Professional Documents
Culture Documents
BANCA EXAMINADORA
Márcia Elisa Boscato Gomes
Profa. Dra. – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
SUMÁRIO
1 MONOGRAFIA DE QUALIFICAÇÃO SOBRE O ESTADO DA ARTE DO TEMA DE
PESQUISA DA TESE.............................................................................................................6
1.1 Título .................................................................................................................. 6
1.2 Tema .................................................................................................................. 6
1.3 Resumo .............................................................................................................. 6
1.4 Revisão Bibliográfica com Análise Crítica .......................................................... 8
1.4.1 Desenvolvimento sustentável e novos desafios do século XXI .................. 8
1.4.2 Geodiversidade, geoconservação e patrimônio geológico ...................... 17
1.4.3 Metodologias de geoconservação pós 1990 ............................................ 32
1.4.4 Geoparques Mundiais da UNESCO e o advento da geoconservação
para a sustentabilidade .......................................................................................... 37
1.4.5 Implementação de geoparques e desafios na América Latina ................ 45
1.5 Conclusões Gerais ............................................................................................ 61
1.6 Referências....................................................................................................... 65
3
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - CAPA DO LIVRO EM INGLÊS (MEADOWS ET AL., 1972) E DO TRADUZIDO AO PORTUGUÊS. A PUBLICAÇÃO
DE LIMITES DO CRESCIMENTO QUESTIONOU O MODELO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO EMPREGADO
DURANTE O SÉCULO XX. ............................................................................................................................ 8
FIGURA 2 - GRÁFICO DO PROCESSAMENTO-PADRÃO DO MODELO MUNDIAL, PARA O ANO DE 1972, NO QUAL
INTERAGEM CINCO ELEMENTOS BÁSICOS QUE DETERMINARIAM, OU LIMITARIAM, O DESENVOLVIMENTO
HUMANO (MEADOWS ET AL., 1972, P.124). ............................................................................................... 9
FIGURA 3 - CAPA DO LIVRO EM INGLÊS (WCED, 1987B) E DO TRADUZIDO AO PARTUGUÊS. NOSSO FUTURO COMUM
PROPÔS E POPULARIZOU O TERMO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. .............................................................. 10
FIGURA 4 - CAPA DO DOCUMENTO AGENDA 21: O PROGRAMA DE AÇÃO DA ONU A PARTIR DO RIO (UN, 1992), O
QUAL TROUXE AO DEBATE MUNDIAL A NECESSIDADE DE AÇÕES ARTICULADAS A PARTIR DO LOCAL, DE CADA
PAÍS, PARA ALCANÇAR UMA MUDANÇA GLOBAL. ........................................................................................... 11
FIGURA 5 -CAPA DO LIVRO EM INGLÊS (MEADOWS ET AL., 2004) E DO TRADUZIDO AO PORTUGUÊS ................................ 13
FIGURA 6 - CENÁRIO 1: UM PONTO DE REFERÊNCIA, O QUAL SUPÕE QUE NÃO HAJAM MUDANÇAS SIGNIFICATIVAS
NOS PADRÕES DE DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE (MEADOWS ET AL., 2004, P.169) ..................................... 14
FIGURA 7 - POPULAÇÃO DO MUNDO: ESTIMATIVAS, 1950-2015, E PROJEÇÕES, 2015-2100 (UN-DESA, 2017,
P.2) .................................................................................................................................................... 15
FIGURA 8 - PROPOSIÇÃO DO ANTROPOCENO COM BASE EM ASSINATURAS ESTRATIGRÁFICAS QUE INCLUEM
COMPONENTES DA LITOESTRATIGRAFIA, BIOESTRATIGRAFIA E QUIMIOESTRATIGRAFIA (ZALASIEWICH ET AL.,
2012, P.1035)..................................................................................................................................... 16
FIGURA 9 - CAPAS DO LIVRO GEODIVERSITY EM SUA PRIMEIRA EDIÇÃO (GRAY, 2004) E EM SUA SEGUNDA EDIÇÃO
(GRAY, 2013). A PUBLICAÇÀO É TIDA COMO O PRIMEIRO MANUAL TÉCNICO ESPECÍFICO AO TEMA DA
GEODIVERSIDADE. .................................................................................................................................. 18
FIGURA 10 - SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS ABIÓTICOS ADVINDOS DA GEODIVERSIDADE (GRAY, 2013, DEPOIS DE DE
GROOT, 1992; EN, 2002; GRAY, 2004, 2011; E GRAY ET AL., 2013) .......................................................... 20
FIGURA 11 - ILUSTRAÇÃO ESQUEMÁTICA DOS BENS E SERVIÇOS DERIVADOS DA GEODIVERSIDADE (GRAY ET AL., 2013,
P.662). ............................................................................................................................................... 21
FIGURA 12 - ESQUEMA REPRESENTATIVO DOS FATORES ENVOLVIDOS NO RISCO DE DEGRADAÇÃO DOS ELEMENTOS DA
GEODIVERSIDADE (GARCIA-ORTIZ ET AL., 2014) .......................................................................................... 22
FIGURA 13 - EXEMPLOS DE DIFERENTES MAGNITUDES DE GEOSSÍTIOS NA REGIÃO DOS CÂNIONS DO SUL DO BRASIL. À
ESQUERDA, GEOSSÍTIO CÂNION FORTALEZA; À DIREITA, GEOSSÍTIO ÁCIDAS DE CAMBARÁ (EXTRAÍDAS DE
GODOY ET AL., 2012, P.458 E 487 RESPECTIVAMENTE). .............................................................................. 24
FIGURA 14 - MAPA DOS GEOSSÍTIOS INVENTARIADOS, DESCRITOS E PUBLICADOS PELA SIGEP (WINGE ET AL., 2013,
P.13) .................................................................................................................................................. 29
FIGURA 15 - MAPA DAS 19 PROPOSTAS DE GEOPARQUES CONCLUÍDAS E PUBLICADAS PELA CPRM (SCHOBBENHAUS
& SILVA 2012, P.7) ............................................................................................................................... 30
FIGURA 16 - PERÍODOS (SIC) DO TEMPO GEOLÓGICO QUE TESTEMUNHAM A EVOLUÇÃO DA VIDA NA TERRA E SUA
PROTEÇÃO INTERNACIONAL EM TERMOS DE SÍTIOS FOSSILÍFEROS DESIGNADOS COMO SÍTIOS DO PATRIMÔNIO
MUNDIAL, PARA 2005 (DINGWALL ET AL., 2005, P.10). .............................................................................. 33
FIGURA 17 - ESQUEMA DO PROCESSO DE SOLICITAÇÃO AO TÍTULO DE GEOPARQUE MUNDIAL DA UNESCO
(UNESCO, 2017, P.13) ........................................................................................................................ 47
FIGURA 18 - ESQUEMA (PG. 1 DE 2) DO DOCUMENTO DE SOLICITAÇÃO DA UNESCO QUE DEVE SER ENTREGUE PELO
GEOPARQUE NACIONAL ASPIRANTE AO TÍTULO INTERNACIONAL UNESCO, 2017, P.14) ..................................... 48
FIGURA 19 - ESQUEMA (PG. 2 DE 2) DO DOCUMENTO DE SOLICITAÇÃO DA UNESCO QUE DEVE SER ENTREGUE PELO
GEOPARQUE NACIONAL ASPIRANTE AO TÍTULO INTERNACIONAL UNESCO, 2017, P.15) ..................................... 49
FIGURA 20 - VISÃO GERAL DO DOCUMENTO DE AUTO-AVALIAÇÃO REQUERIDO PELA UNESCO DURANTE O PROCESSO
DE SOLICITAÇÃO AO TÍTULO DE GEOPARQUE MUNDIAL DA UNESCO (UNESCO, 2016E) ................................... 50
4
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - MARCOS HISTÓRICOS QUE DEMONSTRAM O DESENVOLVIMENTO DO PARADIGMA DA GEODIVERSIDADE
(DADOS DA PESQUISA). .......................................................................................................................... 28
QUADRO 2 - ÁREAS DE PROTEÇÃO DA NATUREZA (FORMAIS E INFORMAIS) QUE PODEM PROTEGER A GEODIVERSIDADE
DIRETA OU INDIRETAMENTE (DADOS DA PESQUISA). ..................................................................................... 30
QUADRO 3 - MARCOS HISTÓRICOS INTERNACIONAIS DA HISTÓRIA DO CONCEITO DE GEOPARQUES SENSU UNESCO.
