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CONSTITUCIONAL

LINHA DE SEBENTAS
Direito Constitucional

Índice
Capítulo I - O Direito Constitucional ............................................................................................................. 5
O conceito de Direito Constitucional............................................................................................................ 5
As divisões do Direito Constitucional ........................................................................................................... 5
As características do Direito Constitucional ................................................................................................. 7
As relações do Direito Constitucional com os ramos do Direito .................................................................. 8
A Ciência do Direito Constitucional ............................................................................................................ 11
As Ciências Afins e Auxiliares da Ciência do Direito Constitucional ........................................................... 12
Os elementos de estudo ............................................................................................................................. 13
Conceito e origem do poder político .......................................................................................................... 14
O poder político e os outros poderes ......................................................................................................... 17
O poder político e as diversas entidades jurídico-políticas ........................................................................ 18
O sentido de Estado em geral .................................................................................................................... 21
Fins do Estado: ........................................................................................................................................... 22
As aceções do conceito de Estado:............................................................................................................. 23
O elemento humano – o povo .................................................................................................................... 23
O elemento funcional – a soberania ........................................................................................................... 25
O elemento espacial – o território.............................................................................................................. 27
Três modalidades do território estadual: ................................................................................................... 29
As vicissitudes do Estado ............................................................................................................................ 30
A Periodificação da evolução histórica do Estado ...................................................................................... 31
O Estado Oriental ....................................................................................................................................... 31
O Estado Grego ........................................................................................................................................... 32
O Estado Romano ....................................................................................................................................... 32
O Estado Medieval ...................................................................................................................................... 35
O Estado Moderno...................................................................................................................................... 35
O Estado Contemporâneo .......................................................................................................................... 37
A ideia mais impressiva do Estado Contemporâneo é a sua conceção de Estado de Direito. ................... 37
O Estado Liberal do século XIX.................................................................................................................... 39
O Estado Totalitário Socialista .................................................................................................................... 40
República Popular da China (1949) ............................................................................................................ 42
4 Constituições: 1954, 1975, 1978 e 1982 .................................................................................................. 42
Cuba, com um sistema político moldado à imagem da personalidade de Fidel Castro, herói da Revolução
Socialista Cubana (1959) ............................................................................................................................ 43
O Estado Totalitário Fascista ...................................................................................................................... 43
O Estado Social do século XX ...................................................................................................................... 44
O Estado Pós-Social e da Pós-Modernidade do século XXI? ....................................................................... 45

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Direito Constitucional

A formação e a evolução de Portugal ......................................................................................................... 46


O elemento humano: os cidadãos portugueses ......................................................................................... 47
O elemento funcional: a soberania portuguesa ......................................................................................... 48
O elemento espacial: o território português .............................................................................................. 49
Capítulo III - Perspectivas de Direito Constitucional Comparado ............................................................... 50
Aspetos metodológicos gerais ................................................................................................................... 50
A comparação em Direito Constitucional ................................................................................................... 50
Os Direitos Constitucionais Estrangeiros a comparar ................................................................................ 50
História e evolução: .................................................................................................................................... 51
Fases: .......................................................................................................................................................... 51
Ordenamento constitucional (misto e flexível): ......................................................................................... 52
Diplomas legais: .......................................................................................................................................... 52
Limitação do poder:.................................................................................................................................... 52
Órgãos de soberania:.................................................................................................................................. 52
Sistema de governo: ................................................................................................................................... 53
Brasil ........................................................................................................................................................... 60
Estados Africanos ....................................................................................................................................... 61
Angola......................................................................................................................................................... 63
Cabo-Verde ................................................................................................................................................. 63
Guiné-Bissau ............................................................................................................................................... 63
Moçambique: ............................................................................................................................................. 63
São Tomé e Príncipe ................................................................................................................................... 63
Timor-Leste: ............................................................................................................................................... 63
Suíça ........................................................................................................................................................... 64
Itália ............................................................................................................................................................ 65
Alemanha ................................................................................................................................................... 65
Espanha ...................................................................................................................................................... 66
Capítulo IV - Evolução do Direito Constitucional Português ...................................................................... 67
A periodificação da História do Direito Constitucional Português ............................................................. 67
As constâncias e as ruturas do Constitucionalismo Português .................................................................. 68
A Constituição Liberal de 1822 ................................................................................................................... 69
Carta Constitucional da Restauração de 1826............................................................................................ 71
Constituição Setembrista de 1838 ............................................................................................................. 72
A Constituição Republicana de 1911 e o interregno de Sidónio Pais ......................................................... 73
A Revolução de 5 de Outubro de 1910:...................................................................................................... 73
A Constituição Fascizante de 1933 ............................................................................................................. 74
A atual Constituição Democrática e Social de 1976 .................................................................................. 76

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Direito Constitucional

PERÍODO CONSTITUCIONAL PROVISÓRIO (entre a revolução e a redação da Constituição) ..................... 76


Legislação avulsa à medida do aparecimento das necessidades (leis constitucionais provisórias): .......... 76
A Constituição de 1976 (Sete Revisões, Sendo Que O Preâmbulo Se Mantêm Devido Ao Carácter
Histórico) .................................................................................................................................................... 77
A primeira revisão constitucional (1982) (cariz político-organizatório) ..................................................... 79
A segunda revisão constitucional (1989) .................................................................................................... 79
A terceira revisão constitucional (1992) ..................................................................................................... 79
A quarta revisão constitucional (1997)....................................................................................................... 80
A quinta revisão constitucional (2001) ....................................................................................................... 81
A sexta revisão constitucional (2004) ......................................................................................................... 81
A sétima revisão constitucional (2005) ...................................................................................................... 81
Repetitório de Perguntas ........................................................................................................................... 82

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Direito Constitucional

CAPÍTULO I - O DIREITO CONSTITUCIONAL

1.º O Direito Constitucional na Enciclopédia Jurídica

O conceito de Direito Constitucional


Direito Constitucional: conjunto de princípios e de normas que regulam a
organização, o funcionamento e os limites do poder público do Estado, assim como
estabelecem os direitos das pessoas que pertencem à respetiva comunidade política.
O DC assenta numa tensão dialética entre o poder público estadual e a
comunidade de pessoas em noma das quais aquele poder é exercido e a sua explicação
como sector da Ordem Jurídica pode fazer-se através de três elementos:

a) Elemento subjetivo: define-se pelo destinatário da regulação que o DC


contém, ao dirigir-se ao Estado na sua dupla vertente de Estado-Poder (a
organização do poder público) e de Estado-Comunidade (o conjunto das
pessoas que integram a comunidade política)

b) Elemento material: define-se pelas matérias que são objeto da regulação


levada a cabo pelo DC, normas e princípios de natureza jurídica que traçam as
opções fundamentais do Estado

c) Elemento formal: define-se pela posição hierárquico-normativa que o DC


ocupa no nível supremo da Ordem Jurídica, traduz-se num ato jurídico-público
chamado “Constituição”

As divisões do Direito Constitucional

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Direito Constitucional

Dentro destes grandes âmbitos em que o DC se desenvolve, é ainda possível fazer


distinções que assentam na existência de fenómenos mais específicos que justificam a
existência de disciplinas constitucionais autónomas, de cunho complementar
relativamente a um patamar geral que o direito constitucional inegavelmente possui:

 DC Internacional: traça as relações jurídico-internacionais do Estado do ponto de


vista da participação na formação e na incorporação do Direito Internacional
Público no Direito Interno e dos critérios que se colocam à sociedade internacional.
 DC dos Direitos Fundamentais: dedica-se à regulação dos direitos fundamentais das
pessoas frente ao poder público, nos pontos relativos à sua positivação, regime de
exercício e mecanismos de defesa.
 DC Económico: orienta a organização da economia, tanto no seu estrito âmbito
privado, como nos instrumentos que ao poder público se consente de na mesma
intervir.
 DC Ambiental: surgindo da necessidade de proteção do ambiente, confere direitos
aos cidadãos e impõe deveres e esquemas de atuação ao poder público.
 DC Eleitoral: organiza-se em torno da eleição como modo fulcral de designação dos
governantes, atendendo à dinâmica do procedimento eleitoral e dos momentos em
que se desdobra, levando em consideração o direito de sufrágio
 DC dos Partidos Políticos: equaciona o estatuto jurídico dos partidos políticos, na
sua conexão com os órgãos do poder público e como singular expressão da
liberdade política.
 DC Parlamentar: define o estatuto do Parlamento, na sua estrutura e modo de
funcionamento, sem esquecer as relações que mantém com outros órgãos do poder
público.
 DC Procedimental: disciplina os termos por que se desenrola o procedimento
legislativo, na sua tramitação na produção de atos jurídico-públicos, como os atos
legislativos.
 DC Regional: incide no estatuto constitucional das regiões autónomas, tendo
expressão nos órgãos e competências respetivas.
 DC Processual: reserva-se ao estabelecimento dos mecanismos processuais de
fiscalização da constitucionalidade das leis, ligado à ideia de justiça constitucional.

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Direito Constitucional

 DC de Segurança: diz respeito à organização da atividade das forças armadas e


policiais, que são parte integrante das estruturas de proteção do Estado e relevam
na ótica dos deveres fundamentais dos cidadãos para com a defesa do Estado.
 DC de Exceção: engloba os princípios e normas que se aplicam nas situações de crise
que perturbam a estabilidade constitucional, numa lógica temporária, permitindo
reforçar o poder público contra os direitos dos cidadãos.

As características do Direito Constitucional


Interessa agora situar o DC no contexto da Ordem Jurídica, pelo que é válido inserir
o DC no Direito Público:

A. É um ramo do Direito que claramente avulta o interesse público, é nele que se


estabelecem as máximas orientações da vida coletiva, sob responsabilidade do
Estado.
B. É um ramo do Direito que essencialmente regula o poder público, bem como as
suas relações com as pessoas e os outros poderes.
C. É um ramo do Direito que posiciona o poder público na sua veste de suprema
autoridade soberana, atribuindo-lhe as mais amplas faculdades normativas que
se conhece.

Para um mais profundo conhecimento do DC devemos focar-nos nos seus traços


distintivos que permitem a respetiva singularização no contexto mais vasto do Direito
em que este ramo se integra. Deste modo podemos enunciar as várias características do
DC:

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Direito Constitucional

•o DC assenta numa visão de cunho legalista


•elevada relevância às respectivas fontes normativas
•resultado de uma intenção particular de disciplinar o poder
Legalismo público
•está associado à expressão democrática da soberania que é
apenas viável nas deliberações apropriadas à produção das leis

•raramente lhe compete efetuar uma regulação completa das


matérias
Fragmentarismo •setor mínimo fundamental, no qual se estabelecem, ao nível da
cúpula, os fundamentos dos diversos institutos jurídicos,
públicos e privados

•criação moderna
Juventude •debilidade dogmática nas soluções a encontrar

•permeável aos influxos de outros ramos normativos


Abertura •muito longe de ser um sistema normativo fechado

As relações do Direito Constitucional com os ramos do Direito


O conhecimento do DC torna-se ainda mais marcante pela concreta demarcação
das suas linhas de fronteira no confronto com outros ramos do Direito, só que essas
fronteiras com os ramos que lhe são mais próximos detêm a particularidade de surgirem
com zonas sobrepostas, simultaneamente presentes no DC e no ramo jurídico que com
eles se relaciona.

A separação dos âmbitos regulativos é feita através da essência de uma regulação


jurídico-normativa que compete ao DC, à qual se acrescenta uma força hierárquico-
formal suprema:

a) Essencialidade material regulativa: determina que o DC cumpre a relevante


função de estabelecer as grandes opções do Ordenamento Jurídico

b) Supremacia hierárquico-formal: subordina os diversos ramos jurídicos às


respetivas orientações, acarretando a necessidade de os muitos

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Direito Constitucional

desenvolvimentos regulativos lhe serem conformes, mas estando de fora do DC,


pela impossibilidade operativa óbvia de tudo levar para dentro da Constituição.

Não se pode estranhar então que as relações do DC com os outros ramos do Direito
sejam muito mais intensas e extensas do que acontece com qualquer outro sector
jurídico, o que permite o desenvolvimento, com implicações dogmáticas importantes,
de ramos jurídicos mistos. Estes ramos derivam sobretudo das intensas relações entre
o DC e os diversos ramos do Direito Público, pois o DC desenvolve o estatuto do poder
político, ainda que em relação com os cidadãos, o que originará vários pontos de
sobreposição regulativa:

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Direito Constitucional

Se observarmos as relações entre o DC e o Direito Privado verificamos que os tempos


recentes têm vindo a esbater a severa demarcação de fronteiras entre ambos pois o DC
apresenta conexões por força da dispersão dos direitos fundamentais em praticamente
todos os ramos do Direito Privado, do Direito da Personalidade ao Direito do Trabalho,
passando pelo Direito de Autor e pelo Direito da Família, Direito da Concorrência e
Direito dos Valores Mobiliários no plano da ordenação constitucional da atividade
económica.

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Direito Constitucional

2.º O Direito Constitucional na Ciência do Direito

A Ciência do Direito Constitucional


O objeto de estudo da Ciência do Direito Constitucional é o estudo do
Ordenamento Jurídico-Constitucional, com o propósito de se obter uma resposta
quanto a um problema formulado, atividade científica que tem uma dimensão prática.

É possível evidenciar quatro importantes perspetivas que orientam o trabalho do


Constitucionalista:

a) Perspetiva histórico-comparatística: captação de informação sobre o tratamento


de um mesmo assunto não só por normas anteriores como estrangeiras o que
permite localizar influências próximas e remotas bem como um fundo conceptual
comum

b) Perspetiva exegética: pretende-se encontrar uma determinada solução através da


interpretação das normas e a integração das suas lacunas, tomando como ponto
de partida as fontes constitucionais disponíveis

c) Perspetiva dogmática: avalia melhor os dados diretamente obtidos das fontes


constitucionais pela inserção numa lógica sistemática global, confrontando-as
com os princípios fundamentais que compõem o sistema constitucional

d) Perspetiva teorética: formular orientações úteis em vários espaços


constitucionais, de natureza técnica ou valorativa considerando a reforma do DC
Positivo

A Ciência do DC apresenta-se como uma especificação da Ciência do Direito, mas isso


não se faz, contudo, sem que se possam salientar os traços mais relevantes da
autonomia da Ciência do DC:

a) Autonomia regulativa: textos normativos próprios, textos constitucionais


b) Autonomia científica: presença de conceitos e princípios privativos do DC
c) Autonomia pedagógica: apresenta-se em disciplinas próprias nas escolas de
Direito

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Direito Constitucional

Dentro dos estudos jurídicos esta vem a ser uma das mais dinâmicas áreas de
trabalho, cujo incremento muito contribuiu a Revolução de 25 de Abril de 1974,
consubstanciada na Constituição da República Portuguesa, de 2 de Abril de 1976.

