You are on page 1of 195

Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505

Economia Industrial de
Empresas Farmacêuticas

Lia Hasenclever
Beatriz Fialho
Helena Klein
Carla Zaire

Rio de Janeiro, 2010

Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
© Lia Hasenclever, Beatriz Fialho, Helena Klein e Carla Zaire/E-papers
Serviços Editoriais Ltda., 2010.
Todos os direitos reservados a Lia Hasenclever, Beatriz Fialho, Helena Klein
e Carla Zaire/E-papers Serviços Editoriais Ltda. É proibida a reprodução
ou transmissão desta obra, ou parte dela, por qualquer meio, sem a prévia
autorização dos editores.
Impresso no Brasil.

ISBN 978-85-7650-269-2

Projeto gráfico, diagramação e capa


Livia Krykhtine

Revisão
Helô Castro

Esta publicação encontra-se à venda no site da


E-papers Serviços Editoriais.
http://www.e-papers.com.br
E-papers Serviços Editoriais Ltda.
Rua Mariz e Barros, 72, sala 202
Praça da Bandeira – Rio de Janeiro
CEP: 20.270-006
Rio de Janeiro – Brasil

CIP-Brasil. Catalogação na Fonte


Sindicato Nacional dos Editores de Livro, RJ

E22
Economia industrial de empresas farmacêuticas / Lia
Hasenclever... [et al.]. - Rio de Janeiro: E-papers, 2010.
194p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7650-262-3
1. Indústria farmacêutica. 2. Indústria farmacêutica - Brasil. I.
Hasenclever, Lia.

10-2417. CDD: 338.476151


CDU: 338.45:661.13

Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Agradecimentos

Contribuíram para a concepção inicial deste livro os professores do


Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Carlos Frederico Leão Rocha e Maria Tereza Leopardi Mello, os
farmacêuticos André Luís Almeida dos Reis e Maria Elisa Araújo
Pessoa, bem como os alunos de graduação do curso de Economia
Aline Vieira; Caroline Araújo Pessoa; Felipe Barbosa Ferreira; Pa-
trícia Moura Ferreira; Pedro Humberto Bruno de Carvalho Jr.; Re-
nata Moustapha Corrêa; Rodrigo Silva Lopes dos Santos. A todos
os nossos agradecimentos.
Agradecemos também ao monitor Gustav Damasceno e aos
alunos de iniciação científica Thiago Cacicedo e Leonardo Salim
Saker, todos alunos de graduação do curso de Economia, da UFRJ,
pela preciosa colaboração na pesquisa e atualização dos dados.
Finalmente, agradecemos o apoio financeiro da Fundação
Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Ja-
neiro – Faperj, através do Programa “Apoio à Produção de Material
Didático para Atividades de Ensino e/ou Pesquisa – 2009”, Edital
nº 6/2009, sem o qual esta publicação não teria sido viabilizada.

Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Sumário

11 Introdução

15 1. A organização industrial e o estudo das


indústrias
15 1.1. Introdução
16 1.2. O modelo estrutura-conduta-desempenho (ECD)
23 1.3. Conceitos e evidências empíricas das barreiras à
entrada e à saída
39 1.4. Medidas de concentração da atividade econômica
45 1.5. Desdobramentos e contribuições

51 2. Indústria farmacêutica internacional


51 2.1. Características da oferta
54 2.2. Características da demanda
57 2.3. Estrutura do mercado
66 2.4. Conduta
73 2.5. Desempenho
75 2.6. Políticas públicas: países desenvolvidos e países
em desenvolvimento

Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
95 3. A indústria farmacêutica no Brasil
96 3.1. Características da oferta
100 3.2. Características da demanda
111 3.3. Estrutura de mercado
162 3.4. Conduta
164 3.5. Desempenho
167 3.6. Políticas públicas brasileiras

185 Bibliografia

Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Lista de Figuras
19 Figura1. Modelo estrutura-conduta-desempenho
30 Figura 2. Escala eficiente mínima (EEM)
48 Figura 3. A abordagem estática tradicional do Modelo ECD:
análise de dois mercados hipotéticos
49 Figura 4. Relações mais complexas entre estrutura, conduta e
desempenho

Lista de Gráficos
132 Gráfico 1. Preço médio dos medicamentos, 04/2000 a 04/2001
134 Gráfico 2. Média da relação entre o preço médio dos
medicamentos de referência e genéricos, 05/2000 a 04/2001
141 Gráfico 3. Percentual de participação de medicamentos genéricos
no mercado brasileiro
151 Gráfico 4. Setor farmacosmético brasileiro – cadeias x
independentes, 1993-2000
152 Gráfico 5. Setor farmacosmético brasileiro – estabelecimentos e
participação no faturamento, 1998-2000
153 Gráfico 6. Evolução por tipo de estabelecimento do setor
farmacosmético, 1992-2000
153 Gráfico 7. Setor farmacosmético por tipo de estabelecimento,
1998-2000
154 Gráfico 8. Setor farmacosmético brasileiro por área –
estabelecimentos e participação no faturamento, 1998-2000
155 Gráfico 9. Concentração do setor farmacosmético em termos de
faturamento, 1997-2000

Lista de Quadros
63 Quadro 1. Formas de proteção patentária na indústria
farmacêutica
68 Quadro 2. Etapas que envolvem P&D na criação e
desenvolvimento de medicamentos
70 Quadro 3. Atividades de P&D de novos princípios ativos de
empresas norte-americanas, 1999
77 Quadro 4. Regulação dos mercados farmacêuticos
78 Quadro 5. Funções essenciais do Estado nos mercados
farmacêuticos

Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
79 Quadro 6. Sistemas de financiamento e distribuição de
medicamentos
80 Quadro 7. Critérios para avaliar mecanismos de financiamento de
medicamentos
81 Quadro 8. Esquemas de distribuição pública de medicamentos
84 Quadro 9. Controle de preços sobre os produtores e sobre os
distribuidores
85 Quadro 10. Argumentos a favor e contra o monitoramento de
preços
89 Quadro 11. Método de fixação de preços com total controle
estatal nos países da América, 1994
90 Quadro 12. Método de fixação de preços com controle
intermediário nos países da América, 1994
108 Quadro 13. A demanda pública por medicamentos, programa de
assistência farmacêutica
145 Quadro 14. A distribuição de medicamentos no Brasil, 1998
147 Quadro 15. Perfil de alguns dos principais distribuidores, 1999
150 Quadro 16. Margens de comercialização de medicamentos no
varejo brasileiro, 2001
157 Quadro 17. Perfil de algumas redes de farmácias e drogarias no
Brasil, 1999
179 Quadro 18. Principais características dos subprogramas do
Profarma

Lista de Tabelas
58 Tabela 1. Vendas de medicamentos no varejo, principais
mercados do mundo, 1997-2008 (US$ milhões)
59 Tabela 2. Vendas globais, indústria farmacêutica (US$ bilhões)
59 Tabela 3. Maiores empresas da indústria farmacêutica mundial,
faturamento, 2004 e 2008
61 Tabela 4. Participação nos gastos de P&D por doença e
participação no mercado mundial, 1997
69 Tabela 5. Estrutura de custos de uma empresa farmacêutica que
realiza P&D
70 Tabela 6. Maiores empresas da indústria farmacêutica mundial,
vendas e gastos em P&D, 2007
71 Tabela 7. Gastos em P&D por etapa da pesquisa, companhias
associadas à PhRMA, 2009 (US$ milhões)
72 Tabela 8. Principais parcerias de colaborações em P&D

Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
74 Tabela 9. Número de novos produtos lançados no mercado por
países e por regiões, 1961-1990
97 Tabela 10. Faturamento líquido da indústria química brasileira,
1990-2008 (US$ bilhões)
98 Tabela 11. Importação de produtos químicos selecionados no
Brasil, 1999
99 Tabela 12. Importação de fármacos humanos superior a US$ 10
milhões FOB, 1999
99 Tabela 13. Mercado brasileiro total em valor, 1996-1999
100 Tabela 14. Mercado brasileiro total em unidades, 1996-1999
101 Tabela 15. Distribuição dos serviços públicos e privados de
atenção à saúde no Brasil, 1990
101 Tabela 16. Serviços de saúde no Brasil por faixa de renda,
população coberta, 2003
102 Tabela 17. Consumo de medicamentos por faixa de renda, 1996
103 Tabela 18. O sistema privado de atenção à saúde no Brasil, 2007
104 Tabela 19. A automedicação no Brasil por principais grupos
terapêuticos
105 Tabela 20. A automedicação no Brasil por princípios ativos
107 Tabela 21. Principais gastos do Ministério da Saúde com
medicamentos, 2002-2005 (R$)
110 Tabela 22. Óbitos por ocorrência e internações hospitalares
segundo causa, CID-10, 1998
111 Tabela 23. Estrutura da indústria farmacêutica, 1996-2007
112 Tabela 24. Número de estabelecimentos da indústria
farmacêutica por porte, 2000-2008
112 Tabela 25. Número de empregados na indústria farmacêutica por
porte, 2000-2008
113 Tabela 26. Produção dos laboratórios públicos no Brasil, 1999
114 Tabela 27. Participação de mercado das duas maiores empresas
por princípio ativo e origem de capital, 1999 (%)
115 Tabela 28. Brasil: P&D interno das empresas sobre receita líquida
de vendas, 2001-2003 e 2003-2005 (%)
115 Tabela 29. Brasil: atividades inovativas sobre receita líquida de
vendas, 2001-2003 e 2003-2005 (%)
116 Tabela 30. Medicamentos mais vendidos no Brasil nas farmácias
e drogarias, 05/2000 a 05/2001 (US$ e %)
116 Tabela 31. Medicamentos mais vendidos no Brasil, nas farmácias
e drogarias, unidades, 05/2000 a 05/2001 (%)

Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
117 Tabela 32. As 10 maiores empresas farmacêuticas no Brasil,
2006
118 Tabela 33. Principais companhias da indústria farmacêutica,
mercado ético, 10/1999 a 10/2000
118 Tabela 34. Principais companhias da indústria farmacêutica,
mercado não ético, 10/1999 a 10/2000
119 Tabela 35. Participação dos 20 principais laboratórios no Brasil
(venda às farmácias), 1979-1999
122 Tabela 36. Faixas de concentração e poder de monopólio dos
mercados relevantes, 10/1999 a 10/2000
124 Tabela 37. Regressão mínimos quadrados ordinários – variável
dependente: IHH
127 Tabela 38. Quantidade e crescimento das vendas de genéricos
130 Tabela 39. Evolução do IHH para os princípios ativos em que
genéricos foram introduzidos, 04/2000 a 04/2001
131 Tabela 40. Regressão painel, por efeitos fixos e aleatórios
132 Tabela 41. Regressão painel, por efeitos fixos
136 Tabela 42. Evolução das quantidades vendidas de medicamentos
por status do produto, 05/2000 a 04/2001
137 Tabela 43. Regressão painel com efeitos fixos
140 Tabela 44. Número de registros de medicamentos genéricos por
empresa detentora
146 Tabela 45. Principais distribuidores de medicamentos no Brasil,
2001
164 Tabela 46. Preço médio por tempo de mercado no Brasil, 1996-
1999 (US$)
165 Tabela 47. Margens de rentabilidade da indústria farmacêutica*
brasileira, 1988-2000 (US$ mil 1994)
166 Tabela 48. Importação da indústria farmacêutica brasileira, 10
principais países, 2000 e 2006 (US$ FOB)
167 Tabela 49. Exportação da indústria farmacêutica brasileira, 10
principais países, 2000 e 2006 (US$ FOB)

Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Introdução

Todas as indústrias são diferentes do ponto de vista de sua organiza-


ção e complexidade. Os agentes envolvidos na produção, distribui-
ção e comercialização, os consumidores e os marcos regulatórios
apresentam-se de maneira diferenciada respectivamente a cada
setor e a cada país. Além disso, observa-se também que o funciona-
mento dos setores é influenciado de maneira diferente pela relação
entre dinâmica local e dinâmica internacional.
A indústria farmacêutica tem como atividade principal a pro-
dução de medicamentos para uso humano ou veterinário. Nosso
interesse, entretanto, recai apenas nos produtos para uso humano,
destinados ao tratamento de doenças ou outras indicações médicas
pela sociedade.1 O funcionamento desse setor, desse modo, está di-
retamente relacionado tanto a questões no âmbito da saúde pública
quanto a questões de política industrial e regulação. Além disso, é
preciso observar o caráter internacional da dinâmica de competi-
ção no setor devido ao elevado grau de internacionalização dessa
indústria.
Este livro tem por objetivo apresentar um diagnóstico da
indústria farmacêutica brasileira sob a perspectiva da análise
estrutura-conduta-desempenho. Foi concebido para instrumenta-
ção e aprendizado dos alunos da área de Ciências Farmacêuticas.
Essa instrumentação se refere ao estudo das indústrias e de seu
desempenho, bem como ao entendimento do importante papel das
políticas públicas no desempenho dessa indústria. O aprendizado
se direciona, por sua vez, ao uso aplicado dos conceitos no diagnós-
tico da indústria farmacêutica internacional e nacional. Este livro
pode também ser utilizado como material de exemplo de aplicação

1. Doravante, estaremos nos referindo apenas ao segmento de produtos farmacêu-


ticos para uso humano.

Introdução 11
Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
da economia industrial para alunos de economia, administração e
engenharia de produção.
Sua concepção foi iniciada a partir da cooperação realizada
entre a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciên-
cia e a Cultura (Unesco), a Fundação Universitária José Bonifácio
(FUJB) e o Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), através do projeto número 914BRZ58, durante
os anos de 2000 e 2001, e recebeu a contribuição de toda a equipe
do projeto, mas principalmente de Beatriz Fialho, que, por essa
contribuição destacada, passa a ter co-autoria neste livro. O resul-
tado foi a publicação Diagnóstico da Indústria Farmacêutica Brasileira.
Esse texto tem sido utilizado, desde 2002, data de sua publicação
original, como bibliografia básica da disciplina Economia e Adminis-
tração de Empresas Farmacêuticas – disciplina do Instituto de Econo-
mia ministrada como disciplina obrigatória para os alunos da área
de Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da UFRJ.
O texto que ora apresentamos foi acrescido de mais um capí-
tulo, o Capítulo 1, e atualizado no que diz respeito às informações
sobre a indústria farmacêutica2 e aos estudos sobre o impacto da
introdução dos genéricos no mercado. O propósito do Capítulo 1
é acrescentar alguma noção sobre a disciplina Economia Industrial
e, ao mesmo tempo, explicitar o método utilizado para analisar as
indústrias farmacêuticas internacional e nacional, objetos dos capí-
tulos 2 e 3, respectivamente.
O livro está estruturado em três capítulos. No primeiro, apre-
senta-se o modelo de análise a ser utilizado para o estudo da indús-
tria farmacêutica. No segundo capítulo, caracteriza-se a indústria
farmacêutica em geral no contexto internacional. No terceiro, o
foco é a indústria farmacêutica brasileira. Os capítulos 2 e 3 estão
subdivididos em seções relativas às características da oferta e da
demanda, à estrutura da indústria, às principais condutas adotadas
pelas empresas, ao desempenho dessa indústria e às principais polí-
ticas públicas tradicionalmente utilizadas para monitorar e garantir
o desempenho do setor.

2. Ainda que não tenha sido possível atualizar todos os dados, acredita-se que a
dinâmica da indústria farmacêutica internacional e nacional tenha sido adequada-
mente capturada, conforme os leitores poderão constatar ao longo da leitura.

12 Introdução
Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
A contribuição mais importante deste livro, além dos concei-
tos sobre economia industrial e da revisão atualizada da literatu-
ra sobre o setor, é apresentar, na Seção 3.3, as características da
estrutura da indústria farmacêutica brasileira desde a produção de
medicamentos até sua distribuição. Como será visto, a estrutura da
produção é muito mais concentrada do que a estrutura de distribui-
ção, sugerindo distintos papéis de regulação para o setor público.
Utilizou-se para segmentar o mercado e analisar a sua estrutura
de produção uma metodologia própria da legislação antitruste,
aplicando-a às particularidades do setor farmacêutico. Trata-se da
definição denominada mercado relevante, espaço de competição real
entre as empresas, definição extremamente difícil de ser operacio-
nalizada no mercado farmacêutico devido à falta de informação
leiga sobre o grau de substitutibilidade dos produtos. Dessa forma,
foi necessário agregar a contribuição de especialistas em farmácia.
Destaca-se ainda a análise realizada sobre os impactos da introdu-
ção dos medicamentos genéricos na estrutura da indústria farma-
cêutica brasileira, localizada na Seção 3.3.1.1, e a sua atualização a
partir de novos estudos, exemplo ideal para realizar uma análise
da política regulatória do setor a partir da abordagem da disciplina
Economia Industrial.

Introdução 13
Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
1. A organização industrial e o estudo
das indústrias

1.1. Introdução
A disciplina economia industrial, posteriormente denominada de or-
ganização industrial, nasce basicamente de uma insatisfação com a
explicação das teorias neoclássicas de equilíbrio parcial e geral sobre
a natureza e o funcionamento real das empresas, e os mecanismos
de coordenação de suas atividades, incluindo o funcionamento dos
mercados. É um ramo da teoria microeconômica e seus autores fun-
dadores foram os professores Edward Mason e Joe Bain por volta
dos anos 1940 e 1950.3 A partir de observações empíricas, esses auto-
res formularam a hipótese da existência de uma relação direta entre
estrutura de mercado, conduta no mercado e desempenho. Essa hi-
pótese também está presente nos modelos de competição e mono-
pólio da teoria neoclássica, apesar de nunca ter sido explicitada.
Seus autores questionaram principalmente a falta de realismo
das teorias microeconômicas neoclássicas. A partir desses questio-
namentos uma primeira corrente de pensamento se torna autônoma
e denomina-se, nos Estados Unidos, de organização industrial e, na
Europa, de economia industrial. Esta corrente, em seus primórdios,
era essencialmente empírica. Estudava várias empresas e indústrias
para tentar explicar as causas dos comportamentos desviantes das
predições feitas pelo modelo neoclássico tradicional.
O seu foco é principalmente o estudo da estrutura das indús-
trias. Entende-se por indústria ou mercado o conjunto de empre-
sas produzindo bens e serviços substitutos4 entre si e, portanto,
em concorrência em um mercado. Por estrutura, entende-se não

3. Ver bibliografia para referência dos principais trabalhos desses autores.


4. Bens e serviços substitutos são aqueles que preenchem a mesma função de neces-
sidades de consumo.

1. A organização industrial e o estudo das indústrias 15


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
somente as características morfológicas das indústrias (número e
tamanho das empresas, grau de concentração da indústria, entre
outras características), mas também os princípios de seu funciona-
mento (tipo de concorrência que predomina, por exemplo).
Progressivamente, os estudos foram se estruturando em torno
de um arcabouço de análise empírica comum que procurava pre-
ver como as atividades produtivas são trazidas em harmonia com a
demanda por bens e serviços, através de alguns mecanismos orga-
nizacionais, tais como o mercado, e como as variações e imperfei-
ções no mecanismo organizativo afetavam o sucesso das indústrias
em satisfazer o bem-estar econômico.5
Nessa evolução, pode-se reconhecer a contribuição de vários
outros autores na busca de conjuntos de atributos ou variáveis que
influenciam o desempenho econômico e na construção de teorias,
detalhando as ligações entre esses atributos e o desempenho de
cada indústria. O modelo foi concebido por Edward E. Manson,
da Universidade de Harvard, na década de 1930, e elaborado por
diversos seguidores. Entre os mais relevantes estão Joe Bain e Fre-
deric. M. Scherer.
Este capítulo tem por objetivo expor o paradigma fundador
da disciplina economia industrial, sublinhando as potencialidades
intelectuais que ele abre para o estudo das empresas e indústrias,
suas contribuições empíricas e os seus limites.

1.2. O modelo estrutura-conduta-desempenho (ECD)6


Como já avançado na seção anterior, deve-se a Edward Mason os
esforços mais importantes na direção de oferecer um método de
análise geral das realidades econômicas industriais. Ele unificou as
abordagens de observações históricas e de reflexões teóricas crí-
ticas contemporâneas ( Joan Robinson, Edward Chamberlein, e
Piero Sraffa, por exemplo) e o apresentou como o quadro unifica-

5. Bem-estar econômico é uma situação na qual todos os agentes participantes das


trocas (compra e venda) ficam satisfeitos com os benefícios resultantes.
6. O Modelo ECD será apresentado aqui a partir da elaboração feita por Frederic
M. Scherer, em 1970, em seu livro Industrial Market Structure and Economic Performan-
ce, atualmente em sua terceira edição revista e atualizada em conjunto com David
Ross, em 1990.