EM CINZA, QUESTÕES QUE ENFATIZARAM ÁFRICA E AMÉRICA LATINA. EM VERDE, ESTABELECIMENTO OFICIAL
DO GEOPARQUES MUNDIAIS DA UNESCO. EM LARANJA, VIGÊNCIA ATUAL DO PROJETO E ORÇAMENTO DA
UNESCO (DADOS DA PESQUISA A SEREM TRADUZIDOS) ............................................................................... 37
QUADRO 4 - ITENS DAS DIRETRIZES OPERATIVAS DOS GEOPARQUES MUNDIAIS DA UNESCO (UNESCO, 2016C)............ 45
QUADRO 5 - DISTRIBUIÇÃO ENTRE CATEGORIAS DOS 220 ITENS DE AVALIAÇÃO DO DOCUMENTO DE AUTO-AVALIAÇÃO
REQUERIDO PELA UNESCO DURANTE O PROCESSO DE SOLICITAÇÃO AO TÍTULO DE GEOPARQUE MUNDIAL DA
UNESCO (DADOS DA PESQUISA) ............................................................................................................. 52
QUADRO 6 - RELAÇÃO DOS NOMES, ANOS DE DESIGNAÇÃO E PAÍS REFERENTES AOS 127 GEOPARQUES MUNDIAIS
UNESCO PARA O ANO DE 2017 .............................................................................................................. 54
QUADRO 7 - GEOPARQUES MUNDIAIS DA UNESCO FORA DA EUROPA, DA CHINA E DO JAPÃO. DETALHE EM
RELAÇÃO AOS GEOPARQUES LOCALIZADOS NA ÁFRICA E NA AMÉRICO LATINA (DADOS DA PESQUISA) ..................... 57
5
1.1 Título
1.2 Tema
1.3 Resumo
Disso, decorrem três principais reflexões: (1) por um lado, a dificuldade de sucesso de
novos geoparques pode ser remetida puramente à causas econômico-financeiras
embasadas no argumento de que as iniciativas européias e asiáticas, vistas como
modelos para o restante do mundo, são exemplos incompatíveis com as realidades de
países latino-americanos em termos de orçamento anual disponível para a
implementação e gestão de geoparques; (2) por outro, a apreensão do conceito de
geoparque trazido pela UNESCO requer um posicionamento transdisciplinar por parte
comunidade geocientífica na abordagem do patrimônio geológico, sendo a
transdisciplina tanto importante para a pontuação na avaliação da UNESCO quanto
condição para garantir um planejamento integrado de visitação do geoparque que, de
fato, privilegie o patrimônio geológico; (3) Teriam as pessoas e as comunidade
originárias dos lugares onde se pretende estabelecer um geoparque algo a dizer sobre
o patrimônio geológico desse lugar?
8
O século XX foi marcado por duas grandes guerras mundiais e pela crescente
industrialização do mundo, acompanhada das degradações ambientais advindas do
modo de desenvolvimento acelerado proporcionado pelas novas fontes de energia
então empreendidas. Esses fatos, em contra partida, resultaram, por exemplo, em
1945, no surgimento da Organização das Nações Unidas, bem como de sua agência
especializada, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, no
mesmo ano, sendo observada também a criação da União Internacional para a
Conservação da Natureza, em 1948.
Figura 1 - Capa do livro em inglês (Meadows et al., 1972) e do traduzido ao português. A publicação de
Limites do Crescimento questionou o modelo de desenvolvimento humano empregado durante o
século XX.
9
Figura 3 - Capa do livro em inglês (WCED, 1987b) e do traduzido ao partuguês. Nosso Futuro
Comum propôs e popularizou o termo desenvolvimento sustentável.
Segundo o relatório,
Segundo o documento,
Pensar Mundial, agir local foi o grande lema desse momento histórico e assim foram
propostas ações-chave que o maior número de localidades deveria procurar
desenvolver para que desde a base local se obtivesse uma melhoria Mundial.
Por um lado, houve um grande movimento de cuidado ambiental, mas, por outro, a
urbanização e o desenvolvimento industrial do mundo não tiveram seus padrões
mudados significativamente. Reanalisados novamente pela equipe de Limites do
Crescimento, 20 anos e 30 anos mais tarde (Meadows et al., 1992, 2004), os
indicadores socioambientais planetárias só pioraram. Segundo os autores,
Mais uma vez publicados na forma de livro (Figura 5), os resultados da equipe circulam
o mundo em milhares de cópias vendidas e ainda que confirmada novamente a
necessidade de mudanças estruturais nos padrões de desenvolvimento da sociedade
para que seja evitado uma série de colapsos, os padrões insustentáveis da sociedade
contemporânea seguem em curso. O estudo de 2004, contando com 30 anos de
avanço tecnológico e científico, se embasa na mesma metodologia de modelagens
computacionais utilizando teoria de sistemas dinâmicos para projetar cenários onde
interagem os mesmos cinco elementos básicos do estudo de 1972, a saber, (1)
População, (2) Produção de alimentos, (3) Produção industri, (4) Nível relativo de
poluição e (5) Recursos não renováveis remanescentes.
13
Como pode ser verificado pelos cenários modelizados no novo estudo, as tendências
para a evolução do mundo confirmaram estar muito próximas daquelas publicadas 30
anos antes. O primeiro cenário foi publicado mantendo as mesmas premissas de não
mudança no padrão de desenvolvimento do mundo, sendo agora chamado de Cenário
1: Um Ponto de Referência (Scenario 1: A Reference Point) (Figura 6). Segundo esse
cenário
Figura 6 - Cenário 1: Um Ponto de Referência, o qual supõe que não hajam mudanças significativas nos padrões de
desenvolvimento da sociedade (Meadows et al., 2004, p.169)
Figura 7 - População do mundo: estimativas, 1950-2015, e projeções, 2015-2100 (UN-DESA, 2017, p.2)
Figura 8 - Proposição do Antropoceno com base em assinaturas estratigráficas que incluem componentes da
litoestratigrafia, bioestratigrafia e quimioestratigrafia (Zalasiewich et al., 2012, p.1035).
