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Uma Vista Panorâmica dos

SALMOS
Uma Vista Panorâmica dos Salmos (por Brent Lewis)
Os Salmos Penitenciais (por Ralph Walker)
Os Salmos Imprecativos (por David Holder)
Os Salmos dos Degraus ou das Subidas (por David Posey)
Os Salmos de Aleluia (por Melvin D. Curry)
Os Salmos de História (por C. G. "Colly" Caldwell)
Os Salmos Acrósticos (por Thaxter Dickey)
Os Salmos Messiânicos 1 (por L. A. Stauffer)
Os Salmos Messiânicos 2 (por L. A. Stauffer)
Os Salmos "Oni" (por Don Truex)
Os Salmos da Criação (por Dan Petty)
Os Salmos da Família (por Gary Ogden)
Os Salmos sobre a Palavra de Deus 1 (por Earl Kimbrough)
Os Salmos sobre a Palavra de Deus 2 (por Earl Kimbrough)
Os Salmos da Busca de Deus (por Rod Amonett)
Os Salmos de Libertação (por Warren Berkley)
O Salmo "Ah Se . . ." (por Bill Moseley)
O Salmo "Até Quando?" (por Harold Tabor)
O Salmo de "Por Quê?" (por John M. Kilgore)
O Salmo da "Loucura das Riquezas" (por Harry E. Payne, Sr.)
Os Salmos e os Perversos (por Mark White)
O Salmo do Grande Pastor (por Ron Edwards)
Os Salmos de Supremo Louvor (por Mike Schmidt)
O Salmo do Homem Fiel (por Jim Ward)
O Salmo de Deus Pai e de Deus Filho (por Robert F. Turner)
O Salmo da Unidade (por Barry Hudson)

Uma Vista Panorâmica dos Salmos


por Brent Lewis

De todos os livros do Velho Testamento, nenhum tem mais significado


para os cristãos do que os Salmos. Uma mistura de louvor,
agradecimento e lamentação, eles exprimem os mais profundos
sentimentos do coração humano.

Os cristãos primitivos cantavam estes salmos em seus cultos de


adoração. Esta literatura tem sido considerada como tão necessária,
que muitas das nossas edições impressas do Novo Testamento
também contêm os Salmos. Pessoas que nada sabem de Oséias,
Ezequiel ou Levítico têm alguma familiaridade com os Salmos.

O título hebreu para Salmos (sepher tehillim) significa "livro de


louvores". Este é um título apropriado, uma vez que quase 20 dos
salmos da coleção são puros salmos de louvor, e partes dos muitos
outros são dedicadas à adoração de Deus. As versões gregas levam
os títulos Psalmoi e Psalterios, de onde tiramos nossos títulos Salmos
e Saltério. A nação judaica usava os Salmos tanto como um livro de
orações como um livro de cânticos.

Os Salmos são de caráter tanto histórico como devocional. Muitos


acontecimentos da História são apresentados; a criação do homem
(8:5), a aliança estabelecida com Abraão e seus descendentes (105:9-
11), o sacerdócio de Melquisedeque (110:4), Isaque, Jacó, José,
Moisés e Arão (105:9-45), a libertação do Egito e a herança cananéia
(78:13; 105:44). Muitos outros exemplos poderiam ser citados. Sem
dúvida, contudo, o valor permanente dos Salmos, através dos séculos,
tem sido suas idéias religiosas e devotas.

Os Salmos são um templo e o Senhor Jeová reina supremo. Tudo


neles é louvor a Deus. O Senhor quer que vivamos com ele, e os
Salmos salientam nossa devoção a ele. "O Senhor, tenho-o sempre à
minha presença; estando ele à minha direita, não serei
abalado" (Salmo 16:8). O homem devoto meditará em sua vontade,
pois "seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de
noite" (Salmo 1:2). Deus quer nosso louvor. Ele se manifesta do céu e
dá grandes bênçãos. Tudo o que temos que fazer é recebê-las com
braços abertos e corações agradecidos.

Vamos dar maior atenção aos Salmos. Neles, nos esperam ricos
tesouros do grande depósito de Deus. Leia os artigos que se seguem
e veja se você não está estimulado a uma maior apreciação desta
parte da revelação inspirada de Deus, e as várias mensagens nela
contidas.

Creio firmemente que, quando lermos os Salmos, cada um de nós fará


a descoberta que Davi fez (e que, por sua vez, instou outros) quando
escreveu: "Provai e vede que o SENHOR é bom" (Salmo 34:8).

Os Salmos Penitenciais
(Salmos 6, 37, 38, 51, 143)
por Ralph Walker
Lendo (para esta tarefa) os escritos no diário de Davi, que descrevem suas
lutas com o pecado, descobri duas coisas. Primeiro, senti uma atitude diante do
pecado que não me é familiar. Segundo, vi um padrão de pensamento emergir
dos vários textos (Salmos 6, 37, 38, 51, 143).

A atitude de Davi diante do pecado

Ironicamente, é como pecador que vejo claramente Davi como um "homem


segundo o próprio coração de Deus." Se o coração de Deus é a pura
santidade, então essa mesma santidade dirige Davi. Quando, em sua
iniqüidade, a repugnância de Davi ao que ele se tornou salta aos olhos. Nem
desculpas, nem justificativas, nem incriminações; só um absoluto
esmagamento pela tristeza e a culpa. Davi sabe que sua rebelião afastou-o de
Deus. Ele admite que está perecendo e não pode fazer nada pessoalmente
para reverter seu perigo. Não fale a Davi sobre uma "pequena impiedade";
este conceito lhe é estranho, como o é a seu Deus! Se um verdadeiro
entendimento de santidade e pecado define o coração divino, vejo Davi
repousando nos aposentos interiores do coração de Deus.

O padrão da penitência

Ainda que todos os passos que eu discuto aqui não sejam encontrados em
cada salmo examinado, vejo repetição suficiente para chamar a isto um
padrão.

Confissão. Confissão significa "falar a mesma coisa". Ao confessar o pecado,


dizemos sobre ele a mesma coisa que Deus diz dele. Daví é enfático em suas
confissões: seu pecado é sua morte. Ele se refere a debilitar-se fisicamente, a
ausência de paz de espírito, a proliferação dos inimigos externos, o isolamento
total da presença de Deus. Ele não tem ilusão de que Deus possa talvez ter
deixado de ver sua desobediência, ou que ele possa utilizar um padrão de
julgamento sem rigor e aprovê-lo mesmo assim. Ele decepcionou ao Senhor e
está arrasado por isso.

Quando releio a descrição de seu pecado, por Davi, dou-me conta que
realmente não conheço esta profundidade de sentimento. Não me recordo de
ser tão esmagado em espírito como foi Davi, quando ele pecou. Não posso
desculpar isso baseado em que não fiz nada para merecer um esmagamento
semelhante. Pecado é pecado, e meus pecados são tão mortais para minha
alma como os dele foram para ele. Ah, se eu pudesse ver o pecado como Davi
e Deus o vêem! Se Deus me ajudar, verei.

Não somente Davi confessa sua pecaminosidade, mas confessa também dois
fatos sobre Deus. Primeiro, ele admite que Deus é justo. Ainda que Davi
esteja sofrendo tremendamente nas mãos deste Deus, ele reconhece que isso
é merecido. Deus, como Juiz e Carcereiro, é justo, e Davi não é alguém
encarcerado indevidamente, como ele o vê. Quando o salmista roga pela
libertação da punição e da dor, é na base da justiça de Deus; ele pagou o
preço, aprendeu suas lições e pede absolvição. Ele até se vale da justiça de
Deus como o apoio de que precisa para recuperar seu favor.
Segundo, Davi confessa a amorosa bondade de Deus. Parece estranho que
um homem, sendo assim esmagado por Deus, esteja elogiando seu amor.
Ainda que pais freqüentemente falem de amor e punição na mesma frase
("Porque eu te amo, estou te batendo"), nenhuma criança sob o castigo
associaria estas palavras uma a outra como Davi o faz. Davi sabe que Deus o
ama. Este é o único raio de esperança em toda sua escuridão. Como o Salmo
130:3 o mostra, se Deus não amar, quem permanecerá?

Petição. Depois de confessar seu pecado, a justiça de Deus e o amor de


Deus, Davi faz os seguintes pedidos:

"Limpa-me do pecado." Obviamente, se o pecado é o que o separa de Deus,


ele quer que ele seja removido. Este desejo vem somente depois que ele
confessa claramente e tristemente o que fez de errado. O perdão não é
conseguido onde não tenha sido buscado.

"Purifica-me para o serviço." Davi quer ser servo de Deus novamente. Em


51:13 ele espera pelo tempo quando puder ajudar outros a se converterem ao
seu Deus. Se Deus precisar de motivação para libertar Davi do seu castigo,
aqui está ela. O penitente deseja voltar ao serviço do seu Mestre.

Davi também deseja a pureza que o capacitará a adorar efetivamente (51:14-


15). Estou admirado com santos que honrarão Jeová publicamente durante
anos e então são expostos em algum pecado que o acompanha há muito
tempo. Davi respeita e conhece Deus bem demais para tentar um tal jogo.
Deus não pode ser enganado!

Estes salmos penitenciais mostram-me mais sobre meu pecado do que às


vezes quero saber. Mais do que isso, revelam um Deus digno de que
abandonemos tudo que este velho mundo tem para oferecer, só para
aquecermo-nos em seu amor.

Selah.

Os Salmos Imprecativos
(Vários, Veja Abaixo)
por David Holder

Culto domingo de manhã. O irmão Carlos dirigirá nossa primeira oração


(depois de dois hinos, naturalmente!). Cantamos sobre o amor de Deus e
sobre nosso amor ao próximo. O irmão Carlos ora: "Ó Senhor, há pessoas
ímpias no mundo, e a sua impiedade às vezes insulta, fere, e ameaça os
justos. Ó Deus, quebre-lhes os dentes na boca; arranque-lhes as presas de
leão, ó Senhor. Destrua-os em ira, destrua-os para que não existam mais.
Que seus olhos fiquem escurecidos, para que não possam ver, e faça com que
seus lombos tremam continuamente. Que sejam apagados do livro dos vivos e
que não possam ser registrados com os justos. Que brasas vivas caiam sobre
eles; que sejam atirados no fogo, em covas profundas das quais não possam
sair."

Depois que a congregação se recupera, esta é, provavelmente, uma boa hora


para uma lição sobre os "salmos imprecatórios". Os adoradores poderiam ficar
chocados ao saberem que o irmão Carlos expressou sentimentos tirados
diretamente de diversos Salmos (58:6; 59:13; 69:23,28; 109:9,13; 140:10). O
assunto da conversa após o culto daquele dia seria, obviamente, a linguagem
chocante da oração do irmão Carlos, e se ele estava certo em orar deste modo
sobre os ímpios.

Estas imprecações ou maldições empregam linguagem veemente e violenta


contra os inimigos e os malfeitores. Tais expressões são freqüentes em vários
Salmos (35, 58, 59, 69, 83, 109, 137, 140) e em comentários breves (5:10,
10:15, 17:13; 54:5, 55:9, 139:19, etc.). Somos ajudados no entender esta
linguagem rude conhecendo as categorias dos justos e dos ímpios que
dominam os Salmos, categorias distintas desde mesmo o primeiro
Salmo: "Bem-aventurado o homem . . . [cujo] prazer está na lei do Senhor . . .
Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas . . . Os ímpios não são
assim; são, porém, como a palha que o vento dispersa."

Os ímpios, os malfeitores e os inimigos são proeminentes através dos Salmos


(veja 10:1-10 e 36:1-4 para descrições mais longas). Eles são maus,
enganadores, orgulhosos, violentos, cruéis, etc. Eles oprimem, ameaçam,
agridem, perseguem, como também agem maliciosamente contra indivíduos, a
nação e Deus. Os salmistas estavam, obviamente, no mundo real, vendo com
seus próprios olhos e algumas vezes experimentando em suas próprias vidas
as injustiças, crueldades e violência que essas pessoas fazem a outros seres
humanos. Os salmistas estavam enfurecidos e suas almas inflamadas até o
ponto de uma justa reação contra o mal.

A congregação é também ajudada reconhecendo que os salmistas geralmente


são cuidadosos em tomar o ponto de vista de Deus, nestes assuntos: "Não
aborreço eu, Senhor, os que te aborrecem? E não abomino os que contra ti se
levantam? Aborreço-os com ódio consumado; para mim são inimigos de
fato" (139:21-22). Não é só uma afronta pessoal que enfurece os salmistas,
mas seu entendimento de que tal impiedade é uma afronta a Deus e a eles, em
sua busca de Deus.

E mais ainda, os cristãos deveriam perceber que, como na linguagem da


oração do irmão Carlos, a linguagem da maioria dos Salmos imprecativos é
dirigida a Deus. Os salmistas apelam para Deus para ativar as maldições
adequadas em conseqüência das palavras e dos atos ímpios. Sem dúvida, os
salmistas suportaram pessoalmente o impacto do mal em muitas situações,
mas eram cuidadosos em deixar a vingança nas mãos de Deus (Salmo 94:1-
7). Eles não se envergonhavam de expressar seus sentimentos de medo,
mágoa e cólera, mas por outro lado não tomaram as situações em suas
próprias mãos.
Os cristãos precisam ser persistentes na oração pelos nossos inimigos,
recusando tomar vingança pessoal, e pagando o mal com o bem (Mateus 5:38-
48; Romanos 12:14, 17, 19-21). Mas o irmão Carlos estava certo em orar
como o fez, se a oração não surgisse da ira pessoal (1 Coríntios 16:22, 1
Timóteo 1:20). Deveremos ficar ofendidos e indignados com o mal do mundo e
os malfeitores. Não ousamos minimizá-los levianamente ou pensar que não
importa. Há algumas pessoas e algumas ações que são tão
espalhafatosamente más, tão flagrantemente contra Deus e o contra o bem
que temos que reagir com justiça.

Oramos para que os ímpios possam conhecer Jesus e seu amor; oramos para
que eles procurem seu perdão e justiça. Ao mesmo tempo, oramos por justiça,
honra e verdade. Oramos para que o mal seja diminuído e vencido (Apocalipse
6:12-17; 14:9-12; 16:4-7; 18:1-19:7), para que cada joelho se dobre diante de
Jesus e cada língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus
Pai (Filipenses 3:9-11).

Os Salmos dos Degraus ou das Subidas


(Salmos 120-134)
por David Posey

Os Salmos 120-134 formam um pequeno livreto, um saltério dentro do Saltério,


que poderia ser intitulado: "Não há nenhum lugar como o lar." Mas o lar é
onde o coração está, e o coração dos verdadeiros adoradores está sempre no
lar do Pai celestial.

Cada um destes Salmos tem semelhantemente o título de "Cântico de


romagem" ou "Cântico das Subidas," mas o significado de "subidas" não é
óbvio. Pode ser uma progressão gradual, ou "subida," em cada um destes
Salmos; ou, baseado numa nota do Talmude, que os quinze "cânticos das
subidas" correspondem aos quinze degraus do Templo, a idéia pode ser de
que cada um dos Salmos represente um degrau elevando ao Tribunal dos
Homens; ou ainda, poderiam ser cânticos sobre "subir" do cativeiro da
Babilônia para Jerusalém (veja Esdras 7:9). Provavelmente, estes cânticos
foram cantados por "peregrinos" subindo para Jerusalém, para uma das festas.