As Ciências Afins e Auxiliares da Ciência do Direito Constitucional


A relevância das relações da Ciência do DC com as Ciências que lhe são afins, isto
é, que cuidam do mesmo objeto regulado pelo DC, deve ser individualmente avaliada
pela observação das relações que se estabelecem entre elas:

Ciência Política
• estudar os comportamentos das instituições e dos respectivos titulares
• sistema de partidos, sistema eleitoral, sistema de governo e do regime político
Teoria Geral do Estado
• estuda os elementos e as características do Estado enquanto realidade conceptual
Sociologia Política
• estudo das relações entre o poder e a sociedade
•até que ponto existem comportamentos dominantes, maxime no plano da
representação dos interesses dos cidadãos e no respectivo comportamento eleitoral

História das Ideias Políticas


•analisar o contributo de diversos pensadores para a concepção do poder político
•explicitar as causas e as consequências dos acontecimentos políticos, na sua vertente
comportamental

As Ciências auxiliares, ostentando um outro objeto, permitirem fornecer


elementos de trabalho úteis à Ciência do DC e não deixam por isso de lhe ser úteis:

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Direito Constitucional

Ciência da Linguagem
•alto nível proclamatório dos textos constitucionais, levando ao frequente
aparecimento de metalinguagens
•relevo ordenador que se lhe possa atribuir
Estatística e Matemática
•são evidentes os contributos destas ciências no campo dos sistemas eleitorais ou da
definição das maiorias deliberativas, sem cujos conceitos não é possivel compreensão
de algumas normas constitucionais
História
•explicação do percurso dos povos, os acontecimentos económicos, sociais e
religiosos, podem também justificar os acontecimentos constitucionais
Sociologia
•estudo dos comportamentos colectivos
•fornece elementos auxiliares preciosos quanto à adequação social de certas
instituições jurídico-constitucionais
Economia
•associada a uma ideia de eficiência de recursos escassos para a satisfação das
necessidades coletivas, dando bases para as opções económicas que as
Constituições têm aquando da passagem do Estado Liberal para o Estado Social
Antropologia
•perceber o comportamento humano nas civilizações tradicionais
•comparística dos diferentes estágios da sua evolução
•revela que poderá ter interesse a manutenção de instituições mais antigas, mas
porventura mais eficientes e representativas
Geografia e Astrofísica
•úteis para a delimitação de conceitos jurídico-constitucionais

Os elementos de estudo
É diversa a natureza dos elementos de estudo com que se deve partir para um
aprofundado conhecimento deste ramo do Direito dos quais são de destacar quatro
tipos:

a) Elementos doutrinais
b) Elementos legislativos
c) Elementos jurisprudenciais e decisões dos tribunais
d) Elementos documentais

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CAPÍTULO II - O ESTADO NO DIREITO CONSTITUCIONAL

3.º O poder político e o Estado

Conceito e origem do poder político


A atividade humana não depende apenas da interação livre e espontânea dos
indivíduos e dos grupos, carecendo de uma intervenção concertada, a cargo de um
conjunto de estruturas, de organizações e procedimentos pois o comportamento
humano apenas atinge os altos padrões da boa convivência social quando se possa
exercer um poder político, que harmonize os diferentes objetivos que presidem ao
sentido da vida das pessoas e dos grupos em que se inserem.

Contudo é importante referir desvios ou distorções da tarefa que o poder político


se propõe a desempenhar na organização política hoje demonstrados, tanto na teoria
como na prática:

a) Anomia ou anarquia: traduz a ausência de poder político, com muitos casos


de irracionalidade nas relações sociais coletivas, mostra a inevitabilidade
daquele poder

b) Ditadura ou totalitarismo: representa o poder político arbitrário, que não


respeita o exercício de um espaço vital da liberdade humana, desvirtua aquela
sua função de organização social

O poder político apresenta-se como uma alavanca indispensável ao


estabelecimento de um conjunto estável de orientações jurídico-normativas, pelo que
a sua existência assenta na natureza social do homem e do seu Direito (ubi societas, ibi
ius): só se justifica na medida em que é necessário regular as relações intersubjetivas.

O poder político consiste na produção de comandos que imponham determinados


comportamentos, relativamente aos quais revela uma intrínseca aptidão de obrigar,
pela força se necessário, ao respetivo acatamento, através do emprego de esquemas
de coação material.

Duas dimensões fundamentais presentes neste conceito:<

a) Dimensão subjetiva: exprime orientações jurídicas destinadas à regulação da


vida em comunidade
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b) Dimensão adjetiva: tem a tarefa de se “defender a si próprio”, organizando


a própria obediência que os outros lhe devem

Ao longo da História das Ideias Políticas é possível encontrar 3 grandes orientações


na busca da origem do poder político:

a) Origem naturalista: o poder político apresenta-se necessário à organização social,


para o qual os seres humanos tendem, mesmo contra a sua vontade individual, só
aí se realizando plenamente, de acordo com a sua sociabilidade inata

b) Origem teológica: segundo a qual o poder político, como também os outros


poderes humanos, derivam de Deus, diretamente ou por níveis de
intermediação, sendo Deus a causa final de tudo e de todos, bem como da
criação

c) Origem voluntarista: o poder político está na vontade dos titulares do poder


político. Também se integram as opções voluntaristas de timbre minoritário,
moldadas pelas conceções absolutistas, marxistas e leninistas como origem do
poder político

A origem naturalista do poder político radica na conceção aristotélica apoiando-se


sobretudo em dois pilares: a conceção do Homem como “animal político”, visto ser a
sociabilidade o seu fim natural, só realizável plenamente no Estado; e a ideia de que o
fim do Estado só pode ser a realização do bem na sua mais alta plenitude.

A origem teológica identifica a presença de Deus como sua fonte podendo


conceber-se outras modalidades:

a) Teorias teocráticas: normalmente monárquicas, que divinizam os reis,


sendo-lhes por vezes até prestado culto
b) Teorias do direito divino sobrenatural: implicam que os governantes sejam
diretamente escolhidos por Deus, exercendo um poder que é dom divino
c) Teorias do direito divino providencial: os governantes são designados, não
já diretamente por Deus, mas através de uma ordem constitucional
estabelecida em que se verifica do mesmo modo o consentimento de Deus
chegando o poder político aos governantes através do povo
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A origem voluntarista do poder político, contrastando com a sua origem divina,


sublinha que é numa expressão de vontade dos cidadãos – um pacto ou contrato social
– em que este mesmo se ancora, abrindo-se as portas à respetiva origem democrática.

A Idade Moderna foi o tempo favorável para a convicção racionalista da organização


da sociedade, na passagem do estado natureza ao estado de sociedade, todos
consentiriam na limitação da sua liberdade individual para a criação de uma estrutura
de poder político que a todos defendesse por igual.

Algumas teorias voluntaristas:

a) Teoria do pacto de sujeição irrevogável e absoluto: confere-se aos governantes o


poder de vida e de morte sobre os súbditos (ex.: Thomas Hobbes no Leviatã)
b) Teoria do pacto de sujeição revogável: podendo o povo retirar o poder aos
governantes, admitindo-se mesmo a deposição e o tiranicídio, como defenderam os
monarcómacos
c) Teorias contratualistas democráticas: radicam o poder político na vontade da
comunidade, mas com respeito pelos seus direitos fundamentais e genericamente
limitado (ex.: John Locke)
d) Teoria do contrato social em favor de um poder parlamentar: uma conceção
democrática totalitária (ex.: Jean-Jacques Rousseau)

Com o Constitucionalismo, a origem do poder político, sendo consensualmente


popular, foi oscilando entre a soberania nacional e a soberania popular, deixando de ter
interesse a questão do mecanismo de transferência do poder político na transição do
estado de natureza ao estado de sociedade:

a) Soberania nacional: reconhece o poder político na nação como


comunidade sociológica e histórica, ainda que não individualmente
manifestada pelos cidadãos do Estado
b) Soberania popular: aceita que o poder político resida na comunidade
através de cada um dos seus membros, os cidadãos com direitos de
participação política e sem exclusões arbitrárias entre os mesmos

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A primeira teoria da origem voluntária e minoritária do poder político é a


corrente do Despotismo Esclarecido, dentro do Estado Absoluto da Idade Moderna, em
que o poder político se fundou na iluminação do rei, coadjuvado por toda a sua elite
bem-pensante e com o repúdio da sua origem divina. Uma outra é a da doutrina
marxista-leninista, ditadura do proletariado, posta em prática nos Estados de inspiração
soviética, um totalitarismo de esquerda.

É importante ainda referir os totalitarismos de direita, regimes fascistas e


fascizantes que, negando a democracia, proclamam a origem do poder político na
interpretação do interesse da nação e da organização corporativa.

O poder político e os outros poderes


O poder político repousa na possibilidade de a estrutura que o detém impor comandos
e fazer-se obedecer aos mesmos, incluindo o uso da força quando seja caso disso.
Contudo tal não significa que a observação da realidade não possa demonstrar a
existência de outros poderes.

As pessoas e os grupos, nas suas relações intersubjetivas, são igualmente movidas por
poderes, de natureza fáctica, mas que por contraste não são dotados da característica
que avulta no poder político, que assim se encontra ausente: a da coercibilidade.

Três modalidades dos poderes de persuasão, que não configuram projeções do poder
político:

a) Poder social: subjacente a uma peculiar ordem normativa de que se extraem


imposições de dever-ser; da violação não derivam situações de desvantagem para
quem se coloca numa posição de infração às mesmas, apesar de poderem surgir
juízos subjetivos de censura ou de reprovação social (ex.: obrigação de
cumprimentar conhecidos)
b) Poder religioso: expressa a vontade das organizações religiosas no estabelecimento
de um conjunto de normas disciplinadoras da atitude, externa e interna, dos
respetivos crentes; trata-se da Ordem Religiosa, que disciplina um dever-ser vertical
e horizontal: verticalmente, entre os crentes e Deus - horizontalmente, só entre os
crentes; conceito de pecado

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c) Poder da comunicação social: “4º poder” a seguir aos 3 clássicos desenhados por
Montesquieu (executivo, legislativo e judicial); A força do poder da comunicação
social afere-se pelo seu contributo na formação da opinião pública ao redirecionar
a atuação dos órgãos do poder político

Poder económico
• capacidade de influência que é atribuída aos agentes económicos na
produção de bens e serviços que é tanto maior quanto mais
concentrados estiverem os meios de produção
• ex.: o poder das multinacionais

Outros poderes:
Poder militar
• instituição social, que forma um escola de pessoas que é capaz de
orientar as opiniões
• ex.: General Perón
Poder cultural
• atividade inerente à realização cultural
• ruturas sociais e de mentalidades tiveram na sua origem a persuasão
da Cultura (ex.: festival USA Woodstock)
Poder desportivo
• capacidade aractiva do fenómeno desportivo em geral, e do futebol
em particular, em torno dos respetivos praticantes e também dos seus
dirigentes
Poder científico
• Ciência da Técnica, ao condicionar inúmeras decisões aos mais
diversos níveis, como o político, o económico e o social

O poder político e as diversas entidades jurídico-políticas


A entidade que emblematicamente está ligada ao poder político – e que também
maximamente o interpreta – é o Estado

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Direito Constitucional

No entanto o Estado, realidade fundamental na organização política da


sociedade humana, não é a única entidade política que pode protagonizar um desejo de
organização coletiva:
Entidades pré- Entidades infra- Entidades inter-
estaduais estaduais estuduais

Entidades para-
estaduais

As entidades pré-estaduais são formas incipientes de poder político, antes da


conceção e desenvolvimento do Estado como tipo histórico fundamental; primeiros
assomos de organização da coletividade, em que a titularidade do poder político era
cometida a certas pessoas ou entidades, numa preocupação geral pela manutenção da
segurança e da convivência coletiva, limitado ao nível de comunidades tradicionais e no
plano de uma restrita zona territorial.

As entidades infra-estaduais inserem-se no âmbito territorial do Estado, ao


mesmo circunscrevendo o seu raio de ação; a sua configuração está na dependência de
uma indicação estadual, enquanto expressão máxima da organização do poder político,
o qual pode decidir livremente sobre a sua criação e permanência; menor intensidade e
qualidade das competências exercidas; corporizam espaços territoriais, dotados de
autonomia jurídico-política e com poderes, embora limitados, na vida interna e às vezes
internacional.

Ex.: Regiões autónomas: pessoas coletivas de Direito Público que desenvolvem


atribuições e competências em diversos domínios.

As entidades inter-estaduais representam a possibilidade de duas ou mais


realidades estaduais se associarem, dessa junção resultando uma nova realidade por
eles composta, abrindo-se a possibilidade de, por seu turno, terem ou não, natureza
estadual.

Os Estados Compostos assumem essa natureza estadual, mas sem que as


realidades estaduais subjacentes desapareçam, apenas ficando limitadas nos seus
Estados Federais
• não fazendo desaparecer os Estados membros, criação de uma nova estrutura de
sobreposição em relação àquela que permanece nos Estados federados
•ex.: Brasil e EUA
Uniões Reais
• nova realidade estadual surge numa estrutura de fusão com algum ou alguns dos Estados
dos membros dessa União
•ex.: União da Áustria e da Hungria (1867-1919) poderes.

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Direito Constitucional

Nas associações confederativas, a transferência de poderes estaduais apenas


acontece nalguns dos seus aspetos.

As confederações são associações de Estados que se fundam num tratado


internacional – o pactum confoederationis – e em cujos termos são vertidas as
atribuições que lhes são transmitidas, bem como os órgãos que ficam incumbidos da
respetiva prossecução.

Nas Organizações internacionais, aparece uma nova entidade jurídico-


internacional, sem carácter estadual, sendo o seu estatuto essencialmente determinado
pelo Direito Internacional Público.

Dois elementos complementares existentes nas organizações internacionais:

a) Elemento organizacional: atende à formação de uma nova pessoa coletiva, de


substrato associativo e com carácter de permanência, dotada de órgãos próprios,
que lhe imputam uma vontade funcional em nome de interesses privativos, diversos
dos sujeitos estaduais que a promoveram
b) Elemento internacional: chama a atenção para o facto de esta nova entidade ser
regulada pelo Direito Internacional, não sendo primeiro criada por qualquer Direito
Interno, assim se distinguindo, de entre outros motivos, das organizações não-
governamentais, que aqui têm a sua sede jurídica inicial

As entidades para-estaduais são estruturas que apesar de se aproximarem da


realidade estadual não são Estados. A sua estruturação pode dividir-se em dois grupos:

correspondem a grupos de rebeldes armados

põem em acção uma atividade bélica em prol da mudança do sistema


Beligerantes político do Estado em que se integram

não extravasam para outros Estados já que devem necessariamente


Beligerantes e ocupar uma parte do território estadual, ainda que com diferentes graus
de implantação
insurrectos representam grupos de rebeldes que levam por diante uma luta armada
com o objetivo de derrubar o sistema político vigente, mudando depois a
ordem constitucional estabelecida
Insurrectos
não ocupam nenhuma parcela do território estadual

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Direito Constitucional

querem transformar o território onde habitam, bem como o


conjunto das pessoas que agregam, numa realidade estadual

Minorias nacionais ou concretizam os seus objetivos de construção de um novo Estado tanto


movimentos de libertação pela simples proclamação da independência política, quanto a uma
colónia, como pela secessão, separando-se do Estado a que pertenciam
nacional
a actividade que desenvolvem não é
necessariamente bélica, pode haver
actividade puramente diplomática

No plano regulativo é o Direito Constitucional o sector jurídico que primacialmente


traça o estatuto do Estado, já nas restantes entidades politicas: Direito Administrativo
para as entidades infra-estaduais e o Direito Internacional Público para as entidades
inter-estaduais e para-estaduais.

4.º O Estado como principal entidade jurídico-política

O sentido de Estado em geral


O Estado é o principal modo de organização política e social e tem-se mantido
estável na sua essência ao longo do tempo sendo que o Estado de hoje, herdado da
Idade Contemporânea, é ainda um modo de organização que satisfaz os interesses dos
cidadãos.