16 1. A organização industrial e o estudo das indústrias


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
dor, capaz de permitir autonomia ao campo de economia industrial
como uma disciplina independente. O autor elegeu quatro temas
como foco de sua tarefa. Esses temas, abaixo explicitados, serão
adotados como lemas importantes para o estudo de indústrias, em
geral, e, em particular, da indústria farmacêutica nos capítulos se-
guintes deste livro.
Em primeiro lugar, os conceitos da microeconomia são muito
abstratos, difíceis de estimar, e, em especial, a concorrência pura
e perfeita é concebida de maneira estática e sem considerar as
decisões empresariais que emprestam dinamismo ao sistema eco-
nômico. Em segundo lugar, é necessário que a metodologia seja
capaz de misturar fatos empíricos e teoria para reconhecer os fa-
tores determinantes, rejeitando abordagens puramente normativas
e preferir abordagens mais indutivas que levem em conta as reali-
dades históricas e institucionais. Em terceiro lugar é preciso repen-
sar o conceito de mercado ligado a produtos homogêneos e não
diferenciados, adotando-se o conceito de indústria definido por
A. Marshall – conjunto de tamanho variável de produtores com
produções heterogêneas – muito mais realista. Finalmente, deve-
se adotar a hipótese que os comportamentos de uma empresa de
uma dada atividade econômica são fortemente determinados pelas
estruturas dominantes dessas atividades.
Assim, pergunta-se inicialmente o que a sociedade deseja dos
produtores de bens e serviços. A resposta, em geral, é um bom
desempenho ou um desempenho capaz de propiciar bem-estar
econômico. O problema, então, passa a ser como definir desempe-
nho, já que ele pode ser entendido a partir de várias dimensões e,
portanto, significar diferentes objetivos e metas, como os ilustrados
a seguir:
 O quê, quanto e como produzir de forma eficiente, ou seja,
sem desperdiçar recursos escassos e levando em conta qualita-
tiva e quantitativamente a demanda do mercado?
 Como obter aumentos contínuos de produtividade através da
incorporação de oportunidades científicas e tecnológicas em
novos produtos, processos, matérias-primas, formas de orga-
nização?
 Como favorecer o pleno emprego dos recursos, especialmente
dos recursos humanos?

1. A organização industrial e o estudo das indústrias 17


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
 Como distribuir equitativamente a renda, impedindo o ganho
excessivo de produtores ou apropriação indevida do exceden-
te dos consumidores?
A obtenção desses objetivos é eivada de conflitos políticos e a
sua realização nunca poderá ser maximizada por cada produtor ou
consumidor, mas deve-se buscar uma solução de maior satisfação
possível de cada um desses objetivos, através da monitoração per-
manente do desempenho de cada indústria.
Apesar das dificuldades de mensuração do desempenho in-
dustrial, dado que os indicadores refletem sempre apenas parte da
realidade, existem alguns indicadores clássicos na literatura econô-
mica que podem ser utilizados: magnitude da margem preço-custo;
taxas de mudança na relação entre produto/empregado; níveis de
preço; distância entre custo atual e possível custo mínimo; variabi-
lidade do emprego ao longo do ciclo de negócios; taxa de lança-
mento de novos produtos.
A ideia básica do Modelo ECD consiste, portanto, em identi-
ficar que variáveis ou conjunto de atributos são capazes de explicar
as diferenças de desempenho observadas a partir do monitoramento
das indústrias pelos órgãos reguladores da concorrência. As condu-
tas das empresas são diferenciadas e motivadas, principalmente, pelo
tipo de estrutura de cada indústria. A estrutura da indústria, por sua
vez, depende de certo número de condições ditas de base que são
de natureza bastante diversa: técnicas, institucionais e relevância da
demanda. A Figura 1 ilustra esquematicamente o Modelo.
O desempenho em indústrias particulares ou mercados pressu-
põe-se como dependente da conduta ou estratégias empresariais dos
vendedores (produtores) e dos compradores (consumidores) em as-
suntos tais como política e prática de preços, cooperação explícita ou
tácita entre as empresas, estratégias de linhas de produtos e propa-
ganda, esforços de pesquisa e desenvolvimento (P&D), investimento
em plantas produtivas, táticas legais (como, por exemplo, enforcement
dos direitos de patentes) e assim por diante. A conduta, por sua vez,
depende da estrutura do mercado relevante,7 caracterizada pelo nú-

7. O conceito de mercado relevante, desenvolvido mais adiante, identifica a ampli-


tude ou escopo de produtores e compradores que concorrem para a produção de
produtos substitutos e os consomem indiferentemente e, portanto, devem ser incluí-
dos entre os atores relevantes na dinâmica competitiva de cada mercado relevante.

18 1. A organização industrial e o estudo das indústrias


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
mero e tamanho dos produtores e compradores, o grau da diferen-
ciação física ou subjetiva dos produtos e serviços, da presença ou
ausência de barreiras à entrada de novas empresas, do formato das
curvas de custo, do grau de integração vertical das empresas e da
extensão de diversificação das empresas para outros mercados.
Figura1. Modelo estrutura-conduta-desempenho
Condições Básicas de Mercado
Condições de Demanda Condições de Oferta
Elasticidade-preço Tecnologia
Substitutos Matérias-primas
Crescimento do Mercado Sindicalização
Natureza do Produto Durabilidade do Produto
Métodos de Compra Localização
Estrutura de Mercado
Número de Compradores e Vendedores
Diferenciação do Produto
Barreiras à Entrada e à Saída
Integração Vertical
Difersificação
Estrutura de Custos

Políticas Governamentais
Conduta Política Nacional de Medicamentos
Estratégia de Preço Regulação: registro de produtos,
Estratégia de Produto produção, comercialização e
Propaganda fiscalização
Estratégia de Pesquisa e Desenvolvimento Políticas de defesa da concorrência
Estratégia de Licenciamento Lei de patentes
Colusão Lei de genéricos
Fusões Controle de preços
Estratégias legais Regulação de salários
Incentivos a investimentos
Políticas macroeconômicas

Desempenho
Eficiência Alocativa
Eficiência Produtiva
Taxa de Avanço Tecnológico
Qualidade e Serviço
Equidade Legenda:

Fluxo causal central


Intervenção governamental
Retroalimentação

Fonte: Adaptado de Scherer, 1970.

Finalmente, a estrutura de mercado é determinada por uma


série de condições básicas. Por exemplo, do lado da oferta, os fa-
tores determinantes da estrutura são: a localização e a propriedade
da matéria-prima, a natureza das tecnologias relevantes (processos
contínuos ou em batelada; ou alta ou baixa elasticidade de substi-
tuição dos insumos), o grau de sindicalização da força de trabalho,
a durabilidade do produto, o padrão de entrega da produção (pron-
ta entrega ou encomenda), relação entre preço e peso do produ-
to. Do lado da demanda, devem-se incluir, entre outros fatores, as
condições de elasticidade-preço da demanda, a disponibilidade de

1. A organização industrial e o estudo das indústrias 19


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
produtos substitutos, a taxa de crescimento e flutuação da demanda
ao longo do tempo, os métodos de compra utilizados pelos com-
pradores (a vista ou a crédito). Outras condições básicas dizem res-
peito às leis vigentes e aos valores socioeconômicos predominantes
da comunidade de negócios.
Como sugerem as setas na Figura 1, que representam o fluxo
causal central, esse inicia-se nas condições básicas de demanda e de
oferta, seguindo para a estrutura do mercado, para as condutas ou
estratégias empresariais e para o desempenho. Nessa sequência po-
deria dizer-se que as condições estruturais representadas pelas con-
dições básicas e estrutura do mercado são dadas, exógenas, ou não
determinadas pelo modelo, o que lhe empresta um caráter estático.
Porém, podem-se observar também importantes efeitos de
retroalimentação ou de encadeamento representados pelas setas
pontilhadas, prevendo-se efeitos sistêmicos de influência entre as
variáveis. Por exemplo, um esforço intenso em P&D (conduta)
pode alterar o paradigma tecnológico dominante na indústria (con-
dição básica de oferta) e, portanto, suas condições de estrutura de
custo e de diferenciação de produto (atributos da estrutura). Outro
exemplo seria a política de preços (conduta) praticada por algumas
empresas já estabelecidas na indústria, estimulando a entrada ou a
saída de novas empresas e a saída de empresas estabelecidas. Des-
sa forma, teria havido uma influência da conduta para a estrutura
representada pela mudança no número de vendedores/produtores.
A partir desses e de outros exemplos, pode-se pressupor que tanto
as condições básicas de oferta e de demanda quanto a estrutura
do mercado são determinadas endogenamente através do conjunto
de relações do sistema e não fixadas por forças exógenas, como se
discutirá na próxima seção.

O papel das políticas públicas


Se o mercado natural falha em organizar a indústria, conduzindo-a
a um desempenho não eficiente, então, o governo precisa intervir.
Sua intervenção pode se dirigir às variáveis da estrutura e/ou da
conduta e/ou do desempenho, conforme indicam as setas de inter-
venção governamental na Figura 1.

20 1. A organização industrial e o estudo das indústrias


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
O arsenal de instrumentos de política é bastante amplo. Cus-
tos, investimentos e preços podem ser influenciados por taxas
ou subsídios. A estrutura de mercado pode ser influenciada pelo
estabelecimento de tarifas de comércio, quotas de importação e ou-
tras políticas voltadas para o comércio internacional ou atração de
investimentos externos diretos. Outra forma de intervenção mais
branda seria melhorar o provimento de informações tanto para
consumidores quanto para produtores, reduzindo as assimetrias de
informação.8 A regulação dos mercados é outra forma possível de
intervenção determinando condições prévias de operação e circu-
lação de bens e serviços ou controlando preços de sua entrada no
mercado. As políticas antitrustes ou as políticas que incentivam a
concorrência são estratégias mais recentes e cada vez mais valoriza-
das como guias de bom desempenho industrial e formas indiretas
ou passivas de intervir no mercado. Em casos extremos, o governo
também pode decidir por prover ele mesmo, através da produção
pública, bens e serviços. Uma alternativa é criar empresas públicas
com funções reguladoras de custos, preços e padrões de qualidade
capazes de emular uma concorrência entre os rivais privados que
elevem o desempenho geral da indústria.
A intensidade da intervenção praticada pelos governos va-
ria em sentido inverso ao funcionamento do mercado. Assim, em
períodos onde o desempenho industrial se mostra pior, crescem
as políticas intervencionistas. Há também diferenças importantes
entre os países líderes na crença da capacidade de o mercado natu-
ral organizar o desempenho industrial de forma eficiente. Os Esta-
dos Unidos sempre foram crédulos dessa capacidade do mercado
natural organizar o desempenho industrial, enquanto a Europa e o
Japão foram bem mais céticos.

Regulação pública
A regulação pode ter um caráter genérico, quando é voltada para
a economia como um todo, ou específico, quando voltada apenas
para algumas indústrias. Um exemplo do primeiro tipo é o contro-

8. O conceito de assimetrias de informação indica que os agentes envolvidos em


uma transação possuem diferentes níveis de informação, afetando o resultado final
da transação, que não atinge o bem-estar econômico.

1. A organização industrial e o estudo das indústrias 21


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
le de preços generalizado para a economia e do segundo voltado
apenas para a indústria farmacêutica.
Entretanto, a justificativa econômica clássica utilizada desde
os escritos de Adam Smith para o Estado regular a economia era
garantir que as indústrias denominadas de bens e serviços públicos
atendessem a todos os cidadãos de forma equitativa. Em geral, os
setores industriais que se enquadram nessa classificação (eletricida-
de, distribuição de gás, serviços telefônicos, estradas de ferro, dutos
para transportar petróleo e gás natural) atuam através de grandes
empresas, devido aos elevados custos fixos envolvidos nessas ati-
vidades e a necessidade de diluí-los através de grandes escalas de
produção. Em geral, portanto, uma única empresa ocupa o merca-
do todo, formando o que se denomina o monopólio natural. Daí, a
necessidade de regulação dos custos, preços e qualidade dos bens e
serviços públicos. Na prática, há poucas empresas que se encaixam
no que se denomina indústria de utilidade pública.
Entretanto, várias outras indústrias são reguladas por outras
razões. Outra justificativa clássica para a intervenção governamen-
tal é a presença de assimetrias de informação ou de externalida-
des.9 O primeiro caso é característico de indústrias com tecnologias
e padrões de produção complexos bem como produtos com ca-
racterísticas tecnológicas fora do padrão do senso comum. Nesse
caso, justifica-se a regulação porque nem sempre a indústria costu-
ma fornecer as informações suficientes para o consumo desses pro-
dutos, havendo necessidade de se arbitrar um padrão, através do
estabelecimento de normas mínimas de produção e características
do produto. O segundo caso é ilustrado classicamente com a polui-
ção, fenômeno que afeta a todos e não somente os produtores que
a geraram. Ou seja, a decisão de produção de uma empresa gera
custos para a sociedade, sem que ela tenha decidido consumir mais
poluição. Há que se arbitrar, através de taxas, quotas de emissão e
outros instrumentos, multas para essas empresas poluentes.
A regulação também pode se justificar para impedir que lucros
extraordinários sejam apropriados por determinados grupos que
não estão contribuindo para isso. Exemplos são mudanças con-

9. Conceito econômico que indica a presença de benefícios ou malefícios econômi-


cos que são apropriados pelos agentes sem que eles tenham tomado a decisão que
gerou esses resultados.

22 1. A organização industrial e o estudo das indústrias


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
junturais dos preços e abuso do poder de monopólio obtido por
concessões do Estado (patentes e exploração exclusiva de recursos
naturais).
Outra hipótese considerada para a regulação é a existência de
interesses organizados para a obtenção de benefícios. Nesses casos,
o regulador deve estar muito atento para não ser “capturado” pelo
interesse dos regulados. Esses, em geral, têm mais conhecimento
sobre os objetos de regulação do que os próprios reguladores e
utilizam influências políticas para defenderem seus interesses de
forma sistemática.
Enfim, a questão da regulação é extremamente complexa.
Encontrar o ponto certo entre regular ou desregular é um desa-
fio permanente. Entretanto, não regular pode significar deixar que
o funcionamento do mercado natural, muitas vezes inadequado,
distorça os resultados desejados pela sociedade do desempenho
industrial.

Antitruste
Essa é uma forma específica de regulação também conhecida como
‘regulação do comércio’. As principais diferenças, em relação a
outros tipos de regulação, são o caráter episódico da regulação
antitruste e o escopo mais bem definido das intervenções. Entre as
principais intervenções estão: proibição de contratos, combinações
e conspirações para restringir o comércio; proibição de monopo-
lização; proibição de discriminação de preços; e, no nível multi-
nacional, o Tratado de Roma, de 1957, contém uma política de
competição explícita.

1.3. Conceitos e evidências empíricas


das barreiras à entrada e à saída
O verdadeiro entendimento da racionalidade de intervenção
regulatória ou de políticas antitruste depende da compreensão
do funcionamento do Modelo ECD, ou seja, das relações entre
desempenho do mercado, estrutura e conduta das empresas. A
compreensão dessas relações, por sua vez, é ilustrada por casos
reais de estudos industriais. Muitas propostas e tipos de verificações

1. A organização industrial e o estudo das indústrias 23


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
empíricas foram conduzidos para enriquecer ou verificar a veraci-
dade das determinações causais propostas pelo quadro teórico que
se acabou de apresentar. Elas podem ser resumidas por dois tipos
de estudos: estudos de caso e estudos econométricos.10
Os estudos de caso realizados durante os anos 1950 foram
devotados às atividades de base das indústrias de aço, petróleo e
automóveis. Levavam-se em conta todos os aspectos qualitativos
capazes de elucidar melhor a realidade industrial desses setores.
Ainda que as informações quantitativas dos principais indicado-
res de concentração, de rentabilidade e outros tenham fornecido
informações fecundas sobre o funcionamento do mercado, elas não
foram suficientes para permitirem generalizações sobre o seu fun-
cionamento.
Os estudos econométricos, por sua vez, foram conduzidos, so-
bretudo nos anos 1960 e 70, e se dedicaram a encontrar ligações
específicas significativas entre certas estruturas e diversas medidas
de desempenho. As análises de regressão foram realizadas a partir
de amostras de atividade e verificações de hipóteses simples, tais
como: qual é a influência do grau de concentração das atividades
sobre suas margens? Sobre sua produtividade? Do tamanho das
empresas sobre o grau de inovação? Ou testando relações mais
complexas, tais como: que papéis específicos exercem tais e tais va-
riáveis características das estruturas das atividades sobre suas taxas
de lucro? Qual é o impacto das despesas de publicidade?
Várias observações devem contribuir para marcar os limites
dessas abordagens metodológicas:
 os argumentos teóricos utilizados para incluir este ou aquele
aspecto estrutural da lista de variáveis explicativas eram fre-
quentemente pobres e escolhidos sem referência a um modelo
subjacente;
 às vezes, os métodos se perdiam nos problemas infindáveis da
causalidade e da simultaneidade do conjunto de variáveis da
estrutura, conduta e desempenho, sem se conseguir saber o
que determina o que;

10. A econometria é um instrumento quantitativo que combina a teoria econômica


e a estatística para investigar a relação causal entre as variáveis ou a sua significância
para a verificação de um fenômeno.

24 1. A organização industrial e o estudo das indústrias


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
 enfim, a maior parte das relações estaria caracterizada pelas
condições históricas nas quais elas foram estabelecidas e difi-
cilmente sobreviveriam a mudanças na economia ou ao estu-
do de diferentes contextos institucionais.
Em que pese toda a controvérsia gerada, é inegável que as
condições de entrada e saída de uma indústria são determinantes
importantes do poder de mercado das empresas estabelecidas e
uma prova empírica relevante de que os mercados não funcionam
como a teoria neoclássica prediz. Em outras palavras, a mobilidade
dos capitais ou dos fatores de produção é, na teoria neoclássica, a
condição fundamental para o funcionamento ideal de um mercado
competitivo.
Entretanto, as condições de entrada e saída, na realidade, se
mostram muito rígidas e impedem a mobilidade dos capitais no
mercado e, portanto, a livre concorrência entre as empresas. Toda
vez que as empresas estabelecidas atraem novas empresas ao eleva-
rem seus preços acima dos custos marginais, diz-se que as barreiras
à entrada são baixas. As condições de entrada e saída são respon-
sáveis pela seleção das empresas que ficam e saem do mercado.
Quanto maiores são as perspectivas de ganho em um mercado,
maior é a atratividade de empresas para esse mercado. Inversa-
mente, a apresentação constante de prejuízos por parte de empre-
sas já estabelecidas torna-as candidatas a deixarem o mercado.
A seguir, estudaremos os padrões de entrada e saída observados
na prática e as principais fontes de barreiras à saída e à entrada.

Padrões de entrada e saída


As observações abaixo são extraídas do trabalho de Dunne et al.
(1988), utilizando dados dos censos americanos dos anos de 1963,
1972, 1977 e 1982:
 o movimento de entrada e saída de empresas observado
é fraco. Apenas 39% das empresas, em cada ano censitário
considerado, eram novas em relação ao censo anterior. As es-
tatísticas de saída eram similares: apenas 31% das empresas
estabelecidas deixavam o mercado;
 as estatísticas de entrada e saída apresentavam também in-
terpretações errôneas. Tanto as empresas entrantes quanto as

1. A organização industrial e o estudo das indústrias 25


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
empresas que estavam deixando o mercado apresentavam um
tamanho menor do que as empresas estabelecidas;
 as novas empresas entrantes têm altas taxas de falência; sua
idade média de existência é de 5 a 10 anos;
 logo, a entrada bem-sucedida é menor do que o número de
novas empresas entrantes pode indicar; e isto sugere que as
mudanças ocorrem mais nas margens do que no centro da
indústria;
 a desagregação das informações por setores industriais sugere
um padrão muito distinto entre as várias indústrias;
 a correlação existente entre taxas médias de entrada e de saída
é elevada: indústrias com altas taxas de barreiras à entrada
costumam apresentar também altas taxas de barreiras à saída.

Entrada
Teoricamente, em uma indústria com livre entrada há estímulos
para as empresas operarem sempre de forma eficiente. Novos pro-
dutos e novas tecnologias também podem ser introduzidos atra-
vés da entrada. É necessário considerar os fatores que impedem a
entrada e os fatores que incentivam a entrada. Iniciemos com os
fatores que impedem a entrada.
Existem várias definições de barreiras à entrada na literatura
de organização industrial. Entretanto, de forma literal, barreira à
entrada é qualquer fator que previne a entrada instantânea; ora,
mas como somente no longo prazo há entrada de novas empresas,
essa não é uma definição operacional. As barreiras à entrada só
podem ser percebidas considerando-se o longo prazo, porque no
curto prazo até os mercados competitivos podem apresentar lucros
positivos, sem induzir a entrada de novas empresas que para se
instalarem levarão certo tempo.
Vejamos algumas definições correntemente adotadas. A defini-
ção de J. Bain pode ser enunciada da seguinte forma: condições de
mercado que permitem as empresas estabelecidas fixarem preços
acima dos custos marginais sem atrair a entrada de outras empresas
podem ser consideradas barreiras à entrada. Outra explicação do
mesmo autor: existem barreiras à entrada quando uma empresa

26 1. A organização industrial e o estudo das indústrias


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
entrante não é capaz de auferir lucros semelhantes às empresas
estabelecidas antes da entrada ocorrer.
Uma crítica à definição adotada por Bain foi feita por J. G.
Stigler, que a redefiniu como o custo de produção que é incorrido
pelas empresas entrantes, mas não é imputado às empresas estabe-
lecidas. Uma distinção-chave entre as definições de Stigler e Bain é
se as economias de escala são ou não fontes de barreiras à entrada.
Bain achava que não somente podem ser, mas que muitas vezes se
apresentaram como importantes barreiras à entrada. Já Stigler, não
as considerava assim, enquanto as curvas de custo da entrante e da
estabelecida fossem as mesmas.
Já o autor C. C. Von Weizsacker contribuiu qualificando me-
lhor a definição de Stigler: uma barreira à entrada existe se uma
diferença de custo entre a empresa estabelecida e a entrante im-
plica uma distorção no uso de recursos econômicos do ponto de
vista social.