Vem à lembrança o Salmo 84, quando os Filhos de Coré cantam: "Quão


amáveis são os teus tabernáculos, Senhor dos Exércitos!" O salmista ali está
longe da casa de Deus, com muitas saudades dos "átrios do Senhor." Sua
atitude é: "Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração se
encontram os caminhos aplanados" (84:5).

Estes quinze Salmos amplificam o tema dos peregrinos saudosos dos pátios de
Deus. Há um desejo intenso por parte dos "sem lar" de estarem "na Casa do
Senhor" (134:1), porque é onde mora o Senhor (132:14). Portanto, o salmista
está alegre "quando me disseram: Vamos à Casa do Senhor" (122:1). Mas,
antes que pudessem permanecer na casa de Deus, eles tinham que fazer uma
viagem, uma viagem cheia de perigos e armadilhas. Esta viagem ficava
deprimente, às vezes: "A nossa alma está saturada do escárnio dos que estão
à sua vontade e do desprezo dos soberbos" (123:4). Mas continuavam
caminhando, sabendo que: "O nosso socorro está em o nome do Senhor,
criador do céu e da terra" (124:8).

Cerca do ano 125 d.C., Aristides escreveu numa carta a um amigo, "Se
qualquer homem justo entre os cristãos passa deste mundo, eles se regozijam
e oferecem graças a Deus, e acompanham o seu corpo com cânticos de
agradecimento, como se ele estivesse partindo de um lugar para outro
próximo." Mas precisamos fazer peregrinação antes de ficarmos
permanentemente na casa do Senhor. Nós, também, precisamos acampar "em
Meseque" e habitar "nas tendas de Quedar"! (120:5). Ficamos desiludidos com
este mundo e repetimos as palavras daqueles que estão cansados dos lábios
mentirosos e da língua enganadora (120:2), fartos de morar tanto tempo com
aqueles que odeiam a paz (120:6), enjoados das atitudes arrogantes daqueles
que são demasiadamente orgulhosos para confiar em Deus (123:4); exaustos
de "sendas tortuosas" (125:5).

Nós, também estamos acostumados a perguntar: "De onde me virá o


socorro?" A resposta: "Do Senhor, que fez o céu e a terra" (121:1-2).
Tentações e provações são a sina dos moradores da terra. Mas para aqueles
cujos corações estão postos na peregrinação, estas mudanças induzem-nos a
concentrar nossa atenção diretamente no Senhor que fez o céu e a terra.
Assim, aguardamos o Senhor e temos esperança no Senhor e em sua palavra
(130:5, 6), e gozamos a vida simples de um peregrino (131:13). Um espírito
quieto e calmo prevalece, porque, apesar do tumulto à nossa volta, Deus ainda
está no céu. Então: "Entremos na sua morada, adoremos ante estrado de
seus pés" (132:7).

Pagamos o preço por nos tornarmos estrangeiros na terra, mas


podemos gozar o preço porque sabemos que grandes cousas o Senhor tem
feito; "por isso, estamos alegres" (126:3). Semeamos em lágrimas aqui,
mas colheremos em alegria. "Quem sai andando e chorando, enquanto
semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes" (126:6). Nosso propósito,
aqui, é semear, às vezes em lágrimas. A colheita virá mais tarde. Mas o saber
que colheremos alegra-nos agora. Por isso mesmo agora podemos saborear
um pouco do que estaremos fazendo em toda a eternidade: estar "na Casa do
Senhor", erguer nossas "mãos para o santuário", e bendizer ao Senhor (134:1-
2).

Os Salmos de Aleluia
(Salmos 113-118)
por Melvin D. Curry

As duas categorias principais dos Salmos são os de louvor e os de lamento, e


os de aleluia representam a forma mais pura do primeiro grupo. Aleluia é uma
transliteração de uma frase em hebraico que significa "louve o Senhor (Iá)".
Nos Salmos 146-150, cada Salmo começa e termina com esta frase, marcando
claramente o grupo como Salmos de aleluia. O Salmo 115 se ajusta a este
padrão; contudo, as linhas de demarcação nos Salmos 114 e 118 não incluem
a expressão "louve o Senhor", e os Salmos 115-117 colocam-na no fim. Na
tradução grega (LXX) do Velho Testamento, a frase final "louve o Senhor"
(113:9; 115:18; 116:19; 117:2) está mudada para o princípio de cada salmo que
se segue, fazendo com que todos, exceto o Salmo 115 comecem com
"aleluia". Por isso, o grupo é chamado "salmos de Aleluia".

Podemos ler os salmos de louvor, especialmente os salmos de aleluia, com


mais compreensão, se conhecermos as coisas que devemos observar.
Primeiro, um padrão básico em três partes geralmente emerge: um chamado a
louvar, razões porque Deus deverá ser louvado, e mais outros chamados a
louvar. Por exemplo, note como o Salmo 117, o menor salmo (capítulo) na
Bíblia, se ajusta a este padrão. Contudo, se o padrão, em parte ou no total,
não é óbvio, não há razão para classificar um salmo como um salmo de louvor.
É melhor, portanto, chamar o Salmo 114 de salmo histórico e classificar o
Salmo 118 como um salmo de agradecimento.

Segundo, quando se lê salmos de louvor, notam-se duas razões para louvar a


Deus: por quem ele é (descrição), e pelo que ele faz ou tem feito (declaração).
Na primeira categoria, ele está "acima de todas as nações, e a sua glória,
acima dos céus" (113:4). Na segunda categoria: "Ele ergue do pó o desvalido
e do monturo, o necessitado; para o assentar ao lado dos príncipes . . . do seu
povo" (113:7-8). Ele "faz que a mulher estéril viva em família e seja alegre mãe
de filhos" (113:9); ele "converteu a rocha em lençol de água" (114:8); ele "fez
os céus e a terra" e deu a terra "aos filhos dos homens" (115:15-16); "em meio
à tribulação, invoquei o Senhor, e o Senhor me ouviu e me deu
folga" (118:5); "O Senhor é a minha força e o meu cântico, porque ele me
salvou" (118:14). Observe como a descrição de Deus e a declaração do que
ele tem feito dá o ponto central do Salmo 113: "Quem há semelhante ao
Senhor, nosso Deus, cujo trono está nas alturas, que se inclina para ver o que
se passa no céu e sobre a terra?" (113:5-6).

Terceiro, a linguagem figurada abunda nos salmos de louvor. O exemplo mais


óbvio disso no grupo que estamos estudando é a personificação, uma figura na
qual as coisas inanimadas são dadas características de seres vivos. "O mar
viu isso e fugiu; o Jordão tornou atrás. Os montes saltaram como carneiros, e
as colinas, como cordeiros do rebanho" (Salmo 114:3-4).

Os Salmos 113-118 são salmos "órfãos;" eles não têm autor indicado. Muitos
salmos têm cabeçalhos que dão informações sobre autoria, ambiente histórico,
melodia, função, etc., mas estes não. Portanto, quando não há cabeçalho,
deve-se depender do contexto do salmo para revelar tais assuntos. Para citar
um exemplo, o ambiente histórico do Salmo 114 é o êxodo: "quando saiu Israel
do Egito, e a casa de Jacó, do meio de um povo de língua estranha, Judá se
tornou o seu santuário, e Israel, o seu domínio" (114:1-2).

A tradição judaica sugere que os Salmos 113-118 eram cantados na Páscoa.


Os Salmos 113 e 114 eram cantados antes da refeição da Páscoa; os Salmos
115-118, depois. O Salmo 136, o Grande Hallel, era cantado no ponto mais
alto da festa. Esta prática pode ser refletida na ação de Jesus e de seus
discípulos: "E, tendo cantado um hino, saíram para o monte das
Oliveiras" (Mateus 26:30). Certamente, nossa prática de cantar um hino antes
da Ceia do Senhor é recomendável. Acrescentar um hino depois seria ainda
melhor. Talvez seis cânticos de Aleluia não fossem demais.

Os Salmos de História
por C.G. "Colly" Caldwell

A História envolve experiência. O que eu fiz, aonde fui, o que os outros fizeram
comigo, para mim e contra mim, tudo está alojado em minha mente. É parte da
minha vida. A História envolve educação. O que cheguei a saber sobre o
passado de meus antecessores, nas escolas que freqüentei e na escola da
observação é também significativo para meu entendimento e para o que faço
agora. A História é avaliação. O que cheguei a discernir a meu respeito e de
outros, entre todos aqueles eventos que confiei à memória, é parte de como eu
raciocino. É, portanto, importante com respeito a quem eu sou.

A memória é uma maravilhosa bênção de Deus. A mente humana contém o


potencial para armazenar e relembrar vastas bibliotecas de informações
recolhidas da experiência, educação e avaliação. Quando a capacidade de
recordar é retirada de um homem, suas ações são dificultadas e seu raciocínio
é prejudicado. É por isto que tememos as doenças de perda da memória
associadas com o envelhecimento.

Deus usou a História, e a memória de Israel desta História, para motivar seu
povo a louvá-lo e viver justamente. Ele fez com que Moisés e Josué
recordassem os grandes feitos que ele tinha realizado. As crônicas de seus
reis identificaram os pecados de seus dirigentes e a degradação do povo, que
se seguiu. Mais tarde, ele trouxe o seu passado à memória, na pregação de
Pedro e Estêvão.

Nos Salmos, grandes relatórios extensos das obras de Deus são apresentados
nos capítulos 78, 105, 106, 135 e 136. Outra informação histórica é registrada
em capítulos como 77, 89, 132 e numerosos outros que às vezes elaboram um
único acontecimento.

Os primeiros oito versículos do Salmo 78 dão as razões básicas para os


lembretes de Deus da História do povo de Israel. O salmista chamou ao povo
que desse ouvidos aos "enigmas dos tempos antigos", ao "que ouvimos e
aprendemos, o que nos contaram nossos pais". Então ele disse: "Não o
encobriremos a seus filhos, contaremos à vindoura geração os louvores do
Senhor, e o seu poder, e as maravilhas que fez." Por que contar aos filhos?

Para que a geração futura possa saber

Deus tinha dado uma lei a Israel. Essa lei não era só para uma geração.
Aqueles que a receberam deveriam passá-la adiante para seus filhos, que a
passariam aos seus netos que ainda iriam nascer.

As gerações futuras não louvarão a Deus se não lhes impressionarmos com o


"poder" e as "maravilhas" de Deus. Nossos filhos precisam ouvir aqueles
mesmos "enigmas dos tempos antigos" e aprender a louvar corretamente o
Senhor, tanto na adoração como na vida (Deuteronômio 6:6-9; 11:19-21;
Efésios 6:4; 2 Timóteo 3:15). Pais e professores da Bíblia fazem grandes
coisas quando informam os filhos como Deus libertou os israelitas do Egito,
alimentou-os no deserto, puniu-os por seus pecados, livrou-os dos seus
inimigos e conduziu-os ao Monte Sião (Salmo 78:9-72). Eles precisam primeiro
conhecer!

Para que possam depositar sua esperança em Deus

Quando as obras de Deus estão tão profundamente entranhadas para se


tornarem intrínsecas ao pensamento de uma mente jovem, essa pessoa
colocará sua esperança em Deus. Deus quer que conheçamos o que ele tem
feito para que possamos contar com ele, confiar nele e esperar que ele nos
leve à bênção eterna. Uma meta precisa ser posta diante de nós. A confiança
precisa ser conseguida. Nada faz isso melhor do que ouvir como Deus cumpriu
suas promessas nos dias da antigüidade. Os desafios eram grandes.
Compromissos foram cumpridos. Os votos e juramentos de Deus foram
cumpridos por seu poder e sua justiça.

Para que possam guardar seus mandamentos

Contudo, saber e esperar não é o bastante. Temos que ser fiéis a Deus e
guardar seus mandamentos (Mateus 7:21). Temos que aprender, não somente
com Deus, mas com as gerações obstinadas e rebeldes do passado, cujos
corações não foram corrigidos "e cujo espírito não foi fiel a Deus".

A História não está incluída na literatura da sabedoria do livro de Deus


simplesmente por amor à História. Deus não registrou estes feitos do passado
para o discípulo meditar sobre eles, sem propósito. Nem eram para serem
cantados por divertimento. São antes padrões para nossa própria salvação e
relação com a vida espiritual. Eles nos convidam a um maior amor e
apreciação de Deus e através disso a um serviço maior.

Os Salmos Acrósticos
por Thaxter Dickey

Os salmos acrósticos me intrigam, porque sempre pensei que os acrósticos


fossem tolos, especialmente os sermões acrósticos. Você conhece o tipo que
quero dizer: um sermão para o dia das mães, no qual cada uma das letras da
palavra "mãe" inicia cada assunto. Isso me parece cortesia demais e de pouco
valor intelectual. Mas quando observo que alguns salmos inspirados são
acrósticos, tenho que reconsiderar. Há nove salmos acrósticos. Na realidade,
são salmos alfabéticos; isto é, são organizados de modo que cada linha, ou
cada série de linhas, comece com as letras sucessivas do alfabeto hebraico.
Se Deus usa tal arranjo, não é tolo; há, provavelmente, uma razão para isso.

Posso pensar em três razões possíveis para a forma alfabética. Primeiro, é


uma ajuda à memória. Muitas culturas, durante o tempo dos Salmos, usavam
a poesia deste modo. É o caso dos grandes épicos dos gregos: a Ilíada e a
Odisséia. Além de ser poético e assim mais facilmente memorizado, um salmo
acróstico é arranjado numa ordem natural para decorar: o alfabeto. Contudo,
esta não pode ser a razão para a forma em acróstico, porque apenas um
pequeno número de Salmos é em acróstico e não consigo ver como eles sejam
mais importantes do que os outros.

Uma segunda razão para usar a forma em acróstico é para demonstrar a


flexibilidade do autor. Este parece ser o caso nos acrósticos seculares, até
mesmo em alguns sermões acrósticos: eles são uma mera demonstração de
habilidade. Isto não é verdadeiro com os Salmos de Deus. Contudo, o formato
acróstico não somente demonstra a flexibilidade do poeta, mas demonstra
também a flexibilidade da linguagem. É admirável que possamos escolher uma
tal forma artificial e, com relativa facilidade, completar uma série coerente de
sentenças de louvor a Deus. Você poderia querer experimentá-la, para
demonstrar a si mesmo esta admirável flexibilidade de linguagem e também
explorar a quantidade de aspectos em que você pode louvar a Deus. A
linguagem, que é um dom de Deus, é um meio maravilhosamente elástico para
comuni-car, como está demonstrado nos salmos acrósticos.

SALMO

9 O versículo 2 diz a Deus, eu o louvarei de todo o meu coração e, de acordo


com minha tese, a forma de acróstico diz, eu o louvarei com o alfabeto inteiro.

10 Este salmo exprime confiança no poder de Deus sobre o mal. Os Salmos 9


e 10 são apenas acrósticos parciais; podem ser parte de um acróstico maior e
completo.