Ainda que precisem ser mais bem debatidos e entendidos (Gray, 2013), esses campos
geológicos de estudo vêm rapidamente ganhando espaço nas atividades geocientíficas
em todo o mundo (Xun & Milly, 2002; Xun & Ting, 2003; Brilha, 2005, 2015; Nowlan et
18
al., 2004; Zouros, 2004; Turner, 2006; Burek & Prosser, 2008; Leman et al., 2008; Silva,
2008; Reynard et al., 2009; Ibañez-Palacios et al., 2010; Gordon & Barron, 2011;
Henriques et al., 2011; Schobbenhaus & Silva 2012; Mansur et al., 2013; Gray 2013;
Woo et al., 2013; Garcia-Cortés et al., 2014; Errami et al., 2015; Randrianaly et al.,
2015; Maufti & Németh 2016; SILACGEO, 2017; UNESCO, 2017). A existência de
instituições e grupos de trabalho específicos na área, bem como a recorrência do tema
em encontros científicos nacionais e internacionais e a verificação de pesquisas e
publicações científicas especializadas, conferem à temática da geodiversidade e
geoconservação a possibilidade de tornar-se um novo paradigma geocientífico (Gray,
2008). A geoconservação é, inclusive, anunciada como nova área geocientífica
(Henriques et al., 2011).
Figura 9 - Capas do livro Geodiversity em sua primeira edição (Gray, 2004) e em sua segunda
edição (Gray, 2013). A publicaçào é tida como o primeiro manual técnico específico ao tema
da geodiversidade.
19
Figura 10 - Serviços ecossistêmicos abióticos advindos da geodiversidade (Gray, 2013, depois de De Groot, 1992;
EN, 2002; Gray, 2004, 2011; e Gray et al., 2013)
guardada a memória da Terra e é nela que continuará existindo a fonte para novas
pesquisas científicas acerca do planeta. Em termos mais específicos, os elementos da
geodiversidade que fornecem esses serviços ecossistêmicos abióticos são: (1) as
rochas; (2) os solos; (3) as geoformas, processos e sedimentos; e (4) a atmosfera,
oceanos e ciclo hidrológico (Figura 11)
Figura 11 - Ilustração esquemática dos bens e serviços derivados da geodiversidade (Gray et al., 2013, p.662).
Figura 12 - Esquema representativo dos fatores envolvidos no Risco de Degradação dos elementos da
geodiversidade (Garcia-Ortiz et al., 2014)
23
A atenção dada ao risco que essa importante parte da natureza corre, fez com que
começassem a surgir movimentos com abordagem patrimonial em relação à
geodiversidade, surgindo assim, o termos patrimônio geológico. A referência
internacional utilizada para definir patrimônio geológico é a publicação intitulada
Declaração Internacional dos Direito da Memória da Terra, aprovada na ocasião do
Primeiro Simpósio Internacional de Proteção do Patrimônio Geológico (Premier
Symposium International sur la Protection du Patrimoine Géologique), em Digne-les-
Bains, França (SGF, 1994). Conhecida também como Declaração de Digne, esse
documento definiu que
Para a UNESCO (2003, p. 3), por exemplo, “entende-se por ‘patrimônio cultural
imaterial’ as práticas, representações, expressões, conhecimentos e competências –
bem como os instrumentos, objetos, artefatos e espaços culturais que lhes estão
associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos
reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural”. No caso da
geodiversidade, os geossítios são considerados as “unidades básicas do patrimônio
geológico” (Henriques et al., 2011, p. 119) e devem ser claramente delimitados em
área, sejam pequenas (p.e., afloramentos), sejam grandes (p.e., morro) (Figura 13),
incluindo museus e coleções.
24
Figura 13 - Exemplos de diferentes magnitudes de geossítios na região dos cânions do sul do Brasil. À esquerda,
Geossítio Cânion Fortaleza; à direita, Geossítio Ácidas de Cambará (Extraídas de Godoy et al., 2012, p.458 e 487
respectivamente).
A título de exemplo pontuais anteriores aos anos 1990, cita-se o relatório Reservas
Geológicas Nacionais na Inglaterra e País de Gales (National Geological Reserves in
England and Wales), publicado em 1945, o qual listou 390 sítios, classificando esses
dentro de quatro tipos de reservas geológicas, a saber: (1) Área de conservação; (2)
Monumento geológico; (3) Seção controlada; e (4) Seção registrada. Segundo o
relatório,
substituto dessa (Anderson et al., 2015). Para além, essas e outras publicações
enfatizaram a importância de utilizar a geodiversidade como guia para a definição de
áreas de proteção da biodiversidade em tempos de mudanças climáticas (EN, 2004;
Stace & Larwood, 2006; Anderson et al., 2015; Commer et al., 2015; Crofts & Gordon,
2015; NE, 2015). Tais ênfases são justificadas pelo fato de a causa da alta
biodiversidade de um determinado local estar fortemente vinculada à alta
geodiversidade desse local e, portanto, mesmo em cenários de mudança do sistema
ecológico-biológico, em resposta à mudança do clima, a matriz da geodiversidade
continuará estática geograficamente e tenderá a seguir abrigando novos conjuntos de
alta biodiversidade.
Comer et al. (2015, p.693), afirmam que "conservar uma ampla gama de contextos
geofísicos [...] não só pode preservar os lugares ocupados hoje por espécies, mas
também preservar lugares que podem ser ocupados à medida que os ecossistemas se
transformam no futuro". Anderson et al., (2015, p.688) discutem que "a
geodiversidade pode adicionar novas dimensões ao planejamento de conservação,
melhorando as abordagens tradicionais embasadas apenas na biodiversidade e
ajudando a garantir a conservação duradoura da diversidade". A intrínseca ligação
entre a biosfera, humanidade inclusa, com a geosfera e a importância de incluir
referenciais da geodiversidade no manejo da biodiversidade vêm, por exemplo, sendo
abordadas em uma série de publicações de agências especializadas em conservação da
natureza na Inglaterra (Cottle, 2004; EN, 2004; Humphries & Donnelly, 2004; Stace &
Larwood, 2006; Webber et al., 2006), as quais desde outubro de 2006 estão unificadas
sob um único organismo público de gestão chamado Inglaterra Natural (NE, Natural
England). Segundo o documento que sumariza as evidências do organismo referentes
à geodiversidade, para o ano de 2015,
A nível internacional, a geoconservação tem sido aplicada tanto por meio de iniciativas
com fins de proteção legal quanto para fins de divulgação e de geração de uma cultura
que conheça, entenda e proteja os elementos da geodiversidade. O Quadro 2 traz
alguns exemplos de áreas de proteção nas quais a geodiversidade tem sido protegida
de forma direta ou indireta.