1.3.1. Barreiras à entrada


No decorrer do capítulo utilizaremos a definição de Bain. Esse au-
tor considerava basicamente quatro fatores de barreiras à entrada
estáticas:
 economias de escala e de escopo;
 vantagens absolutas de custo;
 custo de requerimento de capital;
 diferenciação de produtos.
Cada um desses fatores considerados será examinado separa-
damente considerando os vários níveis em que eles podem ocorrer
quando for pertinente.

Níveis e fontes de economias de escala e escopo


As economias de escala aparecem à medida que os custos de produ-
ção (isto é, dos fatores fixos) se reduzem com o aumento do número
de unidades produzidas. Elas podem existir no nível do produto, da
fábrica e das fábricas subdivididas em várias unidades fabris.
 Nível de Produto – a especialização é uma importante fonte de
economia de escala no nível de produto. Quanto mais espe-
cializada é uma empresa, menores são os custos de produção.

1. A organização industrial e o estudo das indústrias 27


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Exemplo de Adam Smith: redução do tempo de produção
através da especialização e redução do set up das máquinas;
poupanças semelhantes podem ser obtidas através da especia-
lização associada à divisão do trabalho, através da melhoria
pela repetição, caindo os tempos utilizados de trabalho e o
custo de produção devido a esse fator.
 Nível da Fábrica – aumento do tamanho das unidades processa-
doras; é um tipo de economia de escala importante nas indús-
trias de processo (refino, química, cimento...). Nessas indústrias
os rendimentos à escala se apresentam crescentes, ou seja, é
possível uma empresa aumentar sua capacidade de produção
com um aumento menos que proporcional dos seus fatores de
produção. Uma regra de bolso11 nos indica que essa proporção
é de dois para três, isto é, uma empresa pode dobrar a sua
capacidade de produção com um aumento de seus custos de
capital de 60%; outro tipo de economia de escala é a economia
de custos indiretos (overhead), que pode resultar do aumento
de unidades produzidas. Quanto maior o número de unidades
produzidas, menor será o valor do custo indireto imputado a
cada nova unidade produzida. Entre os principais custos indi-
retos estão os custos com estoques, os custos de auditoria, os
custos financeiros, os custos de marketing, pesquisa e desenvol-
vimento, gerência de recursos humanos, força de vendas.
 Nível das Multiunidades Fabris – economias de escala são parti-
cularmente relevantes em determinados tipos de indústria; in-
dústrias que possuem custos de transportes elevados em rela-
ção ao valor do produto, como a indústria de cimento, na qual
há vantagens de se ter várias unidades fabris regionalizadas ao
invés de uma única fábrica. Outro exemplo é o de empresas
que produzem vários produtos. Nesse caso, interessa especiali-
zar cada unidade fabril em um produto. Outro exemplo seria
uma empresa com várias unidades fabris que podem ter o seu
marketing feito em conjunto em nível nacional.
As economias de escala são exauridas à medida que a escala da
empresa aumenta. Chamamos a esse fenômeno de deseconomias
de escala. Ele ocorre porque existem rendimentos decrescentes em

11. Regra de bolso é uma expressão utilizada na literatura econômica para indicar que
a informação não tem explicação teórica, mas foi obtida a partir da experiência.

28 1. A organização industrial e o estudo das indústrias


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
todos os tipos de ganhos de escala. Os rendimentos decrescentes
surgem porque há fatores de produção fixos12 na empresa que não
podem ser ampliados no curto prazo, impedindo o ganho contínuo
de economias de escala. Entretanto, no longo prazo não há fatores
fixos e o mais razoável seria supor que os rendimentos são constan-
tes a escala e não decrescentes.
Os economistas forneceram pelo menos duas razões para
explicar esse paradoxo e justificar a presença de rendimentos de-
crescentes mesmo quando não há fatores fixos. Em primeiro lugar,
mesmo no longo prazo alguns fatores são fixos, ou ao menos es-
cassos, como, por exemplo, a habilidade gerencial e a qualidade
de empreender. Estruturas organizacionais muito complexas são
de difícil gestão e, em geral, implicam deseconomias de escala que
acabam por anular as vantagens de escala. Foi por isto que histori-
camente as empresas abandonaram suas estruturas funcionais para
estruturas multidivisionais. Em segundo lugar, as deseconomias de
escala estão associadas aos custos de transporte com fornecimento
de insumos ou distribuição de produtos, o que é uma realidade
inegável em algumas indústrias.
A seguir, analisaremos de que maneira a presença de econo-
mias de escala funciona como uma barreira à entrada. Suponha-
mos, inicialmente, que o acesso ao mercado de capitais é livre, de
forma que a empresa entrante possa obter capital financeiro sufi-
ciente para financiar a entrada, enquanto ela for lucrativa, e que o
acesso à tecnologia seja livre.
Nesse contexto, as economias de escala atuarão como barrei-
ras à entrada se existir espaço em uma determinada indústria para
um pequeno número de empresas, com cada uma delas produzin-
do um nível de produto suficiente para minimizar os custos médios.
O nível mínimo de produto que deveria ser produzido, dada uma
curva de custo médio de longo prazo, é q1 para produzir no nível
de custos mais baixo, conforme Figura 2. O número de empresas
que irá existir nesse mercado dependerá da curva de demanda do
mercado e do tamanho relativo das empresas.

12. Fatores fixos são aqueles que levam tempo para serem construídos. Exemplos
são: o aumento de capacidade de produção de uma empresa que envolve obras civis
e encomendas de máquinas e equipamentos.

1. A organização industrial e o estudo das indústrias 29


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Figura 2. Escala eficiente mínima (EEM)

Fonte: Elaboração própria.

Assim, em mercados nos quais o nível de produto exigido para


se alcançar a escala eficiente mínima é maior do que a demanda do
mercado, ou melhor, se localiza após o posicionamento da curva
de demanda, poucas empresas poderão atuar. Se essas empresas
forem grandes, devido, por exemplo, a indivisibilidades tecnológi-
cas, então o número de empresas se reduzirá ainda mais. Por outro
lado, se o nível de produto para alcançar a escala eficiente mínima
estiver aquém da demanda do mercado, muitas empresas poderão
atuar nesse mercado.
A chave para o entendimento das economias de escala como
barreiras à entrada é reconhecer que as empresas estabelecidas já
construíram fábricas suficientes para alcançarem escalas eficientes
mínimas. Quando a escala eficiente mínima é grande em relação à
demanda (ou seja, a demanda é inferior à escala eficiente mínima),
as empresas entrantes potenciais têm que refletir sobre o efeito da
entrada sobre o preço de mercado do produto. Elas precisam fazer
conjecturas acerca do comportamento das empresas estabelecidas
em relação aos preços dos produtos em reação à entrada.
Bain assume que as empresas estabelecidas não reagirão com
o aumento de produto após a entrada de novas empresas (hipótese
de manutenção do nível de produto). Nesse contexto, a entrada de
outra empresa à escala eficiente mínima poderá reduzir os preços
abaixo dos custos médios, fazendo com que as empresas tenham
prejuízo. Os prejuízos poderão ser ainda maiores se a escala eficien-

30 1. A organização industrial e o estudo das indústrias


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
te mínima representar uma grande parte do produto do mercado
relevante e a empresa incorrer em uma desvantagem absoluta de
custo, por estar operando a uma escala abaixo da escala eficiente
mínima (escala subótima). Adicionalmente, se uma empresa tiver
que incorrer em custos irrecuperáveis substanciais para entrar em
uma indústria, a possibilidade de sustentação das perdas econômi-
cas pode impedir a entrada de novas empresas.

Economias de escopo
Desenvolvimentos recentes em economia industrial indicam a im-
portância das economias de escopo. Chandler (1990) a explica da
seguinte forma: a maior parte das empresas produz mais de um
produto, logo, deve haver uma razão para isto, ou seja, deve ser
menos custoso produzir vários produtos do que apenas um produ-
to. A isto denominamos de economias de escopo: há vantagens em
produzir vários produtos conjuntamente ao invés de especializar
uma empresa na produção de um único produto.
Suponhamos que q1 e q2 representem as quantidades produzi-
das de dois produtos. As economias de escopo estarão presentes se
C(q1,q2) < C(q1) + C(q2)
As principais fontes de economia de escopo são: a existên-
cia de fatores fixos altamente especializados e fatores intangíveis
também específicos a determinados negócios. A existência de um
fator fixo, como, por exemplo, uma máquina especializada. Essa
máquina, para ser eficiente, deverá produzir a um nível de produto
compatível com o custo médio mínimo. Entretanto, se o mercado
não comportar esse nível de produto, seria interessante ocupá-la
com a produção de outro produto. Exemplos são: linha de trem
usada para passageiros e para carga; escalas em voos; partilha de
um insumo físico ou intangível (conhecimento dos pesquisadores
ou dos engenheiros sobre a produção). O uso partilhado de ativos
intangíveis reduz os custos porque reduz os custos de obtenção das
informações, uma das fontes de custos de transação.13

13. Custos de transação é uma expressão utilizada pela literatura econômica para
indicar que existe um custo de transacionar, ou seja, de obter informações sobre o
preço e a qualidade do bem, administrar a compra – incluindo a organização de
contratos de compra –, e administrar as incertezas decorrentes, como, por exemplo,
a não entrega do bem no prazo estipulado.

1. A organização industrial e o estudo das indústrias 31


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Vantagem absoluta de custos
Supondo custos médios constantes, podemos dizer que as empre-
sas estabelecidas possuem vantagens absolutas de custo quando
elas apresentam custos médios de longo prazo inferiores ao das
empresas entrantes para qualquer nível de produto. Os preços do
mercado são compatíveis com os custos médios de longo prazo das
empresas estabelecidas e não cobrem esses mesmos custos, no caso
das empresas entrantes, desestimulando, dessa forma, a entrada de
novas empresas nesse mercado.
Entre os principais responsáveis, citados por J. Bain, por esse
diferencial de preços entre as empresas entrantes e as empresas
estabelecidas estão:
 controle de um insumo essencial;
 obtenção de fundos para investimento a menores taxas de juros;
 acesso a tecnologias de produção superiores, eventualmente
protegidas por patentes;
 diferenças de localização: proximidade dos insumos ou do mer-
cado final e a consequente redução dos custos de transporte;
 elevação dos preços dos recursos escassos, provocada pela
pressão sobre sua demanda, tais como matérias-primas, talen-
to gerencial, ou pessoal de pesquisa.
Os desenvolvimentos teóricos recentes acrescentam a esses fa-
tores apontados por J. Bain a seguinte questão: de que maneira as
decisões estratégicas das empresas estabelecidas afetam a assime-
tria de custos? As empresas podem, por exemplo, tentar prevenir
a entrada fazendo contratos de fornecimento de longo prazo ou
fazendo uso de sleeping patents.14
A evidência empírica existente sobre as vantagens de custo
absolutas funcionando como uma barreira à entrada é escassa. A
maior dificuldade está na ausência de informações públicas sobre
os custos de uma empresa. A evidência empírica ampla só é encon-
trada para as indústrias onde as patentes e os custos do capital não
associados com as economias de escala têm importância, como,
por exemplo, em indústrias nas quais os requerimentos de capi-

14. Patentes que são depositadas e concedidas, mas que não são utilizadas para
lançar novos produtos no mercado, ficando apenas como uma garantia da empresa
proprietária para impedir a entrada de novas empresas utilizando a mesma tecno-
logia.

32 1. A organização industrial e o estudo das indústrias


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
tal de giro são elevados devido às diferenças observadas entre as
receitas e as despesas decorrentes do processo produtivo. Outras
evidências empíricas pontuais indicam o caso da propriedade da
mina de níquel detida pela Alcoa, o controle da plantação de fumo
pela American Tobacco Co. e a propriedade de patentes.
No Brasil, a título de exemplos, podemos citar as vantagens
absolutas de custo da Petrobras, pelo fato dela ter exclusividade de
exploração de petróleo em campos com maiores potencialidades
do que os campos ainda por explorar; e o caso da exclusividade de
exploração da mina de sal-gema localizada em Aratu, Bahia.

Custos de capital
As vantagens de custo de capital poderiam estar incluídas entre as
barreiras decorrentes das vantagens absolutas de custo, mas prefe-
rimos separá-las, porque as anteriores não eram dependentes da
escala de produção. As vantagens de custo de capital requerido
aqui estão relacionadas com economias de escala.
Iremos supor que quanto maior a escala eficiente mínima,
maior será a quantidade de capital requerida. Quanto maiores os
custos de capital associados com a entrada, menos as empresas en-
trantes poderão se autofinanciar com poupança prévia, e maior a
necessidade de que as empresas entrantes recorram ao mercado de
empréstimo de fundos de longo prazo.
Cabe uma importante ressalva: os custos de capital variam
também conforme a reputação da empresa entrante. Por exemplo,
se a empresa entrante for a Shell atuando na indústria de explora-
ção de petróleo e querendo entrar na produção, por exemplo, de
energia eólica, os custos que ela terá serão inferiores aos de uma
empresa desconhecida. Logo, eles talvez não sejam uma barreira à
entrada para a Shell, mas poderão representar uma fonte de barrei-
ra à entrada para uma empresa desconhecida.
Se as novas empresas têm que pagar taxas de juros mais altas
pelos empréstimos do que as firmas estabelecidas para realizarem
o mesmo investimento, então, elas se defrontarão com uma barrei-
ra à entrada. E esse diferencial de custo será tanto maior quanto
maior for a escala eficiente mínima e a necessidade de recorrer ao
mercado de empréstimos.

1. A organização industrial e o estudo das indústrias 33


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Entre as causas que levam as empresas entrantes a terem que
pagar juros mais elevados estão: risco, custos de transação, imper-
feições do mercado de fundos para empréstimos. Os fornecedores
de crédito cobrarão uma taxa de risco mais alta das empresas en-
trantes pelo maior risco das empresas falirem, conforme a pesquisa
de Dunne et al. (1988). Outra razão é a relação existente entre risco
e tamanho de empresa. Quanto menor é a empresa maior é o risco
de sua falência. Isto porque as grandes empresas são capazes de di-
luir o seu risco nos vários mercados que elas atuam – diferenciação
e diversificação.
Os custos de transação também têm uma relação com o tamanho
da empresa. Os custos fixos de transação de um empréstimo estão
relacionados com a ideia de emissão de novas fianças. As grandes
empresas, como irão demandar um maior volume de crédito, pode-
rão ter os custos de transação unitários diluídos. Enquanto uma mes-
ma pequena empresa terá seus custos de transação unitários maiores
pelo fato de solicitar uma menor quantia de capital para crédito.
O poder de mercado em um mercado de empréstimos tam-
bém pode explicar os diferenciais de taxas de juros cobrados para
pequenas e grandes empresas. Duas hipóteses deverão ser feitas
para que possamos verificar essa afirmativa:
 assumir que a concentração no mercado bancário local e re-
gional é superior ao mercado nacional, principalmente devido
ao excesso de regulação existente;
 assumir que as grandes empresas tenderão a tomar empresta-
do no mercado nacional e internacional de empréstimos, en-
quanto as pequenas empresas tenderão a tomar emprestado
nos mercados locais.
Dessa forma, os bancos locais e regionais utilizarão os seus po-
deres de mercado para cobrar maiores taxas de juros das pequenas
empresas do que aquelas disponíveis para as grandes empresas nos
mercados nacionais e internacionais.
A evidência empírica, disponível sobre a economia america-
na, examina os diferenciais de taxas de juros entre empresas de
diferentes tamanhos, confirmando as relações teóricas acima dis-
cutidas. Por exemplo, Frederic Scherer e outros colaboradores
observaram que as empresas de 1 bilhão de dólares podiam tomar
emprestado a uma taxa média de juros de 34% mais baixa do que

34 1. A organização industrial e o estudo das indústrias


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
empresas com ativos entre 200 milhões e 1 bilhão de dólares. Essas
diferenças podem ser maiores quando trabalhamos somente com
as taxas de juros médias cobradas de empréstimos de longo prazo,
dado que o risco de falência das pequenas empresas é superior.
Estudos sobre o mercado bancário corroboram a ideia de que
os mercados regionais são mais concentrados do que os mercados
nacionais ou internacionais, indicando que os juros devem ser mais
elevados nos primeiros.

Diferenciação de produtos
Os consumidores veem os produtos como substitutos imperfeitos
entre si por uma série de razões:
 diferenças na qualidade;
 diferenças no desempenho;
 diferenças na reputação;
 diferenças por estarem associados a uma marca.
A diferenciação de produtos pode atuar como uma barreira à
entrada, pois permite ao produtor individual algum poder de mer-
cado, porque cada empresa pode aumentar seus preços sem perder
todos os seus consumidores. Entretanto, esse poder de mercado
é limitado pela entrada de novas empresas. Se as taxas de lucro
crescerem muito acima do normal e induzirem a entrada de no-
vas empresas, então, os lucros se reduzirão, como pode ocorrer no
mercado de competição imperfeita ou competição monopolística.
Mesmo que as empresas entrantes não possam imitar perfeitamen-
te os produtos das empresas estabelecidas, essas estão permanente-
mente ameaçadas pela entrada de outras empresas.
Entretanto, apesar de a teoria nos mostrar a quase impossibili-
dade de que as empresas que diferenciam produtos tenham poder
de mercado, a evidência empírica nos mostra que isto sempre ocor-
re. São exemplos os trabalhos de Bain e de autores mais recentes.
A diferenciação de produtos pode adquirir muitas formas:
 propaganda;
 esforços de venda com representantes;
 oferecimento de contratos de serviço e garantias;
 mudanças no estilo;
 introdução de mudanças tecnológicas.

1. A organização industrial e o estudo das indústrias 35


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Examinaremos pelo menos três maneiras pelas quais essas for-
mas de diferenciação podem representar uma barreira à entrada,
exemplificando com o caso da propaganda:
 vantagem absoluta de custo – a maneira pela qual os gastos
com propaganda podem ou não representar uma vantagem
absoluta de custo depende de ser possível transportar os ga-
nhos obtidos com propaganda realizados com gastos no pas-
sado para um período seguinte; estamos nos referindo aqui
ao período de entrada de novas empresas; ou seja, se uma
empresa estabelecida realizou gastos de propaganda no perío-
do anterior à entrada e ainda se beneficia dos ganhos desse
gasto nesse período, então, as empresas entrantes terão que
realizar gastos adicionais que a empresa estabelecida não terá
que incorrer. Se os gastos passados não influenciam a deman-
da corrente, então, ambas as empresas terão que realizar iguais
montantes de gastos em propaganda. As razões pelas quais os
gastos de propaganda poderiam ser carregados de um perío-
do para outro seriam: a distribuição de amostras persuadiu o
consumidor e o tornou fiel a sua marca; a doação de amostras
está engatilhada com a venda, digamos, depois da recepção da
décima amostra a compra é acionada. Se o gasto com propa-
ganda tem mais efeitos duradouros do que o período para o
qual ele foi feito, então, deve ser tratado como um investimen-
to, isto é, um ativo que dará frutos por mais de um período de
produção. Assim, quanto maior for o efeito do gasto passado
em propaganda sobre a demanda corrente, mais as empresas
entrantes terão uma desvantagem absoluta de custos.
 economias de escala – se as economias de escala na propagan-
da forem importantes, então, elas também poderão representar
uma barreira à entrada. As economias de escala em propagan-
da existem por uma série de razões: existe um nível mínimo
de propaganda abaixo do qual ela não tem efeito, por exem-
plo, quando o consumidor necessitar ouvir a mesma mensa-
gem uma série de vezes para se convencer da mensagem ou
se a empresa tiver que comprar uma quantidade mínima de
propaganda em algum canal de mídia; retornos crescentes
também podem aparecer na propaganda se houver taxas de
desconto para aqueles que utilizam uma determinada faixa de

36 1. A organização industrial e o estudo das indústrias


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
propaganda. Enfim, produtos para os quais a propaganda tem
que ser repetida para ser efetiva e produtos que precisam ser
anunciados nacionalmente são os maiores candidatos a exibi-
rem economias de escala.
 efeitos sobre os custos de entrada de capital – é um efeito com-
binado dos dois anteriores: se os gastos de ontem têm efei-
tos sobre a demanda de hoje e se as economias de escala são
importantes, então, além dos requerimentos de capital para o
investimento inicial, a empresa entrante terá que incorrer em
investimentos em propaganda. Além disso, o mercado de em-
préstimo considera os investimentos em propaganda altamen-
te arriscados por não resultarem em ativos tangíveis, cobrando
taxas de juros mais elevadas como prêmio para o risco.