O Estado é a estrutura juridicamente personalizada, que num dado território exerce


um poder político soberano, em nome de uma comunidade de cidadãos que ao mesmo
se vincula.

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Direito Constitucional

Características do Estado:

• pressuposto da existência do Estado


Complexidade
organizatória • acarreta uma pluralidade de organismos, de tarefas, de
funcional atividades e de competências para levar a cabo os seus
objetivos
• ideia de personalidade coletiva
Institucionalização
dos objectivos e • dissociação da sua realidade estrutural por contraposição
das atividades aos interesses particulares e pessoais daqueles que nele
desempenham funções
• o Estado separa os fins que prossegue dos interesses
pretendidos pelos seus membros individualmente
Autonomia dos fins
considerados, nao se confundindo, nem sequer sendo o seu
somatório, a ideia de bem comum
• o Estado é detentor, necessariamente, de um poder
Originariedade do político originário, que se mostra constitutivo dele mesmo a
poder autodeterminar-se e a autoorganizar-se nos seus diversos
planos de organização e de funcionamento
Sedentariedade do • o estado carece de uma localização geográfico-espacial,
exercício do poder não havendo Estados virtuais, nem Estados nómadas
• o Estado é o depositário supremo das estruturas de
Coercibilidade dos coerção, que podem aplicar a força física para fazer
meios respeitar o Direito que produz e a ordem politico-social que
mantém

Fins do Estado:
• a segurança externa contra as entidades agressoras, no
plano territorial, no plano das pessoas e no plano do poder
Segurança • a segurança interna na manutenção da ordem pública, da
segurança de pessoas e bens, e na prevenção e repressão de
danos de bens sociais, para além da própria aplicação geral
do Direito
• a justiça comutativa quando se impõe estabelecer relações
de igualdade, abolindo as situações de privilégio , com
Justiça uniformes critérios de decisão
• a justiça distributiva no sentido de dar a cada um o que lhe
pertence pelo mérito ou pela sua situação real
•o bem-estar económico pela provisão de bens que o
mercado não pode fornecer ou não pode fornecer
satisfatoriamente
Bem-estar
•o bem-estar social pela prestação de serviços sociais e
culturais a cargo do Estado, normalmente desinseridos do
mercado

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Direito Constitucional

As aceções do conceito de Estado:


Estado no Direito Constitucional
• Estado-Poder e Estado-Comunidade, respetivamente, o conjunto dos órgãos,
titulares, atribuições e competências ou o conjunto das pessoas,
essencialmente cidadãos, que beneficiam da proteção conferida pelos direitos
fundamentais
•pessoa coletiva pública que detém o poder constituinte e que interpreta mais
abstratamente o interesse público no exercício das funções legislativa e
governativa
Estado no Direito Internacional Público
• pessoa coletiva participante das relações jurídicas internacionais que integram
a sociedade internacional como seu sujeito mais antigo, e ainda essencial não
obstante o alargamento subjectivo que essa mesma sociedade internacional
tem vindo a alcançar
Estado no Direito Administrativo
• pessoa coletiva pública, distinta de outras pessoas coletivas reguladas pelo
Direito Administrativo
Estado no Direito Judiciário
• pessoa coletiva pública que desenvolve a função jurisdicional através dos
órgãos judiciais, assim realizando a administração da Justiça
Estado no Direito Privado
• pessoa colectiva que se submete ao Direito Privado

O elemento humano – o povo

O elemento humano do Estado é o conjunto das pessoas que, relativamente a


determinada estrutura estadual, apresentam com a mesma um laço de vinculação
jurídico-política, que tem o nome de cidadania; conjunto de cidadãos de um Estado.

Domínios em que se torna mais nítida a relevância do substrato humano da organização


estadual:

a) Na escolha dos governantes: havendo democracia, quem escolhe os titulares do


poder político são os cidadãos, não estrangeiros ou empresas, exprimindo a sua
livre vontade através do sufrágio
b) No desempenho de cargos públicos: os cargos públicos mais diretamente ligados
ao poder do Estado, só podem ser desempenhados por cidadãos desse mesmo
Estado
c) Na definição das prestações sociais: assegurar o bem-estar económico e social,
através do exercício dos direitos fundamentais definidos em função dos cidadãos
que delas vão beneficiar

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Direito Constitucional

d) No cumprimento de alguns deveres fundamentais: defesa da Pátria, dever de


proteção contra agressões inimigas

Conceitos afins ao conceito de povo:

a) População: pessoas residentes ou habitantes no território estadual,


independentemente do vínculo de cidadania, nacional ou estrangeira, ou do não-
vinculo de apolídia, em que não há cidadania; conceito sobretudo estatístico e
económico (ex.: nº de consumidores de um produto)
b) Nação: pessoas que se ligam entre si com base em laços sociopsicológicos, como
uma mesma cultura, religião, etnia, língua ou tradições, formando uma comunidade
com esses traços identitários (ex.: em Espanha o Estado contém várias nações)
c) Pátria: sítio onde viviam os pais, a terra dos antepassados, numa conjugação de
fatores territoriais e histórico-culturais
d) Nacionalidade (stricto sensu): qualidade atribuída a pessoas coletivas ou a bens
móveis registáveis (ex.: aeronaves, navios) que os associa a determinada Ordem
Jurídica, tornando-a aplicável

A relação de cidadania implica um estatuto (o estatuto de cidadão) e um direito (o


direito à cidadania). A cidadania como estatuto designa um conjunto de posições
jurídicas atribuído à pessoa que dela beneficia, variando em função da natureza das
posições que nesse estatuto se encontram presentes:

a) Posições ativas: direitos


b) Posições passivas: deveres
c) Posições constitucionais: atribuídas logo pela Constituição
d) Posições infraconstitucionais: de natureza internacional ou legal

A cidadania como direito traduz-se no processo para se obter o estatuto de cidadão,


respeitando alguns critérios de atribuição:

 ius sanguinis: relações de sangue, porque se os progenitores pertencem a certa


cidadania, ela comunica-se aos seus descendentes
 ius soli: o lugar do nascimento, por uma ligação afetivo-territorial justificar a
atribuição da cidadania

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Direito Constitucional

O elemento funcional – a soberania

O elemento funcional do Estado (a soberania) expressa a organização de meios que se


destinam a operacionalizar a atividade estadual em ordem a alcançar os respetivos fins

A soberania vale duplamente na esfera externa e na esfera interna:

a) Soberania na ordem interna: representa a supremacia sobre qualquer outro centro


de poder político, que lhe deve obediência e cujas existência e amplitude são
forçosamente definidas pelo próprio Estado; reconhecimento de que o poder
político do Estado é soberano
b) Soberania na ordem externa: significa a igualdade e a independência nas relações
com outras entidades políticas, direito de celebrar tratados (ius tractuum), relações
diplomáticas e consulares (ius legationis), apresentar queixa, exercer legítima
defesa e o direito de participar na segurança da comunidade internacional (ius belli)

O poder político do Estado é o poder máximo da sua auto-organização, interna e


externa: a competência das competências. Essa primariedade do poder do Estado
implica que lhe compete, em cada momento, autodefinir-se na sua estruturação. Ao
Estado compete optar pela existência de outras entidades infra-estaduais.

No seio do seu território, é o Estado a autoridade máxima, nenhuma outra com


ele podendo ombrear, dele dependendo, assim, a fonte da juridicidade da Ordem
Jurídica interna.

Limites ao poder soberano do Estado:

a) Limites axiológicos: impõem-se à atuação de qualquer poder político


b) Limites lógicos: derivam da coexistência, sobretudo na ordem internacional, dos
diversos Estados soberanos

É ao Estado que incumbe o estabelecimento da natureza, da intensidade e dos


limites do poder político atribuído a essas estruturas infra-estaduais.

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Direito Constitucional

Poderes que se integram, na soberania estadual interna:

Competências pessoais Competências territoriais

• o Estado define o respetivo estatuto • o Estado determina livremente o


jurídico-politico dos cidadãos regime da utilização e aproveitamento
• exercita o poder político sobre os dos seus espaços geográficos
cidadãos e os residentes no seu • É unicamente o Estado a entidade com
território senhorio territorial, aí projetando as
suas leis, o mesmo é dizer, a respetiva
Ordem Jurídica

A soberania externa do Estado, mantendo as relações de independência e de


igualdade de direitos no seio da sociedade internacional, simboliza a liberdade de as
estruturas estaduais escolherem os seus vínculos contratuais e diplomáticos.

Estados semi-soberanos:

Estados Estados Estados Estados


confederados vassalos protegidos exíguos

Estados membros
Estados Estados
de organizações
neutralizados federados
supranacionais

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Estados não soberanos:

Estados membros
Estados Federados
de uniões reais

pertencentes a
federações mais
amplas mantêm a sua soberania interna

não são sequer sujeitos do DI por terem


transferido a totalidade dos poderes de
atuação internacional para o nível federal
alguns dos órgãos daqueles
podem ser comuns à união
real, numa lógica de fusão dos
ex.: EUA poderes estaduais
subjacentes com os poderes
estaduais superiores

O elemento espacial – o território

O elemento espacial do Estado consiste no domínio geográfico em que o poder do Estado faz
sentido, o que se denomina por território estadual, também pode tomar o nome de senhorio
territorial ou de domínio eminente

A atividade do Estado não pode nunca desprender-se de um suporte físico.

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Direito Constitucional

Funções do território:

a. Sede dos órgãos estaduais: é no território que se situa a capital do Estado, que
se pode transferir para qualquer lugar em vista da melhor garantia do objetivo
de segurança externa
b. Lugar de aplicação das políticas públicas do Estado, bem como da residência da
maioria dos seus cidadãos: definição das políticas públicas; leva em
consideração a extensão do território, propiciando mais elevados níveis de bem-
estar
c. Delimitação do âmbito de aplicação da ordem jurídica estadual: é o território
que traça as fronteiras da aplicação do poder estadual expresso na Ordem
Jurídica
d. Espaço vital de independência nacional: favorece a permanência e a
independência do Estado relativamente aos respetivos inimigos, para além de
ser um espaço de construção da sua singularidade identitária

Conceitos afins:

a) Domínio público do Estado e das demais pessoas coletivas: direitos de utilização


de bens coletivos, que, por causa da sua função, não podem ser objeto de comércio
privado, estando sujeitos a um severo regime de imprescritibilidade e de
inalienabilidade
b) Domínio privado do Estado e das demais pessoas coletivas públicas: direitos de
utilização de bens coletivos que podem ser objeto de comércio privado, sujeitos à
regra geral da disponibilidade jurídica
c) Domínio privado das pessoas privadas: direitos reais comuns que se exercem sobre
os bens.

Três características do território soberano:

Permanência Plenitude Exclusividade

• o poder do Estado é tido • o poder do Estado é • o poder do Estado não é


por duradouro e não exercido na máxima partilhável com mais
consubstancia qualquer potencialidade que se ninguém ao seu nível de
situação de vigência conhece soberania nesse domínio
limitada territorial

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Teorias explicativas da conexão do poder estadual em relação ao respetivo território:

a) Teoria patrimonial: o direito sobre o território é dominial; tem as mesmas


características do direito de propriedade do Direito Civil
b) Teoria do imperium pessoal: o direito sobre o território exercia-se sobre as
pessoas que nele se situassem ou residissem
c) Teoria do direito real institucional: idêntica à primeira, mas mitigada pela
função dos serviços estaduais
CORRECTA! d) Teoria da jurisdição ou senhorio: o direito sobre o território afeta
CORRECTA! simultaneamente pessoas e bens, nunca se equiparando a um direito real

O desenvolvimento do território estadual tem vindo a confirmar a correção da


teoria do senhorio territorial porque não persiste qualquer apropriação dos espaços,
implica apenas a aplicação da ordem jurídica estadual.

Três modalidades do território estadual:

Espaço
Espaço terrestre espaço aéreo
marítimo

O espaço terrestre corresponde à massa de terra seca, continental ou insular, onde o estado, os
seus órgãos e os respetivos cidadãos desenvolvem a sua atividade

Terra seca
• porção de terra que se encontra acima do nível médio das águas
Cursos fluviais
• porções de água doce, assistidas de corrente circulatória, que percorrem os
meandros da terra seca
Lagos e lagoas
• porções de água doce, sem corrente circulatória, que se encerram em
espaços delimitados por terra seca

O espaço aéreo abrange a camada de ar sobrejacente aos espaços terrestres e marítimos


submetidos à soberania estadual, até a um limite superior a partir do qual se considera existir o
espaço exterior, aí vigorando um regime internacional, e não já de soberania interna

O espaço marítimo abrange a porção de água salgada que circunda o território terrestre, solo
e subsolo marítimos

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Direito Constitucional

Zona contígua: espaço marítimo delimitado entre as 12 e as 24 milhas, a seguir ao mar


territorial, em que o estado costeiro pode exercer poderes de fiscalização com vista a evitar
ou reprimir violações às suas leis e regulamentos internos

Zona económica exclusiva: espaço marítimo delimitado entre as 12 e as 200 milhas, a seguir
ao mar territorial, nela o estado exercendo direitos preferenciais de aproveitamento dos
recursos biológicos vivos aí existentes, para além de poderes de jurisdição e de fiscalização

As vicissitudes do Estado
a) Vicissitudes políticas: mutações no sistema político dos Estados; ganham apenas
uma projeção sobre os sistemas constitucionais dos Estados, operando-se
modificações; podem diminuir ou aumentar a sua capacidade jurídico-internacional
b) Vicissitudes territoriais: alterações no elemento territorial
i. Vicissitudes aquisitivas
ii. Vicissitudes modificativas
iii. Vicissitudes extintivas

As vicissitudes aquisitivas designam o aparecimento do Estado, o momento


jurídico-político a partir do qual, contrariamente o que sucedia antes, emerge no Direito
Público, interno e internacional, uma nova entidade jurídico-política. O aparecimento
do Estado manifesta-se de diferentes modos:

• manutenção do Estado anterior, assim ficando


nascimento a partir de um reduzido
processo de secessão • surgindo um novo Estado através de um acto de
separação territorial

nascimento a partir de um
• fundamento no movimento da descolonização
processo de descolonização
internacional
política

• Estados que se dissolvem


nascimento por fusão num
novo Estado de territórios que • por cisão ou desmembramento de um Estado
pertenciam a outros Estados anterior em dois ou mais Estados, por efeito do
fenómeno da sua extinção

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Direito Constitucional

As vicissitudes modificativas, modificam territorialmente o Estado:

Aquisição de parcelas territoriais


• por fenómenos naturais como o aluvião e o avulsão
•por actos jurídicos, como a ocupação de terras res nullius ("coisa de ninguém")
• a ocupação autorizada ou adjudicação onerosa (ex.: compra do Louisiana à
França pelos EUA)
Perda de parte so seu território
•por cataclismos naturais, como terramotos ou inundações permanentes
Cessão parcial voluntária
• decepação de parcela do seu território, a integrar noutro Estado ou a erigir-se,
autonomamente, em novo Estado, através de um processo convencional (ex.:
Macau)

As vicissitudes extintivas determinam o desaparecimento do estado:

Desaparecimento
• o caso da lendária Atlântida, que se "afundou" no Oceano
físico do seu
Atlântico
território

• o Estado desagrega-se, integrando-se as suas partes noutros


Secessão extintiva Estados já existentes ou dando origem a novos Estados
• ex.: RDA incorporou-se na RFA

• posse sobre território alheio, sem que seja contestada


Usucapião
• converte-se em direito de soberania territorial

• de um governo de facto ou de uma orgnização internacional,


Decisão unilateral
quando impõe a consequência jurídica da extinção do Estado

5.º A evolução do Estado na História Universal

A Periodificação da evolução histórica do Estado


O Estado não deve ser olhado como uma realidade imutável. Bem pelo contrário,
ao longo da história, à medida que sociedade humana vai evoluindo, é possível
identificar vários tipos históricos de Estado.

