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Colégio Anglo São Carlos

Nome: _____________________________________. N°: ____. Série: 3ª. A


Disciplina: Técnicas de Redação e Interpretação. Professor: Adriano Cardeal.
Bimestre: Primeiro [Recuperação]. Valores: de 00,00 a 10,00. Nota: _______.
Habilidades aferíveis: H1, H3, H4, H18, H20, H21, H23, H24, H25, H26, H27.
Data: _________. Visto do aluno (revisão da prova): ________. Prova: 02.

A educação no país do futebol Nesse sentido, destaco dois aspectos que ainda entravam a
melhoria da educação no Brasil. Primeiro, excludentes desi-
Maria Alice Setúbal gualdades educacionais: regionais (Norte-Nordeste dum la-
do e Sul-Sudeste doutro), entre a educação no campo e nas
O “país do futebol” ouviu milhares de cidadãos cla- cidades e, ainda, as enormes diferenças entre escolas situa-
mando nas ruas por uma “educação padrão Fifa”. E um pri- das em regiões centrais e as da periferia das grandes cidades.
meiro olhar aos dados educacionais dos últimos dez anos Segundo, a defasagem entre o currículo escolar e o mundo
nos permite comemorar o acesso ao Ensino Fundamental de vivido cotidianamente por crianças, adolescentes e jovens.
98% das crianças e adolescentes de 7 a 14 anos. Sem dúvida, O mundo contemporâneo exige uma educação que incorpo-
os dados mostram um enorme salto para uma educação de re não apenas as novas tecnologias, mas também os temas
acesso quase universal. No entanto, um olhar mais atento da cidadania e que afetam o planeta. Sustentabilidade, equi-
revela que ainda estamos longe de oferecer uma educação dade social, participação política, mobilidade urbana, em-
de qualidade. O esforço e o investimento do Governo Fede- preendedorismo, além de novos valores, como cooperação,
ral com o programa de alfabetização na idade certa é um in- respeito, diálogo e cultura de paz. As metodologias de ensi-
dicador disso, ou seja, ainda não resolvemos questões bási- no e aprendizagem precisam privilegiar o aprender fazendo,
cas para que nossa população esteja preparada para exercer os games e as simulações. E, principalmente, demandam
sua cidadania. De um lado, temos um maior acesso à educa- nova organização da escola aberta à comunidade e ao mun-
ção, não só ao Ensino Fundamental, mas também ao Ensino do. Mudanças estruturais como essas dependem de se prio-
Médio e Superior. A maioria dos jovens que ingressaram na rizar a educação como política pública nacional de fato e
faculdade nos últimos anos consiste na primeira geração da não somente nos discursos dos governantes. A retórica dos
família a estudar num curso superior. Demais, pesquisas políticos não convence mais os jovens que, assim como seus
comprovam que, quanto maior o grau de instrução, maior o pais, sabem que é necessária educação de qualidade para al-
nível salarial. Por outro lado, as novas gerações querem pro- cançarem uma vida digna e bem-estar. Uma das conquistas
tagonizar suas vidas, buscam mais autoria, diálogo e partici- de milhares de jovens que foram às ruas foi a instauração do
pação direta no rumo da sociedade. E jovens demandam no- debate político e social em torno da educação. Novas gera-
vas estratégias de democracia direta. Escutar o “clamor das ções estão colocando a questão como pauta na agenda políti-
ruas” por melhores condições de educação significa descor- ca, econômica e social.
tinar os vários entraves educacionais no Brasil, de modo que
se possa superar o desafio de atender as demandas de curto (Folha de S. Paulo, “Opinião”, 31.07.2013)
prazo, sem perder o contexto histórico e estrutural do país.