1.3.2. Incentivos à entrada


Uma quantidade muito menor de estudos empíricos foi realizada
sobre incentivos à entrada. Esses trabalhos referem-se principal-
mente aos incentivos devido ao crescimento do mercado e da ren-
tabilidade esperada.
 Rentabilidade esperada – as empresas maximizadoras entrarão
no mercado se o valor presente líquido dos lucros esperados,
ajustados ao risco, é positivo. As decisões de entrada depen-
dem, portanto, das receitas esperadas após a entrada, custos
esperados de entrada e custos de operação pós-entrada.
As empresas entrantes formam as suas expectativas para a to-
mada de decisão sobre entrar ou não entrar baseadas em vários
padrões ou modelos. O modelo mais simples é aquele em que as
empresas entrantes formam suas expectativas baseadas na situação
corrente dos mercados e nas taxas de lucro apresentadas por esses.
Se os lucros correntes das empresas estabelecidas forem positivos,
elas entrarão.
Outros autores desenvolveram modelos mais complexos. In-
cluíram no processo de formação de expectativas, não apenas os
lucros correntes, mas a tendência dos últimos anos para verificar se
houve uma tendência de lucros positivos. Uma tendência de lucros
negativos poderia desestimular a entrada mesmo que os lucros cor-
rentes fossem positivos.

1. A organização industrial e o estudo das indústrias 37


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Outros autores incluem, ainda na explicação da formação de
expectativas, não somente as considerações sobre os lucros corren-
tes como também a reação das empresas rivais à entrada.
Em geral, a hipótese apresentada é de que existe uma rela-
ção positiva entre crescimento do mercado e entrada. As razões
para que a relação seja positiva são: mais espaço para a entrada
sem redução de preços, se as empresas estabelecidas mantiverem
uma taxa estável de expansão da oferta; as empresas potenciais
entrantes acham mais fácil conquistar novos consumidores do que
tomá-los das empresas estabelecidas; novas firmas podem ser mais
flexíveis e melhor se ajustarem à demanda do que as empresas es-
tabelecidas.

1.3.3. Barreiras à saída


Qualquer custo em que uma empresa tem que incorrer para dei-
xar uma indústria é uma barreira à saída. Um exemplo bastante
comum são as multas contratuais cobradas pelo rompimento dos
contratos.
Na maior parte das vezes, as barreiras de saída estão associadas
aos custos irrecuperáveis. Esses custos estão associados, em geral,
a fatores fixos tangíveis e intangíveis e específicos à empresa ou ao
produto. Exemplos incluem patentes combinadas com investimen-
tos físicos e em especialização dos recursos humanos e investimen-
tos em propaganda e marketing.
Em mercados onde os custos de capital não puderem ser facil-
mente repassados a terceiros devido a sua especificidade, as empre-
sas estabelecidas estarão fadadas a permanecer em seus mercados
ou perder todo ou quase todo o investimento inicial realizado. Um
ótimo exemplo é a indústria ferroviária, na qual os trilhos utilizados
não são vendáveis, fazendo com que as empresas ferroviárias per-
maneçam no mercado mesmo com prejuízo.
A redução ou a estagnação do mercado são importantes incen-
tivos à saída e reduzem a importância das barreiras à saída, já que
não há nenhuma razão para as empresas permanecerem no mer-
cado. Empresas que realizam lucros negativos deixam a indústria e
liberam recursos para serem aplicados em outros negócios. Tantos

38 1. A organização industrial e o estudo das indústrias


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
as barreiras quanto os incentivos à entrada afetam a taxa de saída
de uma indústria.

Evidência empírica
Os principais resultados dos estudos realizados sobre a economia
americana indicam, em resumo, que:
 a evidência da relação entre baixa lucratividade e saída é mis-
ta, alguns encontram essa evidência outros não;
 indústrias com taxas de crescimento mais baixo apresentam
um maior número de saída de empresas do que indústrias com
taxas mais altas;
 ativos duráveis tangíveis e específicos tais como investimentos
em fábricas atuam como barreiras à saída;
 ativos duráveis intangíveis e específicos podem impedir a saída.

Finalmente, mencionamos que existem fortes razões pelas quais


a entrada e a saída estão relacionadas. Entre elas destacamos:
 determinantes comuns existem; por exemplo, os custos irre-
cuperáveis;
 existe interdependência entre as duas: a entrada de algumas
empresas poderá expulsar outras; as barreiras à entrada atual-
mente poderão representar barreiras à saída amanhã.

1.4. Medidas de concentração da atividade econômica


Concentração agregada
A estatística de concentração agregada mede o papel desempenha-
do pelas grandes empresas na economia como um todo.
A crescente preocupação com o papel desempenhado pelas
grandes empresas esteve relacionada com o abuso do poder eco-
nômico que poderia ser exercido por elas. Por exemplo, influenciar
a legislação em seu favor e evitar o pagamento de impostos. Além
disso, poderia haver, segundo as autoridades econômicas, uma rela-
ção entre concentração global e concentração do mercado. Apesar
das empresas não dominarem individualmente os seus mercados,
seriam capazes de fazê-lo conjuntamente. Ademais, as grandes em-

1. A organização industrial e o estudo das indústrias 39


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
presas são extremamente diversificadas e integradas verticalmente,
o que aumenta o seu poder de mercado individual.
Para se medir a concentração global, verifica-se a participação
das maiores 50, 100 ou 200 empresas no total da atividade indus-
trial utilizando-se várias medidas. Entre elas estão: valor agregado
(receitas – insumos); emprego; salários; vendas; investimentos; pa-
trimônio.
O uso de cada uma dessas medidas tem prós e contras. Por
exemplo, o uso do número de empregados reduzirá o papel repre-
sentado pelas grandes empresas porque tendem a empregar relati-
vamente menos pessoas do que as pequenas empresas. Já o uso da
folha salarial irá superestimar o papel das grandes empresas, já que
elas pagam maiores salários do que as pequenas empresas. O uso
do valor agregado tende a ser a medida que traz menos distorções,
entretanto, ele só está disponível, nos órgãos estatísticos, para a
indústria de transformação.

Tendências na concentração global


No período que vai de 1947 até a metade dos anos 1960, observou-
se um aumento da participação das grandes empresas na atividade
industrial total, indicando um aumento do nível de concentração
global medido pelo valor agregado. As principais explicações para
esse resultado são: crescimento maior da demanda por produtos
produzidos pelas grandes empresas, tais como automóveis, petró-
leo e equipamentos elétricos, setores dominados pelas grandes em-
presas. Entre a segunda metade dos anos 1960 e o ano de 1992,
porém, o grau de concentração se mostrou estável.
Todavia, se a medida utilizada for patrimônio das empresas,
para esse mesmo último período considerado, observa-se um cres-
cimento do papel das grandes empresas na atividade econômica.
A principal razão para isto é que esse indicador inclui as operações
das empresas em outros países, atividade que se ampliou consi-
deravelmente no pós-Segunda Guerra Mundial, com os Estados
Unidos participando da reconstrução mundial. Outra razão é esse
indicador considerar as atividades das empresas não só nas ativida-
des industriais como também nas atividades de extração e de trans-
porte. Contudo, todas essas razões mostram também que, apesar

40 1. A organização industrial e o estudo das indústrias


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
do agigantamento das grandes empresas e o consequente aumento
da concentração global, esse processo não foi acompanhado por
um aumento da concentração nos mercados de atuação de cada
uma das grandes empresas consideradas.
Considerando um contexto de evolução histórica, as grandes
empresas permanecem as mesmas? Ou há mudanças? Vários es-
tudos encontraram uma alta taxa de modificação. As principais
causas se devem à atividade de fusões. Poucas grandes empresas
entram em processo de falência. Outros autores fizeram estudos so-
bre a taxa de sobrevivência das grandes empresas, mostrando que
existia uma elevada relação positiva entre sobrevivência e tamanho
inicial de operação das empresas.

Concentração em mercados individuais


O grau de concentração dos produtores em um determinado mer-
cado é considerado um aspecto relevante da estrutura de mercado,
por causa da sua relação hipotética com o poder de mercado, con-
dutas e desempenhos industriais, previstas no Modelo ECD.
Várias autoridades econômicas responsáveis pela defesa da
concorrência têm em mente a estrutura de mercados específicos.
Eles estarão mais preocupados com as atividades de fusão nos mer-
cados concentrados do que nos mercados não concentrados e nos
efeitos que essa fusão poderá representar de abusos do poder eco-
nômico sobre a concorrência e sobre os consumidores.

Medidas estruturais de concentração


As medidas de concentração estruturais são assim denominadas
porque estão referidas à estrutura dos mercados. Existem várias
medidas possíveis. Nenhuma medida utilizada é perfeita. Sua utili-
zação deverá ser sempre avaliada de acordo com os objetivos finais
de análise e a disponibilidade de dados.
A primeira medida de concentração dos produtores em um
mercado específico é o número de empresas operando nesse mer-
cado. A teoria econômica indica que, tudo o mais permanecen-
do constante, quanto maior o número de empresas atuando em
um mercado, maior a competição. Para as estruturas de mercado
competitiva e monopólica, essa medida se apresenta razoável. En-

1. A organização industrial e o estudo das indústrias 41


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
tretanto, se a estrutura de mercado for oligopolista – existência de
poucas empresas – pode ser necessário complementar a medida
com o grau de participação no mercado de cada empresa. Isto
porque dependendo da participação relativa no mercado de cada
empresa poderá haver adoção de distintas condutas e resultados de
desempenho diferentes.
Duas medidas de concentração levam em conta, além do nú-
mero de empresas, a distribuição de sua participação no merca-
do. A primeira delas é a taxa de concentração (CR). A taxa de con-
centração é a participação cumulativa das k maiores empresas no
mercado, onde k pode adquirir os seguintes valores típicos: 4, 8 e
20. Dessa forma, o CR(k) é a soma das participações relativas das
k maiores empresas em uma indústria, assim como o CR(4) é a
soma da participação das quatro maiores empresas do mercado,
por exemplo.
k

CR(k) = ∑ Si ,
i =1
sendo Si a participação relativa de cada uma das k maiores empre-
sas no mercado.
O indicador mais comum para se medir o CR de uma indústria
é o montante de vendas, mas também poderemos utilizar valor agre-
gado, número de empregos ou ativos patrimoniais das empresas.
A taxa de concentração ou CR tem um significado simples:
para indústrias competitivas seu valor está próximo de zero e para
indústrias monopolistas está próximo de um. Sua mensuração é
facilitada devido à disponibilidade de dados, pelo menos para os
principais setores industriais, da participação relativa das maiores
empresas.
Entretanto, essa medida também tem limitações. Em primei-
ro lugar, na medida em que ela considera apenas o somatório da
participação relativa de algumas empresas, as maiores, se houver
modificação na participação relativa das demais empresas não con-
sideradas, a medida não captará essa mudança. Em segundo lugar,
ela não indica adequadamente o grau de competição da indústria
porque, dependendo do número de empresas consideradas, a taxa
de concentração pode ser distinta.

42 1. A organização industrial e o estudo das indústrias


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Além disso, a taxa de concentração não nos fornece informa-
ções sobre a distribuição das participações de mercado existentes
entre as empresas consideradas ou a mudança que ocorreu entre
as participações relativas em dois pontos do tempo. Por exemplo,
não sabemos se entre as quatro maiores empresas que dominam
60% do mercado existe uma líder com 30% do mercado e outras
três com 10% cada uma delas. Ou se a participação relativa de-
las é equitativa, ou seja, de 15% para cada uma. A importância de
sabermos essa distribuição é porque ela pode afetar a conduta e
o desempenho dos mercados. Mercados com muitas empresas de
tamanhos desiguais podem não ser competitivos, apesar do grande
número de empresas nele presentes.
A segunda medida ou índice que leva em consideração tanto o
número de firmas quanto a participação relativa dessas no mercado,
mas também a desigualdade dessa participação relativa, ausente na
medida anterior, é o índice Herfindahl-Hirschman (IHH). O índice é
composto da soma dos quadrados das participações relativas das n
empresas atuando em uma indústria. Matematicamente,
⎡n ⎤
IHH = ⎢ ∑ ( Si ) 2 ⎥ 10.000
⎣⎢ i =1 ⎦⎥
onde n é o número total de empresas atuando na indústria e Si a
participação relativa de cada uma das n empresas do mercado.
Os valores do IHH poderão variar entre 0 para indústrias per-
feitamente competitivas e 10.000 para indústrias monopolistas.
A prática de análise antitruste americana, uma das mais anti-
gas e consagradas, propõe três faixas para balizar as análises preli-
minares de processos de fusões, considerando os valores do índice
após o anúncio de fusão de duas empresas:
 0 ≤ IHH < 1000: não é preciso haver preocupação quanto à
competição, caso a fusão seja autorizada;
 1000 ≤ IHH ≤ 1800: é necessário preocupar-se com a com-
petição se o aumento do índice for maior ou igual a 100 pontos
com relação ao índice calculado antes da fusão;
 IHH > 1800: é necessário preocupar-se com a competição se
o aumento do índice for maior ou igual a 50 pontos com rela-
ção ao índice calculado antes da fusão.

1. A organização industrial e o estudo das indústrias 43


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Definição do mercado relevante
Mais importante do que a discussão sobre qual medida de concen-
tração a ser utilizada é a definição adotada de mercado relevante.
Uma definição adequada do mercado relevante é aquela que
inclui todas as empresas competidoras e exclui as que não o são.
Para identificar as empresas que competem entre si é necessário
considerar a substitutibilidade entre produtores e consumidores.
Ela se apresenta para os consumidores quando duas empresas pro-
duzem dois produtos que são utilizados para preencher a mesma
função ou que os consumidores são indiferentes quanto ao seu uso.
Ela se apresenta para os produtores quando duas empresas utilizam
o mesmo processo produtivo para fazer distintos produtos, poden-
do passar da produção de um produto para o outro e se tornarem
competidoras, sem custos de mudança.
A inclusão de poucas empresas em uma definição do mercado
torna-o muito restrito, levando a medidas de concentração exage-
radas. O inverso faz com que a definição do mercado seja muito
ampla e a medição do seu grau de concentração pode estar sendo
subestimada. Por exemplo, na indústria farmacêutica, considerar
como mercado relevante apenas as empresas atuando em uma úni-
ca classe terapêutica pode ser uma definição de mercado relevante
muito estreita que levará a estimativa de graus de concentração
superestimados. Deveria se considerar, nesse caso, a existência de
substitutibilidade entre os processos produtivos ou entre classes
terapêuticas que preenchem as mesmas funções. Por outro lado,
considerar todas as empresas atuando na indústria farmacêutica,
como se houvesse perfeita substituição entre os diferentes proces-
sos produtivos e entre as diferentes classes terapêuticas, seria tornar
a definição de mercado relevante muito ampla e a estimativa do
grau de concentração subestimado.
A Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE)
no Brasil, assim como o Standard Industrial Classifications (SIC) nos
Estados Unidos para propor a divisão das atividades econômicas em
setores industriais específicos, tende a considerar com maior ênfase
a substitutibilidade entre os produtores (semelhança dos processos
produtivos) ao invés de considerar o grau de substituição entre os

44 1. A organização industrial e o estudo das indústrias


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
consumidores. Em geral, isto resulta em uma definição de mercado
relevante que é muito ampla, incluindo empresas que não competem
entre si, e uma estimativa do grau de concentração subestimada.
Outra consideração importante na definição do mercado rele-
vante é a consideração sobre a abrangência do espaço geográfico
que se está definindo o mercado. Em alguns casos pode-se assumir
que o mercado relevante exclui importações e exportações, sendo
coincidente com o espaço nacional – mercado local. Em outros é
preciso considerar as atividades de importação e exportação das
empresas localizadas nesse espaço e em outros – nesse caso, o mer-
cado relevante seria o regional.
Se os bens estão sujeitos ou não à deterioração, se os custos de
transporte representam ou não uma parcela significativa do preço
das mercadorias, se as importações representam uma parcela sig-
nificativa da demanda interna, se as exportações representam uma
parcela significativa do mercado, entre outros, esses fatores deve-
rão ser considerados na decisão de uso da definição de mercado
local ou regional.

1.5. Desdobramentos e contribuições


Na verdade, as principais limitações da disciplina economia indus-
trial nascem do seu não rompimento inicial com a teoria neoclássi-
ca tradicional. Ela apenas estava fortemente motivada em confron-
tar as predições da economia pura com as evidências empíricas de
funcionamento corrente dos mercados. Desde Alfred Marshall, já
se podia prever os seus desdobramentos modernos. De um lado, os
fenômenos produtivos passaram a ser abordados a partir de uma
ótica indutiva, dando um grande espaço às realidades institucio-
nais. De outro lado, eles passaram a ser analisados a partir de uma
ótica mais hipotética e dedutiva, inicialmente apoiada em uma
perspectiva da microeconomia evolutiva (inspirada no paradigma
da biologia) e, posteriormente, cada vez mais racionalizada. A se-
gunda corrente hoje é a dominante.
Uma discussão introduzida nos anos 1980 sobre as relações
de causalidade do modelo podem resumir as contribuições e os

1. A organização industrial e o estudo das indústrias 45


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
possíveis desdobramentos. Imaginar o funcionamento do mode-
lo supondo uma determinação endógena das condições básicas da
demanda e da oferta permite que a análise da economia industrial
possa englobar tanto a tradição estática quanto a tradição dinâmica
de concorrência.
De fato, pode-se perceber claramente que o conceito de con-
corrência na análise econômica pode ter dois significados diferentes.
Um primeiro que enfatiza a conduta dos vendedores/produtores e
outro que enfatiza a estrutura do mercado. Além disso, enfatiza-se
que esse conceito evoluiu ao longo do tempo.
Adam Smith considerava a essência da competição a rivalida-
de estabelecida de forma independente por cada vendedor/produ-
tor para obter clientela para si em detrimento dos demais. Quanto
mais vendedores, mais competitivo seria o mercado. A regulação
do mercado se daria de forma automática (‘mão invisível’) através
da atração de mais vendedores para o mercado que permitisse a
realização de maiores taxas de lucro, as quais tenderiam a se re-
duzir pela divisão dos ganhos com um número cada vez maior
de produtores. Dessa forma, os preços cairiam ao nível dos custos
(esforço necessário para produzir) garantindo uma remuneração
justa e equilibrada no longo prazo. É importante ressaltar que esse
movimento de redução das taxas de lucro ao nível dos custos no
longo prazo não é incompatível com lucros extraordinários no cur-
to prazo. Além disso, para que o mecanismo de alocação de inves-
timentos via mercado funcionasse era preciso não haver barreiras à
mobilidade perfeita dos fatores de produção.
A teoria econômica neoclássica, ao introduzir o raciocínio da
disciplina de cálculo para formalizar a teoria econômica, redefiniu
o conceito de competição imaginado por Adam Smith. Um mer-
cado é considerado perfeitamente competitivo quando o número
de empresas vendedoras, vendendo um produto homogêneo, é
tão grande e a parcela individual de cada uma delas tão pequena
que nenhuma empresa é capaz de influenciar significativamente o
preço dos produtos através da variação da quantidade produzida
por ela. Em outras palavras, o preço é um dado para a empresa.
Ele é determinado pelas forças de oferta e demanda globais no

46 1. A organização industrial e o estudo das indústrias


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
mercado e foge ao controle delas. Essa definição de competição,
diferentemente da adotada por Adam Smith, não segue o senso co-
mum: uma batalha através de preços e outras estratégias para con-
quistar parcelas já ocupadas do mercado. Se o mercado é amplo o
suficiente para não ser influenciado pelas decisões individuais dos
produtores, então, pode haver competição sem rivalidade entre as
empresas. Os produtores se restringem a decidir sobre a quantida-
de a ser produzida.
Assim, considerando uma visão de concorrência estática, que
toma o mercado de competição perfeita, tal como hipotetizado
pela teoria neoclássica, a análise das condutas ou das estratégias
das empresas seria supérflua, dado que as informações fornecidas
pela estrutura seriam suficientes para prever ou induzir o compor-
tamento adequado das empresas. Assim, em um mercado de com-
petição perfeita, as empresas não teriam condições individuais de
influenciar a concorrência e se comportariam de acordo com os
sinais emitidos pelo mercado de preços, ajustando seus custos para
não ter prejuízo. Em um mercado do tipo oligopolizado, elas se
comportariam de forma colusiva para determinar seus preços de
formas a extrair o máximo de excedente. Essa é considerada uma
visão estática da concorrência porque as empresas apenas reagem
às estruturas dadas dos mercados, não rivalizando diretamente com
as demais empresas.
Essa é também a principal conclusão a que chega Joe Bain,
que retomará a abordagem de Edward Mason, no início dos anos
1950, formalizando-a a partir de observações estatísticas sobre as
relações causais entre ECD. O autor demonstrou que a taxa de lu-
cro dos setores (indicador de desempenho) é estatisticamente cor-
relacionada com o grau de concentração e com o nível de barreiras
à entrada, afirmando existir uma relação indireta entre os desem-
penhos e as estruturas de mercado. O autor marca de certa forma
uma ruptura com a abordagem de Mason e um retorno à tradição
neoclássica, conforme ilustra a Figura 3, ou seja, os desempenhos
podem ser diretamente deduzidos das características das estruturas
de cada mercado.

