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Para: Helena.
A poesia mais bonita que eu nunca terminei.
(E jamais vou terminar)
Sumário
SOPHIA
going back
entre bilhetes e recordações
but don't hurry and speed
como você reagiria?
mistery of love
palavras inventadas
como alguém que ama o abismo
eight
medianeira
minas gerais
NÃO ESTACIONE!
mas eu não choro e você?
o adeus que eu nunca dei
i just wanna be there
a poem about:
AEROPORTOS
paralelas
de fé
por isso, não se esqueça, dói
easy
chacarera
arames, cercas e muros
why are you so far from saving me?
over and over again
november rain
my dear, I swear I'll see you
she took my soul
o samba mais bonito que eu já vi
reparei que tinha ficado lá
casa pronta
não pouse em congonhas
sing me to sleep
pr’aqueles que conhecem a parede da casa de Deus
heads or tails
na nossa estante
sábado, signo e carnaval
sem fé e sem crença
ghost of you
pisou na minha casa sem limpar os pés
silhouette
BIFURCAÇÃO
de outro carnaval
outside
o tudo e o nada
quem dera
montreal, 10-8-17
she’s such a charmer, oh no
o primeiro poema pra ela
eu não sabia que seria o fim
portos, lemes, faróis e âncoras e eu e você
cranberries
vendida
ana,
o último café
berlim
hurricane katrina
spectrum
J.,
ver o sol se pôr vermelho
noite estrelada
Prefácio
- Alt-J
going back
você me levou ao seu lugar favorito. nem precisou dizer que era lá, dava pra perceber no brilho
dos seus olhos quando você disse pr’eu subir naquela pedra que dá pra ver a cidade quase toda.
era como se os arranha-céus da ilha de vitória estivessem beijando o céu estrelado, como se o
céu e a terra estivesse preparado um espetáculo entre luz e sombras só pra gente ver.
eu ficaria ali te observando falar por horas e horas, fitaria seus olhos preguiçosos olhando a
cidade de cima. juro que se pudesse ficar mais, não mexeria no teu cabelo macio que você
insiste em achar que fica mais legal desarrumado
e eu também acho.
te beijaria em cima daquela pedra até o dia amanhecer e a gente poderia ver o sol nascendo.
eu não queria ter pretensão nenhuma, mas você me deixou sem saída.
seus olhos combinavam com o brilho das estrelas, com o céu, com as luzes da cidade, comigo.
no momento que nos beijamos, eu soube que um dia era pouco pra ter você.
entre bilhetes e recordações
entre meus números mais complexos, minhas inequações sem solução, meus sistemas lineares,
está você,
talvez a incógnita mais complicada
[e bonita]
que eu já vi.
teus problemas,
tuas soluções,
tuas combinações,
tudo me deixa com vontade de ficar e descobrir o que acontece depois.
se seus dedos finos se encaixam perfeitamente no meio dos meus
e dentro de mim.
palavras inventadas
passaria horas tentando achar palavras difíceis e que não sei significado pra te escrever,
acontece que os teus olhos simplificam e descoisificam
qualquer coisa,
eles poderiam apaziguar a guerra fria.
depois de tanto murro em ponto de faca, encontrei você.
perdi o medo no instante que senti tua mão em volta do meu pescoço, quando atravessei duas
cidades só pra passar uma noite com você, quando eu bati à porta e tu abriu.
perdi o medo de sentir.
será que os grãos de areia podem me dizer que depois daquele beijo
se ela me perguntasse, agora, o que me faz ficar, eu com certeza diria que a certeza da incerteza
que ela traz consigo e todo o resto da bagagem que um dia eu prometi levar, e ela lembra bem
disso.
e eu trouxe, cada pedacinho, mania e toda a constelação de pintas das costas dela.
