as duas partes da placa formadas no sentido oposto e a solidificação

36
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

do magma em ascensão a partir do centro de espalhamento ou dorsal forma a nova crosta oceânica
com padrão simétrico a partir deste. Os riftes que continuam a evoluir passam, então, por uma
fase denominada oceano nascente ou proto-oceano, que é marcada pela entrada da água do mar.
Um exemplo atual desta fase de evolução é o Mar Vermelho. A continuação da evolução do rifte é
o desenvolvimento de um oceano aberto, com a instalação de uma cordilheira meso-oceânica no
centro de espalhamento oceânico e margens continentais passivas em ambos os lados continentais,
como é o caso do Oceano Atlântico e das margens leste do Brasil e oeste da África (Figura 19).
Os riftes de margens passivas constituem bacias sedimentares, cuja deposição dos sedimentos foi
iniciada durante a fase rifte e continuou após com a subida do nível do mar na bacia, como ocorreu
em todas as bacias da costa leste brasileira. Nesta fase final de evolução, os riftes que se encontram
dentro das bacias oceânicas são estreitos e exibem vulcanismo ativo e terremotos.

Figura 17 – Movimentação da placa tectônica (placa litosférica ou litosfera oceânica) sobre a astenosfera, a partir
da dorsal meso- oceânica devido à ascensão de magmas e ao movimento de convecção na astenosfera.

Fonte: Segundo Teixeira et.al.(2008).

Figura 18 – Fases de fragmentação de uma placa continental, desde o início do processo de rifteamento,
desencadeado pela subida do magma (fase A), a instalação do rifte (fase B), a instalação de um proto-oceano
(fase C) e, em seguida, da dorsal meso-oceânica, a abertura do oceano e formação das margens passivas em
ambos os lados da dorsal (fase D).

Fonte: Segundo Teixeira et.al.(2008).

37
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

Figura 19 – Exemplos de junção tríplice no desenvolvimento de dois rifteamentos: o do Golfo de Aden, mais
recente, que mostra a formação do Rifte Vale Africano (fase B da figura anterior), e do Mar Vermelho (fase C), e
da Dorsal Meso-oceânica do Oceano Indico (fase D); e o da fragmentação do Pangea, mais antigo, na figura
mostrando o estágio de rifteamento original antes da formação do Oceano Atlântico.

Fonte: Teixeira et.al.(2008).

Os limites convergentes de placas tectônicas, desencadeados pela ação de forças compressivas, são
acompanhados de intensa atividade tectônica e são responsáveis pela formação de cordilheiras
ou cadeias de montanhas – processo de orogênese. Nestes limites, a placa litosférica mais densa
mergulha sob a placa litosférica menos densa. Esse mergulho de uma placa sob a outra é denominado
subducção, e zona de subducção é a zona em que ocorre o processo entre as duas margens ativas. O
ângulo de mergulho, o vulcanismo associado, as rochas e as feições fisiográficas geradas são função
da natureza e composição das placas envolvidas nas margens ativas, pois esses limites podem se
desenvolver segundo três situações: crosta oceânica x crosta oceânica, crosta continental x crosta
oceânica e crosta continental x crosta continental – (Figura 20).

Na subducção entre duas crostas oceânicas, a placa mais densa, antiga, fria e espessa mergulha
sob a outra placa, em direção ao manto. O processo produz intensa atividade vulcânica de origem
andesítica, normalmente em forma de arquipélagos – arcos de ilhas – situados entre 100 a 400km
atrás da zona de subducção. O exemplo desse tipo de limite são as Ilhas do Japão. Nos limites
entre crosta oceânica e continental, ocorre a subducção da crosta oceânica sob a continental,
devido a primeira ser mais densa. O processo produz um arco magmático na borda do continente,
com atividade vulcânica de origem andesítica e dacítica, e formação de rochas plutônicas,
acompanhados de deformação e metamorfismo, geração de cordilheiras de montanhas continentais
– processo de orogênese. A Cordilheira dos Andes é um exemplo de um processo de orogênese
desenvolvido mediante este tipo de limite, neste caso, entre a Placa de Nazca (crosta oceânica) que
encontra-se em subducção sob a Placa Sul-Americana (crosta continental). Os limites entre duas

38
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

placas continentais podem ocorrer com a continuação de um processo de colisão “tipo Andino”,
em que a crosta oceânica sob a crosta continental leva uma massa continental a submergir sob a
crosta continental e o arco magmático formado inicialmente. Esse processo não gera vulcanismo
expressivo, mas produz intenso metamorfismo e magmatismo granítico. O exemplo deste tipo de
limite convergente é a formação dos Alpes e do Hilamalaia. Este último começou a se formar há
cerca de 70 milhões de anos e continua até o presente, sendo o resultado do encontro das placas
Asiática e Indiana. As principais feições geológicas geradas num limite convergente são: fossa,
prisma de mélange, bacia de antearco, arco e bacia de retroarco (Figura 21). No arco vulcânico,
ocorre a subida do magma gerado pela subducção da placa mergulhante e pelo aquecimento e fusão
das rochas que a compõe, com a entrada da água no sistema diminuindo o ponto de fusão das
rochas. No interior da crosta continental, pode se formar rochas ígneas plutônicas, como batólitos
de granito, nas bacias, principalmente, são depositadas rochas sedimentares, e nos arcos pode ainda
se desenvolver metamorfismo regional (e consequentemente rochas metamórficas) associado à
formação de cadeias de montanhas.

Figura 20 – Os três tipos de limites convergentes.

Fonte: Segundo Teixeira et.al.(2008).

Os limites transformantes, desencadeados pela ação de forças cisalhantes, são conhecidos como
margens conservativas de placas, em que a crosta não é criada nem consumida. Falhas transformantes
são geradas ao longo de cordilheiras meso-oceânicas para acomodar o movimento entre as falhas
do rifte. Os limites transformantes mais conhecidos são: a Falha de Santo Andreas, que tem cerca
de 1300 km de comprimento e largura máxima de algumas dezenas de quilômetros, e está situada
entre as placas Norte-Americana e do Pacifico, apresentando um movimento com velocidade média

39
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

de 5 cm/ano nos últimos 10 milhões de anos; e a Falha Alpina, na Nova Zelândia, entre as placas do
Pacifico e Australiana.

Figura 21 – Perfil de um limite de placa convergente, mostrando as principais feições geológicas formadas e as
rochas relacionadas.

Fonte: Segundo Teixeira et.al.(2008).

O movimento entre as placas ao longo do tempo geológico é denominado “Ciclo de Wilson”, que
controla a abertura e fechamento de bacias oceânicas ou oceanos. A reconstituição da posição dos
continentes ao longo do tempo é normalmente baseada em estudos de paleomagnetismo, e um
resumo desta reconstituição pode ser visto na figura 22.

Figura 22 – Reconstituição da posição dos continentes de 2,0 bilhões de anos até 100 milhões de anos atrás.

Fonte: Segundo Teixeira et.al.(2008).

40
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

Quais são os registros deixados nas rochas pela ação da tectônica de placas?

Geologia estrutural
As rochas que compõem as placas rígidas litosféricas (placas tectônicas) estão
sujeitas a atuação de forças resultantes da tectônica de placas. Mas, que forças são
essas e como as rochas reagem à sua atuação?

A configuração dos continentes terrestres tal qual observamos atualmente mudou ao longo do tempo
geológico e que a distribuição de continentes, oceanos, mares e montanhas depende da movimentação
das placas tectônicas sob a ação de forças compressivas, extensionais ou de cisalhamento. Mas,
além do processo tectônico global de movimentação das placas, as rochas que constituem as placas
nas crostas continental e oceânica se deformam sob a ação dessas forças. Essa deformação ocorre
de acordo com a temperatura e pressão dominantes no ambiente em que as rochas são deformadas,
condições que constituem os domínios de deformação rúptil, sólido plástico ou dúctil e liquido
viscoso (Figura 23). Cada domínio de deformação caracteriza uma resposta diferente do material
rochoso as forças atuantes, resultando em estruturas diferenciadas que são as marcas deixadas nas
rochas dos processos aos quais foram submetidas durante a sua evolução geológica.

Figura 23 – Domínios de deformação em função da pressão e temperatura as quais as rochas estão submetidas

Fonte: Segundo Teixeira et.al.(2008).

As principais estruturas observadas nas rochas devido à atuação de forças tectônicas são falhas e
dobras. As falhas são rupturas ou quebras nas rochas ao longo de um plano com mergulho. Para

41
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

o desenvolvimento de falhas, as rochas normalmente encontram-se no momento da deformação


num domínio de deformação rúptil, ou seja, pressão e temperaturas relativamente baixas (Figura
23). Os elementos geométricos das falhas são: muro (ou lapa), teto (ou capa), escarpa e plano de
falha (Figura 24). Ao longo do plano da falha podem ser observadas estrias que indicam a direção do
movimento relativo entre os blocos de falhas adjacentes. De acordo com este movimento, as falhas são
classificadas em normais, inversas (ou de empurrão), transcorrentes e oblíquas (Figura 24). Cada tipo
de falha indica um estado de tensão atuante: compressivo, distensivo ou cisalhante (Figura 25). Desta
maneira, temos que: as falhas normais, caracterizadas pelo deslizamento do teto em relação ao muro
no sentido do mergulho da falha, desenvolvem-se no estado de tensão distensivo; as falhas inversas,
caracterizadas pelo empurrão do teto sobre o muro com movimento no sentido inverso do mergulho
da falha, são desenvolvidas no estado de tensão compressivo; enquanto as falhas transcorrentes,
caracterizadas pelo movimento relativo entre os blocos horizontal, ocorrem no estado de tensão
cisalhante (Figuras 24 e 25). Esses são os três principais tipos de falhas, mas ainda podemos ter falhas
oblíquas ou lístricas (Figura 24) Assim, de acordo com o tipo de falha observado nas rochas descritas
podemos determinar duas características em relação ao ambiente geológico de desenvolvimento da
estrutura: as condições de pressão e temperatura e o estado de tensão atuante.

Figura 24 – (1) Componentes do rejeito e separação de uma falha; (2) Elementos geométricos de uma falha:
blocos de falha (muro ou lapa e teto ou capa); escarpa e plano de falha; (3) Classificação de falhas segundo o
movimento relativo entre blocos adjacentes e a inclinação do plano de falha: (a) falha normal; (b) falha inversa;
(c) falha transcorrente, (d) oblíqua e (e) lístrica

(1) (2) (3)

Fonte: Segundo Teixeira et.al.(2008).

42
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

Para a caracterização das falhas, é importante determinar a direção do seu plano e o sentido do
seu mergulho (falhas normais e inversas) ou do seu movimento (falhas transcorrentes), além da
diferença entre os blocos adjacentes que caracteriza o movimento relativo entre eles. Este movimento
é caracterizado quantitativamente pelo rejeito e pela separação da falha (Figura 24).

Figura 25 – Estruturas geradas nas rochas segundo o estado de tensão atuante e fotos com exemplos de (a)
dobra, (b) falha normal e (c) falha transcorrente.

(a) (b) (c)


Fonte: Adaptado de Teixeira et.al.(2008) e Grotzinger et.al.(2007).

Além das falhas, as dobras também constituem importantes estruturas para a Geologia de petróleo,
como veremos com detalhe na próxima unidade. Uma dobra é uma deformação em que se
verifica o encurvamento de superfícies originalmente planas. Dobramentos ocorrem no domínio
de deformação sólido plástico (ou dúctil; Figura 23), pois as rochas precisam encontrar-se mais
maleáveis para serem dobradas, ou seja, o desenvolvimento de dobras necessita de condições de

43
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

pressão e temperatura mais elevadas em relação àquelas necessárias para o desenvolvimento de


falhas nesta mesma rocha. A deformação permanente é desenvolvida quando o limite de elasticidade
das rochas é ultrapassado. Assim, em resposta a atuação de um estado de tensão compressivo, acima
do limite de elasticidade das rochas, formam-se as dobras (Figura 25). Existem muitas classificações
para dobras, de acordo com o comportamento dos seus elementos geométricos: plano de perfil,
superfície axial, linha de charneira, linha de inflexão, zona de charneira e flanco (Figura 26).

Figura 26 – Elementos geométricos e diferentes classificações das dobras.

44
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

Fonte: Adaptado de Teixeira et.al.(2008).

Para resumir, segundo o estado de tensão atuante e o domínio de deformação das rochas (pressão e
temperaturas as quais estão sendo submetidas essas rochas durante a atuação das forças), uma rocha
originalmente com acamamento horizontal é deformada, apresentando as seguintes estruturas:
falhas inversas, dobras ou ambas as estruturas, no caso de forças compressivas; falhas normais, sob
a atuação de forças distensivas; falhas transcorrentes ou cisalhamento, no caso de forças cisalhantes
(Figura 25).

45
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

Desta maneira, a interpretação geológica de uma área é baseada na descrição das rochas e das
estruturas que foram desenvolvidas ao longo do tempo geológico, em superfície ou subsuperfície,
utilizando métodos diretos e/ou indiretos de investigação. O objetivo final desta interpretação é a
elaboração de mapas geológicos, que representam num plano horizontal a distribuição das rochas
e estruturas, e de seções geológicas que representam num corte vertical, segundo uma determinada
orientação, a ocorrência e a relação entre as diferentes sequências geológicas e as estruturas que as
afetam (Figura 27).

Figura 27 – Seção geológica NW-SE da Bacia do Recôncavo (BA). As sequências geológicas (rochas com
características e idades diferentes) estão representadas por cores diferentes (Embasamento, Fm. Aliança, Fm.
Sergi, Fm. Itaparica, Mb. Tauá, Fm. Candeias, Arenito maciço e Gr. Ilhas, da base para o topo) e as falhas por
linhas cheias ou tracejadas. O movimento relativo entre blocos adjacentes às falhas é representado por setas que
mostram que essas falhas apresentam rejeito normal (falhas normais e lístricas).

Fonte: Segundo Teixeira et.al.(2008).

Qual a composição das rochas?

46
capítulo 5
Minerais, rochas e ciclo das rochas

Os minerais
Minerais são elementos ou compostos definidos química e estruturalmente, cristalizados
naturalmente por processos geológicos inorgânicos e encontrados em estado natural. A composição
química e a cristalografia do mineral (definida em função do arranjo espacial dos íons que o compõe)
definem a singularidade do mesmo, que recebe um nome específico.

A halita (NaCl), por exemplo, possui um arranjo espacial entre os íons Na+ e Cl- cúbico (Figura
28) e, se a sua cristalização ocorrer em condições geológicas ideais, esse arranjo espacial pode se
manifestar na forma externa do mineral, nesse caso denominado cristal, mostrando assim um
hábito cristalino em cubos, que pode ser geralmente observado nas amostras de halita (Figura 29).

Figura 28 – Arranjo espacial entre os Na+ e Cl- de halita. A cela unitária resulta no hábito cristalino cúbico

Fonte: Modificada de Teixeira et.al. (2008).

Os minerais apresentam composição química constante dentro de certos limites de temperatura e


pressão. Os elementos químicos que os formam estão unidos por meio de diferentes tipos de ligações,
predominando as ligações iônicas, covalentes, metálicas e de Van der Waals. O cristal de halita,
por exemplo, apresenta uma ligação iônica caracterizada pela união de cátions (íons com carga
positiva) e ânions (íons com carga negativa). Nas ligações covalentes, ocorre o compartilhamento
de elétrons (ex: átomos de carbono no diamante), nas ligações metálicas se formam “nuvens de
eléctrons” (ex: ouro, prata, cobre – elementos nativos), enquanto a mais fraca das ligações químicas
é a de Van der Waals, rara de ocorrer nos minerais (ex: grafita, constituída de camadas de átomos
de carbono ligadas de modo covalente unidas entre si por meio de ligações de Van der Waals).
De acordo com a composição química e estrutura cristalina, os minerais podem ser classificados
em polimorfos ou isomorfos. Os polimorfos apresentam mesma composição química, mas os íons
estão organizados de maneira diferentes, ou seja, estruturas cristalinas diferentes, como é o caso do

47
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

grafite e do diamante, ambos compostos de carbono. Os isomorfos apresentam composição química


diferente com estrutura cristalina semelhante (ex: calcita – CaCO3 e siderita – FeCO3).

Figura 29 – Mineral halita em microscópio e amostra de mão (cristal cúbico).

Microscópio
Lâmina delgada

Lupa
Amostra
de mão
__________
1 cm

________
0,2mm

A origem dos minerais está relacionada aos elementos químicos e às condições físicas, como
temperatura e pressão, associados ao seu ambiente de origem. A sua formação pode ser de diferentes
maneiras, a partir de um material em solução, em fusão ou sob a forma de vapor.

Quadro 6 – Constituição mineralógica da crosta continental.

% em
Classe mineral Espécie ou grupo mineral
vol.
feldspatos 58
piroxênios e anfibólios 13
quartzo 11
Silicatos micas,clorita, argilominerais 10
olivina 3
epídoto cianita, andaluzita, sillimanita, 2
granadas, zeólitos etc.
Carbonatos,
Óxidos,
3
Sulfetos,
Halóides etc.
Total 100
Fonte: Segundo Teixeira et.al. (2008).

Os minerais são classificados segundo critérios, sendo os mais utilizados o sistema de cristalização
(minerais cúbicos, por exemplo), o uso do mineral (minérios, gema etc.) e a composição química.

48
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

Segundo esse último critério, os minerais são classificados segundo o ânion ou radical iônico
dominante na sua fórmula química. Desta maneira, têm-se as classes dos elementos nativos (ex:
ouro/Au), dos sulfetos (ex: pirita FeS2), dos óxidos (ex: hematita Fe2O3), dos carbonatos (ex: calcita
CaCO3), dos sulfatos (ex: barita BaSO4), e dos silicatos (ex: quartzo SiO2), dentre outras. A família dos
silicatos, como compõe cerca de 97% dos minerais da crosta continental (Quadro 6), é subdividida
em subclasses de acordo com a razão Si:O dos ânions.

Os minerais são formados de elementos químicos que, segundo o arranjo entre os


seus íons, assumem as diversas formas de cristalização observadas na natureza. Mas,
o que condiciona a formação de um mineral? E como são formadas as rochas?

As rochas: registros de processos geológicos


A litosfera é sólida e constituída de rochas, que podem ser compostas de um único mineral ou de
uma associação de minerais. Além disso, falamos que as rochas podem ser submetidas a vetores de
tensão (forças) devido à atuação de processos tectônicos. Neste capitulo, veremos que os processos
envolvidos na formação das rochas deixam registros que permitem a caracterização do seu ambiente
de origem e ainda que, uma vez formadas, as rochas podem posteriormente, de acordo com a pressão
e temperatura as quais são submetidas, serem modificadas na sua mineralogia e na sua estrutura,
deixando registros que podem ser observados tanto macroscópica quanto microscopicamente.
Ou seja, quando descrevemos uma rocha o que vemos são registros de processos geológicos que
atuaram nela ao longo da sua formação ou posteriormente.

Quanto a sua origem, as rochas podem ser ígneas, metamórficas ou sedimentares (Figura 30).

Figura 30 – Tipos de rochas, material de origem e processos formadores das rochas.

Fonte: Grotzinger et.al. (2007).

As rochas ígneas são formadas pela consolidação/cristalização do magma, matéria mineral em


fusão provinda do interior da terra, que pode ocorrer de três maneiras: cristalização rápida dos
cristais de rocha quando o magma entra em contato com a superfície e, neste caso, as rochas são

49
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

denominadas vulcânicas ou extrusivas, pois se formam pela extrusão do magma por meio das
câmaras magmáticas ou dutos dos vulcões; cristalização lenta de parte das câmaras magmáticas
ou plutons, com a consolidação do magma no interior da crosta, sendo estas chamadas rochas
plutônicas ou intrusivas; ou ainda cristalização próxima à superfície, na forma de diques e soleiras,
no caso das rochas hipoabissais, que são intrusivas (Figura 31).

A composição química e as condições de resfriamento do magma definem a composição mineralógica


das rochas e o tamanho dos seus cristais ou sua matriz (textura), que pode ser afanítica, quando os
cristais são muito pequenos, ou fanerítica, quando os cristais podem ser observados a olho nu.
De uma maneira geral, rochas ígneas vulcânicas ou extrusivas apresentam matriz afanítica devido
à cristalização rápida dos minerais, enquanto as rochas plutônicas ou intrusivas mostram matriz
fanerítica, pois os minerais se cristalizaram mais lentamente. As rochas hipoabissais, cristalizadas
na forma de diques e soleiras, são normalmente afaníticas, mas podem apresentar alguns cristais
maiores dispersos na matriz, caracterizando uma textura porfirítica, ou seja, grãos maiores,
chamados neste caso de pórfiros, dispersos numa matriz fina (Figuras 31 e 32).

Figura 31 – Formação de rochas intrusivas e extrusivas e texturas observadas.

Fonte: Segundo Grotzinger et.al. (2007).

50
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

A nomenclatura das rochas ígneas depende da composição do magma de origem, que define a
composição mineralógica da rocha formada, e do ambiente de cristalização, que define a textura da
rocha (Figura 32). Quanto à sua composição química, o magma pode ser félsico, rico em feldspato
e sílica, ou máfico, rico em magnésio e ferro, com variações como a composição intermediária e a
ultramáfica. Assim, temos rochas com composição equivalente, mas texturas diferentes, afanítica
para uma rocha extrusiva, e fanerítica, para uma rocha intrusiva, como o basalto e o gabro,
respectivamente, rochas de composição máfica, ou seja, formadas essencialmente de plagioclásio
rico em cálcio, piroxênio, olivina e anfibólio (Figura 32).

Figura 32 – Nomenclatura das rochas ígneas de acordo com a composição do magma, de félsico (rico em
feldspato e sílica) até ultramáfico (rico em magnésio e ferro) e forma de cristalização intrusiva ou extrusiva, com os
principais minerais formadores das rochas.

Fonte: Segundo Grotzinger et.al. (2007). E relações entre índice de cor, teor de sílica, composição mineralógica e ambiente
de cristalização para as rochas ígneas mais comuns, de acordo com Teixeira et.al. (2008).

51
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

As rochas sedimentares, por sua vez, são formadas por partículas ou grãos que foram depositados
ou precipitados em bacias sedimentares. Estas rochas podem ser siliciclásticas, carbonáticas ou
químicas. Por constituírem o principal habitat de hidrocarbonetos.

Quanto às rochas metamórficas, elas são caracterizadas por mudanças na mineralogia, textura e
estrutura de rochas preexistentes que foram submetidas a condições de pressão e temperatura
diferentes daquelas de seu ambiente de formação. Esse processo de transformações no estado
sólido é denominado metamorfismo, que não envolve fusão das rochas e sim, recristalização.
No gráfico da figura 39, podemos observar os diferentes campos de modificações das rochas.
Em baixas pressões e temperaturas, temos o processo de diagênese, atuante sobre rochas
sedimentares, enquanto em condições de temperaturas e pressões mais elevadas, temos o campo
metamórfico caracterizado pela formação de rochas metamórficas. A curva de fusão do granito
(rocha ígnea plutônica) em condições anidras marca o inicio do campo ígneo, caracterizado
por temperaturas acima de 900°C e gradiente de pressão crescente. O campo ígneo é marcado
pela fusão das rochas e seu retorno à condição de magma, ou seja, material mineral fundido. A
adição de água no sistema, tornando as rochas hidratadas, diminui a curva de fusão dos minerais
e rochas, e desloca o campo ígneo para condições de temperatura e pressão menos elevadas
(Figura 33).

Figura 33 – Os campo de modificações nas rochas em diagrama P x T. No menor gradiente de P e T, ocorre o


processo de diagênese, que provoca mudanças associadas a rochas sedimentares. O campo metamórfico
indica o desenvolvimento de metamorfismo, enquanto o campo ígneo indica a fusão das rochas (formação
de magma). O asterisco indica condições de pressão mais elevada registradas em rochas atualmente
expostas à superfície. A é a curva de fusão para granitos sob condições hidratadas e B a curva de fusão para
granitos sob condições anidras.

Fonte: Segundo Teixeira et.al. (2008).

Os principais tipos de metamorfismo são: regional, resultante da colisão de placas continentais


num ambiente convergente, associado à formação de cadeias de montanhas, em condições de

52
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

pressões moderadas a muito altas e altas temperaturas; regional de alta pressão, que ocorre ao
longo de cinturões lineares de arcos vulcânicos, sob condições de altas pressões e temperaturas
baixas a intermediárias; de contato, associado a bandas de rochas encaixantes em torno de
câmaras magmáticas e rochas parcialmente fundidas, em condições de altas temperaturas; de
impacto, que ocorre devido ao choque de meteoritos; de soterramento, associado a condições
de temperatura e pressão mais baixas, modificando as rochas sedimentares; de assoalho
oceânico, causado pela percolação de água do mar em centros de expansões das dorsais
oceânicas, causando metamorfismo nos basaltos formados nestes limites divergentes de placas
(Figura 34).