25 Um alfabeto de súplicas é o título que Kidner dá a este salmo.

34 O assunto aqui é a felicidade completa daqueles que confiam em Deus.

37 As bênçãos completas do justo são consideradas nos versículos 1-8, e


contrastadas na segunda metade com a completa calamidade acarretada aos
ímpios.

111 O assunto da bondade de Deus não é esgotado pelo alfabeto inteiro.


112 O salmista considera a completa bem-aventurança do justo.

119 A bondade da lei de Deus não é exprimida totalmente apesar do fato que o
salmista usa cada letra oito vezes antes de passar à seguinte.

145 O amor de Deus é um tema para todos os homens (versículo 4), e para
todas as letras do alfabeto, também.

Talvez a explica-ção mais razoável para os salmos acrósticos seja que a forma
é uma parte da men-sagem. Usar o alfabeto inteiro é uma forma de dizer: Aqui
está um tema grande; é preciso o alfabeto inteiro para dizê-lo. Tal é
certamente o caso do salmo acróstico mais familiar, o Salmo 119, que está
escrito para louvar a maravilhosa lei de Deus. Este também parece ser o
motivo do uso da forma em acróstico nas Lamentações, capítulos 1 a 4, que a
desgraça do povo de Deus é completa. No livro de Provérbios, os versículos
em louvor da mulher digna também são em forma de acróstico alfabético, como
se para dizer que nem todas as letras do alfabeto podem esgotar seu louvor.

Alguns salmos usam a forma de acróstico para ressaltar a natureza inexaurível


de seu assunto. Aqui eu relaciono os salmos acrósticos com comentários
indicando como a forma de acróstico satisfaz e ressalta seu conteúdo. Leia-os
e veja se concorda.

Deus nos abençoou com o maravilhoso dom da linguagem. Que melhor uso
podemos fazer dela do que louvando-o e ensinando outros sobre ele? Mas,
mesmo com o quase ilimitado poder e flexibilidade da linguagem, jamais
esgotaremos seu louvor.

Os Salmos Messiânicos (1)


(Vários)
por L. A. Stauffer

Os poetas hebreus incluíam os salmistas que compuseram cânticos de Israel,


contendo gritos de adversidade e tragédia, hinos de triunfo e vitória, e
confissões de pecado e arrependimento. Eles cantaram louvores a Jeová,
exaltaram a História da nação, invocaram a vingança de Deus contra os
malfeitores, e clamaram pelo socorro do Senhor em tempos de angústia.

Mas, além das letras, da composição e execuções musicais, os salmistas


recebiam discernimento da natureza, da vida e do papel do Messias que
haveria de vir. Estes poetas eram, às vezes, profetas que, sendo dirigidos pelo
Espírito de Deus, contemplavam uma época ideal de domínio messiânico (Atos
1:16; 2:30).

"Messias" corresponde ao hebraico ou aramaico para "Cristo", que por sua vez
se traduz do grego como "o ungido". Alguma forma da palavra é usada várias
vezes nos Salmos para descrever a natureza do futuro guia de Israel. Os
salmistas, no papel de profetas, retratam o futuro Messias tão vividamente
como quaisquer outros escritores do Velho Testamento, com a possível
exceção de Isaías. Eles cantam sua eterna existência, linhagem e
humanidade, vida de adversidade, e morte, ressurreição, coroação e domínio à
direita de Deus.

Pré-existência

Dois salmistas aludem à eterna existência e divindade do futuro rei. Davi abre
o Salmo 110: "Disse o Senhor ao meu senhor: Assenta-te à minha
direita" (110:1). Em confronto com os fariseus, Jesus, o próprio Messias, apela
para este salmo para provar sua natureza eterna. Ele é mais do que um
descendente de Davi, porque neste Salmo Davi o chamou: "Senhor". Como
Jesus argumenta: "Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é ele seu
filho?" (Mateus 22:42-46). Muito antes que ele se tornasse filho de Davi na
carne, o Messias, como Deus, era o Senhor de Davi. Ele é especialmente
identificado como Deus pelos filhos de Coré, que cantam sobre sua unção por
Jeová: "O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre" (Salmo 45:6; Hebreus 1:8).

Encarnação

Entretanto o Ungido se tornou carne. Jeová, que ungiu e exaltou o príncipe que
viria, tinha feito uma aliança com Davi: "Para sempre estabelecerei a tua
posteridade e firmarei o teu trono de geração em geração" e "um rebento da
tua carne farei subir para o teu trono" (Salmo 89:3-4; 132:11; Atos 2:30).

"O Senhor", "Ó Deus" o Messias seria também o filho de Davi; Ele habitaria
temporariamente na carne, seria nascido de uma mulher, tornaria-se um
participante de carne e sangue com os cidadãos do reino (veja João 1:14;
Gálatas 4:4; Hebreus 2:14).

O Senhor de Davi iria tornar-se filho de Davi, nascido da tribo de Judá e da


casa de Davi. Quando ungiu Jesus para ser o Messias, Jeová cumpriu sua
aliança com Davi para estabelecer sua semente e trono para sempre (veja
Salmo 89:20, 29, 34-37; Mateus 1:1-17; Lucas 1:31-33).

Vida

Os salmistas também cantam a vida do Messias, uma vida de adversidade. As


nações se enfureceriam contra ele, uma descrição das provações diante de
Herodes e Pilatos na qual o povo clamava por sua morte (Salmo 2:1-3; Atos
4:25-28).

Mesmo esta tragédia é excedida pela traição de um discípulo, um que o


Messias tinha escolhido para ser um conservo, um que ele tinha trazido para
seu seio, um que se reclinava à sua mesa. Anos antes, um salmista afirma a
traição nas palavras do próprio Ungido: "Até o meu amigo íntimo, em quem eu
confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o calcanhar" (Salmo
41:9). Jesus declara o cumprimento disto na "última ceia", quando ele ensopa
um bocado com Judas, e o filho de Iscariotes se afasta da mesa e sai depressa
no escuro, para vender seu Senhor por trinta peças de prata (veja João
13:18,26,27).

Morte

A máxima tragédia da vida, retratada pelo salmista, é o grito angustiado do


Messias, quando abandonado por Deus: "Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?" O Ungido de Deus vê-se como um verme e não homem; ele é
ridicularizado quando o povo estende os beiços e balança suas cabeças; a
angústia está próxima e ele não encontra ninguém para o socorrer (Salmo
22:1,6,7,11; veja Mateus 27:46). Abandonado e entregue aos homens
perversos pela determinada resolução e presciência de Deus, o Messias é
levado para o "pó da morte". Ele é cercado por fortes touros que abriram para
ele suas bocas, como leão voraz; sua vida é derramada como água, seus
ossos estão desconjuntados, seu coração derrete dentro dele, sua força se
secou como um caco e sua língua adere a sua boca. Seus inimigos furaram
suas mãos e pés, repartiram suas vestes e lançaram sortes sobre sua túnica
(veja Salmo 22:12-18; veja Mateus 27:35).

Entretanto, o Messias tem a visão do Deus que o abandonou sempre à sua


direita; nele encontra segurança e se regozija porque sua alma não é deixada
na morte e sua carne não vê corrupção. Além do sofrimento e morte o ungido
de Deus vive, reina, intercede pelo homem; retratos a serem vistos no próximo
artigo.

Os Salmos Messiânicos (2)


(Vários)
por L. A. Stauffer

Cânticos de Sião, escritos e compostos por salmistas sobre o Messias, são


cânticos de esperança. Os cantores escreveram e cantaram a tragédia, a
rejeição e a morte do Ungido de Deus, porém não o desespero. Além do "pó
da morte" estão as expectativas de um rei triunfante que será um sacerdote
sobre seu trono.

Esperança e Ressurreição

Os salmistas viram a alma do Messias partir para o reino invisível do Sheol e


sua carne descer à sepultura. Mas nem seu espírito, nem seu corpo
permaneceriam entre os mortos (Salmo 16:10).

Os salmistas também viram o Ungido rejeitado por seus pares, como uma
pedra inadequada, rejeitada pelos construtores; entretanto, uma pedra que se
tornou a principal pedra angular uma fundação para a casa espiritual de Deus
e uma rocha de ofensa que esmaga até o pó os desobedientes (Salmo 118:22-
23; Mateus 21:42, 44; 1 Pedro 2:4-7).

Enquanto as nações, com seus governantes, se enfurecem contra o Messias,


bradando por sua morte, Jeová ri deles. Apesar da sentença de morte e da
execução do Ungido, Deus o assenta em seu santo monte de Sião (Salmo 2:1-
6).

A esperança dos salmistas encontra cumprimento na ressurreição do Santo de


Deus. O apóstolo Pedro, no Pentecostes, apela para os Filhos de Coré, que
cantaram a ressurreição, que nem foi deixado na morte, nem a sua carne viu a
corrupção (Salmo 16:10; Atos 2:27-31). O apóstolo Paulo cita o mesmo salmo
em Antioquia da Pisídia, para afirmar a ressurreição de Jesus, mas também
chama Davi a testemunhar: "como também está escrito no Salmo segundo: Tu
és meu Filho, eu, hoje, te gerei" (Salmo 2:7; Atos 13:33-37).

Ascensão e Reinado

Além da ressurreição, os cantores de Israel têm a visão do reinado do


Messias. Os salmistas, contudo, não o vêem como um domínio na terra, mas à
mão direita de Deus. Jeová fala ao Senhor de Davi, o Messias e o rei que viria,
sobre seu domínio no céu: "Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os
teus inimigos debaixo dos teus pés" (Salmo 110:1)

Pedro emprega estas palavras de Davi para descrever a ascensão de Jesus


aos céus, à direita de Jeová. Ali, o apóstolo conclui, ele foi feito "Senhor e
Cristo" (Atos 2:33-36). E Deus, do trono celestial, envia o cetro da sua força e
o Senhor domina no meio de seus inimigos. Ali, à direita de Deus, o ungido
fere os reis "no dia da sua ira" (Salmo 110:5).

As nações se tornam a herança do Messias e as mais distantes partes da terra


sua possessão. Ele domina com o cetro de ferro e quebra as nações e as
despedaça como um vaso de oleiro (Salmo 2:7-9). O céu é o trono do Ungido
através das eras, um cumprimento da promessa e aliança com Davi, de que
um descendente dele se sentaria em seu trono para sempre (Salmo 89:3-4;
132:11).

No final, o Messias nasceu e ressuscitou dos mortos. O Filho do Altíssimo,


proclamou Gabriel no seu nascimento, receberá o trono de seu pai Davi,
reinará sobre a casa de Jacó para sempre, e seu reinado não terá fim (Lucas
1:31-33). Isto Deus cumpriu, de acordo com Pedro, quando elevou-o à sua
direita, muito acima dos principados, potestades e domínios (Atos 2:30-36; veja
Efésios 1:20-21).

Sacerdote e Intercessão

Davi, o doce cantor de Israel, prevê, como o faz o profeta Zacarias, o rei como
um sacerdote em seu trono: "O Senhor jurou e não se arrependerá: Tu és
sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque" (Salmo 110:4;
veja Zacarias 6:12-13)

Ele é um sacerdote que, primeiro de tudo, tinha a si mesmo para oferecer.


Quando Jeová rejeitou os sacrifícios e não tinha mais prazer em oferendas
queimadas, o Messias foi o voluntário: "Eis aqui estou . . . agrada-me fazer a
tua vontade, ó Deus meu. . . ." (Salmo 40:7-8). Jeová preparou-lhe um corpo
no qual ele foi oferecido, de "uma vez por todas" pelos pecados do mundo (veja
Hebreus 10:5-10; 9:23-26).

E, como um "sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque",


seu sacerdócio é "imutável", baseado no poder de uma vida "indissolúvel"; ele
vive "sempre para interceder"pelos santos (Hebreus 7:17, 24-25).

Os salmos messiânicos abrangem as eras eternais, vendo o Ungido como


Deus que se tornou homem, como homem que foi tragicamente rejeitado e
morto e como Senhor que foi exaltado aos céus de onde veio. Ali, como rei e
sacerdote, ele consuma o plano de Jeová para as eras. Que história! Que
Salvador! E quão lindamente contada nos versos e composições dos antigos
cantores em Israel.

Os Salmos "Oni"
(Salmos 139, 147)
por Don Truex

Fiquei aliviado ao saber que minha tarefa era descrever as características "Oni"
de Deus, e não explicá-las. Neste assunto, tenho que concordar com Davi, que
confessou que "Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim: é
sobremodo elevado, não o posso atingir" (Salmo 139:6). De fato, o
conhecimento destes detalhes não somente ultrapassa nossa compreensão,
mas nossa imaginação também. Além do mais, não temos padrão humano pelo
qual medir suas divinas características. Mas, agora, a descrição é algo que
Davi faz lindamente.

A humanidade pareceria ser demais para qualquer deus, ou panteão de


deuses, manobrar. Mas Davi, no Salmo 139, encontrou Jeová, o Deus Único e
Verdadeiro. Davi encontrou-o, não no fundo de sua imaginação, mas no
trabalho, cuidando muito de sua criação, compartilhando sua vontade e
palavra, sondando cada pensamento e ação, e intervindo benevolentemente
em nossas vidas. Ele, e somente ele, é o Deus do poder, do conhecimento e
da presença.

"Tu me sondas e me conheces"

A maioria de nós temos que confessar francamente que é raro nos vermos
honestamente. Mas Deus vê. Ele nos conhece completamente. Ele é o
primeiro a dizer "Bom dia", quando nos levantamos e o primeiro a perscrutar
nossa atividade durante o dia: "Sabes quando me assento e quando me
levanto . . . Esquadrinhas o meu andar . . . e conheces todos os meus
caminhos" (139:2,3). Ele sabe o que pretendemos dizer, o que de fato
dizemos, o que desejaríamos ter dito, e o que pensamos sobre dizer: "Ainda a
palavra me não chegou à língua, e tu, Senhor, já a conheces toda" (139:4). E
note como o salmista torna pessoal esta doutrina: "Sabes quando me assento e
quando me levanto . . . todos os meus caminhos". A criação é o mais grandioso
experimento de Deus e a humanidade sua maior obra. Como um criador e
sustentador bondoso e justo, ele tem conhecimento do mais minucioso
pormenor de nossas vidas.

"Para onde fugirei da tua face?"

Não é simplesmente que Deus nos conheça, mas ele é sempre nosso
companheiro e benfeitor. Sua presença não é para ser evitada (e por que os
homens justos quereriam isso?), "pois nele vivemos, e nos movemos, e
existimos" (Atos 17:28). Altura, profundidade, velocidade, trevas, luz; nenhuma
é suficiente para nos esconder da presença de Deus. Isto não é para retratar o
Pai como um policial cósmico, observando cada movimento de cada criatura,
ansioso para saltar com prazer sobre nossas faltas. Sua presença é
principalmente para nosso bem. Que maravilhosa segurança é para seus filhos,
que, não importa o tempo ou o lugar, aí "me haverá de guiar a tua mão, e a tua
destra me susterá" (139:10).