1. A organização industrial e o estudo das indústrias 47


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Figura 3. A abordagem estática tradicional do Modelo ECD:
análise de dois mercados hipotéticos
Características estruturais Concorrência Oligopólio
Muitas firmas, cada uma Poucas firmas com por-
Número de Firmas com uma pequena porção ções similares do mer-
do mercado cado
Número de compradores Muitos Poucos
Natureza dos produtos Homogênea Diferenciada
Barreiras à entrada Baixas Substanciais
Desempenho p=Cmg P>Cmg
Fonte: Adaptado de Ferguson, 1988.

Em outra visão dinâmica da concorrência, ilustrada pela Figu-


ra 4, mais condizente com a visão seminal de Mason, pressupõe-
se que as empresas buscam permanentemente alterar as condições
básicas de oferta e demanda e de estrutura do mercado, através
de suas estratégias, a fim de obterem vantagens competitivas a seu
favor. Os exemplos das estratégias de investimentos em P&D e de
preço, apresentadas anteriormente, ilustram bem como as empresas
são capazes de alterar, respectivamente, a condição básica de oferta
e a estrutura da indústria. A evidência empírica, ao contrário do
que supõe a visão estática de concorrência, tem mostrado condutas
ou estratégias diferenciadas em ambos os tipos de estruturas. Tanto
as pequenas empresas, atuando em mercados competitivos, podem
introduzir inovações que provocam disrupturas em suas condições
básicas de oferta, quanto grandes empresas, atuando em estruturas
oligopolizadas, podem não se comportar colusivamente, abrindo
guerras de preços desenfreadas ou adotando atitudes inovadoras
relevantes para a acumulação do conhecimento. Essas evidências
mostram que as estratégias empresariais devem ser objeto de estu-
do e não apenas serem deduzidas das estruturas existentes, como
pressupõe a visão tradicional de concorrência. E mais, as estraté-
gias empresariais são responsáveis pelo dinamismo dos mercados.
Portanto, o foco do estudo desloca-se para as possíveis interações
entre a estratégia e a estrutura.

48 1. A organização industrial e o estudo das indústrias


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Figura 4. Relações mais complexas entre estrutura,
conduta e desempenho

Fonte: Ferguson (1988, p.11).

Alguns autores chegam a introduzir dois conceitos alternati-


vos de barreiras à entrada, seguindo essa nova visão: estáticas e
dinâmicas. As primeiras são decorrentes de condições estruturais
das indústrias e dos mercados e as segundas resultam de estratégias
deliberadas das empresas estabelecidas para deterem a entrada das
empresas potenciais entrantes.
Mais recentemente, o conceito de competição foi ampliado
com a noção de ‘mercado contestável’. Em mercados onde a en-
trada e a saída de empresas não são dificultadas, ainda que as con-
dições de homogeneidade dos produtos e número de produtores
não sejam compatíveis com as condições de concorrência perfeita,
há potencial para a competição. Dessa forma, nasceu o conceito de
‘competição potencial’.
Outras condições associadas ao modelo de competição perfei-
ta, tais como conhecimento das condições de mercado presentes
e futuras e divisibilidade contínua dos fatores e dos produtos, são
menos importantes e a sua ausência é incapaz de invalidar o mode-
lo de competição perfeita.
Um último ponto muito importante a ser esclarecido é que o
tamanho absoluto de cada empresa não importa, mas sim o seu ta-
manho relativo no mercado em que está operando. Uma empresa
pode ser pequena em termos absolutos, mas ter um elevado poder
de monopólio e vice-versa.

1. A organização industrial e o estudo das indústrias 49


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
2. Indústria farmacêutica internacional

2.1. Características da oferta


No que se refere à matéria-prima, para o desenvolvimento e a pro-
dução de medicamentos, as principais dimensões dizem respeito à
sua natureza, localização e acesso. Em relação à natureza da matéria-
prima distinguem-se:
 os farmoquímicos, que se originam da síntese química de ma-
teriais orgânicos;
 os fitoterápicos, produzidos exclusivamente a partir do isola-
mento da substância medicamentosa encontrada em material
botânico integral ou seu extrato (Academia Brasileira de Ciên-
cias, 1998);
 e os biotecnológicos, produzidos a partir de substâncias enge-
nheiradas através da biologia molecular.

A despeito dessa variedade em relação à natureza da matéria-


prima, o foco deste diagnóstico recai sobre os primeiros, isto é,
aqueles que se originam de farmoquímicos. A produção de matéria-
prima para os medicamentos farmoquímicos é originária da indús-
tria de química fina. O setor de química fina, segundo Bermudez
(1995), abrange a elaboração de produtos químicos de maior valor
agregado que os da indústria química de base e que são classificados
como intermediários e especialidades. Os produtos intermediários
servem como matéria-prima para a elaboração do produto final,
contém o princípio ativo e são também chamados de fármacos.
Os produtos da indústria farmacêutica podem também ser clas-
sificados segundo outros três critérios principais – além do critério
da origem da matéria-prima acima explicitado. Esses critérios estão
associados às exigências regulatórias no que diz respeito à necessi-
dade de prescrição, à legislação de propriedade industrial e à saúde
pública e podem variar em cada país.

2. Indústria farmacêutica internacional 51


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
O primeiro deles se refere à necessidade de receita médica
para compra, ou seja, produtos que necessitam ser prescritos por
um médico após um exame clínico no paciente. Segundo esse cri-
tério, os produtos são em geral classificados como:
 aqueles que precisam de receita médica para consumo, comu-
mente denominados medicamentos éticos;
 aqueles que não precisam de receita e são de venda livre, co-
mumente denominados medicamentos não éticos ou populares
(utiliza-se às vezes a abreviação OTC emprestada do termo
em inglês over the counter).

Um segundo critério separa os produtos comercializados que


estão protegidos por patentes15 e aqueles cujas patentes já expiraram. Os
primeiros são, em geral, comercializados através de um nome co-
mercial ou marca. Os segundos, dependendo da legislação de cada
país, podem ser comercializados sob a denominação genérica do
princípio ativo (denominados apenas genéricos) e/ou por um nome
comercial (genérico de marca).16
Outro critério de classificação de medicamentos é o caráter de
essencialidade desses produtos. Medicamentos essenciais, segundo
a OMS, são definidos como “de máxima importância, que são bási-
cos, indispensáveis e imprescindíveis para atender as necessidades
de saúde da população e que devem ser acessíveis em todo o mo-
mento, na dose apropriada, a todos os segmentos da sociedade e
a um preço que os indivíduos e a comunidade possam dispor (...)”
(WHO, 1999b).
Finalmente os produtos farmacêuticos podem ser diferencia-
dos em relação às características dos produtos, seja em relação
à sua forma de apresentação (líquidos, injetáveis, comprimidos,

15. Nesse caso, encontra-se na literatura internacional outra distinção feita entre
o primeiro medicamento introduzido para tratar uma determinada enfermidade,
geralmente denominado medicamento inovador ou original, e o medicamento que
apresenta mecanismos de atuação semelhantes ao original, mas com algumas dife-
renças que o permitem ser patenteado e é introduzido no mercado após o inovador,
geralmente denominado como “me too” (Congressional Budget Office, 1998).
16. Essa distinção segue a encontrada na literatura internacional, correspondendo
à denominação em inglês de branded product (medicamento protegido por patente e
comercializado sob um nome de marca), branded generics (medicamento cuja patente
expirou, mas que é vendido sob um nome comercial) e generics (comercializado pela
denominação genérica do princípio ativo).

52 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
cápsulas, pó, pomadas), quanto ao grupo farmacológico e quanto à
sua classificação terapêutica anatômica.
Em relação à localização das plantas, observa-se um quadro
heterogêneo em relação à produção de fármacos e medicamentos.
A indústria farmacêutica é fortemente internacionalizada. As maio-
res empresas atuam em escala mundial, estando presentes em prati-
camente todos os mercados. No entanto, elas não realizam ativida-
des produtivas em todos eles, e em alguns países não existem nem
empresas nacionais. Observa-se uma concentração da produção de
fármacos nos Estados Unidos das Américas (EUA) e na Europa,
embora venha tendo destaque a produção na Índia e na China. No
caso de medicamentos, observa-se a produção local nos principais
mercados mundiais, indicando que a proximidade dos mercados
é um fator importante para a produção de medicamentos e não
parece ser para a produção de fármacos.
Em relação ao ciclo de vida dos produtos, isto depende em grande
parte do inter-relacionamento entre os condicionantes da deman-
da, a estrutura do mercado e a conduta das empresas em relação à
competição e ao esquema regulatório vigente. E, portanto, varia de
país para país, podendo se observar um ciclo de vida dos produtos
mais longo nos países menos desenvolvidos.
Quanto ao volume de mão-de-obra usada e sua qualificação,
essa indústria emprega uma parcela bem pequena do total empre-
gado na indústria de transformação e exige altos níveis de qualifica-
ção, resultando em alguns dos mais altos salários pagos da indústria
de transformação. A baixa capacidade de geração de empregos17 é
decorrente da baixa interferência manual no processo produtivo e
a alta qualificação decorre dos altíssimos graus de pureza e qualida-
de do produto que as regulamentações exigem. A indústria absor-
ve somente profissionais capacitados, normalmente com formação
técnica de nível médio ou superior.
No que se refere à tecnologia empregada, a indústria farmacêutica
é classificada como uma indústria intensiva em tecnologia (science
based). Algumas das tecnologias utilizadas para produzir medica-
mentos – tais como os analgésicos e antitérmicos, os anti-inflama-
tórios, antibióticos, anti-infecciosos e vitaminas – datam, respecti-
vamente, da segunda metade do século XIX e da primeira meta-

17. Estima-se apenas um emprego por elevação anual de US$ 300.000,00 das vendas.

2. Indústria farmacêutica internacional 53


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
de do século XX. Entretanto, essas tecnologias têm apresentado
constantes mudanças a partir dos desenvolvimentos recentes nas
áreas de farmacologia e na biotecnologia e nas técnicas de screening
(American Chemical Society, 2000).
O desenvolvimento da biotecnologia a partir de 1970 implicou
a mudança do paradigma tecnológico de busca de novos medica-
mentos, passando de uma estratégia de, primeiramente, desenvolver
uma substância (em geral, através da síntese química) e, posterior-
mente, aplicá-la no corpo humano, para a síntese de proteínas que
alterarão o metabolismo humano por si só. De fato, com o uso da
biotecnologia, primeiro tenta-se mapear o organismo para identificar
os genes que tem alguma função no corpo e descobrir as proteínas
a serem sintetizadas e as suas funções no organismo. A partir desse
reconhecimento, é possível atacar diretamente as doenças causadas
por deficiências nessas proteínas e não apenas as suas consequências,
como no paradigma anterior. Além disto, destaca-se o desenvolvi-
mento de técnicas de screening que tornaram o processo de busca e
seleção de novas moléculas mais rápido e eficaz através do uso de
modelagem molecular auxiliada por tecnologias da computação.
Novas oportunidades para o desenvolvimento de produtos fi-
toterápicos também surgem a partir dos desenvolvimentos da bio-
tecnologia. A caracterização das plantas e a identificação de seus
princípios ativos permitem a produção de medicamentos a partir
delas ou o uso das estruturas moleculares vegetais para modelos de
pesquisa para a síntese química. Todas essas mudanças imprimem
um alto dinamismo tecnológico a essa indústria.

2.2. Características da demanda


A compra de medicamentos depende de decisões por parte dos pacien-
tes que são determinadas pelos médicos ou outros profissionais de
saúde. A necessidade da receita atua como um importante elemen-
to na relação entre as empresas farmacêuticas, a classe médica, os
consumidores e o governo. É o médico que, em geral, determina
o tratamento a ser aplicado ao paciente e a frequência de seu uso.
Essa influência sobre a demanda é mais intensa no que diz respeito

54 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
aos produtos éticos. Além disso, Zucchi et al. (1998) apontam ou-
tros fatores que influenciam a demanda em geral:
 A percepção do paciente sobre a necessidade de recorrer à
assistência médica;
 Fatores culturais, psicossociais e socioeconômicos que variam
de acordo com gênero e grau de instrução, nível e distribuição
de renda;
 As formas de financiamento (seguridade social, desembolso
direto, ou copagamentos);
 Aspectos demográficos e o perfil epidemiológico;
 Existência de assimetrias de informação e de outras naturezas;
 Desenvolvimento tecnológico e difusão de melhores formas
de tratamento das enfermidades.

Nos países desenvolvidos, embora com algumas distinções,


observa-se uma melhor distribuição no que diz respeito ao acesso
a medicamentos, bem como o estabelecimento de normas e regu-
lamentações por parte dos governos. Já nos países em desenvolvi-
mento encontra-se uma situação bastante diferente, onde a concen-
tração de renda, as disparidades sociais e a reduzida cobertura de
alguns programas públicos de assistência farmacêutica refletem um
sistema de financiamento predominantemente privado de desem-
bolso direto, restrito principalmente às camadas sociais com maior
poder aquisitivo.
Esses fatores influenciam sobremaneira dois outros aspectos
bastante importantes em relação à demanda de medicamentos que
dizem respeito à elasticidade-preço dos distintos segmentos e à pro-
pensão à substituição de produtos. A demanda se apresenta altamente
inelástica a preços, devido a um efeito substituição, em geral, muito
reduzido, uma vez que o consumidor final não é o responsável pela
escolha do medicamento, e sim o médico, que por sua vez não é o
responsável pelo desembolso monetário na compra. Colabora ain-
da para esse efeito o baixo grau de informação do paciente sobre
como proceder alternativamente ao tratamento das doenças, em
função da especialidade técnica envolvida no consumo de medi-
camentos, a aversão ao risco por parte do médico que prescreve
quanto às perdas de efetividade do medicamento, a rigidez imposta

2. Indústria farmacêutica internacional 55


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
pela continuidade do tratamento, o sistema de financiamento de
medicamentos e o grau de essencialidade do produto.
O determinante real do consumo de medicamentos é o nível de
renda e sua distribuição. Assim, quanto maior é o nível de renda e
melhor a sua distribuição, maior é o consumo de medicamentos. Nos
países desenvolvidos, os remédios mais prescritos são destinados ao
combate de males no sistema nervoso, sistema cardiovascular e sis-
tema respiratório, enfermidades que dominam as sociedades indus-
trializadas. Nos países em desenvolvimento, com nível de renda e
distribuição inferiores aos dos países desenvolvidos, as doenças mais
comuns são as parasitárias (malária, disenteria, lepra, tuberculose,
entre outras). Embora seja possível observar, em alguns países em
desenvolvimento com certo grau de industrialização, a crescente im-
portância das doenças crônico-degenerativas e do sistema cardiovas-
cular, elas são mais comuns nos países desenvolvidos.
A demanda da indústria apresenta, ainda, características sazo-
nais, sendo o consumo de medicamentos afetado pela saúde da po-
pulação, que, por sua vez, é influenciada por epidemias e outros
fatores relativos às condições de saúde (condições sanitárias, renda,
educação, apenas para nomear alguns).
Historicamente, a indústria farmacêutica vem apresentando
um elevado potencial de crescimento, embora existam diferenças en-
tre países. A disseminação do consumo de medicamentos, as mu-
danças nos hábitos da sociedade, a emergência de novas doenças,
como a Aids, e o retorno de algumas doenças, como a tuberculose,
por um lado, e, por outro, o aumento da expectativa de vida mun-
dial, são fatores que resultaram em um crescimento mais do que
significativo nas vendas, fazendo com que as taxas de rentabilidade
e crescimento do setor farmacêutico tenham sido sempre superio-
res às do setor manufatureiro como um todo (Câmara, 1993). A isso
tudo se alia a introdução de novas tecnologias e o aprimoramento
do conhecimento a respeito dos processos no nível celular e mole-
cular das doenças.
Em resumo, a indústria caracteriza-se pela complexidade insti-
tucional, pela diversidade de segmentos e produtos, por assimetrias
informacionais entre demanda e oferta, e alto grau de incerteza dos
agentes quanto às ações e escolhas e um alto dinamismo tecnológi-
co. Essas características têm fortes implicações sobre a estrutura do

56 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
mercado e sobre as estratégias empresariais e não raro demandam
a forte presença fiscalizadora e regulamentadora do poder público,
como será visto nas próximas seções.

2.3. Estrutura do mercado


No ano de 2008, o tamanho do mercado farmacêutico, nos principais
mercados do mundo em termos de faturamento, era estimado em
torno de US$ 438,8 bilhões (vendas no varejo), conforme a Tabela
1. É importante destacar que, entre os principais mercados mun-
diais, a maior parte são países desenvolvidos, mas constam tam-
bém países em desenvolvimento.
As vendas globais da indústria farmacêutica mundial, como
verificado na Tabela 2, atingiram US$ 773 bilhões em 2008, quase
o dobro do valor das vendas nos países selecionados como visto na
Tabela 1. Esse valor representou um crescimento de 4,8% sobre o
valor do ano anterior. Observamos que, embora as vendas conti-
nuem crescendo, esse crescimento tem experimentado um decrés-
cimo significativo a partir de 2004.
No mundo, estima-se que o número de produtores farmacêuticos
situe-se por volta de 10 mil empresas, no entanto, as cem maiores
companhias de grande porte são responsáveis por cerca de 90%
dos produtos farmacêuticos para consumo humano (Bermudez,
1995 apud Gereffi, 1986). Essa elevada concentração no nível dos
produtos não se apresenta no nível de participação no mercado por
faturamento das 10 maiores empresas. De fato, dados mais recen-
tes, apresentados na Tabela 3, apontam que as 10 maiores empresas
respondem por 54,3% do mercado, no ano de 2004. Essa participação
vem caindo e chega a 42,62% em 2008. A queda é explicada pela
redução da participação relativa de cada empresa, sendo que ela é
maior para as empresas melhor posicionadas. Por exemplo, a Pfizer,
primeira colocada em ambos os anos considerados, perdeu cerca
de três pontos percentuais no período e o Abbot Laboratories, pe-
núltimo colocado, apenas cerca de um ponto percentual. A única
novidade a registrar na lista das 10 maiores empresas é a saída do Eli
Lilly and Company e a entrada da Bristol-Myers Squibb no último
lugar da lista.

2. Indústria farmacêutica internacional 57


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Tabela 1. Vendas de medicamentos no varejo, principais mercados do mundo, 1997-2008 (US$ milhões)
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

58
América do
101.429 74.095 130.000 97.385 138.708 154.476 170.878 184.573 196.190 211.521 218.538 225.200
Norte
EUA 101.429 74.095 130.000 97.385 132.464 147.380 162.302 174.525 184.196 197.802 204.098 208.700
Canadá ND ND ND ND 6.245 7.096 8.577 10.049 11.994 13.719 14.440 16.800
Europa – 5
65.360 52.427 65.100 50.920 53.783 60.018 75.655 86.724 91.586 105.536 102.199 114.600
maiores
Alemanha 22.122 15.470 18.500 14.424 15.316 17.482 22.725 25.097 26.733 27.668 29.534 35.200
França 18.212 14.165 17.700 13.283 13.766 14.744 18.432 21.248 24.520 35.630 27.599 30.700
Reino Unido 8.427 8.385 11.000 8.888 9.614 10.409 12.981 15.628 14.985 15.666 16.963 16.000
Itália 10.580 9.123 11.300 9.035 9.430 10.832 12.756 14.468 14.496 14.943 15.315 17.200
Espanha 6.019 5.284 6.600 5.290 5.657 6.551 8.761 10.283 10.852 11.629 12.788 15.300
Japão¹ 46.887 38.764 53.400 51.434 47.517 46.892 53.109 57.627 60.273 56.675 56.542 66.700
China 3.437 ND 6.200 ND ND ND ND ND ND ND ND ND

Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Índia 3.300 ND 3.400 ND ND ND ND ND ND ND ND ND
América
Latina – 3 16.434 17.130 15.100 13.480 12.906 11.113 11.932 13.289 16.277 18.747 20.297 24.400
maiores
Brasil 8.946 10.310 6.200 5.153 5.571 6.099 6.202 6.448 6.760 8.366 9.318 12.500
México 3.600 3.263 4.000 4.905 4.153 3.875 4.173 5.035 7.481 8.096 8.451 8.600
Argentina 3.888 3.557 4.900 3.422 3.182 1.139 1.557 1.806 2.037 2.285 2.528 3.200
Austrália/
Nova Zelân- ND ND ND ND 2.883 3.312 4.314 5.284 5.688 5.803 6.396 7.900
dia
Total dos
países sele- 236.847 182.416 273.200 213.219 255.797 275.811 315.888 347.497 370.014 398.282 403.972 438.800
cionados

2. Indústria farmacêutica internacional


1 – Inclui vendas a hospitais.
ND – Não disponível.
Fonte: Elaboração do Grupo Economia da Inovação do IE-UFRJ, a partir de IMS (2000b, 2000c, 2000d, 2001a) para 1997-2000 e IMS Retail Drug
Monitor do IMS Health, acesso em 19/10/2009.
Tabela 2. Vendas globais, indústria farmacêutica (US$ bilhões)
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Total do Mercado
334 362 393 429 499 560 605 648 715 773
Mundial
Crescimento sobre o
14.5% 11.5% 11.8% 9.2% 10.2% 7.9% 7.2% 6.8% 6.6% 4.8%
ano anterior
Fonte: IMS Health Market Prognosis (incluídos mercados auditados e não auditados pela IMS). Todos os valores correntes referentes a março de
2009.