Figura 34 – Os diferentes tipos de metamorfismo: regional, regional de alta pressão, de impacto, de contato, de
fundo oceânico e de soterramento.

Fonte: Segundo Grotzinger et.al. (2007).

Cada tipo de metamorfismo resulta na transformação dos minerais constituintes das rochas
preexistentes em minerais característicos das fácies metamórficas, que dependem da composição
da rocha original e do grau de metamorfismo, ligado às condições de temperatura e pressão (Figura
35). Para rochas originalmente máficas, ou seja, mais ricas em magnésio e ferro, como um gabro
(rocha ígnea intrusiva) ou um basalto (rocha ígnea extrusiva), a associação mineral desenvolvida
pelo metamorfismo de diferentes graus, é diferente daquela de uma rocha originalmente félsica,
mais rica em feldspato e sílica, como o granito ou o riolito (rochas ígneas, intrusiva e extrusiva,
respectivamente – Figura 35). Assim, a nomenclatura das rochas metamórficas depende do grau de
metamorfismo atuante, da rocha original e da textura e mineralogia resultante da transformação
metamórfica (Quadro 6).

53
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

Figura 35 – (A) Graus de metamorfismo de acordo com as pressões e temperaturas atuantes e segundo a
profundidade, e principais rochas geradas, na ordem: ardósia, filito, xisto azul, xisto, gnaisse e migmatito. (B)
As rochas geradas de acordo com as variações de temperatura, pressão e profundidade, e com os tipos de
metamorfismo: zona de subducção, zéolitas e xistos azuis; metamorfismo de contato, cornubianito (hornfels);
condições sob as cadeias de montanhas, xistos azuis e verdes; fusão parcial, anfibolito, granulito e eclogito.
A rocha gerada depende, além das condições ambientais do metamorfismo, da composição da rocha
original. (C) Para rochas com composição máfica, mais ricas em magnésio e ferro, de acordo com o grau de
metamorfismo, são gerados os minerais: zéolita, clorita, epídoto, anfibólio, granada, piroxênio e plagioclásio.
(D) Para rochas com composição félsica, ricas em feldspato e sílica, de acordo com o grau de metamorfismo,
são gerados: clorita, muscovita, biotita, granada, estaurolita, cianita, silimanita e albita (plagioclásio sódico).

(A)

(B)

(C) (D)
Fonte: Segundo Grotzinger et.al. (2007).

54
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

Quadro 7 – Na tabela da parte superior, a nomenclatura de rochas metamórficas de acordo com as


texturas geradas (foliada, granoblástica e porfiroblástica) e suas rochas originais, respectivamente: ardósia,
filito, xisto e gnaisse (folhelho e arenito); cornubianito (folhelhos e vulcânicas), quartzito (arenitos ricos em
quartzo), mármore (calcários e dolomitos), argilito (folhelho), xisto máfico a ultramáfico (basalto), anfibolito e
granulito (folhelho e basalto), ardósia a gnaisse (folhelho). Na parte inferior, os principais minerais de fácies
metamórficas (xisto verde, anfibolito, granulito e eclogito) produzidas por rochas originais de diferentes
composições: a partir de um folhelho (muscovita, clorita, quartzo, albita, granata, estaurolita, cianita,
silimanita, ortoclásio, biotita, piroxênio) e de um basalto (albita, epídoto, clorita, anfibólio, plagioclásio,
feldspato, piroxênio, feldspato e granada).

Fonte: Segundo Grotzinger et.al. (2007).

O ciclo das rochas e sua interação com a


tectônica de placas
As rochas são continuamente modificadas, sendo essas mudanças representadas por meio do ciclo
das rochas (Figura 36), que apesar de ser uma representação esquemática do que pode ocorrer com
as rochas ao longo do tempo geológico, a partir do momento da sua formação como rocha ígnea até
o seu hipotético retorno a condição de magma, é explicativo no que diz respeito ao entendimento
do processo como um todo. Esse ciclo se inicia com a consolidação de rochas ígneas a partir da
cristalização do magma e sua posterior exposição às condições ambientais em superfície.

55
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

Figura 36 – O ciclo das rochas.

Fonte: Segundo Teixeira et.al. (2008).

As rochas quando estão expostas à superfície na forma de afloramentos, são submetidas a diversos
fatores ambientais que fragilizam a sua coesão e rigidez, como diferenças de temperatura ao longo
do dia, águas pluviais e fluviais, gelo e degelo, escavações por raízes de plantas, oxidação dos
minerais ferrosos, entre outros. Esses fatores modificadores provocam o desenvolvimento de
um manto de intemperismo (Figura 36). Intemperismo é o nome do processo que envolve as
mudanças provocadas nas rochas devido às ações química, física e/ou biológica, alterando o seu
aspecto, textura, rigidez e composição, facilitando, assim, a desagregação do material rochoso em
partículas menores que podem formar o solo por meio do processo de pedogênese. As partículas
podem, então, serem erodidas e carreadas por agentes de transporte fluviais, eólicos e glaciais,
por exemplo.

As partículas ou grãos transportados (sedimentos) podem ser depositados, litificados e compactados


e por meio do processo de diagênese, em condições de baixas pressões e temperaturas (Figura 33),
se tornarem rochas sedimentares siliciclásticas. Essas rochas, por sua vez, podem vir a tornarem-
se rochas metamórficas, se forem submetidas a condições de temperatura e pressão mais elevadas
(dentro do campo do metamorfismo; figura 33), e, posteriormente, retornar a forma de material
mineral fundido (magma), ao entrarem em fusão, no campo ígneo, com condições de pressão e
temperatura ainda mais elevadas (Figura 33).

Entretanto, é preciso ressaltar que não somente as rochas ígneas, mas todas as rochas expostas
às condições de superfície estão sujeitas a intemperismo, erosão, transporte etc., além disso,
todas as rochas submetidas ao campo metamórfico sofrem metamorfismo e não somente as
rochas sedimentares, de mesmo em relação ao campo ígneo que provoca fusão em qualquer
material rochoso.

56
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

Figura 37 – O ciclo das rochas é a interação da tectônica de placas e do clima.

Fonte: Press et.al. (2006).

57
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

Desta maneira, para compreender corretamente o ciclo das rochas temos que considerar a sua
interação com a tectônica de placas (Figura 37). Analisando os limites de placas convergentes,
temos que a subducção de uma placa litosférica sob a outra, é responsável de um lado pela
movimentação das rochas da placa mergulhante por meio de diferentes zonas de pressão-
temperatura desde níveis mais rasos até níveis mais profundos da crosta, até o limite de fusão
do material rochoso, facilitada pela entrada de água no sistema que diminui a temperatura de
fusão dos materiais (Figura 33), gerando magma, que pode se cristalizar como rocha plutônica no
interior da crosta ou ainda ascender e extravasar na superfície por meio do desenvolvimento de
vulcanismo, comum nestas condições. Por outro lado, a outra placa litosférica sofre soerguimento,
por meio da elevação de cadeias de montanhas acompanhada pelo desenvolvimento do
metamorfismo regional, que transforma profundamente as rochas preexistentes, como vimos
anteriormente. As rochas que compõem as cadeias montanhosas, principalmente metamórficas e
ígneas extrusivas, devido ao vulcanismo associado, são submetidas a condições ambientais severas
devido às altas altitudes, com o desenvolvimento de geleiras e o degelo que normalmente ocorre
no verão, desagregando e carreando material rochoso erodido montanha abaixo. O sedimento
transportado pode ser depositado em bacias sedimentares, tornando-se rochas sedimentares
siliciclásticas, retomando o ciclo das rochas, pois, ao longo do tempo geológico, estas rochas
sedimentares podem ser expostas se forem soerguidas (e assim, sofrerem intemperismo), ou ainda
se forem soerguidas em cadeias de montanhas, podem sofrer metamorfismo, ou ainda podem ser
subductadas na placa mergulhante tornando-se magma, que pode ascender se consolidando como
rocha ígnea etc.

Dentro do contexto de limites de placas divergentes são formadas rochas ígneas intrusivas e
extrusivas nas cordilheiras meso-oceânicas (constituindo a nova crosta oceânica recém-formada)
e desenvolvido metamorfismo de assoalho oceânico (de pouca extensão) devido à percolação
de águas nessas rochas ígneas, além do estabelecimento de bacias sedimentares de margens
passivas com várias fases de desenvolvimento associadas aos estágios de abertura, desde o
rifteamento inicial (formação do rifte valley, fase rifte) até a instalação de um oceano aberto
(Figura 38).

Mas, o que são bacias sedimentares e como são formadas?

Bacias sedimentares: definição, classificação


e bacias brasileiras
As bacias sedimentares são grandes áreas deprimidas na crosta terrestre, em que se acumularam e
consolidaram rochas sedimentares ao longo do tempo geológico.

Figura 38 – Contexto de desenvolvimento de bacias sedimentares em margens passivas nos limites de placas

58
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

divergentes, desde a formação do rift valley até o estabelecimento do oceano aberto.

Fonte: Grotzinger et.al. (2007).

O desenvolvimento de bacias sedimentares está associado à tectônica de placas e a principal


classificação utilizada é a de Klemme (1980). Esta classificação, baseada no posicionamento
dinâmico das bacias em relação às placas tectônicas, divide as bacias em oito tipos: I – interior
simples; II – interior composta; III – rifte; IV- pequenas bacias oceânicas; V – margens passivas
(pull-apart); VI – subducção; VII – mediana; e VIII – deltas (terciários). Esta classificação foi
adaptada por Szatamari & Porto (1986) de acordo com a idade predominante do preenchimento
sedimentar para as bacias sedimentares brasileiras, que são distribuídas entre os tipos I, II, III,
V e VIII (Figura 39). Dentre as bacias de interior simples (tipo I), destacam-se as grandes bacias
do Solimões, Amazonas, Parnaíba, São Francisco e Paraná. A Bacia do Acre representa o tipo
II, de interior composto. As principais bacias rifte (tipo III) são as bacias de Tacutu, Marajó,
São Luis, Jatobá, Tucano e Recôncavo. As bacias de margem passiva (tipo V) estendem-se norte
a sul: Amapá, Pará, Maranhão, Barreirinhas, Ceara, Potiguar, Paraíba, Pernambuco, Alagoas,
Sergipe, Cumuruxatiba, Mucuri, Espírito Santo, Campos, Santos e Pelotas. A foz do Amazonas
é considerada um exemplo de bacia de delta terciário (tipo VIII). Vamos descrever o contexto
de formação das bacias sedimentares brasileiras cujo desenvolvimento está associado ao limite
de placas divergentes (Figura 38), ou seja, as bacias dos tipos rifte e margem passiva da costa
leste brasileira.

59
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

Figura 39 – Bacias sedimentares brasileiras e a classificação.

Fonte: Szatamari & Porto (1986).

De uma maneira geral, as fases evolutivas do processo de desenvolvimento e de preenchimento


de bacias sedimentares de margens passivas, como é o caso das bacias da margem leste brasileira,
compreendem.

1. uma fase inicial (rifte), marcada por grande atividade tectônica associada à
abertura do rifte, com o desenvolvimento de importantes falhas de abertura da
bacia. Durante esta fase, são depositados principalmente sedimentos siliciclásticos
em ambiente lacustre desenvolvido no lago profundo do rifte valley central. Esses
sedimentos são diferentes nas partes proximais (bordas das falhas dos limites
externos da estrutura do rifte) e nas porções mais interiores, e também nas partes
mais rasas em relação as mais profundas da estrutura, criando após o soterramento
e diagênese uma associação de diferentes rochas na bacia sedimentar. As bacias
brasileiras classificadas como bacias rifte (tipo III) apresentam somente esta fase de
evolução tectonossedimentar (bacias de Tacutu, Marajó, São Luis, Jatobá, Tucano
e Recôncavo);

2. uma fase posterior denominada fase drifte, marcada pela subsidência da plataforma
com o resfriamento e o afinamento da litosfera, e uma relativa calma tectônica em
relação à fase anterior. A fase drifte pode ser subdividida, ainda, na fase transicional,
marcada pela entrada de água do mar na bacia, quando normalmente se precipitam
rochas sedimentares evaporíticas (sais) em ambiente restrito, e na fase denominada
de margem passiva, posterior, marcada pela instalação do oceano aberto.
Comumente, na fase de margem passiva inicialmente ocorre o desenvolvimento
de uma plataforma carbonática rasa (deposição e precipitação de sedimentos
carbonáticos). Com o aumento do nível do mar, esta plataforma é “afogada” e são
depositados sedimentos carbonáticos e siliciclásticos cuja ocorrência e associação
dependem da profundidade da bacia e de eventos de variações do nível do mar e de
disponibilidade de sedimentos. As bacias brasileiras de margem passiva (tipo V)

60
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

correspondem à maioria das bacias da costa leste brasileira (bacias do Amapá, Pará,
Maranhão, Barreirinhas, Ceara, Potiguar, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe,
Cumuruxatiba, Mucuri, Espírito Santo, Campos, Santos e Pelotas).

A sucessão de eventos tectono-sedimentares de uma bacia sedimentar, mostrada pela associação


lateral e vertical das rochas ao longo do tempo geológico, é representada pela sua carta estratigráfica
(Figura 40).

Figura 40 – Carta estratigráfica da Bacia de Campos, representando a evolução tectonossedimentar desta


bacia ao longo do tempo geológico. Essa carta ilustra as variações de preenchimento sedimentar segundo
os diferentes ambientes de deposição desenvolvidos durante as fases tectônicas da bacia (rifte, transicional –
marcada na figura - e de margem passiva).

Fonte: Rangel et. al. (1994).

Como são formadas as rochas que compõem as principais acumulações de óleo?

61
capítulo 6
Rochas sedimentares: processos e
ambientes deposicionais

As rochas sedimentares constituem as principais rochas formadoras e acumuladoras de petróleo.


Falamos inicialmente dessas rochas no capítulo anterior, quando contextualizamos a sua ocorrência
sob a ótica da tectônica de placas e do ciclo das rochas. Mas, quais são os seus ambientes e processos
de formação?

De acordo com a sua origem, essas rochas podem ser classificadas em siliclásticas, evaporíticas ou
carbonáticas, como veremos a seguir:

1. As rochas siliciclásticas são constituídas de partículas erodidas de rochas


preexistentes, transportadas por águas, geleiras e ventos, depositadas, soterradas,
litificadas e cimentadas, apresentando, portanto uma origem clástica. Os processos
envolvidos na sua formação são: intemperismo, erosão, transporte, deposição (ou
sedimentação), soterramento e diagênese (Figura 41);

Figura 41 – Processos associados à formação de rochas siliclásticas.

Fonte: Segundo Grotzinger et.al. (2007).

2. As rochas evaporíticas são formadas pela cristalização e precipitação de íons


dissolvidos em águas supersaturadas devido a evaporação intensa, em ambiente
restrito, marinho ou não marinho, apresentando, portanto, uma origem química.
Estas rochas são constituídas principalmente por sais, na forma de cloretos, sulfatos,
carbonatos e boratos, como halita, gipsita, anidrita, carnalita e silvita;

3. As rochas carbonáticas são formadas principalmente de minerais com o radical


CO3-2, sendo predominante o carbonato de cálcio na forma de calcita (CaCO3), visto

62
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

que a aragonita é um mineral menos estável, mas podem ocorrer também dolomita
(carbonato de magnésio), siderita (carbonato de ferro) e outros minerais. Estas
rochas têm condições mais restritas de deposição em relação às rochas siliciclásticas,
e são constituídas de partículas depositadas ou precipitadas sob a influência de
organismos, tendo, portanto, uma origem orgânica.

Apesar desta classificação, rochas siliciclásticas podem também conter constituintes orgânicos
como, por exemplo, folhelhos fossilíferos, e rochas carbonáticas podem apresentar, em proporções
menores de seus constituintes, material clástico, como os calcários microcristalinos argilosos
(marga), mostrando a complexidade dos locais de formação/deposição das rochas. Estes locais,
denominados ambientes de sedimentação, são o resultado de uma associação particular de
processos geológicos e condições ambientais de um determinado lugar geográfico. Dentro de bacias
sedimentares, que são grandes depressões instaladas na crosta continental por meio de processos
tectônicos, vários ambientes de sedimentação são desenvolvidos em função do clima e da tectônica
que provocam modificações de relevo, variações no tipo e na quantidade de água (mar, lago, rio),
no agente de transporte de partículas e na atividade biológica. Esses ambientes são geralmente
agrupados pela sua localização e seu posicionamento na placa tectônica em: continentais, costeiros
ou oceânicos (Figura 42).

Figura 42 – Ambientes de sedimentação continentais, costeiros e marinhos

Fonte: Grotzinger et.al. (2007).

A associação particular entre agentes de transporte, sedimentos, clima e processos orgânicos, que
é característica de cada ambiente de sedimentação, controla a deposição/precipitação de rochas
sedimentares (Figura 43). Desta maneira, a constituição da rocha, caracterizada pela composição,
pelo tamanho e pela forma dos seus grãos, e a disposição espacial e associação dos estratos
sedimentares, tanto lateral quanto verticalmente, permitem identificar o ambiente de sedimentação
desta rocha.

63
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

Figura 43 – Agentes de transporte, sedimentos, clima e processos orgânicos associados aos ambientes de
sedimentação continentais, costeiros e marinhos.

Fonte: Segundo Grotzinger et.al. (2007).

Em rochas siliciclásticas, a competência e o poder de seleção do agente de transporte, bem como


a distância e a composição da rocha-fonte, definem a composição mineralógica, o tamanho e a
forma dos grãos. De uma maneira geral, os meios mais viscosos (fluxos de gravidade e gelo) têm
maior competência, ou seja, transportam todos os tipos e tamanhos de partículas, sem fazer,
entretanto, uma seleção entre eles, enquanto os agentes menos viscosos, como o vento e a água
corrente, possuem menor competência e maior poder de seleção. De acordo com as características
dos meios de transporte aquosos e eólicos, como a energia e a turbulência do fluxo, as partículas
podem ser transportadas, segundo uma ordem de tamanho decrescente, por: (1) tração e rolamento,
normalmente para grãos com diâmetros maiores que 1,0 mm (até 6,0 mm, no caso de transporte
eólico); (2) saltação, para grãos normalmente entre 0,5 e 1,0 mm, no caso de agente eólico; e (3)
suspensão, para partículas com diâmetros normalmente menores que 0,1mm, no caso de meio
aquoso, e 0,5mm, no caso de agente eólico. Além disso, partículas de diferentes tamanhos podem
ser transportadas por gravidade, nos casos de processos gravitacionais subaquosos (corridas de
massa, como correntes de turbidez) e subaéreos, sendo estes normalmente associados a agentes
glaciais, como corridas de lama ou avalanche.

Os processos deposicionais e a atividade orgânica deixam registros nas rochas denominados


estruturas sedimentares, cuja caracterização auxilia na determinação do ambiente de sedimentação.
As principais estruturas sedimentares são as estratificações, as marcas onduladas e as bioturbações
provocadas pela ação de organismos. As estratificações (ou ainda, o acamamento dos grãos)
são marcadas por intercalações, de dimensões milimétricas a métricas, de grãos de tamanho ou
composição diferentes indicando sucessivas superfícies de deposição. Elas podem ser plano-
paralelas, quando são horizontais, cruzadas angulares ou acanaladas, quando apresentam ângulos
de mergulho em relação a horizontal, ou ainda gradacionais, dependendo da natureza do agente

64
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

de transporte. As estratificações plano-paralelas ocorrem em vários ambientes de sedimentação,


sendo atribuída a uma forma de leito plana, enquanto sedimentos transportados sobre os planos
mais inclinados, no sentido da corrente, nas dunas de areia ou nas barras arenosas em rios ou no
mar, apresentam estratificações cruzadas que indicam o sentido de transporte dos grãos pelo vento
ou pela água (Figura 44). As estratificações gradacionais, por sua vez, são caracterizadas por uma
variação no tamanho dos grãos entre a base e o topo de uma sequência sedimentar, evidenciando
uma mudança na energia de transporte, sendo mais comuns em ambientes marinhos profundos em
sedimentos transportados por correntes de turbidez. As marcas onduladas constituem o registro da
ação de ondas, correntes rasas ou ventos, e são estruturas de dimensões centimétricas, que podem
ser simétricas (fluxo das ondas nas praias; Figura 44) ou assimétricas (ventos ou correntes fluviais)
indicando o sentido do fluxo.

Figura 44 – Transporte dos grãos por vendo ou corrente de água sobre um leito inclinado e as estratificações
cruzadas resultantes num afloramento de arenitos eólicos. A seguir, o processo de desenvolvimento de marcas
onduladas simétricas devido ao movimento oscilatório das ondas na praia e as estruturas resultantes em um
afloramento de arenito.

Fonte: Modificada de Grotzinger et.al. (2007).

Os constituintes das rochas siliciclásticas e carbonáticas podem ser agrupados em arcabouço,


cimento e matriz; que ocorrem em diferentes proporções e indicam as características do ambiente
de sedimentação. O arcabouço é composto por grãos, a matriz por material mais fino e o cimento,
como o nome indica, fornece a coesão à rocha e é o material que é precipitado concomitante ou
posteriormente à deposição das partículas.

65
UNIDADE I │ GEOLOGIA GERAL

No caso das rochas siliciclásticas, a composição, o tamanho e a forma dos grãos estão relacionados
à energia dos agentes de transporte, à natureza da rocha-fonte e à distância percorrida pelos grãos
entre a rocha-fonte e o ambiente de deposição. Quanto à composição, essas rochas dependem da
composição da rocha-fonte, mas os minerais mais comuns com sua frequência relativa são: quartzo
(35 a 50%), que predomina por ser um dos minerais mais abundantes na crosta terrestre, além de
ser estável e duro; minerais de argila (25 a 35%); fragmentos de rochas metamórficas (5 a 15%);
feldspatos (5 a 15%); sílex (1 a 4%); e minerais acessórios, como carbonatos e minerais pesados
(menos de 1%). Quanto à forma dos grãos, eles são classificados segundo graus de arredondamento
em classes divididas entre muito angulosa e bem arredondada, e no caso dessas rochas, indicam a
distância de transporte (Figura 45).

Figura 45 – Arredondamento e distância de transporte dos grãos.

Fonte: Grotzinger et.al. (2007).

O tamanho dos grãos ou granulometria, tanto de rochas siliciclásticas quanto carbonáticas, é


agrupado na tabela granulométrica, em que podemos separar três classes maiores: finos ou fração
lama, formada de silte e argila (< 0,062 mm); médios ou fração areia (0,062 a 2,0 mm); e grossos
ou fração cascalho (> 2,0 mm) – Quadro 7. Para as rochas siliciclásticas, o tamanho dos grãos
está diretamente correlacionado ao seu ambiente de deposição e agente de transporte, então
a classificação mais utilizada dessas rochas é baseada diretamente na tabela granulométrica e
os principais nomes são: conglomerado ou brecha, arenito, siltito, laminito, folhelho e argilito
(FOLK, 1968; Quadro 7). A classificação de rochas carbonáticas é mais complexa, pois essas
rochas foram depositadas no próprio local de vida dos organismos que a constituem e, desta
maneira, os grãos não foram transportados. Mas, a energia do ambiente também ser importante
para a constituição destas rochas e a classificação mais utilizada é a de Dunham (1962) que
considera a textura deposicional das rochas carbonáticas e a presença de lama, classificando-
as em: mudstone, wackestone, packstone, grainstone, boundstone e carbonato cristalino
(Figura 46).

66
GEOLOGIA GERAL │ UNIDADE I

Quadro 8 – Tabela granulométrica de classificação de sedimentos e rochas siliciclásticas resultantes.

Tamanho da partícula Nomenclatura do Rocha


Diâmetro sedimento Siliciclástica
Grossos (> 2 mm) Fração Cascalho
> 256 mm Bloco, matacão Conglomerado
256 – 64 mm Calhau ou
64 – 4 mm Seixos Brecha
4 – 2 mm Grânulos
Médios (2 – 0,062 mm) Fração Areia
2 – 1 mm Areia muito grossa
1 – 0,5 mm Areia grossa
0,5 – 0,25 mm Areia média
0,25 – 0,125 mm Areia fina Arenito
0,125 – 0,062 mm Areia muito fina
Finos (< 0,062 mm) Fração Lama
Siltito
0,062 – 0,039 mm Silte
Laminito (fratura em bloco)
Folhelho (quebra ao longo do
< 0,039 mm Argila
acamamento)
Argilito

Fonte: Adaptado de FOLK (1968).