às vezes Helena me pergunta como foi meu dia, noutras pergunta se tenho algo de novo,
raramente eu tenho algo a contar, não sei nem se existe algo sobre mim que ela não saiba.
ela conhece desde o meu estalar de dedos quando fico nervosa até o meu jeito de lidar com
elogios.
se ela me perguntasse, agora, o que eu mais gosto nela, eu diria o jeito como ela me desafia
quando diz toda a verdade, quando faz o oposto do que eu. faz dez anos que eu a beijei pela
primeira vez, eu lembro que no primeiro toque dos dedos dela no meu pescoço, eu quis correr e
ficar
ao mesmo tempo.
se eu fosse fazer uma pergunta a helena, seria:
hipoteticamente, se eu te levar girassóis num domingo à tarde, você vai correr?
eight
definitivamente este não era um bom dia pra nenhuma de nós duas, mas só de estar ao seu
lado, eu me dava por satisfeita. como sempre me contento com pouco e como tudo que ela me
deu, metade.
pediu pra acender meu cigarro, dizendo que sempre quis acender o cigarro de alguém, eu seria
a primeira pessoa, mas com certeza, não a última. eu sentia medo.
dos seus dedos,
do isqueiro branco que queimava o meu cigarro,
da lagoa que estava na nossa frente e dos patos que surgiam do nada,
medo daquele guarda que estava atrás da gente, nos observando
e do que as duas meninas sentadas do outro lado poderiam falar de nós,
do céu nublado e da chuva que cairia em nós depois de 26 minutos.
também era a primeira vez que alguém acendeu um cigarro pra mim,
era a primeira vez que eu tomava banho de chuva, ao invés de correr pra debaixo de algum
lugar, que alguém me puxou pela mão com pressa para atravessar o semáforo, que dividi um
maço de cigarro com alguém,
foi a primeira vez que alguém disse que eu era alguém bacana de se estar.
foi nesse dia que percebi que qualquer coisa que eu fizesse com ela, seria a primeira vez,
a primeira mulher,
o primeiro maço.
a única coisa que eu não percebi que pra ela eu era só mais uma, mais uma entre tantas as
quais ela diga que é alguém bacana de se estar.
eu não queria alguém que escrevesse pra mim, eu queria uma bela história, eu queria escrever a
minha própria história, e que fosse como a primeira vez pra Helena também. mas como todas
as coisas que eu não entendo e não pergunto, essa é só mais uma. a sinceridade parece mais
fácil quando sai da boca de Helena, ela sempre tem a resposta na ponta da língua e eu sempre
perco a fala.
minas gerais
Eu estacionei.
mas eu não choro e você?
pensei em te matar.
um final desses de filme, como você sempre mereceu,
não me entenda mal, baby.
você não é desses personagens que sobrevive.
só que você foi antes que eu pudesse escrever o teu final.
quem não sobreviveu fui eu.
morri de amor.
ainda não consegui colocar um ponto final em ti, helena.
você ainda me sacoleja todas as noites,
a sua fala mansa ainda me perturba.
você é quem sempre joga as cartas.
e ainda blefa, trapaceia, joga sujo.
helena, tu és fraude.
I just wanna be there
somos infames.
somos instantes.
estantes.
você fica na minha sala e
eu na tua
copa.
você segura a minha tv e
me diverte.
eu fico com os pratos e te
dou o que comer.
pra quem vem de visita é pedante,
sem cor e sem força.
pra quem mora - apenas nós - é
mais do que suficiente.
a gente dá risada no meio
da cena
melodramática
de nós duas.
você diz que eu terminei com você,
eu fecho a cara por cinco
segundos
e solto uma gargalhada, porque a gente
sabe que sempre volta.
perdi a conta e a credibilidade. o
crédito negativo é
quase nulo perto do
saldo positivo.
as nossas dívidas são
pagas
- e pagãs-
com um pouco de atraso,
mas nunca vencem.
a sua mão estava lá
na sala de vacina e no
velório.
minha respiração fica ofegante
quando você vem, mas quando
você vai me falta o ar.
a poem about:
your eyes.
you looking at me. your
chin.
your lips.
your lips kissing me.
your messy hair.
your thin fingers. your fingers
drawing on my face.
your features.
your smile. your big
teeth.
your feet. my feet in
your cold feet, or al-
most there.
your ass.
your nails.
your tongue.
your arms. your boobs.
your belly. your thighs.
your cold hand. your
voice. your whisper.
your ankle.
your crooked way. our fin-
gers and legs intertwined.
your laughter confused with
mine.
you.
