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A palavra patrimônio vem de pater, que, em latim, A coleção intitulada Cadernos do IPAC é o resultado
significa pai. Patrimônio é a herança deixada para a de uma parceria firmada entre o Instituto do Pa-
família e/ou para cidade, que poderá ser de origem trimônio Artístico e Cultural da Bahia e a Fundação
cultural ou natural. Pedro Calmon, autarquias vinculadas à Secretaria de
Cultura da Bahia.
Patrimônios culturais são os elementos criados
pelo homem e apropriados e legitimados pela socie- O projeto teve início em 2010, com a publicação do
dade que contam a história de um lugar, que fazem Cadernos do IPAC, 1 – Pano da Costa, resultado do tra-
referências às tradições e à maneira de ser de um OFÍCIO DE VAQUEIRO balho executado pela equipe técnica do Instituto em
povo, podendo ser material ou imaterial. 1984. Um exercício de resgate da memória da institu-
ição criada com o objetivo de preservar o patrimônio
Ofício de Vaqueiro
Os materiais são os bens construídos chamados de cultural baiano.
imóveis (casas, sobrados, palácios, fortificações etc.),
também são aqueles como as obras de arte, coleções, Dando prosseguimento ao projeto, os volumes 2
objetos religiosos, peças de artesanato etc., que po- – Festa da Boa Morte, 3 – Carnaval de Maragojipe, 4 –
dem ser deslocados e são chamados de bens móveis Desfile de Afoxés e 5 – Festa de Santa Bárbara são edições
ou integrados. dos dossiês elaborados para registro oficial pelo Go-
verno do Estado da Bahia de bens culturais imate-
Os bens imateriais ou intangíveis são as formas riais. Alguns incluem vídeo-documentário.
tradicionais de expressão e do fazer de um povo. Es-
tão presentes nas manifestações culturais populares, Com a nova estruturação do IPAC, a produção
assim como na maneira de produzir determinados desse projeto Cadernos do IPAC será ampliada com
objetos ou alimentos, por exemplo. a perspectiva de publicações que retratem, além de
pesquisas da instituição, o patrimônio cultural salva-
Já o patrimônio natural é o conjunto de todas as guardado no âmbito material e imaterial, dentro da
riquezas construídas pela natureza, como rios, lagos, principal finalidade do Instituto, que é a produção, a
cachoeiras, florestas etc., que configuram nossas preservação e a divulgação de bens da Bahia.
paisagens e enriquecem nosso meio ambiente.
Temos ainda os bens de natureza arqueológica, que
são grutas, pinturas rupestres e outras ocorrências.
Paulo Nunes
Arquiteto
Ofício de Vaqueiro
CADERNOS DO IPAC, 6
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO
FUNDAÇÃO PEDRO CALMON ARTÍSTICO E CULTURAL DA BAHIA
Ofício de Vaqueiro
Salvador - Bahia
2013
GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA
Jaques Wagner
SECRETARIA DE CULTURA
Antonio Albino Canelas Rubim
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO
FUNDAÇÃO PEDRO CALMON ARTÍSTICO E CULTURAL DA BAHIA
PESQUISA PARA O DOSSIÊ
Mateus Torres Barbosa - Coordenador Geral
Cleber Reis
Ednalva Queiroz
Lygia Maria Alcântara Wanderley
Nívea Alves dos Santos
Sônia Maria de Couto Jonas
Washington Queiroz
FOTOGRAFIAS
Elias Mascarenhas
Lázaro Menezes
Oficina de Fotografia de Barra dos Negros - Morro de Chapéu
ICONOGRAFIA
Acervo do IPAC
PROJETO GRÁFICO
Paulo Veiga
INFOGRAFIA
Adriel Figueredo da Silva (estagiário)
EDIÇÂO
Carla Bahia
REVISÃO
Carla Bahia
Claudionor Batista Junior
Kelly Lima
IMPRESSÃO E ACABAMENTO
Empresa Qualigraf – Serviços Gráficos e Editora Ltda.
CDD: 305.563
Sumário
APRESENTAÇÃO
89. ANEXOS
92. REFERÊNCIAS
Apresentação
O próprio vaqueiro conta sua história, através dos aboios aqui transcritos, da
mesma forma como são falados, com a liberdade poética necessária para o co-
nhecimento desta sabedoria popular.
* Historiadora.
1
As expressões e nomes de plantas foram utilizados tal como se apresentam nas publicações da série Historias de
Vaqueiros: vivências e mitologia; coord. Washington Queiroz. Salvador: IPAC, 1998.
2
Variação popular para enlear; emaranhar, atar, ligar.
3
Variação popular para touceira; de touça; arranjo de vegetais no solo, que ali permanecem após corte do caule.
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em boiada gado arribado que passava às vezes meses ou anos sem ver cur-
ral; era um serviço especializado.”4 (RIBEIRO, 1998)
Não foi por acaso que a arte do vaqueiro tornou-se a mais famosa de todas
as ocupações do campo e sua lenda “se esparrama pelo imaginário [do meio
rural]. Visto na memória do fazendeiro, na lembrança do agregado, nos casos
contados nas antigas zonas de pecuária, o vaqueiro se agiganta, transforma-se
no maior dos personagens” (RIBEIRO, 1998). De certa forma, é essa a maior
recompensa: ter seu nome conhecido por toda e quarqué puguinha. É só perguntá.
(QUEIROZ, 1998)
Este estudo sobre o Ofício de Vaqueiro parte das premissas de que o bem cul-
tural, como todo signo, exige um suporte físico – dimensão material que serve
de base para a comunicação; uma estrutura simbólica que dá sentido e se esta-
belece na prática dos sujeitos capazes de atuar segundo certos códigos –, e que
o bem de natureza imaterial ou intangível caracteriza-se, segundo a Constituição
Brasileira, como uma “referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes
grupos formadores da sociedade”.4
Para isso, foi elaborado, pela equipe técnica da Gerência de Pesquisa, Legisla-
ção Patrimonial e Patrimônio Intangível (GEPEL) do IPAC, à época5, parecer
4
Constituição da Republica Federativa do Brasil, Cap. III, Secção II, Art216
14
favorável, após análises e pesquisas, à inclusão desta manifestação cultural no
Livro Especial de Registro de Saberes e Fazeres, como reconhecimento pela
sua importância e pela necessidade de salvaguardar e preservar uma singular
forma de trabalho, determinante para a criação do território baiano, nordes-
tino e brasileiro. Característica do ambiente sertanejo e que se constitui como
um dos mais significativos símbolos nacionais, o Ofício de Vaqueiro é uma das
profissões mais antigas do país – remonta ao início da criação extensiva de gado
– nascida no século XVI, quando Portugal ordenou o afastamento do gado da
orla da então província, em carta de 18 de junho de 1551 do governador Tomé
de Souza ao rei6.
5
Hoje, substituída pela Gerência de Patrimônio Imaterial (GEIMA)
6
“Este anno veo a esta cidade a caravela Galega de V. A. com gado vacum que he a mayor nobreza e ffartura que pode
aver nestas partes e eu a mandy tornar a carregar a Cado Verde do mesmo gado.” LAMARTINE, Oswaldo de. apud
QUEIROZ, Washington. Bahia e Vaqueiros: Um Débito. Com os vaqueiros, saindo do Castelo da Torre em Tatuapara
e convergindo para os campos do Jacuípe e das Itapororocas, tem início o nascimento de Feira de Santana, do estado da
Bahia e do Nordeste do Brasil – a conquista do território, civilização vaqueira e patrimônio cultural, 2009). Obs.: Artigo
inédito cedido pelo autor.