Figura 46 – Classificação de rochas carbonáticas de acordo com a textura deposicional.

Fonte: Dunham (1962).

Qual a importância da compreensão do contexto de deposição e evolução das


rochas sedimentares para a exploração de petróleo?

67
GEOLOGIA dE Unidade iI
petrÓleo

Furar para petróleo? Você quer dizer, perfurar o subsolo para tentar encontrar
petróleo? Você está louco.” Sondadores que Edwin Drake tentou contratar para seu
projeto de prospecção de petróleo, em 1859. – Do livro “Para Entender a Terra” (Press
et.al., 2006).

A Geologia de petróleo pode ser definida como a parte da Geologia direcionada para a compreensão
dos elementos e fatores que regem os sistemas petrolíferos, fornecendo subsídios para a descoberta
de novas acumulações e para o melhor desenvolvimento de um campo de petróleo. É uma parte
da Geologia que se encontra diretamente ligada a outras ciências como a Geofísica e a engenharia,
cujos conhecimentos são necessários às atividades de exploração e explotação de petróleo.

O sistema petrolífero é um sistema físico-químico dinâmico de geração e acumulação de petróleo


que funciona no espaço e no tempo geológico, descrevendo a relação genética entre a “cozinha
de geração” ativa e as acumulações de hidrocarbonetos associadas. Os elementos essenciais do
sistema petrolífero são as rochas: geradora, carreadora, reservatório, selante (ou capeadora) e de
sobrecarga. E os processos fundamentais são: geração – migração – acumulação de hidrocarbonetos,
denominado trinômio, e formação de armadilhas ou trapas. A acumulação é, portanto, o resultado
da associação dos processos do trinômio e de trapeamento de hidrocarbonetos envolvendo as rochas
geradoras, reservatórios e capeadoras de uma bacia sedimentar, compondo um sistema petrolífero.
Assim, o caminho para a descoberta de um campo de petróleo é longo e envolve técnicas geofísicas
e geológicas, que iremos descrever ao longo desta unidade e da próxima.

Na atividade de exploração de petróleo, antes do estabelecimento do sistema petrolífero de uma


área, temos um prospecto, que constitui uma acumulação potencial que deve ser confirmada
por meio de uma locação exploratória, e um play, que pode conter um ou mais prospectos
geologicamente relacionados. Nesta situação, o poço exploratório ainda não confirmou a existência
do sistema petrolífero. A partir da descoberta de óleo por meio deste poço, a acumulação sendo
comercial ou não, este óleo faz parte de um sistema petrolífero. Plays e prospectos complementares
podem então surgir com base nesse sistema petrolífero e caso estes confirmem outras acumulações,
geologicamente relacionadas à anterior, as fronteiras do sistema podem ser ampliadas. Assim, o
conhecimento acerca do sistema petrolífero varia principalmente segundo a exploração de petróleo
já desenvolvida na bacia sedimentar e a conhecimento das rochas e processos que envolvem o
reservatório a ser perfurado. Desta maneira, podemos classificar o sistema petrolífero de acordo
com o nível de certeza em: conhecido, hipotético ou especulativo.

Somente uma acumulação comercial é denominada “campo”. Assim, uma vez descoberta uma
acumulação a partir de um poço exploratório, para determinar a viabilidade comercial da

68
GEOLOGIA dE petrÓleo │ UNIDADE II

acumulação e o plano de drenagem da “candidata a campo”, ou seja, o número e a distribuição de


poços produtores e injetores (se for o caso) na área a ser explorada, é necessário o estabelecimento
de modelos geofísicos, geológicos e de fluxo, e de cálculos de volume de óleo in place (VOIP) e
volume de óleo recuperável (VOER) da acumulação. O VOER deve ser superior aos custos para o
desenvolvimento do campo e para o transporte do óleo produzido. Todos esses estudos culminam,
portanto, num estudo de viabilidade econômica, que depende de fatores muito diversos, desde a
qualidade da rocha reservatório e do volume da reserva até a cotação do óleo bruto no momento da
sua realização, dentre outros.

69
capítulo 1
Rochas geradoras e fatores que
condicionam a geração
de hidrocarbonetos

Existem diversas teorias para explicar a origem do petróleo, entretanto a mais aceita atualmente é
a que atribui uma origem orgânica, tornando o petróleo um combustível fóssil originado em rochas
que apresentam na sua composição grande quantidade de matéria orgânica (querogênio) e que
sofreram uma evolução térmica adequada para geração/expulsão de quantidades significativas de
petróleo. Vamos descrever essas rochas denominadas rochas geradoras neste capitulo, bem como
os fatores envolvidos na formação do petróleo. Entretanto, antes de falar dessas rochas, vamos fazer
uma introdução para contextualizar o elemento petróleo.

Histórico, constituintes, composição e


classificação do petróleo
A matéria orgânica acumulada nos sedimentos gera o petróleo. Mas para isso é
preciso que nessa matéria orgânica haja hidrocarbonetos. Hidrocarboneto é o nome
que os químicos dão às combinações de hidrogênio e carbono. Esses dois corpos
mostram-se muito amigos, gostam de andar juntos, de braços dados. O poço do
Visconde, Monteiro Lobato, 1965.

A palavra petróleo vem do latim: petra (pedra) e oleum (óleo). Os registros da utilização do
petróleo remontam a tempos bíblicos. O petróleo foi utilizado para os mais diversos fins,
Nabucodonosor pavimentava estradas na Babilônia, os egípcios o utilizaram na construção de
pirâmides e para o embalsamento de múmias, e os gregos e romanos o utilizaram ainda para
fins bélicos. Nesta época, o petróleo era obtido a partir de exsudações naturais, apesar da
técnica de perfuração de poços de água ser dominada desde 200 a.C. A partir do século XVIII
já têm-se registros de poços de até 50 m de profundidade com o objetivo de explorar petróleo
e no início do século XIX, as primeiras destilarias foram construídas visando a separação dos
constituintes do petróleo extraído dos poços cuja escavação era manual. O óleo refinado era
utilizado principalmente em substituição ao querosene obtido do carvão e ao óleo de baleia,
utilizados então para a iluminação. Entretanto, o inicio da exploração comercial deu-se a partir
de 1859, nos Estados Unidos, com a perfuração com uma máquina perfuratriz do poço do Coronel
Drake, na Pensilvânia (poço com 21m de profundidade e produção de 2 m3/dia). Esse poço é
considerado o marco inicial da era moderna do petróleo. Mas, a grande revolução da indústria do
petróleo ocorreu a partir da invenção dos motores de combustão interna e o desenvolvimento da
indústria automobilística.

70
GEOLOGIA dE petrÓleo │ UNIDADE II

O petróleo é formado essencialmente por uma mistura de compostos químicos voláteis inflamáveis
chamados hidrocarbonetos, ou seja, cadeias ordenadas de átomos de carbono e hidrogênio,
mais ou menos longas segundo o arranjo dos átomos. Nas condições normais de temperatura
e pressão, o petróleo assume a forma gasosa quando é maior a porcentagem de compostos
químicos com moléculas pequenas ou a forma líquida quando predominam cadeias maiores.
Como o petróleo é composto por centenas de compostos, ele normalmente é separado em frações
que variam com a faixa de ebulição dos compostos (Quadro 9). No estado liquido, o petróleo
é normalmente menos denso que a água, oleoso e apresenta cor variando desde o incolor até
o preto, podendo mostrar tonalidades de verde e castanho, de acordo com a sua viscosidade e
densidade. Apesar dessa variabilidade, todos os óleos obtidos produzem análises elementares
semelhantes, mostrando o predomínio dos elementos Carbono (83 a 87%) e Hidrogênio (11 a
14%), e com alguns elementos menores como o Enxofre (0,06 a 8%), o Nitrogênio (0,11 a 1,7%), o
Oxigênio (0,1 a 2%), além de metais como sais de ácidos orgânicos que ocorrem como elementos
traços (< 0,3%).

Quadro 9 – Frações típicas do petróleo.

Temperatura de Composição
Fração Usos
ebulição (° C) aproximada

Gás residual Até 40 C1 – C2 Gás combustível


Gás liquefeito de petróleo - C3 – C4 Gás combustível engarrafado,
GLP
Uso doméstico e industrial.

Gasolina 40 - 175 C5 – C10 Combustível de automóveis,


Solvente.

Querosene 175 - 235 C11 – C12 Iluminação, combustível de


aviões a jato.

Gasóleo leve 235 - 305 C13 – C17 Diesel, fornos.

Gasóleo pesado 305 - 400 C18 – C25 Combustível, matéria-prima p/


lubrificantes.

Lubrificantes 400 - 510 C26 – C38 Óleos lubrificantes.

Resíduo Acima de 510 C38 + Asfalto, piche,


impermeabilizantes.

Fonte: Segundo Thomas (2004).

Os hidrocarbonetos, de acordo com a estrutura das cadeias de átomos de C e H são classificados


em saturados, insaturados e aromáticos (Figura 47). Os saturados também denominados alcanos
ou parafínicos são constituídos de cadeias lineares, ramificados ou cíclicas, interligadas ou não, de
átomos de carbono unidos por ligações simples e ao maior numero possível de átomos de hidrogênio.
Os hidrocarbonetos insaturados, também denominados olefinas, apresentam pelo menos uma
dupla ou tripla ligação C-C na sua estrutura. E os hidrocarbonetos aromáticos são constituídos por
pelo menos um anel de benzeno, que são ligações duplas e simples que se alternam em anéis com
seis átomos de carbono.

71
UNIDADE II │ GEOLOGIA DE PETRÓLEO

Figura 47 – Exemplos de hidrocarbonetos: (a) parafínico linear; (b) parafínico ramificado; (c) parafínico cíclico; (d)
insaturado; (e) aromático.

As rochas geradoras e a matéria orgânica


As rochas geradoras são as rochas que estão na origem da geração do petróleo. Para isso, essas
rochas devem ser ricas em matéria orgânica (querogênio). Podemos dizer que as características
necessárias a uma rocha geradora são: quantidade e qualidade de matéria orgânica.

A quantidade da matéria orgânica é medida mediante o teor de Carbono Orgânico Total (COT)
contido na rocha geradora. Normalmente, o COT mínimo é de 1% para rochas siliciclásticas
(folhelhos) e de 0,5% para rochas carbonáticas (mudstones), mas as rochas geradoras efetivas de
maior potencial apresentam COT superior a 3%. A maturação do querogênio reduz o valor do COT
em até 50% do seu valor original.

A qualidade da matéria orgânica é dada em função dos índices de hidrogênio (IH) e de oxigênio
(IO). Quanto maior o IH e menor o IO na matéria orgânica presente na rocha geradora, melhor a
qualidade desta. Esses índices são obtidos a partir da utilização de um pirolisador Rock-Eval, um
equipamento automático capaz de medir o potencial gerador da rocha e a temperatura máxima de
geração, e são normalmente expressos em diagramas do tipo Van Krevelen, que relacionam o IH e
o IO (Figura 48).

72
GEOLOGIA dE petrÓleo │ UNIDADE II

Figura 48 – Exemplo de utilização do diagrama de Van Krevelen para diferentes amostras de rochas
(Papanicolaou et.al., 2000). No eixo das abscissas o índice de oxigênio (IO) e no eixo das ordenadas, o índice de
hidrogênio (IH). As faixas correspondem aos três tipos de matéria orgânica: tipo I, lacustre; tipo II, marinha; e tipo III,
continental.

Assim, de acordo com a relação entre IO e IH, a matéria orgânica pode ser classificada em três
tipos: Tipo I, proveniente de ambiente lacustre e marinho, com elevado potencial gerador de
hidrocarbonetos (F.C. ~85-90%); Tipo II, ambiente marinho ou misto, com potencial intermediário
para óleo e gás (F.C. ~65-70%); Tipo III, matéria orgânica de origem continental, com baixo
potencial gerador de hidrocarbonetos, sendo principalmente gás (F.C. ~30-35%).

A qualidade da matéria orgânica também pode ser identificada ao microscópico e de acordo com a sua
forma, temos matéria orgânica: amorfa, de forma subcoloidal, é o resultado da decomposição de algas
microscópicas e bactérias, possuindo elevado IH e baixo IO, resultando no tipo I, com alto potencial
de geração de óleo e gás; herbácea, formada de esporos, polens e cutículas vegetais, apresentando
menor IH e maior IO que a matéria amorfa, possui potencial para geração de óleo e gás, porém de
qualidade inferior, tipo II; lenhosa, constituída de partículas de aspecto lenhoso, tem alto IO e baixo
IH e potencial apenas para geração de gás, em condições de altas temperaturas somente.

A geração de hidrocarbonetos está diretamente ligada à preservação da matéria orgânica, e o ar


atmosférico é muito oxidante (21% de O), o que deteriora a matéria orgânica. Como as rochas
geradoras têm a matéria orgânica depositada junto com os sedimentos, estes devem ser depositados
em ambientes mais profundos, em zonas anóxicas (sem oxigênio) para possibilitar uma melhor
preservação da matéria orgânica e assim constituírem melhores rochas geradoras. Assim, as rochas
geradoras são, em sua grande maioria, rochas de granulometria fina (folhelhos e rochas calcarias tipo
mudstones, principalmente) de ambientes marinhos e lacustres profundos. E como vimos de acordo
com a qualidade da matéria orgânica, os principais organismos formadores de hidrocarbonetos

73
UNIDADE II │ GEOLOGIA DE PETRÓLEO

são os fitoplânctons, microrganismos flutuantes unicelulares fotossintéticos (utilizam a luz solar


como fonte de energia), algas minúsculas e bactérias, tais como diatomáceas, dinoflagelados ou
cocolitoforídeos (Figura 49).

Figura 49 – Exemplos de fitoplâncton: (a) cocosfera e cocólitos originados de cocolitoforídeos, que são algas,
protistas unicelulares planctônicos, muito abundantes na zona fótica (até 200 m de profundidade), são
predominantemente marinhos e possuem um envoltório calcário (cocosfera) formado de placas arredondadas
(cocólitos) unidas por uma substância orgânica; (b) diatomáceas, algas protistas silicosas, que habitam a zona
fótica dos oceanos, mares, lagos e rios.

(a) (b)
Fonte: <www.ufrgs.br>

A cozinha de geração do petróleo


A conversão da matéria orgânica em hidrocarbonetos, denominada maturação, é uma reação
termoquímica que depende da pressão de soterramento exercida sobre a rocha geradora, da
temperatura alcançada durante a história geológica e do tempo geológico envolvido. A pressão de
soterramento ou litostática é exercida sobre as rochas geradoras por meio das rochas de sobrecarga,
que encontram-se sobrejacentes às geradoras. A janela de geração de petróleo (faixa térmica ideal)
situa-se entre 65° e 150° C (Figura 50).

Figura 50 – Figura esquemática mostrando a janela de geração de óleo segundo duas bacias sedimentares com
gradientes geotérmicos hipotéticos.

74
GEOLOGIA dE petrÓleo │ UNIDADE II

A temperatura alcançada durante a história geológica de soterramento da rocha geradora


(empilhamento de rochas sobrepostas à rocha geradora) é função do gradiente geotérmico e define
a evolução térmica desta rocha, ou seja, as transformações químicas sofridas pela rocha devido
ao aquecimento e os hidrocarbonetos gerados. A evolução térmica pode ser medida pelo perfil
de tempetura máxima (Tmax), obtido por meio da pirólise, pela refletância da vitrinita (Ro) –
constituinte orgânico formado durante a diagênese que com o aumento da temperatura exibe maior
refletância – ou ainda pelo índice de coloração de esporos (ICE). Os hidrocarbonetos presentes na
rocha geradora podem ser identificados por meio da cromatografia gasosa, que fornece, portanto,
a assinatura do petróleo que foi gerado. As análises realizadas para caracterização da evolução
térmica da rocha geradora normalmente são sumarizadas no perfil geoquímico do poço, que contém
os valores de COT, IH, IO, Ro, e Tmax, S1 e S2 (obtidos da pirólise de Rock-Eval – Figura 51), e
permite identificar se a potencial rocha geradora encontra-se no intervalo de profundidade ideal
para geração de hidrocarbonetos.

O processo de evolução térmica/maturação da rocha pode ser dividido em três etapas: diagênese,
catagênese e metagênese. A diagênese começa logo após a deposição da rocha, iniciando-se com
a decomposição bioquímica da matéria orgânica gerando o metano biogênico, e continua com o
aumento da pressão e temperatura, com a conversão da matéria orgânica em querogênio – matéria
orgânica amorfa com C, H e O. Denomina-se imatura a rocha que se encontra nesta etapa de evolução
térmica, que não gera hidrocarbonetos, apenas gases biogênicos. A catagênese é a principal etapa de
geração de óleo e gás úmido, nesta fase, com o aumento da pressão e temperatura, o querogênio se
altera e as moléculas maiores dividem-se em moléculas menores e mais simples de hidrocarbonetos
por meio do craqueamento. As rochas que se encontram nesta fase são denominadas maturas. A
metagênese é caracterizada pelo craqueamento dos demais hidrocarbonetos, produzindo somente
gás natural, principalmente na forma de CH4 estável (metano) e o carbono residual é deixado na
rocha fonte. A rocha, nesta fase, é denominada senil. – Figura 52.

Figura 51 – Esquema simplificado hipotético de um gráfico obtido a partir dos resultados da pirólise de Rock-Eval,
onde S0, S1 e S2 correspondem às temperaturas onde a rocha geradora teria potencial para de formação de
gás livre, de óleo livre, e de óleo e gás (Tmax.), respectivamente.

75
UNIDADE II │ GEOLOGIA DE PETRÓLEO

Figura 52 – Formação de hidrocarbonetos em função da profundidade.

Fonte: Teixeira et.al. (2008).

Em bacias com maior gradiente geotérmico – gradiente que mede a variação da temperatura
com a profundidade – as rochas geradoras potenciais são submetidas às temperaturas ideais a
menores profundidades (Figura 59). O tempo é um fator igualmente importante, pois uma rocha
com um mesmo tipo de matéria orgânica, submetida a condições iguais de pressão e temperatura,
pode estar imatura se o tempo de “cozimento” for curto, ou matura para óleo ou até para gás,
se o tempo envolvido for mais longo. Assim, de acordo com a idade da rocha, se ela está sendo
submetida nos dias de hoje a uma temperatura de 100° C, esta rocha pode estar imatura se for
cenozoica, e matura se for mesozoica, por exemplo. Desta maneira, rochas geradoras podem gerar
petróleo a baixas temperaturas (abaixo de 100° C) se o tempo geológico for longo (da ordem de
dezenas a centenas de milhões de anos) ou rochas geradoras mais recentes (Mioceno ao presente,
por exemplo) podem gerar em poucos milhões de anos se as temperaturas são mais elevadas
(acima de 120° C). O fator tempo geológico provavelmente é o responsável pelo fato que cerca
de 60% das rochas geradoras das acumulações conhecidas até os dias atuais sejam de idade
Mesozoica (Jurássico, Cretáceo e Oligomioceno).

A quantificação do potencial gerador da rocha é denominada Fator Carga, que expressa a


quantidade máxima de hidrocarbonetos que podem ser gerados por uma rocha geradora em 1m2
de área, cuja fórmula é: FC (em unidades SPI) = H (S1 + S2) * D * 10-3, onde H é a espessura
da rocha geradora, S1 e S2 as temperaturas obtidas por meio da pirólise de Rock-Eval, e D a
densidade da rocha geradora.

76
capítulo 2
Rochas reservatório e carreadora

As rochas reservatório e carreadora são porosas e permeáveis, ou seja, são rochas capazes de conter
e transmitir fluidos. A diferença fundamental entre a rocha reservatório e a capeadora é que a
primeira encontra-se numa situação geológica adequada que permite que o petróleo seja acumulado
(trapeada e capeada) enquanto que a rocha capeadora está apenas capeada e não trapeada,
permitindo que o petróleo expulso da rocha geradora migre até a rocha reservatório trapeada. Essas
rochas são preferencialmente arenitos ou carbonatos porosos, mas também podemos ter rochas não
porosas, que se encontram extremamente fraturadas, contendo óleo nas fraturas.

Uma rocha siliclástica ou carbonática é constituída por três componentes: arcabouço, matriz
e cimento. O arcabouço é a fração que normalmente dá sustentação a rocha, sendo usualmente
composto de grãos com diâmetro entre 0,062mm e 2,0mm (fração areia), independente da sua
natureza ou composição. A matriz é a fração fina (inferior a 0,062mm; fração silte/argila), que foi
transportada por suspensão e que pode preencher os espaços vazios entre os grãos do arcabouço, a
depender das condições ambientais de deposição da rocha. O cimento é precipitado quimicamente,
podendo ser constituído de sílica, carbonatos, sulfatos, óxidos de ferro, entre outros, ele dá rigidez
as rochas sedimentares, e também tende a obliterar a porosidade das rochas.

A rocha reservatório é o elemento cujo conhecimento acerca das suas propriedades é fundamental
para a exploração de petróleo. As propriedades essenciais dessas rochas são: porosidade e
permeabilidade, que definem a qualidade do reservatório.

A porosidade (Φ) é o percentual de vazios em relação ao volume total da rocha:

Φ = (Vvazios/Vtotal ) * 100

O volume de fluidos contido na rocha é, portanto, controlado pela porosidade, que é regida pelos
seguintes fatores: forma dos grãos (arredondamento e esfericidade), seleção ou heterogeneidade,
e ainda a fábrica, que indica a compactação ou empacotamento entre grãos. Quanto maior o
arredondamento dos grãos, mais espaços vazios eles deixam entre si, aumentando a porosidade.
A relação da porosidade com a heterogeneidade ou seleção dos grãos, por sua vez, é inversa, isto
é, quanto maior a heterogeneidade, menor a porosidade, pois a variedade de forma e de tamanho
dos grãos permite um maior ajuste entre eles, diminuindo a quantidade de vazios. O arranjo
entre os grãos ou fábrica também influencia na porosidade, assim grãos bem arredondados e bem
selecionados com arranjo cúbico podem apresentar 48% de porosidade, enquanto os mesmos grãos
num arranjo romboédrico têm somente 26% de porosidade – (Figura 53).

A porosidade pode ser calculada por meio de perfis realizados durante a perfuração do poço
(método indireto; veremos detalhes na unidade III, quando falarmos dos métodos geofísicos de
perfilagem de poços), ou ainda pode ser medida a partir de amostras da rocha obtidas por meio de
amostras laterais ou testemunhos dos poços, também durante a perfuração, que são posteriormente
levados para o laboratório para elaboração de lâminas delgadas para descrição por microscopia

77
UNIDADE II │ GEOLOGIA DE PETRÓLEO

ótica (determinação da porosidade por método direto). As lâminas delgadas são fatias muito finas
de rochas que normalmente antes de serem fatiadas são embebidas num corante, usualmente azul
de metileno que preenche os poros das rochas, e posteriormente coladas em uma lâmina de vidro.

Figura 53 – Figura esquemática mostrando a diferença de porosidade de acordo com o arranjo entre grãos: (A)
cúbico (48%) e (B) romboédrico (26%); e também de acordo com a seleção ou heterogeneidade dos grãos: (C)
bem selecionados (32%) e (D) mal selecionados (17%).

(A) (B) (C) (D)

Existem vários tipos de porosidade, que são caracterizadas, normalmente pelo estudo em
microscópio das lâminas das rochas-reservatório, com o objetivo de compreender como o fluido
está distribuído dentro das rochas para melhor extrair o petróleo. Dependendo da história evolutiva
das rochas-reservatório estudadas, as porosidades podem ser interpartícula (entre os grãos),
intrapartícula (dentro dos grãos, desenvolvida por dissolução), de fratura, móldica (formando
moldes das carapaças dos fósseis), e ainda as porosidades podem são classificadas em primárias e
secundárias. Entretanto, de maneira geral, para caracterizar o reservatório consideramos dois tipos
de porosidade: absoluta e efetiva. A porosidade absoluta é relação entre a quantidade total de poros
em função do volume total da rocha, como definido anteriormente. Enquanto a porosidade efetiva,
representada somente por poros interconectados, é a de maior interesse, pois está relacionada
à capacidade de deixar o fluído ser transmitido por meio da rocha, que é a permeabilidade, cuja
medida mais usada é o Darcy - Figura 63. A permeabilidade segue a Lei de Darcy, que diz que para
um fluxo horizontal de um fluído monofásico, a vazão do fluído (volume por unidade de tempo) que
flui mediante uma amostra do meio poroso, de comprimento dx e seção reta de área A, é dada assim:

Figura 54 – Permeabilidade e Lei de Darcy. k é a permeabilidade absoluta do meio poroso, q é a vazão do fluido,
m a viscosidade, L o comprimento dx, A é a área da seção reta e (P1 – P2) corresponde ao dP, que é o delta de
pressão aplicada na amostra.