Quadro 2 - Áreas de proteção da natureza (formais e informais) que podem proteger a geodiversidade direta ou
indiretamente (Dados da Pesquisa).
Designação
1 Área de gestão de espécies e habitat (Habitat/species management area, of IUCN)
2 Área de Proteção, Área de Proteção Ambiental, Área de Proteção Permanente, Área de
Conservação, Área de Conservação Marinha, Área de Conservação Natural, Área de
Interessa Natural
3 Área de vida selvagem (Wilderness area, of IUCN)
4 Área protegida de utilização sustentável dos recursos naturais (Protected area with
sustainable use of natural resources, of IUCN)
31
5 Floresta Nacional
6 Geomorfossítio
7 Geoparque Mundial da UNESCO (UNESCO Global Geoparks)
8 Geoparque nacional, Geoparque estadual e Geoparque municipal
9 Monumento Natural, Monumento Ecológico
10 Monumento ou feição natural (Natural monument or feature, of IUCN)
11 Museu, Ecomuseu, Museu a céu aberto, Centro de interpretação
12 Paisagem Protegida, Paisagem Cultural
13 Paisagem protegida terrestre/marinha (Protected landscape/ seascape, of IUCN)
14 Parque nacional (National park, of IUCN)
15 Parque Nacional, Parque Estadual e Parque Municipal
16 Pontos e Seções de Estratotipos de Limite Mundial (GSSP, Global Boundary Stratotype
Section and Point);
17 Reserva Científica
18 Reserva de Conservação da Natureza
19 Reserva natural estrita (Strict nature reserve, of IUCN)
20 Reserva Natural, Reserva Ecológica
21 Reservas da Biosfera da UNESCO (Biosphere Reserve, of UNESCO)
22 Sítio de Especial Interesse Científico (SSSI, Site of Sprecial Scientific Interest)
23 Sítio do patrimônio geológico/Geossítio/Ponto de interesse geológico (PIG, Punto de
Interés Geológico)/Lugar de interesse geológico (LIG)
25 Sítio Geológico-geomorfológico de Importância Regional (RIGS, Regional Important
Geological-Geomorphological Site)
26 Sítios do Patrimônio Mundial (World Heritage Site, of UNESCO)
Como pode ser visualizado no quadro acima, existe um grande número de áreas
potenciais para a proteção da geodiversidade, contudo grande parte delas apenas o
faz de forma indireta. As Categorias de Gestão de Áreas Protegidas da IUCN (IUCN
Protected Area Management Categories) (Dudley, 2008), por exemplo, fazem alusão
específica a feições geológicas/geomorfológicas (Reserva Natural Estrita), forma de
relevo, monte marinho, caverna submarina e caverna (Monumento ou Feição Natural).
Apesar disso, existe uma predominância significativa do enfoque direcionado à
biodiversidade quando comparada à geodiversidade ou ainda à sociodiversidade (esta
em especial coberta em Paisagem protegida terrestre/marinha, ou em Área protegida
de utilização sustentável dos recursos naturais). Em níveis nacionais, existem
instrumentos legais que definem claramente algunas conceitos da geodiversidade a
serem protegidos, como é o caso de um Decreto-Lei de Portugal (DL, 2008) que
especifica em seu preâmbulo os conceitos de geossítio e patrimônio geológico.
Também nessa direção se coloca um conjunto de leis espanholas que tratam
nomeadamente da conservação e gestão do patrimônio geológico e da
geodiversidade, incluindo uma lista dos principais contextos geológicos nacionais e as
unidades geológicas que os representam (DíazMartínez et al., 2008).
No caso brasileiro, Nascimento et al. (2008) afirmaram que, até o ano de 2006, 42 dos
62 parques nacionais tinham seus principais atrativos em elementos de
32
geodiversidade, embora sem reconhecer tal fato. Com efeito, o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza (SNUC, 2000) não conceitua especificamente
nem o patrimônio geológico nem a geodiversidade e tampouco prevê estratégias de
geoconservação. Ainda que conste como objetivo do sistema, "proteger as
características relevantes de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica,
arqueológica, paleontológica e cultural" (SNUC, 2000, p.3), não especifica esses
conceitos e tampouco prevê a inclusão desses dentro de suas categorias de unidades
de conservação. Ou seja, faz alusão a elementos da geodiversidade, mas não propõe
mecanismos legais para a sua proteção ou conservação. O patrimônio geológico
brasileiro tem sido, portanto, protegido indiretamente, especialmente incluído nas
categorias Parque Nacional e Monumento Natural, ainda que o SNUC faça apenas
alusão, respectivamente, à preservação de ecossistemas naturais de grande relevância
ecológica e beleza cênica e a sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza
cênica. Por fim, é possível também incluir o patrimônio geológico dentro da categoria
Área de Relevante Interesse Ecológico, a saber, como área de características naturais
extraordinárias.
Embora ainda existam discussões quanto aos métodos a serem utilizados para a
proteção da geodiversidade, tem sido amplamente aceita a ideia de que a
geoconservação visa proteger especialmente áreas ou pontos da geodiversidade
chamadas de sítios geológicos ou geossítios (Henriques et al., 2011). Assim, os sítios
geológicos podem ser pequenos ou grandes em área, e mesmo objetivando uma
conservação não apenas dos gessítios, mas sim de processos geológicos maiores, em
escala de paisagem, a política mais efetiva tem sido a delimitação específica de pontos-
chave a serem protegidos. Isso se justifica também pela constatação já referida
anteriormente de que o risco de degradação pode vir da falta de informação acerca da
geodiversidade e, assim, mesmo para proteger uma paisagem em si, são necessários
locais pontuais, os geossítios, para o desenvolvimento de atividades geradoras de uma
cultura da Terra, capaz, portanto, de garantir uma proteção mais efetiva em grandes
escalas.
1) inventário;
33
2) valoração;
3) conservação;
4) valorização; e
5) monitoramento.
A nível mundial, por exemplo, uma interessante avaliação dos Sítios do Patrimônio
Mundial (WHC, 2015) relacionados com o geopatrimônio foi feita por Dingwall et al.,
(2005). Nesse estudo, os autores avaliaram a representatividade dos sítios da lista do
patrimônio mundial para representar o registro da história da vida na Terra em termos
de evidências fossilíferas. Ao final, evidenciaram uma ausência total de sítios
representativos dos períodos Precambriano e Siluriano e das épocas Paleoceno,
Oligoceno e Plioceno (Dingwall et al., 2005) (Figura 16). Vale enfatizar que o Paleoceno
é a época geológica marcada pelo surgimento dos primeiros primatas, evento biológico
de fundamental importância para os humanos.
Figura 16 - Períodos (sic) do tempo geológico que testemunham a evolução da vida na Terra e sua
proteção internacional em termos de sítios fossilíferos designados como Sítios do Patrimônio
Mundial, para 2005 (Dingwall et al., 2005, p.10).