2
aeroportos
- Vanguart
paralelas
eu te conheci em 2001,
quando eu estava assistindo dragon ball z e gelei quando tocou o plantão da globo
eu te conheci no tsunami de 2004
onde você destruiu tudo que eu tinha construído.
eu te conheci quando li sobre a bomba em hiroshima e nagasaki,
quando o câncer se infiltrou com chernobyl, em 86.
eu te vi quando titanic afundou e eu naufraguei.
eu te conheci em 2011 quando a minha
mãe me avisou pra tomar cuidado porque você não olhava no olho dela.
hoje pedi pra olhar seus dedos, sua mão e ajeitei seu cabelo que estava molhado
só pra fingir que ainda tá tudo no lugar
ou ainda há algum conserto.
mas assim como há coisas inquebráveis
há coisas impossíveis de se colocar de volta.
não é como se eu pudesse colocar uma fita crepe na nossa foto
ou um remendo na bolsa que você me deu.
algumas coisas são impossíveis de arrumar
ou colocar no lugar.
reparei bem na pinta do seu olho direito e
no seu estrabismo
reparei na sua calça preta nova e como sua bunda fica extremamente bonita
nela.
olhem bem nos seus olhos só pra garantir que não vou esquecê-los
apesar que eu
você
e todas aquelas pessoas que estavam na passarela sabem
talvez você saiba mais do que eu que seu olhar arde mais que tiro de carabina.
algumas coisas a gente também não consegue tirar do lugar.
easy
um dia eu li que sentir medo era tão humano quanto sentir amor. mas nada é tão pior quanto
sentir medo de perder alguém que se ama. ela ainda não fez os exames e disse que não vai
pensar sobre isso. e embora eu tenha engolido o choro durante toda a viagem de volta pra casa,
não consigo parar de sentir medo.
eu tenho medo que na minha colação de grau ela não esteja. ou no meu casamento. eu que
nunca quis, de fato, casar, estou apavorada pela dúvida se ela estará lá ou não. se ela vai
conhecer a minha criança e dizer alguma simpatia para que ela pare de soluçar. me diga
alguma simpatia que pare o meu soluço agora, por favor.
dizem que deus não dá um fardo maior do que a gente pode segurar
alice é tão pequena que não sabe como fazer para que cheguem até ela.
she took my soul
eu te amo
reparei que tinha ficado lá
na primeira vez que senti dor, você estava por aqui. apoiou minha cabeça no seu ombro estreito
enquanto eu soluçava um choro inquieto. me fez cenouras e couve-flor no vapor com um pouco
de sopa, pra ver se esquentava o que o frio daquele seis de junho me trouxe. me deitou e não
tirou a tua mão do meu cabelo até que dormisse.
na segunda vez que senti dor, foi porque você tinha me deixado, o mundo e deus tinha nos
esquecido. troquei a sopa por uma xícara de café intercalada por um cigarro de filtro vermelho.
não houve sono aquela noite, nem naquele ano. a mão que afagou foi a mesma mão que
esmurrou.
agora, na terceira vez que eu sinto dor, não há você, não há cigarro, não há sopa, não há café.
não há nada que me faça sentir viva. não há nada que disfarce o vazio, a solidão e o medo. meus
lábios tremem, involuntariamente, a cada vez que viro na cama e chamo seu nome. por que
você não consegue me escutar?
dessa vez você não vem e eu não tenho pra quem chorar.
pr’aqueles que conhecem a parede da casa de Deus
conheço teu toque. teu cheiro. teu riso e o som da tua voz.
depois daquele verão, em que eu te deixei sentada no nosso banco, nada mais foi o mesmo. o
tempo nem sempre conserta tudo. sempre teve um parafuso solto na prateleira que ergue a tua
foto e não há ferramenta que dê jeito.
a dúvida do que poderia ter sido sempre me assombra e me perturba. o “se” é a condição que
mais me assusta. e é justamente pelo “se” que precisamos nos manter longe.
não temos - e nem teremos - a resposta para nenhuma das nossas condições e o tempo pode ser
cruel demais para aqueles que não se permitem se perdoar. você não me perdoou e eu não te
culpo.
eu também não me perdoei.
sábado, signo e carnaval
espero pra saber a cor do seu chinelo e pra qual lado você olha primeiro ao atravessar a rua.
espero pra guardar seu cheiro na minha jaqueta, mesmo que estejamos em pleno verão.
com você parece sempre que é alto mar, sei que vou acabar me afogando, mas a vista daqui é
tão bonita.
você é tão bonita.
menos você.
ghost of you
uma cerveja.
um cigarro.