Tabela 3. Maiores empresas da indústria farmacêutica mundial, faturamento, 2004 e 2008

2004 2008

Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
2. Indústria farmacêutica internacional
Faturamento (US$ Participação no Faturamento (US$ Participação no
Rk Companhia Rk Companhia
milhões) mercado (%) milhões) mercado (%)
1 Pfizer 50.516 9,04 1 Pfizer 43.363 5,99
2 GlaxoSmithKline 47.348 8,47 2 Johnson & Johnson 36.506 5,04
3 Novartis 37.318 6,68 3 GlaxoSmithKline 36.172 4,99
4 Sanofi-Aventis 31.615 5,66 4 Sanofi-Aventis 35.642 4,92
5 AstraZeneca 28.247 5,05 5 Novartis 32.516 4,49
6 Hoffmann – La Roche 25.163 4,50 6 Hoffmann-La Roche 30.336 4,19
7 Johnson & Johnson 22.939 4,10 7 Merck 29.425 4,06
8 Merck 21.427 3,83 8 AstraZeneca 26.191 3,62
9 Abbott Laboratories 19.680 3,52 9 Abbott Laboratories 19.466 2,69
10 Eli Lilly and Company 19.380 3,47 10 Bristol-Myers Squibb 19.140 2,64
Total 10 maiores 303.633 54,32 308.757 42,62
Total mercado mundial 559.000 100 724.465 100

59
Fonte: Elaboração do Grupo Economia da Inovação, baseado em IMS Health Market Prognosis.
O número de compradores na indústria está fortemente ligado aos
esquemas de financiamento e de distribuição de medicamentos.
Em alguns países, o fato de o sistema público de saúde fornecer
os medicamentos ou praticar alguma forma de reembolso, ou de
existirem organizações privadas que compartilham as despesas
com medicamentos com seus segurados, mas que realizam a com-
pra como um único grande comprador, dá origem a formação de
grandes monopsônios. Essa é uma forte tendência, principalmente
nos países mais desenvolvidos. Nos países menos desenvolvidos,
predominam os sistemas de financiamento e distribuição privados,
em que as despesas com medicamentos são por desembolso direto,
existindo, dessa forma, um grupo bastante heterogêneo e com poder
de barganha quase inexistente em relação aos produtores, exceto no
caso em que os governos procuram intervir junto aos fabricantes.
Em termos de segmentação do mercado, a indústria pode ser
segmentada de diferentes maneiras, conforme apontado nas carac-
terísticas de oferta (ver p.8). Via de regra, o segmento de medi-
camentos éticos (vendidos sob prescrição) é aquele que apresenta
maior faturamento nos principais mercados. Mas, a principal for-
ma de segmentação é pelas classes terapêuticas.
Observa-se, inclusive, certa concentração de esforços por
parte das empresas líderes em algumas classes terapêuticas, princi-
palmente naquelas de maior prevalência nos mercados dos países
desenvolvidos, que têm maior atratividade. Em geral, as empre-
sas farmacêuticas se especializam em pesquisas de determinadas
classes terapêuticas, principalmente devido à variedade e comple-
xidade de processos e conhecimento envolvidos, e o espectro va-
riado de doenças. Isto pode ser bem observado a partir dos dados
mundiais sobre a participação dos gastos em P&D por doença e o
mercado mundial de medicamentos relacionados a cada grupo de
doenças, conforme Tabela 4.

60 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Tabela 4. Participação nos gastos de P&D por doença
e participação no mercado mundial, 1997
Gastos P&D Mercado
Doença (ATC)
Industriais (%) Mundial (%)
Órgãos Sensoriais 22,4% 22,2 %
Neoplasmas, Sistema Endócrino e
22,3% 17,4%
Doenças do Metabolismo
Cardiovascular 16,5% 19,7%
Anti-infecciosos 14,9% 14,3%
Sistema Respiratório 6,4% 6,8%
Sistema Digestivo e Geniturinário 2,7% 16,3%

Fonte: PhRMA (1999).

Essa especialização conduz à formação de segmentos de mer-


cados farmacêuticos em que se observa um grau relativamente alto
de concentração em contraste com o baixo grau observado ao nível
da indústria.
Em relação ao segmento de medicamentos genéricos, esse se carac-
terizava inicialmente por empresas de pequeno e médio porte, o
que tem sido modificado com a entrada de grandes empresas no
mercado com linhas próprias de genéricos ou por meio de aquisi-
ções ou alianças (CBO, 1998). A atratividade desse mercado tem
crescido devido à tendência dos governos para estimular a subs-
tituição dos medicamentos de marca pelos genéricos, devido aos
gastos crescentes com saúde no orçamento e o crescimento dos
custos com medicamentos, o que tem afetado a estrutura da indús-
tria com o segmento de genéricos. Em alguns países europeus e
nos Estados Unidos, algumas das líderes mundiais do setor, através
de suas divisões para genéricos, chegam a ficar entre os maiores
fabricantes do segmento (CBO, 1998; EGA, 2000).
O impacto dos genéricos sobre o setor farmacêutico tem se
mostrado diferente entre os países, chegando a representar em mé-
dia 2% a 3% do mercado em valor e entre 20% a 60% do mercado
em volume, nos países europeus. As únicas exceções são apresen-
tadas pela Irlanda, Inglaterra e Dinamarca, onde chegam a repre-
sentar, respectivamente, 8%, 18% e 35% do mercado em valor. As
razões para essas exceções parecem encontrar-se no marco regula-
tório em relação a dispensação e reembolso pelo sistema público
de saúde, no caso da Inglaterra e Dinamarca, e no caso da Irlanda,

2. Indústria farmacêutica internacional 61


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
destaca-se também a característica da estrutura do setor farmacêu-
tico, com forte peso do segmento de genéricos.
Em relação às barreiras à entrada e à mobilidade estáticas, essas
surgem das características estruturais da indústria, tais como impor-
tância das economias de escala e de escopo, vantagens absolutas de
custos, requerimentos de custo de capital e vantagens de diferen-
ciação de produtos.
A indústria farmacêutica não produz em larga escala. Entretan-
to, as economias de escala são importantes, na medida em que
o porte da empresa favoreça a capacidade de investimento em
pesquisa e lançamento de novos produtos e na divulgação desses
produtos, através da propaganda e marketing. Esses investimentos
são sensíveis às economias de escala devido ao elevado custo fixo
que representam decorrente da constituição de equipes de P&D
e marketing, bem como das elevadas despesas operacionais para
a sua manutenção, conforme será detalhado no item 1.4. As eco-
nomias de escopo, por sua vez, são bastante relevantes na indústria
farmacêutica que é constituída principalmente de empresas mul-
tiprodutos. Através das economias de escopo, as empresas farma-
cêuticas compensam os ganhos que elas não podem obter a partir
das economias de escala, limitadas pelo tamanho dos mercados
de cada classe terapêutica, e procuram utilizar os mesmos equipa-
mentos fixos para a produção de uma gama variada de produtos
(unidades multipropósitos).
As vantagens absolutas de custo na indústria farmacêutica estão
principalmente relacionadas com os contratos de fornecimento de
matérias-primas, com a disponibilidade de mão-de-obra qualifica-
da e com o acesso às tecnologias.
Na indústria farmacêutica, a patente é um meio de assegurar
que, apesar dos elevados custos de pesquisa e dos altos riscos en-
volvidos, os produtores continuem investindo em novos medica-
mentos. Elas conferem ao seu detentor a exclusividade de merca-
do, por exemplo, sobre o(s) princípio(s) ativo(s) do medicamento
em questão, propiciando um monopólio temporário sobre o me-
dicamento e permitindo um ganho supranormal por um determi-
nado período de tempo. As patentes são, portanto, um elemento
fundamental para a apropriação dos benefícios futuros resultantes
dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento que culminaram

62 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
no desenvolvimento de um novo medicamento e criam vantagens
absolutas de custos para as empresas que as detém.
Naqueles países que garantem o direito de propriedade in-
dustrial, as patentes têm, obrigatoriamente, validade de 20 anos,18
sendo que, na maior parte desse tempo de validade – em torno
de 10 a 12 anos –, o medicamento ainda encontra-se em fase pré-
comercial, passando por testes clínicos de diferentes escalas (desde
testes em escala laboratorial até testes de larga escala em humanos)
até que sejam comprovadas sua qualidade, segurança, eficiência e
eficácia para que possa ser comercializado. As diversas formas de
proteção patentária previstas no sistema de patentes para a indús-
tria farmacêutica são: patentes de produto, formulação farmacêuti-
ca, processo, intermediário e segunda indicação (ver a definição de
cada uma delas no Quadro 1 abaixo).
Quadro 1. Formas de proteção patentária na indústria farmacêutica
Proíbe qualquer possibilidade de produção do produto, mesmo
que para outras utilizações comerciais. Pode ser obtida para uma
Produto
única substância ou para famílias de substâncias quimicamente
relacionadas.
Protege formulações de uso final contendo determinado produto
ou combinações de produtos. Além disso, pode ser usada para
proteger um produto antigo mas, até a data, não conhecido como
agente terapêutico; para proteger composições de produtos
Formulação
antigos cujo efeito sinérgico é novidade ou para proteger formu-
Farmacêutica
lações precisas e consideradas mais ativas, depois de pesquisas
farmacológicas prolongadas, o que, em geral, prolongará o tem-
po de validade do produto cuja patente original já tenha expirado
há vários anos.
Protege processos de obtenção de determinado produto. Podem
ser usados para prolongar vantagens competitivas (custo de
Processo
produção) de determinada empresa após a expiração da patente
do produto.
Bem Interme- Protege o uso de novos compostos úteis como intermediários
diário para a obtenção de uma substância de uso farmacêutico.
Segunda Protege produtos já conhecidos por determinada ação terapêuti-
Indicação ca, para os quais descobriu-se um novo uso.
Fonte: Ciência Hoje, v.15, n. 89, abr. 1993.

Enfim, a barreira de custos tecnológicos é bastante presente na in-


dústria farmacêutica, principalmente no segmento de produtos que
se encontram protegidos por patentes, uma vez que no segmento
de produtos genéricos a questão de escala é mais importante e a

18. Esse tempo de validade das patentes aplica-se a todos os países signatários do
acordo Trips (Trade Related Aspects of Intellectual Property Rights), desde sua vigência
em 2005.

2. Indústria farmacêutica internacional 63


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
competição se dá via preços. É importante observar que os eleva-
dos níveis de risco e incerteza das atividades inovativas no setor
farmacêutico contribuem para a elevação das barreiras à entrada,
uma vez que se encontra na literatura internacional a estimativa de
que apenas de 3% a 5% dos princípios ativos candidatos a novos
medicamentos que entram na fase I de testes pré-clínicos chegam a
ser comercializados (Soltero et al., 2000).
As barreiras à entrada decorrentes da estratégia de diferencia-
ção das empresas farmacêuticas são fortemente influenciadas pelas
atividades de P&D, visando à busca de patentes, mas também pelas
atividades de marketing e de propaganda. A manutenção das vendas
dos antigos produtos e, principalmente, o lançamento de novos,
requer uma complexa e dispendiosa estrutura de marketing e gastos
em propaganda. A lealdade à marca é uma característica histórica
da indústria, o que permite lucros supranormais por um longo pe-
ríodo de tempo. Mesmo depois de expirado o prazo de exclusivi-
dade, concedido pela patente, os médicos continuam prescrevendo
os mesmos remédios, que já conquistaram a sua confiança, e, por-
tanto, não dão importância a produtos concorrentes mais baratos e
mais novos. O médico continua a prescrever o nome da marca, e
não o nome genérico do produto.
As vantagens obtidas pelas empresas através dos investimen-
tos em P&D e em propaganda e marketing não são eternas. As van-
tagens das empresas valem para nichos temporários do mercado e
devem ser permanentemente renovadas por meio de novos inves-
timentos em P&D e marketing. Entretanto, observa-se que a escala
mínima da empresa é relevante para a estratégia de diferenciação,
porque permite às empresas inovadoras explorar as vantagens de
P&D e distribuição com custos fixos mais bem distribuídos devido
ao grande volume de produção.
A diferenciação na indústria farmacêutica também pode ser
exercida através das formas de apresentação dos medicamentos e
das embalagens.
Dentro da cadeia produtiva, as empresas produtoras de medi-
camentos relacionam-se com o segmento de embalagens, com a
indústria de equipamentos especializados e com o setor de tecnolo-
gia da informação. Além dessas relações, a indústria farmacêutica
necessita de uma boa rede de distribuição, uma vez que a sua pro-

64 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
dução se concentra em determinadas regiões, tanto no nível nacio-
nal quanto no internacional, e os mercados consumidores são mais
pulverizados. Nesse sentido, a comercialização é feita via rede de
distribuição própria ou distribuidores terceirizados que fazem com
que os produtos cheguem às cadeias de farmácias, à rede varejis-
ta, aos hospitais e às clínicas. Finalmente, as empresas produtoras
de medicamentos se relacionam com os fornecedores de matérias-
primas, a indústria produtora de fármacos.
Em relação à integração vertical para trás e para frente na cadeia pro-
dutiva, observa-se que, nos países mais desenvolvidos, as empresas
estão integradas com a produção dos fármacos e, nos países em de-
senvolvimento, a integração se dá através da importação de fármacos
da matriz. Essa característica decorre da concentração da produção
de fármacos nos Estados Unidos e na Europa, apontada acima. O
conjunto de funções especializadas exercidas pelas empresas farma-
cêuticas (pesquisa, produção, marketing e comercialização) também é
distinto entre empresas líderes e seguidoras, principalmente no que
diz respeito às atividades de P&D, como será visto adiante.
Recentemente observa-se também uma tendência para a ter-
ceirização das atividades de P&D. Devido à crescente utilização de
técnicas computacionais e de biotecnologia, algumas empresas têm
se especializado em algumas etapas do processo de pesquisa e de-
senvolvimento, a saber, a busca e seleção de princípios ativos. Esse
fenômeno, entretanto, tem sido caracterizado como fundamental-
mente norte-americano.
No que diz respeito à estrutura de custos, um estudo preparado
para o governo norte-americano (OTA, 1993), a partir de informa-
ções de seis empresas farmacêuticas, estimou que os gastos admi-
nistrativos e com comercialização estivessem em torno de 33,6%
das vendas totais.19

19. Entretanto, existe muita controvérsia acerca da estrutura de custos do setor. Ainda
segundo esse estudo (OTA, 1993), uma forma alternativa utilizada para calcular a
estrutura de custos do setor é a comparação com as informações a respeito do segmen-
to de medicamentos genéricos, que poderia ser considerado como um limite superior
para o custo marginal de longo prazo envolvendo produção, distribuição e custos
administrativos. Considerando-se o impacto da competição via preços no segmento
de genéricos, os preços refletiriam os custos para permanecer no mercado, incluindo
os custos de capital. Dessa forma, se poderia tomar a diferença entre o preço do gené-
rico e do medicamento de marca como representativo do mark-up do medicamento
de marca sobre os custos marginais (de produção, distribuição e operacional).

2. Indústria farmacêutica internacional 65


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Embora consideravelmente mais baixos, os gastos com marke-
ting e P&D também podem ser encontrados no segmento de gené-
ricos segundo OTA (1993), principalmente associados à imagem do
laboratório produtor e à sua qualidade relacionada aos produtos e
às boas práticas de manufatura.20
Contribuem para a formação dos altos custos da indústria
farmacêutica os gastos referentes aos rigorosos critérios de controle de
qualidade sobre a estocagem e distribuição dos produtos, apresen-
tando um alto risco de perdas referentes ao mau gerenciamento
de estoques. Outros custos dizem respeito aos custos de treinamento
e capacitação, uma das principais armas da indústria no processo
inovativo. É importante ressaltar também a importância do co-
nhecimento tácito que resulta do investimento em treinamento e
capacitação. Esse conhecimento não é facilmente transferível por
ter sido adquirido através da experiência em pesquisa, produção e
distribuição dos produtos farmacêuticos e, portanto, é particular e
específico a cada empresa, constituindo-se numa importante bar-
reira à entrada.
De modo sucinto, a indústria é mais bem descrita como um con-
junto de oligopólios baseado em ciência, com multiprodutos diferen-
ciados em segmentos, classes terapêuticas específicas (por sua vez,
subdivididas em categorias específicas), frequência e posologia de
uso, essencialidade, efetividade, necessidade de prescrição médica,
composição química, princípio ativo, dosagem e embalagens, geran-
do uma miríade de apresentações distintas ao consumidor final.

2.4. Conduta
As empresas farmacêuticas comportam-se de maneira diferenciada
em cada país ou grupo de países, seja no tocante à estratégia de
preços, nos esforços de propaganda e marketing, na definição das
estratégias de localização da produção e das atividades de pesqui-
sa e desenvolvimento e de patentes como estratégia de exclusão

20. Essa afirmação baseia-se em informações analisadas por OTA (1993) sobre da-
dos contábeis de três empresas produtoras de genéricos. Essas empresas reportaram
gastos com P&D e marketing em torno de 6% das vendas, para o ano de 1990.

66 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
competitiva. Todas essas estratégias funcionam como barreiras à
entrada e à mobilidade dinâmicas. A inovação, por exemplo, é
uma forma de concorrência central na indústria farmacêutica, na
medida em que traz significativas vantagens para o inovador de
um medicamento, permitindo que ele usufrua os excelentes retor-
nos financeiros sem que os lucros sejam apropriados por empresas
potenciais entrantes.
As descobertas de novos princípios ativos patenteáveis e a
conquista das preferências dos consumidores, através de intenso
marketing e propaganda, são as principais estratégias de concorrên-
cia adotadas pelas empresas farmacêuticas.
É importante salientar que a competição entre medicamen-
tos inovadores e medicamentos “me too” mostra-se cada vez mais
acirrada. Estudo recente do governo norte-americano aponta que
em 13 classes terapêuticas estudadas, os medicamentos inovadores
passaram a sofrer competição por medicamentos “me too” após um
ou dois anos a contar da data da introdução no mercado (CBO,
1998).
Uma vez expirada a patente, os produtos passam a ficar ex-
postos à competição potencial dos produtos genéricos, que são
medicamentos idênticos ao produto original (mesma composição
e mesmo efeito terapêutico), mas que são vendidos pela denomina-
ção genérica do princípio ativo.
O desenvolvimento de novos produtos é essencial para as empresas
que competem em nível mundial, uma vez que a proteção paten-
tária é uma importante barreira à entrada. O número de empre-
sas que realizam pesquisa e desenvolvimento de novos produtos
é cada vez menos expressivo, não só em virtude do processo de
concentração industrial, como também do elevado risco dos inves-
timentos de P&D e da complexidade do processo de inovação, que
requer uma elevada capacidade de financiar essas atividades e uma
alta gama de conhecimentos científicos e tecnológicos.
Considerando a intensidade tecnológica do setor e a estreita
relação entre as etapas de busca de novos medicamentos e comer-
cialização, é possível afirmar, dessa forma, que a atividade de pes-
quisa e desenvolvimento está presente em todas as etapas produtivas,
conforme pode ser observado no Quadro 2 a seguir.