Talvez seja isto o que faz do pecado o crime hediondo que é. Ele não é
cometido no segredo que ingenuamente pensamos que a escuridão oferece. O
pecado é uma afronta ao Todo-poderoso e à sua face. É traição da mais alta
ordem, cometida aos próprios pés de seu trono. E assim, ele
pergunta: "Ocultar-se-ia alguém em esconderijos, que eu não o veja diz o
Senhor; porventura, não encho eu os céus e a terra?" (Jeremias 23:24).

"Por modo assombrosamente maravilhoso me formaste"

Os homens estão estupefatos pelas últimas inovações da tecnologia de


computadores, médicas ou científicas. Entretanto, tudo isso é pálido em
comparação com a capacidade e poder inigualável de criar e sustentar.
Maravilhamo-nos porque, pelo engenho humano, somos capazes de fundir
juntos os elementos necessários para animar um robô, enquanto ignoramos
freqüentemente a mão onipotente de Jeová, que "me teceste no seio de minha
mãe" (139:13). Ele "bordou" ou "teceu" juntos veias e tendões, músculos e
nervos. É a verdade que somos formados "por um pouco, menor que os
anjos". Porém, somos coroados "de glória e de honra" (Hebreus 2:7). Reflita
na sabedoria e poder que entrou na criação de seu coração, o amor e a
bondade empregados no projeto de seus olhos, a benevolente reprodução de
um pedacinho de seu Pai ao lhe dar uma alma. É fácil de entender a
admiração de Davi.

"Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração"

A onisciência, onipresença e onipotência de nosso Pai deveria evocar naturalmente uma


justa resposta. Tivesse ele assim determinado, Deus poderia ter usado essas espantosas
características em nosso prejuízo antes que em nosso benefício. Como é adequado,
como é absolutamente apropriado, que Davi e nós a sua semelhança dê a Deus a mão
livre que ele deseja para ajudar-nos no "caminho eterno", e o coração humilde e
obediente, necessário para assim fazer.

Os Salmos da Criação
(Salmos 8, 33)
por Dan Petty

Salmo 33: Louvando a Deus como Criador e Soberano

Este hino triunfante abre com um chamado aos santos do Senhor para dar
louvor a ele pela sua palavra e obra (33:1-4). Eles devem usar todos os meios
de expressão possíveis e adorá-lo com júbilo (33:3). De tal adoração é digno
alguém que é retratado por tais qualidades morais como, "fidelidade", "retidão",
"justiça" e "bondade" (33:4-5).

Saber que tudo o que existe veio a ser criado do nada pela ordem de Deus é
ser confrontado com a pura criação, e só por isso que Deus merece todo o
louvor (Salmo 148:5; Hebreus 11:3). Em linguagem figurada, o salmista
descreve a obra criadora de Deus fazendo os oceanos, tão sem esforço como
alguém encheria um jarro com água ou um depósito de água num
"reservatório" (33:7; Gênesis 1:9-10). Ele simplesmente "falou, e tudo se
fez" (33:9). Portanto, todos os habitantes da terra deveriam estar cheios de
reverência e temor de sua poderosa força (33:8).

Deus é mais para sua criação do que seu Criador. Ele também é o rei
soberano, dominando todos os negócios dos homens. Povos e nações e sua
sabedoria ou servem os propósitos imutáveis de Deus ou acabam em nada
(33:10-12; veja Isaías 44:25-28; 45:4-13). Mas ele abençoa a nação que o
serve.

Esta verdade é baseada no fato que Deus vê toda a atividade humana e, sendo
o Criador dos homens, entende todos os planos e motivos humanos (33:13-
15). Tal percepção deveria lembrar-nos de que, como Deus é nosso Criador,
ele também é aquele que julga até "os pensamentos e propósitos do
coração" (Hebreus 4:12-13).

Nada pode salvar um homem ou uma nação, nem mesmo um poderoso


exército ou grande força (33:16-17), fora de Deus. Mas para aqueles que
temem a Deus e confiam nele, ele é"nosso auxílio e escudo" (33:18-22), e
louvamos nosso Criador como um Deus de benevolência.

Salmo 8: O Que é o Homem?

"Ó Senhor, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome!"
Assim começa e termina o Salmo 8, o cântico de Davi em louvor a Jeová. Esta
declaração de abertura e fechamento é o tema principal do salmo, e Davi vê a
evidência da majestade de Deus manifestada em sua criação tanto do
universo como do homem. É uma verdade refletida por outros salmos de Davi
(19:1), pelos escritores do Novo Testamento (Romanos 1:20), e por muitas
pessoas ponderadas e prudentes que consideraram os céus e a terra a
evidência do propósito, poder e sabedoria neles refletida (Jó 12:7-9; Jeremias
5:21-25).

A sabedoria e o poder de Deus são manifestados quando se observa a


maravilha de um recém-nascido não menos do que quando se maravilha com a
vastidão do espaço e as incontáveis estrelas (8:1-2). Este paradoxo é a
mensagem do salmo inteiro. A primeira impressão sugeriria a pequenez e
relativa insignificância do homem em comparação com os céus, a intrincada e
artística obra dos "dedos" de Deus (8:3). "Que é o homem, que dele te
lembres?" (8:4). A pergunta é uma expressão de assombro: que Jeová, o
criador de tal esplendor, se preocuparia com ele e o atenderia

Entretanto, a pergunta já aponta para sua resposta, pois qual outro ser em toda
a criação de Deus tem o conhecimento até para fazer tal pergunta? Na
verdade, o homem não se encontra embaixo do resto da criação, mas acima
dela. Criado à imagem de Deus (Gênesis 1:26), o homem foi feito um pouco
abaixo de Deus e, assim, é a coroa de glória da grande criação de Deus (8:5).

O "status" especial do homem entre todas as criaturas de Deus dá-lhe uma


dignidade não igualada por qualquer outra criatura. Deus colocou o homem
nessa posição, e coroou-o com glória e honra (8:5). O Criador também dotou o
homem com o direito de domínio sobre sua criação (Gênesis 1:26-28). Assim o
homem foi incumbido de uma responsabilidade de "dominar" tudo que foi
colocado a seu cuidado (8:6-8). No melhor dos casos, o homem nesta
majestosa posição é representado no Novo Testamento como um tipo de
Jesus, que em sua morte e ressurreição foi "coroado de glória e de
honra" (Hebreus 2:9).

O domínio do homem sobre a natureza, contudo, maravilhoso como é, sempre


fica em segundo lugar para seu chamado como servo e adorador de Deus. O
cumprimento adequado do papel de domínio do homem pode ser realizado
somente quando ele reconhece sua total dependência do Criador (Atos 17:24-
31). Tal responsabilidade deveria levar, não ao orgulho, mas a um humilde
reconhecimento da glória do Criador. "Ó Senhor, nosso Senhor, quão
magnífico em toda a terra é o teu nome" (8:9).

Os Salmos da Família
(Salmos 127, 128)
por Gary Ogden

Há muita coisa dita na Bíblia sobre as boas relações familiares. Os Salmos 127
e 128 são, de fato, gêmeos, abordando o assunto da família de ângulos
diferentes. Vamos recolocar em nossos lares os princípios afirmados nestes
dois Salmos.

Que o Senhor seja o centro do lar

"Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a


edificam" (127:1). "Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos
seus caminhos" (128:1). Como podemos jamais ter uma boa vida familiar se
deixarmos o Senhor fora do quadro? Se as coisas não vão bem com Deus,
como poderiam ir bem com o nosso cônjuge, filhos, pais? Quando Deus e sua
palavra regem nossos corações e vidas, a vida familiar será uma experiência
agradável e rica.

Não se preocupe, seja feliz

Note a idéia destes trechos: Em vão levantam cedo e ficam até tarde penando
pelo alimento pois ele concede o sono àqueles que ama (127:2); quando
comerem do trabalho das tuas mãos, serão felizes, e tudo estará bem com
vocês (128:2). Hoje em dia o trabalho pode ser um teste real de perseverança
e de manutenção das coisas dentro da perspectiva correta. De alguma
maneira o filho de Deus tem que encontrar um modo de ocupar-se nos seus
negócios, fazer um bom trabalho para o chefe, usar seu pagamento
prudentemente e deixar o resto com Deus. Uma disposição irritável,
apreensiva, causa grande estrago na família. Uma falta de contentamento é
freqüentemente a causa. Para certas famílias, não faz diferença quanto
dinheiro se ganha; nunca é suficiente. Maus hábitos de gasto de dinheiro
criam tensão, preocupação e discórdia.

A ansiedade rouba o sono. Muitas pessoas podem tornar-se realmente mal


humoradas quando não conseguem ter descanso suficiente. Não há substituto
para uma boa noite de descanso; e pôr nossa confiança no Senhor, enquanto
trabalhamos duro, ajudará a cumprir a meta.
Pense na família como uma bênção de Deus

"Herança do Senhor são os filhos; o fruto do ventre, seu


galardão" (127:3). "Tua esposa, no interior de tua casa, será como a videira
frutífera; teus filhos, como rebentos da oliveira, à roda da tua mesa" (128:3).

Uma das atitudes que prevaleceram entre os antigos era que os filhos eram
uma dádiva de Deus. Eles suplicavam a Deus por filhos e consideravam ter
uma grande família como um benefício. Muitas pessoas vêem os filhos como
uma maldição e uma praga a ser erradicada. Por que temos tantos filhos
indesejados hoje em dia? Muito simples, as pessoas não temem o Senhor e
não andam em seus caminhos.

Se você tiver uma boa esposa e uma casa cheia de filhos bem comportados,
você é verdadeiramente um homem abençoado. Os bons filhos olham pelo
bem-estar dos pais nos dias de enfermidade e da velhice; eles abraçam as
causas de seus pais quando precisam de um defensor; eles produzem netos
que se tornam a "coroa dos velhos" (Provérbios 17:6).

Ainda não sou avô, contudo já estou apto, por motivo da idade e da prudência.
Tenho um bom número de amigos que declaram que ter netos é uma grande
recompensa. Se os filhos são como ter "oliveira, à roda da tua mesa" (Salmo
128:3), os netos são como ter bolo de chocolate durante o dia todo. A melhor
coisa com os netos é que eles lhe dão ainda uma nova oportunidade de
preparar uma alma para a eternidade. Ajudemo-los a temer a Deus e andar
nos seus caminhos.

O salmista conclui com uma oração: "O Senhor te abençoe desde Sião, para
que vejas a prosperidade de Jerusalém durante os dias de tua vida, vejas os
filhos de teus filhos. Paz sobre Israel!" (128:5-6). Precisamos estar orando por
nossas famílias. Espero e oro para que você e os seus façam do Senhor o
centro de seu lar, que você o tema e ande nos seus caminhos, que você trate
sua família como uma dádiva preciosa de Deus e que a paz no coração e a
prosperidade prevaleçam em seu lar.

Os Salmos sobre a Palavra de Deus (1)


(Salmo 19)
por Earl Kimbrough

O Salmo 19 louva a revelação de Deus na natureza e pela palavra escrita. Os


versículos 1-6 descrevem a criação como uma voz sem palavras, declarando
constantemente a glória de Deus. Os versículos 7-14 exaltam o poder e a
perfeição da sua lei. Spurgeon chamou essas revelações de "O Livro do
Mundo e o Livro de Palavras". A criação dá testemunho do poder e da
divindade de Deus. Sua palavra declara sua vontade a Israel. A distinção
entre as revelações é acentuada pela substituição de "Deus" (Criador) na
primeira parte por "o Senhor"(Deus de Israel) na segunda. O núcleo do Salmo
é o hino de Davi à palavra de Deus (19:7-11). Ele exalta a palavra em seis
sentenças sinônimas, mas progressivamente esclarecedoras.

A descrição da Palavra

Os títulos da palavra de Deus incluem toda sua revelação ao seu povo. "A
lei" não é um livro de preceitos sem vida, mas a expressão viva da vontade de
Deus. É o "testemunho do Senhor", em que testemunha seu sentimento e sua
natureza. O testemunho consiste nos "preceitos do Senhor", as regras
definitivas para o homem, claramente demarcadas na lei. São mais ainda
descritas como "o mandamento do Senhor". A lei é a prescrição de Deus do
dever do homem. O mandamento é também visto como "o temor do Senhor".
Isto descreve sua relação com seu propósito. Seu alvo é criar a reverência
pela pessoa e vontade de Deus. "O temor do Senhor" compreende seus juízos.
Ele descreve a sabedoria pela qual Deus rege seu povo na execução de sua
vontade.
O caráter da Palavra

Os termos descritivos do salmista para a palavra de Deus refletem sua


natureza. É "perfeita", porque tudo o que vem de Deus é perfeito em qualidade
e propósito. A lei é completamente livre de erro, é destinada a beneficiar o
homem, e é inteiramente adequada ao fim para o qual foi dada. O testemunho
de Deus é "fiel" (confiável). Ele é fixo e exato, em comparação com as
palavras instáveis dos homens. "Para sempre, ó Senhor, está firmada a tua
palavra no céu" (Salmo 119:89). Os preceitos de Deus são "retos", porque vêm
daquele de quem somente o que é reto pode vir. O mandamento
é "puro" como o próprio Senhor é puro. O temor de Deus é limpo. Nenhum
pensamento, palavra ou ato degradante vem por seguir suas determinações.
Os juízos de Deus são "verdadeiros e todos igualmente justos". Os atributos
de Deus são refletidos no caráter de sua palavra. Perfeito, seguro, reto, puro,
limpo, verdadeiro e completamente justo; que mais poderia ser esperado do
Deus da criação e da revelação?

O efeito da Palavra

Estes versículos contam o que a lei faz pelo povo de Deus. Ela converte
(restaura) "a alma". A revelação sozinha traz o homem decaído a Deus e faz
dele o que Deus pretendia desde o começo. Ela transforma "o simples" num
homem de sabedoria. Pela revelação, o filho de Deus conhece coisas que os
homens mais sábios não podem saber sem ela (1 Coríntios 1:20-25). "Ensina
aos mansos o seu caminho" (Salmo 25:9). A lei leva alegria ao "coração",
dando uma consciência limpa àqueles que a guardam. Há alegria em
submeter-se à vontade de Deus, não somente porque é justa, mas porque,
sendo justa, ela própria é a fonte da alegria. O mandamento "ilumina os olhos".
É uma luz que guia aqueles que andam nela (Salmo 119:105). Os últimos
efeitos são implícitos pelos traços declarados: durável, verdadeiro e justo. A lei
é a fonte da qual flui tudo o que é permanente, autêntico e virtuoso neste
mundo.

O valor da Palavra

O valor da palavra excede qualquer coisa que a criação tenha guardado. Davi
viu as qualidades da lei de Deus como mais desejáveis do que a riqueza e
mais agradável do que os melhores deleites da terra (19:10). É observando
estas qualidades duradouras da revelação que o servo de Deus é admoestado
(19:11). Aqui está o valor culminante da lei. Ela dá bênçãos, mas estas não
vêm sem compromisso (19:11). Assim, a admoestação é essencial. Contudo, o
galardão prometido não somente vem depois de guardar os mandamentos de
Deus, mas vem enquanto estão sendo guardados. Ela traz bênçãos agora e
na eternidade.