34
O procedimento de valoração de geossítios tem sido realizado com base em uma série
de indicadores, os quais podem ser agrupados de forma geral em três grandes grupos:
(1) valores da geodiversidade; (2) potenciais de uso; e (3) riscos de degradação
(Henriques et al., 2011; Gray, 2013; García-Ortiz et al., 2014; Brilha, 2015). Ainda que a
avaliação qualitativa tenha papel fundamental na marcação de premissas da
geoconservação, os métodos quantitativos (Brilha, 2005, 2015; Reynard et al., 2007;
Bruschi, 2007; Bruschi & Cendrero, 2009; Lima et al., 2010; Coratza et al., 2011;
Fassoulas et al., 2012; García-Cortés et al., 2014; Fontana et al., 2015) têm sido
utilizados como “uma tentativa de reduzir a subjetividade que está sempre envolvida
em qualquer seleção ou valoração” (Henriques et al., 2011, p. 120). Brilha (2015), em
artigo dedicado à revisão das metodologias de inventário e valoração, propõe que as
valorações sejam guiadas pelos quatro seguintes grupos de critérios:
Em geral, os inventários e valorações têm sido elaborados dando maior ênfase aos
critérios referentes aos valores geocientíficos dos geossítios, embora Pena-dos-Reis &
Henriques (2009) atentem para a importância da integração dos vieses científico e
social a fim de se alcançar políticas de geoconservação mais efetivas. O advento dos
geoparques também se mostra como importante tencionador das metodologias no
sentido de torná-las mais abrangentes e versáteis a depender do objetivo que o
inventário e a valoração têm. Por exemplo, um fotógrafo que visita um geoparque
buscará preferencialmente os geossítios de grande beleza cênica, enquanto para um
geólogo, pode ser mais atraente visitar um geossítio de interesse científico (ver Figura
13). Para mais reflexões quanto às metodologias de valoração, por hora consultar
Brilha (2005, 2015); Reynard et al. (2007); Bruschi (2007); Bruschi & Cendrero (2009);
Lima et al. (2010); Coratza et al. (2011); Fassoulas et al. (2012); García-Cortés et al.
(2014); e Fontana et al. (2015).
programas educativos (Catana, 2009; Vegas et al., 2012; AGA, 2013; Fuertes-
Gutiérrez & Fernández-Martínez, 2014);
Por fim, os procedimentos de monitoramento são propostos para fiscalização dos usos
dos geossítios em termos de sua eficácia na divulgação do conteúdo geocientífico,
impacto local gerado pela visitação aos geossítios e acompanhamento em geral dos
fatores intrínsecos e extrínsecos que influenciam os geossítios (Buckley, 2003; Brilha,
2005, 2015; Becker, 2008; Garcia-Ortiz et al., 2014).
Quadro 4 - Itens das Diretrizes Operativas dos Geoparques Mundiais da UNESCO (UNESCO, 2016c)
Secretaria dos Geoparques Mundiais da Mesa de los geoparques UNESCO Global Geoparks
4.2 mundiales de la UNESCO Bureau
UNESCO
Equipo de evaluación de los
Equipe de avaliação dos Geoparques UNESCO Global Geoparks
4.3 geoparques mundiales de la
Evaluation Team
Mundiais da UNESCO UNESCO
Comités Nacionales de National Geopark
4.4 Comitês Nacionais de Geoparques Geoparques Committees
Rede mundial e redes regionais de Red mundial y redes Regional and Global Geopark
4.5 regionales de geoparques networks
geoparques
PROCEDIMIENTO DE THE APPLICATION
5 PROCEDIMENTO DE SOLICITAÇÃO SOLICITUD PROCEDURE
5.1 Introdução Introducción Introduction
5.2 Candidatura Candidatura Nomination
5.3 Avaliação Evaluación Evaluation
5.4 Exame das solicitações Examen de las solicitudes Applications review
Recommendations and
5.5 Recomendações e decisões Recomendaciones y decisiones
decisions
5.6 Processo de revalidação Proceso de revalidación Revalidation process
6 FINANCIAMENTO FINANCIACIÓN FINANCING
7 SECRETARIADO SECRETARÍA SECRETARIAT
8 CRIAÇÃO DE CAPACIDADE CREACIÓN DE CAPACIDADES CAPACITY-BUILDING
Figura 17 - Esquema do Processo de Solicitação ao título de Geoparque Mundial da UNESCO (UNESCO, 2017, p.13)
48
Figura 18 - Esquema (pg. 1 de 2) do Documento de Solicitação da UNESCO que deve ser entregue pelo geoparque
nacional aspirante ao título internacional UNESCO, 2017, p.14)
49
Figura 19 - Esquema (pg. 2 de 2) do Documento de Solicitação da UNESCO que deve ser entregue pelo geoparque
nacional aspirante ao título internacional UNESCO, 2017, p.15)
50
Figura 20 - Visão geral do Documento de auto-avaliação requerido pela UNESCO durante o Processo de Solicitação ao
título de Geoparque Mundial da UNESCO (UNESCO, 2016e)
51
Figura 21 - Exemplo da planilha de valoração, na categoria Geologia e Paisagem (1.1), do Documento de auto-
avaliação requerido pela UNESCO durante o Processo de Solicitação ao título de Geoparque Mundial da UNESCO
(UNESCO, 2016e)
ainda de feições geológicas ou geomorfológicas, entre outros (Figura 21). Para cada
uma dessas perguntas existem parâmetros quantitativos estabelecidos pela planilha
para a atribuição de pontos. Assim, por exemplo, fica estabelecido a atribuição de 100
pontos caso a área tenha 20 ou mais geossítios ou 200 pontos caso tenha 40 ou mais;
ou ainda, fica estabelecido a atribuição de 10 pontos para cada período geológico
representado na área, e assim por diante, sempre totalizando um máximo de 1000 por
sessão. Ao total, o documento conta com 220 itens de avaliação, sendo a sua
distribuição entre categorias apresentada no Quadro 5. Para o caso da categoria I,
cada item de valoração é fundamental para uma boa pontuação, já que valem até
0,83. Já para a categoria IV, cada item se apresenta como sendo menos fundamental à
boa pontuação na categoria.