O Estado Oriental
O Estado Oriental remonta aos princípios da História, quando se assinalou a
presença da escrita, perto de 3000 a.C. Acolhe esquemas de governação
experimentados na antiga Mesopotâmia, no antigo Egipto ou no antigo Israel, alguns
séculos antes do início da era cristã.

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Direito Constitucional

Características:

a) Elevada extensão territorial: impérios


b) Regime teocrático: fusão na relação entre o poder político e o poder religioso
com o predomínio da dimensão religiosa sobre a dimensão política; o
monarca pode ser deus ou apenas o seu delegado
c) Sistema monárquico
d) Acentuado escalonamento e estratificação social

O Estado Grego
O Estado Grego foi assinalado pela existência de algumas experiências de
organização política naquele território, no período anterior à hegemonia romana com
especial foque para as Cidades-Estado de Atenas e Esparta.

Particularidades:

a) Diversidade simultânea dos regimes políticos experimentados


b) Exiguidade dos territórios políticos
c) Proximidade da esfera religiosa com a esfera civil: interferência do politeísmo
pagão dominante
d) Sentido reflexivo a respeito da condição humana: aparecimento da Filosofia

A cidade-Estado de Atenas acolheu uma organização política de base civil e


democrática, na qual se marcou a importância de Péricles, no século V a.C. Os seus
órgãos do governo estavam assim distribuídos: um órgão executivo, de tipo monárquico,
um órgão parlamentar, representado pelo Areópago, e órgãos de natureza judicial.

A cidade-Estado de Esparta espelhou uma opção de organização política militarista,


em que a liberdade individual se indexava às exigências de defesa do território. Licurgo
foi a figura central do período áureo de Esparta, dentro de uma filosofia claramente
belicista. Esparta foi assim uma primeira experiência de monarquia bicéfala, que mais
tarde evoluiu para uma verdadeira oligarquia.

O Estado Romano
O Estado Romano abrangeu mais de um milénio, desde a fundação da cidade de Roma
até ao fim do Império Romano do Ocidente, com a chegada dos povos bárbaros.

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Direito Constitucional

Características:

a) Acentuação do fator territorial


b) Diversidade sucessiva de experiências políticas díspares
c) Relação de domínio do poder político sobre o fator religioso
d) Preocupação com a construção dos grandes alicerces do Direito e das suas
fontes
e) Afirmação dos vários direitos de cidadania romana

Na sua organização política o Estado Romano registou três fases:

i. Fase monárquica: um rex, que era eleito, embora mandasse a título vitalício
ii. Fase republicana
iii. Fase dominial: progressiva concentração de poder no princeps

A Monarquia incluía a existência de três órgãos: o Rei, a Assembleia Curiata e o


Senado.

O Rei, era proposto por um interrex, que assumia funções na vacatura do cargo,
e desempenhava a totalidade do poder executivo – civil, militar, judiciário e religioso.

A Assembleia Curiata, só constituída por patrícios e com a exclusão dos plebeus,


exercia funções legislativas, judiciais, eletivas e administrativas, havendo uma certa
divisão de poderes.

O Senado, constituído pelos chefes das gentes, tinha funções auxiliares


relativamente ao Rei, a não ser em caso de vacatura desse cargo ou para ratificação das
deliberações tomadas pelas assembleias populares.

A República conservou dois dos seus órgãos – as Assembleias Populares e o


Senado, mas substituiu o Rei pelos cônsules.

O Consulado era composto por dois magistrados que exerciam o poder


executivo, durante um ano, alternadamente, disfrutando ambos de um direito de veto
(intercessio) sobre as decisões do outro, com recurso para o Senado nas situações de
impasse.

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As Assembleias Populares compunham-se dos Comitia Centuriata e dos Comitia


Tributa, acolhendo já os plebeus, que entretanto faziam parte do exército, com poderes
eletivos, legislativos e judiciais:

i. Eletivos na designação dos magistrados, particularmente dos cônsules


ii. Legislativos na votação das leis e na decisão acerca da guerra e da paz
iii. Judiciais nos recursos dos condenados à morte

O Senado exercia inicialmente a função de órgão auxiliar dos cônsules, mas


depois passou a intervir nas deliberações e na vida de outras instituições, ratificando as
decisões do Conselho do Povo (auctoritas patrum) e adjuvando os magistrados
(sententia, consultum).

A expansão territorial do Estado Romano, juntamente com as graves crises


económicas e militares, determinariam a evolução para o Dominato, o fortalecimento
do poder executivo no prínceps que assumia o imperium militae. O primeiro prínceps foi
Gaio Octávio, que, no ano de 27 a.C, se intitulou César Augusto.

Na Reforma do Diocleciano, em 284 d.C, que dividiu o Estado Romano em duas


partes, ocidental e oriental, estabeleceu-se o último momento já de Império, com total
concentração do poder político no imperador, vitaliciamente designado pelo Senado,
com direito de indicar o respetivo sucessor. O Senado nesta fase desempenhava apenas
limitadas funções eletivas de alguns magistrados, bem como de carácter administrativo
e as assembleias comiciais desapareceriam por completo.

O período do Estado Romano ficaria assinalado pelo seu contributo para a


edificação de um Direito Público

a) Publicidade da lei: Lei das XIII Tábuas


b) Direitos de cidadania: Públicos/Privados
c) Participação popular nas assembleias: primeiro restrita, depois alarga-se a todos
os cidadãos; base da ideia da raiz popular do poder público, cujo exercício se
legitimava pelas lex rogata imperio
d) Complexidade organizatória do poder político

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e) Formalização da produção do Direito e o relevo da jurisprudência e da doutrina


na respetiva densificação

O Estado Medieval
O Estado Medieval abrangeu toda a Idade Média, a qual se apresentou na
expansão do Cristianismo, na receção das ideias e tradições dos povos bárbaros que
tinham invadido a Europa e, assim, destruído o Império Romano do Ocidente,
simbolizada na tomada de Roma por Alarico. Este período ficou também marcado pelo
nascimento das cidades e surgimento das universidades.

A forma política de governo dominante foi a da monarquia de acordo com a


tradição germânica, em que o rei era escolhido com base num critério de sucessão
hereditária, optando os Estados pela lei sálica – somente a escolha de varões – ou pela
liberdade nessa indicação e sem tal restrição sexual.

Ao nível da organização político-territorial assistiu-se à perda de parcelas


fundamentais de poder político em favor de estruturas infra-estaduais ou supra-
estaduais.

No plano interno observou-se a fragmentação do Estado em unidades territoriais


com base na necessidade da proteção de grandes extensões de território, nascendo
assim os senhorios feudais, porções de território, integrados no Estado, mas com amplos
poderes de natureza política, como o poder militar, o poder judicial e o poder fiscal;
Estados dentro do próprio Estado.

No plano externo surgem duas entidades supra-estaduais: o Papado e o Sacro


Império Romano-Germânico. Afirma-se assim uma clara supremacia do poder espiritual
sobre o poder temporal.

O Estado Moderno
O período da Idade Moderna regista-se entre o Renascimento/Descobrimentos e as
revoluções liberais dos finais do século XVIII.

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A Respublica Christiana, devido à divisão religiosa provocada pelo protestantismo e


pela afirmação do poder civil, cederia o lugar, à igualdade dos Estados na cena
internacional.

Alguns pensadores políticos:

 NICOLAU MAQUIAVEL: fortalecimento do Estado; o poder devia ser exercido por


uma só pessoa, em regime monárquico, devidamente apoiado num braço militar
 JEAN BODIN: poder político estadual liberto das amarras feudais; faculdade de
legislar sobre os súbditos sem o seu consentimento; alguns limites, como os
mandamentos divinos, as leis naturais e certos princípios gerais de Direito
 THOMAS HOBBES: explicação contratualista acerca da justificação do poder político
absoluto; os cidadãos para se preservarem e para evitar a guerra de todos contra
todos, cederiam irrevogavelmente ao Estado o “poder de vida e de morte” sobre
eles próprios; engrandecimento do poder régio

Novos vetores:

a) Intensificação do poder estadual com recurso ao conceito de soberania: tanto


na ordem interna como na ordem internacional; Príncipe como chefe da Igreja
do Estado
b) Domínio do poder político sobre o poder religioso
c) Construção de novos Estados com base nas nações subjacentes

Subtipos dentro do Estado Moderno:

O Estado moderno fica também marcado pela “época de todas as ausências”:

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Direito Constitucional

a) Ausência de “direitos fundamentais” – não havia a proteção contra o arbítrio do


poder público
b) Ausência de “cidadania” – as pessoas eram súbditos
c) Ausência de “representação” e de “democracia” – a monarquia e os
parlamentos não tinham qualquer consistência democrática.

O Estado Contemporâneo
O Estado Contemporâneo vai desde os fins do século XVIII até à atualidade.

TIPOS CONSTITUCIONAIS DE ESTADO

Estado Liberal Estado Socialista Estado Fascista Estado Social

Estado Pós-
Social

A ideia mais impressiva do Estado Contemporâneo é a sua conceção de Estado


de Direito.

Estado de Direito significa que o poder político estadual se submete materialmente ao Direito
e que este efetivamente contém o respetivo poder

A estruturação do poder político passa a estar submetida a uma medida de


decisão que evita que a mesma esteja submetida aos desejos caprichosos dos titulares
do poder político.

Vetores fundamentais:

a) Afirmação de uma legalidade constitucional consubstanciada numa lei escrita,


decretada e superior às demais onde se declaram os direitos fundamentais –
segurança jurídica decorrente de estes se encontrarem escritos
b) Reconhecimento de um conjunto de direitos fundamentais anteriores e superiores
ao poder político e que este se limitaria a declarar e não a criar – representam
novos espaços de autonomia individual

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Direito Constitucional

c) Separação entre o poder político e o fenómeno religioso com o reconhecimento


específico da liberdade de consciência e de religião – secularização do poder
político
d) Origem liberal e democrática do poder político com base na soberania popular –
os cidadãos já não são súbditos mas titulares de poder político do Estado – numa
democracia de índole representativa
e) Proclamação da teoria da separação de poderes do Estado contra a concentração
absolutista dos mesmos – reconhecimento de Direitos fundamentais de natureza
política associados à afirmação da cidadania
f) Proposta do princípio republicano projetando uma chefia do Estado
democraticamente designada
g) Declínio do princípio monárquico com a designação democrática e não dinástica

Marca-se o início do Constitucionalismo Liberal e da ideia de Constituição. Os primeiros


exemplos de textos constitucionais escritos foram nos EUA, a CNA de 1787, e na Europa,
a Constituição de 3 de Maio de 1791 da Polónia, logo seguida da 1ª Constituição
Francesa.

Importância da Constituição ao salientar-se uma vertente formal e uma vertente


material:

a) Do ponto de vista formal: porque a Constituição é escrita e legal, aprovada por um


processo formal que a tornava rígida, menos facilmente poderia ser modificada e
por maioria de razão revogada
b) Do ponto de vista material: protegeria a esfera do indivíduo contra a ação do
Estado: separação de poderes; representação liberal da soberania nacional;
proclamação dos direitos fundamentais liberais

O Estado Contemporâneo reformularia o tipo de relações existentes entre o poder


político e o fenómeno religioso com a separação colaborante ou cooperativa entre o
poder político e o fenómeno religioso, uma visão mais amadurecida dessas relações.

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Direito Constitucional

6.º O Estado Constitucional da Idade Contemporânea

O Estado Liberal do século XIX


O Estado Liberal nasceria na Europa e na América do Norte nos finais do século
XVIII, prolongar-se-ia por todo o século XIX e entraria um pouco pelo século XX adentro.

Características:

a) Positivação dos direitos fundamentais de defesa


b) Ideia de um poder estadual com separação de poderes
c) Implantação do governo liberal e representativo restrito
d) Organização económica liberal de cunho fisiocrático

Marca a rutura para com o passado absolutista, fazendo vingar uma nova
conceção de pessoa e de sociedade: o individualismo enquanto doutrina de afirmação
do homem.

Afirmam-se os direitos fundamentais, na sua veste de direitos de defesa, com os


quais se visava essencialmente garantir uma não intervenção do Estado, preservando
espaços de autonomia dos cidadãos e surge um importante conjunto de direitos civis
com os quais as pessoas passaram a ser reconhecidas nos seus atributos mais
elementares de personalidade e de capacidade jurídica.

Estabelecem-se de diversas garantias criminais, substantivas e processuais com


uma intensa humanização do Direito Penal e do Direito Processual Penal.

Apareceram os primeiros direitos de cunho político, para os quais os cidadãos,


sendo os titulares do poder estadual em nome do princípio da soberania popular,
atuavam pelo voto nas eleições e pelo exercício das liberdades públicas, como a
liberdade de expressão, a liberdade de reunião ou a liberdade de associação.

Do prisma da organização económico-social, o Estado Liberal consagrou o


liberalismo económico, na sua expressão mais pura, consubstanciada no fisiocratismo,
para cuja doutrina o poder público se deveria abster de intervir na economia. A
abstenção do Estado teve vários resultados na conceção de finanças públicas neutras.

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Direito Constitucional

Surge a expressão de Estado como, “guarda-noturno”, na medida em que


unicamente se lhe atribuía funções policiais.

O Estado Totalitário Socialista


O Estado Soviético que assentou numa ideologia de revolução social, protagonizada
por Karl Marx resumindo-se nos seguintes tópicos:

a) Ser a luta de classes o motor da História: dialética entre o povo oprimido – o


proletariado – e o povo opressor – os capitalistas; relevam apenas fatores materiais
e nunca fatores espirituais
b) Explicar-se pela luta de classes a personificação da História: comunismo primitivo;
esclavagismo moderno; socialismo científico; comunismo
c) Ser a luta de classes o motor da História: dialética entre o povo oprimido – o
proletariado – e o povo opressor – os capitalistas; relevam apenas fatores materiais
e nunca fatores espirituais
d) Explicar-se pela luta de classes a personificação da História: comunismo primitivo;
esclavagismo moderno; socialismo científico; comunismo
e) Atribuir-se ao proletariado, transitoriamente, o poder político exclusivo: “ditadura
do proletariado”
f) Abolir-se, na fase do Estado comunista final, as classes sociais, o Estado e o Direito:
atingir-se a perfeição comunista e o “homem novo”

A experiência mais relevante do Estado Socialista foi o Estado Socialista Soviético, a


partir da Revolução Bolchevique de 1917.

O Estado Soviético seria o Estado que levaria mais longe o socialismo científico
marxista e leninista, tendo sido também ele o que mais influenciaria os outros países.

A Constituição perderia a sua função garantística dos direitos fundamentais e


limitadora da estrutura de poder, um instrumento de afirmação da ideologia única, ao
serviço da ditadura do proletariado.

O Direito centralizou-se fortemente na lei como regulação aplicável, com a


abolição do costume.