78
GEOLOGIA dE petrÓleo │ UNIDADE II

Para compreender melhor a relação entre porosidade e permeabilidade podemos dizer que uma rocha
pode conter bastante fluido, ou seja, ter uma porosidade alta, entretanto, esse fluido percorre a rocha
por meio de canais porosos, que se forem estreitos e tortuosos, formando estrangulamentos ao fluxo,
dificultarão o movimento do fluido por meio da rocha. Se a porosidade da rocha por caracterizada
por canais mais conectados e maiores, ela facilita o fluxo de fluido, por oferecer menor resistência,
aumentando assim a permeabilidade. Desta maneira, além dos fatores que controlam a porosidade,
a permeabilidade também é controlada pelo tamanho dos grãos (granulometria), pois quanto
maiores forem os grãos maiores serão os canais entre os poros, aumentando a permeabilidade. É
aceito que a permeabilidade não está apenas relacionada ou meio poroso ou ao fluido, mas depende
da interação dinâmica entre ambos, ou seja, tem relação com as características da porosidade e
do fluido e de como eles se comportam conjuntamente. A permeabilidade pode ser estimada por
meio de perfis, calculada a partir de testes de formação, ou ainda medida meiante a utilização de
permeâmetros em amostras de rochas, e pode variar muito, assim, em sedimentos argilosos ou com
granulometria muito fina, a permeabilidade apresenta valores muito baixos, podendo ser inferiores
a 1mD, enquanto alguns arenitos e carbonatos podem apresentar permeabilidades superiores a 1D.

Desta maneira, a qualidade do reservatório é medida pela sua porosidade e permeabilidade, e


depende de vários fatores, ligados essencialmente aos grãos que compõem a rocha (tamanho, forma,
arranjo, heterogeneidade). Esses fatores são função do tipo de rocha e da história evolutiva desta
rocha, como a diagênese, ou seja, os processos aos quais foi submetida esta rocha durante a sua
formação/evolução. A diagênese pode envolver tanto a cimentação, que oblitera o espaço poroso
por preenchimento, diminuindo a porosidade e permeabilidade e consequentemente a qualidade do
reservatório, como também pode ocasionar a dissolução de grãos ou do cimento prévio, tendo efeito
contrário ao da cimentação. De maneira geral, a presença de frações finas (silte/argila) diminui a
qualidade do reservatório. No jargão da Geologia de petróleo, o reservatório é dito mais “limpo”
quanto menor for o percentual da fração silte-argila (matriz; < 0,062mm). Como a presença destas
frações finas está relacionada à energia do ambiente/sistema deposicional, como vimos na unidade
anterior, em regra geral, quanto menor a energia do ambiente deposicional da rocha, mais “sujo” é
o reservatório. A continuidade lateral e vertical do reservatório, função do seu sistema deposicional,
também é um fator importante para a caracterização do reservatório, não no que diz respeito à
qualidade deste, mas sim, à sua viabilidade econômica.

De uma maneira geral, apesar das variações locais, podem-se assumir, para fins de ordem de
grandeza, os seguintes parâmetros para valores de porosidade e de permeabilidade:

»» Porosidade: 0 a 5% - insignificante, 5 a 10% - pobre, 10 a 15% - razoável, 15 a


20% - bom, 20 a 25% - excelente. Cuttof é o valor mínimo de porosidade para
considerar uma rocha como sendo reservatório, sendo que este valor varia segundo
as características do reservatório.

»» Permeabilidade: 1 a 10mD – pobre, 10 a 100 mD – bom, 100mD a 1D – excelente.

Uma rocha-reservatório normalmente contém dois ou mais fluidos saturando seu meio poroso. A
facilidade com que cada um desses fluidos se move é chamada permeabilidade efetiva ao fluido em
questão. A permeabilidade absoluta considera como um único fluido saturando a rocha, enquanto
a permeabilidade relativa ao fluido é a divisão entre a permeabilidade efetiva ao fluido considerado

79
UNIDADE II │ GEOLOGIA DE PETRÓLEO

e uma permeabilidade de referência, normalmente a permeabilidade absoluta. Por exemplo, a


permeabilidade relativa ao óleo: Kro = Ko/K, onde Ko é a permeabilidade efetiva ao óleo e K a
permeabilidade absoluta. Frequentemente, um reservatório produz mais de um fluido, as razões
entre eles, denominadas RGO (razão gás/óleo), RAO (razão água/óleo) ou ainda BSW (teor de
sedimentos e água produzidos juntamente com os hidrocarbonetos), devem ser mantidas dentro de
um limite economicamente viável para a exploração, e o controle destas razões são essenciais para
a manutenção da vida útil do campo.

Outros parâmetros, tais como a molhabilidade, que representa a capacidade que um fluido tem
de molhar uma superfície sólida em contato com esta ou, ainda, a preferência da rocha por um
determinado fluido, são normalmente estimados durante a caracterização da rocha-reservatório.
Além da determinação da saturação de fluidos, que é a estimativa da fração do volume poroso
ocupado por um determinado fluido, assim temos a So (saturação de óleo), Sg (saturação de gás)
e Sw (saturação de água) e a soma So + Sg + Sw = 1. Essa estimativa da saturação de fluidos é
normalmente realizada por meio de dados de perfis de poço.

A caracterização da rocha-reservatório é de importância fundamental para determinar o


comportamento do reservatório ao longo do tempo de exploração da jazida e, portanto, para o
desenvolvimento do plano de drenagem da área.

80
capítulo 3
Trapeamento de hidrocarbonetos e
rochas selantes ou capeadoras

As rochas selantes ou capeadoras são rochas impermeáveis (ou com baixa permeabilidade) que não
permitem ou retardam muito a passagem/migração do óleo. Essas rochas, que são normalmente
denominadas “selo”, são constituídas, na grande maioria dos casos, de rochas de granulometria fina
(silte/argila) tais como folhelhos ou ainda de rochas evaporíticas (sais). Essas rochas associadas de
maneira adequada, estrutural ou estratigraficamente, às rochas-reservatório constituem as trapas
ou armadilhas de petróleo.

Figura 55 – Exemplos de trapas: anticlinal, falha, estratigráfica e domo de sal.

Fonte: Grotzinger et.al. (2007).

As armadilhas são locais em subsuperfície em que o petróleo é trapeado, ficando retido nas rochas-
reservatório. A armadilha é constituída de uma rocha-reservatório, onde o petróleo é acumulado,
e de uma rocha selante ou capeadora, que impede que ele continue migrando. As trapas podem
ser do tipo estrutural, estratigráfico ou misto. Nas trapas estruturais, o óleo é contido por algum
tipo de deformação estrutural, como dobra ou falha (Figura 55). Nas trapas estratigráficas, o
trapeamento do óleo e gás está relacionado ao sistema deposicional das rochas-reservatório (como
no caso de arenitos turbidíticos, por exemplo) ou ainda à presença de discordâncias (Figura 55). Nas
trapas mistas, ocorre a associação entre a estratigrafia e a estrutural para formar, na parte alta do
reservatório capeado pelo selante, a estrutura-armadilha para o hidrocarboneto.

81
capítulo 4
Trinômio Geração – Migração – Acumulação

A quantidade de petróleo gerada pela rocha geradora (quantificação, dependente do Fator Carga)
e o estilo de migração e de trapeamento (qualificação) constituem os fatores chave que contribuem
para a ocorrência, abundância e habitat do petróleo. Assim, podemos dizer que a ocorrência de
petróleo em quantidade significativa que permita que este possa ser produzido comercialmente
depende essencialmente dos dois processos fundamentais representados pelo trinômio geração –
migração – acumulação e pela formação de armadilhas, que permitem o trapeamento do petróleo,
que descrevemos no capítulo anterior.

Resumindo o trinômio, o petróleo é gerado por aquecimento e soterramento da matéria orgânica


contida em rochas de granulometria fina, é expulso e migra para rochas porosas e permeáveis, se
acumulando nessas rochas porque elas se encontram trapeadas por rochas impermeáveis (selante
ou capeadora).

Falamos nos capítulos anteriores dos diferentes tipos de rochas que compõem o sistema petrolífero
e de que maneira o petróleo é trapeado, mas como se da o transporte do petróleo gerado na rocha
geradora até a rocha-reservatório? Esse processo é denominado migração, que pode ser: primária,
quando ocorre dentro da rocha geradora e para fora dela, em distâncias relativamente curtas, o
deslocamento do petróleo ocorrendo, neste caso, por microfissuras, sendo o processo de saída do
petróleo da geradora denominado expulsão; e secundária, quando ocorre fora das rochas geradoras,
por meio das rochas carreadoras ou dutos permeáveis, como falhas e discordâncias, mediante
distâncias relativamente longas, ou ainda dentro da rocha-reservatório. Um tipo particular de
migração secundária, denominado remigração, ocorre quando o petróleo acumulado volta a migrar,
continuando sua trajetória até a superfície, podendo ser trapeado novamente. A migração ocorre
devido ao fato dos hidrocarbonetos gerados na rocha geradora terem um volume maior que a
matéria orgânica original, e como os hidrocarbonetos são fluidos tendem a buscar locais de menor
pressão. Assim, dentro da rocha geradora, são geradas microfissuras para que essa se liberte do
excesso de fluidos.

Como vimos anteriormente, o petróleo expulso da rocha geradora, continua a migrar por meio
de dutos permeáveis ou rochas carreadoras. Mas, o sistema petrolífero, como um todo, envolve
processos de baixa eficiência. A migração é mais efetiva se a rocha–reservatório estiver próxima
à rocha geradora, e o sistema petrolífero, como um todo, perde a sua eficiência com o aumento da
distancia entre geradora e reservatório. Estima-se que se considerarmos uma rocha geradora que
por vezes contém apenas 1% de matéria orgânica, apenas 30% é convertida em petróleo, e somente
1% deste petróleo migra, sendo 99% do petróleo migrado perdido e, portanto, apenas 1% acumulado
em uma rocha- reservatório. O óleo que não é trapeado pode alcançar a superfície sob a forma de
exsudações, cuja presença é indicativa da existência de óleo na bacia sedimentar, mas, entretanto,
não evidencia que existe um sistema petrolífero, pois pode significar trapeamento ineficiente. Alguns
campos de petróleo importantes, como o de Cantarell, no Golfo do México, foram descobertos
devido à existência de exsudações.

82
GEOLOGIA dE petrÓleo │ UNIDADE II

O estudo do trinômio (geração – migração – acumulação) de um sistema petrolífero ao longo


do tempo geológico resulta na identificação, por parte do investigador, de dois elementos
característicos deste trinômio: (1) O intervalo de tempo que engloba o processo completo do
trinômio, que é denominado tempo de preservação de um sistema petrolífero; e (2) O tempo
específico que melhor representa o trinômio da maioria do óleo num sistema petrolífero, que
é denominado momento crítico. Um quadro de eventos representa a sucessão cronológica dos
eventos, ou seja, onde ao longo do tempo geológico ocorreu a formação/desenvolvimento dos
elementos (rochas geradora, reservatório e selante, e sobrecarga sedimentar) e processos do
sistema petrolífero (trapeamento e trinômio), e o tempo de preservação e momento crítico. Esse
quadro de eventos é denominado representação sintética da cronologia dos elementos e processos
ou ainda timing do sistema petrolífero – (Quadro 10).

Quadro 10 – Quadro de eventos representando o timing de um sistema petrolífero hipotético.

Uma vez identificado o sistema petrolífero de uma dada acumulação, incluindo a caracterização das
rochas geradoras, da zona de maturação do óleo, dos caminhos de migração secundária, das rochas-
reservatório e dos tipos de trapas desenvolvidos no campo, este sistema pode ser representado em
seção geológica, e normalmente recebe uma nomenclatura que envolve as formações geológicas as
quais pertencem as rochas geradora/ reservatório/ selante. Exemplo de um sistema petrolífero para
a Bacia de Campos: Fm. Coqueiros (folhelho Jiquiá)/Fm. Carapebus (arenitos turbidíticos)/Fm.
Ubatuba (folhelhos).

83
capítulo 5
Potencial de hidrocarbonetos nas
bacias sedimentares brasileiras e
noções de reservas

As bacias sedimentares brasileiras variam quanto ao seu contexto de formação e à idade geológica
do seu preenchimento sedimentar que varia desde Protorozoico/Paleozoico (mais antigo), como as
bacias do Parecis/Alto Xingu e Tapajós até o Cenozoico (mais recentes), como as bacias do Acre e
Pantanal (Figura 56).

Atualmente, as bacias mais importantes para produção de hidrocarbonetos são aquelas denominadas
bacias da costa leste brasileira, que foram formadas pelo rifteamento Mesozoico (Jurássico),
quando da separação do Gondwana, com a formação do Oceano Atlântico pela separação Brasil-
África, como explicado no capitulo de tectônica de placas. Essas bacias encontram-se distribuídas
ao longo da costa brasileira da Bacia de Pelotas, ao sul, até a Bacia do Pará-Maranhão, ao norte. O
preenchimento sedimentar destas bacias data do Mesozoico/Cenozoico e as colunas estratigráficas
mostram processos evolutivos relativamente associados no tempo, marcados pelo desenvolvimento
de três fases de evolução estrutural/deposicional: rifte/lacustre, transicional/marinho restrito, e
margem passiva/oceano aberto. Entretanto, as Bacias do Recôncavo-Tucano-Jatobá constituem
uma exceção, pois apresentam somente as fases pré-rifte e rifte, devido à evolução do rifte não ter
continuado no tempo geológico – essas bacias apresentam uma parada na evolução, constituindo
riftes abortados.

Algumas datas importantes marcam a história da indústria petrolífera no Brasil:

»» A primeira descoberta de petróleo, datando de 1939, foi realizada em Lobato


(Salvador - BA), na Bacia do Recôncavo, com um poço cuja acumulação foi declarada
subcomercial;

»» Em 1941, foi descoberto em Candeias (BA) o primeiro campo comercial, marcando


o inicio da exploração de petróleo no Brasil;

»» A Petrobras iniciou suas atividades em 1954, como uma empresa de monopólio


estatal para exploração, monopólio mais tarde estendido à importação e exportação
de petróleo e derivados. Em 1962, é alcançado o Marco de 100 mil bdp (barris
diários de petróleo) produzidos. A produção é desenvolvida, principalmente, em
campos terrestres (onshore), na Bacia do Recôncavo;

»» A década de 80 é marcada pelo início da extração de óleo em xisto betuminoso


(São Mateus do Sul, Bacia do Paraná), pela descoberta do campo de gás de Juruá
(Bacia de Solimões), primeira descoberta com possibilidades comerciais na região
amazônica, e pelo início da produção marítima (offshore) com a descoberta de óleo
nas Bacias de Sergipe e Campos, em águas rasas;

84
GEOLOGIA dE petrÓleo │ UNIDADE II

»» A produção alcança 500 mil bdp e, em seguida, nos meados da década de 90,
foram descobertos os primeiros campos gigantes do Brasil, Albacora e Marlim, em
reservatórios arenosos turbidíticos da Bacia de Campos. A Petrobras se consolida
pelo pioneirismo mundial na exploração e produção em águas profundas com poços
em lâmina d’água superiores a 1200m de profundidade;

»» Em 1995, é aprovada a Emenda Constitucional que flexibiliza o Monopólio da


União sobre o petróleo e permite a contratação de empresas privadas e estatais para
executar as atividades; e em 1997 é criada a ANP (Agência Nacional do Petróleo),
com o objetivo de regular o mercado de exploração de petróleo no Brasil;

»» Em 2000, é alcançado outro recorde mundial de lâmina d´água (1.853m) pela


Petrobras, no Campo de Roncador (Bacia de Campos). É superada a produção de
1,5 milhão de barris/dia de óleo (Campo de Marlim produz 500 mil barris diários,
40% do volume nacional);

»» Em 2003, a Shell é primeira empresa a produzir petróleo depois da flexibilização


do monopólio estatal, com início de produção de Bijupirá e Salema, na Bacia de
Campos;

»» Foram encontrados, em julho de 2005, os primeiros indícios de petróleo no pré-


sal na Bacia de Santos, e um ano depois foi encontrada a acumulação de Tupi.
Atualmente, as áreas do pré-sal já identificadas na Bacia de Santos são: Tupi,
Júpiter, Iara, Carioca, Bem-Te-Vi, Guará, Parati, Caramba e Azulão. Essas áreas
somam VOERs (volumes de óleo recuperáveis) superiores a 20 bilhões de barris de
petróleo e gás natural, colocando o Brasil entre os países com grandes reservas de
petróleo e gás no mundo.

O óleo do pré-sal é leve, apresenta 28° API em média, e, portanto, é de melhor qualidade que
a maioria do óleo explorado antes no Brasil. Entretanto, a perfuração é mais arriscada, pois os
reservatórios são profundos, com lâminas d’água chegando a mais de 1.500 m de profundidade
e poços atingindo até mais de 7.500 m de profundidade. Além deste desafio tecnológico ligado
a perfuração, a produção e o escoamento também são problemáticos principalmente devido ao
alto potencial de incrustação por carbonato de cálcio nas tubulações de aço, bombas, válvulas
e outros equipamentos e instalações, devido à presença de CO2 dissolvido no reservatório,
além do problema de corrosão em sistemas de transporte e armazenamento do combustível
devido aos altos teores de dióxido de carbono e sulfeto de hidrogênio nas formações produtoras
do pré-sal.

Os reservatórios do pré-sal são rochas carbonáticas de Idade Aptiana (Cretáceo), que foram
depositadas na fase rifte/lacustre, entre a deposição das rochas geradoras (folhelhos lacustres de
Idade Jiquiá) e selantes (camada de sal; rochas evaporíticas da fase transicional). Os reservatórios
são constituídos, na sua porção mais basal, de coquinas (rochas formadas essencialmente de
restos de moluscos bivalves), e no topo (rochas localizadas exatamente abaixo do sal), de rochas
com origem predominantemente microbial, como estromatólitos, laminitos microbiais, além de
grainstones. Essas rochas encontram-se distribuídas nas bacias de Santos, Campos e Espírito

85
UNIDADE II │ GEOLOGIA DE PETRÓLEO

Santo, onde iniciou a produção do primeiro óleo da camada pré-sal, no campo de Jubarte, em
setembro de 2008.

Antes da descoberta do pré-sal, a maior parte do VOIP (volume de óleo in place) das reservas
brasileiras era constituída pelos reservatórios produtores da seção pós-sal, como os arenitos
turbidíticos cenozóicos, mais recentes e menos profundos, dos campos gigantes da Bacia de Campos,
como Albacora, Marlim e Roncador.

Além destes reservatórios carbonáticos do pré-sal e pós-sal turbidíticos, uma variedade de rochas-
reservatório estão distribuídas nas bacias produtoras brasileiras, que produzem inclusive em rochas
do embasamento (rochas metamórficas/ígneas) fraturadas na Bacia de Sergipe-Alagoas.

Atualmente, as bacias que se encontram em produção são: Potiguar, Sergipe-Alagoas (exploração


terrestre e marítima, produção de óleo e gás), Tucano e Recôncavo (terrestres), Camamu-Almada
e Jequitinhonha (marítimas), Espírito Santo, Campos e Santos, além da Bacia de Solimões,
que é produtora de gás e da Bacia do Paraná, que produz óleo a partir da extração de folhelho
xisto betuminoso.

Figura 56 – Bacias sedimentares brasileiras.

86
GEOLOGIA dE petrÓleo │ UNIDADE II

Fonte: Szatamari & Porto (1986) e Teixeira et.al. (2008).

Em 2011, a produção de petróleo no Brasil foi recorde, atingindo uma vazão média diária de
2,52 MMboe/d (milhões de barris de óleo equivalente por dia), sendo a maior parte deste óleo
produzido pela Petrobras, mas outras empresas como Shell, Chevron, Anadarko, Exxon, OGX,
entre outras, encontram-se em operação no Brasil, inclusive como parceiras da Petrobras em alguns
blocos exploratórios. A ANP já realizou nove rodadas de licitação entre 1997 e 2007. As fronteiras
exploratórias, como são designadas as bacias ainda não exploradas, são importantes, visto que não
conhecemos o potencial exploratório da totalidade das bacias sedimentares brasileiras. Assim,
atualmente, são desenvolvidos estudos visando à exploração petrolífera em outras bacias, como as
bacias da Paraíba e do São Francisco, por exemplo.

Mas, ao longo do texto acima falamos de VOER e VOIP, você sabe como são calculados
esses parâmetros que permitem definir a economicidade de um reservatório?

Falamos na introdução deste capitulo que somente uma acumulação comercial é denominada
“campo”. Ou seja, depois da fase de descoberta de uma nova acumulação a partir de um ou mais
poços exploratórios, a modelagem do reservatório, a partir de modelos geofísicos, geológicos e de
fluxo, culmina no estudo de viabilidade econômica, que vai definir a economicidade da acumulação,
quer dizer, se ela vai se transformar num campo petrolífero. As questões a serem respondidas
com este estudo são: O volume de hidrocarbonetos que pode ser retirado do reservatório
compensa os gastos com perfuração de poços e instalação de equipamentos para a produção e

87
UNIDADE II │ GEOLOGIA DE PETRÓLEO

o escoamento do petróleo produzido? Qual a estrutura necessária para a produção/ escoamento


da produção, ou seja, quantos poços produtores e injetores, além de plataformas e dutos,
são necessários?

Para responder essas questões, é necessário o cálculo de volume de óleo in place (VOIP) e do
volume de óleo recuperável (VOER) da acumulação. Este último deve ser superior aos custos para o
desenvolvimento do campo para que essa acumulação tenha viabilidade econômica.

Os cálculos de volume são também realizados antes da perfuração dos poços exploratórios com
os valores e características de reservatório que se espera encontrar com a perfuração. Na fase
exploratória, os riscos do projeto são grandes, pois a média mundial de sucesso esperada para
um poço exploratório é de 1/5, ou seja, a cada cinco poços perfurados, quatro são secos e apenas
um constata petróleo. Entretanto, esta probabilidade de sucesso varia muito em função do
conhecimento prévio do sistema petrolífero, da existência de outros poços na bacia sedimentar
em plays similares e dos dados disponíveis para a locação dos poços exploratórios (sísmica, por
exemplo). Ainda na fase exploratória, normalmente é elaborado um gráfico de média condicional
do volume de petróleo a ser descoberto pelo projeto, que é dado pelo volume das possíveis
acumulações versus os valores de probabilidade acumulada da descoberta (Figura 57; onde P90
é a probabilidade otimista, P50 a probabilidade média, e P10 a probabilidade pessimista) e pode
também ser realizado um estudo de valor monetário esperado (VME; Figura 58), que considera a
probabilidade do poço exploratório ser seco (insucesso) ou constatar óleo (sucesso), e neste caso, o
VPL (Valor Presente Liquido, fórmula matemático-financeira capaz de determinar o valor presente
de pagamentos futuros menos o custo do investimento inicial) do projeto considera o VOER e a
média condicional de volume de petróleo da figura 57. De uma maneira geral, o tempo versus
custos/receita do projeto é expresso no gráfico de fluxo de caixa teórico que considera os custos de
exploração e delimitação da reserva (perfuração de poços exploratórios), de desenvolvimento da
produção e custos de operação, como valores negativos, e o VPL do projeto como valor positivo, ao
longo do tempo de produção estimado para o campo (Figura 59).

Figura 57 – Média condicional do volume de petróleo a ser descoberto pelo projeto.

88
GEOLOGIA dE petrÓleo │ UNIDADE II

Figura 58 – Valor monetário esperado do projeto, considerando uma probabilidade de sucesso de 1/5.

Figura 59 – Fluxo de caixa teórico do projeto.

Entretanto, os valores obtidos a partir desses cálculos na fase exploratória são preliminares, pois não
se tem ainda as informações dos poços, além de não se ter nem a certeza de constatar petróleo. Estes
valores são somente válidos em caso de sucesso do poço exploratório e somente vão ser confirmados
com as informações de reservatório obtidas com estes poços e com a modelagem do reservatório,
quando são também incorporadas as informações dos testes de produção que podem ser realizados
nos poços (TFR, TLD, entre outros).

