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QUERER VER O SENHOR

– Limpar o olhar para contemplar Jesus no meio dos afazeres normais.

– A Santíssima Humanidade do Senhor, fonte de amor e de fortaleza.

– Jesus espera-nos no Sacrário.

I. NO EVANGELHO DA MISSA de hoje, São Lucas diz-nos que Herodes


desejava encontrar-se com Jesus: Et quaerebat videre eum, procurava alguma
maneira de vê-lo1. Chegavam-lhe frequentes notícias do Mestre e queria
conhecê-lo.

Muitas das pessoas que aparecem ao longo do Evangelho mostram o seu


interesse em ver Jesus. Os Magos apresentam-se em Jerusalém com a
pergunta nos lábios: Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer?2 E a
seguir declaram o seu propósito: Vimos a sua estrela no Oriente e viemos
adorá- lo: um propósito bastante diferente do de Herodes. Encontraram-no no
regaço de Maria. Noutra ocasião, uns gentios chegados a Jerusalém
aproximaram-se de Filipe e disseram-lhe: Queremos ver Jesus3. E, em
circunstâncias bem diversas, a Virgem, acompanhada de uns parentes, desceu
de Nazaré a Cafarnaum porque desejava ver Jesus. Podemos imaginar o
interesse e o amor que levaram Maria a querer encontrar-se com o seu Filho?

Herodes não soube ver o Senhor, apesar de tê-lo tão perto. Chegou até a ter
oportunidade de ser ensinado por João Batista – que apontava com o dedo o
Messias que já estava entre eles –, e, ao invés de seguir-lhe os ensinamentos,
mandou matá-lo. Aconteceu com Herodes o mesmo que com aqueles fariseus
a quem Jesus dirige a profecia de Isaías: Ouvireis com os ouvidos e não
entendereis, olhareis com os olhos e não vereis. Porque o coração deste povo
embotou- se, e eles endureceram os ouvidos e fecharam os olhos...4

Pelo contrário, os Apóstolos tiveram a imensa sorte de gozar da presença do


Messias, e de com Ele ter tudo o que podiam desejar. Ditosos os vossos olhos
porque vêem, e os vossos ouvidos porque ouvem5, diz-lhes o Mestre. Os
grandes Patriarcas e os maiores Profetas do Antigo Testamento nada tinham
visto em comparação com o que agora os seus discípulos podiam contemplar.
Moisés tinha contemplado a sarça ardente como símbolo do Deus Vivo6.
Jacob, depois da sua luta com aquele misterioso personagem, pôde dizer: Eu
vi a Deus face a face7; e a mesma coisa Gedeão: Vi Javé face a face8... mas
essas visões eram obscuras e pouco precisas em comparação com a claridade
daqueles que vêem Cristo face a face: Porque em verdade vos digo que muitos
profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não o viram...9 A glória de
Estêvão – o primeiro que deu a vida pelo Mestre – consistirá precisamente em
ver os céus abertos e Jesus sentado à direita do Pai10.

Jesus vive e está muito perto dos nossos afazeres normais. Temos de
purificar o nosso olhar para contemplá-lo. O seu rosto amável será sempre o
principal motivo para sermos fiéis nos momentos difíceis e nas tarefas de cada
dia. Temos que dizer-lhe muitas vezes, com palavras dos Salmos: Vultum
tuum, Domine, requiram...11, procuro, Senhor, a tua face... sempre e em todas
as coisas.

II. QUEM BUSCA, ENCONTRA12. A Virgem e São José procuraram Jesus


durante três dias, e por fim o encontraram13. Zaqueu, que também desejava
vê-lo, fez o que estava ao seu alcance e o Mestre adiantou-se-lhe fazendo-se
convidar para almoçar em sua casa14. As multidões ansiosas de estar com Ele
tiveram a alegria de vê-lo e ouvi-lo15. Ninguém que de coração sincero tenha
saído à busca de Cristo ficou frustrado.

Herodes, como se veria mais tarde na Paixão, procurava ver Jesus por
curiosidade, por capricho... e assim não é possível encontrá-lo. Quando Pilatos
lho remeteu, Herodes, ao ver Jesus, ficou muito satisfeito, pois havia muito
tempo que desejava vê- lo, por ter ouvido muitas coisas acerca dele, e
esperava vê- lo fazer algum milagre. E fez- lhe muitas perguntas, mas ele nada
lhe respondeu16. Jesus não lhe disse nada, porque o Amor nada tem a dizer à
frivolidade. Ele vem ao nosso encontro para que nos entreguemos, para que
correspondamos ao seu Amor infinito.

Podemos ver Jesus quando desejamos purificar a nossa alma no


sacramento da Confissão, quando não deixamos que os bens passageiros –
mesmo os lícitos – tomem conta do nosso coração como se fossem definitivos,
pois – como ensina Santo Agostinho – “o amor às sombras deixa os olhos da
alma mais fracos e incapazes de ver o rosto de Deus. Por isso, quanto mais o
homem dá gosto à sua debilidade, mais se introduz na escuridão”17.