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Imagina se educação fosse igual a futebol lançada pelo movimento Todos pela Educação e neste mês
se converteu numa pesquisa realizada com internautas pelo
Gilberto Dimenstein Ibope através de seu braço de pesquisas on-line (Conecta).
A resposta revela que a mentalidade do brasileiro está mu-
Aproveitando o calendário esportivo, o Movimento dando diante de temáticas sociais. Resultado: nada menos
Todos pela Educação lançou, pelos meios de comunicação, do que 96%, ou seja, todos, concordam com a ideia de que,
uma interessante provocação. Uma provocação que poderia se o brasileiro prestasse tanta atenção ao que ocorre nas sa-
ser vista como alucinação. Foi sugerido que imaginássemos las de aulas como nos campos de futebol, teríamos uma e-
um Brasil tão apaixonado pela escola como é pelo futebol. ducação de qualidade. Há um convencimento de que o pro-
Já pensou se acompanhássemos os desempenhos de escolas blema da educação é essencialmente um problema da falta
como se acompanham os campeonatos? E se os pais se com- de pressão sobre governantes, do baixo envolvimento dos
portassem como uma torcida vaiando e aplaudindo? Pode- pais e do engajamento da comunidade. Isso mesmo. A pes-
mos estar muito longe desse sonho. Mas, talvez, não seja a- quisa faz parte dum movimento que será lançando na pró-
lucinação. É isso que concluo a partir das manifestações. A xima semana, batizado de “Mundial da Educação” para en-
mais recente pesquisa Datafolha mostrou que, segundo os gajar as cidades da Copa nas suas escolas. Já conta com a-
paulistanos, a educação deveria ser o segundo foco mais im- desões que vão desde o Movimento Todos pela Educação,
portante dos protestos (o primeiro, saúde). Pela pesquisa, e- Unicef, entidades representativas de secretários estaduais e
ducação está muito à frente de transporte público de quali- municipais da educação, até de fundações empresariais.
dade, ou segurança. Vemos também que, nas manifestações,
a “paixão pelo futebol” se misturou às cobranças sobre os (Folha de S. Paulo, “Cotidiano”, 24.10.2013)
gastos com as arenas, vistas como desperdícios. E vieram
pedidos de mais recursos à saúde e educação. Isso forçou a “A educação deveria ser levada
presidente Dilma Rousseff a se comprometer, mais uma tão a sério quanto o futebol”
vez, a drenar 100% do dinheiro do pré-sal às escolas. O pró-
prio fato de que cerca de 80% dos manifestantes que lança- Adriana Czelusniak
ram os protestos têm Ensino Superior já mostra como inves-
tir em educação consegue fazer um país mais transparente. O Brasil tem potencial para ser um líder mundial na
Vamos virar uma nação civilizada quando for consenso de área de educação, mas falta acreditar que isso é possível. A
que o melhor investimento para nos tornar desenvolvidos é opinião é do marroquino Jamil Salmi, coordenador de Ensi-
a escola pública de qualidade. no Superior do Banco Mundial. Ele esteve em Curitiba, na
semana passada, no seminário internacional “Estratégias de
(Folha de S. Paulo, “Cotidiano”, 24.06.2013) Apoio das Universidades ao Desenvolvimento Regional”,
realizado no Teatro da Reitoria da Universidade Federal do
Paraná (UFPR). Para ele, as universidades brasileiras preci-
sam ter um olhar mais internacional e transferir conheci-
mentos. “O Brasil é um gigante economicamente, mas ne-
nhuma universidade brasileira está entre as 100 melhores do
mundo. Na Copa do Mundo, vocês acreditam que podem ser
os melhores. Por que não acreditar que podem ser os melho-
res também em educação?”, indaga. Salmi é o principal au-
tor da estratégia do Bird para o Ensino Superior denominada
Constructing Knowledge Societies: new Challenges for Ter-
tiary Education. Nos últimos 17 anos, foi assessor para polí-
ticas de Ensino Superior em mais de 60 países, inclusive no
Brasil. Publicou cinco livros e centenas de outros trabalhos
sobre educação e desenvolvimento; seu último livro, Chal-
lenge of Establishing World-Class Universities, foi publica-
do em 2009. Em sua palestra, Salmi apresentou rankings
com as melhores universidades do mundo, falou sobre con-
ceito de world-class university e que caminhos podem ser
tomados para se chegar a esse padrão de excelência em edu-
cação superior. Analisando as universidades brasileiras,
Salmi ressaltou o problema de diversidade social e questio-
nou quantos estudantes nunca terão a chance de chegar ao
Ensino Superior. Ele também afirmou que, na cultura brasi-
leira, os professores tendem a permanecer na mesma institu-
ição, o que não é bom para ter novas ideias e se autodesafiar.
Após a palestra “Ensino Superior no Brasil, Inclusão Social
e World Class University”, Salmi conversou com a Gazeta
Se educação fosse igual a futebol do Povo. Confira os principais trechos da entrevista.

Gilberto Dimenstein GAZETA: O senhor diz que todos querem uma world-class
university, mas que ninguém sabe o que é ou como conse-
E se o brasileiro fosse tão exigente com o desempe- guir uma. Quais seriam as características e os desafios de se
nho da educação como o é com o futebol? Essa questão foi formar uma instituição como essa?