O VOIP é o volume poroso de reservatório multiplicado pela sua saturação em óleo (So). O volume
poroso de reservatório é o produto entre a área da acumulação (A), a espessura (H) e a porosidade

89
UNIDADE II │ GEOLOGIA DE PETRÓLEO

(Φ) da rocha-reservatório. Utilizando valores métricos de área e espessura e valores decimais para
So e Φ (que são expressos em %), a unidade resultante é MMm3 (milhões de m3 de óleo). Assim:

Volume de Óleo “in place” VOIP = A*H* Φ*So (MM m3)

Para obter o VOER é necessário dividir o valor do VOER pelo Fator volumétrico Bg/Bo (Fator de
expansão do gás/Fator de contração do óleo que reduz o volume de óleo entre as condições de
reservatório e de superfície) e multiplicar o resultado pelo Fator de Recuperação, que exprime
quanto de óleo na acumulação é possível de ser produzido. Este fator normalmente é estimado em
função de outros reservatórios análogos que já se encontram em produção. Desta maneira:

Volume de Óleo Recuperável VOER = (VOIP/ FVol) * FR (MM m3)

Para transformar esses valores obtidos em milhões de barris de óleo (MMboe) basta multiplicar o
resultado por 6,29.

Além do VOER, o VPL do projeto ainda depende de muitos fatores, como a vida útil esperada
para o campo ou curva de produção/declínio do campo e a cotação do barril de óleo esperada,
entre outros. Além disso, os cálculos de reserva de petróleo envolvem vários critérios e definições,
sendo mais conhecidas as reservas prováveis e provadas. Estes critérios variam de acordo com os
órgãos reguladores ou de controle. As reservas são normalmente calculadas anualmente e servem,
principalmente, para cotar companhias de petróleo e suas ações em bolsas de valores no Mundo
inteiro. Os valores de reservas calculadas pelas companhias petrolíferas normalmente é controlado
por grandes companhias de auditoria independentes, como KPMG ou PWC, por exemplo.

Mas, como vimos, os cálculos de reserva dependem, na base, de valores que dizem respeito à rocha-
reservatório, como área de ocorrência, espessura, porosidade e saturação de óleo. A área de ocorrência
do reservatório normalmente é obtida a partir da interpretação do dado sísmico. A porosidade da
rocha pode ser obtida de diversas maneiras, desde observação direta, quando amostras de rocha
(como testemunhos ou amostras laterais) foram coletadas durante a perfuração do poço, ou de
maneira indireta, por meio de informações obtidas de perfis de poços. E apesar de amostras de
fluidos (óleo ou água) serem comumente coletadas no reservatório, a espessura do reservatório e a
saturação de óleo normalmente também são obtidas a partir de perfis de poços. Ou seja, precisamos
dos dados obtidos de maneira indireta, a partir de medidas das propriedades físicas das rochas e
dos fluidos, seja por meio da sísmica ou outro método geofísico regional, além dos dados geofísicos
mais pontuais de perfis de poços, para calcular as reservas e determinar a viabilidade da exploração
de petróleo no campo. Assim, a Geofísica é uma ciência fundamental para a exploração de petróleo.

Por meio de observações geológicas, isto é, de estudos da terra na superfície, os


homens conseguem, muitas vezes, localizar esses anticlinais. Ultimamente apareceu
uma ciência nova que tem ajudado muito: a Geofísica. Graças aos processos
geofísicos é possível determinar com muita precisão os anticlinais e os sinclinais,
e, portanto, marcar os melhores pontos para as perfurações. (O poço do Visconde,
Monteiro Lobato, 1965).

90
GEOfÍsica dE Unidade iII
petrÓleo
A palavra Geofísica tem origem grega e significa física da terra. Diferentemente da Geologia, que
pode ser embasada em observações diretas das rochas expostas na superfície (afloramentos de
rochas), a Geofísica é um ramo das geociências que estuda indiretamente determinadas propriedades
físicas das rochas, minerais e fluidos contidos nestas rochas, tais como radioatividade, eletricidade,
magnetismo, densidade e propagação de ondas. O objetivo é determinar a Geologia de subsuperfície,
ou seja, a distribuição espacial dos corpos rochosos, a sua estruturação e identificar a presença de
fluidos ou minérios.

A prospecção Geofísica é, portanto, um procedimento indireto e não invasivo de investigação


de subsuperfície que procura identificar feições geológicas por meio das suas propriedades
físicas utilizando métodos geofísicos como, por exemplo, a gravimetria, a magnetometria, a
eletrorresistividade e a sísmica. Cada um desses métodos é baseado numa propriedade física
diferente e tem, portanto, uma aplicabilidade específica, ou seja, a escolha do método geofísico a ser
utilizado depende do conhecimento prévio das rochas e de suas propriedades a serem investigadas.

Existem várias escalas de investigação Geofísica e diversos métodos aplicados para identificar as
rochas e os fluidos, visando caracterizar o modelo geológico e as melhores locações para poços de
petróleo. Alguns métodos geofísicos podem ser utilizados na fase preliminar do estudo geológico,
quando o conhecimento da área ainda é restrito, tentando delimitar grandes feições de interesse
econômico, por meio de uma interpretação de caráter mais regional. Exemplos desses métodos
são a gravimetria e a magnetometria. Esses métodos são muito importantes na complementação
das informações advindas dos métodos diretos e na redução de custos de projetos. Outros métodos
geofísicos mais específicos, como a sísmica, são normalmente utilizados quando se têm um
conhecimento geológico prévio a respeito da área a ser investigada. Os métodos sísmicos também
apresentam uma escala de investigação de grande extensão areal. Enquanto, os métodos geofísicos
ligados a perfilagem de poços, por sua vez, têm uma escala de investigação localizada a área de
extensão do poço, constituindo um estudo de detalhe.

Desta maneira, diferentes métodos geofísicos são aplicados dependendo da escala de investigação
e do conhecimento prévio da área. De uma maneira geral, numa área em desenvolvimento, onde
já foram perfurados poços exploratórios, o plano de drenagem normalmente é embasado numa
interpretação de sísmica de reflexão para delimitação do reservatório e construção dos modelos
geológicos e de fluxo, além de serem utilizados dados sísmicos de perfilagem de poços já perfurados
e dados de testes de produção, e amostragem de rochas e fluidos.

Nesta unidade vamos tratar dos principais tópicos envolvidos na prospecção Geofísica e de sua
aplicação na indústria do petróleo. No capítulo 12 falaremos das propriedades físicas das rochas
e dos fluidos, no capítulo 13, da perfilagem nos poços de petróleo, no capítulo 14, abordaremos os
conceitos envolvidos nos métodos potenciais e nos métodos elétricos e, por fim, no capítulo 15, do
método sísmico com foco na aquisição, processamento e interpretação de dados sísmicos.

91
capítulo 1
Propriedades físicas de rochas e fluidos

As principais propriedades físicas das rochas investigadas pela Geofísica são: magnetismo, densidade,
resistividade elétrica, radioatividade e propagação de ondas acústicas; por meio de métodos
magnéticos, gravimétricos, elétricos, radioativos e acústicos, respectivamente. Alguns conceitos são
fundamentais para o entendimento dessas propriedades e de suas respostas em relação às rochas
e fluidos. Neste capitulo, vamos falar a respeito das propriedades elétricas, acústicas e radioativas,
que são as principais utilizadas nos métodos de perfilagem de poços, como veremos no capitulo 13.

Propriedades elétricas
Em relação às propriedades elétricas, existem três parâmetros para caracterizar as rochas:
permeabilidade magnética, permissividade dielétrica e condutividade ou resistividade.

Na Geofísica de poço, a permeabilidade magnética é pouco utilizada, devido ao fato da predominância


de minerais não magnéticos nas rochas, enquanto o registro de permissividade dielétrica é utilizado
para distinguir os hidrocarbonetos da água doce, pois a constante dielétrica varia entre 1 e 2 para os
hidrocarbonetos e entre 77 a 79 em águas diluídas com menos de 500ppm de sais totais.

Dentre estes parâmetros, a condutância elétrica é, por sua vez, o principal parâmetro utilizado na
caracterização de rochas por meio de métodos elétricos, na Geofísica de poço. A condutância é a
capacidade de um material em se deixar atravessar por uma corrente elétrica Como os minerais, na
sua maioria, não são bons condutores de eletricidade, à exceção dos minerais de argila, a corrente
elétrica nas rochas é produzida por meio dos fluidos condutivos que preenchem os poros das rochas
(solução eletrolítica). Desta maneira, a condutância é proporcional à concentração e a saturação do
eletrólito e da sua distribuição no espaço poroso. A condutância pode ser induzida por um campo
elétrico externo e, deste modo, deve-se ao movimento ordenado dos íons provocado por esse campo
externo, ou ainda pode ser função de movimentos provocados por trocas iônicas entre fluido de
perfuração e fluidos da rocha durante a perfuração, por exemplo.

O parâmetro normalmente medido por métodos geofísicos é a resistência elétrica (inverso da


condutância), ou seja, a habilidade de impedir a passagem da corrente elétrica. A resistência é
diretamente proporcional ao comprimento (L) a ser percorrido pela corrente elétrica e inversamente
proporcional à área (A) atravessada, isto é:

r α L/A → r = R. L/A

A constante R, denominada resistência específica ou resistividade, constitui a principal medida


utilizada nos métodos elétrico-resistivos.

As rochas normalmente apresentam resistividades entre 0,2 a 1.000 Ω.m (Ohm.m). A resistividade
é inversamente proporcional à salinidade do fluido, pois a concentração e a saturação do eletrólito

92
GEOfÍsica dE petrÓleo │ UNIDADE III

definem a condutividade das rochas e o mais abundante dentre os íons da solução eletrolítica é o
cloreto de sódio, que na água dissocia-se em Na+ e Cl-. Além disso, a resistividade também diminui
com o aumento da temperatura da solução, pois o movimento dos íons fica mais rápido à medida
que a temperatura aumenta (devido à diminuição da viscosidade).

Assim, partindo dessas premissas, algumas relações entre resistividade, temperatura e salinidade
foram estabelecidas. Dentre elas, é bastante utilizada a equação de Bateman e Davies (1977):

Rw 75F = 10 (3,562 – 0,955 x Log Sw) – 0,0123

Nesta equação, Rw é a resistividade a uma temperatura de 75º F (24º C) e Sw, a salinidade (em ppm
equivalentes a uma solução de NaCl).

A partir dessa equação, conhecendo-se Rw1 a uma temperatura conhecida Tw1, pode-se determinar
o valor da resistividade Rw2 a uma temperatura Tw2 (ambas em graus Celsius), utilizando-se a
relação estabelecida por Schlumberger (1985):

Rw2 = Rw1 ( Tw1 + 21,5 / Tw2 + 21,5)

Sendo que para graus Fahrenheit, a constante 21,5 deve ser substituída por 6,77.

A aplicação de métodos resistivos parte da premissa de que os poros de uma rocha encontram-se
100% saturados com fluidos. Assim, a resistividade total de uma rocha contendo água e óleo (Rt) é
diretamente proporcional a sua resistividade somente com água (Ro) e inversamente proporcional
à quantidade da água (Sw). Uma rocha totalmente saturada de água salgada (condutiva, Sw = 1),
tem resistividade Ro baixa. Se esta rocha estiver saturada de água doce, portanto, resistiva, Ro será
alta. A substituição parcial da água por hidrocarboneto aumenta a resistividade da rocha de modo
inversamente proporcional à quantidade do hidrocarboneto.

A equação utilizada para calcular a quantidade de água em uma rocha reservatório (composta
de minerais não condutivos), conhecendo-se a resistividade da rocha, a resistividade da água da
formação e a porosidade, é a Lei de Archie (Figura 60).

Figura 60 – Lei de Archie (1942) e sua aplicação para calcular Sw (saturação de água) a partir da resistividade da
rocha (Rt) e da água de formação (Rw) total obtidos a partir de perfis eletro-resistivos e da porosidade. “a” e “m”
são parâmetros empíricos que dependem da rocha. Para arenitos, “a” é considerado em torno de 0,81 e “m”
normalmente utilizado é 2.

93
UNIDADE III │ GEOfÍsica dE petrÓleo

Propriedades acústicas
As propriedades acústicas dos meios geológicos são bastante utilizadas nos métodos geofísicos de
investigação, nos perfis de poço e nos métodos sísmicos (mais regionais).

As ondas sonoras propagam-se a velocidades diferentes de acordo com o meio de propagação,


sendo mais rápidas nos meios sólidos em relação aos meios líquidos e gasosos. Em rochas porosas,
essa velocidade de propagação é, portanto, proporcional à presença dos componentes que saturam
os poros. Desta maneira, a Geofísica de poço utiliza os métodos acústicos para determinar a
porosidade das rochas. Além disso, os perfis de velocidade de propagação das ondas têm importância
fundamental para a determinação da função velocidade dos meios, o que permite calibrar o poço
na sísmica e construir a função velocidade para transformar a sísmica do domínio do tempo para o
domínio da profundidade, como veremos mais adiante.

Existem vários tipos de ondas acústicas que podem se propagar por meio das rochas, mas para a
Geofísica duas delas são mais importantes:

»» Onda compressional ou longitudinal, denominada onda P, com oscilação das


partículas se processando na direção da propagação da onda. Sua velocidade (Vp)
é dada por:

Onde: ρB é a massa específica do meio, K o módulo de massa ou resistência à deformação, μ o módulo


de rigidez ou cisalhamento, E o módulo de Young ou de elasticidade e σ o módulo de Poisson.

»» Onda de Cisalhamento ou Transversal, com oscilação das partículas se processando


perpendicularmente a direção de propagação da onda. Estas ondas se propagam
somente nos meios sólidos porque eles resistem às tensões de cisalhamento o que
não acontece com os líquidos ou gases. A velocidade destas ondas (Vs) é dada por:

Desta maneira:

Ou seja, Vp será sempre maior do que Vs para um mesmo meio considerado. E normalmente,
considera-se Vp aproximadamente igual a 2.Vs.

A propagação de uma onda acústica por meio da rocha varia em função do tipo de rocha, da
porosidade e do fluido que satura os poros da rocha. Assim, o tempo que a onda acústica leva para

94
GEOfÍsica dE petrÓleo │ UNIDADE III

percorrer um trajeto da rocha (velocidade de propagação desta onda no meio) pode ser utilizado
para determinar quantitativamente a porosidade da rocha. A velocidade das ondas P é maior em
meios sólidos mais densos e diminui com o aumento da porosidade das rochas. Em relação aos
fluidos que saturam os poros das rochas, os hidrocarbonetos diminuem ainda mais a velocidade Vp
em relação a poros saturados com água.

As ondas acústicas, ao se propagarem em meios elásticos, são submetidas a fenômenos físicos


ondulatórios, como atenuação, refração e reflexão. A atenuação de uma onda sonora mediante
um meio é a medida da mudança de sua amplitude por unidade de distância. Quanto maior for à
distância de observação de um fenômeno acústico maior resolução deve ter o equipamento, para
minimizar os efeitos da atenuação. A refração e reflexão de ondas acústicas nos meios obedecem as
leis de Snell e de Reflexão de ondas.

Propriedades radioativas
Radioatividade é o decaimento espontâneo (ou desintegração) de um núcleo atômico instável
acompanhado pela emissão de radiação. A radioatividade é função dos elementos químicos presentes
na Terra, desde o de menor massa (H) até o mais pesado (Pb e Bi). Qualquer elemento de número
atômico maior que o Bi, é instável, portanto, radioativo.

Essas propriedades nas rochas são, portanto, baseadas no decaimento natural de isótopos
radioativos. A maior parte da radiação ou energia liberada consiste das partículas:

»» Alfa (α), que possuem 4 vezes a massa do próton e devido a sua grande massa, têm
capacidade de penetrar apenas algumas folhas de papel;

»» Beta (β), que são elétrons, de pequena massa, sendo facilmente desviados pelos
campos magnéticos;

»» ou Raios Gama (γ ), que são radiações eletromagnéticas similares às ondas de luz e


de rádio, de pequeno comprimento de onda.

Os raios gama por não possuírem carga elétrica não são desviados pelos campos elétricos ou
magnéticos, penetrando em espessos materiais e Φ atravessando inclusive os revestimentos de aço
dos poços, que somente atenuam levemente os raios gama.

Desta maneira, apenas a radiação natural gama é detectada pelos equipamentos de perfilagem,
devido à alta capacidade de penetração em materiais densos. Existem ferramentas radioativas que
utilizam nêutrons produzidos artificialmente, também possuidores de alta capacidade de penetração
nos materiais densos, mas que são amortecidos (ou termalizados) pelos materiais hidrogenados.

O conceito de decaimento radioativo envolve uma constante denominada meia-vida, que é o tempo
decorrido para que metade da massa do elemento-pai se transforme em elemento-filho. Essa
constante é conhecida e diferente para cada núcleo radioativo.

Os raios gama naturais se originam principalmente de três famílias distintas: Urânio235 e principais
elementos-filhos provenientes da sua desintegração; Tório232 - Tálio208; e Potássio40 – Argônio40.

95
UNIDADE III │ GEOfÍsica dE petrÓleo

Estes três elementos são predominantes nas radioatividades naturais das rochas devido à ordem de
grandeza da meia-vida deles (aproximadamente a idade da própria Terra - 4,5 x 109 anos).

O decaimento natural de cada isótopo radioativo emite uma energia específica, que é característica
do núcleo do átomo emissor. Essa energia de radiação é medida em milhão de elétron-volt (MeV).
Por definição, 1eV é equivale à variação da energia que sofre um elétron quando submetido a um
diferencial de potencial igual a 1volt.

No caso das três séries radioativas naturais (U, Th e K), cada elemento-filho emite raios gama,
distintos em número e nível de energia, caracterizando-os qualitativa e quantitativamente. O K40
emite raios gama monoenergéticos da ordem de 1,46 MeV, enquanto o Tório e o Urânio emitem
vários níveis de energia, ao mesmo tempo, sendo usado para suas detecções os picos correspondentes
a 2,62 e 1,76 MeV, respectivamente. A amplitude de um pulso elétrico recebido por um detector de
radiação qualquer é função da energia (ou velocidade) do raio que nele penetra. A intensidade da
radiação está relacionada com o número de pulsos detectados por unidade tempo.

As rochas apresentam, portanto, maior ou menor radioatividade de acordo com a quantidade de


minerais radioativos que elas contêm. Dentre as rochas sedimentares, as rochas mais radioativas
são os argilitos e/ou folhelhos devido à suas habilidades em reter íons metálicos, entre eles Urânio,
Tório e o Potássio 40.

De que maneira essas propriedades são utilizadas na caracterização de rochas e


fluidos?

96
capítulo 2
Perfilagem de poços

Independente do conhecimento geológico de uma bacia sedimentar e da confiabilidade dos dados


geofísicos disponíveis, somente a perfuração mostra se uma locação promissora é realmente um
poço com hidrocarboneto. Assim, as rochas atravessadas pelo poço e os fluidos contidos nos seus
poços devem ser avaliados para se determinar o significado comercial da rocha perfurada. Os
procedimentos que envolvem este estudo compõem a avaliação de formação.

A avaliação de formação deve ser dividida em duas etapas:

»» Avaliação Exploratória realizada:

›› Durante a execução da operação de perfuração por meio de: descrição dos


fragmentos das rochas triturados pela broca (amostras de calha), testemunhos
ou amostras laterais de rochas; análise da ocorrência de extravasão (“kicks”) de
água, gás ou petróleo e das anomalias em detectores de gás; e interpretação dos
perfis de poço a tempo real, obtidos mediante perfilagem Geofísica realizada
durante a própria operação de perfuração;

›› Após a perfuração, antes de ser revestido ou completado o poço, por meio


da interpretação: dos perfis de poço realizados em poço aberto; dos testes de
formação (também denominados de testes por tubulação ou completação
provisória); e dos testes de formação a cabo ou das amostragens laterais.

»» Avaliação Explotatória ou de Produção que é desenvolvida após o poço ter sido


considerado de interesse pela avaliação exploratória e ter sido completado (ou
revestido). Esta avaliação é realizada por meio da interpretação dos perfis geofísicos
realizados nos poços revestidos e dos testes de formação por tubulação e testes de
produção (ou de longa duração).

Na indústria de petróleo, os métodos de avaliação exploratória em poço aberto (sem revestimento)


baseiam-se, principalmente, na perfilagem Geofísica e nos testes de formação. A saber, um poço pode
ser completado sem ter sido executado um só teste de formação, apesar de não ser o indicado. Mas,
nenhum poço jamais será completado ou revestido sem que tenha sido perfilado anteriormente, a
poço aberto.

Mas, o que é Perfil e Perfilagem de poço?

Perfil é um registro contínuo ou discreto, em escala, de parâmetros físicos, químicos ou biológicos,


ao longo de um poço. Os perfis de poço são obtidos por meio da atividade denominada perfilagem
de poços, que está inserida dentro da Geofísica de poço.

97
UNIDADE III │ GEOfÍsica dE petrÓleo

A Geofísica de poço abrange uma variedade de técnicas de aquisição, processamento e interpretação


das propriedades das rochas atravessadas pelo poço. No caso de prospecção petrolífera, os perfis
apresentam como objetivo principal a determinação da profundidade e das propriedades da rocha-
reservatório e dos fluidos que saturam seus poros, permitindo obter os parâmetros petrofísicos que
serão utilizados nos modelos geológicos e de fluxo.

A perfilagem constitui o método de investigação mais restrito (ou localizado) dentre os métodos
geofísicos, pois os parâmetros registrados e interpretados a partir da aplicação deste método têm um
raio de investigação limitado à área do poço. Assim, para correlacionar os dados obtidos a partir da
interpretação de perfis de poços são necessários mais poços perfilados próximos ao poço investigado
ou ainda a utilização de métodos geofísicos de maior escala, como a sísmica, por exemplo, que
constitui o método mais utilizado na indústria petrolífera.

O principio da perfilagem é introduzir ao longo do poço sensores montados em sondas (ou


ferramentas) acopladas a sofisticados aparelhos eletrônicas. Estes sensores registram, a cada
profundidade, as diversas informações relativas às características físicas das rochas e dos
fluidos em seus poros. Estas informações são enviadas à superfície por telemetria para uma
unidade de laboratório (caminhão), dotada de sistemas de registros e processamento de sinas
(computadores). Os sensores e os condutores de alimentação e de fonte, e de emissão dos sinais
coletados para a superfície estão dispostos no cabo de perfilagem, que se desloca no poço, puxado
pelo guincho.

Atualmente, as unidades de perfilagem permitem interpretar em tempo real um perfil, graças ao


uso de monitores óticos ou de câmaras de raios laser ou catódicos, que utilizam papéis especiais
de revelação à luz comum. As companhias de perfilagem registram os perfis em mídia que podem
ser interpretadas nas próprias unidades laboratórios ou entregues aos clientes para processamento
posterior em seus próprios computadores.

Os perfis são registrados em um quadriculado denominado de malha API, que está padronizado
em três “tracks”, pistas ou faixas, seguindo normas específicas do Instituto Americano de
Petróleo. Cada faixa está dividida em 10 pequenas divisões verticais de 1/4 de polegada e tantas
horizontais quantas forem necessárias para a representação da profundidade do poço (pés
ou em metros). As profundidades estão impressas em estreita faixa própria, entre a primeira
e a segunda faixa. As faixas 2 e 3 podem ter tanto escala linear como logarítmica (perfis de
resistividade).

Os perfis podem ser realizados a poço aberto (sem revestimento) ou revestidos. E atualmente,
dispõe-se de ferramentas que realizam a perfilagem durante a perfuração do poço. Apesar de alguns
perfis serem adquiridos somente após a perfuração.

Os principais perfis realizados a poço aberto são: potencial espontâneo, raios gama, indução-
elétrico, caliper sônico, densidade e neutrão. Os três últimos podem ser utilizados para determinar
a porosidade das rochas-reservatório. Além desses perfis, os perfis de imagem e de mergulho podem
ainda ser realizados e os amostradores para obtenção de amostras laterais de rocha das paredes dos
poços são também considerados perfis, pois são realizados durante a perfilagem de poços.

98
GEOfÍsica dE petrÓleo │ UNIDADE III

Figura 61 – Quadro resumo dos principais perfis a poço aberto (sem revestimento) e seus princípios.

»» POTENCIAL ESPONTÂNEO - diferença de potencial gerado no contato poço x formação.

»» RAIOS GAMA - radioatividade natural da rocha.

»» INDUÇÃO-ELÉTRICO - condutividade da formação.

»» SÔNICO - tempo de propagação de uma onda acústica.