Quadro 5 - Distribuição entre categorias dos 220 itens de avaliação do Documento de auto-avaliação requerido pela
UNESCO durante o Processo de Solicitação ao título de Geoparque Mundial da UNESCO (Dados da Pesquisa)
Figura 22 - Mapa de distribuição dos 127 Geoparques Mundiais da UNESCO para o ano de 2017 (GGN, 2017). Para
localização exata desses, visitar o site oficial da Rede Mundial de Geoparques (GGN, Global Geoparks Network)
54
Quadro 6 - Relação dos nomes, anos de designação e país referentes aos 127 Geoparques Mundiais UNESCO para o
ano de 2017
Nome do Geoparque
(conforme designação da UNESCO; Ano de Designação País
UGG = UNESCO Global Geopark)
1 Styrian Eisenwurzen UGG Áustria
2 Huangshan UGG
3 Wudalianchi UGG
4 Lushan UGG
5 Yuntaishan UGG
China
6 Songshan UGG
7 Zhangjiajie UGG
8 Danxiashan UGG
9 Shilin UGG
10 Haute-Provence UGG
França
11 Luberon UGG
2004
12 Terra Vita UGG
13 Bergstrasse-Odenwald UGG Alemanha
14 Vulkaneifel UGG
15 Lesvos Island UGG
Grécia
16 Psiloritis UGG
Irlanda & Reino Unido da Grã-
17 Marble Arch Caves UGG
Bretanha e Irlanda do Norte
18 Copper Coast UGG Irlanda
19 Madonie UGG Itália
Reino Unido da Grã-Bretanha e
20 North Pennines AONB UGG
Irlanda do Norte
21 Hexigten UGG
22 Yandangshan UGG
China
23 Taining UGG
24 Xingwen UGG
25 Bohemian Paradise UGG 2005 República Tcheca
26 Harz, Braunschweiger Land UGG
Alemanha
27 Swabian Alb UGG
28 Beigua UGG Itália
29 Hateg UGG Romênia
55
Quadro 7 - Geoparques Mundiais da UNESCO fora da Europa, da China e do Japão. Detalhe em relação aos
geoparques localizados na África e na Américo Latina (Dados da Pesquisa)
Constrastante com os dados observados é o fato de que, desde 2011, a UNESCO vem
considerando a África como foco particular para a criação de geoparques, ampliando
esse foco também para a América Latina desde 2013 (UNESCO, 2012a, 2014), embora
desde então apenas um geoparque tenha sido criado na África e três na América
Latina. A evolução dos enfoques por parte da UNESCO pode ser observada no Quadro
3.
Apesar desse especial enfoque na África e na América Latina, houve uma importante
falta de êxito nos resultados esperados pela UNESCO no que se referiu à designação de
novos geoparques no sul do mundo. Longe de serem alcançados, entre 2016 e 2017,
somente 8 novos geoparques foram criados e apenas dois deles se encontram na
região enfocada, a saber, ambos no México.
Para o cenário histórico na América Latina, verificam-se apenas apenas quatro casos
exitoso até 2017: Araripe (Brasil) em 2006; Grutas del Palacio (Uruguai) em 2013;
Mixteca Alta, Oaxaca (México), em 2017; e Comarca Minera, Hidalgo (México),
também em 2017. Essa realidade contrasta, por um lado, com o fato de a América
Latina apresentar geodiversidade, biodiversidade e sociodiversidade mundialmente
reconhecidas, aspectos que são fundamentais para a pontuação nas categorias
estabelecidas pela avaliação da UNESCO e, portanto, indicariam maior possibilidade de
sucesso quando da solicitação à UNESCO. Por outro lado, especificamente para o caso
brasileiro, esse cenário também contrasta com o fato de o Serviço Geológico do Brasil
(CPRM) ter sido uma das agências geológicas pioneiras a nível mundial na adesão de
políticas específicas ao estabelecimento de geoparques como verificado pela
existência de seu Programa Geoparques, desde 2006.
(1) por um lado, a dificuldade de sucesso de novos geoparques pode ser remetida
puramente à causas econômico-financeiras embasadas no argumento de que as
iniciativas européias e asiáticas, vistas como modelos para o restante do mundo, são
exemplos incompatíveis com as realidades de países latino-americanos em termos de
orçamento anual disponível para a implementação e gestão de geoparques;
(2) por outro, a apreensão do conceito de geoparques trazido pela UNESCO requer um
posicionamento transdisciplinar por parte comunidade geocientífica na abordagem do
patrimônio geológico, sendo a transdisciplina tanto importante para a pontuação na
avaliação da UNESCO quanto condição para garantir um planejamento integrado de
visitação de geoparques que, de fato, privilegie o patrimônio geológico; e
1.6 Referências
2. Anderson MG, Comer PJ, Beier P, Lawler J, Schloss C, Buttrick S, Albano C, Faith
D. Case studies of conservation plans that incorporate geodiversity.
Conservation Biology 29:680–691. 2015
4. Barettino, D., Wimbledon, W.A.P. & Gallego, E. (Eds). Geological Heritage: Its
Conservation and Management. ITGE, Madrid, 212 p. 2000
5. Becker, E. Lost in the Travel Pages: The Global Industry Hiding Inside the
Sunday Newspaper. President and Fellows of Harvard College. 50 p. 2008
1. Brilha, J., Andrade, C., Azerêdo, A., Barriga, F.J.A.S., Cachão, M., Couto, H.,
Cunha, P.P., Crispim, J.A., Dantas, P., Duarte, L.V., Freitas, M.C., Granja, H.,
Henriques, M.H., Henriques, P., Lopes L., Madeira, J., Matos, J.M .X., Noronha,
F., Pais, J., Piçarra, J., Ramalho, M.M., Relvas, J.M.R.S., Ribeiro, A., Santos, A.,
Santos, V., Terrinha, P. Definition of the Portuguese frameworks with
international relevance as an input for the European geological heritage
characterisation. Episodes 28(3): 177–186. 2005
66
10. Bruschi, V.M. & Cendrero, A. Direct and parametric methods for assessment of
geosites and geomorphosites. In: Reynard, E., Coratza, P. & Regolini-Bissig, G.
(eds). Geomorphosites. Verlag, München, pp 73–88. 2009
14. Carballo, J. & Hilário, A. Flysch Algorri Mendata: denboran zehar bidaiatuz – un
viaje a través del tiempo. Gipuzkoako Parketxe Sarea Fundazioa – Fundación
Gipuzkoako Parketxe Sarea. 271 p. 2010
17. Comer PJ, Pressey RL, Hunter ML, Schloss C, Buttrick S, Heller N, Tirpak J, Faith
DP, Cross M, Shaffer M. Incorporating environmental diversity into
conservation decisions. Conservation Biology 29:692– 701. 2015
18. Conway, J.S. A Soil Trail?—A Case Study from Anglesey, Wales, UK.
Geoheritage, 2:15–24. 2010
19. Coratza, P., Bruschi, V.M., Piacentini, D., Saliba, D. &Soldati, M. Recognition and
Assessment of Geomorphosites in Malta at the Il-Majjistral Nature and History
Park. Geoheritage, 3:175–185. 2011
20. Cottle, R. & Haskoning, R. Linking Geology and Biodiversity. English Nature:
Research Report 562. 91p. 2004
24. Delphim, C.F.M. Patrimônio Cultural e Geoparque. Geol. USP, Publ. espec., São
Paulo, v. 5, p. 75-83. 2009
26. Díaz-Martínez, E., Guillén Mondéjar, F., Mata Perelló, J.M., Muñoz Barco, P.,
Nieto Albert, L.M., Pérez Lorente, F. & Santisteban Bové, C. Nueva legislación
española de protección de la Naturaleza y desarrollo rural: implicaciones para
la conservación y gestión del patrimonio geológico y la geodiversidad. Geo-
Temas 10, pp. 1311-1314, (ISSN: 1567-5172). 2008
27. Dingwall, P., Weighell, T. & Badman, T. Geological World Heritage: a global
framework. A contribution to the global theme study of World Heritage Natural
Sites. Protected Area Programme, IUCN, 51 p. 2005
29. Doyle, P. & Bennett, M.R. (1998) Earth heritage conservation: past, present and
future agendas. In Bennett, M.R. & Doyle, P. (eds) Issues in Environmental
Geology: A British Perspective. Geological Society, London, 41–67.