O Salmo termina com uma oração por auxílio para guardar a palavra de Deus
(19:12-14).
Os Salmos da Palavra de Deus (2)
(Salmo 119)
por Earl Kimbrough

O Salmo 119 é talvez o mais habilidosamente concebido de todos os salmos.


Tem uma estrutura como nenhum outro. A palavra de Deus é seu tema
grandioso. Em estrofes uniformes, Davi tece suas meditações da palavra em
volta de oito, ou mais, sinônimos, dela. A maioria destes são repetidos,
freqüentemente. Este salmo, ainda que inexcedível, é uma extensão elaborada
do hino mais curto sobre a lei de Deus, por Davi, no Salmo 19:7-11. Mas tanto
os seus sinônimos para a palavra no Salmo 119 como seus comentários sobre
as virtudes são de especial interesse aqui. Oito dos seus sinônimos estão
anotados abaixo.

"A lei do Senhor"

"Lei" principalmente indica orientação ou instrução. A palavra, às vezes, se


refere à lei dada por Moisés no Monte Sinai. Contudo, aqui ela se refere à lei
de Deus no sentido mais amplo de toda a revelação, na qual a instrução e a
orientação de Deus foram encontradas. O Salmo começa com uma bênção
prometida àqueles que andam na lei de Deus (119:1). O ímpio abandona sua
lei e olha para ela como inútil (119:53,126), mas o justo ama-a e se compraz
nela (119:77,97). O servo de Deus ora: "Desvenda os meus olhos, para que
eu contemple as maravilhas da tua lei" (119:18).

"Teus testemunhos"

Mais geral do que lei, "testemunhos" sugerem que a lei de Deus é seu
testemunho de sua vontade e pessoa. O uso de "testemunhos" mostra que o
salmista encarava a lei, não como um conjunto impessoal de legislação, mas
como as vibrantes declarações de Deus sobre si mesmo, seu pensamento e
sua relação como seu povo. Ele exprime a mesma devoção
aos"testemunhos" de Deus que ele tem para com a "lei" de Deus. A confiança
de Davi na palavra de Deus é tão segura que ele diz: "Também falarei dos teus
testemunhos na presença dos reis e não me envergonharei" (119:46).

"Teus caminhos"

Os "caminhos" de Deus são suas regras de conduta designadas, denotando


especialmente a orientação que elas dão ao salmista através do complexo
curso da vida (Jeremias 6:16). O escritor suplica: "Desvia os meus olhos para
que não vejam a vaidade, e vivifica-me (preserva minha vida) no teu
caminho" (119:37).

"Teus preceitos"

A palavra "preceitos" é semelhante em significado a estatutos e mandamentos;


instruções dadas para orientar o comportamento. Os preceitos de Deus devem
ser "cumpridos à risca"(119:4). E enquanto eles restringem o filho de Deus,
eles também lhe permitem "andar com largueza" (119:45). O pior dos mestres
é o pecado, mas a verdade nos liberta (João 8:32).

"Teus decretos"

Estes são decretos de Deus como Divino Legislador. Quatro palavras (ou seus
sinônimos) mostram repetidamente a devoção de Davi à palavra de Deus sob
seus vários conceitos: "ensinar", "amar", "meditar" e "guardar". "Ensina-me os
teus preceitos" (119:12). "Terei prazer nos teus decretos" (119:16). "Meditarei
nos teus decretos" (119:46). "Induzo o coração aguardar os teus
decretos" (119:112). A incomensurável reverência pela palavra de Deus é
lindamente expressada nas palavras: "Teus decretos são motivo dos meus
cânticos, na casa da minha peregrinação" (119:54).

"Teus mandamentos"

O caráter dos "mandamentos" de Deus é descrito no versículo 172: "Pois


todos os teus mandamentos são justiça." Seus mandamentos são justos e
resultam em justiça.

"Teus juízos"

"Juízos" são pronunciamentos judiciais, que advertem contra determinadas


linhas de conduta. A palavra de Deus sublinha suas decisões e punições
contra aqueles que falham em se adaptar a sua palavra. Considerando isto, o
salmista diz: "Arrepia-se-me a carne com temor de ti, e temo os teus
juízos" (119:120).

"Tua palavra"

A "palavra" ("palavras") de Deus se refere à lei como as declarações proferidas


ou escritas do Todo-Poderoso. A palavra de Deus é a revelação de sua
vontade (veja 1 Coríntios 2:11-12). A "palavra" é mais comumente usada para
significar a revelação de Deus que a maioria dos outros sinônimos, talvez por
causa de aparente simplicidade de compreensão.

A devoção de Davi à palavra de Deus, lindamente proclamada no Salmo 119, é


tanto mais admirável quando percebemos quão comparativamente pouco ele
tinha dessa palavra. Isto deveria envergonhar aqueles que, tendo a plena
revelação da vontade de Deus, negligenciam-na geralmente. Mas o prazer de
ver a palavra de Deus e o desejo de obedecê-la não são suficientes. Portanto,
no meio de seu louvor, o salmista suplica pelo divino auxílio para viver pela sua
palavra.
Os Salmos da Busca de Deus
(Salmos 27, 42, 63)
por Rod Amonett

"Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus,
suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo" (Salmo
42:1,2). Com poucas palavras simples os Filhos de Coré descrevem uma cena
da vida cotidiana que nos ajuda a entender o desesperado anseio do homem
justo por Deus.

Numa circunstância semelhante, Davi implora ao Senhor: "Ó Deus, tu és o


meu Deus forte, eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu
corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água" (Salmo 63:1).

Os "Salmos da Busca de Deus" refletem a mais profunda e mais premente


necessidade que o homem pode conhecer. Uma vez que corações honestos
tem conhecido a Deus, a satisfação de nossas necessidades físicas e mesmo
emocionais não serão mais suficientes para nos contentar. Nem mesmo a
íntima companhia de outro indivíduo preencherá o grande vazio que sentimos
internamente. Deus, na verdade, colocou a eternidade dentro de nossos
corações, e os homens iluminados pela verdade anseiam com todo o seu ser
por "andar" com seu Criador.

O que é tão maravilhoso é que o próprio Deus deseja e possibilita esta


comunhão. Paulo declarou aos atenienses que Deus nos fez para que nós o
"buscássemos" (Atos 17:27), e Davi assegurou Salomão que o Senhor
recompensará os que o buscam honesta e diligentemente: ". . . porque o
Senhor esquadrinha todos os corações e penetra todos os desígnios do
pensamento. Se o buscares, ele deixará achar-se por ti; se o deixares, ele te
rejeitará para sempre" (1 Crônicas 28:9). Os salmistas eram homens que,
certamente, já conheciam Deus. Eles tinham procurado servi-lo fielmente, mas
nestes salmos eles se encontram perseguidos por inimigos e sentindo-se
separados das bênçãos e associação com Deus. Há dois pontos importantes
que podemos notar nestes salmos:

É nos momentos mais negros da vida que nos lembramos de nossa


grande necessidade de Deus. Nos bons tempos, os homens podem
desenvolver uma profunda fé em Deus e gratidão por suas bênçãos, mas é nos
tempos difíceis que uma tal fé se torna nosso muito necessário conforto e
aliado. Somente quando os homens são postos face a face com sua natureza
frágil e desamparada é que eles se tornam verdadeiramente conscientes da
magnificente força de Deus e da preciosa natureza de seu amor por nós.

Cada um de nós enfrenta momentos de provação ou aflição, quando não há


ninguém a quem possamos nos voltar, a não ser Deus. O salmista se
lamentava: "As minhas lágrimas têm sido o meu alimento dia e noite", e "Sinto
abatida dentro de mim a minha alma; lembro-me, portanto, de ti . . ." (Salmo
42:3,6). Davi chorou: "Não me recuses, nem me desampares, ó Deus da
minha salvação. Porque se meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor
me acolherá" (Salmo 27:9-10). De novo, Davi escreve: "em ti medito, durante
a vigília da noite. Porque tu me tens sido auxílio" (Salmo 63:6-7).

Tais gritos pela assistência de Deus são com confiança, sabendo que Deus
cuida de nós e agirá em nosso favor: "Por que estás abatida, ó minha alma?
Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a
ele, meu auxílio e Deus meu" (Salmo 42:5).

Oportunidades para adorar com o povo do Senhor são importantes para


nosso senso de comunhão com Deus. O escritor pergunta: "Quando irei e
me verei perante a face de Deus?" e diz: "Lembro-me destas cousas e dentro
de mim se me derrama a alma de como passava eu com a multidão de povo e
os guiava em procissão à Casa de Deus, entre gritos de alegria e louvor,
multidão em festa" (Salmo 42:2,4).

Davi ansiava pelo tempo quando ele ofereceria em sua tenda "sacrifício de
júbilo; cantarei e salmodiarei ao Senhor" (Salmo 27:6).

Os salmistas viam a adoração como um grande privilégio. Eles se sentiam


profundamente privados e frustrados quando eram afastados de tais ocasiões
abençoadas. Sua confiança em Deus por auxílio e benevolência acendiam seu
desejo de curvar-se diante de Deus e reconhecer sua grandeza.

Hoje não estamos menos desesperados em nossa necessidade da amizade e


do auxílio de Deus. Chegamos "humildes de espírito" (Mateus 5:3), cientes de
que sua associação é somente para aqueles que "têm fome e sede de
justiça" (Mateus 5:6). Com o salmista, proclamamos: "A minha alma apega-se a
ti; a tua destra me ampara", e: "Como de banha e de gordura farta-se a minha
alma, e, com júbilo nos lábios, a minha boca te louva" (Salmo 63:8, 5).

Os Salmos de Libertação
(Salmo 31)
por Warren Berkley

Um dos nossos maiores benefícios no estudo dos Salmos é que somos


capazes de, através destes belos poemas, aprender quanto Deus significava
para Davi. Especialmente quando estudamos a vida de Davi e então
consultamos os Salmos para relacioná-los com suas experiências da vida, os
Salmos se tornam uma rica fonte cheia de verdades construtivas e
fortalecedoras sobre nosso Criador.

Por exemplo, Davi se achou freqüentemente em sofrimento. Por causa de seu


próprio pecado, ou como resultado de um malévolo inimigo, ele sofreu aflições
repetidamente. O modo como reagiu sob pressão se torna um bom estudo
para nós. E o testemunho de Salmos é que Davi estava predisposto a confiar
em Deus quando estava sob pressão. Esta é uma razão pela qual ele chamou
Deus sua rocha, sua cidadela, libertador e escudo (Salmo 18:2). Muitos dos
Salmos entram nesta categoria.

O Salmo 31 poderia ser rotulado um salmo de libertação. A provação de Davi


é descrita junto com sua reação.

A provação de Davi. Ele foi apanhado "no laço", ou seja, na armadilha dos
seus inimigos (31:4) e cercado pela idolatria (31:6). Ele estava sofrendo aflição
e angústia da alma (31:7) nas mãos de seus inimigos (31:8). Ele estava sendo
caluniado e conspiravam contra ele (31:13). Ele disse: "Compadece-te de mim,
Senhor, porque me sinto atribulado; de tristeza os meus olhos se consomem, e
a minha alma e o meu corpo. Gasta-se a minha vida na tristeza, e os meus
anos, em gemidos; debilita-se a minha força, por causa da minha iniqüidade, e
os meus ossos se consomem. Tornei-me opróbrio para todos os meus
adversários, espanto para os meus vizinhos e horror para os meus conhecidos;
os que me vêem na rua fogem de mim"(31:9-11).

A reação de Davi a esta provação foi procurar refúgio no senhor. "Em ti,
Senhor, me refugio; não seja eu jamais envergonhado; livra-me por tua justiça.
Inclina-me os ouvidos, livra-me depressa; sê o meu castelo forte, cidadela
fortíssima que me salve. Porque tu és a minha rocha e a minha fortaleza; por
causa do teu nome, tu me conduzirás e me guiarás. Tirar-me-ás do laço que,
às ocultas, me armaram, pois tu és a minha fortaleza. Nas tuas mãos entrego
o meu espírito; tu me remiste, Senhor, Deus da verdade" (31:1-5). Por causa
de sua predisposição de confiança no Senhor, esta foi a reação de Davi: pregar
(31:23-24), louvar (31:19-21) e chorar ao Senhor seu Deus (31:22).

Quando nos encontramos no meio de uma provação desagradável, qual é


nossa reação? Voltamo-nos, quase impulsivamente, para algum recurso
mundano? Enganamo-nos pensando que temos dentro de nós a capacidade
para enfrentar e sermos corajosos (humanismo)? Ou nos aproximamos de
Deus e fazemos dele nosso refúgio? Quando em angústia, não podemos fazer
nada melhor do que confiar em Deus e olhar para seu semblante de amor e
misericórdia. Precisamos cultivar a mesma predisposição de confiança que
observamos em Davi.

Lutero disse que este Salmo "é falado na pessoa de Cristo e seus santos, que
são afligidos toda a sua vida, internamente pelo tremor e o alarme,
externamente pela perseguição, a calúnia e o desprezo, por amor da palavra
de Deus, e mesmo assim são livrados por Deus de todos eles e confortados."
Isto parece ter alguma base boa, desde que o Salvador crucificado usou
palavras que começam no versículo 5, no momento de sua morte (veja Lucas
23:46; também, a messiânica interpretação do versículo 10 seria Cristo
suportando os pecados do mundo).

O Salmo 31 é um dos muitos salmos de libertação, escritos para nos levar a


uma união mais íntima com nosso Deus, para que possamos procurá-lo para
nos ajudar e nos segurar. Paul Earnhart, uma vez, observou a respeito dos
Salmos: "Muito filho de Deus têm repousado seu coração nas orações
daqueles antigos adoradores. Encontramos neles o eco de algum modo
confortante de nosso desespero angustiado e sabemos que não somos os
primeiros filhos de Deus a lutar a sós com temores. Nem os primeiros, nesse
assunto, a conhecer uma alegria toda absorvente" (veja ainda o Salmo 116).

O Salmo "Ah Se..."


(Salmo 81)
por Bill Moseley

Quantas vezes muitos de nós têm dito: "Ah se..." seguido por "o que poderia
ter sido!" O Salmo 81, demonstra este conceito, lidando com "o que poderia ter
sido" para Israel "se" eles tivessem feito certas coisas. A nação nunca
percebeu o potencial que Deus tinha para ela em muitas áreas. Ah se ela
tivesse se submetido aos justos estatutos e julgamentos de Deus, como teriam-
se conduzido de modo diferente, até mesmo quando Cristo veio ao mundo.

Deus tem sempre desejado que seu povo o louve, como é visto nos versículos
de abertura do Salmo. Deus é "nossa força", e como tal deveríamos "cantar
alto" a ele. Uma base para esta adoração são os benefícios antes concedidos
à nação. No versículo 6, notamos que Deus removeu a carga do Egito, e como
isto ficou firmemente gravado nas mentes de Israel. Sua escravidão tinha sido
levantada de seus ombros, quando foram libertados "dos cestos." No tempo da
sua aflição, Deus livrou-os (81:7). Quando eles clamaram a Deus, ele
respondeu no tempo da aflição. Em seguida, ele provou-os em Meribá.