15
e pela adoção de novas técnicas e insumos. Esse novo modelo marca o fim do
ciclo do vaqueiro heróico e lendário e é bem ilustrado na chula de Zé Avelino e
Isidoro, da Lagoa de Dionísio, em Seabra:
7
Material recolhido por Piau Novais em 1979, em gravação de fita cassete.
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O Desenvolvimento da
Pecuária no Sertão Baiano
* Nívea Alves dos Santos
* Antropóloga.
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Ao ocuparem o território, os colonizadores observaram que havia a necessidade
de introduzir animais domésticos como bovinos, caprinos, ovinos e suínos, pois
serviam como fonte de alimentação e instrumento de trabalho. No entanto, a in-
compatibilidade entre a agricultura e a pecuária revelou-se, à medida que os ani-
mais invadiam os espaços das plantações, causando danos e prejuízos re-levantes
para a economia.
Ainda em finais do século XVI, uma expedição comandada por Cristóvão Bar-
ros conquistou toda a costa sergipana. Diversos criadores de gado subiram em
direção ao Vale do Rio São Francisco, para além da Cachoeira de Paulo Afonso,
enquanto outros criadores seguiam rumo aos rios Vasa Barris, Itapicuru e Para-
guaçu, transpondo as terras da Chapada Diamantina, atingindo, por fim, o Rio
São Francisco.
Em 1624, Francisco Dias d’Ávila recebe um alvará que lhe concedia privilégio de
devassar os sertões fora da autoridade dos governadores. Ao penetrar o sertão,
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atingiu as terras onde atualmente estão localizadas as cidades de Jacobina, Je-
remoabo e Juazeiro. Como pecuarista, vislumbrou a adequação da região do Rio
do Salitre para a criação de gado, pelas condições climáticas, a vegetação rasteira
e a facilidade de encontrar água no subsolo.
Após a morte de Francisco Dias d’Ávila, seu irmão Garcia d’Ávila, um dos
maiores latifundiários do país, foi responsável pelo desbravamento das terras
que seguiam para o Norte. Em torno de 1646, construiu próxima à Província
de Sergipe, uma casa-forte para sede de sua fazenda, que ficou conhecida como
Casa da Torre1.
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A intervenção territorial praticada pelos colonizadores é a principal responsável
pela dizimação dos “negros da terra”, seja através dos enfrentamentos em cam-
pos de batalha, por contágio de doenças ou através da catequização efetiva dos
missionários que, “imbuídos do poder salvacionista da alma do ‘gentio bárba-
ro’, acabaram por acelerar o processo de desintegração de suas comunidades”
(SOUZA, 2011, p. 28-29).
O transporte do gado pelo sertão era feito pelos vaqueiros, em longas cavalga-
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das, sendo necessário uma infraestrutura que comportasse o gado e seus condu-
tores. Desse modo, a partir do pouso e da criação dos primeiros currais, várias
fazendas foram surgindo pelo percurso, que serviam de ponto de apoio pelos
“tangedores de boiadas” ou boiadeiros (MATTOSO, 1922, p.63). Os vaqueiros
foram desbravadores e os maiores responsáveis pela fixação do homem no ter-
ritório baiano.
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O desenvolvimento econômico do semiárido fortaleceu o processo de coloniza-
ção daquela região. A pecuária extensiva diversificou-se com a incorporação de
agregados e meeiros às atividades produtivas. Além da implantação do cultivo
de outras atividades agrícolas para exportação, a exemplo de algodão e fumo.
Contudo, o impacto na economia do sertão foi bastante insignificante, tendo um
desenvolvimento tardio, vislumbrado somente a partir do século XVIII.
Celso Furtado (1977) sugere que esse tipo de atividade, a princípio, fora um
fenômeno induzido pela economia açucareira e que possuía pouca rentabilidade.
Em termos percentuais, a renda obtida com a pecuária não excedia cinco por
cento do valor da exportação da cana-de-açúcar e constituía-se a partir da venda
do gado e da exportação do couro. Ressalta que “a população que se ocupava
da atividade criatória era evidentemente muito escassa” (FURTADO, 1977, p.
58). Ao citar Antonil, nos informa da variação do número de currais e cabeças
de gado, estimada em cerca de 650 mil, e a população que vivia dessa atividade
não seria superior a 13 pessoas. O recrutamento dessa mão-de-obra baseava-se
no elemento indígena.
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Em meados do século XVIII, o sertão nordestino alcança o seu desenvolvi-
mento. A pecuária abastece todos os centros populosos do litoral. O gado é con-
duzido em manadas cruzando regiões inóspitas e de escassez de água (PRADO
JUNIOR, 1979).
Meio-Norte
Sertão
Agreste
Zona da Mata
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D’Ávila, o Pioneiro da
Pecuária no Brasil
* Lygia Maria Alcântara Wanderley
e Sônia Maria de Couto Jonas
Archibaldo Baleeiro
O primeiro, Garcia d’Ávila, aqui chegou em 1549, aos 21 anos de idade, na ar-
mada de Tomé de Sousa, que viera fundar a Cidade do Salvador. Jovem decidido
e corajoso e com capacidade de comando, foi nomeado feitor e almoxarife da
cidade e da alfândega, recebendo 500 réis por mês.
* Historiadoras.
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Com a chegada da caravela Galega, por volta de 1551, foram trazidos lotes de
gado vacum vindos de Cabo Verde, sob encomenda de Tomé de Sousa, que,
como pagamento, determinou que fossem entregues a Garcia d’Ávila, por seus
trabalhos, duas vacas, cada uma avaliada em dois mil réis. Além disso, o gover-
nador-geral doou ao almoxarife uma sesmaria em Itapagipe, onde d’Ávila fizera
seus primeiros currais e instalara duas olarias, que forneciam telha e tijolo para
as construções em Salvador e no Recôncavo.
Continuando a receber cada vez mais gado, Garcia d’Ávila tratou de expandir
sua criação. Ele teve ainda larga porção das sementes de cana-de-açúcar que aqui
chegavam, além de deter, nesse período, grande parte da população de negros
importados para o serviço da lavoura.
Garcia d’Ávila foi encarregado pelo primeiro governador, que estava preocu-
pado com o problema de segurança da cidade, de erguer um baluarte, ali, para a
vigilância da costa. O almoxarife devia construir “uma torre ou casa-forte” junto
aos engenhos de açúcar e das plantações, cumprindo instruções contidas no
Regimento do Rei D. João III.
Após dominar os grupos indígenas ali existentes, Garcia d’Ávila escolheu, para
instalar sua base de operações, um cerro isolado, distante dois quilômetros da
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foz do Rio Pojuca, a cinquenta metros sobre o nível do mar, dando início, então,
à construção da torre, “em taipa e madeira rebocada com cal de marisco”, tal
qual recomendara o mestre de obras Luís Dias. Cercou-a com estacas e a de-
nominou Torre de São Pedro de Rates, nome de uma velha freguesia medieval,
localizada entre o Douro e o Minho, onde o pai de Tomé de Sousa fora prior e
onde, provavelmente, o próprio Garcia d’Ávila teria nascido e vivido.
Garcia d’Ávila, contando com força composta por índios pacificados que habita-
vam as vizinhanças de Tatuapara, além de administrar seu próprio gado, cuidava
daquele que Tomé de Sousa possuía enquanto fora governador-geral do Brasil.
Havia comprado ou herdado deste governador 14 léguas de terra que iam até o
Rio Real, além de todo o gado que nela pastava.