2. Indústria farmacêutica internacional 67


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Quadro 2. Etapas que envolvem P&D na criação e
desenvolvimento de medicamentos
Etapas Atividades Objetos
Seleção de substâncias novas Produtos de sínteses; Pro-
Obtenção de maté-
com atividade terapêutica; Fabri- dutos Naturais; Síntese;
rias-primas
cação Industrial Extração; Fermentação
Estudo preliminar: triagem (scre- Modo de ação; Toxidade;
Pesquisa Farmaco-
ening); Estudo aprofundado do Farmacocinética; Meta-
lógica (estudo de
animal; Estudo farmacocinético e bolismo; Mecanismo de
atividades)
clínico do homem ação
Escolha da forma e condições
Estudo da Forma de conservação: formulação;
Farmacêutica Fabricação industrial: estudo da
biodisponibilidade
Controle físico-químico: estudo
Controle Analítico da estabilidade; Controle bio-
lógico
Pesquisa de mercado (pesquisas
médicas); Proteção industrial
(marcas e patentes); Registro do
Comercialização produto administrativo; Cálculo
de preço de revenda; Publicidade
médica; Distribuição para farmá-
cias (atacadistas e varejistas)
N. B. As diferentes etapas ficam mais ou menos interligadas no decorrer do tempo.
Fonte: Adaptado de Aiache et al. (1998).

A diferenciação, extremamente importante do ponto de vista


das estratégias das empresas, está calcada no investimento continua-
do e de grande porte em atividades de P&D e têm como propósito
incrementar o portfólio de produtos – novos medicamentos a se-
rem lançados no mercado. Um dos principais estímulos à realiza-
ção de atividades de P&D por parte das empresas farmacêuticas
é a obtenção de direitos de propriedade industrial sobre o novo
produto e a capacidade de arbitragem por parte do inovador sobre
o preço a ser cobrado no mercado. Esse preço é, em geral, elevado
para permitir a recuperação das despesas realizadas com P&D.
A respeito dos custos envolvidos em P&D, a Tabela 5, a seguir, in-
dica uma simulação de rateio dos custos indiretos — através do princí-
pio contábil de contribuição sobre o custo total — de uma empresa far-
macêutica que realiza P&D, a partir do estudo de Sarmiento (1995).

68 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Tabela 5. Estrutura de custos de uma empresa farmacêutica
que realiza P&D
Estrutura de Custos % das vendas
Produção e controle de qualidade 30
Pesquisa e desenvolvimento 15
Informação científica 15
Comercialização 7
Custos administrativos 7
Propaganda 5
Outros custos 6
Lucros antes dos impostos 15
Fonte: Sarmiento (1995).

Tomando-se as categorias da Tabela 5, ‘informação científica’


(distribuição de medicamentos e financiamento de congressos en-
tre outros), ‘comercialização’ e ‘propaganda’ que podem ser consi-
derados todos os gastos de propaganda e marketing, essas despesas
montam a 27% sobre as vendas.
Segundo o relatório PhRMA (2001), em 1970, esses gastos
representavam cerca de 11,04% das vendas e, em 2001, cerca de
18,5%, mostrando um aumento relativo desses custos no total de
gastos da indústria farmacêutica.
Apesar dos altos custos tecnológicos, a indústria farmacêutica
como um todo aumentou seus investimentos em P&D na década de
1980 o equivalente a 14%. A Tabela 6 indica a proporção do fatura-
mento gasto em P&D no ano de 2007, nas 10 maiores companhias
farmacêuticas mundiais. A média dos percentuais fica em 20,1%,
confirmando a importância desses gastos.

2. Indústria farmacêutica internacional 69


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Tabela 6. Maiores empresas da indústria farmacêutica mundial,
vendas e gastos em P&D, 2007
Faturamen- Gasto P&D Participação P&D sobre
Ranking Companhia to (US$ (US$ mi- no mercado fatura-
milhões) lhões) (%) mento (%)
1 Pfizer 44.400 8.100 6,6 18,2
2 GlaxoSmithKline 38.200 6.400 5,7 16,8
3 Sanofi-Aventis 36.900 6.500 5,5 17,6
4 Novartis 32.200 6.400 4,8 19,9
5 AstraZeneca 28.700 5.100 4,3 17,8
6 Johnson & Johnson 24.900 5.300 3,7 21,3
7 Merck 24.200 4.900 3,6 20,2
Hoffmann –
8 20.300 6.700 3,0 33,0
La Roche
9 Wyeth 18.600 3.100 2,8 16,7
Eli Lilly and Com-
10 17.600 3.500 2,6 19,9
pany
Total dez maiores 286.000 56.000 42,5 -
Total mercado
673.043 - 100 -
mundial
Fonte: Adaptação do Grupo Economia da Inovação, baseado em Euro RSCG Life (s/d).

De acordo com Soltero et al. (2000), as fases de P&D, confor-


me reportado pelas associadas da Pharmaceutical Research and Manu-
facturers of America, em 1999, são em número de quatro. O Quadro
3 mostra o detalhamento dessas fases.
Quadro 3. Atividades de P&D de novos princípios ativos
de empresas norte-americanas, 1999
Fase
Fase I Fase II Fase III
Pré-clínica
Número de
princípios
ativos pesqui-
25 10 3 2
sados para
introduzir um
no mercado
Tempo (anos) 1,6 1,5 1,5 2,5
Gastos por US$ 7,7 mi- US$ 26,6
US$ 288.000 US$ 890.000
Princípio Ativo lhões milhões
Transferência
Pré-formulação; Formulação; Formulação; de Tecnologia;
Formulação; Desenvolvimen- Desenvolvimen- Scale-up;
Estudos de to de Processo; to de Processo; Validação de
Atividades Toxicologia; Testes Clínicos; Testes Clínicos; Processo;
Estudos Analí- Estudos Analí- Estudos Analí- Testes Clínicos;
ticos; ticos; ticos; Estudos Analí-
Estabilidade Estabilidade Estabilidade ticos; Estabili-
dade
Fonte: Soltero et al. (2000).

70 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Com relação aos gastos em P&D das empresas associadas à
PhRMA, estima-se que eles montem a US$ 47.903 milhões, em
2009, conforme a Tabela 7. Por etapa de pesquisa, a informação
mais importante a reter dessa Tabela é que os custos de P&D são
maiores na fase III, de desenvolvimento de produtos, seguida da
etapa pré-clínica.
Tabela 7. Gastos em P&D por etapa da pesquisa,
companhias associadas à PhRMA, 2009 (US$ milhões)
Etapa Valor Parcela (%)
Pré-clínica 13.087,4 27,20
Fase I 3.547,7 6,70
Fase II 6.251,0 13,10
Fase III 13.664,7 28,10
Aprovação 2.413,8 6,10
Fase IV 6.439,9 12,90
Não categorizados 2.498,6 6,00
Total P&D 47.903,1 100
Fonte: PhRMA, 2009.

A conduta das empresas em relação à linha de produtos produ-


zidos, desenvolvidos e/ou comercializados, além de repousar sobre
sua linha própria, tem sido de significativos aumentos dos acordos
de co-promoção e licenciamento de medicamentos. Observa-se
também que essa conduta está fortemente relacionada ao posicio-
namento da empresa em relação ao mercado em que atua e se
realiza produção localmente ou não. De acordo com estudo do
Congressional Budget Office (1998), de todas as novas entidades
químicas (NEQs) aprovadas para testes clínicos pelo FDA entre
1979-1986, 29% foram adquiridas por outra empresa, e essa pro-
porção aumenta para 40% quando se considera a proporção de
medicamentos aprovados para comercialização.
Em relação à linha de produtos genéricos, observa-se que as gran-
des empresas-líderes no mercado mundial têm apresentado estraté-
gias diferenciadas. Mas, principalmente a partir do início da déca-
da de 1990, algumas empresas-líderes como a Merck & Co., Pfizer,
Novartis e Bristol Meyers Squibb têm criado divisões próprias para
genéricos ou adquirido fabricantes já estabelecidos no mercado.
Em alguns países, essas divisões situam-se entre as principais em-
presas de medicamentos genéricos (EGA, 2000).

2. Indústria farmacêutica internacional 71


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Como respostas aos altos riscos das atividades de P&D em
busca de complementaridade e sinergias que fortaleçam posições
de mercado competitivas, as empresas têm realizado também pro-
cessos de fusão e aquisição. No tocante às estratégias de fusão e aqui-
sição para aproveitar economias de escopo e outras, observa-se que
a dinâmica do movimento se dá em escala mundial. As mudanças
tecnológicas, comentadas acima, são forte motivação para a realiza-
ção de estratégias de fusão e aquisição. Algumas empresas quími-
cas compraram empresas pequenas e concorrentes da indústria de
medicamentos, permitindo obter economias de escopo em P&D
e marketing, enquanto algumas grandes empresas farmacêuticas
uniram-se com empresas de biotecnologia.
Outras pressões, tais como a necessidade de reduzir tempo
de introdução dos produtos no mercado e aumentar o número
de novos medicamentos que representem efetivamente avanços
terapêuticos introduzidos no mercado por ano também estimulam
condutas cooperativas. O financiamento das novas empresas de
biotecnologia e o desenvolvimento de novos produtos através de
joint-ventures, em lugar do aumento do investimento em P&D em
suas próprias empresas (Tabela 8), são exemplos importantes do
aumento de condutas cooperativas entre as empresas.

Tabela 8. Principais parcerias de colaborações em P&D


Parcerias em P&D com :
País Companhias de Companhias químicas
biotecnologia (%) e de medicamentos (%)
Estados Unidos 50,0 38,5
Reino Unido 54,5 45,5
Alemanha 69,2 30,8
Suíça 73,3 26,3
Total 60,9 34,8
Fonte: Whittaker e Bower, 1994.

Já no que diz respeito à tendência a colusão e a práticas anticom-


petitivas, observa-se um comportamento heterogêneo, mas é possí-
vel observar esse tipo de prática, sendo o exemplo mais recente a
questão do comportamento anticompetitivo para fixação de preços
no segmento de produtos não éticos de vitaminas, que levou algu-
mas empresas a pagar elevadas indenizações por esse motivo.

72 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
No tocante aos preços, a tendência é estabelecer preços mais al-
tos para os produtos inovadores. Lu e Comanor (1998) observaram
a estratégia de preços em uma amostra de 148 NEQs de marca,
introduzidas nos EUA entre 1978 e 1987, das quais 13 possuíam
pelo menos um produto substituto próximo. Da amostra, 10% dos
novos produtos ofereciam avanço terapêutico, segundo os critérios
do FDA; 37% avanço modesto; e 53% não apresentavam nenhum
ganho relativo aos medicamentos já existentes. No caso do primei-
ro grupo – aqueles que ofereciam avanço terapêutico –, as empre-
sas tendiam a introduzir medicamentos a um preço 3,2 vezes maior
do que o preço dos substitutos próximos, e, no caso do terceiro
grupo, a um preço aproximadamente igual.
Outra questão é a diferença de preços entre medicamentos
com marca e genéricos. Essa diferença apresenta-se significativa
em praticamente todos os países europeus e nos Estados Unidos,
em razão da intensificação da competição, com destaque também
para o aumento da participação dos genéricos no volume de pres-
crições, principalmente em razão das políticas de incentivo à subs-
tituição e prescrição, seja nos sistemas públicos de saúde dos países
europeus, seja pelas empresas privadas de assistência médica e far-
macêutica dos EUA.

2.5. Desempenho
O setor farmacêutico está entre os setores industriais mais dinâmicos,
observando-se não só um bom desempenho em termos de fatu-
ramento, como também de margem de lucro, em comparação com
outros segmentos. De 1960 a 2000, a mediana dos lucros como
proporção da receita das maiores empresas farmacêuticas listadas
na Fortune 500 situou-se bastante acima da mediana dos lucros de
toda a lista. Observa-se um desempenho bastante oscilatório, entre
8% e 11%, para as empresas farmacêuticas no período 1960-1985;
entre 11% e 13% no período 1985-1990; e um crescimento de 11%
em 1991 para cerca de 19% em 2000 (EGA, 2000).
Além disso, destaca-se que as empresas que passaram por pro-
cessos de fusão e aquisição, entre 1994 e 1998, apresentaram uma
taxa de retorno anual para os shareholders de 5%, enquanto para

2. Indústria farmacêutica internacional 73


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
aquelas empresas que não passaram por fusão e/ou aquisição a taxa
anual de retorno situou-se entre 12% a.a (Rogers, 2000).
Diversos fatores têm influenciado esse bom desempenho, mas
variam de país para país. Não obstante, observa-se que o aumento
dos gastos em medicamentos é diretamente proporcional ao au-
mento da renda e que o avanço tecnológico também tem contribuí-
do para o aumento dos gastos com medicamentos, pois os novos
produtos, por serem protegidos por patentes nos principais merca-
dos mundiais, apresentam maiores preços.
Observando a Tabela 9, a seguir, verificamos a evolução do
número de novos produtos lançados por países e regiões, ao longo de
três décadas. O número de novos produtos lançados no mercado
pode ser considerado um indicador da taxa de avanço tecnológico.
Uma análise da Tabela 9 mostra que esse vem decrescendo em relação
à década de 1960 na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, líde-
res no número de novos produtos lançados no mercado. O Japão,
terceiro colocado, apresentou um aumento no número de novos
produtos lançados no mercado na década de 1980.
Tabela 9. Número de novos produtos lançados no mercado
por países e por regiões, 1961-1990
Período 1961-70 1971-80 1981-90 Total
Estados Unidos 201 152 117 470
Europa Ocidental 509 375 243 1.127
Japão 80 75 126 281
Europa Oriental 49 58 10 117
Outros Países 5 5 10 20
Total 844 665 506 2.015
Fonte: Scrip World Pharmaceutical News (vários números).

Em relação à diminuição do número de novos medicamentos


lançados pela indústria farmacêutica, conforme apontam os dados
acima, Drews e Ryser (1996) classificam esse fenômeno como o
surgimento de déficit inovativo no setor, que coloca em risco o
bom desempenho da indústria farmacêutica observado nos anos
anteriores. Em trabalho recente, Drews (1998) observou resultados
mais favoráveis do que aqueles esperados no estudo anterior. De
1996 a 1998, o autor observou um aumento de 8 para 14 NEQ,
com novas estruturas e novas aplicações. Em termos dos medica-
mentos com vantagens sobre medicamentos similares, houve uma

74 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
diminuição e uma estabilização de 18 medicamentos, em 1996,
para 15, em 1998. Foi observado ainda um padrão relativamente
estável em novas formas de liberação do medicamento no organis-
mo (drug delivery systems), formulações e produtos de diagnósticos e
uma diminuição em produtos combinados e de nichos de mercado
específicos. No caso dos produtos biotecnológicos, foi observado
um aumento entre 1996 e 1998, tanto em NEQs com novas es-
truturas e aplicações, quanto em medicamentos alternativos aos
originais, também patenteados (me too), extensões, novas formas
de liberação do medicamento no organismo e formulações. Entre-
tanto, para Drews (1998, p. 493), esses resultados “são ainda baixos
para evitar o déficit inovativo”.
A diminuição do ritmo inovador pode ser explicada tanto por
um maior rigor dos padrões de segurança e eficácia impostos pela
lei, quanto pelo aumento dos custos de pesquisa de um novo medi-
camento. Entre as razões apontadas pelas empresas para justificar
o alto custo em P&D estão o alto valor dos instrumentos utilizados
nas pesquisas e os seus vários estágios, que incluem testes clínicos
para os medicamentos serem aprovados para comercialização e
ficam cada vez mais caros a partir das exigências regulatórias cres-
centes na Fase III da pesquisa clínica.
Além disso, a indústria vem também sofrendo maior pressão
da sociedade, pois sua imagem pública vem sendo comprometida,
em função das questões envolvendo o poder discricionário por ela
exercido e os problemas de acesso e preço dos medicamentos. O
poder, não só de determinar que doenças e tratamentos serão in-
vestigados, mas também de fixar preços, principalmente no que diz
respeito a medicamentos protegidos por direitos de patente, por
parte das empresas, deve ser compreendido dentro de um quadro
mais amplo em que as políticas públicas interferem fortemente na
dinâmica de competição e inovação da própria indústria.

2.6. Políticas públicas: países desenvolvidos e países


em desenvolvimento
O estudo da regulação no setor farmacêutico implica em discutir
o funcionamento dos mercados e o papel do Estado. O papel do

2. Indústria farmacêutica internacional 75


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Estado pode estar calcado no argumento de existência de “falhas
de mercado” no setor, que justificariam a necessidade de um arca-
bouço de regulação para que se possa minorar os efeitos negativos
dessas “falhas” sobre o bem-estar da população. Tais “falhas” cria-
riam um ambiente propício para a existência de situações nas quais
os agentes do lado da oferta seriam capazes de estabelecer algum
tipo de poder na fixação de preços, tipos de produtos produzidos
e/ou comercializados (qualidade, variedade, quantidade), em re-
lação à demanda. Esse comportamento configuraria uma situação
típica de abuso do poder econômico, em que o mercado deixaria
de funcionar de maneira eficiente, na direção oposta daquilo que
seriam resultados socialmente desejáveis. As “falhas de mercado”
seriam, entre outras, as seguintes: mercados concentrados, eleva-
das barreiras à entrada, demanda inelástica à variações nos preços
dos produtos e assimetria de informações.
Entretanto, essa visão pode ser contestada quando colocamos
em cheque a própria concepção de mercado e de empresas. Os au-
tores que defendem a intervenção a partir de “falhas de mercado”
acreditam que as empresas são funções de produção e o mercado é
um estado da natureza – escola neoclássica. Mas há outros autores
que acreditam que todas as instituições sociais, inclusive as empre-
sas e o mercado, são o resultado das interações entre as instituições
que as compõem e interagem entre si – escola institucionalista e
neo-schumpeteriana. Dessa forma, a intervenção não é apenas uma
questão de falhas de mercado (isto é, no estado da natureza), mas
o resultado de características específicas da natureza institucional e
tecnoeconômica do mercado farmacêutico.
O fato é que, independente da filiação teórica adotada para
justificar o papel do Estado no setor, percebe-se que a indústria far-
macêutica é fortemente regulamentada em quase todos os países. A
seguir, discutiremos, a partir de revisão da literatura, as funções do
Estado no setor e descreveremos algumas experiências específicas.

2.6.1. Funções do setor público


O objetivo principal da regulação dos mercados farmacêuticos é
melhorar o acesso da população aos medicamentos. A questão do
acesso, porém, está fortemente relacionada não só a questões cir-

76 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
cunscritas ao próprio funcionamento do mercado, como também
a outras questões como distribuição de renda e informação, que,
como visto acima, têm reflexo sobre o comportamento da deman-
da e da oferta.
Uma primeira constatação é que boa parte da população nos
países menos desenvolvidos está excluída desse mercado, por dife-
rentes razões, que vão da concentração do consumo em determina-
das regiões e a concentração do nível de renda ao comportamento
em relação à fixação de preços por parte das empresas. Ampliar
o acesso deveria, portanto, ser uma questão primordial na agenda
governamental. De igual importância, e que afeta principalmente
aquela parcela da população que tem acesso a medicamentos, é a
necessidade de coibir a prática observada de aumentos sistemáticos
de preços por parte das empresas.
Essa prática tem como efeito perverso transferir, compulso-
riamente, a renda do consumidor para o vendedor. As propostas
para se lidar com esses problemas dividem-se em ações do lado da
oferta e ações do lado da demanda, conforme Quadro 4 a seguir:
Quadro 4. Regulação dos mercados farmacêuticos
Ótica Objetivos Mecanismos Efeitos sobre preços
Minorar problemas Patentes; Genéricos;
decorrentes do funcio- Assimetria de infor- Indireto
namento do mercado mações
Oferta
Políticas ativas sobre
Atuar na redução dos
os preços e/ou mar- Direto
preços
gens de lucro
Criação de sistemas
públicos de financia-
Indireto
mento aos medica-
Fortalecer o poder mentos
Demanda de barganha do com-
prador Criação de sistemas
privados de financia-
Indireto
mento aos medica-
mentos
Fonte: Elaboração própria.

