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Teoria da História II
Profª Dra. Márcia D’Alessio
Nome: Virgínia dos Santos Calado
R.A.: 94515 8º termo
Turno: Vespertino
1
Se faz importante ressaltar que o método histórico já vinha sendo pensado há muito tempo, como por
exemplo com Tucídides, no entanto, é a Escola Metódica que vai sistematizar este método, em razão,
principalmente do contexto da época, como será melhor explanado em seguida.
2
Langlois e Seignobos, em sua Introdução aos Estudos Históricos, entendem o documento (a fonte) como o
documento escrito, visão esta que perdurou por muito tempo nas pesquisas dos historiadores. E ainda, ao
afirmar que “onde não há documentos não há história”, tendo por documentos, os escritos, estes autores
acabam por excluir algumas sociedades da história, uma vez que algumas sociedades, por exemplo, as
africanas, estão fundamentadas na oralidade.
de algo acontecido, passa-se a usar Geschichte, que define a história tanto como o relato,
quanto como o acontecimento de algo acontecido:
“A fórmula de Droysen, “acima das histórias está a história”, herança de Niebuhr, expressa
uma verdadeira inflexão, ao distinguir Geschichte de Historik, termo criado por
G.G.Gervinus em seu Grundzuge der Historik de 1837, usado exclusivamente com a
acepção da teoria da história. E Geschichte passou a ser, ao mesmo tempo, historiam rerum
gestarum e a res gestas”3.
Esta mudança está ainda atrelada a um contexto mais amplo, de “busca identitária” da
história. O século XIX assistiu ao ápice de privilégio do cientificismo, visto como lugar de
conhecimento, onde os diversos saberes que se desenvolviam neste momento buscaram
construir um saber científico, tendo como base as ciências exatas e naturais. Nesta busca
identitária então, os historiadores buscaram autonomia para a História, se desvinculando da
Filosofia e de outros saberes, buscando para a pesquisa histórica um caráter científico. Esta
busca é evidente na escrita da história do historiador alemão Leopold Van Ranke, que propõe
uma dualidade: entende a história como ciência (onde se aproxima da Filosofia), à medida que
recolhe, descobre e analisa, e como arte (onde se aproxima da Poesia), à medida que
representa e dá forma ao que é descoberto4. No entanto, a história se diferencia de ambas –
uma vez que registra e recria, e esta recriação é a própria historiografia, que não é algo em si –
por sua metodologia baseada no empírico:
“A História não é nem uma coisa nem outra, ela promove a síntese das forças espirituais
atuantes na poesia e na filosofia sob a condição de que tal síntese passe a orientar-se menos
pelo ideal – com o qual ambas de ocupam – que pelo real” 5.
3
BENTIVOGLIO, Julio. In: DROYSEN, Johann Gustav. Manual de teoria da história. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009,
p.8-9.
4
RANKE, Leopold Van. In: MARTINS, Estevão de Rezende. A História Pensada. Teoria e Método na historiografia
Européia do século XIX. São Paulo: Editora Contexto, 2010, 202.
5
Ibidem.
6
Dado sua criação em família protestante, e segundo Sérgio da Mata, a religião junto a filosofia e a política
forma a tríade do pensamento histórico de Ranke.
7
RANKE. In: MARTINS, Op. Cit., p.204.
verdade. Vejamos ainda, como estes dois autores franceses buscam a autonomia e a
cientifização da história.
8
LANGLOIS, Charles-Victor. e SEIGNOBOS, Charles. Introdução aos Estudos Históricos. São Paulo: Editora
Renascença, p.32.
9
BENTIVOGLIO. In: DROYSEN, Op.Cit., p.7.
concretude, a história não deve prescindir do real10, o que explica a importância do
conhecimento empírico como material para a história.
Na primeira, de suas seis exigências, Ranke diz que é preciso ter “amor à verdade”.
Nesta proposição, o autor busca explicar que se deve considerar de maneira elevada o que
realmente aconteceu (o que, para ele, remete ao fundamento divino, “a História reconhece o
infinito em cada coisa viva, algo de eterno vindo de Deus em cada instante, em cada ser; é
este seu princípio vital” 11), afastando a imaginação, que está no plano das ideias, a fim de não
cair na subjetividade, para então compreender a manifestação externa dos acontecimentos:
“Caso quiséssemos, por meio de nossa imaginação, nos antecipar em algum lugar a tal
objetivo, estaríamos trabalhando contra ele, estaríamos reconhecendo apenas o reflexo de
nossas teorias e de nossa imaginação” 12.