Quando Tomé de Sousa deixou o Governo Geral, em 1553, Garcia d’Ávila tinha
24 anos e já havia se tornado um dos homens mais poderosos e ricos da Bahia.
Fornecia a carne de seus currais aos habitantes da cidade e de outros povoados,
além de couro para as roupas dos vaqueiros; supria os engenhos do Recôncavo
de bovinos e muares, fontes de energia para moendas e para todas as máquinas
dos trapiches, que funcionavam por meio de tração animal. Instalara, também,
em Tatuapara, estaleiros para construção de barcos, produzidos sob aproveita-
mento madeiras das matas, além de olarias, a exemplo das de Itapagipe. Além de
tudo, iniciara a pesca de baleia para extração de óleo, bem como a exploração do
âmbar, abundante naquela costa.
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Família d’Ávila e o maior latifúndio do Brasil
Apesar dos índios estabelecidos em volta dos currais não impedirem o desen-
volvimento do rebanho dos Ávila, pouco durou esta convivência pacífica. Pelo
inverno de 1555,
Entre 1563 e 1609, provavelmente, Garcia d’Ávila, que já fazia parte da go-
vernança da cidade como o vereador mais antigo, construiu, com empenho e
grandes gastos, sua casa, ao estilo medieval dos castelos existentes em Portugal
e na Espanha, em alvenaria e pedras, vindas de Boipeba, ao lado da torre. No
período em que era reconhecido como senhor do maior latifúndio do Brasil e,
também, foreiro do Conde de Castanheira, já não conseguia explorar sua vasta
possessão de terras sozinho. A área estendia-se, ao fim do século XVI, até o Rio
Jacuípe, ao sul, e o Itapicuru, ao norte. Assim, d’Ávila passou a explorar suas
terras, em grande parte, por meio de arrendamento a terceiros e cujo controle
fazia da torre de Tatuapara, através de procuradores. Nesta época, sua criação de
gado da península de Itapagipe já havia sido transferida para a ponta de Itapuã.
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fazenda com uma ermida de São Francisco. De Itapuã ao Rio Vermelho, toda a
orla marítima estava ocupada com criações de gado vacum.
As missões religiosas foram outro fator auxiliar para ocupação do Nordeste ba-
iano, porque reuniam índios catequizados com os quais os padres construíam
capelas e tinham plantações e currais. Tais missões foram combatidas pelos pro-
prietários de terras e, em especial, pelas famílias Ávila e Guedes de Brito, que,
1
IDEM, p. 46.
31
temendo concorrência, proibiram-nas em seus territórios.
Apesar do trabalho da Igreja, os d’Ávila buscavam meios para manter seu
patrimônio e poder sobre latifúndios. Uma maneira encontrada para isso foi a
instituição do vínculo de morgado como dote nos domínios de Tatuapara a fim
de perpetuarem o patrimônio familiar. Posteriormente, sob aprovação do Rei de
Portugal, em 1681, foram doadas à família todas as terras do Rio São Francisco,
a começar da barra do Rio Verde pelo rio abaixo, até o Penedo, assim como as do
outro lado, na serra do Orobó, também pelo rio abaixo até a volta de Casaratá, e
todas as demais áreas que havia pelo rio Pajeú. Ao pesquisar sobre essa história,
o escritor Euclides da Cunha relatou sobre as abusivas concessões de sesmarias
à posse de uma só família, a de Garcia d’Ávila, o que teria levado ao atrito com
as missões jesuíticas.
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para tanto, com o apoio do amigo e procurador Manuel Pereira Gago, “gente
honrada de Porto Seguro”, que o apoiou com toda sua experiência e que tratou
de casá-lo com sua filha, Ana Pereira.
Em 1621, Francisco d’Ávila estende sua posse de terras com uma nova sesmaria,
a principiar onde acabava a de seu avô, entre os rios Subaúma e Inhambupe. O
Rei Felipe IV da Espanha, em 1624, concedeu-lhe o privilégio para devassar os
sertões fora da autoridade dos governadores para fazer o descobrimento das
minas de prata que seu tio Belchior Dias Moréia dizia possuir. Mesmo não as
descobrindo, localizou, entretanto, as de salitre e obteve permissão para apossar-
se de mais 200 léguas de terra, “desde o Rio São Francisco até o rio da Cachoeira,
as serras de Jacobina e a serra de Loisembá e daí mais 100 léguas para a costa do
mar” (BANDEIRA, 2000)
Continuando o perfil familiar, o filho de Francisco Dias, Garcia d’Ávila 2º, ca-
sado com sua tia Leonor Pereira, pedia, ao seu tempo, sesmarias, aumentando
seus domínios a 100 léguas da costa na clareira das florestas centrais, enquanto
os ricos colonos moíam canas-de-açúcar no Recôncavo. Explorou, também, os
rios Salitre e São Francisco; guerreou com nações indígenas e possuiu patente de
Capitão do Recôncavo.
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1688 e 1701, proibiam a criação de gado a menos de dez léguas da costa. A me-
dida foi adotada para que a criação de currais não competisse com os canaviais
e com os mandiocais que ocupavam as ricas terras propícias para essas culturas,
evitando conflito entre criadores e lavradores. A criação em grande escala só era
rentável nas terras isoladas do sertão.
Esse é o período em que uma personalidade surge como alguém importante para
construção desse império d’Ávila: trata-se do filho de Manuel Pereira Gago e de
Catarina Fogaça, Antonio Pereira, que é de uma das principais famílias baianas.
Ele ordenou-se padre no Colégio da Bahia e passou a residir na Torre, tornando-
se o capelão da Ermida de Nossa Senhora da Conceição.
Antonio Pereira obteve, em 1651, toda a terra existente, desde a primeira cacho-
eira no Rio São Francisco e, a partir dela, para baixo, até entestar com terras no
limite de Sergipe com a Bahia. Em 1659, ocupou-se de cuidar de mais léguas de
terra ao Sul do São Francisco, a começar do Rio Salitre, e penetrando o Piauí,
o Ceará e o Maranhão. Com os vaqueiros, homens valentes e habilidosos em
enfrentar os riscos, que se vestiam de couro e moravam em cabanas de sapé, a
tanger e conduzir seus gados, o padre conquistava mais terras que os reis Afon-
sos.
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ra, era mais inclinado aos seus engenhos de açúcar do que às cavalarias do sertão.
Foi sucedido por Francisco Dias d’Ávila 3º, cujos filhos foram Leonor Pereira
Marinho e Garcia d’Ávila Pereira de Aragão, o último varão da descendência e 7º
e último senhor da dinastia dos Dias d’Ávila.
Não tendo filhos, d’Ávila Pereira de Aragão faz de herdeira a sua sobrinha, Ana
Maria de São José e Aragão, primogênita de Leonor e José Pires de Carvalho
e Albuquerque. Ana Maria casou-se com um primo, José Pires de Carvalho e
Albuquerque, que fora Secretário de Estado e Guerra e senhor dos engenhos
de Cazumbá, Rosário, Passagem, São Miguel e Nossa Senhora da Conceição. A
partir daí, os interesses da Casa da Torre voltaram-se para a economia do açúcar,
relegando a segundo plano a criação de gado, que entrava em decadência no
Nordeste.
Homens rudes e bravos como Garcia d’Ávila, dono da mais opulenta casa-forte
da Colônia e primeiro dos pastores do Nordeste, foram os responsáveis inici-
ais pelo “ciclo do couro”. Depois da Independência do Brasil, extinguiram-se,
quando cessou o regime morgadio, no século XIX, e a época liberal desmem-
35
brou os latifúndios seculares sem proveito das heranças equitativas.