»» DENSIDADE - quantidade de elétrons por unidade de volume de rocha.

»» NEUTRÃO - concentração de hidrogênio por unidade de volume de rocha.

»» CALIPER - diâmetro do poço.

As principais aplicações para os perfis de poços podem ser de ordem qualitativa, tais como:
identificação litológica, correlações entre poços, identificação do fluido que satura os poros da rocha,
determinação de fraturas, controle de profundidade e diâmetro do poço; ou ainda quantitativa,
como: cálculo da densidade e velocidade sônica das rochas, porosidade, volume de argila, espessura
porosa; estimativa da permeabilidade, cálculo da saturação de fluidos para estimativa das reservas
de hidrocarbonetos.

Como a maioria dos métodos geofísicos é incapaz de distinguir os componentes sólidos entre eles,
para efeito de estudo baseado em métodos geofísicos, as rochas sedimentares são divididas em duas
partes: matriz, que engloba todo o material sólido, ou seja, a matriz propriamente dita, o cimento e
o arcabouço; e poro, que constitui todo o espaço vazio que pode ser preenchido por fluidos.

Sendo um volume unitário rochoso igual à unidade (1 ou 100%), então a matriz representará um
volume igual a (1 – Φ) da rocha, vez que nas equações de interpretação de perfilagem a porosidade
é expressa em termos fracionais (adimensional).

As principais propriedades das rochas e fluidos investigadas são: elétricas, radioativas e acústicas.
Com os sensores elétricos, detecta-se, por exemplo, a resistividade das rochas e o perfil é interpretado
mediante comparações dos valores obtidos na perfilagem com os valores das resistividades de
diversas rochas conhecidas e determinadas em laboratório previamente. Assim, é possível estimar
os fluidos que saturam os poros das rochas atravessadas pelo poço, bem como sua porosidade. Com
os sensores nucleares, detecta-se a intensidade de radioatividade das rochas e dos fluidos em seus
poros, podendo-se inferir a composição mineralógica das mesmas. Com as ferramentas acústicas,
ultrassons são emitidos em uma ponta da ferramenta a intervalos regulares e detectados em sensores
na outra ponta. O tempo que o sinal sonoro levou para percorrer esta distância fixa e conhecida
(chamado de tempo de trânsito) por meio da parede do poço (pela rocha) é medido e gravado no
perfil. O geofísico, mais tarde, compara os tempos de trânsito obtidos nos perfis com os tempos
determinados em laboratório para rochas de composições conhecidas, inferindo, desta maneira, as
características das rochas e determinando suas profundidades ao longo do poço.

99
UNIDADE III │ GEOfÍsica dE petrÓleo

Essas propriedades podem ser investigadas a partir de uma indução ou por emanação direta da
rocha sem necessidade de emissão de fonte, como veremos a seguir, na descrição dos principais
perfis realizados.

Perfil de Potencial Espontâneo (SP)


O perfil de Potencial Espontâneo (Perfil SP) registra a diferença de potencial entre um eletrodo
móvel inserido no poço e outro eletrodo fixo (de referência) na superfície.

A condição essencial para o perfil SP é o contraste de salinidade entre o filtrado da lama e a água
da formação, pois a deflexão positiva ou negativa da curva do SP (resposta deste perfil) mostra a
diferença de potencial dentro do poço, criada a partir de movimentações iônicas entre fluidos de
diferentes salinidades.

A interação entre os dois fluidos é chamada Potencial Eletroquímico e ocorre por meio de dois
processos:

»» Transferência de ions de Na+, por meio dos folhelhos, da solução mais concentrada
para a menos concentrada, gerando o chamado Potencial de Membrana, que é
responsável por quase 80% da deflexão da curva de SP.

»» Transferência de ions Cl- , cuja mobilidade é maior do que a do Na+, produzida na


borda da zona invadida da solução mais concentrada para menos concentrada,
equivalente a um fluxo de corrente convencional em sentido oposto, originando
o Potencial de Líquido-Junção. Este potencial equivale a 1/5 do Potencial de
Membrana.

A curva de SP é apresentada no track 1 (pista 1), junto com as curvas de Raios Gama, Caliper
(diâmetro do poço) e tensão, e as escalas mais comuns são de 10 ou 20 mV por divisão da pista.

O perfil SP se comporta da seguinte maneira (Figura 62):

»» Apresenta frente a folhelhos e a outras rochas impermeáveis um comportamento


retilíneo, denominado de linha-base dos folhelhos;

»» Frente a rochas permeáveis (reservatórios em potencial) o SP apresenta deflexões


a partir da linha-base dos folhelhos. Essa deflexão é para direita (positiva), quando
o filtrado da lama possui salinidade maior que a da formação,ou para esquerda
(negativa), quando a salinidade do filtrado for menor que a da água de formação.

As aplicações do perfil SP são: identificação de camadas permeáveis; avaliação qualitativa da


permeabilidade; indicação de argilosidade; correlação entre poços; e cálculo da resistividade
aparente da formação.

Este perfil pode apresentar problemas relacionados: à presença de camadas argilosas; poços com
lama à base de óleo; poços desmoronados; reservatórios com óleo (atenuação); e salinidade da lama
semelhante à da formação.

100
GEOfÍsica dE petrÓleo │ UNIDADE III

Figura 62 – Interpretação de um Perfil SP quanto à salinidade da água de formação, a linha inclinada no perfil
representa a linha-base de folhelho. Na parte superior da curva, a declinação para a direita representa os
arenitos, enquanto na parte inferior, os arenitos estão representados pela declinação para a esquerda.

Perfil de Raios Gama (GR)


O perfil de Raios Gama (GR), básico e indispensável em qualquer programa de perfilagem de poço,
tem como princípio o decaimento isotópico radioativo natural das rochas. Ele pode ser corrido em
poços abertos ou revestidos.

Os raios gama podem ser entendidos como ondas eletromagnéticas de alta energia (0,1 e 10 MeV)
emitidas por elementos radioativos tais como K40, U232 e Th238, responsáveis por quase toda radiação
gama da Terra.

O equipamento de medida consiste em um cintilômetro com um cristal capaz de emitir um fóton


ao ser atravessado pelo raio gama. O fóton é detectado por um fotomultiplicador, produzindo um
impulso elétrico que é registrado e transformado em uma curva, cuja escala é expressa em unidade
API. Uma unidade API é definida como 1/200 da diferença nas medições do perfil entre duas zonas
de diferentes intensidades de raios gama de um poço-teste na Universidade de Houston. A escala
utilizada nos perfis é linear, normalmente apresentada de 0-150 ou 0-300 API e registrada no track
1 (pista 1).

101
UNIDADE III │ GEOfÍsica dE petrÓleo

Figura 63 – Interpretação litológica a partir de um Perfil GR. Os arenitos são representados pela cor mais clara,
com pontos, e são marcados por uma menor radioatividade, ou seja, curva GR mais negativa (curva para a
direita). Quanto mais à direita estiver a curva do GR, mais “limpo” o arenito (menor argilosidade). Os folhelhos,
margas e calcários são representados pelas cores mais escuras na coluna litológica,e na curva GR apresentam
valores mais altos que os arenitos, ou seja, são mais radioativos.

Em rochas sedimentares, a curva de raios gama reflete o conteúdo argiloso da rocha (Figura 63),
pois os elementos radioativos tendem a se concentrar em minerais argilosos e, por conseguinte, em
folhelhos. As formações “limpas”, arenitos quartzosos, por exemplo, têm um nível radioativo baixo.
Arenitos feldspáticos, no entanto, apresentam alto índice radioativo.

De uma maneira geral, as rochas podem ser divididas, de acordo com sua radioatividade natural,
em três grupos distintos:

»» Rochas altamente radioativas – folhelhos/argilas de águas profundas (formados


por lamas de radiolários e globigerinas), folhelhos pretos betuminosos, evaporitos
potássicos (carnalita, silvinita, taquidrita) e algumas rochas ígneas/metamórficas.

»» Rochas medianamente radioativas – folhelhos e arenitos argilosos de águas rasas, e


carbonatos e dolomitos argilosos.

»» Rochas de baixas radioatividades – grande maioria de carvões e evaporitos não


potássicos (halita, anidrita, gipsita).

102
GEOfÍsica dE petrÓleo │ UNIDADE III

As aplicações dos perfis GR são: definição de litologia; correlação entre poços; identificação de
minerais radioativos; e volume de argila nas rochas reservatórios.

Os problemas encontrados nos perfis GR são relacionados à ocorrência de arenitos radioativos


(feldspáticos, micáceos, glauconíticos) e picos anormais em folhelhos, que possam representar uma
maior quantidade radioativa localizada.

Perfil de Indução-elétrico
Os perfis de indução-elétricos são baseados em medidas de resistividade da formação. A resistividade
é a propriedade física que mede quanto um determinado meio impede a passagem de corrente
elétrica, tendo como unidade de medida ohm.m.

A principal utilização desses perfis é para a identificação de fluidos no reservatório, pois a corrente
elétrica nas rochas é produzida por meio de solução eletrolítica, ou seja, por meio dos fluidos que
se encontram nos seus poros. Assim, quanto maior a salinidade maior a condutividade elétrica e
menor a resistividade da rocha. Além de identificação de fluidos, esses perfis também são utilizados
para a estimativa da porosidade das rochas.

Para a identificação de hidrocarbonetos, tem-se que:

»» Óleo ou gás = alta resistividade

»» Água doce = alta resistividade

»» Água salgada = baixa resistividade

As aplicações desses perfis são: determinação da resistividade da formação (Rt); identificação de


zonas portadoras de hidrocarbonetos; definição de contatos entre fluídos; e cálculo da saturação de
água.

As principais ferramentas são: Array Induction Imager Tool (AIT), Latero perfis e perfis de
microrressistividade.

O AIT representa a última geração das ferramentas de indução. O princípio de funcionamento da


ferramenta compreende: 1 Transmissor que opera simultaneamente em três frequências e 8 sensores
de indução, que realizam 28 leituras de resistividade a cada intervalo de 3”. São obtidas 5 curvas
com raios de investigação de 10, 20, 30, 60 e 90” , e apresentação das curvas se da no Track 4 na
escala log de 0,2 a 2000 ohm.m. As vantagens destes perfis inclui: a quantificação da profundidade
da invasão; a resolução vertical de até 1 pé; e um processamento especial que gera imagem resistiva
do poço.

Os Latero perfis apresentam como princípio: 1 Eletrodo central Ao que emite uma corrente elétrica e
simetricamente a este, dois eletrodos A1 e A2 com correntes ajustáveis focalizam a corrente Ao para

103
UNIDADE III │ GEOfÍsica dE petrÓleo

dentro da formação. A ferramenta lê a diferença de potencial (σP) entre um eletrodo monitor na


ferramenta e outro na superfície e esta sP é proporcional a resistividade da formação. As vantagens
desta ferramenta incluem: a possibilidade do perfil ser corrido em lamas muito condutivas (acima
100.000 ppm): o fato do meio poder apresentar altos valores de Rt; e a alta resolução vertical de 1m.
A limitação principal da ferramenta é que os perfis não podem ser corridos em lamas não condutivas
(base óleo/ar).

As ferramentas dos perfis de microrressistividade (MSFL) possuem um dispositivo esférico focalizado


em menor escala com relação às ferramentas dos perfis de resistividade, com eletrodos montados
em patins de borracha flexível. A focalização é obtida por meio de eletrodos auxiliares que, ao invés
de focar a corrente elétrica a concentrar-se em um raio estreito, impede apenas que a mesma circule
na lama e reboco. A principal utilização do MSFL é ler a resistividade da Zona Invadida (Rxo). Esta
é uma informação importante quando se avalia óleo em formações com água doce, onde os perfis
de resistividade não conseguem fazer diferenciação entre as zonas com hidrocarbonetos e água. A
zona invadida é a zona transicional ou temporária com os fluidos filtrado, hidrocarboneto e água
da formação - irredutível e/ou livre, misturados. Além da zona invadida existe a zona verdadeira ou
virgem, não perturbada ou não contaminada pelo filtrado da lama, pois nela estão todos os fluidos
das rochas em sua proporção volumétrica original.

Perfis sônicos
Os perfis sônicos são baseados nas propriedades acústicas dos meios, constituindo um dos perfis mais
utilizados na exploração de petróleo. O principio da perfilagem sônica é a emissão de uma onda sonora
que se propaga por meio das rochas atravessadas pelo poço e é detectada pelos transmissores, sendo
medido o tempo decorrido entre a emissão da onda e a detecção do primeiro sinal. A ferramenta calcula
o DT (tempo de trânsito), que é o tempo gasto para a onda percorrer 1 pé de formação e a unidade
padrão é o msec/ft. A ferramenta consiste de 2 transmissores e 4 receptores arranjados em pares: 2
receptores para cada transmissor. Os transmissores e os receptores são ativados alternadamente e
é efetuada uma média das leituras ponto a ponto. O perfil normalmente é representado no Track 4,
com escala linear de 40 a 240 msec/pé. E as ferramentas mais utilizadas são: BHC/BCS, LSS (LONG
SPACE SONIC) e SDT (SÔNICO DIGITAL), sendo as duas últimas mais modernas.

Os fatores que influenciam a resposta do perfil sônico são: LITOLOGIA (tipo de matriz) - Quanto
mais densa a matriz, menor é o DT; POROSIDADE - Quanto maior a porosidade, maior é o DT (os
poros estão preenchidos por fluidos e estes têm altos DT); e ARGILOSIDADE - Aumenta o DT,
causando uma falsa porosidade. Por isto, este perfil é utilizado para: determinação da porosidade;
calibração da seção sísmica; correlação de poços; e identificação de fraturas, quando integrado com
outros perfis.

O cálculo da porosidade (Φs ) a partir do perfil sônico é obtido a partir da seguinte equação:

Φs = ∆T lido - ∆T matriz

∆T fluido - ∆T matriz

104
GEOfÍsica dE petrÓleo │ UNIDADE III

Perfis de densidade
O princípio da perfilagem de densidade é a emissão de raios gama por meio de uma fonte radiativa.
A colisão destes Raios Gama com os átomos da formação produz dois tipos de interação.

»» Efeito Compton - ocorre quando a colisão apenas dissipa energia do raio gama.
A ferramenta lê a intensidade dos raios gamas dissipados e à relaciona com a
densidade da formação ou seja: formação mais densa, maior número de colisões,
menor a intensidade de raios gama detectado e vice-versa.

»» Efeito fotoelétrico - ocorre quando o raio gama incidente apresenta baixo nível de
energia (devido ao efeito compton) e é totalmente absorvido. Esta interação é a base
do perfil litológico (PE), pois depende da composição da rocha.

As curvas geradas, apresentadas nos tracks 3 ou 4, podem ser do tipo: rb - densidade total, com
escala linear de 2 a 3 g/cm3; Pe - fator fotoelétrico, também com escala linear; e D r (delta r), com
escala linear de -0,25 a +0,25 g/cm3 .

Os fatores que afetam a leitura da densidade são: zonas de gás, que tendem a diminuir o rb,
aumentando a porosidade lida, necessitando, portanto, de correções adequadas; argilosidade,que
tende a diminuir o rb, embora seja o perfil menos afetado pela argilosidade; diâmetro e rugosidade
do poço, que influenciam fortemente as leituras; formações muito fraturadas; e o reboco, que se for
muito espesso pode afetar nas leituras, pois a baritina da lama possui alta capacidade de captura de
raios gama.

As aplicações envolvem: determinação da densidade da rocha; determinação da porosidade;


identificação de zonas de gás em conjunto com o neutrão; avaliação de arenitos argilosos; e
interpretação de litologias complexas, por meio da análise da curva de PE.

O cálculo da densidade é obtido a partir da seguinte equação:

ΦD = rma - rb

rma - rf

Onde:

»» ΦD = porosidade do perfil;

»» rma = densidade da matriz;

»» rb = densidade lida no perfil;

»» rf = densidade do fluido que satura a rocha.

Perfil Neutrão
O perfil Neutrão (Compensated Neutron Logging – CNL) tem como principio a emissão continua de
nêutrons por meio de uma fonte radiativa. Estes nêutrons, ao colidirem com o núcleo dos átomos

105
UNIDADE III │ GEOfÍsica dE petrÓleo

da formação, perdem energia. Como a quantidade de energia perdida é maior se a colisão for com o
átomo de hidrogênio, pois este possui massa igual a do nêutron, a velocidade de perda de energia é
proporcional à concentração de hidrogênio na formação. À medida que perdem energia os nêutrons
mudam de estágio passando por epitermais até termais, quando são capturados por núcleos de
átomos (Cl, H, Si) ou detectados pela ferramenta. A ferramenta mede a quantidade de nêutrons
termais que é inversamente proporcional à concentração de hidrogênio da formação que, por sua
vez, é diretamente proporcional à porosidade, pois quanto mais poros, maior será o volume de
fluido (água/óleo) e, portanto, maior será o índice de hidrogênio.

Assim, o perfil é utilizado principalmente para determinação da porosidade, além de ser utilizado
como indicador de argilosidade e de zonas de gás ou hidrocarbonetos leves. Ele pode ser registrado
a poço revestido.

Os fatores que afetam as leituras são: zonas de gás (Figura 64), pois o perfil lê uma porosidade
menor do que a real, visto que o gás apresenta menor concentração de hidrogênio, devendo, nestas
condições serem efetuadas as correções adequadas; e argilosidade, pois na sua presença, o perfil lê
uma porosidade maior do que a real, visto que as argilas apresentam muita água estrutural.

A ferramenta de perfilagem Neutrão é calibrada para rochas carbonáticas, assim, deve ser efetuada
uma correção para leitura de porosidades em arenitos, somando-se 4% ao valor da porosidade lido
no perfil, que é apresentado no Track 4, com escala linear de 45 a -15 (% NPHI).

Figura 64 – Interpretação de uma zona de gás a partir de um Perfil Neutrão.

106
GEOfÍsica dE petrÓleo │ UNIDADE III

Outros perfis
Além dos perfis descritos anteriormente, que constituem os mais comuns e necessários na
atividade de avaliação de formações, outros perfis, menos usuais, podem ser realizados como os
perfis de mergulho, de imagens resistivas, além da coleta de amostras de rocha por meio do uso de
amostradores.

Os perfis de mergulho (Dipmeter) utilizam ferramentas com 4 ou 6 patins equidistantes, equipados


com eletrodos, contidos num plano perpendicular ao eixo do poço.O princípio básico é o registro
de curvas de microrresistividade, que são correlacionadas automaticamente, definindo os planos
atravessados pelo poço. As aplicações incluem: a determinação da direção, da inclinação, do calibre
e da ovalização do poço; a determinação da direção e do mergulho das camadas e estratificações; e
a identificação de feições geológicas (falhas, dobras, discordâncias). As limitações destes perfis são
poços com lama à base de óleo e poços com problemas no caliper (arrombamento ou rugosidade).

Os perfis de imagens resistivas têm como princípio básico o mapeamento da resistividade da parede
do poço mediante o expressivo número de eletrodos distribuídos em 4 ou 6 patins. Os valores de
resistividades medidos são convertidos em cores (mais claras ----> mais resistivas), permitindo
a visualização de feições geológicas (Figura 65). As características destes perfis são imagens em
faixas paralelas cobrindo o perímetro do poço, representado em 2D, e a cobertura varia com a área
ocupada pelos eletrodos e com o diâmetro do poço. Além das imagens, estes perfis fornecem todos
os produtos do perfil de mergulho (Dipmeter) e, além disto, têm a vantagem da possibilidade de
interpretação direta em workstations.

Figura 65 – Perfil de imagens resistivas obtido por ferramenta de seis patins.

Os perfis de imagens resistivas são utilizados para: análise estrutural (fraturas abertas e fechadas,
falhas, dobras, discordâncias angulares); determinação da geometria do poço; identificação de

107
UNIDADE III │ GEOfÍsica dE petrÓleo

fraturas induzidas pela perfuração; análises sedimentológicas e estratigráficas (litologia, camadas


finas, estratificação cruzada, erosões e escorregamentos); análises texturais (feições de cimentação
e dissolução); além de correlação com testemunhos. As limitações são lamas não condutivas e poços
com caliper irregular (arrombamento e/ou rugosidade).

A amostragem lateral (Figura 66), que também é considerada um perfil, tem como princípio básico
a obtenção de amostras de rocha da parede do poço, em profundidades pre-determinadas, por
rotação ou por percussão com detonação eletrônica. As aplicações são: identificação de litologias
após perfuração do poço; obtenção de amostras para análise; e análise de indícios. As limitações
incluem o fato das amostras serem de pequeno tamanho, além da possibilidade de ocorrer destruição
do arranjo dos grãos em formações pouco consolidadas.

Figura 66 – Ferramenta de amostragem lateral rotatória e exemplos de amostras laterais obtidas.

Os perfis de poços são, portanto, utilizados para a caracterização das rochas e fluidos, mas eles estão
limitados à área atravessada pelo poço. Os testes de produção, que são realizados ainda dentro da
avaliação de formação, auxiliam na compreensão do comportamento do reservatório, principalmente
no que diz respeito ao fluxo de fluidos, mas também não são conclusivos e para a melhor interpretação
do reservatório dependem de informações de caráter mais regional. Assim, as informações obtidas
por emio de métodos aplicados ao poço precisam ser estendidas para o restante da área de interesse
(ringfence do campo, por exemplo) para o desenvolvimento do plano de drenagem.

Desta maneira, os métodos geofísicos de caráter mais regional têm importância fundamental, tanto na
determinação de uma avaliação exploratória, para a locação de poços exploratórios e cálculos de volume
de óleo iniciais, quanto na avaliação de reservatório, posterior à perfuração de poços exploratórios,
fornecendo o arcabouço do modelo geológico, por meio, principalmente, das informações de topo e
base do reservatório ao longo da área de interesse (estendendo as informações obtidas nos poços) e
das propriedades de porosidade e permeabilidade que podem ser retiradas dos dados sísmicos.

Como os métodos geofísicos de caráter regional contribuem para o desenvolvimento


do plano de drenagem da área?

108
capítulo 3
Métodos potenciais: magnetometria e
gravimetria, métodos elétricos

Métodos Potenciais
Os métodos potenciais são aqueles que utilizam os campos naturais da Terra e, portanto, não
necessitam de uma fonte artificial de energia. Neste tópico trataremos dos métodos potenciais
magnetométricos e gravimétricos.

Magnetometria
Como vimos no item 3.3 (O sistema do Geodínamo), nosso planeta pode ser considerado como um
grande ímã e seu campo magnético assemelhado, portanto, a um dipolo magnético com seus polos
próximos aos polos norte e sul geográficos da Terra. Se traçarmos uma linha imaginária entre os
polos norte e sul magnéticos, esta apresentará uma inclinação de aproximadamente 11,5º relativa
ao eixo de rotação da Terra (Figura 67).

Figura 67 – O campo magnético terrestre como um dipolo cujo eixo faz um ângulo de 11,5° com o eixo de
rotação da Terra.

Fonte: Segundo Teixeira et.al. (2008).

109
UNIDADE III │ GEOfÍsica dE petrÓleo

O objetivo da magnetometria é investigar a Geologia de uma determinada área registrando as


variações do campo magnético da Terra provocadas pela susceptibilidade magnética de corpos
rochosos em subsuperfície.

A magnetometria é mais comumente empregada na prospecção de minerais magnéticos como,


por exemplo, minérios de ferro (Figura 68), mas ele também pode ser aplicado na prospecção de
hidrocarbonetos quando associado a outros métodos de prospecção. Seu uso combinado com a
gravimetria, que mede a variação no campo gravitacional terrestre, pode indicar, por exemplo, a
presença de uma bacia sedimentar ocupando baixos estruturais, que tem uma resposta magnética
negativa (Figura 69). Complementarmente, pode-se ainda refinar o estudo combinando-se também
a sísmica, que pode indicar a presença de plays de reservatórios de petróleo e gás.

Figura 68 – À esquerda: Ilustração do mapa altimagnetométrico da província mineral de Carajás enfatizando


os principais lineamentos regionais expressos por cristas magnéticas (altos alinhados) e mudanças abruptas no
gradiente magnético. À direita: Interpretação estrutural do mapa altimagnetométrico.

Fonte: <http://www.sciencedirect.com>

Figura 69 - À esquerda: Mapa de anomalia magnética reduzida ao polo mostrando a bacia do Rio do Peixe -
RN e o contexto estrutural em que a mesma encontra-se inserida. À direita: Limite da bacia do Rio do Peixe e
interpretação da estrutural da mesma.