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Direito Constitucional

A proteção dos cidadãos foi desde logo ideologicamente limitada:

a) Aos proletários
b) Aos direitos económicos e sociais
c) Serão desvalorizados os direitos civis e políticos

É abolida a propriedade privada da terra, dá-se a transferência de todos os bancos


para o Estado operário, é estabelecido o serviço do trabalho obrigatório para todos e
decretado o armamento dos trabalhadores.

O mercado cedeu o lugar ao plano, enquanto instrumento burocrático e


imperativo de definição da atividade económica, tanto ao nível da produção como ao
nível dos preços e dos salários.

No plano da organização política, a URSS assentava numa estrutura piramidal


composta por quatro níveis: a Federação, os Estados e as repúblicas, as comarcas rurais
e urbanas e as povoações e localidades, excecionalmente admitindo-se esquemas
especiais de administração nas repúblicas autónomas, territórios e regiões.

Topo:

a) Soviete Supremo: assembleia com cerca de 1500 membros, subdividindo-se em


duas câmaras, o Soviete da União e o Soviete das Nacionalidades; reúne poucos
dias no ano
b) Presidium do Soviete Supremo: órgão colegial restrito, eleito pelo Soviete
Supremo, funcionando no tempo em que aquele não estava reunido com poderes
delegados por ele competências mais relevantes no plano internacional, político e
de defesa
c) Conselho de Ministros: eleito pelo Soviete Supremo; competências administrativas
nos diversos assuntos da burocracia federal, incluindo a planificação económica
imperativa e também alguns poderes legislativos
d) Tribunais: distribuídos pelos diversos níveis de poder; escassa autonomia de
aplicação do Direito; os juízes são eleitos pelo Soviete correspondente ao respetivo
escalão

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Direito Constitucional

O sistema de governo soviético era protagonizado pelo Partido Comunista da União


Soviética (PCUS), com a observação de um sistema monopartidário. O PCUS surgiu como
estrutura omnipresente e paralela ao Estado e o legítimo depositário da sua doutrina
oficial.

O PCUS organizava-se numa pluralidade de órgãos colegiais:

a) Congresso: reunia quinquenalmente


b) Comité Central
c) Politburo e o Secretariado

A ausência de liberdade partidária estava presente no princípio do centralismo


democrático pelo qual a orientação política partidária era definida de cima para baixo,
com obediência total de baixo para cima.

“Qualquer manifestação de fraccionismo ou formação de grupos é incompatível


com o espírito marxista-leninista do Partido, com a permanência do Partido”.

FIM: Muro de Berlim; Perestroika – Gorbatchov

República Popular da China (1949)


Os traços fundamentais do regime socialista chinês fundaram-se no pensamento de
Mao Tsé-Tung.

Características:

a) Conceção da revolução socialista em duas fases: primeiro numa fase democrática


e, depois, numa fase verdadeiramente socialista
b) Radicação da revolução chinesa na aliança entre operários e camponeses
c) Apoio das forças armadas no desenvolvimento da revolução chinesa
d) Perspetiva nacionalista da revolução chinesa: não há intuitos imperialistas de
expansão

4 Constituições: 1954, 1975, 1978 e 1982

i. Período inicial: implantação do sistema socialista


ii. Período intermédio: consolidação do sistema

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Direito Constitucional

iii. Período atual: reforma interna a partir de Deng Xiao Ping, com a afirmação do
princípio “um país, dois sistemas”

Constituição de 1982:

a) Estado é a aliança entre operários e camponeses


b) Estruturação piramidal dos poderes
c) Congresso Nacional Popular, o Presidente e o Vice-Presidente, o Conselho de Estado e
os Tribunais
d) Liberdade individual fica vinculada a um projeto global de sociedade
e) Organização económica apoia-se num entendimento coletivista: propriedade pública
socialista dos meios de produção.

Cuba, com um sistema político moldado à imagem da personalidade de Fidel Castro,


herói da Revolução Socialista Cubana (1959)
Constituição de 1976:

a) “Cuba é um Estado socialista de trabalhadores”


b) Unicidade do poder popular reside no povo
c) Partido único: “O Partido Comunista de Cuba”
d) Propriedade pública sobre os meios fundamentais de produção
e) “ A Assembleia Nacional do Poder Popular é o órgão supremo”

O Estado Totalitário Fascista


Itália a partir de 1922 com Benito Mussolini que se impôs depois da “Marcha
sobre Roma” contando com o apoio do rei.

Alemanha a partir de 1933 com Adolf Hitler, com um regime nacional-socialista,


fundado no Führerprinzip dominado por um intuito expansionista e racista.

Portugal a partir de 1926 com Oliveira Salazar e Marcello Caetano, num regime
autoritário; “Tudo pela Nação, nada contra a Nação”.

Espanha a partir de 1939 com Francisco Franco, num regime nacionalista e


tradicionalista que apoia o rei, D. Juan Carlos.

Alguns pontos comuns e suas consequências:

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Direito Constitucional

Ausência de liberdade e de Sistema de partido único


pluralismo político
Predomínio do poder executivo
Repúdio do parlamentarismo Desvalorização do poder parlamentar
liberal Culto da personalidade do chefe
Exaltação da conceção militarista do Estado
Aceitação de uma economia
capitalista de raiz

No pano de fundo da experiência totalitária pode-se compreender uma conceção


transpersonalista do Estado e do Direito.

Em matéria de limitação dos direitos fundamentais invoca-se a necessidade de


segurança do Estado. Surgem mecanismos de controlo da opinião pública, como a
censura, a limitação no exercício de direitos de reunião, de manifestação e de associação
ou a polícia política. Há um repúdio formal dos direitos económicos e sociais.

Conceção corporativista da sociedade, imposta de cima para baixo por parte do


Estado lado a lado com a exigência de fidelidade política para se aceder a determinados
cargos públicos.

Limitações à lógica da propriedade privada:

a) Condicionamento da atividade industrial e comercial, em nome da defesa de


objetivos traçados pelo Estado, privilegiando-se certos grupos económicos
b) Adoção de medidas de protecionismo económico, afirmando o valor da economia
do Estado no domínio das relações internacionais

O Estado Social do século XX


O Estado Social Democrático resulta de experiências como a Constituição
alemã de Weimar de 1919, a experiência mexicana com a sua Constituição
de 1917.

Novos paradigmas:

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Direito Constitucional

a) Aparecimento de novos direitos fundamentais: em nome de uma igualdade social;


direitos sociais de 2ª geração – direito à proteção da saúde, educação, à Segurança
Social; direitos à prestação do Estado

b) Sofisticação de diversos mecanismos de organização do poder político: abolição


do dogma da separação rígida de poderes; favorecimento de mecanismos de
participação democrática

c) Criação de uma organização constitucional da economia: pôr em prática vários


objetivos de intervenção social

Os direitos fundamentais de defesa passam a ser submetidos a várias cláusulas


limitativas em função dos interesses gerais da comunidade, como é exemplo a função
social da propriedade, que deixa de ser um direito liberal absoluto.

Regista-se uma maior necessidade de intervenção social com a possibilidade de o


poder executivo exercer poder legislativo.

Dá-se a adoção do sufrágio universal, no lugar do sufrágio masculino, censitário e


capacitário bem como outros mecanismos de expressão da vontade popular, como os
referendos ou as iniciativas legislativas populares.

O Estado Pós-Social e da Pós-Modernidade do século XXI?


A chegada do novo milénio fez acentuar a “crise do Estado Social”. Uma das
razões radica nas insuficiências do gigantesco aparelho social que se criou com os
diversos sistemas de direitos económicos e sociais, fazendo aumentar a carga fiscal
gerando insuficiências na gestão dos recursos.

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Direito Constitucional

Direitos fundamentais de 3ª geração, considerados direitos fundamentais “pós-


modernistas” que irão corresponder a novos desafios colocados ao Estado:

desafios da degradação ambiental


• direitos fundamentais de proteção no ambiente

desafios do progresso tecnológico


• direitos de proteção da pessoa na Bioética

desafios do multiculturalismo das sociedades


• desafios de defesa das minorias

Mudanças estruturais:

a) Intensidade de uma democracia representativa


b) Uso constante de sondagens, assinalando as diversas etapas da decisão política
c) Abertura permanente da decisão política aos contributos dos grupos de interesses
d) Possibilidade de os cidadãos, pela petição e pela iniciativa legislativa popular,
poderem impulsionar o procedimento legislativo

7.º A caracterização do Estado Português

A formação e a evolução de Portugal

Período medieval •nascimento e alastramento peninsular do Estado

•expansão territorial além continental


Período moderno •fortalecimento do poder real, com desconto da
interrupção da união pessoal com Espanha
•redução europeia e o Constitucionalismo
•vicissitudes do século XX
Período contemporâneo •crise da monárquia e a I República
•II República autoritária e nacionalista
•actual III República, Democrática e Social

 1139: batalha de Ourique


 1143: Tratado de Zamora com Castela

Século XV, com os Descobrimentos, deu-se o acrescento das novas possessões


ultramarinas entretanto descobertas, da África à Ásia, passando pela América do Sul.

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Direito Constitucional

Surgiram assim novos esquemas de aplicação do Direito Estadual, levando em


consideração as particularidades ditadas por essas novas realidades.

1580, Portugal viveria um período de união pessoal com os soberanos de Espanha,


coincidindo na mesma pessoa a titularidade das coroas portuguesa e espanhola apesar
de juridicamente não se poder colocar em crise a subsistência de Portugal como Estado.
No fundo isto resultava numa dependência constante dos interesses de Portugal em
relação aos interesses de Espanha.

Com a Restauração de 1640 seria possível recuperar a independência política fáctica,


sendo de novo Portugal governado por portugueses e em nome do seu interesse
próprio.

A Idade Contemporânea projetou-se na evolução que o Estado Português ofereceu


com a Revolução Liberal de 1820.

O elemento humano: os cidadãos portugueses

Cidadãos portugueses: conjunto das pessoas que se lhe vinculam por um laço jurídico-público
de cidadania (art. 4º CRP)

O regime da cidadania em Portugal obedece a duas fontes internas


fundamentais: por um lado, as normas e os princípios constitucionais; por outro lado, a
Lei da Nacionalidade, que concretiza os múltiplos processos de atribuição da cidadania,
bem como os efeitos que lhe estão associados.

A LN estabelece diversos esquemas de concessão da cidadania:

a) Atribuição originária pelo nascimento: chama-se cidadania originária, para os casos


de nascimento de cidadão português ou em território português, ainda que com
algumas limitações
b) Aquisição por efeito da vontade: filhos menores ou incapazes quando os
progenitores adquirem a cidadania portuguesa; aquisição da cidadania do cônjuge,
por efeito do casamento ou da união de facto
c) Aquisição por efeito da adoção: os pais adotivos transmitem ao filho adotado a sua
cidadania

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Direito Constitucional

d) Aquisição por naturalização: cidadão estrangeiro, em nome de uma ligação forte a


Portugal dada pela residência e pelo conhecimento das suas realidades, é atribuída
a cidadania portuguesa (artigo 6º LN)

O vínculo da cidadania portuguesa pode ainda ser observado sob a perspetiva da


sua perda, apolídia (artigo 8º LN).

O ius sanguinis significa que a cidadania permanece na descendência daqueles que,


uma primeira vez, a alcançaram ao passo que o Ius soli surge atribuindo-se a cidadania
do Estado em cujo território aquele aconteça com desconsideração da ligação aos
respetivos progenitores.

Estes dois modelos de atribuição não podem funcionar nesta sua pureza e
transformam-se normalmente em sistemas mistos, nos quais aqueles dois critérios se
encontram presentes, ainda que um deles possa ser predominante relativamente ao
outro

A LN em Portugal na atribuição da nacionalidade frisa a importância do ius sanguinis:

Filhos de pai ou mãe portuguesa são sempre portugueses, nascidos em


Portugal, e se nascidos no estrangeiro também o são desde que aí eles se
encontrem ao serviço de Portugal, se declararem querer ser portugueses ou
se inscreverem no registo civil português

Estatuto dos cidadãos – direitos e deveres:

a) Capacidade para eleger e referendar, nos termos do direito de sufrágio


b) Exclusividade do acesso aos cargos políticos mais relevantes
c) Obrigação de defender a Pátria, em caso de necessidade

O elemento funcional: a soberania portuguesa


Atendendo às duas vertentes de soberania estadual, Portugal é duplamente
definido como soberano na ordem interna e na ordem externa:

i. Nível interno: todos devem obediência ao estado através da sua


Constituição, dado que a validade dos atos jurídicos praticados depende da
conformidade com o respetivo texto constitucional; princípio da Constituição

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Direito Constitucional

ii. Nível externo: as relações internacionais de Portugal devem pautar-se por


importantes princípios; respeito pela independência nacional que se
confirma tanto no conjunto das tarefas fundamentais do Estado como, mais
solenemente, na matéria dos limites materiais de revisão constitucional

Estruturas dotadas de autonomia política, mas não de soberania:

a) Regiões autónomas
b) Autarquias locais
c) Outras entidades administrativas

O elemento espacial: o território português


No tocante ao espaço terrestre, a CRP adota a técnica da cláusula geral,
esquivando-se a uma alusão tipológica, na enunciação das respetivas parcelas.

Fala-se em “território historicamente definido no continente europeu e os


arquipélagos”, dando a entender que é o território composto pela terra seca, inclui
outros espaços, como os marítimos, para além do óbvio suplemento de certeza jurídica
que seria inerente à utilização de normas tipológicas na identificação do território.

O território de Olivença está numa situação incerta pois está, de facto sob a
soberania de Espanha, mas de iure pertencendo a Portugal.

Os poderes do Estado Português sobre as águas atlânticas, não são de soberania


mas de mera jurisdição, abrangem ainda os espaços correspondentes à zona contígua,
das 12 até às 24 milhas, e à zona económica exclusiva, até às 200 milhas, ao redor a
costa continental e das ilhas dos arquipélagos dos Açores e da Madeira, zona económica
exclusiva que é das mais extensas da Europa.

Em matéria de território aéreo enfrenta-se um total silêncio constitucional.

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Direito Constitucional

CAPÍTULO III - PERSPECTIVAS DE DIREITO CONSTITUCIONAL COMPARADO

8.º Aspetos metodológicos gerais

A comparação em Direito Constitucional


Função Função Função
Função formativa
pedagógica hermenêutica prospectiva

• possibilita • oferece • dá pistas para • contribui para a


melhor conhecer contributos para alterações elevação cultural
as soluções a interpretação e legislativas no dos juristas
próprias a integração de futuro
lacunas

A metodologia comparatística assenta na radical dissociação entre:

a) Macro-comparação: quando se pretende comparar blocos ou ordenamentos


jurídicos
b) Micro-comparação: quando se compara um instituto ou um problema mais
específico, numa ótica funcional

Questões constitucionais:

a) Enquadramento histórico-geográfico dos sistemas constitucionais


b) Configuração, conteúdo e função da Constituição na formação do DC
c) Consagração dos direitos fundamentais
d) Modelação das formas e dos regimes políticos
e) Formatação dos sistemas de governo dos órgãos de soberania

Os Direitos Constitucionais Estrangeiros a comparar


Perante a impossibilidade de realizar essa tarefa no contexto em que nos
encontramos, com os quais mais de 200 Estados existentes, é preferível escolher
sistemas políticos mais originais no seu contributo para o Direito Constitucional. Surgem
assim as famílias constitucionais.