30. Dudley, N. (ed.) (2008) Guidelines for Applying Protected Area Management
Categories, IUCN, Gland.
31. Earth Heritage, Earth Heritage: the geological and landscape conservation
magazine. Issue 42, 35 p. 2014
32. Earth Heritage, Earth Heritage: the geological and landscape conservation
magazine. Issue 42, 35 p. 2014
33. Eder, F.W. & Patzc, M. Geoparks-geological attractions: A tool for public
education, recreation and sustainable economic development. Episodes,
Vol.27, no.3. pp.162-164. 2004
34. Ellis, N. The Geological Conservation Review (GCR) in Great Britain - Rationale
and methods. Proceedings of the Geologist' Association 122. pp. 353-362. 2011
68
35. EN, English Nature. Geology and Biodiversity - making the links. ISBN 1 85716
803 8. 2004
36. Errami, E., Brocx, M. & Semeniuk, V. (eds.). From Geoheritage to Geoparks,
Geoheritage, Geoparks and Geotourism, DOI 10.1007/978-3-319-10708-0_1.
Springer International Publishing Switzerland. 2015
41. García-Cortés, A., Carcavilla, L., Díaz- Martínez, E. & Vegas, J. Documento
Metodológico para la Elaboración del Inventario Español de Lugares de Interés
Geológico (IELIG). InstitutoGeológico y Minero de España, 64 p. 2014
45. GGN, Global Geoparks Network. The Global Geoparks Network Statutes. 2016
69
46. Godoy, M.M., Binotto, R.B. & Wildner, W. Geoparques Caminho dos Cânions do
Sul - proposta. In: Schobbenhaus, C. & Silva, C.R. (orgs.). Geoparques do Brasil:
propostas. Rio de Janeiro: CPRM, v. 1, 748, pp. 456-491. 2012
47. Gordon, J.E. & Barron, H.F. Scotland’s geodiversity: development of the basis for
a national framework. Scottish Natural Heritage Commissioned Report No. 417.
2011
48. Gorritiberea, A.J. & Hilário, A. Flysch, Haitzen Hitza – The Whisper of the Rocks –
El Susurro de las Rocas. Alberto J. Gorritiberea / TVE / ETB. 73 min. 2009
2. Gradstein, F.M., Ogg, J.G., Scmitz, M.D. & Ogg, G.M. The Geologic Time Scale
2012 (v.1 e 2). Amsterdam, Elsevier. 2012
49. Gray, M. Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature. 2ed. England: Ed.
John Wiley & Sons Ltd, 495 p. 2013
50. Gray, M. Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature. England: Ed. John
Wiley & Sons Ltd, 448 p. 2004
51. Gray, M., Geodiversity: A New Paradigm for Valuing and Conserving
Geoheritage. Geoscience Canada, 35, 51-58. 2008
52. Gray, M., Gordon, J. E. and Brown, E. J. (2013) ‘Geodiversity and the ecosystem
approach—the contribution of geoscience in delivering integrated
environmental management’, Proceedings of the Geologists’ Association 124:
659–73.
53. Gray, M., Gordon, J.E. & Brown, E.J. Geodiversity and the ecosystem approach:
the contribution of geoscience in delivering integrated environmental
management. Proceedings of the Geologists Association, 124(4):659–673. 2013
54. Henriques, M.H., Pena dos Reis, R., Brilha, J.B.R. & Mota, T. Geoconservation as
na Emerging Geoscience. Geoheritage, 3:117–128. 2011
55. Hilário, A. El Biotopo Del Flysch – un viaje por la vida y el tiempo: guía de campo
y recorridos para comprender los secretos de un biotopo muy geológico. GPA.
Berrikuntza, Landa Garapenaeta Turismoko Departamendua. 244 p. 2012
56. Hjort, J., Gordon, J.E., Gray, M., Hunter, M.L. 2015 Why geodiversity matters in
valuing nature’s stage. Conservation Biology, Volume 29, No. 3, 630–639.
57. Hose, T.A. Towards a history of geotourism: definitions, antecedents and the
future. In: Burek, C.V. & Prosser, C.D. (eds) 2008. The History of
Geoconservation. Geological Society, London, Special Publications, 300, 37–60.
2008
70
58. Humphries, R.N. & Donnelly, L. 2004. Geological conservation benefits for
biodiversity. English Nature Research Reports. Number 561. 47p.
59. Ibañez-Palacios, G.P., Ahumada, A.L. & Páez, S.V. 2010. Geoformas criogénicas,
patrimonio geológico en el Parque Nacional Campo de los Alisos, Tucumán,
Argentina. Acta geológica lilloana 22 (1-2): 18–33
63. IPCC, Internacional Pannel on Climate Change. Climate Change 2001: Synthesis
Report - Summary for Policymakers. p.34. 2001
64. IPCC, Internacional Pannel on Climate Change. Climate Change 2007: Synthesis
Report. Contribution of Working Groups I, II and III to the Fourth Assessment
Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change [Core Writing Team,
Pachauri, R.K and Reisinger, A. (eds.)]. IPCC, Geneva, Switzerland, 104 pp. 2007
65. IPCC, Internacional Pannel on Climate Change. Climate Change 2014: Synthesis
Report. Contribution of Working Groups I, II and III to the Fifth Assessment
Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change [Core Writing Team,
R.K. Pachauri and L.A. Meyer (eds.)]. IPCC, Geneva, Switzerland, 151 pp. 2014
66. IPCC, Internacional Pannel on Climate Change. Climate Change: The 1990 and
1992 IPCC Assessments. ISBN: 0-662-19821-2. Canada, pp.180. 1992
68. IUCN, International Union for Conservation of Nature (IUCN). Resolutions and
Recommendations adopted at the 4th IUCN World Conservation Congress.
Resolution 4 040: Conservation of geodiversity and geological heritage, IUCN,
Gland. 2008
70. Komoo, I. Asia Pacific Geoparks Network: Current Status and Future Direction.
In: Abstract Book of the 3rd Asia-Pacific Geoparks Network Jeju Symposium.
pp.11. 2013
71. Leman, M.S., Reedman, A. & Pei, C.S. (eds). Geoheritage of East and Southeast
Asia. Kuala Lumpur. 320p. 2008
72. Lima, F.F., Brilha, J.B.R. & Salamuni, E. Inventorying geological heritage in large
territories: a methodological proposal applied to Brazil. Geoheritage, 2: 91-99.
