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UNIVERSIDADE​ ​FEDERAL​ ​DO​ ​ESPÍRITO​ ​SANTO

CENTRO​ ​DE​ ​CIÊNCIAS​ ​HUMANAS​ ​E​ ​NATURAIS​ ​-​ ​CCHN


DEPARTAMENTO​ ​DE​ ​LÍNGUAS​ ​E​ ​LETRAS​ ​-​ ​DLL

Francielle​ ​Timotheo​ ​Villaça


Roberto​ ​d'Assumpção​ ​Silva
João​ ​Vitor​ ​de​ ​Castro

A​ ​COLOCAÇÃO​ ​PRONOMINAL​ ​DE​ ​TEMER​ ​E​ ​LULA:​ ​UMA​ ​ANÁLISE


SOB​ ​A​ ​PERSPECTIVA​ ​DA​ ​SOCIOLINGUÍSTICA​ ​VARIACIONISTA

Trabalho​ ​realizado​ ​para​ ​a​ ​disciplina​ ​de​ ​sociolinguística


Profa.​ ​Dra.​ ​Leila​ ​Maria​ ​Tesch

Vitória
2017
RESUMO
​O trabalho analisa o fenômeno da colocação pronominal nas falas do presidente
Michel Temer e do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, com base em um corpus
composto por entrevistas, discursos e pronunciamentos oficiais dos dois políticos. Dessa
forma, seguindo os pressupostos da sociolinguística variacionista de orientação laboviana
(WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968; LABOV, 1972, 1978, 1994) e com o levantamento
realizado por Peterson (2010) acerca da colocação pronominal em cartas de leitor de
jornais do Rio de Janeiro, foi concluído que a principal motivação que influencia a variação
pronominal (próclise, mesóclise e ênclise) é de ordem linguística, tratando-se do gênero
textual.​ ​Entretanto,​ ​também​ ​foram​ ​analisadas​ ​variáveis​ ​de​ ​ordem​ ​extralinguística​ ​e​ ​social.

Palavras-chave:​ ​colocação​ ​pronominal,​ ​clítico,​ ​Temer,​ ​Lula,​ ​variação

INTRODUÇÃO
Embora muitos estudos tenham se debruçado sobre a colocação pronominal,
acredita-se haver, ainda, muito a ser investigado sobre esse fenômeno, especialmente no que
tange às normas que orientam o padrão das construções pronominais na modalidade falada do
Português do Brasil. Tem-se assumido, considerando outros estudos sobre o tema (VIEIRA,
2002; Machado, 2006; NUNES, 2009), que a ocorrência de mesóclise é rara e bastante
peculiar. Trata-se, portanto, de uma marca tradicional da escrita veiculada a gêneros de alto
padrão ou de um gênero altamente especializado. Na fala, essa variante é sinal de um
rebuscamento ainda maior, já que está definitivamente extinta nessa modalidade do português
brasileiro. No entanto, o presidente Michel Temer é constantemente alvo de críticas pelo uso
aparentemente excessivo dessa variante. Essa discordância entre uma aparente extinção da
mesóclise no português falado brasileiro e o seu suposto uso excessivo na fala do atual
presidente é uma das questões que justificam a escolha do atual corpus. Por outro lado, não
era desejado que a pesquisa se reduzisse a uma análise da variação intra falante, portanto,
foram analisadas não somente as falas de Temer, mas, também, a do ex-presidente Lula com
o​ ​objetivo​ ​de​ ​comparar​ ​a​ ​ocorrência​ ​da​ ​colocação​ ​pronominal​ ​nas​ ​falas​ ​dos​ ​dois​ ​indivíduos.
Interessa investigar, especialmente, a hipótese de que a próclise é a variante
preferencial na língua portuguesa falada, de acordo com o que foi atribuído nos estudos de
Mattoso Câmara Jr. (1981). Isto porque, restam poucos resquícios da mesóclise mesmo na
modalidade escrita de nossa língua, restringindo-se a contextos de alto grau de formalidade,
e, quanto à ênclise, que predominou até o séc XIX, orienta fundamentalmente o PE, enquanto
o PB é essencialmente proclítico. Esse movimento de afastamento da ênclise e da mesóclise
na modalidade oral da língua constitui uma evidência da “língua como fenômeno complexo,
multissistêmico”, como defende Castilho (2010). Por hipótese, o presidente Temer por
direcionar-se majoritariamente à classes mais abastadas socioeconomicamente (e
supostamente mais escolarizadas), tenderia a ser mais rigoroso com o que se idealiza como o
padrão culto falado e realizaria um maior número de mesóclise e ênclise, enquanto Lula, o
ex-metalúrgico canonizado como presidente “do povo”, por dirigir-se em seus discursos,
entrevistas e pronunciamentos majoritariamente às classes menos abastadas (e supostamente
menos escolarizadas) teria menor compromisso em reproduzir a norma culta prescrita pela
gramática normativa, e, daria preferência majoritária ao uso da próclise. Assim, para os
propósitos da pesquisa, na contraposição entre Lula, por ser visto como próximo ao cidadão
comum, espera-se ter uma fala mais próxima da fala informal e comum da população
brasileira, e Temer, visto como uma antítese: um homem rico, que chegou ao poder não por
votos, mas por sistemas e mecanismos políticos, que, portanto, teria uma linguagem mais
formal e próxima da norma culta, pelo seu pertencimento de longo tempo à alta classe
política​ ​brasileira.
Em linhas gerais, nosso estudo pretende: (i) determinar, em termos labovianos, o
padrão de colocação pronominal e suas motivações linguísticas e extralinguísticas nos
discursos, entrevistas e pronunciamentos de Lula e Michel Temer, (ii) verificar uma possível
consonância entre o perfil de político popularmente criado sobre a imagem dos dois
indivíduos e o padrão de escolhas linguísticas no que se refere à coloção pronominal - sendo
elas mais ou menos conservadoras, (iii) contribuir na evolução dos estudos de variação
linguística, sobretudo no campo da colocação pronominal, (iv) oferecer conhecimentos que
contribuam​ ​para​ ​o​ ​estudo​ ​do​ ​português​ ​brasileiro​ ​na​ ​modalidade​ ​oral.