Fonte: <http://www.sciencedirect.com>

110
GEOfÍsica dE petrÓleo │ UNIDADE III

Gravimetria
O termo gravimetria significa medição da gravidade (grave = peso, metria = medição), mais
especificamente, a medida da magnitude da aceleração da gravidade.

No século XVII, o italiano Galileo Galilei fez experiências deixando cair objetos da Torre Inclinada de
Pisa como, por exemplo: bolas de canhão, balas de mosquete, ouro, prata e madeira (Figura 70). Ele
esperava que os objetos mais pesados caíssem mais rápidos, mas isto não aconteceu. Eles atingiram
o chão ao mesmo tempo e ele fez uma grande descoberta: a gravidade acelera todos os corpos a uma
mesma razão, independentemente da sua massa ou composição. A aceleração gravitacional que ele
encontrou foi de 5 m/s2 sendo que hoje sabemos que o valor médio da gravidade na superfície da
Terra é de aproximadamente 9,8 m/s2. Desde então, graças ao aumento na precisão das medidas da
gravidade, a distribuição gravitacional da Terra tem se tornado cada vez mais conhecida.

Em homenagem a Galileu, a Unidade de Gravidade no sistema c.g.s. foi chamada de Gal, onde 1 Gal
= 1 m/s2. Assim a Unidade CGS normalmente utilizada nas medidas de gravidade é o miliGal, onde
1 mGal = 10-3 Gal = 10-3 cm/s2. No sistema SI a gravidade é medida em m/s2 ou u.g. (Unidade
de Gravidade) e 10 u.g. = 1 mGal. Ambas unidades, mGal e u.g. são normalmente utilizadas em
pesquisas gravimétricas.

Figura 70 - À esquerda: Experiência realizada Galileu Galilei na Torre de Pisa deixando cair diversos objetos
de diferentes massas com o intuito de medir a força da gravidade. À direita: a variação da aceleração da
gravidade na superfície terrestre como resultado da soma vetorial das acelerações gravitacional ag e da
centrifuga ac. A direção da aceleração da gravidade g não é radial e sua intensidade atinge valores máximos
nos polos e mínimos no Equador.

Fonte: Segundo Teixeira et.al. (2008).

Se a Terra fosse uma esfera uniforme, o valor da gravidade seria uma constante, mas sabemos
que nosso planeta tem a forma de uma esfera achatada por causa da sua rotação. O Raio é maior
no Equador por causa da maior força centrifuga tendendo a acelerar a massa central para fora
(Figura 70). Definimos então o formato da Terra como uma elipse ou esferoide de rotação. Se
considerarmos a superfície do mar sem o efeito das marés, teremos o geoide que representa uma
superfície chamada de Superfície Equipotencial na qual o campo gravitacional tem o mesmo

111
UNIDADE III │ GEOfÍsica dE petrÓleo

valor (Figura 71). A força da atração gravitacional é representada por um vetor perpendicular ao
longo de toda superfície do geoide.

Figura 71 - Representação do geoide e do esferoide de referência de rotação da Terra.

A Gravimetria é um método de prospecção mineral que tem por objetivo estudar perturbações do
campo gravitacional terrestre, geradas pela distribuição de massas, isto é, pela presença de rochas
de diferentes densidades no subsolo (Figura 72). Quando se considera materiais com o mesmo
volume e a mesma profundidade, os mais densos vão contribuir mais fortemente para o campo
gravitacional que os menos densos. Se certos materiais apresentarem o mesmo volume e a mesma
densidade, a contribuição será maior para aqueles mais próximos à superfície. Se estes mesmos
materiais tiverem a mesma densidade e estiverem a mesma profundidade, a maior contribuição
será o de maior volume.

Figura 72 - Representação do campo gravitacional terrestre e de suas variações espaciais.

Fonte: <http://www.geofisica.ufpa.br>

Este método pode ser aplicado na prospecção de jazidas de minério de ferro, que apresentam
densidades superiores à densidade média das rochas da superfície, ou na identificação de domos
salinos, que tem uma baixa densidade em comparação com as rochas encaixantes. No exemplo
abaixo, por exemplo, o método gravimétrico respondeu bem para delimitação dos sedimentos da
Bacia do Rio do Peixe, que tem uma densidade menor que as rochas ígneas que limitam a bacia
(Figura 73).

112
GEOfÍsica dE petrÓleo │ UNIDADE III

Figura 73 - À esquerda: Mapa de anomalia gravimétrica mostrando que os valores negativos correspondem aos
sedimentos da bacia do Rio do Peixe - RN. À direita: Limite da bacia sedimentar do Rio do Peixe e interpretação
da estrutural da mesma.

Fonte: <http://www.sciencedirect.com>

Os equipamentos utilizados nos levantamentos gravimétricos denominados gravímetros (Figura


74). São instrumentos de medição do valor da aceleração de gravidade que servem para determinar a
intensidade do campo de gravidade da Terra em um determinado ponto. É um equipamento sensível
e muito preciso, sendo adequado para detectar variações muito pequenas no valor da aceleração de
gravidade, que reflete em última instância as variações de densidade em subsuperfície.

Quando observamos em uma dada região um valor de aceleração de gravidade diferente do que o
previsto por um modelo teórico, dizemos que ali existe uma anomalia gravimétrica. Isso significa
que as rochas daquela região apresentam uma densidade diferente daquela que é a média esperada
pelo modelo, como podemos observar na interpretação da Figura 74.

Dependendo do tipo de objetivo geológico, estes levantamentos podem ser aéreos, marítimos ou
em poços. Em termos geográficos, eles podem ser em áreas pequenas ou em escala regional e as
profundidades podem variar de metros até quilômetros.

Figura 74 – À esquerda: gravímetro absoluto. À direita: Anomalia de gravidade causada pelo granito Tourão
(RN). O perfil A-B mostra acentuada queda no valor da gravidade, possibilitando a interpretação da presença
de um corpo granítico, menos denso que as rochas encaixantes, de extensão horizontal de cerca de 50 km e
profundidade máxima em torno de 5 km.

Fonte: Segundo Teixeira et.al. (2008).

113
UNIDADE III │ GEOfÍsica dE petrÓleo

Métodos Elétricos
Os métodos elétricos são utilizados na prospecção Geofísica quando se desejam investigar variações
nas propriedades elétricas dos solos e rochas que ocorrem abaixo da superfície.

Convencionou-se em denominar de métodos elétricos àqueles que empregam correntes


elétricas cujas amplitudes não variam no tempo, isto é, correntes contínuas, e de métodos
eletromagnéticos aqueles que empregam correntes que apresentam amplitude variando com o
passar do tempo oscilando a uma determinada frequência, isto é, correntes alternadas. Estes
métodos fazem uso de voltagens associadas à passagem de correntes elétricas que fluem na
subsuperfície e estas são via de regra geradas por meios artificiais por meio de baterias ou
geradores. No caso dos métodos elétricos, é necessário que haja contato direto com o solo para
a tomada das medidas, enquanto que para os eletromagnéticos não há geralmente necessidade
do contato com o solo.

Na investigação da Geologia de subsuperfície, a aplicação de um determinado método geofísico


depende da propriedade elétrica envolvida. Dentre os principais métodos elétricos, destacam-se
os métodos da eletrorresistividade, polarização induzida e o potencial espontâneo, e dentre os
eletromagnéticos, destacam-se os métodos Slingram, VLF (very low frequency), magnetotelúrico,
radar de penetração no solo (GPR - ground penetration radar) e outros.

Eletrorresistividade
A eletrorresistividade é geralmente o mais utilizado dos métodos elétricos. Seu uso é
principalmente indicado em estudos hidrogeológicos, por exemplo, na prospecção de água
subterrânea e na determinação de cunhas salinas em zonas costeiras, mas também na área
geoambiental, na investigação de plumas contaminantes e objetos introduzidos pelo homem
no subsolo como artefatos arqueológicos e dutos, na busca por pistas criminais e em vários
outros casos.

Este método utiliza um equipamento denominado resistivímetro, o qual introduz no terreno


uma corrente artificial por meio de dois eletrodos, A e B, com o objetivo de medir o potencial
gerado em outros dois eletrodos, M e N, nas proximidades do fluxo de corrente, permitindo
assim calcular a resistividade real ou aparente em subsuperfície. Pode ser utilizado sob a
forma de sondagem elétrica vertical (SEV) para procurar camadas aquíferas permeáveis, ou
sob a forma de caminhamento elétrico para identificar zonas menos resistivas que podem
estar associadas a fraturas preenchidas com água. Estes arranjos estão representados na
Figura 75.

114
GEOfÍsica dE petrÓleo │ UNIDADE III

Figura 75 – Esquema simplificado dos arranjos de (a) sondagem elétrica vertical (SEV) e (b) caminhamento
elétrico (CE). No SEV afasta-se o dipolo transmissor AB mantendo-se fixo o dipolo receptor para investigar maiores
profundidades. No CE mantém-se fixo o dipolo transmissor AB e caminha-se com o dipolo receptor MN para se
investigar maiores profundidades. Quanto maior a distância entre dos pares de dipolos receptores em relação
aos dos transmissores, maior a profundidade de investigação (N1 e N2).

Polarização induzida (IP)


A polarização induzida é um fenômeno físico elétrico estimulado pela transmissão de uma corrente
elétrica pulsante e periódica no subsolo, observada como uma resposta defasada de voltagem nos
materiais terrestres. A detecção dessa resposta, denominada curva de relaxação ou transiente,
indicará a presença de material polarizável no subsolo, constituindo-se, portanto, a base do método
IP. É muito utilizado na prospecção de minerais metálicos.

Magnetotelúrico (MT)
O método magnetotelúrico é uma técnica utilizada no mapeamento de corpos em subsuperfície
por meio das medidas do campo magnético e das correntes telúricas, que são correntes elétricas
naturais da Terra que fluem como correntes contínuas ou de frequência muito baixa, que se
alinham a grandes lineamentos tectônicos. Seu comercial inclui a exploração de óleo e gás, de fontes
geotermais e mineração.

Eletromagnético (EM)
O método eletromagnético consiste num conjunto de técnicas de prospecção nas quais campos
elétricos e magnéticos da Terra, naturais ou artificiais, são utilizados no mapeamento de determinadas
propriedades de rochas como resistividade, permeabilidade ou permitividade.

115
UNIDADE III │ GEOfÍsica dE petrÓleo

O GPR (Ground Penetration Radar) ou radar de penetração no solo é um dos métodos de EM


bastante utilizados. Ele funciona por meio da emissão e recepção de pulsos de onda eletromagnética
por antenas que variam os valores de frequência entre 10 e 2500 MHz. As diferentes frequências
indicam a resolução do perfil, isto é, as mais altas têm maior resolução e menor profundidade de
alcance, enquanto que as mais baixas têm menor resolução e maior alcance.

Os métodos de EM são muito aplicado na detecção de feições de embasamento, de dutos e instalações


subterrâneas, no estudo de água subterrânea e Geologia ambiental. E atualmente, eles também têm
sido bastante utilizados na indústria do petróleo.

Os métodos geofísicos potenciais e elétricos descritos neste capítulo têm importância para a
prospecção de petróleo, podendo ser utilizados principalmente na caracterização regional, no caso
da gravimetria e magnetometria, ou ainda, na busca por anomalias resistivas das rochas. Entretanto,
o principal método geofísico utilizado na indústria do petróleo é a sísmica, mais especialmente a
sísmica de reflexão.

Como funcionam os métodos sismicos?

116
capítulo 4
Métodos Sísmicos

Métodos Sísmicos

Ondas sísmicas e princípios de propagação;


Noções de aquisição, processamento e
interpretação de dados sísmicos; Sísmicas 2D, 3D
e 4D; novas técnicas de aquisição sísmica e sua
aplicação no monitoramento de reservatórios
As rochas e os fluidos contidos nos seus poros constituem meios cujas propriedades elásticas
permitem a propagação de ondas acústicas com velocidades diferentes, que têm a sua energia em
parte refletida e em parte refratada. Desta maneira, os métodos sísmicos são baseados principalmente
no registro dos fenômenos ondulatórios de refração e reflexão de ondas acústicas.

Conhecendo-se o tempo de percurso das ondas em diferentes pontos bem como a distância entre
esses pontos, é possível deduzir as velocidades de propagação das ondas e a posição dos meios
com propriedades elásticas diferentes. Associando-se a esses meios os diferentes tipos de rochas, é
possível conhecer-se a distribuição das rochas em subsuperfície.

Os métodos sísmicos medem, em vários pontos, o tempo de percurso de ondas elásticas, na maioria
do tempo induzidas artificialmente, em geral nas imediações da superfície do terreno. Essas ondas
são monitoradas por meio do seu “eco” após terem percorrido o interior do solo e regressado à
superfície. Há duas técnicas distintas: uma que faz uso das ondas refletidas, a sísmica de reflexão, e
a outra, das ondas refratadas, a sísmica de refração.

»» No método de Reflexão, é feito o registro do comportamento das ondas acústicas


em relação à lei da reflexão ondulatória nos meios elásticos. As ondas sísmicas,
após serem induzidas e penetrarem na crosta, ao incidirem sobre uma interface
entre dois meios com contraste de impedância acústica, retornam à superfície,
sendo, então, detectadas por sensores (geofones ou hidrofones). É o principal
método usado na prospecção de hidocarbonetos (petróleo e gás), pois fornecerem
detalhes da estrutura da crosta, bem como de propriedades físicas das camadas que
a compõem.

»» No método de Refração, as ondas passam de um meio para outro com variação na


sua velocidade de propagação e no seu comprimento de onda, mudando de direção.
As ondas sísmicas propagam-se em subsuperfície e viajam a grandes distâncias, até
serem captadas por sensores (geofones). As informações obtidas por este método
geralmente são de áreas em grande escala, trazendo informações pouco detalhadas

117
UNIDADE III │ GEOfÍsica dE petrÓleo

das regiões abaixo da superfície, situadas entre o ponto de detonação e o ponto


de captação. Por este motivo, vamos nos deter à descrição do método sísmico de
reflexão.

Os métodos sísmicos são os mais utilizados na indústria do petróleo para imagear a Geologia de
subsuperfície, mais precisamente a sísmica de reflexão que se baseia na propriedade de reflexão de
ondas em litologias apresentando contraste de impedância acústica.

Ondas sísmicas
As ondas podem ser de duas naturezas: mecânica, que resultam de deformações provocadas
em meios elásticos apenas transportando energia mecânica, e não se propagando no vácuo; e
eletromagnética, que são vibrações de cargas elétricas transportando energia sob a forma de quanta
(pacotes de energia), se propagando inclusive no vácuo.

As ondas acústicas utilizadas nos métodos sísmicos originam-se nos meios elásticos e têm movimento
oscilatório, se propagando por meio da transferência de energia, não havendo transferência de
matéria. Elas são definidas como qualquer vibração mecânica gerada por uma fonte que se propagam
até um receptor por um meio qualquer. Assim, são de natureza mecânica.

A vibração é propagada por meio de ondas esféricas de um meio para outro, por meio do contato
entre materiais nos seus mais diferentes estados: sólido, líquido ou gasoso. Quando uma fonte causa
uma perturbação em um meio qualquer, esta gera uma vibração que se propaga em todas as direções
e onde ocorrem as primeiras perturbações forma-se uma concha esférica ou frente de onda.

Assim, os tipos de ondas estão relacionados à sua direção de propagação: Longitudinal, quando a
direção do movimento vibratório coincide com a direção de propagação (ex: ondas sonoras no ar);
Transversal, quando a direção do movimento vibratório é perpendicular à direção de propagação
(ex: corda); e Superficiais, quando as ondas se formam na superfície livre da terra com movimentos
oscilatórios e elípticos. As duas primeiras são denominadas ondas de corpo.

Ondas de Corpo
As ondas longitudinais, ainda denominadas compressionais ou primárias (P) são as mais velozes
de todas as ondas sísmicas. A movimentação das partículas das ondas P ocorre por dilatação e
compressão ao longo da direção de propagação (Figura 76). Elas se propagam em qualquer meio, à
exceção do vácuo. Na figura 77 são mostradas as velocidades de propagação das ondas P para alguns
materiais e rochas mais comuns.

As ondas transversais, também denominadas secundárias ou cisalhantes (S) constituem o segundo


tipo de onda de corpo. Nas ondas S, as partículas movimentam-se ortogonalmente à direção de
propagação (Figura 86), e assim elas se propagam com velocidades menores que as ondas P em
sólidos (cerca da metade da velocidade de propagação das ondas P) e, devido ao fato de os líquidos
e gases não poderem ser cisalhados, elas não se propagam nestes meios. São geradas por uma fonte

118
GEOfÍsica dE petrÓleo │ UNIDADE III

de tração ou pela conversão de ondas P quando atingem a interface entre meios com diferentes
propriedades acústicas. Esta onda é muito utilizada na indústria de petróleo, pois como ela não se
propaga em meios líquidos serve para indicar a presença de óleo nos reservatórios de petróleo.

Ondas superficiais
As ondas superficiais propagam-se apenas em interfaces entre dois meios de propriedades acústicas
distintas, sendo atenuadas rapidamente com a distância a partir daquelas superfícies. São mais
lentas que as ondas de corpo, sendo geradas por impactos superficiais, explosões e ainda por
mudanças de forma das ondas nas interfaces. Elas são divididas em dois tipos: as ondas Love e as
ondas de Rayleigh (Figura 76)

Essas ondas fazem parte também de conjuntos de ondas superficiais em terremotos que podem
transportar quantidades maiores de energia do que as ondas de corpo. Estes tipos de onda chegam
por último, seguindo as ondas de corpo, mas podem produzir deslocamentos horizontais maiores
em estruturas superficiais podendo causar mais danos.

As ondas de Rayleigh causam movimentação horizontal e vertical na propagação das partículas no


plano vertical do raio de propagação. Um ponto na trajetória de uma onda Rayleigh move-se para
trás, para frente, para baixo e para cima repetitiva e elipticamente, como as ondas dos oceanos.

As ondas Love se propagam ao longo das superfícies que limitam meios de propriedades acústicas
distintas, sendo na maioria das vezes mais rápidas que as ondas de Rayleigh. As ondas Love causam
uma movimentação de partículas similar à das ondas S horizontais. Durante a passagem deste
tipo de onda, as partículas vão vibrar horizontalmente e na direção perpendicular ao sentido da
propagação da vibração.

Figura 76 – Tipos de ondas segundo os modos de propagação. As principais vibrações sísmicas são as ondas de
corpo: (a) onda P, longitudinal; e (b) onda S, transversal (vibração perpendicular à direção de propagação). Junto
à superfície da Terra, propagam-se também as ondas superficiais Rayleigh (c) e Love (d).

Fonte: Segundo Teixeira et.al. (2008).

119
UNIDADE III │ GEOfÍsica dE petrÓleo

Figura 77 – Velocidades da onda P para alguns materiais e rochas mais comuns.

Fonte: Teixeira et.al. (2008).

Princípios de propagação das ondas P e S


Os métodos sísmicos são baseados nas propriedades de refração e reflexão de ondas P e S ao se
propagarem em rochas com diferentes propriedades elásticas (meios elásticos).

O parâmetro que diferencia os meios quanto à propagação dessas ondas é denominado impedância
Acústica, definido como o produto da velocidade de propagação da onda no meio pela densidade do
meio (IA = v x r). A impedância acústica determina o espalhamento da energia sísmica na forma
de reflexão e refração das ondas compressionais (ondas P) e cisalhantes (ondas S), refletindo a
mudança de velocidade de propagação da onda com relação ao meio. Resumidamente, as ondas, ao
atingirem uma interface entre meios com diferentes impedâncias acústicas, têm a sua energia em
parte refletida e em parte refratada, a sua propagação obedecendo, assim, às leis de refração e de
reflexão de ondas (Lei de Snell; Figuras 78 e 79).

Figura 78 – A Lei de Snell rege o fenômeno ondulatório de refração de ondas associando os senos dos ângulos de
incidência e de refração com as velocidades de propagação das ondas nos meios. (A) aplicação da Lei de Snell
numa sucessão de camadas horizontais com diferentes velocidades; (B) Lei de Snell e os fenômenos de refração e
reflexão das ondas, mostrando: (a) quando a onda passa de um meio de menor para outro de maior velocidade;
(b) de um meio de maior para outro de menor velocidade; e (c) o comportamento da onda, quando ao incidir
num refletor, parte da energia da onda incidente P (ou S) pode se transformar em ondas S (ou P).

Fonte: Segundo Teixeira et.al. (2008).

120
GEOfÍsica dE petrÓleo │ UNIDADE III

A Sísmica de Reflexão
O método sísmico de reflexão é baseado na Lei de Snell e na Lei da Reflexão, que regem conjuntamente
as propriedades de refração e reflexão de ondas P e S. A Lei de Reflexão assume ângulos de reflexão
e incidência iguais (Figura 79), e a sísmica de reflexão assume como princípio básico uma distância
entre a fonte emissora da onda acústica e o receptor da onda refletida igual a zero. Assim, o registro,
pelo receptor, da reflexão da onda numa superfície de profundidade h1 com velocidade do meio
v1, é o tempo duplo (t0) de propagação da onda, no sentido descendente, entre a fonte da onda e
a superfície de reflexão, e no sentido ascendente, entre a superfície de reflexão e o receptor (Figura
79), dado por t0 = 2h1 / v1.

Figura 79 – A Lei de Reflexão assume o ângulo de reflexão igual ao ângulo de incidência da onda. O principio
básico da sísmica de reflexão considera um afastamento (x) entre fonte (s) e receptor (r) igual à zero (x=0) e o
tempo de registro (t0) da onda refletida numa superfície de profundidade h1 com uma velocidade do meio v1
obedecendo a seguinte relação: t0 = 2h1 / v1, sendo t0 o tempo duplo, pois é considerado que a onda percorre
o mesmo trajeto nos sentidos descendente e ascendente.

As ondas ao se propagarem sofrem refração e reflexão ao encontrarem uma interface entre dois
meios com impedância acústicas diferentes, como vimos no item anterior. Esse contraste entre as
impedâncias acústicas de dois meios elásticos subsequentes é denominado Coeficiente de Reflexão
(Figura 80).

O Coeficiente de Reflexão, portanto, é a quantidade de energia que é refletida em cada interface,


dada pela diferença das impedâncias entre os dois meios rochosos. Considerando uma incidência
normal da onda, o coeficiente de reflexão é dado pela equação: R = (I2 – I1) / (I2 + I1); onde I1

121
UNIDADE III │ GEOfÍsica dE petrÓleo

e I2 são, respectivamente, as impedâncias dos meios 1 (sobrejacente) e 2 (subjacente). Como I = v x


r, então R = (v2 x ρ2 – v1 x ρ1) / (v2 x ρ2 + v1 x ρ1).

Desta maneira, os valores de coeficiente de reflexão variam entre [-1; 1] e quanto maior for o contraste
de impedância mais forte será o coeficiente de reflexão e, portanto, mais forte o sinal resultante da
reflexão na interface (ou refletor sísmico).

Figura 80 – A impedância acústica, função da densidade e da velocidade de propagação da onda no meio,


e o coeficiente de reflexão. A interface de reflexão ou refletor sísmico é detectada em diferentes receptores ou
sensores (G1 e G2) a partir de uma mesma fonte emissora da onda acústica.

Os registros (em tempo duplo) das interfaces de reflexão (refletores sísmico) compõem o Traço
Sísmico (Figura 81), que representa, portanto, as respostas de um conjunto de receptores (ou
sensores) às vibrações emitidas pela fonte (ondas acústicas) e refletidas em cada refletor sísmico.
O traço sísmico considera a assinatura da fonte, que é a forma da onda (pulso ou wavelet) emitida
pela fonte sísmica, e depende da frequência deste pulso ao chegar ao refletor. A frequência do
sinal sísmico depende não somente da energia da fonte, mas também da profundidade do refletor
sísmico. Isto ocorre porque além dos fenômenos ondulatórios de refração e reflexão, a onda sísmica
também sofre atenuação durante a sua propagação. A atenuação de uma onda sonora por meio
de um meio é a medida da mudança de sua amplitude por unidade de distância, e quanto maior
for à distância de observação de um fenômeno acústico maior resolução deve ter o equipamento,
para minimizar os efeitos da atenuação. Veremos a seguir que a frequência do sinal sísmico tem
importância fundamental na capacidade de detecção de um meio rochoso.

A depender da distância entre a fonte e o receptor, um mesmo refletor apresenta tempos de registros
diferentes (Figura 82). Assim, o tempo do refletor sísmico é construído a partir da somatória dos
registros dos diferentes receptores, e para compor uma seção sísmica (Figura 82), que representa
uma linha ao longo do dado sísmico resultante, os dados adquiridos no processo de aquisição
sísmica devem ser processados, como vamos descrever mais adiante.