Então Deus os assegura de que ele na verdade é seu Deus, que os tirou do
Egito (81:10). Eles têm que abrir "bem a tua boca", e a promessa é que "ta
encherei". "Abrir as bocas" indica uma necessidade de bênçãos de Deus;
estas pessoas foram os recipientes onde Deus colocaria sua bondade.
Entretanto, eles se recusavam a ouvir seu Deus (81:12), e então, como ele
freqüentemente fez, Deus "abandonou-os", deixando que andassem conforme
seus próprios caminhos.

Então nos aproximamos do trecho "Ah se . . ." do Salmo, no versículo 13. Ali
Deus clama: "Ah! Se o meu povo me escutasse, se Israel andasse nos meus
caminhos!" Ou, como poderíamos dizê-lo: "Ah se . . . eles tivessem feito estas
coisas!" O que então viria em seguida?

Primeiro, Deus lhes diz que ele teria subjugado seus inimigos. Em vez disso,
por causa da recusa deles a ouvir a Deus, ele freqüentemente usou aqueles
inimigos como instrumentos de destruição entre eles. Como isto é claramente
visto em acontecimentos tais como quando foram arrastados ao cativeiro na
Babilônia! Isto não precisava ter acontecido; ah se eles tivessem voltado suas
costas à sua idolatria, revertido sua conduta e retornado a Deus. A destruição
de seus inimigos dependia deles ouvirem a Deus e andarem em seus
caminhos.

Os "inimigos" do versículo 14 são então chamados os que "aborrecem ao


Senhor" no versículo 15. Em vez do povo de Deus ser levado em
envergonhosa sujeição àqueles inimigos, poderia ter sido totalmente ao
contrário; ah se eles tivessem sido fiéis a Deus! A própria nação que Deus
estabeleceu para trazer Cristo ao mundo perdeu seu lugar exaltado entre as
nações como uma potência mundial cerca de 600 anos antes de Cristo vir ao
mundo. Ah se . . . eles tivessem sido fiéis a Deus, eles teriam durado "para
sempre". Em vez disso, eles se tornaram "um objeto de espanto e opróbrio"
entre os homens.

A seguir vemos as grandes provisões que a nação poderia ter esperado de


Deus, ah se sua fé nele tivesse continuado. Deus poderia tê-los
alimentado "com o trigo mais fino", bem como com "mel que escorre da
rocha" (81:16). Eis aqui símbolos das esplêndidas bênçãos que eles poderiam
ter esperado de Deus. Não foi somente "trigo", mas o "trigo mais fino". No
deserto eles tinham recebido água da rocha, mas agora é "mel" da rocha.

A primeira parte deste salmo mostra-nos como o povo deveria ter-se conduzido
diante de Deus. Ah se . . . ele tivesse feito isto, a última parte demonstra o que
Deus poderia ter feito por eles.

Podemos fazer uma aplicação disto em nossas vidas, como povo de Deus de
hoje? Este escritor está persuadido de que podemos! Quando chegamos a
ficar diante de Deus em julgamento, e é nossa sina ouvi-lo dizer: "Apartai-vos
de mim, nunca vos conheci", pode escapar-nos o pensamento que ah se eu
tivesse servido fielmente a Deus o que "poderia ter sido"! Os Salmos são
independentes do tempo; suas lições são valiosas, pois no final das contas,
nós não somos, como povo de Deus, hoje, muito diferentes daqueles que
originalmente receberam estes maravilhosos escritos?

O Salmo "Até Quando?"


(Salmo 13)
por Harold Tabor

Ao mestre de canto,
Salmo de Davi

Até quando, Senhor? Esquecer-te-ás de mim para sempre?


Até quando ocultarás de mim o rosto?
Até quando estarei eu relutando dentro em minha alma,
com tristeza no coração cada dia?
Até quando se erguerá contra mim o meu inimigo?

Atenta para mim, responde-me, Senhor, Deus meu!


Ilumina-me os olhos,
para que eu não durma o sono da morte;
para que não diga o meu inimigo: Prevaleci contra ele;
e não se regozijem os meus adversários, vindo eu a vacilar.
No tocante a mim, confio na tua graça;
Regozije-se o meu coração na tua salvação.
Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem.

(A Versão LXX acrescenta)


e eu cantarei salmos ao nome do Senhor Altíssimo.

Neste Salmo, não sabemos quem é o adversário do desespero de Davi. Pode


ter sido o rei Saul ou Absalão. Ambos perseguiram Davi e o teriam matado.

Sempre que há doença ou sofrimento na vida de alguém, a pessoa geralmente


expressa o desejo de saber até quando vai continuar. Queremos saber quando
o alívio virá a nós. Este Salmo tem sido identificado como o salmo "Até
quando?" por causa deste grito por alívio. A frase "Até quando?" é usada
quatro vezes no início da primeira estrofe.

O Salmo 13 é dividido em três estrofes de três versos cada. Cada estrofe


revela um estágio de experiência diferente. A primeira estrofe começa com
quatro frases "Até quando?" A segunda estrofe é uma oração por
esclarecimento. A terceira estrofe é uma canção de libertação.

A primeira estrofe é um grito de desespero a Jeová. Davi sente que Jeová o


abandonou. Davi pergunta se Jeová jamais falará com ele ou se manifestará a
ele novamente. Ele está tendo que confiar em seu próprio conselho para
escapar dos inimigos implacáveis que o perseguem. Nenhum auxílio está
chegando de Jeová. Os inimigos de Davi são aparentemente vencedores.

Entretanto Jeová não "esquece" seu povo. Ele nunca deixa de amar seus
filhos. Jeová não vai esquecer nem abandonar seu povo. Ele pode "esconder"
sua face de seu povo e permitir que sofrimento físico e emocional aconteçam,
como é ilustrado na vida de Jó. Mas Jeová está tentando ensinar uma lição,
que não podemos fazer nada em nós mesmos. Precisamos aprender fé,
oração e esperança. Estas lições nos ensinarão sobre a fonte de força e
felicidade nesta vida. Tudo isto é para ensinar-nos a dependência que temos
em Jeová. Não podemos fazer nada em nós mesmos e de nós mesmos.

A segunda estrofe é o cântico de oração de Davi. A oração é um insistente e


exigente chamado a Jeová. Sua súplica é por conhecimento e entendimento
da questão da morte, da intensidade da oposição de seus adversários e suas
próprias fraquezas. Oh, que possamos ser honestos consigo mesmos sobre
estes grandes assuntos! Há três petições nesta estrofe.

"Atenta" é o contrário de "ocultarás" teu rosto (13:1). "Responde-me" é o oposto


de "esquecerás de mim." O propósito da oração é que Jeová "ilumina-me os
olhos" (veja 1 Samuel 14:27,29 para a mesma expressão), isto é, melhoria do
entendimento para ver o bom conselho, pelo qual ele poderá escapar dos
perigos que o ameaçam. Davi quer ser capaz de resistir firme até mesmo
quando seus "adversários" se regozijem enquanto ele "vacilar".

A terceira estrofe é o cântico de vitória do salmista. É um cântico de louvor que


surge de sua oração pessoal. A única explicação para o contraste entre as
estrofes é a cessação de seu sofrimento e da oposição de seus inimigos.

O pronome pessoal no início do verso cinco pode ser expressivo. "Eu, até
mesmo eu, tenho confiado" traduz uma palavra significando confiar em,
depender de, ter confiança em. A palavra hebraica "misericórdia" (hesed) inclui
o sentido mais geral de benevolência ou boa vontade.

"Cantarei" traduz um verbo usado oito vezes nos Salmos. Cantar é a


expressão da alegre apreciação de Jeová pela alma. Estes dois últimos versos
são o auge do tributo e do louvor. Desde a profundidade do desalento, a alma
exprime alegre gratidão a Jeová pelo galardão que é tratar com ele.

Aprendamos a lição de fé através do desespero, a contar com Jeová através


da oração e da confiança nele, que sempre estará ali por nós.

O Salmo de "Por quê?"


(Salmo 73)
por John M. Kilgore

"Com efeito, Deus é bom para com Israel, para com os de coração
limpo!" (73:1) e "Com efeito, inutilmente conservei puro o coração e lavei as
mãos na inocência. Pois de contínuo sou afligido, e cada manhã,
castigado" (73:13-14). Entre estas duas declarações de Asafe, ambas
introduzidas por "com efeito", encontra-se um caminho penoso, ligando o vale
da desilusão e da dúvida ao topo da montanha da confiança e da certeza. A
jornada foi necessária pela realidade do mundo de Asafe, onde ele observava a
prosperidade e a proteção dos ímpios (73:3) e as dores e aflições dos justos
(73:13-14), e perguntava "Por quê?" Por que um bom Deus permite esta
injustiça? É ele realmente bom para Israel, o puro de coração? Para Asafe,
esta não era meramente uma questão interessante para ser debatida na
academia, pois ele era aquele que sofria, até o ponto de ser invejoso dos
arrogantes ímpios (73:3) e de questionar o valor de manter puro seu coração
(73:13). Se Asafe ia manter sua fé na bondade de Deus, ele tinha que ter uma
resposta (73:2).

A interrogação a Deus é como uma espada de dois gumes. Ela pode cortar
com ambos os fios: um para a descrença e o outro para a fé. No caso dos
judeus com Jesus, suas perguntas marcavam sua descida para a cova do ódio
e do homicídio. Numa ocasião, Jesus até caracterizou o interrogatório deles
como indicação de uma geração má e adúltera (Mateus 12:39). Mas no caso
de Asafe, e de todos os discípulos verdadeiramente devotos, ele é essencial
para subir ao topo da confiança na bondade e justiça de Deus. Perguntar a
Deus "por quê" é arriscado, mas necessário.

A interrogação a Deus leva à destruição de nossa fé, quando nossas perguntas


vêm de nosso orgulho. Uma resistência a aceitar a evidência que já nos foi
dada por Deus e exigir mais implica em que a Deus falta evidência
verdadeiramente convincente. Se Deus ao menos nos desse evidência
verossímil, acreditaríamos. Este engano de nós mesmos, freqüentemente
disfarçado de intelectualismo e "mentalidade aberta" é, na realidade, a
conseqüência de uma vontade endurecida. Os escribas e fariseus, que já
tinham conversado sobre como poderiam destruí-lo (Mateus 12:14),
continuavam pedindo um sinal (Mateus 12:38). Esta charada de investigação
honesta foi exposta por Jesus como o que, de fato, era: corações autoritários e
teimosos ficando mais e mais duros. Quando Deus quer que creiamos no
incrível, ele nos dá evidência suficiente para assim fazer (Gideão e sua lã,
Juízes 6:34-40). Rejeitar sua evidência e exigir mais é endurecer nossos
corações contra a fé.

A interrogação a Deus a partir de um elevado sentido de importância de nossas


circunstâncias físicas também vem do orgulho e também destruirá a fé. Este
raciocínio permite ao efêmero ter maior importância do que o eterno e coloca
nossa satisfação na terra no centro do universo, assim destronando Deus.
Para os homens, sentarem-se para julgamento da bondade de Deus,
especialmente do ponto de vista de nossa própria "felicidade" física, é
arrogância.

Asafe quase tropeçou (73:2), quando começou a invejar os arrogantes ricos.


Em essência, ele disse que Deus lhe era devedor. Sua pureza o exigia.
Certamente que Deus não pode esperar que o sirvamos a troco de nada
(73:13). É irônico que seja a arrogância que produz a inveja do arrogante.

Felizmente, Asafe mudou seu curso de interrogação e, no processo, recebeu


uma fé maior. Ele ilustra que interrogar a Deus com humilde vontade de
superar nossas dúvidas edifica a fé. "Eu creio! Ajuda-me na minha falta de
fé" (Marcos 9:24).

Quando a dor é usada como o megafone de Deus para chamar nossa atenção,
nossos "por quês?" podem produzir uma fé mais profunda, pois agora estamos
prontos para ouvir a Deus. Entramos no santuário de Deus para sermos
guiados por sua revelação.

Este tipo de interrogação nos capacita a ver de novo o Deus da História, o que
ele tem feito, e onde ele (História) está indo (73:15-17). Agora podemos ver o
fim a partir do princípio e saber o que subsistirá (73:18-20). Ouvindo-o,
podemos ver que, quando estamos amargurados intimamente, somos como
um animal ignorante sem sentimentos (73:21-22), mas quando estamos dentro
do alcance de sua mão, estamos destinados à glória (73:23-24). Este tipo de
"por quê?" nos levou ao Deus de nosso maior bem para fazer dele nosso
refúgio. Proclamaremos "todos os seus feitos" (73:28).

Nosso Deus não é tão fraco que não possa enfrentar nossas perguntas, nem
tão fraco que precise acomodar nosso orgulho.
O Salmo da "Loucura das Riquezas"
(Salmo 49)
por Harry E. Payne, Sr

A beleza intrínseca e a sabedoria dos Salmos são claramente apresentadas


neste solene salmo didático. Seu tema principal é que os ricos ímpios
freqüentemente vencem na vida, enquanto os pobres e devotos
freqüentemente sofrem. E emite uma nítida advertência àqueles que confiam
nas riquezas.

Os versículos introdutórios (49:1-4) contêm um chamado premente a que todos


os povos dêem atenção. Depois de conseguir sua atenção, o escritor abre seu
discurso parabólico com a pergunta: "Por que hei de eu temer" (49:5). Ele não
está escrevendo por causa da inveja daqueles que prosperam, ainda que
alguns deles possam ser seus antagonistas ("quando me salteia a iniqüidade
dos que me perseguem"); nem tem ele tão pouca confiança em Deus que viva
em constante terror daqueles que lhe perseguem. Ele não tem motivo para
temer, ainda que seus inimigos os ricos e os ambiciosos temam. Por quê?
Porque não há felicidade duradoura ou satisfatória para eles.

A futilidade de confiar na riqueza terrestre e nas posses materiais é


graficamente ressaltada nos versículos 5-12. Riquezas terrestres não darão
satisfação no dia mau. O salmista apresenta diversas razões convincentes
para isto.

1. As riquezas não salvarão a vida de uma pessoa (49:7). As posses


materiais não nos asseguram de que não morreremos (veja Hebreus 9:27).
Nenhum homem, não importa quão rico seja, pode salvar nem mesmo o
parente mais próximo ("o irmão") da morte.

2. As riquezas não podem ser usadas como um resgate diante de


Deus, "nem pagar por ele a Deus o seu resgate". Deus não pode ser
subornado (pago de qualquer modo material) para salvar a vida de uma
pessoa.

3. As riquezas não salvarão a alma de uma pessoa (49:8). Ainda que as


palavras "vida" e "alma" sejam usadas de modo intercambiável na Escritura,
creio que esta passagem é melhor entendida quando "alma" significa "a vida
interior", ou seja, "a alma eterna". Esta só pode ser "redimida" ou "salva" pela
graça do Senhor Deus. Que outro "resgate" poderia até mesmo o mais rico,
mais sábio, mais cativante dos seres humanos dar por sua própria "vida" ou
pela de outro? (Veja Mateus 16:24-27.)