Outros critérios:

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Direito Constitucional

a) Critério normativo-sistemático: inserir o sistema constitucional na ordem jurídica


global
b) Critério geográfico-cultural: circunstâncias espaciais e das ideias que estiveram na
sua génese
c) Critério histórico-político: acontecimentos políticos, económicos e sociais que
impuseram um certo curso dos acontecimentos

Não existe nenhum sistema constitucional de matriz portuguesa contudo verifica-


se uma proximidade, meramente textual, histórica e cultural, entre as Constituições dos
ELP:

a) Proximidade textual: preceitos das respetivas Constituições são muito


inspirados no texto da CRP
b) Proximidade histórica: acontecimentos em que participaram portugueses e em
que ocorreu um período de transição e de absorção
c) Proximidade cultural: os ELP receberam uma herança comum de Portugal, que
também se manifesta no DC

9ª. O Direito Constitucional do Reino Unido

História e evolução:

a) lenta ao sabor de costumes e tradições;


b) ruturas constitucionais raras

Fases:

a) Estabilização territorial e Monarquia (desde as origens até ao século XVII);


b) Turbulência institucional (século XVII: Guerras civis e mudanças de dinastia;
Petição de Direito; Declaração de Direitos; Cromwell e Hobbes);
c) Aristocracia (século XVIII: Câmara dos Lordes; Fim do poder absoluto real;
Formação completa do Estado Britânico como Estado Composto); Democracia
(século XIX até hoje: Câmara dos Comuns; Reformas parlamentares;
Autonomização do Governo).

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Direito Constitucional

Ordenamento constitucional (misto e flexível):

a) Sistema anglo-saxónico Common Law.


b) Características:
a. Costume e jurisprudência (sistema do precedente) como fontes de
Direito;
b. Esbatimento das fronteiras entre Público e Privado;
c. Sistema não escrito;
d. Praxes e convenções constitucionais;
e. Constituição flexível;
f. Supremacia político-legislativa.

Diplomas legais:

a) Magna Carta (direitos da nobreza e do clero; garantias penais e tributárias);


b) Petição de Direito (direitos de defesa);
c) Lei do Habeas Corpus (arguidos);
d) Declaração de Direitos (direitos fundamentais);
e) Atos de Estabelecimento (religião anglicana para se ser rei; autonomia do
parlamento face ao rei);
f) Ato do Parlamento (mais democrático).

Limitação do poder:

a) Direitos humanos (Convenção Europeia dos DH)


b) Tribunais (sistema do precedente).

Órgãos de soberania:

a) Monarca (vitalício; sucessão por linha e grau; crente da Igreja Anglicana;


invocação; não possui poder político; cargo honorífico isento de
responsabilidade).
a. Competências:
i. Nomeação do PM;
ii. Dissolução da Câmara dos Comuns;
iii. Sanção de leis;
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Direito Constitucional

iv. Nomeação de juízes;


v. Comando do exército e declaração de guerra;
vi. Indulto;
vii. Pares;
viii. Títulos e condecorações.
b) Parlamento:
a. Câmara dos Lordes (poder legislativo) e Câmara dos Comuns (poder
legislativo; Speaker).
c) Gabinete ou Governo:
a. PM e Ministros;
b. Emanação política da Câmara dos Comuns;
c. Poder executivo e administrativo.
d) Conselho privado:
a. Órgão de consulta do CE;
b. Competências limitadas;
c. Relevância política desvitalizada na prática.
e) Tribunais: Inferiores e superiores (Câmara dos Lordes e Tribunal Supremo).

Sistema de governo:

a) Sistema bipartidário perfeito: dois grandes partidos (Trabalhista e Conservador);


b) Sistema parlamentar de gabinete: É a Câmara dos Comuns que orienta a
governação (PM é o chefe do partido vencedor).
c) Dependência parlamentar do Governo (informação regular; presença periódica
no Parlamento; moções de censura);
d) Parlamentarismo de gabinete: PM é o chefe do Gabinete com o papel
primordial, sendo o centro da decisão política.

10.º O Direito Constitucional dos Estados Unidos da América

Formação e aperfeiçoamento:

a) Antes da DI (13 colónias britânicas);

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Direito Constitucional

b) Motivos da independência (Liberalismo e emancipação do mundo colonial;


libertação financeira; economia própria);
c) Depois da DI (Expansão territorial; Fratura político-social entre Norte e Sul;
Internacionalização e industrialização; Mundialização);
d) Confederação (soberania dos novos Estados; Congresso com escassos poderes);
e) Federação (fracasso da confederação);
f) Perigos a vencer por um novo Estado (ambiente hostil e em extensão);
g) Compromisso: grandes/pequenos, Norte/Sul, esclavagistas/não esclavagistas,
industriais/agrícolas.

Constituição de 1787 (pela Convenção de Filadélfia):

a) Hiper-rígida (limites materiais e procedimentais);


b) Costume e Jurisprudência;
c) Perfil legalista;
d) 7 artigos;
e) Longevidade (organização e papel conservador e renovador do Supremo
Tribunal Federal);
f) Elasticidade (novas necessidades do Estado, sem romper com os traços
fundamentais e sem redigir emendas).

Revisões:

a) Primeiros dez aditamentos;


b) Abolição da escravatura;
c) Limitação do poder e proteção dos Estados; Direitos.

Estrutura federal:

a) Soberania dos Estados federais limitada pela Constituição, pela República, pelos
órgãos e competências:
a. federais (moeda; empréstimos; relações externas; defesa nacional;
poderes implícitos)
b. estaduais (legislação penal e civil; impostos alfandegários e tratados
internacionais);

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Direito Constitucional

c. partilhadas (intervenção dos dois níveis).

Direitos fundamentais (dez aditamentos e Declaração de Direitos):

a) Ausência de direitos sociais;


b) Novos direitos aprovados pelo STF (abolição da segregação racial nas escolas;
comunicação dos direitos ao detido; despenalização do aborto);
c) Direitos liberais (expansiva);
d) Poderes legislativo e executivo (conservadora);
e) Igualdade racial e sexual (progressista).

Órgãos de soberania:

a) Congresso Federal (Câmara dos Representantes e Senado Federal);


b) Presidente e Vice (colégio eleitoral restrito segundo as candidaturas; voto global
por Estado).
a. Presidente (Chefe de Estado assistido pelo Executive Office).
b. Vice (substitui-o; Presidente do Senado);
c) Tribunais federais (District Courts; Courts of Appeals e Supreme Court).

Sistema de governo («checks and balances»):

a) Bipartidarismo perfeito (Democrata e Republicano);


b) Presidencialismo perfeito (figura do Presidente independente do Congresso, CE
e CG; expressão excessiva).

Equilíbrio de poderes:

a) Executivo – Legislativo (iniciativa legislativa e veto);


b) Legislativo - Executivo (fiscalização política);
c) Executivo - Judicial (juízes);
d) Judicial – Executivo (julgamento dos governantes);
e) Legislativo - Judicial (consentimento dos juízes);
f) Judicial - Legislativo (constitucionalidade).

Impeachment: Processo de impedimento do Presidente pelo julgamento por crimes de


responsabilidade.

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Constitucionalidade:

a) Fiscalização judicial (difusa, concreta e incidental).


b) Proibida a interferência executiva na legislação.

11.º O Direito Constitucional da França

Evolução:

a) turbulência constitucional: nenhuma das originais está em vigor;


b) reformas e contrarreformas;
c) 16 textos

Fases políticas:

a) Parlamentar (Democracia e Revolução);


b) Assembleia (Totalitarismo);
c) Governo Pessoal (Monocracia).

Fases do Direito Constitucional:

 I Ciclo (desde a 1ª Constituição de 1791 até à queda do império de Bonaparte);


 II Ciclo (desde a restauração da CC de 1814 até à queda do império de Luís
Bonaparte);
 III Ciclo (desde o fim do segundo império até à atualidade).

Revolução Francesa:

a) Início do constitucionalismo (Constituição exprime a vontade popular);


b) Passagem ao Estado Contemporâneo;
c) Fim do Antigo Regime;
d) Instituições liberais e constitucionais;
e) Direitos naturais (DDHC);
f) Cortes Gerais.

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Direito Constitucional

Diversos textos constitucionais:

I. Constituição Monárquica de 1791: Monarquia Constitucional segundo o princípio da


soberania nacional (Rei limitado por uma Constituição). Divisão dos poderes em
executivo (Rei e ministros), legislativo (Assembleia Nacional Legislativa) e judicial
(tribunais). Proteção dos direitos fundamentais remete para a DDHC.
II. Constituição Convencional de 1793: Proclamação da República Francesa (1792) e
execução de Luís XVI (1793). «Período do Terror» e criação do Comité de Salvação
Pública. Aprovação da Constituição que nunca chega a entrar em vigor, sendo o poder
entregue ao Comité. Princípios constitucionais: República; Democracia semidirecta;
Unidade do poder político; Mandato imperativo; Direitos fundamentais mais sociais
e igualitários; O povo francês é titular do poder através de referendos.
III. Constituição diretorial de 1795: Golpe de Estado do Thermidor. Aprovação da
Constituição. Separação absoluta dos poderes: legislativo (Parlamento bicameral
dividido entre o Conselho dos Quinhentos e o Conselho dos Anciãos), executivo
(Diretório) e judicial (Tribunais). Este último era incomunicável com os dois primeiros.
Inclusão de alguns deveres fundamentais.
IV. Constituição consular de 1799: Golpe de Estado do Brumário. Napoleão Bonaparte
assume o poder. Aprovação da Constituição. Limitação das liberdades fundamentais.
Instauração do Dominato. Poder executivo (Três cônsules e Senado Conservador);
Poder legislativo (Conselho de Estado, Tribunado e Corpo Legislativo); Poder judicial
(Juízes vitalícios nomeados pelo 1º Cônsul).
V. Constituição Imperial de 1802: Napoleão fortalece a sua posição político-
constitucional. É proclamado Cônsul vitalício, alargamento as suas competências
(indulto, ratificação de tratados internacionais, indicação do 2º e 3º Cônsul, indicação
dos membros para o Tribunado).
VI. Constituição Imperial de 1804: Transformação do regime de Napoleão num Império
Cesarista. O Imperador possui a globalidade dos poderes públicos.
VII. Carta Constitucional da Restauração de 1814/1815: Napoleão abdica do poder
em 1814 e é exilado. A Monarquia Constitucional é restaurada. Aprovação da Carta
Constitucional por Luís XVIII. Limitação do poder do rei pela divisão parlamentarista

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dos poderes. Fim definitivo do regime de Napoleão com a sua derrota em Waterloo.
Regresso à normalidade constitucional.
VIII. Ato Adicional às Constituições Imperiais (1815): Napoleão regressa do exílio,
restituindo o seu poder pessoal no Governo dos 100 dias. O Ato Adicional volta a pôr
em vigor as anteriores constituições imperiais.
IX. Carta Constitucional Orleanista de 1830: Revolução destitui o rei Carlos X. Reforma
Constitucional. Equilíbrio entre a componente monárquica e a parlamentar.
Soberania nacional. Reforço do poder legislativo e diminuição do podes executivo.
Continuidade da monarquia na pessoa do Duque de Orleães.
X. Constituição Presidencialista da II República de 1848: Golpe de Estado depõe Duque
de Orleães. Instauração de uma República Presidencialista influenciada por um
movimento social de cariz romântico e socialista científico. Separação dos poderes:
Legislativo (Assembleia Nacional e Conselho de Estado); Executivo (Presidente da
República); Judicial (tribunais com separação dos outros poderes).
XI. Constituição do I Império de 1852: Luís Napoleão Bonaparte é eleito Presidente da
República. Na impossibilidade de ser reeleito pela constituição em vigor, dissolve a
Assembleia Nacional e protagoniza um golpe de Estado para suspender esse mesmo
texto. É confirmado Chefe de Estado e redige uma nova Constituição. Proclama o
Império. Novo texto inspirado na primeira constituição napoleónica, adotando os
mesmos órgãos (Conselho de Estado, Senado e Corpo Legislativo). Conserva a
essência do sistema.
XII. Constituição do II Império Liberal de 1870: Acontecimentos repetidos levam à
forte limitação do autoritarismo do II Império. É aprovada uma nova Constituição
Imperial. Duas câmaras legislativas com iniciativa legislativa. Responsabilidade
política dos ministros perante o Parlamento.
XIII. Constituição Parlamentar da III República de 1875: Queda do Império Liberal.
Segue-se um período de hesitação acerca da solução monárquica a adotar. Durante
esse intervalo o governo é confiado a Thiers. Depois desse período, ao general
Mahon. A Assembleia Nacional aprova três leis constitucionais avulsas (Poder
legislativo: Câmara dos Deputados e Senado; Poder executivo: Presidente da
República; Direito de veto; Consentimento parlamentar para ratificar tratados
internacionais). Nasce a III República, mais duradoura.

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XIV. Constituição do Governo de Vichy de 1940: Durante a II Guerra Mundial, a parte


sul do território francês é parcialmente ocupado pelas tropas alemãs. Instala-se o
governo de Petain em Vichy com a incumbência de preparar uma nova Constituição.
Até à libertação francesa vigora um conjunto de leis constitucionais provisórias.
XV. Constituição Parlamentar da IV República de 1946: Instauração de um Governo
Provisório de Libertação da República Francesa chefiado pelo general de Gaulle. Nova
Constituição aprovada por referendo popular. Poder legislativo (Assembleia Nacional
com a colaboração do Conselho da República, do Conselho Económico e do Conselho
da União Francesa). Poder executivo (Conselho de Ministros chefiado pelo Presidente
da República. Poder judicial (juízes e Conselho Superior de Magistratura).
XVI. Constituição semipresidencial da V República de 1958: Crise da Argélia. Nova
Constituição estimulada pelo general, aprovada por referendo popular.
Presidencialização do novo sistema constitucional (dada a forte personalidade do
general). Transformação da eleição presidencial em eleição direta.

A atual Constituição de 1948:

a) Hiper-rígida (limites procedimentais, circunstanciais e materiais);


b) 17 títulos (11º repetido).

Direitos fundamentais:

a) Constituição puramente organizatória, não contendo um catálogo de direitos


(DDHC, leis da República, princípios sociais e económicos atuais, Carta do
Ambiente de 2004).

Órgãos:

a) Presidente da República (política externa e de defesa; veto; referendo nacional;


estado de exceção);
b) Parlamento (bicameralismo assimétrico: Assembleia > Senado);
c) Governo (Primeiro Ministro e Ministros);
d) Tribunais (comuns, administrativos e constitucionais).

Sistema de governo: Semipresidencialismo (três órgãos com real intervenção:


Presidente da República, Parlamento e Governo).
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Direito Constitucional

Constitucionalidade: Fiscalização para-jurisdicional pelo Conselho Constitucional.

12.º O Direito Constitucional dos Estados de Língua Portuguesa

BRASIL
Eras:

Monárquica (desde a fundação até à revolução republicana de 1889) e Republicana


(desde aí até à atualidade). A sua história político-constitucional é dividida entre
república velha e república nova pela Revolução de 1930.

Sete textos constitucionais:

a) Carta Constitucional de 1824 (monarquia constitucional e imperial);


b) Constituição de 1891 (inaugura a era republicana importando o federalismo, o
presidencialismo e a fiscalização da constitucionalidade);
c) Constituição de 1934 (progressista e socializante, inaugura a república nova);
d) Constituição de 1937 (regime autoritário de Estado Novo de influência polaca);
e) Constituição de 1946 (democratizante);
f) Constituição de 1967-69 (regime autoritário militar de direito);
g) Constituição de 1988 (regime democrático e social, em vigor).