Quando, em 06 de outubro de 1835, entrou em vigor a Lei nº 57, que proibia
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o estabelecimento de morgados, capelas e outros vínculos, além de extinguir os
existentes, o senhorio sobre as terras conquistadas pertencentes à Casa da Torre
de Garcia d’Ávila foi condenado ao desaparecimento.
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Representações Simbólicas
* Washington Queiroz
Ainda sobre o seu traje, um dos mais tradicionais e antigos do país, é preciso
sublinhar que se trata do único traje brasileiro de trabalho em uso que tem quase
a idade do país (e que só é superado pelas indumentárias à base de pinturas e
penas usadas pelos nossos índios) e que ainda pode ser encontrado no sertão.
Quem não participa desse cotidiano, por vezes, depara-se com termos pratica-
mente desconhecidos como: gibão, guarda-peito, perneira, ferrão e chapéu com
barbela e jaleco (ou “jaleque”), que sintetizam e simbolizam o ofício de vaqueiro.
Não se pode perder de vista que o conjunto cavalo com seus arreios, o vaqueiro
vestido com seu traje de trabalho e empunhando um ferrão – e, muitas vezes,
em companhia de um pequeno cachorro – constitui, na história, o conjunto de
maior referencial simbólico da cultura sertaneja.
* Antropólogo.
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Cotidiano e o
Ofício de Vaqueiro
Washington Queiroz
Como o vaqueiro desenvolve atividades diversas na lida com o gado, não existe
uma rotina fixa. Sua atividade depende da tarefa que vá ou esteja desempenhan-
do e pode ter (e muitas vezes tem) surpresas próprias de quem lida com a vida
animal e com um ambiente hostil.
Mas, de modo geral, comumente, o vaqueiro acorda muito cedo e sai com o
nascer do dia. Após sua primeira refeição, um café da manhã que mais se asse-
melha a um almoço reforçado, ele costuma sair para campear o gado e realizar
suas atividades que podem ser desde a retirada do leite, a condução de uma
boiada, ou a ferra das novas crias, dentre muitas outras, como processar a cura
de animais ou mesmo ajudar uma vaca a ter cria, deslocar a criação em busca da
água nos muitos períodos de seca ou, ainda, fazer o curtimento do couro, con-
sertos dos seus equipamentos, construções de cercas, currais e das suas próprias
casas, etc.
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bride (freio), estribos, chicote e esporas.
As peças acima indicadas fazem parte do instrumental mais voltado para a luta,
mas outras existem. A tesoura para a tosa, o pente para retirada de espinhos e
para escovar o pelo e as garrafadas, unguentos e simpatias para processar a cura
de bicheiras e outras doenças. Além de agulhas para costurar à pelo o orifício
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deixado pelos chifres retirados (a mocha) da rês bravia.
Os ferros de ferrar boi – que trazem toda uma simbologia da heráldica do sertão
– são símbolos, geralmente, com as iniciais das assinaturas dos seus proprietários
ou fazendas; são equipamentos que foram muito usados (e ainda hoje o são) na
criação extensiva de gado para identificar a propriedade do gado e impedir roubo
e extravio.
A culinária, inicialmente marcada pela farinha com carne seca e rapadura, guar-
dadas e acondicionadas em alforjes ou bornais, nas longas viagens de condução
do gado, ampliou-se e se diversificou como das mais apreciadas do país, tendo
no feijão tropeiro, na carne do sol, no pirão de leite e na manteiga de garrafa
legítimos e apreciados representantes.
Um capítulo muito rico da sua ciência é a medicina criada pelo vaqueiro, que in-
clui fitoterapia e que, junto com rezas, simpatias e garrafadas, foi usada e ainda o
é para debelar males e doenças dos animais e mesmo dos vaqueiros e sua família.
As construções de cercas, as mais diversas – sejam em pedra ou madeira –, cur-
rais e habitações e o uso dos seus espaços constituem rico capítulo ainda por ser
estudado.
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O Vaqueiro e o
Registro do Ofício
* Antonio Roberto Pellegrino Filho
Com seu gibão e chapéu de couro, alpercatas, alforjes, surrões e facão sempre
amolado, o vaqueiro é uma figura emblemática do sertão baiano, do nordeste e
de outras regiões do país.
É o Ofício de Vaqueiro uma das mais antigas ocupações em solo pátrio (1550).
Essa figura memorável transformou para sempre, social e culturalmente, muitos
recantos de terras do nordeste do Brasil e parte de Minas Gerais, instituindo a
chamada “civilização dos currais” ou “civilização dos couros” ou, ainda, “civi-
lização do pastoreio”. Ele não apenas inovou com técnicas originais de manejo
do gado, mas, também, engendrou toda uma singela culinária, uma indumentária
adaptada às intempéries da vida sertaneja, um jeito próprio de falar, cantando
aboios lamurientos, às vezes, com um humor singularíssimo, no ritmo do toque
do gado.
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Com seus ritos, mitos, ferramentas diversas, músicas, práticas medicinais, esté-
tica e moral própria, o vaqueiro contribuiu decisivamente para fixar os homens
no interior do país, promovendo o povoamento para além das terras litorâneas,
enriquecendo nossa cultura e dinamizando a identidade brasileira.
Após a instrução técnica efetivada pelo IPAC, foi produzido dossiê, com levanta-
mento bibliográfico, pesquisa documental, estudo etno-histórico, levantamento
iconográfico (fotos, recortes de jornais, publicações, etc.) e entrevistas, visando
fundamentar e justificar a importância do Registro do Ofício de Vaqueiro. O
dossiê foi encaminhado ao Conselho Estadual de Cultura, que acatou a indica-
ção e recomendou o registro, chancelado pelo Governador do Estado.
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Parecer Técnico:
Registro do Bem Cultural de Natureza
Imaterial: Ofício de Vaqueiro
Mateus Torres
Gerente de Pesquisa e Legislação
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crescente demanda deste segmento.
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variantes míticas que constituem parte significativa do arsenal simbólico ser-
tanejo. E, além, é sabido: foi o vaqueiro, de fato, o responsável pelas bandeiras
baianas, aquele que criou, a partir de cada curral implantado, o território do
Estado da Bahia.
Os elementos que compõem o universo dos vaqueiros e que são propostos para
salvaguarda oficial neste parecer estão arrolados na extensa lista (ainda incom-
pleta) que segue: seu falar; seus saberes, técnicas, medicina; sua moral, ética,
estética; sua relação com a morte e sua vida; seus cantares, ritos, mitos, suas
cosmologias e seus símbolos.
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- Promoção de exposições temáticas;
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incentivando o desenvolvimento de projetos para seu registro, pesquisa, salva-
guarda, preservação e difusão.
Cerrado
Campo Rupestre
Manguezal
Restinga
Mata Atlântica
N
Floresta Estacional
Caatinga
Áreas de Transição
Floresta Cerrado Caatinga
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Parecer do Conselho Estadual de Cultura
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Decreto Nº 13.150/2011
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Depoimentos, Versos e
Aboios dos Vaqueiros
A poesia livre contida no imaginário de o que é ser vaqueiro é refletida na espon-
taneidade dos versos e depoimentos recolhidos pelo interior da Bahia entre os
anos das décadas de 1980 e 1990 (recorte de 1985 a 1991) por pesquisadores do
IPAC, sob coordenação do antropólogo Washington Queiroz, como é visto no
Dossiê Ofício de Vaqueiro e aqui em parte reproduzido1:
Depoimentos
O mistério do Vaqueiro Evaristo e seu cavalo
Todo Risco, que pegava boi de noite.