122
GEOfÍsica dE petrÓleo │ UNIDADE III

Figura 81 – Esquema da construção do Traço Sísmico a partir do pulso sísmico (assinatura da fonte), da
impedância das formações e dos coeficientes de reflexão em diferentes interfaces ou refletores sísmicos.

Figura 82 – À esquerda: Disposição dos receptores em relação à fonte e tempo de chegada do sinal sísmico
considerando a distância fonte - receptor. À direita: Exemplo de seção sísmica, em tempo duplo, obtida a partir
do processamento do dado adquirido.

123
UNIDADE III │ GEOfÍsica dE petrÓleo

Noções de aquisição, processamento e


interpretação de dados sísmicos

Aquisição Sísmica de Reflexão


A aquisição de dados sísmicos (ou levantamento sísmico) envolve diversas etapas desde a licença
ambiental até o processo de obtenção do dado em campo.

O principio básico da aquisição sísmica é a disposição de fontes e receptores segundo um arranjo


que permita o melhor imageamento da Geologia de subsuperfície. Basicamente, o levantamento de
dados de sísmica de reflexão começa com a emissão de um pulso sonoro que se propaga no interior
da Terra até encontrar uma camada de rocha com uma impedância acústica diferente daquela na
qual esta onda se propaga. A partir deste ponto, uma parte da energia da onda é refletida retornando
à superfície enquanto outra parte da onda penetra na camada inferior até encontrar outra camada
com impedância acústica diferente e assim sucessivamente. Portanto, a frente de onda se divide na
interface entre duas litologias devido à mudança na impedância acústica. A cada reflexão, a energia
da frente de onda vai se dispersando. O método de reflexão sísmica é baseado na interpretação das
reflexões que chegam à superfície.

As ondas acústicas são propagadas para o meio rochoso a partir da fonte sísmica, que é o dispositivo
encarregado de gerar o pulso na aquisição sísmica, por meio de uma liberação brusca de alguma
forma de energia mecânica ou explosiva.

Existem diferentes tipos de sensores e de receptores (ou sensores) que são utilizados na aquisição
sísmica de dados terrestres e marítimos (Quadro 11). As principais fontes utilizadas são dinamite,
no caso de levantamentos terrestres, e Airgun, no caso de marítimos.

Quadro 11 – Principais fontes terrestres e marítimas e seus princípios de funcionamento.


Fontes terrestres
Nome Princípios de funcionamento
Air rammer compactador de ar
Besty tiro de metralhadora
Dinamite detonação isolada
Dropter queda de peso
Dynasource pistão de ar comprimido
Geojlex cordel detonante
Hammer queda de peso
Lancing dinamite rasa
Mini-Sosie compactador a gasolina
P-shooter queda de peso
Selsgun compactador de gasolina
Shaped charge pentolite + TNT
Terrapak queda de peso
Thumper queda de peso
Vibraseis vibrador hidromecânico

124
GEOfÍsica dE petrÓleo │ UNIDADE III

Fontes marítimas
Nome Princípios de funcionamento
Airgun ejeção de ar comprimido
Aquapulse expl.. de propano + oxigênio
Aquaseis cordel detonante
Boomer cavitação
Dinamite detonação de TNT
Flexichoc implosão de câmara de vácuo
Flexotir detonação confinada de TNT
GASSP expl.. de propano + oxigênio
Hidroseins cavitação
Maxipulse detonação de NCN
Minisleeve expl.. de propano + oxigênio
Seismojet ejeção de ar comprimido
Seisprobe expl.. de propano + oxigênio
Simplon cavitação
Sleeve explorer expl.. de pronao + oxigênio
Sleeve gun ejeção de ar comprinido
Sparker centelhador elétrico
Vacupulse cavitação
Vaporchoc ejeção de vapor
WASSP sentelhador elétrico
Water gun cavitação
A energia emitida pela fonte retorna para a superfície e é captada por receptores, que estão
conectados a uma unidade central de registro (sismógrafo). Os receptores devem transformar
as vibrações mecânicas em oscilações elétricas, e podem ser geofones, hidrofones ou ainda
acelerômetros. Os geofones, mais comumente utilizados em aquisições terrestres, são mecanismos
eletromagnéticos que captam a resposta do refletor sísmico como um movimento relativo entre
a bobina e o imã, gerando uma corrente induzida. Os hidrofones, por sua vez, são normalmente
utilizados em levantamentos marítimos, e são constituídos de detectores de pressão, pois possuem
cristais piezelétricos que geram correntes elétricas proporcionais à variação de pressão produzida
pelas ondas acústicas na água.

Como uma parte da energia da onda acústica emitida pela fonte sísmica é refletida e outra parte é
refratada ao passar de um meio para outro, a onda perde energia com a profundidade, o que significa
perda no conteúdo de frequência. Assim, a onda ao se propagar perde conteúdo de frequência por
atenuação, como falamos anteriormente, e por dispersão. Desta maneira, a energia da fonte deve
ser calculada anteriormente.

As fontes e receptores são dispostos em arranjos ou bases sísmicas (spreads) que dependem, dentre
outros fatores, da profundidade do objetivo geológico e das velocidades esperadas para os meios.
Comumente, antes da realização de uma aquisição sísmica é realizado um estudo de iluminação
sísmica, que simula a resposta sísmica em função da Geologia da área do dado a ser adquirido e dos
diversos arranjos entre fontes e receptores, além da energia da fonte, entre outros fatores.

A amplitude da onda refletida em função do tempo é registrada em sismogramas, cuja construção


assume algumas hipóteses, tais como frentes de onda de incidência normal e a existência de

125
UNIDADE III │ GEOfÍsica dE petrÓleo

camadas plano-paralelas e homogêneas. O registro observado no sismograma inclui efeitos, tais


como divergência esférica, absorção inelástica, dispersão da wavelet e múltiplas, e pode ser descrito
pela seguinte equação:

x(t) = w(t) * r(t) + ɳ;

Onde w(t) é a assinatura da fonte (wavelet ou pulso sísmico), * representa o processo de convolução,
r(t) a função refletividade (ou coeficientes de reflexão) e ɳ representa os ruídos. O registro da
amplitude da onda refletida, representado no traço sísmico, é resultante, portanto, de um modelo
de convolução (Figura 83), onde os coeficientes de reflexão que representam as interfaces entre
camadas geológicas de impedâncias acústicas diferentes,são detectados em função da resolução
sísmica do dado, que é um conceito que iremos discutir mais adiante.

Figura 83 – Modelo de convolução dos coeficientes de reflexão com o pulso sísmico resultando nas amplitudes
sísmicas que são representadas pelo traço sísmico. Neste modelo, não são considerados os ruídos (ɳ).

O resultado de um levantamento sísmico é representado, após o processamento dos dados de


sismogramas, na forma de uma seção sísmica que objetiva imagear a Geologia de subsuperfície.
Entretanto, a precisão deste imageamento depende de vários fatores, entre eles o campo de
velocidades determinado para a área, os algoritmos utilizados no processamento dos dados sísmicos
e a complexidade geológica da área. Essa multiplicidade de fatores envolvidos pode resultar em
ambiguidades na determinação de estruturas e litologias a partir da interpretação de uma seção
sísmica. Desta maneira, a etapa de processamento do dado sísmico tem importância fundamental
para a qualidade do dado final a ser interpretado.

Processamento do dado sísmico de reflexão


Ainda durante o processo de aquisição sísmica, os dados adquiridos começam a serem processados,
na etapa denominada pré-processamento. O processamento sísmico é a fase de tratamento dos
dados adquiridos, envolvendo diversas correções inerentes ao método sísmico, além da aplicação
de uma série de algoritmos visando à obtenção de um dado sísmico de melhor qualidade, ou seja,
com eventos sísmicos que representem da maneira mais precisa possível os eventos geológicos, cuja
interpretação vai servir como base para a modelagem do reservatório.

126
GEOfÍsica dE petrÓleo │ UNIDADE III

Figura 84 – Fluxograma básico de processamento de dados sísmicos de reflexão.

O fluxograma básico do processamento dos dados sísmicos (Figura 84) envolve várias etapas, dentre
as principais: edição dos dados; ordenação em famílias CDP e CMP; correções estáticas, se for o
caso; correção de NMO; análise de velocidade (VELAN); empilhamento do traço sísmico; migração;
e obtenção da seção sísmica final.

A etapa de edição dos dados envolve a criação dos gráficos de distância x tempo de reflexão e refração
das ondas, permitindo a obtenção da velocidade de propagação dos meios e o traço sísmico de cada
camada.

A ordenação dos dados em famílias CDP (Commom Depth Point) ou CMP (Commom Middle Point)
tem a finalidade de registrar as informações de um mesmo ponto no refletor (Figura 85), constituindo
uma geometria de aquisição. O objetivo da ordenação em famílias é agrupar os traços da mesma
família, isto é, fazer com que cada traço sísmico contenha as informações (reflexões) de um mesmo
ponto em subsuperfície. A principal vantagem dessa técnica é a melhoria da razão sinal/ruído do dado.

As correções estáticas são necessárias somente para levantamentos terrestres, visando corrigir os
deslocamentos verticais das reflexões nas regiões próximas a superfície (Zona de Baixa Velocidade;
ZBV) geradoras de varias formas de ruídos (ground-roll).

A correção de NMO (Normal Move Out) consiste na correção da posição do tempo com relação à
distância dos receptores. Ela posiciona todos os traços de um sismograma com offset (afastamento
fonte – receptor) igual à zero.

A análise de velocidade (VELAN) utiliza uma série de velocidade que determinam qual a reflexão
que corresponde melhor ao refletor. Tem como objetivo estimar a função velocidade para o
empilhamento dos dados.

127
UNIDADE III │ GEOfÍsica dE petrÓleo

O empilhamento é o somatório dos traços sísmicos após as correções e a análise de velocidades,


possibilitando a obtenção da seção sísmica.

Figura 85 – O processo de ordenação dos dados em famílias CDP e CMP.

A migração dos dados sísmicos constitui um processo de deslocamento da reflexão da onda para
posições ajustadas à profundidade do refletor. Este procedimento permite a correção dos efeitos das
difrações das ondas sísmicas ocorridas nas feições geológicas, como inclinação das camadas, falhas,
dobras, entre outras. A migração pode ser realizada pré ou pós-empilhamento do dado, podendo
ainda ser uma migração nos domínios do tempo ou da profundidade. Atualmente, este processo é
normalmente realizado pré-empilhamento, resultando, portanto, em dados sísmicos denominados
PSTM (migração pré-empilhamento em tempo) e PSDM (migração pré-empilhamento em
profundidade). Os dados migrados em profundidade normalmente são mais precisos quanto ao
posicionamento dos eventos, resultando numa imagem mais real das estruturas geológicas em
subsuperfície.

O resultado final do processamento sísmico é a obtenção de seções sísmicas (no caso de sísmica
2D), ou de um cubo sísmico 3D, cuja qualidade reflete os processo de aquisição e processamento da
sísmica, que encontra-se, neste momento, pronta para ser interpretada. Além deste fluxo básico de
processamento, que pode ser adicionado de algoritmos mais específicos, os dados sísmicos também
podem ser processados para sísmica 4D, por meio um fluxograma de processamento mais complexo.

Interpretação do Dado Sísmico de Reflexão


O principal objetivo da Geofísica aplicada à indústria de petróleo consiste em determinar, de
maneira precisa, as características geológicas de subsuperfície a partir de medidas indiretas das
propriedades físicas das rochas, uma vez que os dados de interesse para a exploração de petróleo,
tais como a profundidade do horizonte, a litologia e o tipo de fluido saturante, não podem ser
medidos diretamente. Entretanto, este tipo de inferência está limitado pela resolução sísmica e,
desta maneira, podem surgir ambiguidades geológicas na interpretação dos dados.

128
GEOfÍsica dE petrÓleo │ UNIDADE III

O objetivo da interpretação sísmica é, portanto, identificar a Geologia de subsuperfície a partir


do dado sísmico, e vários conceitos geofísicos, além dos conceitos geológicos, estão relacionados
à interpretação. Dentre eles, o conceito de resolução sísmica vertical e horizontal, que é definida
como a capacidade do método sísmico de individualizar uma camada geológica em subsuperfície. A
resolução sísmica vertical determina qual a espessura mínima de uma camada geológica para que
ela possa ser individualizada (topo e base) na forma de um refletor sísmico, enquanto a resolução
sísmica horizontal define o quanto de continuidade lateral do refletor sísmico pode ser observado,
ou seja, o quão próximo dois refletores podem ser situados espacialmente e ainda assim serem
reconhecidos como dois eventos individuais. A resolução sísmica horizontal de dados não-migrados
é normalmente correlata à Zona de Fresnel, que representa a região do refletor na qual a energia
sísmica é refletida.

A resolução sísmica, tanto horizontal quanto vertical, depende do comprimento de onda (λ). Como
λ = v/f; onde v é a velocidade da onda no meio e f é a frequência da onda; então, a resolução
do dado sísmico depende diretamente da frequência da onda ao incidir sobre o refletor sísmico,
que é denominada frequência dominante. A resolução vertical é dada por λ/4, enquanto a
resolução horizontal é considerada como sendo da ordem de λ/2, ou ainda vint/2fdom (velocidade
intervalar/2xfrequência dominante).

Além da resolução sísmica, que permite definir a dimensão da camada geológica que pode ser imageada
pela sísmica, outros conceitos são aplicados na interpretação de dados sísmicos de reflexão, como o
de horizonte ou refletor sísmico. Horizonte ou refletor sísmico pode ser definido como uma série de
reflexões contínuas de intensidades similares encontradas nas vizinhanças laterais ao longo do dado
sísmico, ou seja, uma série de eventos (positivos ou negativos) que aparecem de forma consistente
traço a traço, permitindo a definição da sua continuidade e o seu mapeamento. Essas reflexões
indicam a existência de uma interface entre duas camadas de rochas que apresentam contraste de
impedância acústica. A definição geológica desta interface é realizada a partir da amarração do poço
com a sísmica, por meio de perfis sintéticos e litológicos, que permitem correlacionar os dados do
poço, ou seja, as camadas de rochas e suas profundidades, ao dado sísmico (em tempo), fornecendo
uma função velocidade que é utilizada posteriormente para a conversão da sísmica de tempo para
profundidade.

A interpretação Geofísica normalmente é realizada a partir de dados sísmicos 2D ou 3D, em tempo.


Assim, as reflexões sísmicas seguem linhas de tempo de um determinado refletor, que corresponde
a um determinado evento geológico. Os refletores e estruturas mapeados são convertidos de tempo
para profundidade por meio de um modelo de velocidade, elaborado pelo geofísico a partir dos
dados interpretados em tempo, do VELAN obtido do processamento do dado e das funções tempo-
velocidade obtidos pelas amarrações de poços na área.

Os dados (horizontes e estruturas mapeados), convertidos de tempo para profundidade, são


apresentados na forma de mapas que representam o contexto geológico da área, como os mapas
estruturais, e na forma de seções que mostram o comportamento geológico ao longo de um corte
vertical, em profundidade.

129
UNIDADE III │ GEOfÍsica dE petrÓleo

O mapeamento de horizontes ou refletores sísmicos a partir da correlação com perfis de poços que
permitem correlacionar esses horizontes a uma interface geológica, na amarração do poço e dos
perfis litológicos, constitui um dos principais elementos da interpretação geofísica, conjuntamente
com o mapeamento de estruturas, como falhas e dobras, permitindo a definição do arcabouço
geológico da área interpretada e fornecendo os elementos necessários à elaboração do modelo
geológico (Figura 86), que vai servir de input para o modelo de fluxo do reservatório.

Figura 86 – A integração das interpretações do dado sísmico amarrado aos dados de poços constitui o
arcabouço para a construção do modelo geológico de subsuperfície. A seção geológica esquemática é
construída a partir do trecho, delimitado no modelo geológico, de uma seção sísmica.

Sísmicas 2D, 3D e 4D
O produto final do processamento do dado sísmico adquirido é composto por uma seção sísmica
final construída diretamente sobre o sismograma e não por meio de um gráfico tempo x distância,
permitindo a identificação de uma série de feições e estruturas geológicas de subsuperfície.

A seção sísmica final pode constituir uma única linha originada de um levantamento sísmico
2D, que representa uma única linha sísmica de aquisição, ou pode ser composta de varias seções
constituindo um cubo sísmico 3D (Figura 98) originado de um levantamento sísmico 3D realizado
ao longo de uma área de uma malha (arranjo) de fontes e receptores. O levantamento de dados
da sísmica 3D difere em relação ao arranjo geométrico de fontes e receptores da sísmica 2D, mas
o procedimento de aquisição é o mesmo. No levantamento 3D, os receptores estão normalmente

130
GEOfÍsica dE petrÓleo │ UNIDADE III

situados a intervalos regulares ao longo de linhas paralelas afastadas entre si em distâncias iguais,
formando uma malha de aquisição de dados (Figura 87). O cubo 3D tem a vantagem de poder ser
interpretado em qualquer direção, inclusive em slicers (fatias horizontais), permitindo uma melhor
visualização espacial e delimitação do reservatório (Figura 87).

Figura 87 – As linhas sísmicas de aquisição espaçadas paralelamente entre si permitem durante o processamento
do dado a construção de um cubo sísmico 3D, cuja interpretação possibilita uma melhor delimitação areal do
reservatório e a construção de um modelo geológico mais apurado.

A sísmica 4D é uma técnica de monitoramento do reservatório realizada por meio de uma repetição de
levantamentos sísmicos 3D em intervalos de tempo que variam de acordo com a resposta modelada
do reservatório ao comportamento do fluxo. Essa técnica visa monitorar o avanço da frente de água/
gás devido à produção de óleo / injeção no reservatório, sendo baseada no efeito da substituição de
fluidos na velocidade intervalar das rochas e, portanto, na amplitude do dado sísmico.

De uma maneira geral, a produção de óleo produz uma queda de pressão nos fluidos que é
compensada por meio da injeção de água/vapor ou gás. Como as velocidades intervalares das ondas
no reservatório são sensíveis às variações de pressão e sabendo-se que os contatos entre fluidos
modificam-se com o tempo, a sísmica 4D revela a dinâmica dos processos de injeção de água e gás. O
controle da movimentação dos fluidos na área de produção/injeção é de grande importância para a
modelagem de fluxo do reservatório, levando a uma melhor compreensão do sistema e possibilitando
o aprimoramento do plano de drenagem, por meio do aumento do Fator de Recuperação devido a
locações mais precisas de produtores e injetores que possibilitem um melhor varrido do óleo na zona
de produção. A sísmica 4D constitui, portanto, uma técnica muito importante no monitoramento de
reservatórios, sendo atualmente bastante aplicada, no Brasil, principalmente na Bacia de Campos.

131
UNIDADE III │ GEOfÍsica dE petrÓleo

Novas técnicas de aquisição sísmica e sua


aplicação no monitoramento de reservatórios
Além da sísmica 4D, novas técnicas de aquisição sísmica tem surgido nos últimos anos, principalmente
nos levantamentos marítimos. À técnica tradicional de levantamento sísmica marítimo, denominada
streamer, caracterizada pelo arrasto de cabos contendo fontes e receptores (airguns e hidrofones,
mais comumente) por navios sísmicos, tem sido incorporadas inúmeras modificações, como
a variação da profundidade dos cabos sísmicos (técnica denominada sísmica broadband) ou
ainda a aquisição sísmica em diversos azimutes (BAZ - biazimutal, MAZ - multiazimutal, WAZ –
wideazimutal) ou em círculos (denominada coil shooting).

Além disso, algumas técnicas mais recentes incluem: a distribuição de cabos de fundo oceânicos,
comumente em fibra ótica, contendo receptores (normalmente, hidrofones e acelerômetros),
denominada OBC (Ocean Bottom Cable); e a disposição de unidades autônomas de receptores
– nodes. A sísmica OBC tem sido também utilizada para monitoramento “permanente” de
reservatórios (PRM – Permanent Reservoir Monitoring), no qual os cabos são posicionados de
maneira permanente no fundo oceânico e o navio fonte passa a intervalos regulares fazendo os
levantamentos sísmicos 4D. A sismica OBC e os nodes estão sendo utilizados principalmente em
áreas obstruídas, em que a presença de plataformas e sondas impede a passagem de navios sísmicos
realizando levantamentos streamer. Essas técnicas permitem a realização de levantamentos sísmicos
denominados multicomponentes, em que são capturadas as respostas das ondas P (longitudinais) e
S (cisalhantes), possibilitando uma melhor caracterização do reservatório.

As novas técnicas de aquisição sísmica visam principalmente ao melhor imageamento e


caracterização do reservatório, por meio do aumento da resolução sísmica a partir do aumento da
banda de frequência (como a sísmica broadband) ou ainda a partir de uma melhor iluminação do
reservatório (como é o caso das sísmicas azimutais ou coil), ou mediante incorporação da resposta
da onda S (cisalhante), como é o caso das sísmicas OBC e nodes. Essas técnicas são particularmente
importantes para o desenvolvimento da produção em reservatórios.

132
Para (não) finalizar

A importância da Geologia e dos métodos


geofísicos na compreensão do reservatório
A construção do modelo geológico envolve vários aspectos e etapas, sendo fundamental para a
elaboração do modelo de fluxo e do plano de drenagem da área de produção. Para uma modelagem
geológica apurada, torna-se necessário um input geofísico por meio tanto de mapeamento de
horizontes e estruturas, principalmente a partir da sísmica de reflexão, quanto de informações de
perfis de poços. As técnicas de aquisição de dados geofísicos estão sendo continuamente atualizadas,
visando ao aprimoramento do imageamento da Geologia de subsuperfície e do comportamento da
movimentação de fluidos nos reservatórios.

Desta maneira, torna-se de fundamental importância para a formação de engenheiros de petróleo e


gás o entendimento das técnicas geofísicas, assim como a compreensão da caracterização geológica
dos elementos que compõem o sistema petrolífero.

133
referências
ARCHIE, G. E. The electrical resistivity log as an aid in determining some reservoir
characteristics. Am. Inst. Min. Metall. Engineers, (146), 54-62. 1942.

BATEMAN, R.M.; DAVIES, D.K. The log analyst and the programmable pocket calculator.
Determination of Rw from the SP. The Log Analyst, 18(5), 3-11. 1977.

DUNHAM. 1962. In: SUGUIO, K. 1980. Rochas Sedimentares. Ed. Edgard Blucher Ltda., 1994.

FOLK. 1968. In: SUGUIO, K. 1980. Rochas Sedimentares. Ed. Edgard Blucher Ltda., 1994.

GROTZINGER, J.; JORDAN, T.H.; PRESS, F.; SIEVER, R. Understanding Earth. New York
(EUA): W.H. Freeman & Company, Inc., 2007.

PAPANICOLAOU, C.; DEHMER, J.; FOWLER, M. Petrological and organic geochemical


characteristics of coal samples from Florina, Lava, Moschopotamos and Kalavryta coal fields,
Greece. Internacional Journal of Coal Geology. Volume 44, Issues 3-4, p. 267-292. 2000.

SZATMARI, P.; PORTO, R. Classificação tectônica das bacias sedimentares terrestres do


Brasil. In: FIGUEIREDO, A. M. F.; RAJA GABAGLIA, G. P., Sistema classificatório aplicado
às bacias sedimentares brasileiras. Revista Brasileira de Geociências, 16 (4), p. 357. 1986.

PRESS, F.; SIEVER, R.; GROTZINGER, J.; JORDAN, T. H.Para Entender a Terra. 4ª Ed. Porto
Alegre: Bookman, 2006.

RANGEL, H.D.; MARTINS, F. A. L.; ESTEVES, F. R.; FEIJÓ, F. J.; Bacia de Campos. Boletim de
Geociências da Petrobras, v. 8, n. 1, p. 203- 218. 1994.

SCHLUMBERGER WELL SERVICES. Log interpretation charts. New York (EUA): Schlumberger
Ltda., 1985.

TEIXEIRA, W; TOLEDOM, M.C.M.; FAIRCHILD, T.R.; TAIOLI, F. Decifrando a Terra. Rio de


Janeiro: Oficina de Textos, 2008.

THOMAS, J.E. Fundamentos da Engenharia de Petróleo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Interciência,


2004.

Sites
< http://www.caveofthemounds.com>
<http://www.geofisica.ufpa.br>
< http://www.noticias.terra.com.br>
<http://www.sciencedirect.com>
< http://www.ufrgs.br>

134

You might also like