FUNDAMENTOS​ ​TEÓRICOS
​No desenvolvimento da proposta dessa pesquisa e na elaboração dos objetivos já citados,
considerou-se os pressupostos teóricos da sociolinguística variacionista de orientação
laboviana. Dessa forma, acredita-se que a língua não é uma estrutura pronta e imutável, mas,
suscetível a mudanças e variações de acordo com forças que agem sobre a língua e que são
capazes​ ​de​ ​influenciá-la.​ ​De​ ​acordo​ ​com​ ​Mollica​ ​(2004),​ ​a​ ​sociolinguística​ ​trata-se​ ​de:
​ ​ ​ ​ ​Uma​ ​das​ ​subáreas​ ​da​ ​Lingüística​ ​que​ ​estuda​ ​a​ ​língua​ ​em​ ​uso​ ​no
seio​ ​das​ ​comunidades​ ​de​ ​fala,​ ​voltando​ ​a​ ​atenção​ ​para​ ​um​ ​tipo​ ​de​ ​investigação​ ​que
correlaciona​ ​aspectos​ ​lingüísticos​ ​e​ ​sociais.​ ​Esta​ ​ciência​ ​se​ ​faz​ ​presente​ ​num​ ​espaço
interdisciplinar,​ ​na​ ​fronteira​ ​entre​ ​língua​ ​e​ ​sociedade,​ ​focalizando​ ​precipuamente​ ​os
empregos​ ​lingüísticos​ ​concretos,​ ​em​ ​especial​ ​os​ ​de​ ​caráter​ ​heterogêneo.​ ​(p.​ ​9)
A sociolinguística busca analisar e descrever de forma científica a variação existente
em todas as línguas. Para tanto, entende-se que essas variações não acontecem aleatoriamente
e não são meros frutos do acaso, mas que, existem forças dentro e fora da língua que
condicionam a sua variação, à essas forças damos o nome de variáveis independentes - que
podem ser estruturais (de ordem interna ao sistema) ou sociais (de ordem externa). As
variáveis estruturais são encontradas em diferentes níveis linguísticos: lexical, fonológico,
morfológico, sintático e discursivo, As variáveis sociais, por sua vez, relaciona-se aos
seguintes fatores: faixa etária, gênero, origem geográfica, nível de escolaridade, status
sócio-econômico,​ ​entre​ ​outros.
Proposto inicialmente por William Labov, esse modelo de análise e descrição surgiu
durante a década de 1960 e divergia do modelo estruturalista que predominava até aquele
momento.​ ​Segundo​ ​Labov​ ​(1968):
Os procedimentos da lingüística descritiva se baseiam no
entendimento de que a língua é um conjunto estruturado de normas sociais. No passado,
foi útil considerar que tais normas eram invariantes e compartilhadas por todos os
membros da comunidade lingüística. Todavia, as análises do contexto social em que a
língua é utilizada vieram demonstrar que muitos elementos da estrutura lingüística estão
implicados na variação sistemática que reflete tanto a mudança no tempo quanto os
processos​ ​sociais​ ​extralingüísticos.
​Uma variável linguística representa as múltiplas formas de se enunciar a mesma
informação. As variantes linguísticas representam a forma como essas variáveis se alternam
em um determinado contexto enunciativo. Para o estudo de uma variável, considera-se os
fatores que determinam a escolha de uma variante. Cabe à sociolinguística, então,
sistematizar esses fatores e depreender regras da língua, mesmo diante suas mudanças e
variações.
https://periodicos.ufsc.br/index.php/forum/article/viewFile/1984-8412.2012v9n1p57/22553
http://150.164.100.248/marciarumeu/data1/arquivos/COSTA2014PDF.pdf
http://www.filologia.org.br/vijonafil/atas/o_uso_e_a_ordem.pdf
https://periodicos.ufsc.br/index.php/workingpapers/article/view/1984-8420.2013v14n2p85
http://www.revistas.usp.br/flp/article/view/5970

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