Tinha um vaquero aqui que pegava boi de noite. Curria cum a cachorrada toda e gente incon-
trava, via os cachorro, via o vento do cavalo dele e nunca foi incontrado esse vaquero.
Quando foi um dia, Raimundo estava no Salobo, evém mei-dia cum chuva e incontrô... evém
um vaquero cum cavalinho preto, vestido de... incorado. Foi chegando o véi, disse: “Bom dia!”.
Seu Raimundo era dessas pessoa que a gente dizia: “Como vai, Seu Raimundo?”. Ele dizia:
“Como vai cidadão, o sinhô... Todo cum esses milagre...
E aí já vem o cavalero e ele [seu Raimundo] todo molhado... Ele [o cavalero] disse:
– Bom dia!
Aí Seu Raimundo:
– Como vai cidadão...
Aí ele:
– Cidadão não, eu me chamo é Evaristo e meu cavalo é Todo Risco!
E fincô o cavalo im cima dos pau, o véio [Raimundo] ficô atrapaiado, e evinha atrás os fio dele,
chegô e disse:
– Meu pai, o que foi?
Ele disse:
– Aqui evinha um cavalero e eu falei pra ele... me salvô, eu disse... chamei ele de cidadão e
ele disse que cidadão não, que o nome dele era Evaristo e o cavalo dele chamava Todo Risco e
disapariceu este vaquero daqui.
Cansei de i(r) matá tatu aqui ói, eu e meus pessoá aqui, quando nós chegava na istrada vinha
o vaquero: Rêê...rêêê boi! A cachorrada gania, nós curria tudo, entrava por dibaxo das perna
nossa e o vaquero passava pra lá.
Então, me contaro um caso e que eu... Já evém do vaquero véio meu sogro, me procurô se este
vaquero ‘inda existia aqui, e já ixistia essa vaquero.
1
As referências de idade e cidade dos entrevistados são da época das pesquisas.
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Eu digo:
– Este acabô.
Contando o mermo causo, ele disse:
– Chama Dumingo Barba Branca, aquele vaquero.
Disse que ‘inda ixistia pur esse lado, incontra... mas aqui disapariceu e num veio mais este
sirviço. Agora, nós num sabe.
José Pedro dos Santos
Vaqueiro Zé Cassiano – 60 anos
Manuel Mendes – Correntina
A lenda do boi
misterioso
...Já vi contá um causo de primero, que disse que tinha um vaquero correno ca boiada, correno co
boi. E lá, disse que o boi caiu den’dum buraco e na carrera que ia o vaquero caiu dento também,
agora sumiu boi com vaquero e tudo. Agora, foi ino, foi ino, disse que viu esse vaquero gritano lá
den’desse buraco, gritano, gritano. Muitos tempo, diz que via esse vaquero gritano den’desse bura-
cão. Foi imbora, vaquero cum boi, cavalo e tudo. É, morreu, fundiô num lugá, foi imbora tudo.
Tá cum muitos ano qu’eu sei disso. É, o povo documenta isso, num sei mais não.
Cunegundes Alves Lima
Vaqueiro Conegundes – 68 anos
Água do Carmo – Côcos
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Maçã “só quem pode
cunhecê e sabê é Deus”
...Eu num lhe dô a difinição de boi mandingado, mas sei que tem o boi que tem maçã, que até
aquela maçã traze muita conseqüência na rês. A rês também conduz, não todos, mas alguns
no mei do criatoro. Sai aquela rês que tem uma maçã, que tem aquela coisa... sai também que
nem o home.
Nós homes, um tem uma natureza pa tê uma coisa, pra fazê tudo, pa tê inteligença de fazê
tudo; pois essa mesma coisa o animá também tem, o meio dele fazê o jeito dele defendê. Aquilo
já é coisa dada pelo dom da natureza. Isso aí, só mesmo quem pode cunhecê e sabê é Deus que
é quem projetô de tudo e quem fez tudo e tá fazeno até dia de hoje, é esse, é quem pode dá uma
difinição. Home não pode dá uma difinição.
Pra que o home qué o coração? Pro quê? Purque Deus colocô o coração pra sê a mantença dele
e ele vivê pelo coração dele.
Artur da Silva Prado
Vaqueiro Artur – 85 anos
Lamerão – Palmas de Monte Alto
“A sorte da pessoa
que acha u’a maçã”
A maçã do boi é o tipo dũa pedra qu’ele tem. Então, pur fora a pele é lisa, quand’a pessoa corta
pur dento tem cabelo, ũa bola que se incontra pegado na parte interna do boi. A gente incontra
aquilo feito ũa bola, mas é piquena do tamanho dum limão, maió do que um limão um pouco,
então quand’a gente corta... pur fora tá liso, aquela pele forte... quand’a gente corta pur dento
é que tem cabelo.
O vaquero que acha ũa maçã dento do boi e ota pessoa não vê, só vê só ele guardano a maçã;
é bom pa ele dominá um gado, ele viajá com ũa boiada assim, boi dano arribada e o gado dele
sempre disinvolve melhó. S’ele cria gado, disinvolve, ele tem mais sorte pra gado, pra ele comprá
o gado, comprá, vendê. É difícil levá prejuízo, qué dizê, cum aquilo ajuda a sorte da pessoa que
acha ũa maçã.
Quem incontra [a maçã] acontece assim: todo gado que não tem pedra é manso pea aquela pes-
soa, mermo qu’ele tá brabo, é manso. Agora, se incontrá um que tem pedra, aí agora a barra
pesa! Ó, se ele não tirá a pedra do bolso o outro pega ele, o que tem pedra. Agora, pra o que não
tem, pode tá brabo do jeito que fô, o cara entra no curral, ele não mexe.
Valdenor Moreira Santos
Vaqueiro Sinhô Moreira – 58 anos
Morro – Ibitiara
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“Boi que tem maça
é curado”
Boi que tem maçã? Ah! Boi que tem maçã é curado1. Dize que a maçã é remédio, mas eu num
sei não. Eu guardei a maçã, mas depois disapariceu de lá de casa, num sei dela...
Arrota, arrota como gente, arrota como gado arrota, disse que arrota muito; cumida num
ofende, num morre, só morre se fô de machado... É o dizê dos mais véio.
O boi de maçã se munta-se na catinga, poucos home pega ele. É que é difíci maça im gado, é a
coisa mais difíci! Matei gado dezoito ano, só achei a maça num boi, e muita gente aí peleja pa
vê se acha ũa maçã, mas num acaja. É difíci maça im gado, é a coisa mais difíci, a coisa mais
difíci que tem.
Dize que guarda, serve pa remédio, a fazenda aumenta, diz o povo. Eu tinha ũa maça dum boi,
qu’eumatei um boi manso, mas disapariceu... E dize que num aparece nada contra o dono...
dizem.
Cirilo Firmino Gomes
Vaqueiro Cirilo – 87 anos
Faz. Rancho Alegre – Carinhanha
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reu, esses num faz medo mais ninguém não.
Eu tenho medo é só dos castigo de Deus e de cobra... É a onça qu’eu tenho medo, é de cobra.
Anísio Teixeira Xavier
Vaqueiro Anísio –59 anos
Jupaguá – Cotegipe
Simpatias para
estancar o sangue
Pega três foinha e vira po lado daquele sangue ou que teje veno, ou que sabe pur nutiça, e diga:
“É eta, é veta, e é geral. Vige, que tanto sangue!”