A atual Constituição (1988):

a) Social-Democracia;
b) Muitas alterações;
c) Democracia representativa e sem tutela militar;
d) Influência portuguesa;
e) Direitos subjetivos;
f) Novos direitos (ambientais, informáticos e sociais).

Órgãos:

a) Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal);


b) Presidente, Vice e Governo Federal (Ministros)
c) Tribunais (Supremo Federal e Supremo de Justiça).

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Direito Constitucional

Para além destes, existem quatro entidades de poder político dentro do modelo federal
brasileiro:

I. União ou Federação (entidade suprema),


II. Estados federados (com respetivas constituições),
III. Distrito federal (neutralidade dos órgãos federais) e
IV. Municípios (regiões de poderes administrativos e legislativos).

Sistema governo:

Presidencialismo imperfeito: Chefe de Estado e Chefe de Governo na mesma pessoa,


mas o poder executivo pode pertencer aos Ministros.

ESTADOS AFRICANOS
(Divisão: 1ª era constitucional da I Rep. Socialista e 2ª era constitucional da II Rep.
Democrática)

Primeira era:

No contexto da descolonização portuguesa emergem partidos de influência marxista


soviética e movimentos de libertação nacional de influência comunista e socialista
científica.

a) 1º Período (implantação das estruturas dos Estados independentes e retorno de


portugueses),
b) 2º Período (organização política e social de inspiração soviética e comunista) e
c) 3º Período (crise económica e política resultante em guerras civis).

Sociedade:

a) direitos económicos e sociais;


b) monismo ideológico.

Economia: coletivização e planificação económica.

Política:

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Direito Constitucional

a) concentração de poderes;
b) Partido Único.

Os 1ºs textos constitucionais não resistem à queda dos regimes comunistas devido ao
desfasamento entre o modelo soviético e as realidades africanas (avessas à rigidez,
disciplina e centralismo abafador). São criados novos textos constitucionais de forma
pacífica, aprovados por parlamentos monopartidários.

Segunda era:

Fontes constitucionais: atuais constituições de influência portuguesa

Princípios:

a) Estado de Direito;
b) Estado Unitário;
c) Princípio republicano;
d) Princípio democrático;
e) Princípio social;
f) Princípio internacional;
g) Direitos fundamentais extensos e atípicos (DUDH).

Constituições:

1. Hiper-rígidas;
2. Limites (orgânicos, procedimentais, temporais, materiais e circunstanciais).

Economia:

a) capitalismo;
b) nacionalização;
c) limitação do investimento estrangeiro

Política:

a) intervenção efetiva dos órgãos;


b) direções distintas nos vários países.

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Direito Constitucional

ANGOLA
último a alcançar a paz:

 Sistema edificado há mais de 10 anos.


 Constituições: 1975, 1992 e 2010 (social-democracia).

CABO-VERDE
O mais rápido a democratizar-se, com bastante alternância:

 Constituições: 1975, 1980 (influência soviética) e 1992 (parlamentarismo,


intervenção popular por referendos e iniciativas, fiscalização da
constitucionalidade).

GUINÉ-BISSAU
Alvo de agitação e instabilidade nos últimos anos - caos jurídico:

 Constituições: 1973, 1984 e 1993.

MOÇAMBIQUE:
 Constituições: 1975, 1990 e 2005 (mera revisão da constituição anterior).

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE


O mais pequeno e mais pobre:

 Constituições: 1975 e 1990 (de todos, a única sujeita a referendo popular).

TIMOR-LESTE:
 ex-possessão portuguesa;
 invadido pela Indonésia e sujeito a referendo internacional pela ONU que dá a
vitória à independência, nascendo oficialmente como Estado, sendo aprovada a
1ª Constituição em 2002)

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Direito Constitucional

Constituição:

a) Primazia material (defesa e segurança);


b) Extenso preâmbulo de interesse histórico e hermenêutico;
c) Hiper-rígida;
d) Estado de Direito;
e) Estado Unitário;
f) Soberania popular;
g) Descentralização administrativa;
h) Independência política;
i) Cooperação internacional;
j) Constitucionalidade;
k) Sociabilidade; Liberdade e pluralismo político e partidário; Liberdade religiosa e
cooperação;
l) Direito costumeiro como fonte de Direito;
m) Direitos fundamentais e atípicos (direito à vida; direitos políticos a partir dos 17
anos; promoção dos sexos);
n) Fiscalização da constitucionalidade também por omissão (STJ).

Órgãos:

1. Presidente da República,
2. Parlamento,
3. Governo
4. Tribunais.

Sistema governo:

I. Democracia representativa;
II. Semipresidencialismo.

13.º Outros Direitos Constitucionais

SUÍÇA
Inicialmente Confederação Helvética, hoje Federação composta pelos cantões suíços.

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Direito Constitucional

Constituição de 1999:

Princípio democrático e representativo (iniciativa legislativa, referendo obrigatório e


facultativo).

Órgãos de soberania:

a) Assembleia Federal (Conselho Nacional e Conselho de Estado);


b) Conselho Federal (órgão diretorial colegial de funções executivas e
administrativas);
c) Tribunal Federal (fiscalização da constitucionalidade).

ITÁLIA
Duas eras

Monárquica (desde a fundação em 1870 até ao fim da II GM) e republicana (atual


Constituição de 1947).

Constituição:

a) República;
b) Direitos fundamentais (Igreja);
c) Estado Unitário coexistente com amplo regionalismo;
d) Parlamentarismo de gabinete (enfraquecimento presidencial devido às maiorias
parlamentares).

Órgãos de soberania

Parlamento (Câmara dos Deputados e Senado da República); Presidente da República;


Governo (Primeiro Ministro e Ministros).

ALEMANHA
Constituição de 1871:

i. Unificação;
ii. Otto Bismark;

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Direito Constitucional

iii. Monarquia com Imperador e Chanceler.

Constituição de 1919:

i. Weimar;
ii. República;
iii. Parlamento;
iv. Enfraquecimento presidencial em detrimento do Chanceler.

Atual Constituição de 1949:

i. Emancipação política pós II Guerra Mundial;


ii. Reunificação com a queda do Muro de Berlim;
iii. Proteção muito efetiva dos direitos fundamentais (mesmo em Estado de
Exceção);
iv. Fiscalização da constitucionalidade das leis.

Sistema de governo:

a) Parlamentar racionalizado;
b) Moção de censura tem de ser construtiva;
c) Impossibilidade de impasses.

Órgãos de soberania:

 Parlamento
 Conselho
 Presidente
 Governo Federal (Chanceler e Ministros)
 T C Federal.

ESPANHA
Liberalismo introduzido pela Revolução de Cádiz de 1812, seguindo-se vários textos
constitucionais.

Atual Constituição de 1978:

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Direito Constitucional

i. Influência Portuguesa e Britânica;


ii. Modificada apenas uma vez (ratificação do Tratado da UE);
iii. Monarquia;
iv. Estado Unitário (colaborador com comunidades autónomas);
v. Direitos fundamentais;
vi. Parlamentarismo de gabinete.

Órgãos de soberania:

a) Coroa (Rei – Chefe de Estado);


b) Cortes Gerais (Congresso dos Deputados e Senado);
c) Governo (Presidente, Vices Presidentes e Ministros).

CAPÍTULO IV - EVOLUÇÃO DO DIREITO CONSTITUCIONAL PORTUGUÊS

14.º Aspetos de ordem geral

A periodificação da História do Direito Constitucional Português


A criação do Estado Português remonta a 1179, através da bula Manifestis
probatum, fazendo assim de Portugal, o Estado que tem as fronteiras geográficas mais
antigas da Europa.

Todavia, a época do Constitucionalismo Português só viria a suceder na Idade


Contemporânea, inspirada pelo movimento constitucionalista dos finais do século XVIII.

A Revolução Liberal Portuguesa, que abriu caminho à época das Constituições, eclodiria
em 24 de Agosto de 1820, assim se iniciando a era constitucional que duraria até hoje.

A evolução histórica do Direito Constitucional Português pode decompor-se em 4


diferentes períodos:

1. O período liberal-monárquico:
a. Integra os textos constitucionais de 1822, 182 e 1838
b. Teve por traço fundamental a conceção de Estado de Direito com a
proclamação das liberdades e dos direitos fundamentais de 1ª geração
c. Separação orgânico-funcional de poderes de acordo com Montesquieu
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Direito Constitucional

d. Monarquia como forma institucional de governo


2. O período liberal-republicano:
a. Constituição de 1911 aprovada na sequência da Revolução
Republicana
b. Direitos de natureza social
c. Parlamentarização do sistema de governo
3. O período nacionalista-autoritário:
a. Constituição de 1933, antecedida de um período de ditadura militar
sem texto constitucional
b. Nacionalismo de Estado
4. O período democrático-social:
a. Vigência da atual Constituição Portuguesa de 1976 (CRP)
b. Constitucionalismo Democrático e Social da III República
c. Nova ordem constitucional elaborada no âmbito de uma assembleia
constituinte, eleita por sufrágio direto e universal
d. Algumas ideias novas:
i. Proteção efetiva dos direitos fundamentais
ii. Intervenção do Estado na economia
iii. Repartição de atribuições entre o Estado e as regiões
autónomas
iv. Equilíbrio do sistema de governo entre a componente
presidencial e a componente parlamentar
v. Adoção de um mecanismo seguro de controlo de
constitucionalidade das leis

As constâncias e as ruturas do Constitucionalismo Português


Os diversos textos constitucionais portugueses mostram bem a destrinça entre
o século XIX e o século XX (confronto da C1933 – nominal – e as restantes – normativas).
Contudo verifica-se também que nunca houve momentos de regresso à época pré-
constitucional.

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Direito Constitucional

Os textos constitucionais apresentaram-se numa conceção rígida, na qual a


revisão constitucional se submetia a regras específicas, assim se diferenciando o
respetivo procedimento do da elaboração das leis ordinárias.

O sistema de direitos fundamentais foi parte integrante dos textos


constitucionais que se fez segundo esquemas de tipificação aberta permitindo que
nunca se feche a porta a outros novos ou esquecidos direitos fundamentais.

Quanto à forma institucional de governo registaram-se dois períodos:

1. O período monárquico (principalmente século XIX)


2. O período republicano de maior estabilidade (séculos XX e XXI)

Quanto à estrutura do Estado o elemento mais constante é o da sua feição unitária


com a exceção da adoção da estrutura do Estado composto (C1822) com a consagração
da união temporária real com o Brasil.

Da ótica do sistema de governo:

a) Forma institucional de governo – Posição constitucional do Chefe de Estado


b) Forma política de governo – Democracia/Totalitarismo

15.º A Constituição Liberal de 1822


1ª Constituição (influência francesa e espanhola) consagra o liberalismo da Revolução
Liberal (abolição da monarquia senhorial; criação de uma ordem constitucional;
aprovação de uma Constituição; direitos; divisão dos poderes; União Real).

Antecedentes:

Súplica pela Constituição em 1808, a Bonaparte, contra a ascensão de Junot e de novo


a dependência de Espanha (monarquia; religião oficial do Estado; independência
judicial).

Bases:

i. Cortes Gerais:
a. 1ª Secção Direitos individuais;

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Direito Constitucional

b. 2ª Secção Organização do Estado (divisão dos poderes, soberania


nacional).

Ruturas: Primeira vigência muito efémera (um ano); Segunda vigência (de 1836 a 1838).

Direitos fundamentais (positivados pela primeira vez):

a) Liberdade;
b) Segurança;
c) Propriedade;
d) Proibição de prisão sem culpa formada;
e) Inviolabilidade da correspondência;
f) Liberdade de expressão e de imprensa;
g) Igualdade jurídica;
h) Humanização das penas;
i) Liberdade de acesso aos cargos;
j) Responsabilidade dos funcionários;
k) Remuneração por serviços à Pátria;
l) Petição;
m) Cidadania;
n) Liberdade de culto para estrangeiros;
o) Participação democrática;
p) Preocupações sociais (ensino, caridade e saúde).

Deveres:

I. Venerar a Religião;
II. Amar a Pátria e defendê-la pelas armas;
III. Obedecer à Constituição e às leis;
IV. Respeitar as autoridades públicas;
V. Contribuir para as despesas do Estado.

Órgãos:

a) Cortes (unicameral);
b) Rei, Secretários e Conselho Estado;
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Direito Constitucional

c) Tribunais;
d) Fiscalização parlamentar da constitucionalidade.

Sistema de governo:

i. Presidencialismo;
ii. Independência dos poderes;
iii. Veto meramente suspensivo;
iv. Princípio democrático.

União Real:

a) Entidades comuns aos dois reinos (Rei, Cortes e Conselho de Estado);


b) Particularidades (Delegação do Poder Executivo e Supremo Tribunal de Justiça
para o Brasil).

16.º Carta Constitucional da Restauração de 1826


Vigências:

i. 1ª Vigência de 1826 a 1828 (Guerra Civil);


ii. 2ª Vigência de 1834 a 1836 (fim da Guerra Civil);
iii. Até 1838 regressa-se à Constituição de 1822; Constituição de 1838 é aprovada;
iv. 3ª Vigência de 1842 a 1910.

Características:

a) Influenciada pelo constitucionalismo conservador monárquico.


b) Constituição mais moderada (poder legislativo bicameral, sufrágio indireto,
fragilidade das Cortes, veto absoluto do Rei).

Direitos fundamentais (acréscimo da proteção da pessoa):

a) Direitos anteriores;
b) Novos direitos (não retroatividade das leis; limitada liberdade religiosa;
liberdade de deslocação e emigração; independência judicial; princípio do caso
julgado; liberdade de trabalho e de empresa; defesa da propriedade intelectual;
direito de reunião).

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Direito Constitucional

Órgãos:

I. Cortes (Câmara dos Pares e Câmara dos Deputados);


II. Rei (poder moderador) e Conselho de Estado;
III. Tribunais (independentes, cível e crime, especialização funcional e hierárquica,
carreira de magistratura).

Sistema de governo:

Apesar do poder moderador real, torna-se progressivamente mais parlamentar


(semiparlamentar). Os sucessivos atos adicionais enfraquecem o poder moderador.

Depois de 1842 destaca-se o período da Regeneração até 1890 (rotativismo


partidário entre Históricos e Regeneradores) e o período da crise monárquica até 1910
(definhar do regime após o Ultimato Britânico).

17.º Constituição Setembrista de 1838


Características:

a) Influenciada pelo Vintismo e Cartismo e influência francesa, belga e espanhola.


b) Texto pactuado de dupla legitimidade constitucional, parlamentar e régia.

Direitos fundamentais:

i. Mesmos direitos sociais;


ii. Novos direitos (associação, reunião, resistência e ensino público).

Órgãos de soberania (abolição do poder moderador):

a) Cortes (Câmara dos Senadores < Câmara dos Deputados);


b) Rei, Ministros e Secretários;
c) Juízes e jurados (publicidade das audiências).

Sistema de governo:

I. Orleanista e misto
II. Equilíbrio entre a componente monárquica e a parlamentar.

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Direito Constitucional

III. Dois compromissos (dissolução das Cortes mas desvalorização do veto; estrutura
bicameral mas por sufrágio direto).

18.º A Constituição Republicana de 1911 e o interregno de Sidónio Pais

A Revolução de 5 de Outubro de 1910:


a) Inaugurou a República,
b) Laicização do Estado,
c) Municipalismo e o Referendo local.
d) Influência suíça e brasileira.

