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OVERVIEW OF THE INCLUSION OF PEOPLE WITH DISABILITIES IN THE LABOR MARKET IN BRAZIL
Resumo O artigo apresenta um mapeamento da in- Abstract The article presents a mapping of the for-
serção formal de pessoas com deficiência no mercado mal insertion of people with disabilities in the Brazi-
de trabalho brasileiro. Foram utilizados dados forne- lian labor market. Data provided in the 2010 Census
cidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís- by the Brazilian Institute of Geography and Statistics
tica, no Censo Demográfico de 2010, no que tange às with respect to the functionality and disability varia-
variáveis funcionalidade e deficiência. Adicionalmente, bles were used. Additionally, also used was informa-
são utilizadas informações contidas na Relação Anual tion contained in the Ministry of Labor's Annual Social
de Informações Sociais do Ministério do Trabalho Information Report, which, from 2007 went on to pu-
e Emprego, que, a partir de 2007, passou a divulgar blish the number and profile of jobs held by people
o número e o perfil dos vínculos empregatícios exer- with disabilities. Such mapping is preceded by a sec-
cidos por pessoas com deficiência. Tal mapeamento tion on general lines of the historical context of the
é precedido por uma seção sobre linhas gerais do con- social inclusion of people with disabilities, as well as
texto histórico de inclusão social das pessoas com by an overview of the laws in the field of 'affirmative
deficiência, além de uma síntese a respeito de legis- action'. A review of the data shows a very low level
lações no campo da ‘ação afirmativa’. A avaliação dos of participation of people with disabilities in the
dados revela uma participação muito baixa das pes- Brazilian formal labor market, one that concentrates
soas com deficiência no mercado de trabalho formal mostly on poor, discontinuous and informal activities
no Brasil, concentrada em atividades precárias, descon- (or inactive, without holding occupations).
tínuas e informais (ou inativo, sem exercer ocupações). Keywords People with disabilities; the labor market
Palavras-chave pessoas com deficiência; mercado de in Brazil; social inclusion.
trabalho no Brasil; inclusão social.
Introdução
Quadro 1
Quadro 2
Art. 93. A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a
5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência,
habilitadas, na seguinte proporção:
§ 2º O Ministério do Trabalho e da Previdência Social deverá gerar estatísticas sobre o total de empregados
e as vagas preenchidas por reabilitados e deficientes habilitados, fornecendo-as, quando solicitadas, aos
sindicatos ou entidades representativas dos empregados.
Notas metodológicas
A definição sobre quem são pessoas com deficiência não é tarefa simples
nem consensual. Existe uma gama variada de limitações físicas, sensoriais e
cognitivas que correspondem a diferentes níveis de dificuldade funcional.
Ademais, atualmente trabalha-se com o chamado ‘paradigma social’ da defi-
ciência, segundo o qual, para além dos impedimentos de ordem física, o
que determina a condição de deficiência é o entorno social, o grau de aces-
sibilidade e autonomia disponíveis para aquele indivíduo com deficiência
(Sassaki, 2007).3
Quadro 3
c) D e f i ci ê n c i a v i s u a l : cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a
melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a
melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for
igual ou menor que 60o; e ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores.
Quadro 4
6 . 1 4 - Te m d i f i c u l d a d e p e r m a n e n t e d e e n x e r g a r ?
(se utiliza óculos ou lentes de contato, faça sua avaliação quando os estiver utilizando)
1 - sim, não consegue de modo algum
2 - sim, grande dificuldade
3 - sim, alguma dificuldade
4 - não, nenhuma dificuldade
6 . 1 5 - Te m d i f i c u l d a d e p e r m a n e n t e d e o u v i r ?
(se utiliza aparelho auditivo, faça sua avaliação quando o estiver utilizando)
1 - sim, não consegue de modo algum
2 - sim, grande dificuldade
3 - sim, alguma dificuldade
4 - não, nenhuma dificuldade
6 . 1 6 - Te m d i f i c u l d a d e p e r m a n e n t e d e c a m i n h a r o u s u b i r d e g r a u s ?