José Pedro dos Santos
Vaqueiro Zé Cassiano – 60 anos
Manoel Mendes – Correntina
Simpatias para
se proteger
a) Sinhô, sábio estô, sábio estarei, sábio andarei. Quero eu ser o sábio José como Jesus Cristo foi
sábio na Santa barca Noé, buscando a Santa chave, fazê o batizado Senhor São José, que me
fez esse credo em meu corpo Jesus, Maria e José. Aí se benze e pronto. Aí tá feito.
Isso, ’cê pode entrá dento d’água, pode entrá onde você quisé, rezano o credo; bandido passa im
cima mim de você e não lhe vê! Mas se você rezá o Credo e num oferecê, num serve. Oferece desse
jeito... oferece o Credo.
José Barbosa Filho
Vaqueiro Zeca Vaquero – 71 anos
Vitória – Oliveira dos Brejinhos
b) Quando sai de casa e antes de muntá, a gente fala ao sair na porta, pisa o pé direito adiante:
Vô saino po essas porta a fora, intregano meu corpo a Deus, minha alma a Nossa Sinhora, que
Jesus Cristo eterno nos implora. Com o nome do Pai, do Filho, di Ispírito Santo. Aí pode i(r).
Merquíades Francisco da Silva
Vaqueiro Merquide – 70 anos
Santa Helena – Riacho de Santana
Simpatia para
curar peste de animal
Quando o animal tá com peste, um cavalo, uma rês mesmo, custuma a gente pegá essa paia de
áio, coloca im cima dũa telha, bota um fogo e dá um difumadô. Aquele animal que tá istilando
aquele catarro pelo nariz... e aquilo sempre tem sido o remédio que a gente cura.
Armando Viana de Carvalho
Vaqueiro Mano – 37 anos
Faz. Rancho Alegre – Carinhanha
Simpatia para
curar dor de barriga
Eu te benzo de dor de barriga: Eu te benzo a rivilia, eu te benzo cum ramo verde e água fria;
cum os puderes de Deus e da Virge Maria.
Cunegundes Alves Lima
Vaqueiro Cunegundes – 68 anos
Água do Carmo – Cocos
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Reza para
pegar gado
Intão se domina assim: a gente vai contrito a Deus e reza o Crê im Deus Pai até num certo
ponto; vamo dizê... até onde diz: “Tá sentado”. Aí a gente: Crê im Deus Pai todo poderoso, cri-
adô do céu e da terra. Creio im Jesus Cristo,um só, seu filho Nosso Senhor, o qual foi concebido
por obra e graça do Espírito Santo, nasceu de Maria Virgem, foi crucificado, morto e sepultado.
Desceu, subiu aos céus, está sentado... Aí ’cê pára e aí agora vai fazê o que tem que fazê, que
seja: matá onça, pegá boi brabo ou que seja recebê seu inimigo, intendeu?
Agora, ou que seja o seu inimigo ou onça, ou se é boi brabo, se ele diz as palavras, ele pega...
intão ali cum aquelas palavra, abaixo de Deus, ele domina.
Agora, dipois que venceu aquela etapa, a gente termina o resto, num pode dexá de terminá.
Dipois que pegô o boi brabo, matô a onça... Num vai dá nada. O inimigo pode tá do jeito que
tivé, ele chega naquele.
Isac de Souza Benevides
Vaqueiro Bida – 66 anos
Olhos d’ Água do Seco – Ibitiara
“O que disfracassô
o nosso sertão”
’Cabô o movimento da criação solta... é, purque as terra tá tudo cercada, além da pista que
atacô, foi obrigado a prendê a criação toda.
E o povo também pegôas terras devoluta e atacaro: uns cercô sem sê dono, otas os dono mesmo
cercô, e nisso acabô os carrasco, num tem mais criação solta... argum canto... E foi o que disfra-
cassô o nosso sertão da Bahia, foi isso. Arruinô pr’uma coisa, mas amiorô pra otas.
Eu num sei mesmo quem foi que acabô o vaquero. Deve tê sido o movimento do mundo mermo...
ivoluiu e prendeu a criação toda.
José Barbosa Filho
Vaqueiro Zeca Vaqueiro – 71 anos
Vitória – Oliveira dos Brejinhos
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Porque “o vaquero
tá acabano”
A criação tá ’cabano, né? E vai ’cabano, ’cabano, ’cabano... do mesmo jeitinho o vaquero vai
acabano. Tão acabano também cum as mata, do mermo jeito que tão ’cabano cum vaquero. É o
tempo e o povo que num pode vê... num pode dexá mais um pedaço de terra, que qué botá tudo
im cima da cultura do capim e vai ’cabano.
Roque Gonçalves dos Santos
Vaqueiro Roque de Zé Viana – 57 anos
Lameiro – Cocos
“Vaqueiro tá
ficano pouco”
Vaquero tá ficano pouco... tá acabano sim. Acuntece que a coisa tá ficano difícil! E vaquero,
pelo menos aqui pra nós, num dá pra vivê de vaquerice; que se o vaquero fô vivê na vaquerice
aqui, ele num dá de cumê a famia não. Pelo meno na nossa região aqui.
Terino Coqueiro da Silva
Vaqueiro Terino – 42 anos
Mata do Cedro – Cristópolis
O vaquero “num é
inxergado como divia sê”
...Purque o pió do vaquero é que: trabalha ele, a mulhé e os filho, pa o patrão só inxergá o
sirviço dele. E, ás vezes, nem o dele é inxergado, purque sai cum as filha nua, como eu conheço
vários aqui.
Essa semana eu levei um pra Barreira, duente e pidino esmola, e foi vaquero de uma pessoa rica,
um fazendero. Um dia fui visitá, chamei um filho do patrão dele que é muito amigo, gosta de
contá as aventura dele, qu’era bom vaquero, e num tem corage de dá um conto e nem i(r) lá visitá.
S’eu fosse uma pessoa de um certo níve, de uma certa condição, eu dava um direito a um vaquero,
milhó de que um deputado. Deputado hoje é “marajá”... Agora, um pobe dum vaquero morre
aí à míngua e no dia que quebra a perna, o patrão já tá procurano é outro pra botá no lugá dele.
Intão tá acabano... num tem valô. Num é inxergado como divia sê. O pobe do vaquero sofre de
qualqué manera, nasceu pra sofrê...
Temístocles Mariano Passos Filho
Vaqueiro Didizinho – 42 anos
Vázea Dantas – Itaetê
“A vida do vaquero: é
uma vida disvalorizada”
A vida do vaquero é o siguinte: é uma vida disvalorizada. Porque todo home do serviço tem seus
horaro e o vaquero levanta uma hora da madrugada, trabaia até sete, oito hora da noite e ele só
recebe as hora seguinte.
Josezito Silva Queiroz
Vaqueiro Zezim das Flores – 68 anos
Vázea Dantas – Itaetê
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todo: vem dum canto, vem de oto. E aquilo é tudo pra ganhá prêmio, aquilo é tudo... é meio
de grandeza mesmo. Tamém, nunca fiz parte. Eu sô parte nas curridazinha minha de campo.
José Barbosa Filho
Vaqueiro Zeca Vaquero – 71 anos
Vitória – Oliveira dos Brejinhos
Vaqueijada:
“uma prevesidade”
O trem preso, pegá o bichim pa botá numa siringa, ’cabá, botá um cavalo atrás e derrubá sem
precisão. Eu acho isso... a gente tá fazeno uma prevesidade cum ele.
Olímpio Marculino da Silva
Vaqueiro Olimpo – 42 anos
Laranjeira – Riacho de Santana
“Pauta cum
o cão”
...[Tem] fulano [que] toma pauta cum o cão po mode3 sê vaquero, né? Toma pauta e aí vai po
campo cum os oto. E aí ele é o maió, ele é quem pega, purque num tem quem acumpanhe ele.