Para Langlois e Seignobos, a concretude está então na observação direta dos fatos,
sendo o indireto a documentação, e “onde não há documentos não há história” 14
, é preciso
10
RANKE. In: MARTINS, Op.Cit., p.202.
11
Ibidem, p.206.
12
Ibidem, p.207.
13
LANGLOIS e SEIGNOBOS, Op.Cit., p.44-45.
14
Ibidem, p.15.
então buscar uma metodologia que garanta ao historiador a obtenção da verdade. Esta
metodologia é definida então por estes metódicos como o domínio crítica15, onde:
“O trabalho histórico é, pois, um trabalho crítico por excelência; toda vez que o
empreendermos, sem nos havermos preliminarmente defendido contra o instinto, estamos
irremediavelmente condenados ao afogamento” 16.
“Entre o texto e o espírito prevenido que o lê está posta uma espécie de conflito: o espírito
recusa-se a aceitar o que é contrário a sua ideia, e o resultado ordinário desse conflito é que
o espírito não se renda a evidencia do texto, mas que este ceda, adultere-se e amolde-se a
opinião preconcebida do espírito” 17.
15
Estes autores desenvolvem minuciosamente esta questão da crítica, dividida em externa, análise da
materialidade do documento, e interna, análise “psicológica”.
16
LANGLOIS e SEIGNOBOS, Op. Cit., p.47-49.
17
COULANGES, Fustel. In: LANGLOIS e SEIGNOBOS, Op.Cit., nota 108, p.102.
história alcança sua aplicação geral, e no parágrafo 7 segue mostrando que apenas o que é
produzido pelo homem se ilumina a nós. Ao se perguntar se existe verdade histórica, ou se a
história é apenas uma fábula, Droysen responde que tudo indica para uma coerência nas
atividades humanas, “uma verdade e um poder que, quanto maior e mais misterioso, tanto
mais estimula o espírito a conhecê-lo e a fundamentá-lo” 18.
Neste sentido, em diálogo com Ranke, Droysen se questiona se é possível que a crítica
das fontes leve ao “fato puro”, para ele, é justamente esta a essência do método histórico, mas
apenas observar a fonte não é o suficiente, para sua compreensão é preciso ainda uma
“sensibilidade”:
“O sentido histórico, é por demais na natureza humana para que não pudesse encontrar,
bem cedo e sob condições favoráveis, a sua expressão adequada. E é essa sensibilidade
natural que ainda hoje aponta o caminho e confere as formas aos estudos históricos” 19.
Isto nos leva a pensar na forma como o subjetivo não é descartado na obra de Droysen,
embora descarte a especulação filosófica, característica dos metódicos no geral, cabe ao
historiador “reconhecer que o caminho especulativo se lhe torna absolutamente proibido e que
ele deve antes partir, sobre o caráter empírico que é o seu campo” 20
. Para este autor (no
parágrafo 13), o “mundo ético” é a reconciliação entre uma visão de mundo idealista e outra
materialista, das ideias e do real. Existem então três métodos científicos (parágrafo 14), que
não estão, no entanto, dissociados, pelo contrário, são lados do mesmo prisma, são eles:
especulativo, físico e histórico, cuja essência é reconhecer, esclarecer e compreender.
Droysen, portanto, não rejeita a subjetividade, pelo contrário ele reconhece seu papel
na produção da história, reconhecendo tanto a objetividade do conhecimento histórico como a
subjetividade colocada pela interpretação. Segundo este autor, o “mundo ético”, observado de
acordo com a sucessão das transformações humanas, é a própria história, e os acontecimentos
históricos tem sua verdade nos poderes éticos, “pensar historicamente significa ver, nessas
realidades, a sua verdade” 21
, nestes poderes encontram-se ainda a continuidade da história,
onde todos fazem parte, cada um com seu papel. É, portanto, a partir da verdade – que se
encontra na apreensão da própria história – que se pode conhecer o “mundo ético”, ou seja, a
história.
18
DROYSEN, Op. Cit., p.32.
19
Ibidem, p.30.
20
Ibidem, p.33.
21
Ibidem, p.41-42.