(se utiliza prótese, bengala ou aparelho auxiliar, faça sua avaliação quando o estiver utilizando)
1 - sim, não consegue de modo algum
2 - sim, grande dificuldade
3 - sim, alguma dificuldade
4 - não, nenhuma dificuldade
6 . 1 7 - Te m a l g u m a d e f i c i ê n c i a m e n t a l / i n t e l e c t u a l p e r m a n e n t e q u e l i m i t e a s s u a s a t i v i d a d e s
h a b i t u a i s , co m o t r a b a l h a r , i r à e s co l a , b r i n c a r e t c. ?
1 - sim
2 - não
Tabela 1
2010
Tipo Categorias
N (1000) %
To t a l e m ‘ i d a d e p r o d u t i v a ’ 107.188 100
Fonte: Microdados do Censo Demográfico de 2010 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.
Tabela 2
Ano Vínculos
2007 348.818
2008 323.210
2009 288.593
2010 306.013
Mé di a do s 4 a no s 3 16. 6 59
Tabela 3
2010
Condição de atividade
PCD PSDLF
Fonte: Microdados do Censo Demográfico de 2010 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.
PCD: pessoas com deficiência
PSDLF: pessoas sem deficiência ou limitação funcional
Tabela 4
PCD N % R$
Considerações finais
que se aposentaram ainda jovens, e com limitações funcionais que não cons-
tituem impeditivo para o trabalho, só podem retornar ao mercado de trabalho
formal se abrirem mão da aposentadoria por invalidez. Assim como foi feito
para o benefício de prestação continuada – no âmbito da Assistência Social,
voltado para idosos e pessoas com deficiência em situação de pobreza –,
poder-se-ia estabelecer a cessação da aposentadoria em caso de trabalho for-
mal remunerado e o retorno a ela se houver desemprego. Ou mesmo a manu-
tenção da aposentadoria mesmo que a pessoa esteja trabalhando, pois as
pessoas com deficiência têm uma série de despesas adicionais decorrentes
de sua limitação funcional.
Questões culturais e próprias à temática da deficiência. Finalmente, é
necessário romper com questões culturais como a superproteção familiar,
que desestimula o trabalho de pessoas com deficiência, como também certo
grau de acomodação e conformismo das próprias pessoas com deficiência,
que por vezes perpetuam sua condição de dependência. Ademais, é impor-
tante deixar claro que nem todas as pessoas com deficiência vão estar aptas
a trabalhar (assim como ocorre com a população em geral). Pode haver pro-
blemas de saúde ou outras situações de cunho pessoal ou familiar que difi-
cultem ou mesmo desestimulem o acesso ao trabalho.
Em síntese, se for possível avançar nas áreas aqui mencionadas, espe-
cialmente com a participação direta das próprias pessoas com deficiência
nas discussões que lhes dizem respeito, a tendência é que haja um aumento
na participação desse contingente no mercado de trabalho formal. Essa con-
quista constitui-se numa etapa importante para conclusão do processo
histórico de luta pela cidadania das pessoas com deficiência no Brasil.
Notas
3 A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, citada no final da seção
anterior, traz a seguinte definição, no artigo 1º: “pessoas com deficiência são aquelas que
têm impedimentos de longo prazo de natureza física, sensorial ou cognitiva, os quais,
em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na
sociedade com as demais pessoas” (Convenção Internacional..., 2006).
5 Na Tabela 1, ‘pessoas com limitação funcional’ são aquelas que disseram ter apenas
‘alguma dificuldade’ para enxergar, ouvir ou caminhar/subir escadas.
6 Deve-se notar que o somatório de cada tipo excede os 6,5 milhões de ‘pessoas com
deficiência’, o que ocorre porque um mesmo indivíduo pode ter declarado mais de um tipo
de limitação.
9 Outros trabalhos – como Clemente (2008) e Benevides (2011) – cujos conteúdos ba-
seiam-se em experiências práticas de inclusão de pessoas com deficiência em municípios
como Osasco e Campinas, respectivamente, no estado de São Paulo, comprovam também a
prática de ‘preferência’ por algumas deficiências em detrimento de outras.
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