Mas eu nunca me meti cum isso não... Eu labutava era cum Deus!
José Gomes
Vaqueiro Zé Traíra – 90 anos
Pau Lôro – Barreiras
“Caiporismo”
Eu vejo falá assim. O freguês diz: “Hoje tem uma Caipora, hoje foi um Caipora no mato, foi
um Caipora no nosso trabalho, ou foi um caiporismo...” agora, o que deve sê é purque ele num
pôde fazê aquilo que tinha de fazê.
Se eu cuntratá de fazê uma coisa, num pode fazê, diz: “Ah! Fui Caipora hoje, num fui feliz.
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S’eu fosse feliz eu tinha tratado de fazê aquele ideado qu’eu propô pra mim fazê. Mas num fiz,
fui Caipora, num pode fazê”. Nesse dia foi Caipora... infeliz.
Artur da Silva Prado
Vaqueiro Artur – 85 anos
Lamerão – Palmas de Monte Alto
A medicina de
ontem e hoje
No outro tempo, qué dizê, que o povo usava... Chegava uma rês broocada: “Vamo furá”.
Botava creolina aqui em cima, soltava. Qué dizê qu’era o remédio. Azeite de mamona, aquele
azeite grosso, azeite de mamona qu’era o remédio.
Tinha uma rês... dá um purgante: ’panhava meia garrafa de azeite que o povo fazia e dava a
uma rês magra, aquilo era um purgante prum bizerro, uma coisa servia, servia. Casca de pau,
caju, aruera, caju com aruera é bom. E dava essas garrafada aos bicho de forma que melhorava.
Mas hoje o povo... o negoço hoje tudo é a cura, já tem umas medicina diferente. Tava assim, o
gado vivia gordo criado peo campo. Pegava o boi já com oito, nove, dez ano... laçô pra lá. Remédio
do mato? Diversos. Muitos remédio: é aruera, é caju... E não usa mais.
João Santos
Vaqueiro João Boladero – 56 anos
Andaraí
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“O remédio de dá gado
naquele tempo”
O mundo tá muito iscovado, mas naquele tempo a gente usava era isso: unha-danta, era remédio
de dá gado. Discascava a raiz do pau, torrava, muía, dismanchava n’água, botava o sal também
e dava pro vivente... ou que fosse cavalo, ou que fosse gado que tivesse peste. O remédio era esse.
Domingos Moreira Lopes
Vaqueiro Dumingo Vaquero – 86 anos
Armônio – Correntina
Uma “paixão”
de pai
A paixão mais forte qu’eu tive na minha vida foi qu’eu casei uma filha agora... tem uns quinze
dias. Eu casei uma filha, fiz uma festa aqui, matei uma vaca com quinze arroba, comprê cem
litro de pinga, caixas de bibida aí... e o pessoal fizero dois dia de festa. Aí nós voltamo pra
Barreiras. Cum três dia pra eles viajá pra São Paulo, ela ’panhô oto rapaz e sumiu no mundo...
Aí foi uma paxão muito grande que a gente teve, inclusive a mãe dela quase morreu de paxão...
Ela casô no sábado, quando foi na quarta-feira fugiu com outro cara. Num sei nem nutiça! Ela
parece que gostô mais do oto que do próprio marido dela.
Odilon de Carvalho Gonçalves
Vaqueiro Dilo – 43 anos
Baixa Verde – Barreiras
A paixão do
vaqueiro Zé Traíra
Num tive paxão não. Só tive paxão pur uma muié qu’eu tava mais ela – eu era muito novo
– e a muié me dexô, foi imbora. Essa, eu quase morri! Depois eu digo: “Danô, como é isso?!”
Aí eu tinha um cumpanhero qu’era de campo: “Coli nada moço! Caça ota muié, e bota aí, ’cê
nem lembra dessa...” Aí nós fumo no Riachão das Neves, lá eu arrumei ota e botei no lugá
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dela. Foi indo, foi indo isqueci dela, né? Quando foi um dia eu incontrei cum ela, incontrei cum
ela, ela disse:
– Moço, cuma é? Me leva pra lá ’tra vez.
Eu digo:
– Não, num vô lhe levá não. Lá tem ota, você num quis eu, porque se me quizesse num tinha
me largado mode1 o oto e você vei imbora. Eu tomém num quero não.
Era o oto que tava bateno nela. Eu digo:
– Pur mim você fica lá.
Aí ficô, pra lá. Eu tomém num quis mais não.
José Gomes
Vaqueiro Zé Traíra – 90 anos
Pau Lôro – Barreiras
Amor
A moça mais de amor qu’eu tive foi essa qu’eu casei. Ela era minha vizinha e a gente foi se
gostano, peguei ela pa namorá cum idade de catorze ano, cunsigui sê noivo dela três ano e vinte
e cinco dia. Tamos cum quarenta ano.
Alvino José Vieira
Vaqueiro Alvino – 64 anos
Mangarito – Condeúba
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Versos
O vaqueiro que tomou vene-
no como primeira mamada
Tô cansado de vê um matadô
Ua campina bunita e um pince
Mata qualqué boi qu tá im pé
Somente cortano o cabelo loro.
“Coro de Lubisone”
O bicho que anda de noite
De dia o rasto consome,
Eu nunca vi rasto d’alma
E nem coro de Lubisone.
Roberto Correa Nunes
Vaqueiro Roberto de Vigilinho – 67 anos
Saraqué – Carinhanha
“Casa Santa”
Deus te salve casa santa
Onde Deus fez a morada
Onde mora o cali bento
E a hóstia consagrada
Enésio Monteiro de Souza
Vaqueiro Aneso Vaquero – 68 anos
Taba- Côcos
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Ô minina de saia branca
Pintada de abc
Quando eu te vejo
Nem água posso bebê.
Merquíades Francisco da Silva
Vaqueiro Merquíade – 70 anos
Santa Helena – Riacho de Santana
“Moça Velha”
Vaca velha da capuera
Tem a cabeça rosia,
Quando e vejo moça velha
Seja louvado! Bença minha tia.
Valdemar Moreira dos Santos
Vaqueiro Sinhô Moreira – 58 anos
Morro - Ibitiara
“Moça pa sê bonita”
A moça pa sê bonita
Não precisa se trajá,
Veste seu vestido branco
Vamo junto pra o altar.
Adalgísio Nogueira Nunes
Vaqueiro Dagi – 54 anos
Palmas do Monte Alto
“Quem ‘magina”
Menina tucaia e vamos
Não se ponha a’maginá
Quem ‘magina toma medo
Quem tem medo não va lá.
Adalgísio Nogueira Nunes
Vaqueiro Dagi – 54 anos
Palmas do Monte Alto
O boi ”mandiguero”que
tinha “’quilibro” no corpo
No Rio Grande do Norte
Havia um fazendeiro,
Criava numa fazenda
Pra qualqué incomenda
Um grande boi mandiguero,
Esse boi quando curria
Segundo me disse o boato
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Tinha ‘quilíbio no corpo
Como ligeireza de gado.
“Vaquero do Nordeste”
Um vaqueiro do nordeste
Tem um valô do tisouro
Pur isso ama o gibão
Pernera e chapéu de coro.
Sô filho de Parnaíba
Daquela terras cansada,
Chove um ano e oto não
Quando chove é quase nada
Eu sô curado na venta
Pur nega desmantelada.
Pedro Oliveira
Vaqueiro Pedo Vaquero – 48 anos
Tbuinha – Riacho de Santana
Fragmentos da
décima do Boi Café
Se eu fosse esse vaquero
Eu num vistia mais coro
Dexava pra Fulozinho
Vestido de prata e oro.