Direitos fundamentais (mais liberal):

i. Mesmos direitos sociais;


ii. Novos direitos:
a. liberdade religiosa,
b. abolição da pena de morte,
c. revisão de sentenças,
d. legalidade dos impostos,
e. habeas corpus,
f. emprego durante o serviço militar obrigatório,
g. indemnização em caso de condenação injusta,
h. ensino primário gratuito mas obrigatório
iii. Ausência de igualdade política entre sexos.

Lei da Separação Absoluta entre o Estado e a Igreja: Extinção das ordens religiosas e
nacionalização dos seus bens.

Órgãos:

a) Congresso da República (Câmara dos Deputados e Senado);


b) Presidente da República e Ministros;
c) Tribunais (1ª, 2ª e Supremo).

Sistema de governo:

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Direito Constitucional

i. República parlamentar;
ii. Legitimidade diminuída do Presidente da República (eleito por colégio especial).

Constitucionalidade:

a) Introdução do judicial review dos tribunais protectores da Constituição e


defensores da ordem constitucional.
b) Fiscalização difusa (todos os tribunais, globalidade do texto, em qualquer ato do
poder).

Revisões constitucionais:

 1ª em 1916 (ordens honoríficas),


 2ª em 1919 (subsídio parlamentar),
 3ª em 1919 (reforço do estatuto do Presidente da República),
 4ª em 1920 (reforço do poder legislativo e executivo nas colónias) e
 5ª em 1921 (funcionalidade parlamentar - regime de limitação temporal,
procedimental e material)

Há um interregno na vigência da Constituição pela assunção de Sidónio Pais ao


poder, que aprova um texto constitucional (durante apenas um ano) e a República Nova
(sufrágio direto do Presidente da República, estrutura bicameral e corporativa do
Parlamento).

19.º A Constituição Fascizante de 1933

Uma 1ª fase de Ditadura Militar (1926 a 1933) e uma 2ª fase com a Constituição de 1933
até 1974 (Estado Novo).

Características:

a) Influência doutrinária (Integralismo Lusitano e Doutrina Social da Igreja),


b) Praxis política fascista italiana e alemã.
c) Inaugura um novo regime constitucional antiliberal, antiparlamentar, anti
partidário e antidemocrático (autoritarismo).

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Direitos fundamentais (catálogo diversificado e aceitável):

i. Novos direitos (à vida, à integridade pessoal, ao bom nome, à reputação, à


contradição em processo criminal, à reparação de lesões morais);
ii. Abertura a outros direitos fundamentais;
iii. Direitos sociais (família, trabalho, educação, cultura, escolas particulares).

Limitação legal das liberdades públicas (leis especiais):

i. Abolição dos direitos de defesa;


ii. Monismo político e partidário;
iii. Prisão sem culpa formada.
iv. Na fase final o regime tenta suavizar-se, aliviando as limitações à liberdade
(direitos sociais).

Separação cooperativa do Estado e da Religião (preferência dada à Igreja Católica, não


havendo religião oficial do Estado).

Economia:

I. Corporativismo de Estado (família, corporações sindicais e profissionais e corpos


administrativos);
II. Autoritarismo;
III. Condicionamento do mercado;
IV. Protecionismo dos interesses nacionais.
V. Sociedade: Bem comum expresso pelo Estado;
VI. Controlo da opinião pública.

Órgãos:

a) Chefe de Estado auxiliado pelo Conselho de Estado;


b) Assembleia Nacional auxiliada pela Câmara Corporativa (poder local);
c) Governo (Presidente do Conselho, Ministros e Subsecretários);
d) Tribunais (ordinários e especiais).

Constitucionalidade: Fiscalização judicial (material) e fiscalização político-parlamentar


(organizatória),

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Sistema governo (predomínio do Presidente do Conselho sobre o Presidente da


República): Representativo simples (Chefe de Estado) e Sistema de Chanceler (Primeiro
Ministro ou Presidente do Conselho).

Revisões constitucionais:

i. Novas regras parlamentares;


ii. Ato Colonial;
iii. Ensino da doutrina e moral cristãs;
iv. Liberdade de trabalho;
v. Colégio restrito na eleição do Presidente da República;
vi. Religião Católica como Religião tradicional da nação portuguesa.

Regime de revisão: Procedimento geral, antecipado ou de urgência (em qualquer altura


por decisão do Presidente da República).

20.º A atual Constituição Democrática e Social de 1976


O 25 de Abril foi uma revolução militar (MFA) e social (adesão popular) que pôs
fim ao Estado Novo, com os três objetivos de democratizar, descolonizar e desenvolver.

O MFA estabeleceu medidas imediatas (abolição da censura, libertação dos


presos políticos e extinção das antigas instituições), medidas a curto prazo (governo
provisório, liberdades políticas) e a médio prazo (novas políticas económica, social,
externa e ultramarina).

Em Março de 1975, dá-se um contragolpe de Estado falhado (contra o socialismo


comunista) e em Novembro do mesmo ano uma outra tentativa falhada, desta vez de
transformação em democracia popular (Ramalho Eanes).

PERÍODO CONSTITUCIONAL PROVISÓRIO (entre a revolução e a redação


da Constituição)
Legislação avulsa à medida do aparecimento das necessidades (leis constitucionais
provisórias):
a) Lei de 25 de Abril (destituição dos antigos órgãos e instituições do Estado Novo,
competências entregues a uma Junta de Salvação Nacional);

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Direito Constitucional

b) Lei de 14 de Maio (extinção das restantes órgãos);


c) Lei de 14 de Maio (Constituição provisória transitória, criação de uma Assembleia
Constituinte para a elaboração da nova Constituição).

Órgãos:

i. Presidente da República;
ii. Junta de Salvação Nacional;
iii. Conselho de Estado;
iv. Governo Provisório (Primeiro Ministro, Ministros, Secretários e subsecretários);
v. Tribunais (julgar crimes militares contra o Estado).

Na sequência do golpe de 11 de Março, é aprovada uma nova lei provisória que


extingue a Junta e o Conselho de Estado, criando o Conselho da Revolução e da
Assembleia do MFA.

A Assembleia Constituinte (criada em 1975) estabeleceu duas plataformas de


Acordo Constitucional com o MFA, na continuidade ideológica da Revolução, após a
entrada em vigor da Constituição:

 1ª Plataforma (supervisão dos trabalhos constituintes por uma comissão do


MFA, autorização do CR para a promulgação da Constituição, manutenção do CR
durante a transição, criação de uma Assembleia do MFA, sufrágio indireto);
 2ª Plataforma (eliminação do procedimento constituinte, eliminação da
Assembleia do MFA, redução das competências do CR, sufrágio direto).

A CONSTITUIÇÃO DE 1976 (sete revisões, sendo que o preâmbulo se mantêm devido


ao carácter histórico)
Sistematização:

I. Princípios Fundamentais (República, Estado-Direito, Estado Unitário,


Povo, Soberania, Território, Fins);
II. Economia (Dirigismo Económico: Princípios gerais; Planos; Política
agrícola, comercial e industrial; Sistema financeiro e fiscal);
III. Poder político;

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Direito Constitucional

IV. Garantias e revisão constitucional;

Disposições finais (relação do novo DC com a ordem pré-existente) e transitórias


(permanência dos distritos, incriminação dos antigos agentes da PIDE, reprivatizações,
autarquias).

Anomalias na sistematização: Disposições relevantes deixadas de fora; Distribuição


irracional das matérias; Repetições.

Influências:

a) Partidos políticos;
b) Doutrinas de Martínez, Jorge Miranda e Lucas Pires;
c) Constituições inglesa e alemã.

Primitivamente defendia-se o espírito revolucionário, o socialismo, a vanguarda do MFA


e a socialização da produção.

Economia:

i. Coletivismo;
ii. Recorte dos sectores produtivos;
iii. Manutenção das nacionalizações;
iv. Planificação;
v. Reforma agrária.

Órgãos:

a) Conselho da Revolução (órgão colegial, Presidente da República, Chefe de


Estado, Vice-Chefe, Primeiro Ministro e 14 oficiais), órgão consultivo do Chefe
de Estado, garante do cumprimento da Constituição e da fidelidade à Revolução;
b) Presidente da República;
c) Assembleia da República;
d) Governo;
e) Tribunais.

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Direito Constitucional

Revisão constitucional: Regime da primeira revisão (esgotamento durante a II


Legislatura, limite procedimental).

A PRIMEIRA REVISÃO CONSTITUCIONAL (1982) (cariz político-organizatório)

Organização do poder político:

I. Extinção do CR,
II. Democratização das instituições;
III. Fiscalização da constitucionalidade (extinção da Comissão Constitucional e
criação de um Tribunal Constitucional com juízo de constitucionalidade);
IV. Estabilização do regime constitucional (termina a fase de experimentação e o
período de transição);
V. Revisão constitucional com limites materiais, circunstanciais e procedimentais
(lei constitucional promulgada pelo CF que não tem poder de veto).

A SEGUNDA REVISÃO CONSTITUCIONAL (1989)


No contexto da adesão portuguesa à CEE em 1986:

a) Reorganização económica, política e de relações internacionais;


b) Eliminação da irreversibilidade das nacionalizações (reprivatizações);
c) Referendo nacional (grandes questões políticas de carácter vinculativo).

A TERCEIRA REVISÃO CONSTITUCIONAL (1992)


No contexto da aprovação do Tratado de Maastricht no ordenamento jurídico
português:

a) Alteração dos preceitos constitucionais por ele contrariados;


b) União económica e monetária (moeda única europeia alterou o papel de emissor
de moeda do Banco de Portugal);
c) Justiça e assuntos internos;

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d) Política externa e de segurança comum;


e) Revisão constitucional ordinária ou extraordinária (em qualquer altura).

A QUARTA REVISÃO CONSTITUCIONAL (1997)


 Alterações abundantes em clima de paz constitucional em que quase metade dos
artigos foram alterados mas manteve-se a sua essência tendo sido sobretudo
melhorias textuais
 Novos direitos fundamentais (direito de personalidade, limite à manipulação
genética, proteção contra a discriminação, acesso a uma justiça efetiva e rápida,
garantias processuais criminais em defesa do arguido).
 Alargamento do voto presidencial aos emigrantes (podem recensear-se e votar no
estrangeiro, mediante os requisitos de cidadania e ligação efetiva à comunidade
nacional).
 Aumento da participação dos cidadãos através de referendos (também para os
emigrantes, referendo apenas vinculativo se votado por mais de metade dos
cidadãos, pode ter iniciativa popular, alargamento das matérias referendadas) e
iniciativas legislativas populares (acesso ao sistema legislativo por parte dos
cidadãos eleitos).
 Reforço do poder da Assembleia da República no contexto da integração europeia
(parlamentarizarão do sistema de fontes, preenchimento de lacunas, diretivas
comunitárias, Parlamento controla o processo decisório europeu, aumento dos atos
legislativos de cariz intermédio como as leis orgânicas, leis aprovadas por dois terços
e lei reforçada, reforço do Parlamento como reforço mínimo, reforço intermédio ou
reforço máximo, regime dos serviços secretos como reserva absoluta e esfera de
competência legislativa concorrencial).
 Recentralização da posição constitucional da Justiça (Tribunal Constitucional de
fiscalização da constitucionalidade e legalidade, aumento da duração dos mandatos
dos juízes constitucionais, extinção dos tribunais militares, reconhecimento aos
advogados de direitos e imunidades como colaboradores da Justiça).
o Fim do coletivismo económico.
o Flexibilização do governo autárquico.

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 Desconstitucionalização do serviço militar.

A QUINTA REVISÃO CONSTITUCIONAL (2001)


 Ratificação do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (proibição da pena
de morte e penas que provoquem lesões corporais irreversíveis);
 Português como língua oficial de Portugal;
 Diminuição de garantias dos cidadãos excessivas;
 Alargamento dos direitos políticos (independentes de convenção internacional);
 Definição do estatuto dos sindicatos policiais (evitando a total sindicalização e a
proibição de sindicatos);

A SEXTA REVISÃO CONSTITUCIONAL (2004)


 Aumento do poder das Regiões Autónomas (aumento do poder legislativo, extinção
do conceito de interesse específico regional, eliminação da figura das leis gerais da
República, novos conceitos como Representante da República e Assembleias
Legislativas das Regiões Autónomas).
 Posição do Direito Português no Direito da União Europeia (tratados aplicáveis na
ordem interna, primado relativo e não absoluto do Direito da UE, dependendo da
constitucionalidade das normas).
 Regulação efetiva da Comunicação Social (Alta Autoridade substituída por uma
entidade reguladora)
 Limitação republicana do exercício dos cargos públicos (renovações e redesignações
limitadas, importância dos mandatos, concentração do poder político, escolha dos
cargos executivos).
 «Orientação sexual» como critério de não discriminação.

A SÉTIMA REVISÃO CONSTITUCIONAL (2005)


 Ratificação do Tratado da Constituição Europeia.
 Alterações: Tratados comunitários podem sujeitar-se a referendo popular direto
(não só perguntas mas também articulados jurídicos).

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Repetitório de Perguntas

1. Desenvolve o seguinte tema: “ As características fundamentais do sistema político


da Constituição Fascizante de 1933”
2. Indica as 8 grandes características do Direito Constitucional e desenvolve 4 delas.
3. Indica qual das seguintes afirmações é falsa: (i) O Direito da Religião relaciona-se
com o Direito Constitucional em matéria de liberdade de religião, (ii) o Direito da
Segurança é o conjunto dos princípios e das normas, maioritariamente de Direito
Privado, que se aplicam em torno da prossecução da ideia de segurança, externa,
interna, internacional ou do Estado e (iii) o Direito da Economia encontra na
Constituição a disciplina fundamental de regime económico a estabelecer.
4. Desenvolve as três teorias que fundamentam a origem do poder político.
5. Desenvolve o seguinte tema “O Direito Constitucional como norma normarum”.
6. Desenvolve o seguinte tema “O Direito Constitucional nos E.U.A”.
7. Indica os três elementos do Estado e desenvolve dois deles.
8. Indica 8 das 15 constituições francesas e desenvolve 4 delas.
9. Desenvolve o seguinte tema “O Direito Constitucional do Brasil no âmbito dos
direitos constitucionais de língua oficial portuguesa”.
10. Desenvolve o seguinte tema “ O Direito Constitucional e o Estado totalitário
socialista”.
11. Compara o Direito Constitucional Francês e o do Reino Unido.
12. Desenvolve o seguinte tema “os Fins do Estado”.
13. Quais os órgãos de soberania da atual Constituição Francesa?
14. Como evoluiu o Direito Constitucional Português?
15. Compara e distingue a constituição liberal de 1822 e a carta constitucional de 1826.
16. Qual das seguintes afirmações é verdadeira: (i) Estados exíguos são macro-estados,
(ii) aos estados vassalos corresponde a existência de um vínculo feudal e (iii) os
estados federados por força da sua inclusão numa confederação perdem parte da
sua respetiva capacidade nacional.
17. Caracteriza o espaço terrestre, marítimo e aéreo.
18. Caracteriza o Estado Português.
19. Explica como é que o Direito Constitucional se relaciona com os outros ramos do
Direito.
20. Distingue ciências afins e auxiliares do Direito Constitucional e indica três exemplos
de cada.

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