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SALMI: Essencialmente, temos três fatores complementa- que atribui pontuação adicional no vestibular para estudan-
res em world-class universities. O primeiro seria uma alta tes vindos da rede pública, e o Programa de Formação Inter-
concentração de estudantes, professores e pesquisadores ta- disciplinar (Profis), que seleciona pelo desempenho no Exa-
lentosos. Depois, estariam os recursos, que precisam ser a- me Nacional do Ensino Médio (ENEM) em comparação aos
bundantes. As principais universidades no ranking das me- colegas que cursaram a mesma escola].
lhores são ricas. E o terceiro fator é relacionado à estrutura GAZETA: Como professor, o senhor afirmou em sua pa-
governamental, se a instituição tem uma administração fa- lestra que, antes, não gostava de mudanças, assim como os
vorável, que incentiva a visão estratégica, inovação e flexi- seus colegas. Há algo que precisa mudar no papel dos pro-
bilidade, além da capacidade de tomar decisões. fessores universitários pra a melhora do Ensino Superior?
GAZETA: No caso das instituições públicas, os desafios SALMI: Eu ensinava da maneira que achava melhor. Quan-
em relação à administração são maiores? do entrava na sala de aula, era como se estivesse entrando
SALMI: Imagine o maior time de futebol do mundo. Eu ci- em um barco, e eu era o único comandante. Mas eu não esta-
taria o Barcelona, mas você poderia escolher um time local. va preparado pedagogicamente. Ter um diploma de Douto-
Se eles tivessem uma administração como a de uma univer- rado não quer dizer que se está preparado para ser um pro-
sidade pública, não pudessem chamar jogadores de outros fessor. Para que a aula seja interessante para os alunos, o
países, ou dispensar os que não estão jogando bem, não pu- professor precisa ser preparado e ensinado a ensinar. É pre-
dessem tomar decisões e apenas seguir instruções do Minis- ciso ter aulas mais interativas, o professor deve ser o guia
tério dos Esportes, eles seriam campeões? Educação é tão do estudante, ajudá-lo a pensar, não simplesmente passar a
importante quanto futebol; então, por que o que não faz sen- informação. Outro aspecto importante é a orientação dos a-
tido para o futebol tem de fazer sentido para a educação? lunos, assim que entram na universidade, para que sejam en-
World-class universities precisam de autonomia administra- volvidos no trabalho em laboratório e em pesquisas de cam-
tiva, flexibilidade e poder para agir. po, que são lugares onde eles aplicam o conhecimento, em
GAZETA: Em sua palestra o senhor disse que no Brasil não vez de ficarem somente olhando para a teoria.
temos nenhum exemplo de world-class university. O que GAZETA: Como avalia a forma com que a maioria dos es-
tem a dizer sobre nossas instituições de Ensino Superior? tudantes brasileiros entram na universidade, o vestibular?
SALMI: As instituições brasileiras estão olhando muito pa- De que forma esse processo de seleção poderia ser aprimo-
ra dentro delas mesmas e precisam ter um olhar mais inter- rado?
nacional, uma mobilidade maior e transferência de conheci- SALMI: O desafio é aumentar, nesse processo de seleção,
mentos. Há um avanço na parte de Pós-Graduação e pesqui- a importância de habilidades gerais, do pensamento crítico,
as, e a Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal da capacidade de resolução de problemas e de trabalhar em
de Nível Superior] tem um importante papel nesse aspecto. equipe. Essas são habilidades necessárias para o mundo do
Mas, considerando que o Brasil é um gigante econômica- trabalho, mais importantes que a memorização. Eu não pos-
mente, há espaço para um progresso maior e a necessidade so dizer que um único exame é a melhor maneira de selecio-
de aumentar o investimento. O Brasil deveria ser um líder nar estudantes; na verdade, é perigoso definir o futuro de u-
em educação, mas está atrás da China. O Brasil é o quinto ma pessoa usando a nota de uma prova. Mas utilizar o Histó-
país mais populoso, a décima maior economia do mundo, o rico Escolar, entrevistá-lo e avaliar o que o aluno está fazen-
sexto em produção de carros, é líder em vários setores, mas do além de estudar e se sabe trabalhar em equipe pode ter
nenhuma das universidades brasileiras está entre as cem me- um resultado melhor e dá para organizar tudo isso facilmen-
lhores do mundo. O Brasil é um país rico em recursos natu- te com o uso da internet.
rais, mas, no fim das contas, o recurso mais importante é o
talento de seu povo. Esse é o melhor investimento, e está (Gazeta do Povo, “Entrevista”, 19.09.2011]
sendo subaproveitado. Na Copa do Mundo, vocês acreditam
que podem ser os melhores. Por que não acreditar que po-
dem ser os melhores também em educação?
GAZETA: O sistema de cotas adotado pelo Governo brasi-
leiro facilita, por exemplo, o acesso de alunos que estudam
em escolas públicas à universidade, e há grande disparidade
entre o desempenho de alunos que estudam em escolas pú-
blicas e os de escolas privadas. Como o senhor avalia essas
iniciativas?
SALMI: Se a escola pública não é boa, e as pessoas da elite,
as que estão no poder, colocam seus filhos no sistema priva-
do, nem mesmo elas acreditam no sistema que administram.
O sistema de cotas sociais parece positivo, mas não é apenas
uma questão de autorizar a entrada de minorias na universi-
dade. É preciso dar suporte acadêmico e psicológico para
que se sintam em casa. Se um aluno de escola pública está
na universidade e todos os outros alunos vieram de escolas
privadas, é outra cultura, eles não se sentem à vontade e pre-
cisam de ajuda. Em Campinas [Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP)], estão tendo bons resultados, os a-
lunos oriundos de escolas públicas têm os mesmos resulta-
dos dos demais e, assim, não se deixam de fora estudantes Tema redacional: O caráter cultural brasileiro entre práti-
talentosos, mas pobres. [Na Unicamp, há programas como ca desportiva e educação: o que significa “investir no futu-
o Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (PAAIS), ro” de um infante na hodiernidade?

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