4. As riquezas não evitarão que qualquer pessoa morra e deixe suas


posses para outros (49:10). Riqueza, terras, casas e todas as coisas
materiais perecerão com o uso ou com as devastações do tempo, ou com a
destruição final da terra e de suas obras (2 Pedro 3:10-12).

Todos estes fatos mostram a extrema vaidade da confiança de uma pessoa


nas riquezas. Todas as pessoas morrerão; quando uma pessoa morre, ela
deixa todas as posses aqui na terra; e as deixará para outros, freqüentemente
estranhos, que por sua vez falecerão.

Entretanto, o salmista nos conta o que as pessoas que estão dispostas a


serem ricas pensam: (1) Elas pensam "que as suas casas serão perpétuas", e
(2) elas darão às suas terras "seu próprio nome". Há algo errado com uma
pessoa dar nome a uma fazenda, uma plantação, um negócio ou qualquer
outra posse física de acordo com seu próprio nome? O salmista não está
condenando a legítima propriedade de terras e posses, mas antes a
jactanciosa, auto-suficiente "propriedade". O salmista nos diz que mesmo a
memória de um rico é fugaz! Para uma pessoa depositar sua confiança em tais
coisas é pura loucura!

"Todavia, o homem não permanece em sua ostentação; é, antes, como os


animais, que perecem" (49:12). O rico pode ter parecido possuir tantas
vantagens e, através dos olhos humanos, pode ter sido invejado ou admirado.
Que pena que todas as honras e benefícios que ele possuía acabariam em
nada. Mas acabaram! E a morte acabou com ele!

Nos versículos 13-15, um contraste notável é feito entre a situação difícil do


rico mundano e a daquele do homem que confia em Deus. Para o
primeiro: "Como ovelhas são postos na sepultura", e "a morte é o seu pastor".
Para o último, contudo, o devoto salmista pode dizer: "Mas Deus remirá a
minha alma do poder da morte, pois ele me tomará para si."

Em conclusão, o salmista lembra os fiéis de que são os assuntos extremos da


vida que importam, não os prazeres momentâneos e não as fugazes posses
terrestres que muitos de nós temos (em certo grau), ao longo do caminho de
nossa vida aqui.

O versículo 20 é uma repetição, como refrão, do versículo 12. Se um homem


está em posição de honra "mas sem entendimento", ele é apenas "como os
animais, que perecem". Para dizer isto com nossas próprias palavras, se ele (1)
deposita confiança injustificada e imprópria nas posses terrestres; se (2) deixa
de reconhecer que a abundância e as riquezas terrestres tem que abandonar
um homem no final; e se (3) deixa Deus fora do quadro e não faz dele sua
confiança, sua esperança, e seu sempre confiável Pai, então ele (ou ela) está
agindo "como os animais que perecem". Que nenhum de nós cometa tão
grave engano!
Os Salmos e os Perversos
(Salmo 10)
por Mark White

A perversidade em todas as suas formas tem atormentado os justos desde o


Jardim do Éden. Se a perversidade e o pecado fossem simplesmente
imaginários antes que realidades de fato confrontando o homem justo, não
representariam nenhuma ameaça. Mas a perversidade é uma realidade, e é
praticada pelos homens perversos. Há personalidades atrás dos atos e
pensamentos perversos. As pessoas justas não podem simplesmente lidar com
a perversidade em si. Elas precisam também enfrentar aqueles que desafiam a
vontade de Deus para o viver justo, tratando com as próprias pessoas
perversas. Isto torna a perversidade difícil de lidar, e torna o problema de
resistir ao mal ainda mais espinhoso.

Através de toda a Escritura, o problema dos perversos é apresentado. Homens


justos freqüentemente se admiraram: "Por que os perversos
prosperam?" Jeremias estava tão perplexo com este paradoxo que
humildemente perguntou a Deus por que isso era assim (Jeremias 12:1). Por
que parece que a perversidade está vencendo a justiça? Não parece que
compensa ser perverso, e custa ser justo? Os Salmos tornam esta pergunta
mais fácil de entender e mais simples de suportar.

Nos Salmos a perversidade e os homens perversos são expostos pelo que eles
realmente são. Seu estado final é revelado, e os homens justos, lendo estes
salmos serão encorajados por eles. Estas passagens são imprecativas em tom,
porque o escritor brada a Deus por justiça. O Salmo 10 é um exemplo. Os
versículos um e dois registram um grito de protesto contra o que parece ser a
indiferença de Deus pelas injustiças dos perversos contra os pobres. "Por que,
Senhor, te conservas longe? E te escondes nas horas de tribulação? Com
arrogância, os ímpios perseguem o pobre; sejam presas das tramas que
urdiram." E, entretanto, Deus é inculpável. Pode parecer que os perversos
escapem da punição. De fato, este Salmo sugere que os próprios perversos
pensam que podem fazer tudo o que lhes agradar! O versículo 6 tem o homem
perverso dizendo: "Jamais serei abalado; de geração em geração nenhum mal
me sobrevirá". O versículo 11 diz: "Deus se esqueceu, virou o rosto e não
verá isto nunca". E, no versículo 13, o homem perverso renuncia a Deus
dizendo: "Deus não se importa". Ele realmente se convenceu de que pode
pecar com impunidade. Com efeito, ele está dizendo: "Deus não me vê. Não
serei apanhado. Mesmo que Deus de fato me veja, ele nunca me julgará!"
Mas o caso não é esse. Deus vê a aflição que seu povo experimenta nas
mãos dos perversos. Ele leva mesmo tais opressões e maus tratos em conta.
Ele sente o pesar de seu povo e ajuda-os bem do modo certo, bem no
momento justo. O salmista regozija-se porque Deus "o tens visto, porque
atentas aos trabalhos e à dor, para que os possas tomar em tuas mãos"
(10:14). Ele então ora a Deus: "Quebranta o braço do perverso e do malvado;
esquadrinha-lhes a maldade, até nada mais achares" (10:15). Pode parecer
estranho, na verdade, que o justo se regozije com a calamidade dos perversos.
Mas antes de ver tal exultação como uma vingança pessoal, deveremos
reconhecer que isto é uma parte da contínua luta entre o bem e o mal. Deus
derrotará totalmente os injustos e os perversos.

Pode ser que pensadores modernos não classifiquem tão nitidamente toda a
humanidade como perversos e justos, mas Deus o faz. Os Salmos falam deste
assunto freqüentemente. Para o salmista, não havia "meio termo". Ou um
homem é perverso (porque rejeita o domínio soberano de Deus em sua vida)
ou é justo. Salmo 14:1 é uma passagem familiar para aqueles que ouviram
bastante pregação e ensinamento. Uma lição sobre as evidências cristãs mais
cedo ou mais tarde inclui a escritura: "Diz o insensato no seu coração: Não há
Deus". Mas este salmo é, de fato, um contraste entre os ímpios e os justos.
Os justos são pessoas que confiaram no Senhor e buscam a ele e a sua
vontade (Salmo 24:5-6). Os Salmos definem os perversos como aqueles que
na prática são ateus. Deus não está nos seus corações. Um homem pode
realmente professar conhecimento acadêmico de Deus, mas se sua vida ignora
o Criador, ele é tão perverso como o próprio ateu. Se desobedecemos a Deus
e maltratamos aqueles que foram feitos a sua imagem, somos corruptos, e
portanto fazemos coisas corruptas, abomináveis (Salmo 14:1).

Para que não nos tornemos presunçosos e espiritualmente orgulhosos, vamos


ler os Salmos. Até poderíamos ver mais de nós mesmos neste espelho do que
gostaríamos. E poderíamos ficar bem surpresos com quem Deus chama
"perverso" (veja mais os Salmos 14, 58.)

O Salmo do Grande Pastor


(Salmo 23)
por Ron Edwards

Os poucos versículos que compõem este Salmo, se apagados, deixariam um


pequenino branco nas páginas de nossa Bíblia. Contudo, se os sentimentos
nele expressados fossem apagados da vida, eles deixariam um buraco sem
fundo no coração humano. O coração faminto não encontraria alimento; o
coração perdido, nenhuma orientação; e o coração moribundo, nenhuma
esperança. Afortunadamente, ele não foi apagado e cada homem que conhece
o Senhor como Pastor, não sentirá falta de nada. Tracemos a tese do
Salmo, "O Senhor é o meu pastor, nada me faltará", através da tríplice ênfase
do contexto.

1. Meu Pastor dá. Não me faltará provisão. A provisão satura este


Salmo: "pastos verdejantes", "águas de descanso", um "cálice transbordante",
etc. Estes, naturalmente, são símbolos do pastor dando às ovelhas o melhor, e
fazendo isso abundantemente. Mas, temos considerado o que custa ao pastor
fazer tal generosa provisão? As pastagens verdejantes simplesmente se
materializam nas colinas estéreis da Palestina? Não, estas provisões são o
produto de tremendo trabalho. O pastor precisa limpar as pedras, remover o
mato rasteiro, preparar o solo e irrigar os campos. Se isto não puder ser feito,
então ele faz longas viagens para pesquisar no terreno áspero e encontrar
pastagem. Daí, as dádivas do pastor vêm somente depois de tremendo
sacrifício pessoal. Sem seu sacrifício não haveria dádivas. Assim, sem o
pastor não haveria provisão.

Então, a satisfação das ovelhas é encontrada principalmente nas provisões ou


no provedor? Seu contentamento é radicado nas dádivas ou no doador? No
doador, naturalmente! Aprendamos que nosso Pastor proveu "toda sorte de
bênção espiritual" através de tremendo sacrifício (João 10:11). E mais,
compreendamos que, se o Senhor é nosso Pastor, então as provisões são
simplesmente suplementos agradáveis. Deveremos buscar o Pastor doador
por ele mesmo e nunca nos faltará provisão (Mateus 6:25-34).

2. Meu Pastor guia. Não me faltará orientação. O pastor é retratado duas


vezes no texto como guia. Isto é necessário porque nenhuma outra classe de
gado exige manejo mais cuidadoso, mais minuciosa condução, do que as
ovelhas. Se deixadas a si mesmas, elas pastarão em pastagens improdutíveis,
e perambularão sem rumo, tornando-se "comida fácil" para predadores
famintos. O homem não é diferente: "Todos nós andávamos desgarrados como
ovelhas" (Isaías 53:6). Há caminhos que nos parecem bons, mas sempre
levam à morte (Provérbios 14:12). Temos que confiar no Pastor porque só ele
conhece as boas trilhas. Ele esteve em toda parte para onde estou indo, até
através da morte, e retornou (Hebreus 13:20). Seu maior desejo é reconduzir
os homens à boa trilha, uma trilha que no fim conduz a uma "coroa da glória" (1
Pedro 5:4). Eu penso que é por isso que meu Pastor é cognominado "o
Caminho" (João 14:6)!

3. Meu Pastor guarda. Não me faltará proteção. Algumas vezes os


caminhos certos conduzem através do "vale da sombra da morte". Quando a
morte aparece no horizonte, Davi imediatamente deixa a terceira pessoa "ele"
pela mais íntima segunda pessoa do singular "tu". Davi não está mais falando
sobre o Pastor, ele está conversando com o Pastor. Note também: na
presença da morte o pastor não está mais conduzindo à frente. Ele está ao
lado, escoltando ("tu estás comigo"). As ovelhas, quando escoltadas por um
pastor onipotente que é mais destemido e feroz do que todos os adversários
combinados, "não temem mal nenhum". Elas sabem que o único modo do
perigo se aproximar é sobre o cadáver do pastor! Nós também, podemos ter
confiança sem medo na condução de nosso Pastor, mesmo quando ele conduz
através do vale sombrio da morte. É seguramente tranqüilizador saber que a
sombra de um cão não pode morder, a sombra de uma espada não pode matar
e com ele a sombra da morte não pode ferir. Portanto, se ele nos guiar para a
sepultura, deveríamos continuar a segui-lo ali. Tudo que lá está é uma
mortalha vazia e um lenço dobrado (João 20:6-7). A morte é nada mais do que
uma sombra sem dentes quando estamos na presença do Pastor Guardião!

Tragicamente, enquanto tudo isso que foi dito sobre o Pastor seja verdadeiro,
se ele não for meu Pastor, então estarei sempre em falta. Por isso é que ele
não é chamado um pastor, nemo Pastor, mas antes meu Pastor. É tão
lamentável que haja tantos que conhecem o salmista, muitos mais que podem
recitar o salmo, mas poucos que conhecem o Pastor pessoalmente. Você o
conhece? Se sim, nada lhe falta. Se não, você nada tem.
Os Salmos de Supremo Louvor
(Salmos 100, 103)
Por Mike Schmidt

Você, provavelmente, ouviu a história (talvez verdadeira, talvez não) do sujeito


que visitou uma igreja e, durante o sermão, continuava dizendo "Louva o
Senhor!" sempre que um ponto especialmente bom era dito. Mais tarde, um
irmão carrancudo apareceu e repreendeu-o, dizendo: "Olhe, não louvamos o
Senhor por aqui!"

Ou, você alguma vez leu o relato de Davi dançando quando a arca era levada
para Jerusalém, e instintivamente teve a mesma reação que Mical? (Veja 2
Samuel 6).

Os Salmos 95-100 (e talvez 103) compreendem um pequeno grupo de salmos


de adoração. Eles parecem ter sido escritos especialmente para serem usados
na adoração pública no Templo. E que esplêndidos cânticos eles são! Eles
oferecem louvor ao poder, glória, justiça e misericórdia de Deus, Dominador
das nações e Protetor de Israel.

Os Salmos 100 e 103 oferecem ambos supremo louvor a Jeová, mas de


diferentes perspectivas. O Salmo 100, o mais curto destes cânticos de
adoração, é um premente chamado para todas as nações da terra louvarem
Jeová. Eles deveriam vir diante dele com júbilo ruidoso de agradecimento.
Este é, certamente, um forte contraste com muitos salmos nos quais o
julgamento é dado às nações, mas ele ilustra claramente que Deus não
deseja "que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento" (2
Pedro 3:9).

O Salmo 100 é verdadeiramente universal em seu apelo ao homem todo o


povo pertence a Jeová, como "rebanho do seu pastoreio". Ele guia e alimenta
todos eles (Mateus 5:45). Antes dee abençoar o nome dos ídolos vãos, eles
deveriam entrar nos pátios de Jeová com louvor e agradecimento.

A este respeito, note especialmente que o versículo 5 exalta a "misericórdia" de


Deus. Misericórdia tem referência especial à bondade de Deus mantendo suas
alianças. Ele na verdade manteve sua promessa de abençoar todas as nações
através da semente de Abraão (Gênesis 12:1-3), e: "Reconheço, por verdade,
que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação
aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável" (Atos 10:34).

Em contraste com o estilo formal e o apelo a todos os homens para adorarem,


encontrados no Salmo 100, o Salmo 103 é pessoal e emocional. Escrito por
Davi, é um dos mais belos de todo o livro.
O coração de Davi se comoveu quando ele contemplou o Senhor. e
bradou: "Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo que há em mim bendiga ao
seu santo nome." Se sua alma jamais foi estimulada pela meditação a proferir
estas palavras, seu conhecimento de Deus e seu trabalho em sua vida estão
verdadeiramente empobrecidos. Talvez você precise gastar mais tempo
meditando sobre a palavra de Deus e suas dádivas a você, e menos tempo em
queixar-se, discutindo com outros sobre suas faltas, ou procurando alcançar
satisfação material.

