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Fernando Pessoa – Ortónimo

Fernando Pessoa conta e chora a insatisfação da alma humana. A sua precaridade, a sua
limitação, a dor de pensar, a fome de se ultrapassar, a tristeza, a dor da alma humana que se
sente incapaz de construir e que, comparando as possibilidades miseráveis com a ambição
desmedida, desiste, adormece e dissipa a vida no tédio.
Os remédios para esse mal são o sonho, a evasão pela viagem, o refúgio na infância, a crença
num mundo ideal e oculto.
Todos estes remédios são tentativas frustradas porque o mal é a própria natureza humana e o
tempo a sua condição fatal.
É uma poesia cheia de desesperos e de entusiasmos febris, de náusea, tédios e angústias
iluminados por uma inteligência lúcida – febre de absoluto e insatisfação do relativo.
A poesia está não na dor experimentada ou sentida mas no fingimento dela, apesar do poeta
partir da dor real “a dor que deveras sente”. Não há arte sem imaginação, sem que o real seja
imaginado de maneira a exprimir-se artisticamente e ser concretizado em arte.
Esta concretização opera na memória a dor inicial fazendo parecer a dor imaginada mais
autêntica do que a dor real.
Podemos chegar à conclusão de que há 4 dores: a real (inicial), a que o poeta imagina (finge), a
dor real do leitor e a dor lida, ou seja, intelectualizada, que provém da interpretação do leitor.

Características temáticas:

O fingimento artístico - Fingir é inventar, modelar, construir, elaborando mentalmente


conceitos que exprimem as emoções ou que quer comunicar – processo criativo desenvolvido
pelo poeta. Em suma, a criação poética constrói-se através da conciliação e permanente
interação da oposição razão/sentimento.

A dor de pensar- O poeta debate-se frequentemente com as dialécticas sentir/pensar e


consciência/inconsciência, tentando encontrar um ponto de equilíbrio, o que não consegue.
Fernando pessoa sente-se condenado a ser lúcido, a ter de pensar, isto é, considera que o
pensamento provoca a dor.
O poeta inveja aqueles que são inconscientes e que não se despertam para a atividade de
pensar, como uma “pobre ceifeira”, que “canta como se tivesse mais razões para cantar que a
vida”.
Em suma, a “dor de pensar” que o autor diz sentir, provém de uma intelectualização das
sensações à qual o poeta não pode escapar, como ser consciente e lúcido que é.

A nostalgia da infância - Do mundo perdido da infância, Pessoa sente nostalgia, o tempo é para
ele um fator de desagregação na medida em que tudo é breve, tudo é efémero. O tempo apaga
tudo. Ao mesmo tempo que gostava de ter a infância das crianças que brincam, sente a
saudade de uma ternura que lhe passou ao lado.
Frequentemente, para Fernando Pessoa, o passado é um sonho inútil, pois nada se
concretizou, antes se traduziu numa desilusão. Por isso, o constante descrença perante a vida
real e de sonho. Daí, também, uma nostalgia do bem perdido, do mundo fantástico da infância,
único momento possível de felicidade.
Características estilísticas:

 Uso de símbolos (reaproveitamento de símbolos tradicionais)


 Preferência pela métrica curta. (2 a 7 sílabas–Dissílabos/Redondilha maior).
 Gosto pelo popular (uso frequente da quadra/quintinha; rima
cruzada).
 Linguagem simples, espontânea, mas sóbria.
 Criação de metáforas inesperadas, uso frequente do paradoxo.
 Versos leves em que recorre frequentemente à interrogação, às
reticências.
 Efeitos musicais (eufonia – harmonia de sons; Aliteração; Rima)

Fernando Pessoa – Heterónimo – Alberto Caeiro

Alberto Caeiro, nascido em Lisboa, era o mais objetivo dos heterônimos. Alberto Caeiro é
considerado o mestre de Fernando pessoa e dos outros heterónimos.

Características temáticas:

- Procura estar sempre em conformidade com a natureza e estabelecer uma relação simbiótica
com ela; assume-se como membro integrante da natureza, em toda a sua poesia, faz-se notar
uma abundante predominância de descrições da natureza. É o poeta da Natureza, que está de
acordo com ela e a vê na sua constante renovação.
Caeiro apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos”, que só se importa em ver, de
forma objetiva e natural, a realidade com a qual contacta a todo o momento. Daí o seu desejo
de integração e comunhão com a Natureza.
- Buscava o objetivismo absoluto, eliminando todos os vestígios da subjetividade.
- Opõe-se radicalmente ao intelectualismo, à abstração, à especulação metafísica e ao
misticismo.
- Sensacionismo: preferência pelas sensações visuais (o olhar) e auditivas.
Considera que “pensar é estar doente dos olhos”- ver é conhecer e compreender o mundo, por
isso pensa, vendo e ouvindo. “Pensar é não compreender”, o que significa que recusa o
pensamento metafísico. (Ao anular o pensamento metafísico e ao voltar-se apenas para a visão
total perante o mundo, elimina a dor de pensar que afeta Pessoa).
- É o menos "culto" dos heterônimos, o que menos conhece a Gramática e a Literatura.
Caeiro vê o mundo sem necessidade de explicações, sem princípio nem fim, e confessa que
existir é um facto maravilhoso.
Para Caeiro o mundo é sempre diferente, sempre múltiplo, por isso, aproveita cada momento
da vida e cada sensação provocada, apreciando a beleza das coisas na sua originalidade e na
sua simplicidade.
-Desvalorização da categoria conceptual do tempo, vivencia plena do presente, recusando o
passado e o futuro ,o tempo é feito de instantes do presente.
Resumindo, este heterónimo pessoano, representa a tranquilidade que o seu
criador nunca conseguiu encontrar.
Características estilísticas:

. Verso livre, métrica irregular;


. Pobreza lexical (linguagem simples, familiar);
.Predomínio do presente do indicativo;
. Comparações simples e raras metáforas, metonímias e sinestesias;
. Ausência de preocupações estilísticas

Fernando Pessoa – Heterónimo – Ricardo Reis

Ricardo Reis, nascido no Porto, representa a vertente clássica ou


neoclássica da criação de Fernando Pessoa.

Características temáticas:

Sua linguagem é contida, disciplinada. Seus versos são, geralmente,


curtos. Apoia-se na mitologia greco-romana, é adepto do estoicismo e
do epicurismo (saúde do corpo e da mente, equilíbrio e harmonia)
para que se possa aproveitar a vida, porque a morte está à espreita

Álvaro de Campos, nascido no Porto, é o lado "moderno" de Fernando


Pessoa, caracterizado por uma vontade de conquista, por um amor à
civilização e ao progresso. Campos era um engenheiro inativo,
inadaptado, com consciência crítica.

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