2010
73. Magagna, A., Ferrero, E., Giardino, M., Lozar, F. & Perotti, L. A Selection of
Geological Tours for Promoting the Italian Geological Heritage in the Secondary
Schools. Geoheritage DOI 10.1007/s12371-013-0087-3. 2013
74. Mansur, K.L. Projetos Educacionais para a Popularização das Geociências e para
a Geoconservação. Geol. USP, Publ. espec., São Paulo, v. 5, p. 63-74. 2009
75. Mansur, K.L., Rocha, A.J.D., Pedreira, A. (In Memoriam), Schobbenhaus, C.,
Salamuni, E., Erthal, F.C., Piekarz, G., Winge, M., Nascimento, M.A.L. & Ribeiro,
R.B. Iniciativas institucionais de valorização do patrimônio geológico do Brasil.
Boletim Paranaense de Geociências 70, 02-27. 2013
76. Martínez-Graña, A.M, Goy, J.L. & Cimarra, C.A. A virtual tour of geological
heritage: Valourising geodiversity using Google Earth and QR code. Computers
& Geosciences 61, 83–93. 2013
77. Martini, G. Geoparks… A Vision for the Future. Geol. USP, Publ. espec., São
Paulo, v. 5, p. 85-90. 2009
78. Maufti, M.R. & Németh, K. Geoheritage of Volcanic Harrats in Saudi Arabia.
Springer International Publishing Switzerland. 205p. 2016
79. Mc Keever, P.J. & Zouros, N. Geoparks: Celebrating Earth heritage, sustaining
local communities. Episodes, Vol.28, no.4. 2005
80. Meadows, D., Meadows, D. & Randers, J. Beyond the Limits: Confronting Global
Collapse, Envisioning a Sustainable Futur. Chelsea Green Publishing.
81. Meadows, D., Meadows, D. & Randers, J. Limits to growth: the 30-year update.
White River, Vt.: Chelsea Green Publishers, 362 p. 2004
82. Meadows, D., Meadows, D., Randers, J. & Behrens, W. The Limits to growth.
New York: Universe Books, 205 p. 1972
72
83. Menegat & Fontana, in press. Gigantic cities and the new challenge of an old
science: geoethics, geoeducation and geoknowledge in Porto Alegre, Brazil. In:
Geoethics: concepts and practices around the world. Springer Briefs in Earth
System Sciences. Aceito em 14 de janeiro de 2016
85. Menegat, R., Porto, M.L., Carraro, C.C. & Fernandes, L.A.D. (coord.). Atlas
Ambiental de Porto Alegre. Porto Alegre: Edufrgs, 228 p. 2006
88. Moreira, J.C. Interpretative Panels About the Geological Heritage—a Case Study
at the Iguassu Falls National Park (Brazil). Geoheritage, 4:127–137. 2012
92. Palladino, G., Prosser, G. & Bentivenga, M. The Geological Itinerary of Sasso di
Castalda: A Journey into the Geological History of the Southern Apennine
Thrust-belt (Basilicata, Southern Italy). Geoheritage, 5:47–58. 2013
94. Prikryl, R. & Smith, B.J. (eds). Building Stone Decay: From Diagnosis to
Conservation. Geological Society, London, Special Publications, 271. 2007
95. Prosser, C. The Piltdown Skull Site: the rise and fall of Britain's firsy geological
National Nature Reserve and its place in the history of nature conservation.
Proceedings of the Geologists’ Association 120, 79-88. 2009
73
97. Randrianaly, H.N., Raharimahefa, T., Rajaonarivo, A., Di Cencio, A. & Tolimasy,
D.H. 2015. Instauration of Geopark Pilot: Preliminary Approach in
Implementation Process of Geoconservation at Isalo National Park,
Madagascar. Journal of Geoscience and Environment Protection, 3, 25-40
98. Reis, H.J., Póvoas, L., Barriga, F.J.A.S., Lopes, C., Santos, V.F., Ribeiro, B.,
Cascalho, J. & Pinto, A. Science Education in a Museum: Enhancing Earth
Sciences Literacy as a Way to Enhance Public Awareness of Geological.
Geoheritage, DOI 10.1007/s12371-014-0105-0. 2014
101. Reynard, E., Perret, A., Bussard, J., Grangier, L. & Martin, S. Integrated
Approach for the Inventory and Management of Geomorphological Heritage at
the Regional Scale. Geoheritage (2016) 8:43–60
103. Schobbenhauss, C., Campos, D.A., Queiroz, E.T., Winge, M. & Berbert-
Born, M. (eds). Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil. Brasília: CPRM,
554p. 2002
111. Stace, H., & Larwood, J. G. Natural foundations: geodiversity for people,
places and nature. Peterborough: English Nature. 132p. 2006
113. Stewart, I. & Nield, T. Earth stories: context and narrative in the
communication of popular geosciences. Proceedings of the Geologists’
Association 124, 699–712. 2013
115. UN, United Nations 1992. Agenda 21. United Nations Conference on
Environment & Development. Rio de Janerio, Brazil.
116. UN, United Nations 1998. Kyoto Protocol to the United Nations
Framework Convention on Climate Change. 21p.
117. UN, United Nations 2000. United Nations Millennium Declaration. 9p.
141. Vegas, J., Gutiérrez, I., Díez, A. “Apadrina una roca”, una iniciativa de
voluntariado popular para la conservación del patrimonio geológico. Congreso
Nacional del Medio Ambiente – CONAMA, 16 p. 2012
143. Webber, M., Christie, M. & Glasser, N. The social and economic value of
the UK’s geodiversity. Research Report 709, English Nature, Peterborough, UK.
2006
77
145. Wimbledon, W.A.P., Benton, M.J., Bevins, R.E., Black, G.P., Bridgland,
D.R., Cleal, C.J., Cooper, R.G. & May, V.J. The development of a methodology for
the selection of British geological sites for conservation: Part 1, ProGEO.
Modern geology 20:159–202. 1995
147. Winge, M., Schobbenhauss, C., Souza, C.R.G., Fernandes, A.C.S., Berbert-
Born, M., Queiroz, E.T. & Campos, D.A. (eds). Sítios geológicos e
paleontológicos do Brasil: volume II. Brasília: CPRM, 516 p. 2009
148. Winge, M., Schobbenhauss, C., Souza, C.R.G., Fernandes, A.C.S., Berbert-
Born, M., Sallun Filho, W. & Queiroz, E.T. (eds). Sítios geológicos e
paleontológicos do Brasil: volume III. Brasília: CPRM, 332 p. 2013
149. Woo, K.S., Sohn, Y.K., Ahn, U.S. & Yoon, S.H. 2013. Jeju Island Geopark—
A Volcanic Wonder of Korea. Springer Verlag Berlin Heidelberg. 94p.
151. Xun & Milly, 2002; National geoparks initiated in China: Putting
geoscience in the service of society. Episodes, Vol. 25, no. 1. pp.33-37. 2003
152. Xun, Z., & Ting, Z. The socio-economic benefits of establishing National
Geoparks in China. Episodes, Vol. 26, no. 4. 2003
3. Zalasiewich, J., Crutzen, P.J. & Steffen, W. The Anthropocene. In: Gradstein, et
al. The Geologic Time Scale 2012 (v.1 e 2). Amsterdam, Elsevier, p.1033-1040.
2012