Vultum tuum, Domine, requiram..., procuro, Senhor, a tua face... A


contemplação da Santíssima Humanidade do Senhor é fonte inesgotável de
amor e de fortaleza no meio das dificuldades da vida. Temos de aproximar-nos
muitas vezes das cenas do Evangelho, e considerar sem pressas que o mesmo
Jesus de Betânia, de Cafarnaum, Aquele que acolhe a todos... é quem está
presente no Sacrário e se sensibiliza com as nossas confidências.

No mesmo sentido, podem servir-nos as imagens que representam o


Senhor, para podermos ter uma recordação viva da sua presença, como o
fizeram os santos. “Entrando um dia no oratório – escreve Santa Teresa de
Jesus –, vi uma imagem que ali tinham trazido para guardar [...]. Era de Cristo
muito chagado e tão devota que, olhando-a, perturbei-me toda de vê-lo assim,
porque representava bem o que passou por nós. Foi tanto o que senti por ter
agradecido tão mal aquelas chagas, que o meu coração parecia partir-se. E
lancei-me a Ele com um grandíssimo derramamento de lágrimas,
suplicando-lhe que me fortalecesse já de uma vez para não ofendê-lo”18.

Este amor, que de alguma maneira tem de nutrir-se dos sentidos, é fortaleza
para a vida e um bem extraordinário para a alma. Há coisa mais natural do que
procurar num retrato, numa imagem, o rosto d’Aquele que tanto se ama? A
mesma Santa Teresa exclamava: “Desventurados os que por culpa própria
perdem este bem! Parece que não amam o Senhor, porque, se o amassem,
alegrar-se-iam de ver o seu retrato, como nesta vida dá contentamento ver o
daquele a quem se quer bem”19.

III. IESU, QUEM VELATUM nunc aspicio...20 «Jesus, a quem agora


contemplo escondido, rogo-Vos se cumpra o que tanto desejo: que, ao
contemplar-Vos face a face, seja eu feliz vendo a vossa glória», rezamos no
hino Adoro te devote.

Um dia, com a ajuda da graça, veremos Cristo glorioso, cheio de majestade,


vir ao nosso encontro para nos receber no seu Reino. Reconhecê-lo-emos
como o Amigo que nunca nos falhou, a quem procuramos servir mesmo nas
coisas mais pequenas. Embora amemos muito este mundo em que vivemos e
que é o lugar onde nos devemos santificar, podemos no entanto dizer com
Santo Agostinho: “A sede que tenho é a de chegar a ver o rosto de Deus; sinto
sede na peregrinação, sinto sede no caminho; mas saciar-me-ei quando
chegar”21. O nosso coração só experimentará a plenitude com a posse dos
bens de Deus.

Mas já temos Jesus connosco. Na Sagrada Eucaristia, temos Cristo


completo: o seu Corpo glorioso, a sua Alma humana e a sua Pessoa divina,
que se fazem presentes pelas palavras da Consagração. A sua Santíssima
Humanidade, escondida sob os acidentes eucarísticos, encontra-se presente
no que tem de mais humilde, de mais comum connosco – o seu Corpo e o seu
Sangue, se bem que em estado glorioso –, e de um modo especialmente
acessível: sob as aparências do pão e do vinho.

Particularmente no momento da Comunhão e ao fazermos a Visita ao


Santíssimo, temos de ir ao encontro do Senhor com um grande desejo de
vê-lo, de encontrar-nos com Ele, como Zaqueu, como aquelas multidões que
tinham postas n’Ele todas as suas esperanças, como os cegos, os leprosos...
Melhor ainda, com o empenho ansioso com que o procuraram Maria e José.

Às vezes, pelas nossas misérias e falta de fé, pode ser-nos difícil divisar o
rosto amável de Jesus. É então que devemos pedir a Nossa Senhora um
coração limpo, um olhar claro, um maior desejo de purificação. Pode
acontecer-nos o mesmo que aos Apóstolos depois da Ressurreição: estavam
certos de que era o Senhor, tão certos que não se atreviam a
perguntar-lhe: Nenhum dos discípulos ousava perguntar- lhe: Quem és
tu?, sabendo que era o Senhor22. Era algo tão grande encontrar Jesus vivo – o
mesmo de sempre – depois de vê-lo morrer numa Cruz! É tão extraordinário
encontrarmos Jesus vivo no Sacrário! Peçamos ao Senhor que nos limpe, que
nos aumente a fé.

(1) Lc 9, 7-9; (2) Mt 2, 3; (3) Jo 12, 21; (4) Mt 13, 14-15; (5) Mt 13, 16; (6) cfr. Ex 3, 2; (7) Gen
32, 31; (8) Ju 6, 22; (9) Mt 13, 17; (10) Act 7, 55; (11) Sl 26, 8; (12) Mt 7, 8; (13) cfr. Lc 2, 48;
(14) cfr. Lc 19, 1 e segs.; (15) cfr. Lc 6, 9 e segs.; (16) Lc 23, 8-9; (17) Santo Agostinho, O livre
arbítrio, 1, 16, 43; (18) Santa Teresa, Vida, 9, 1; (19) ibid., 6; (20) Hino Adoro te devote; (21)
Santo Agostinho, Comentário aos Salmos, 41, 5; (22) Jo 21, 12.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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