disco novo daquele cara que cê gosta e sua falta.
falaram hoje pra mim que dói demais ver nossas
fotos antigas, imagina se carregassem o meu coração no peito. se
tivessem tudo aquilo num filme
em loop na gaveta da memória.
imagina se vivessem com o teu
fantasma
atrás de cada porta,
debaixo de cada cama.
a dor da gente só é bonita pros outros
e a sua ida lateja, maltrata meu cérebro
fígado
e pulmões.
a falta de humanidade trouxe o nosso fim. e
eu só
me
culpo.
pisou na minha casa sem limpar os pés
- Los Hermanos
de outro carnaval
e eu sem jeito,
sem direito, dei-
lhe um.
eu não sabia que seria o fim
ela me parece ser a mulher que vai acabar comigo e cavar minha cova, mas eu não ligo.
porque com ela todo dia é dia de pular fogueira e todo dia é dia de querer queimar nos dedos
dela.
o seu nome era o mesmo que o nome da menina que estava cantando no palco.
quando eu te vi, recuei, pensei duas vezes e quase não fui até você.
mas se eu não tivesse ido, bem...
é melhor não pensar nisso.
eu não sei por onde começar, se falo das sardas do seu rosto
ou
do seu lábio cor de salmão.
não sei se falo do seu beijo ou do jeito que nossas mãos se tocaram enquanto a
música dizia:
eu vou fazer os meus planetas se alinharem no teu som,
quero fazer amor no espaço, quero borram o teu batom.
a única coisa que eu sei é que por você eu volto no centro da cidade pra te
combinar com as cores e os sons.
eu quero pintar você.
o último café
ela ainda está aqui. mas trouxe meus livros de volta e agora tira todas as roupas que são dela e
estão na gaveta do meu armário. a escova de dentes já foi guardada. e o sapato ela jogou fora.
nesse exato momento, me pergunto se ela vai jogar a minha escova de dentes, que fica na casa
dela, fora logo quando voltar ou se vai deixar por lá até lembrar que é minha.
nada sobrou.
ela passou o seu último café pra mim e de todas as vezes que ela foi, eu nunca soube quando
seria o último, mas dessa vez eu sei.
dá pra sentir em toda morbidez que cerca a casa.
o silêncio.
o semblante vazio.
a parede que chora.
e o meu peito que desaba.
e em troca do seu último café, eu escrevo meu último poema pra ela.
adoro o brilho dos seus olhos castanhos e do jeito que eles ficam quando você sabe que perdeu
o jogo.
spectrum
catú, o céu daqui é tão bonito que quase chega perto do céu da sua boca com gosto de vinho
barato.
red lights sparkle
tirei um tempo pra fazer tudo que não fizemos enquanto todo tempo era nosso.
fui àquela praia que você levou outra mulher e nunca me levou.
voltei ao centro de vitória, subi o morro do moreno e vi o 123 passar bem na minha frente e
passou.
no meio de uma peça eu senti vontade de te escrever, um sinal de fumaça ou fogo.
ainda assim, não o fiz.
não naquela hora.
fui em uma festa onde tinha mulheres muito bonitas e senti que ali seria um ótimo momento
pra deixar tudo o que fui e ser outra pessoa.
beijei uma, duas, três, os olhos eram vazios, só disso que eu lembro.
na praia que você nunca me levou, tudo girou como se eu nunca tivesse saído da ressaca que
era você, eu pude escutar o som das cordas do seu violão dançando pelos seus dedos.
eu vi um carro parecido com o seu, estacionado na frente de um hotel de gran fino, mas não
era você.
no centro de vitória, tudo era igual, a praça sempre iluminada, o teatro combinando com as
cores e nuances e no ar o cheiro do seu perfume amadeirado que jamais saiu dali.
mas também não era você.
no morro do moreno, eu quase vi você brincando nas nuvens que pairavam próximo ao topo,
mas o vento levou pra longe.
no 123, eu vi você entrar e saltar em santa tereza,
ou eu acho
que eu vi.
todo mundo é uma ilha, helena. mas eu queria ser mar.
porque mar é igual em todo lugar e a ilha só vai ficando menor.
eu sou menor perto de você, na minha população sempre tem gente chegando e partindo, mas
você nunca vai.
você é barco ancorado.
e eu sou pequena demais pra deixar você ir.