Neste Salmo, quatro grandes bênçãos são enumeradas para você considerar:
Deus perdoa nossas iniqüidades, redime nossa vida da ruína, coroa-nos com
misericórdia e benevolência, e satisfaz nossos desejos com boas coisas
enquanto passamos pela vida. Que mais você quer? Como Tiago diz: "toda
boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto" (Tiago 1:17).

O quadro freqüentemente pintado em sermões sobre um Deus despeitado, que


está ansioso por destruir os homens pelo mais insignificante erro, é uma
mentira! Esteja certo de que Deus o julgará (18), mas ele está predisposto à
misericórdia, não à condenação (2 Pedro 3:9).

Enquanto encerramos, retornemos aonde começamos. Por que achamos difícil


ou pouco natural louvar a Deus? De todas as coisas erradas com as igrejas e
os indivíduos hoje, a falta de louvor entusiástico e sincero pode ser a mais
notável. Ela afronta a Deus e nos danifica espiritualmente de vários modos.
(Em si mesma, é um sintoma manifesto de fraqueza espiritual ou de morte.)
Estou lembrado das palavras de abertura da profecia de Isaías: "O boi
conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas Israel
não tem conhecimento, o meu povo não entende" (Isaías 1:3). Até mesmo seu
cão conhece quem cuida dele, e o lambe por isso. E você? Considera quem
cuida de você?

Caia de joelhos e diga: "Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há


em mim bendiga ao seu santo nome!"

O Salmo do Homem Fiel


(Salmo 1)
por Jim Ward

O primeiro Salmo é direto, vívido e poderoso. Com imagens transparentes mas


irresistíveis, o salmista confronta-nos e incita-nos com o chamado à
espiritualidade. Não podemos fazer nada mais sábio do que aceitar seus
desafios.

O desafio dos dois caminhos


Podemos ser "bem-aventurados" (1:1) ou podemos "perecer" (1:6); podemos
buscar a sabedoria dos pecadores (1:1) ou ter nosso prazer "na lei do
Senhor" (1:2). Podemos ser frutíferos (1:3) ou estéreis (1:4). É claro, há
somente duas estradas para viajar e somente dois destinos possíveis. E,
igualmente claro, não podemos fazer a viagem errada e terminar no destino
certo. Jesus confirmou este princípio quando falou de somente dois caminhos,
o estreito. que conduz à vida, e o largo que conduz à destruição (Mateus 7:13-
14).

É preciso convicção, integridade e coragem para permanecer na verdade que


qualquer um, que não seja comprometido com o bem, é mau. Muitos de nós
remexemos nisto, procurando alguma terceira saída, imaginada quando
estamos espiritualmente ou moralmente indecisos. O que nos leva a um
desafio ainda mais fundamental neste Salmo.

O desafio de desenvolver um caráter

Justamente como o filósofo, em Provérbios, insiste em que a sabedoria vem


somente a custo de caráter, o salmista aqui diz o mesmo sobre piedade. É
grátis para todos que a querem, entretanto é tão custosa como negar a si
mesmo. Como é normal na Escritura, a mente é tratada como a chave do
homem: "como imagina em sua alma, assim ele é" (Provérbios 23:7). Jesus
afirmou este princípio em Mateus 12:35: "O homem bom tira do tesouro bom
cousas boas; mas o homem mau do mau tesouro tira cousas más." Se um
homem gostar da bem-aventurança, então tem que deleitar-se "na lei do
Senhor", e meditar nela "dia e noite". Como Derek Kidner o propõe: "O Salmo
se contenta em desenvolver este único tema, implicando que o que realmente
forma o pensamento de um homem, forma sua vida." Então, aqui está a
metodologia de Deus: muda o coração, muda o homem.

"Medita" tem uma derivação interessante. Significa "gemer, cantarolar, falar,


pensar." A idéia é para ponderar, falando consigo mesmo. Eis aqui um
homem tão envolvido na palavra de Deus, que a repete para si, repetindo uma
frase aqui e um versículo ali, dizendo-o numa voz baixa, para pegar o som e o
sentido dele. Obviamente, tal interesse vem somente do deleite; não pode ser
constrangido! Lidando com a imagem de Jesus em Mateus 4:4, C. H.
Spurgeon propõe: "A lei do Senhor é o pão de cada dia do verdadeiro crente".

Não é assim o zombador; ele escarnece a lei de Deus, mas está condenado à
frustração e à morte. Ele ridiculariza a palavra de Deus, mas não pode destruí-
la. Ele a desobedece, mas não pode fugir dela. Ele não "prevalecerá no juízo"
(1:5). Como o homem de Amós 5:19, ele foge de um leão, somente para ser
apanhado por um urso; ele se refugia em sua casa somente para ser mordido
por uma serpente. Não há como escapar de Deus. Jonas aprendeu bem esta
lição.

O desafio de confiar em Deus pelo sucesso

Aquele que resiste ao caminho dos pecadores e se regozija na vontade de


Deus será como uma árvore frutífera. Talvez Josué 1:8 seja o melhor
comentário sobre nosso texto: "Não cesses de falar deste livro da lei; antes,
medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto
nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido."
Precisamos ser lembrados de que o sucesso para o fiel não é medido pela
riqueza ou posição?

Não ha maior desafio ou mais doce privilégio do que andar com Deus, como o
fez Enoque. Oh, ser justo e fazer Deus "conhecer" nosso caminho, estar em
sua amável companhia. Oh, ser abençoado, e ser uma bênção!

O Salmo de Deus Pai e de Deus Filho


(Salmo 2)
por Robert F. Turner

O segundo Salmo é messiânico, como é atestado por diversas passagens do


Novo Testamento. Quando os governantes proibiram a pregação de Cristo, os
irmãos de Jerusalém citaram o Salmo 2: "Por que se enfurecem os gentios . .
." (Atos 4:25). Esta passagem também aponta Davi como o autor do Salmo.
Paulo liga Cristo com este salmo em Atos 13:33; e o escritor de Hebreus cita-o
com referência à superioridade de Cristo aos anjos (Hebreus 1:5), e em
mostrar que Cristo era um sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque
(Hebreus 5:5-6).

Enquanto o Salmo 1 contrasta os indivíduos justos com os perversos, o Salmo


2 opõe as nações ímpias contra o reino de Deus, tanto físico como espiritual.
O Salmo é facilmente subdividido na base de vários oradores. Primeiro, o
poeta pergunta por que as nações se enfurecem contra Jeová (2:12); segundo,
ele cita o desejo delas de escaparem das restrições, tanto de Jeová como de
seu Ungido (2:3); então, terceiro, retrata Deus ridicularizando tais loucas
tramas (2:4-5); e dizendo, quarto: "Eu, porém, constituí o meu rei sobre o meu
santo monte Sião" (6). No sentido físico e imediato, isto poderia se referir a
Davi reinando sobre Israel; mas, como uma profecia messiânica, certamente se
refere a Cristo (o "Ungido") reinando sobre seu reino espiritual.

Então, quinto, o próprio Filho fala do decreto: "Ele me disse: Tu és meu Filho,
eu, hoje, te gerei" acrescentando mais promessas de que o Filho reinará sobre
as nações, com poder para destruir seus inimigos. O Salmo conclui, sexto,
com o poeta exortando os reis e juízes da terra: "Servi ao Senhor com temor" ,
e "Beijai o Filho para que não se irrite, e não pereçais no caminho" (veja Salmo
110).

O Salmo 2 apresenta o Ungido como o Filho de Jeová; e tem Deus dizendo:


"Hoje, te gerei". Entretanto, João identifica Jesus como "o Verbo", que
estava "no princípio . . . e era Deus"(1 João 1:1; João 1:1); Jesus falou ao Pai
da "glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo" (João 17:5); e
Paulo diz que Cristo, antes de sua encarnação, "não julgou como usurpação o
ser igual a Deus" (Filipenses 2:6). Como pode um filho gerado coexistir
eternamente com o Pai? Para resposta, precisamos estudar o uso inspirado
desta terminologia.

O Israel físico era chamado "filho" de Deus e "primogênito" (Êxodo 4:22), como
o era Efraim (Jeremias 31:9). Neste caso, os termos implicavam "o favorecido"
ou "o exaltado," sem referência à genética. Os leitores da Bíblia sabem que a
"semente" de Davi seria chamada filho de Deus, e que reinaria para sempre (2
Samuel 7:11) encontrou seu cumprimento no reino espiritual de Jesus Cristo
(Atos 2:29-30). Ele era, na verdade, "segundo a carne . . . da descendência de
Davi" mas "designado Filho de Deus com poder . . . pela ressurreição dos
mortos"(Romanos 1:3-4).

Há uma relação entre a maneira da concepção de Maria (Espírito Santo, e


poder do Altíssimo) e o nascimento de Jesus: "o ente santo que há de nascer
será chamado Filho de Deus" (Lucas 1:32-35). Mas isto foi o princípio de sua
encarnação (sendo vestido com carne), certamente não o seu princípio como
divindade. Já vimos que ele tinha glória com Deus antes da criação, e veio à
terra como "Emanuel . . . Deus conosco" (Mateus 1:23). Quando Paulo cita o
Salmo 2 ("eu, hoje, te gerei") e relaciona "hoje" com a ressurreição (Atos
13:33), podemos concluir que ele se refere a "glorificação", "exaltação" e
"posição favorecida" que acompanharam o cumprimento por Cristo de seu
propósito no plano da redenção. Cristo perdoou pecados enquanto estava na
terra (Marcos 2:5-12), e de muitos outros modos provou ser "Deus conosco".
Em seguida à sua ressurreição, a prova máxima, ele se tornou Rei, Sumo
Sacerdote, e nosso Advogado junto ao Pai, e retornou ao seu lugar à direita de
Deus no céu (João 17:5).

O Deus único da Bíblia é trino por natureza, cada um tendo papéis distintos e
traços pessoais, entretanto sendo uno em propósito. Davi era guiado por
Deus, o Espírito Santo (Atos 5:34; Marcos 12:36) para escrever o Salmo 2
(Atos 4:25) a respeito de Deus Pai e de Deus Filho. É tolice pensar que o
homem pode sondar e "explicar" a divindade. Precisamos esforçar-nos para
entender a terminologia das Escrituras, aceitar o que ali está revelado, e
preparar-nos para o dia quando Deus receber os fiéis e manifestar todas as
coisas adicionais que ele deseja que conheçamos.

O Salmo da Unidade
(Salmo 133)
Por Barry Hudson

Você já esteve em férias e visitou uma igreja onde a unidade fosse uma
realidade profundamente enraizada? Esta harmonia foi claramente vista pelo
interesse sincero, entusiasmo e felicidade entre os membros. Ou a igreja
estava com tantos atritos que você percebeu imediatamente? A unidade entre
os cristãos é, às vezes como dois porcos-espinhos friorentos encostados um
ao outro; eles precisam um do outro, mas se espinham um no outro!
O Salmo 133 nos dá o lado positivo da unidade. É um cântico de ascensão
que significa que quando os peregrinos subiam ao Monte Sião cantavam este
Salmo juntos. Uma das razões pelas quais Deus escolheu um lugar para
adoração foi preservar a unidade da nação. O pecado de Jeroboão na
adoração do bezerro quebrou a unidade que aquela adoração em Jerusalém
preservava.

No versículo 1, Davi diz que a unidade é boa e agradável. A palavra hebraica


para agradável é usada de vários modos para a harmonia da música, para um
campo coberto de trigo e para a doçura do mel. A unidade é tão doce como o
mel ou tão harmoniosa como um cântico bem cantado. Davi tinha visto
bastante desunião em seu tempo de modo que, quando a nação foi reunida,
que gloriosa era! Algumas pessoas têm prazer no conflito, mas como
precisamos desenvolver um coração que se agrada com a unidade!

Nos versículos 2-3, Davi dá duas ilustrações para descrever a bem-


aventurança em tal unidade. Primeiro, ele se refere ao precioso óleo. Este
óleo santo continha mirra, canela, junco perfumado e cássia. Quando o sumo-
sacerdote chegava, podia-se sentir esta suave fragrância. Não era ofensiva a
ninguém. É deste modo que deve ser nossa comunhão com o povo de Deus.
Quando os cristãos convivem juntos em unidade, que suave fragrância isto é!

Note também que este óleo era derramado na cabeça, escorria pela barba
abaixo e ia até os pés. Isto nos diz como era completa esta unção. Assim
deveria ser nossa unidade: total, sem levar em conta a proeminência nem o
poder das pessoas, mas amando todos os que são cristãos, não importa qual
possa ser sua posição na vida.

A segunda ilustração da amenidade da unidade é o perpétuo orvalho. Duas


coisas são necessárias para a formação do orvalho: umidade e frio. Sendo a
Palestina próxima ao Mar Mediterrâneo, há sempre uma grande porcentagem
de vapor d'água no ar. O Monte Hermom, aquele grande pico coberto de neve
ao norte, provê o frio. Depois do pôr do sol, com o frio do monte Hermom, a
umidade é condensada em orvalho. Se não fosse pelo orvalho no verão, toda
a vegetação pereceria. No norte de Israel, os orvalhos são tão densos que as
plantas e árvores são literalmente molhadas com água à noite. Assim, a
montanha gigante está constantemente juntando e enviando nuvens que
descem para Sião para levar orvalho à terra.

Davi pode estar dizendo que quando os irmãos israelitas do norte se unem com
aos irmãos do sul em Jerusalém, para adorar a Deus juntos, é como este
processo climático natural. É o que mantinha os israelitas nutridos
espiritualmente quando eles se encorajavam uns aos outros nas coisas de
Deus.

E assim como os densos orvalhos da Palestina refrescam e revigoram a vida


das plantas, do mesmo modo, a bênção da unidade desce sobre a igreja onde
as virtudes espirituais podem se desenvolver e florescer nas vidas do povo de
Deus. A discórdia rompe, destrói e mata todas as virtudes mais finas que
poderiam crescer facilmente sob a bênção da verdadeira unidade.

Quando os cristãos convivem em unidade, Deus pode abençoar esse


relacionamento porque eles não ergueram barreiras que evitem essas
bênçãos. Assim, nossa "vida" (133:3), em algum grau, depende da verdadeira
unidade.

Unidade real. Não pode ser conseguida por esforço pessoal. Não vem com o
entusiasmo da torcida. Não se pode fazer com que venha, mas quando todas
as condições são bem apropriadas, a unidade já vem. Todos estes anos temos
estado tentando produzir ou buscar unidade, mas a unidade não é algo que se
possa adquirir pela procura. Ela vem por sermos um certo tipo de pessoas
cristãos e então ela é apenas um sub produto do caráter que estabelecemos
em nossas vidas com outros cristãos de uma mesma fé.

Teriam os cristãos de hoje em dia atingido este ideal bíblico de unidade? Que
cada um de nós se pergunte: "Será que minha relação com outros cristãos
oferece a fragrância do ungüento e do orvalho refrescante e sustentador da
vida? Se não, o que precisa mudar?"

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