« (35) NOTA SOBRE A FILOSOFIA DA DIFERENÇA DE HEIDEGGER. Parece que os principais malentendidos que Heidegger denunciou como contra-sensos sobre sua filosofia, após Ser e Tempo e Que é metafísica?, incidiam sobre o seguinte: o NÃO heideggeriano remetia, não ao negativo no ser, mas ao ser como DIFERENÇA; e não à negação, mas à QUESTÃO. Quando Sartre, no inicio de O ser e o nada, analisava a interrogação, ele fazia disto uma preliminar para a descoberta do negativo e da negatividade. De certo modo, era o contrário do procedimento de Heidegger. É verdade que não havia nisto qualquer malentendido, visto que Sartre não se propunha a comentar Heidegger. Mas Merleau-Ponty, sem dúvida, tinha uma inspiração heideggeriana mais real, quando falava de “dobra” ou de “franzido”, desde a Fenomenologia da percepção (em oposição aos “buracos” e “lagos de não-ser” sartrianos) – e quando voltava a uma ontologia da diferença e da questão em seu livro póstumo. o visível e o invisível. AS TESES DE HEIDEGGER PODEM SER ASSIM RESUMIDAS: 1.°, o não não exprime o negativo, mas a diferença entre o ser e o ente. Cf. prefácio de Vom Wesen des Grundes. 3″ éd., 1949: “A diferença ontológica é o não entre o ente e o ser” (e posfácio de Was ist Metaphysik?, 4e éd,, 1943: “O que nunca é em parte alguma um ente não se desvela como o Se-diferenciante de todo ente? “ (p. 25); 2º esta diferença não é ” entre… “, no sentido ordinário da palavra. Ela é a Dobra, Zwiefalt. Ela é constitutiva do ser e da maneira pela qual o ser constitui o ente no duplo movimento da “clareira” e do “velamento”. O ser é verdadeiramente o DIFERENCIANTE DA DIFERENÇA. Dai a expressão: DIFERENÇA ONTOLÓGICA. Cf. Dépassement de la métaphysique, tradução francesa, in Essais et conférences, pp. 89 sq.; 3.°, a DIFERENÇA ONTOLÓGICA está em correspondência com a QUESTÃO. Ela é o ser da QUESTÃO que se desenvolve em PROBLEMAS, balizando campos determinados em relação ao ente. Cf, Vom Wesen des Grundes, tradução francesa, in Qu’est-ce que la métaphysique?, pp. 57-58; 4º assim compreendida, a diferença não é objecto de representação. A representação, como elemento da metafísica, subordina a diferença à identidade, relacionando-a a um tertium como centro de uma comparação entre dois termos julgados diferentes (o ser e o ente). Heidegger reconhece que este ponto de vista da representação metafísica está ainda presente em Vom Wesen (cf.tradução francesa, p. 59, onde o terceiro é encontrado na “transcendência do ser-aí”). MAS A METAFÍSICA É IMPOTENTE PARA PENSAR A DIFERENÇA EM SI mesma e a importância daquilo que separa como daquilo que une (o DIFERENCIANTE). Não há síntese, mediação nem reconciliação na diferença, mas, ao contrário. Uma obstinação na diferenciação. É esta a “virada”, para ALÉM DA METAFÍSICA: “se o próprio ser pode aclarar em sua verdade a diferença, que ele preserva em si, do ser e do ente, ele o pode somente quando a própria diferença se manifesta especialmente… “ (Dépassement de la métaphysique, p. 89). Sobre este ponto, cf. Beda Allemann, Hölderlin et Heidegger, tradução francesa, Presses Universitaires de France, pp. 157-162, 168-172, e Jean Beaufret, Introdução ao Poème de Parménide, Presses Universitaires de France, pp. 45.ã5, 69-72; 5.°, portanto, a DIFERENÇA não se deixa subordinar ao idêntico ou ao igual, Mas Deve Ser PENSADA NO MESMO e como o Mesmo. Cf. Identitàt und Differenz (Günther Neske, 1957) e L’homme habite en poéte, tradução francesa, in Essais ei conférences, p. 231: “O mesmo e o igual não se recobrem, tanto quanto o mesmo e a uniformidade vazia do puro idêntico. O igual sempre se liga ao sem-diferença, a fim de que tudo se ajuste nele. O MESMO, ao contrário, é o pertencimento mútuo do diferente a partir da reunião operada pela diferença. Só se pode dizer o mesmo quando a diferença é pensada… O mesmo descarta todo desvelo em resolver as diferenças no igual: sempre igualar e nada mais. O mesmo reúne o diferente numa UNIÃO ORIGINAL. O igual, ao contrário, dispersa na unidade insípida do uno simplesmente uniforme“. RETEREMOS, COMO FUNDAMENTAL, esta “correspondência” entre DIFERENÇA e QUESTÃO; entre a diferença ontológica e o ser da questão. É DE SE PERGUNTAR, TODAVIA, se o próprio Heidegger não FAVORECEU OS MALENTENDIDOS com sua concepção do “NADA”, com sua maneira de “barrar” o ser, em vez de colocar entre parênteses o (não) do não-ser. Além disso, basta opor o Mesmo ao Idêntico para pensar a diferença original e arrancá-la das mediações? Se é verdade que certos comentadores puderam reencontrar ecos tomistas em Husserl, Heidegger, ao contrário, está do lado de Duns Scot e dá um novo esplendor à Univocidade do ser. Mas opera ele a conversão pela qual o ser unívoco só deve dizer-se da diferença e, neste sentido, girar em torno do ENTE? Concebe ele o ente de tal modo que seja este verdadeiramente subtraído a toda subordinação à IDENTIDADE darepresentação? NÃO PARECE, levando-se em conta sua crítica do eterno retorno nietzscheano.» – Deleuze, “Diferença e Repetição”, p. 134, nota sobre a Filosofia da Diferença de Heidegger, quando expõe centralidade do “Problema e da Questão” na conclusão do capítulo sobre a “Diferença em Si”. —————————————————————————- “Diferença e Repetição” tem 7 capítulos (1+2+1+2+1): 1.Introdução 2. Diferença em Si 3. Repetição Para Si 4. Imagem do Pensamento 5. Síntese Ideal da Diferença 6.Síntese Assimétrica da Repetição 7. Conclusão
Concepciones en Torno A La Normatividad en La Didáctica. Un Análisis Interdisciplinario de Obras Teóricas Didácticas y Curriculares en La Argentina, Entre 1960 y 1990.