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Francisquinho saiu ‘garrano
Quem pega esse boi é eu!
Os otos iscapô com vida
Francisquinho foi quem morreu.
Fragmentos
Se eu fosse o vaqueirinho de hoje
Eu num vistia mais coro
Dexava pra Fulozinho
Pudê visti (r) prata e ouro
Aboios
Três coisa nesse mundo
Se Deus me desse eu quiria
Um cavalo bom de gado
E uma casa na Bahia
Uma morena bunita
Preu bejá ela todo dia.
Minina me dá um beijo
Só num quero no pescoço
Quero na ponta da língua
No lugá que num tem osso
Pra quando eu fica velho
Eu relembrar qu’eu já fui moço
Êlêêêê... rêêêê...
Olímpio Marculino da Silva
Vaqueiro Olimpo – 42 anos
Laranjeira – Riacho de Santana
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E o cavalo e a mulé
Morrero tudo num dia
O cavalo eu tive pena
Da mulé tive aligria
Cavalo bom é difíci
Mulé ruim é todo dia
Êê... ôôôô... vida de gado!
Ôôêêêê... aaaêêêôôa...
Ôôô... boi laaaa... ôôô... êêê...
Aligria do vaquero
É condo o sol evém saino
Qu’ ele arreia o bizerro
E iscuta a vaca gemeno
Uma morena de lado
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Pidino leite e bebeno
Ôôôôôiii... ôôôiiia... ôiôiôiaaa.
Paulino josé dos Santos
Vaqueiro Paulino Vaquero – 52 anos
Itaguassu Sete - Andaraí
Eu morei lá na Santana
Tinha muitos boi véi de fama
Nós muntado im amufadinha
Nós tirano na cama boa véi
Ôi boi pra lá... ôi... ôi... ôi... boi... ‘ Fasta boi!!!
Ernest Lopes Carvalho
Vaqueiro Véi Ernesto- 66 anos
Faz. Rancho Algre – Carinhanha
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Anexos
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Referências
ABREU, João Capistrano de. Capítulos de história colonial (1500/1800). Sal-
vador: P555 Edições, 2006 (Coleção A/C Brasil, 6).
BASTIDE, Roger. Brasil: terra de contraste. 6.ed. São Paulo, DIFEL, 1975.
COSTA, Paulo Segundo da. Garcia d’Ávila e a santa casa. Néon. Salvador, ano
2, n.21, p.26-28, set. 2000.
92
DANTAS, Mônica Duarte. Povoamento e ocupação do sertão de dentro
baiano: Itapicuru, 1549-1822. Penélope Revista de História e Ciências Sociais.
Lisboa, n.23, p.10-12, nov. 2000.
93
QUEIRÓZ, Washington. Bahia e vaqueiros: um débito. Salvador: Universi-
dade Federal da Bahia, 2009.
------. Sertão: onde o sol se veste de couro para se pôr. In.: Revista da Bahia,
Salvador, v. 33, n.19. p.19-26, 1991.
SOUZA, Gabriel Soares de. Tratado descriptivo do Brasil em 1587. 3.ed. São
Paulo: Nacional, 1938.
94
Créditos das fotografias deste volume:
capa: Lázaro Menezes
páginas 4 e 5: Lárazo Menezes | página 7: Elias Mascarenhas | página 11: Lázaro Menezes
página 12: Elias Mascarenhas | página 17: Elias Mascarenhas | página 18: Lázaro Menezes
página 26: Elias Mascarenhas | página 32: Elias Mascarenhas | página 36/37: Elias Mascarenhas
página 38: Elias Mascarenhas | página 40: Elias Mascarenhas | páginas 42 e 43: Elias Mascarenhas
página 44: Lázaro Menezes | página 46: Lázaro Menezes | página 47 (topo): Elias Mascarenhas
página 47 (base): Lázaro Menezes | página 48: Lázaro Menezes | página 52: Elias Mascarenhas
página 62: Lázaro Menezes | página 64: Lázaro Menezes | páginas 71/72: Elias Mascarenhas
páginas 74/75: Elias Mascarenhas | páginas 78/79: Lázaro Menezes | página 80: Lázaro Menezes
página 87: Elias Mascarenhas | página 88: Lázaro Menezes
contra-capa: Oficina de Fotografia de Barra dos Negros - Morro de Chapéu
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Esta publicação foi editada em abril de 2013 pelo IPAC
Composto em Garamond e Chaparral Pro
Impresso em papel couché fosco 170gr/m2 e papel supremo 300gr/m2
Gráfica QualiCopy
Tiragem 3.000 exemplares
Salvador - Bahia - Brasil
CADERNOS DO IPAC, 6
PATRIMÔNIO OFÍCIO DE VAQUEIRO
A palavra patrimônio vem de pater, que, em latim, A coleção intitulada Cadernos do IPAC é o resultado
significa pai. Patrimônio é a herança deixada para a de uma parceria firmada entre o Instituto do Pa-
família e/ou para cidade, que poderá ser de origem trimônio Artístico e Cultural da Bahia e a Fundação
cultural ou natural. Pedro Calmon, autarquias vinculadas à Secretaria de
Cultura da Bahia.
Patrimônios culturais são os elementos criados
pelo homem e apropriados e legitimados pela socie- O projeto teve início em 2010, com a publicação do
dade que contam a história de um lugar, que fazem Cadernos do IPAC, 1 – Pano da Costa, resultado do tra-
referências às tradições e à maneira de ser de um OFÍCIO DE VAQUEIRO balho executado pela equipe técnica do Instituto em
povo, podendo ser material ou imaterial. 1984. Um exercício de resgate da memória da institu-
ição criada com o objetivo de preservar o patrimônio
Ofício de Vaqueiro
Os materiais são os bens construídos chamados de cultural baiano.
imóveis (casas, sobrados, palácios, fortificações etc.),
também são aqueles como as obras de arte, coleções, Dando prosseguimento ao projeto, os volumes 2
objetos religiosos, peças de artesanato etc., que po- – Festa da Boa Morte, 3 – Carnaval de Maragojipe, 4 –
dem ser deslocados e são chamados de bens móveis Desfile de Afoxés e 5 – Festa de Santa Bárbara são edições
ou integrados. dos dossiês elaborados para registro oficial pelo Go-
verno do Estado da Bahia de bens culturais imate-
Os bens imateriais ou intangíveis são as formas riais. Alguns incluem vídeo-documentário.
tradicionais de expressão e do fazer de um povo. Es-
tão presentes nas manifestações culturais populares, Com a nova estruturação do IPAC, a produção
assim como na maneira de produzir determinados desse projeto Cadernos do IPAC será ampliada com
objetos ou alimentos, por exemplo. a perspectiva de publicações que retratem, além de
pesquisas da instituição, o patrimônio cultural salva-
Já o patrimônio natural é o conjunto de todas as guardado no âmbito material e imaterial, dentro da
riquezas construídas pela natureza, como rios, lagos, principal finalidade do Instituto, que é a produção, a
cachoeiras, florestas etc., que configuram nossas preservação e a divulgação de bens da Bahia.
paisagens e enriquecem nosso meio ambiente.
Temos ainda os bens de natureza arqueológica, que
são grutas, pinturas rupestres e outras ocorrências.
Paulo Nunes
Arquiteto
Ofício de Vaqueiro
CADERNOS DO IPAC, 6
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO
FUNDAÇÃO PEDRO CALMON ARTÍSTICO E CULTURAL DA BAHIA