Fica claro, pelo Quadro 4, que o objetivo primordial no to-


cante à regulação no setor volta-se para a questão dos preços e do
abuso do poder econômico por parte das empresas tanto na fixação
quanto no aumento sistemático de preços no setor, que têm reflexo
no grau de acesso da população a medicamentos.
Destacam-se oito mecanismos de monitoramento de preços ou
formas de controle sobre a formação/aumento dos preços: acom-

2. Indústria farmacêutica internacional 77


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
panhamento dos preços, fixação de preços baseada em custos (in-
clusive para a entrada de novos medicamentos), fixação de preços
baseada na rentabilidade, fixação de preços de referência por cate-
goria terapêutica, fixação de preços menores para a entrada de me-
dicamentos repetidos (não inovadores), fixação de preços por com-
paração internacional, fixação de preços considerando variações
nas quantidades comercializadas e congelamento de preços reais
(com os preços acompanhando a variação da taxa de inflação).
Observa-se uma discussão intensa na literatura a respeito de
experiências de políticas internacionais sobre qual seria o conjunto
mais apropriado de funções que caberiam ao setor público, no que
se refere ao funcionamento dos mercados farmacêuticos, conforme
aponta o estudo de Bennett et al. (1997). Segundo esses mesmos
autores, é possível destacar cinco grupos principais de funções do
Estado nos mercados farmacêuticos, como se pode ver no Quadro
5, a seguir.
Quadro 5. Funções essenciais do Estado nos mercados farmacêuticos
1 – Política Nacional de Medicamentos
Financiamento governamental de medicamentos;
Capacidade financeira de acesso (incluindo políticas sobre regulação de preços e
competição);
Uso racional de medicamentos;
Qualidade de medicamentos;
Iniciativas legislativas, regulatórias e programáticas para implementação de
política;
Monitoramento e avaliação das políticas.
2 – Regulação de Medicamentos
Licenciamento e inspeção de importadores, distribuidores, farmácias e outros
locais de venda de medicamentos;
Licenciamento e inspeção das BPM dos fabricantes;
Registro de medicamentos (segurança, qualidade, eficácia);
Controle do marketing e das informações a respeito de medicamentos;
Vigilância pós-marketing (segurança, qualidade, eficácia).
3 – Padrões Profissionais
Estabelecimento de padrões profissionais para farmacêuticos, médicos e outros
profissionais de saúde;
Licença para farmacêuticos, para médicos e para outros profissionais de saúde;
Desenvolvimento e reforço dos códigos de conduta.
4 – Acesso a Medicamentos Essenciais
Subsídio às despesas com medicamentos essenciais para os menos favorecidos;
Assegurar o acesso geográfico de medicamentos essenciais;
Fornecer medicamentos essenciais nas unidades de saúde da rede pública;
Assegurar níveis apropriados de consumo de medicamentos e vacinas para doen-
ças de notificação compulsória.
5 – Uso Racional de Medicamentos
Assegurar a disponibilidade e disseminação de informação não enviesada;
Educação continuada dos profissionais de saúde;
Educação dos pacientes.
Fonte: Bennett et al. (1997, p.24).

78 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Do ponto de vista dos diversos atores que interagem na di-
nâmica dos mercados farmacêuticos, não existe muita divergência
quanto ao que se refere às funções 2, 3, 4 e 5. As divergências
emergem quando o assunto é o primeiro grupo de funções, mais
especificamente a questão do monitoramento de preços. Contra a
intervenção direta do Estado no tocante a preços, estão os fabrican-
tes, distribuidores e comerciantes de medicamentos, as associações
patronais e, inclusive, algumas agências multilaterais como o Ban-
co Mundial — conforme é possível observar em Saxenian (1994).
Portanto, a questão da regulação do preço merece uma análise
mais detalhada.
Segundo Bennett et al. (1997), é possível vislumbrar duas abor-
dagens alternativas para melhorar o acesso aos medicamentos em
termos de capacidade de consumo em relação à renda, um relacio-
nado à demanda (esquemas de financiamento) e outro relacionado
à oferta (redução de preços).

A questão dos preços pela ótica das ações sobre a


demanda
No caso do financiamento e acesso a medicamentos, assim como
a serviços de saúde, pode se dar através de quatro arranjos insti-
tucionais principais: desembolso direto (out-of-pocket) pelos con-
sumidores, sistema totalmente público, por meio de empresas de
planos de saúde ou seguros e as Health Maintenance Organizations
(HMOs) e modalidades de copagamento podendo envolver tanto
consumidores, como planos de saúde e empresas de seguros e go-
verno. As possibilidades de modelos de financiamento e provisão
de bens de saúde podem seguir quatro formatos principais, con-
forme Quadro 6:
Quadro 6. Sistemas de financiamento e distribuição de medicamentos
Financiamento
Público Privado
Distribuição
Sistemas de reembolso
Central de Medicamentos
social; Sistemas de contra-
Público para provedores governa-
tação de oferta de medica-
mentais
mentos
Taxas em Sistemas de Saú- Sistemas Totalmente Pri-
Privado
de Governamentais vados
Fonte: Bennett et al. (1997).

2. Indústria farmacêutica internacional 79


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
No sistema privado puro, o financiamento pode se dar por
desembolso direto, através de empresas, planos de saúde, seguros
ou HMOs, ou modalidades de copagamento entre esses últimos e
os consumidores, nas quais as despesas são divididas entre consu-
midores e organizações envolvidas no financiamento. No sistema
público puro, o Estado é o responsável pelo financiamento e pro-
visão. Nos sistemas combinados, o mix de arranjos possíveis entre
fontes de financiamento e provisão é mais amplo. Em todos os sis-
temas, surgem quase sempre questões relacionadas à efetividade
do acesso a bens e serviços pela sociedade, bem como qualidade
dos bens e serviços à disposição da população. O Quadro 7 sugere
alguns critérios para avaliar os mecanismos de financiamento de
medicamentos.

Quadro 7. Critérios para avaliar mecanismos


de financiamento de medicamentos
Factibilidade Resultados
Viabilidade financeira e sustentabilida- Equidade: O mecanismo promove o
de: pode o mecanismo gerar recursos acesso universal aos medicamentos
suficientes no longo prazo? essenciais?
Requisitos Institutionais/administrati-
Eficiência: Para os recursos investidos,
vos: Quais elementos institucionais e/
está se atingindo o benefício de saúde
ou gerenciais são necessários para que
máximo?
o mecanismo seja bem sucedido?
Uso Racional: O mecanismo de financia-
Aceitação: Qual é a aceitação pública e
mento encoraja a prescrição e uso de
política do mecanismo?
medicamentos apropriadamente?
Fonte: WHO (1998).

O Quadro 8 apresenta algumas formas de distribuição pública


de medicamentos e exemplos de onde elas foram aplicadas.

80 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Quadro 8. Esquemas de distribuição pública de medicamentos
Descrição Responsabilidades Exemplos
Monitora-
Contratação Armaze- mento e
(correntes e
dos Forne- namento e Qualidade
passados)
cedores Dispensação de Medica-
mentos
Lojas Centrais: Medi-
camentos adquiridos Vários Países
e distribuídos por CMS CMS CMS, ARN na África, Ásia,
uma unidade governa- entre outros
mental centralizada
Agência Autônoma de Benin, Haiti,
Oferta: Maior parte da EAM, Agên- Índia (Tamil
Agência Agência
aquisição e distribui- cia Autôno- Nadu), Sudão,
Autônoma Autônoma
ção é administrada ma, ARN Uganda, Zâm-
por agências bia
Sistema de dispensa-
ção direto: Aborda-
gem descentralizada
com o objetivo de
estabelecer o forne- Chile, Indo-
Fornecedo-
cedor e o preço para EAM EAM, ARN nésia, Peru,
res
cada item. Medica- Tailândia
mentos são dispensa-
dos pelo fornecedor
para as principais
unidades locais
Sistema de Vendedor
Principal: Estabelece
África do Sul
contratos com for-
(Nordeste do
necedores de medi-
Transvaal),
camentos e contrato
EAM, Vende- Estados Uni-
separado com um Vendedor
EAM dor Princi- dos (várias
vendedor único prin- Principal
pal, ARN unidades de
cipal (single prime
atendimento à
vendor), que distribui
saúde locais e
os medicamentos
estaduais)
para as principais
unidades locais
Oferta Totalmente
Pública: Atacadistas
Aquisição e
privados e farmácias
distribuição
administram todos os ARN
por empre-
aspectos da oferta de
sa privada
medicamentos com as
unidades do governo
Notas: CMS = lojas centrais; ARN = autoridade reguladora nacional; EAM = escritório
de aquisição de medicamentos (Ministério da Saúde ou outros departamentos go-
vernamentais). Fonte: WHO (1998).

2. Indústria farmacêutica internacional 81


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
A questão dos preços pela ótica das ações sobre a oferta
A questão dos preços dos medicamentos é cada vez mais central
nas políticas de regulação do setor, uma vez que o poder de fixação
de preços por parte dos fabricantes pode afetar negativamente o
acesso a medicamentos, principalmente nos países de renda mais
baixa e com maiores desigualdades sociais.
As diferenças observadas entre as políticas de inovação das
empresas localizadas nos países desenvolvidos e nos países em de-
senvolvimento, vistas na seção acima, mostram que o argumento
frequentemente utilizado para o não controle de preços seria o de-
sestímulo à inovação. Uma vez que a inovação é concentrada nos
países desenvolvidos, esse argumento só faria sentido para esse tipo
de país. Entretanto, nesses países, mesmo quando não há interven-
ção reguladora no tocante a preços, as características institucionais
da demanda como, por exemplo, a cobertura do pagamento de
medicamentos por planos ou seguros de saúde, ainda que privados,
garante, através do poder de compra, a regulação dos preços.
Adicionalmente, se tomarmos o conjunto de países desenvol-
vidos e subdesenvolvidos, vê-se que a regulação dos preços é rea-
lizada de fato somente nos primeiros. As empresas multinacionais,
por tomarem decisões em relação aos mercados em que atuam de
forma global, adotando preços mais altos nos países em que não
há controle e menores nos que há, e a ausência de mecanismos de
compras capazes de estabelecer preços mínimos e máximos nos
países em desenvolvimento prejudicam muito a possibilidade de
controles mais efetivos de preços.
É possível argumentar a favor de algum tipo de intervenção
reguladora no tocante a preços. Isso porque se observa certo po-
der de arbitragem, por parte das empresas, no estabelecimento dos
preços, que pode influenciar de maneira negativa os objetivos con-
templados pela política de saúde pública, como a universalização
do acesso a medicamentos.
Dentre os diferentes mecanismos que podem servir de ferra-
mentas para o setor público exercer seu papel no tocante a preços
pelo lado da oferta, destacam-se (Bennett et al., 1997, p. 51-60):

82 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
 Informação sobre os preços
Espera-se que a disseminação da informação sobre os preços
pelo setor, principalmente entre os profissionais de saúde, tenha
impacto sobre a prescrição de medicamentos genéricos, quando
possível, podendo se traduzir em maior acesso. Os métodos para
isto seriam listagens de informação sobre os preços ou preços re-
lativos em manuais terapêuticos; listagem da informação sobre os
preços nas farmácias (ex.: Filipinas); impressão dos preços ao con-
sumidor nas embalagens; publicação regular de um guia de preços
farmacêuticos (ex.: Colômbia); publicação de uma lista de preços
selecionada em jornais locais ou outros meios de comunicação (ex.:
Argentina); consulta e divulgação de informação sobre compara-
ção de preços internacionais, conforme recomendam algumas or-
ganizações como a OMS, ou a publicada por organizações como o
Management Sciences for Health e o International Trade Centre.

 Competição de preços através da substituição por genéricos


A introdução de regulamentação específica para substituição
de medicamentos genéricos vem sendo utilizada por diversos paí-
ses, principalmente os mais desenvolvidos, para introduzir compe-
tição via preços naqueles medicamentos cujas patentes já expira-
ram. Mas o sucesso dessa política depende de (Bennett et al., 1997,
p. 54): uma legislação e uma regulação adequadas (procedimentos
menos burocráticos para registro com foco na qualidade; desenvol-
vimento de produto e autorização durante o período da patente;
provisões que permitam, encorajem ou requeiram prescrição es-
pecífica de genéricos ou substituição; requerimento de etiquetas e
informação contendo nomes genéricos); capacidade de assegurar a
qualidade dos genéricos (desenvolvimento de listas de substitutos
e não substitutos; procedimentos para demonstrar bioequivalên-
cia; capacidade nacional de assegurar qualidade; capacidade para
inspecionar fabricantes e comerciantes); aceitação pelo público e
pela classe médica (envolvimento de associações profissionais no
desenvolvimento da política; implementação em fases, começando
com a permissão para substituição; requerer uso de nome genérico
em todos os cursos e treinamento de profissionais de saúde; cam-

2. Indústria farmacêutica internacional 83


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
panhas de promoção direcionadas aos consumidores e aos profis-
sionais); fatores econômicos (informação pública e profissional dos
preços; programas de reembolso com base em preços de referên-
cia; controle dos preços no varejo que favoreça a dispensação de
genéricos; incentivos para a indústria de genéricos).

 Controle de Preços
Existem diferenças de preços em diversos países e que estão
relacionadas aos condicionantes da dinâmica da indústria e do fun-
cionamento dos mercados farmacêuticos. Da mesma forma, exis-
tem diferentes mecanismos de controle de preços tanto sobre pro-
dutores quanto sobre a distribuição, conforme o Quadro 9.
Quadro 9. Controle de preços sobre os produtores
e sobre os distribuidores

Sobre os produtores
 preços baseados no custo (cost-plus pricing): preços negociados entre o fabri-
cante e a autoridade nacional, baseados no custo da matéria-prima, produção,
marketing e outros custos do produtor, e uma margem razoável para lucro
 preços de referência (reference pricing): também conhecidos como yardstick
ou benchmarking, leader pricing – fixa-se um limite para o preço de um medi-
camento individual por comparação ao preço de outros medicamentos. Preços
de referência interna baseiam-se na comparação com medicamentos já exis-
tentes no mercado nacional e que possuem efeitos terapêuticos semelhantes.
Preços de referência externa consideram o preço de medicamentos idênticos
ou comparáveis em outros mercados
 preços baseados no lucro (profit-based pricing): controle sobre os lucros ou
sobre o retorno do capital investido é feito em uma base empresa por empre-
sa, com níveis de lucros fixados, em parte, sobre o risco que a empresa corre.
Dentro dos limites de lucro gerais, as empresas são livres para fixar os preços
dos produtos individuais
Sobre os distribuidores
É preciso considerar que parte dos preços dos medicamentos ao consumidor
final embute as margens dos distribuidores e das farmácias, e que, portanto,
podem ser vislumbrados quatro métodos básicos para determinar a margem da
distribuição para medicamentos
 Custo + percentagem fixa
 Custo + percentagem decrescente
 Custo + taxa diferencial sobre dispensação
 Preço máximo permitido

Fonte: Elaboração própria a partir de Bennett et al., 1997, p. 54-59.

Existem vários argumentos a favor e contra o monitoramento


de preços. De um lado aqueles que se opõem a qualquer tipo de
controle de preços e, de outro lado, aqueles que advogam a neces-
sidade de alguma forma de intervenção. O Quadro 10 resume esse
debate.

84 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Quadro 10. Argumentos a favor e contra o monitoramento de preços
A Favor Contra
 São cumbersome e propícios à ma-
nipulação
 Encorajam práticas de falsificação
contábil
 Preços individuais mais baixos  Geram escassez (real ou artificial)
 Menores gastos com medicamentos  Não têm impacto sobre os gastos do
 Melhor informação sobre preços para paciente ou gastos totais com saúde
seguradores e consumidores porque encorajam o uso de maiores
 São necessários porque somente as quantidades de medicamentos e
forças de mercado não garantem medicamentos mais caros
competição  Reduzem inovação e competição
 São desnecessários para a maioria
das necessidades terapêuticas se os
medicamentos forem vendidos com-
petitivamente pelo nome genérico.
Fonte: Bennett et al. (1997, p.56).

2.6.2. As experiências internacionais na regulação do


setor farmacêutico
As diferenças existentes entre os mercados farmacêuticos mundiais
traduzem-se em diferentes formas de intervenção do governo no
sentido de minimizar os problemas decorrentes das características
tecnoeconômicas, do perfil de demanda, da estrutura de mercado
ou das atitudes comportamentais das empresas do setor. De fato, a
equidade no acesso a medicamentos está relacionada a diferentes
aspectos, tais como perfil da distribuição de renda entre as dife-
rentes camadas da população, perfil do sistema de financiamento
e distribuição dos medicamentos, nível de informação, representa-
tividade dos gastos com medicamentos em relação aos gastos com
saúde e em relação ao nível de renda.
No entanto, observa-se que os objetivos perseguidos com a re-
gulação dos mercados farmacêuticos são bastante regulares entre as
distintas experiências internacionais. Entre eles estão: as melhorias
no acesso, na qualidade, nos padrões, na manutenção dos preços e
na garantia de propriedade industrial.
A regulação dos mercados farmacêuticos também pode diferir
no que diz respeito aos critérios adotados para fundamentar essa
regulação. Eles podem ser de natureza sanitária ou de natureza
econômica. No primeiro caso, regulamenta-se toda a comercializa-
ção e publicidade de medicamentos, destacando-se aqui a garantia

2. Indústria farmacêutica internacional 85


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
da segurança e da eficácia do medicamento – cuja comprovação é
um processo longo junto às autoridades sanitárias nacionais – e a
garantia de acesso da população aos medicamentos. No segundo
caso, busca-se tanto garantir condições de competitividade para a
indústria, através de incentivos às atividades de P&D, proteção da
propriedade intelectual, proteção da indústria nacional, dentre ou-
tros incentivos à indústria, quanto conter os gastos com saúde, que
vêm crescendo no mundo inteiro, por meio de políticas de moni-
toramento de preços.
Finalmente, é importante mencionar que a discussão sobre a
eficácia de intervenção de governos no mercado farmacêutico é um
assunto delicado e quase sempre o centro de debate político e eco-
nômico. A natureza e o grau de intervenção estão, em geral, ligados
à questão do financiamento e provisão de bens e serviços de saúde,
e quase sempre se dirigem ao comportamento não competitivo das
empresas, listas de medicamentos essenciais, medicamentos órfãos,
correção de assimetrias de informações entre pacientes, profissio-
nais médicos e indústria, uso racional de drogas, contenção de cus-
to, entre outras. O número de agentes envolvidos (consumidores,
governos, empresas de seguro saúde, produtores de medicamentos,
distribuidores e farmácias, organismos multilaterais, associações de
classe, entre outros) e as suas diferentes lógicas implicam que as
avaliações acerca dessa eficácia não sejam consensuais.
Nos países onde há total controle de preços pelas autoridades
governamentais, pode-se observar que o nível de preços não é tão
alto, o que beneficia os consumidores e contribui para o bem-estar
da população. Além disto, a regulação na competição facilita a cria-
ção de indústrias farmacêuticas domésticas, ajudando a reduzir os
preços dos medicamentos.
Empresas multinacionais algumas vezes reagiram ao controle
de preços limitando o fornecimento de certos medicamentos para o
mercado local, usando o argumento de que os preços fixados pelo
governo não permitiam retornos dos gastos em P&D e elas não
poderiam operar com perdas. Infelizmente, as indústrias nacionais
não foram capazes de ocupar o espaço deixado pelas multinacio-
nais, e, quando atuaram, ainda tiveram margem para aumentar
seus preços para o nível fixado pelas multinacionais.

86 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Em um nível maior de detalhamento, apresentamos a seguir
a experiência de um conjunto selecionado de países, a partir da
revisão da literatura internacional sobre experiências em controle
de preços.

A experiência nos países da OCDE


A dificuldade de fixação dos preços no caso da indústria far-
macêutica está relacionada ao fato de que eles podem ser fixados
pelo nome do medicamento, enquanto, na verdade, o que importa
é a quantidade de uma determinada substância química com pro-
priedades terapêuticas.
Os países da OCDE utilizam uma combinação de critérios
para fixar os preços dos medicamentos. Esses critérios incluem:
 O valor terapêutico da droga: os métodos usados variam de
um país para outro. Alguns países exigem estudos de custo-
efetividade nos relatórios sobre a aplicação de novas drogas.
 Referência a produtos existentes: Os preços finais são resulta-
dos de negociações com as companhias, que levam em consi-
deração os preços dos produtos similares.
 Referência à comparação internacional: esse método tem sido
usado pela maior parte dos países da OCDE, mas é particular-
mente importante no caso de países pequenos ou médios. Na
Austrália, por exemplo, os preços são fixados com referências
aos níveis europeus, além de outros procedimentos, tais como
estudos de farmacoeconomia. No Canadá, utiliza-se sistema
semelhante, através de uma média entre uma cesta de preços
de um conjunto de países desenvolvidos. Isto também signifi-
ca que o mercado farmacêutico mundial é muito mais unido,
não podendo ser considerado como mercados nacionais frag-
mentados.21

21. Quando os preços são comparados, no entanto, uma distinção maior deve ser
feita entre países que fixam preços pela “caixa padrão” do medicamento e países
que utilizam métodos sofisticados para obterem um preço apropriado correspon-
dente aos miligramas ou doses diárias do princípio ativo. No primeiro caso, o me-
canismo de fixação de preços é altamente vulnerável à manipulação da indústria:
pequenas mudanças na embalagem ou recomposições na fórmula química ajudam
a fazer com que o produto pareça novo. O novo produto pode ter aumentado de
preço e as propriedades terapêuticas terem sido mantidas. Essa substituição resulta
numa inflação “disfarçada”, não mensurada pelos índices usuais. Estratégias de pre-
ços de referência têm sido desenvolvidas por esses motivos. O preço de referência

2. Indústria farmacêutica internacional 87


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
 Contribuição do medicamento para a economia: esse método
é utilizado em países como Bélgica, Hungria, Coreia, Espanha,
Turquia, etc. Os países também diferem na extensão em que os
preços são fixados. No Canadá, os preços são fixados em um
nível máximo para medicamentos patenteados desde 1987. Os
preços podem ser fixados quando os medicamentos entram no
mercado, podendo ser congelados ou aumentados posterior-
mente. O ajustamento pela taxa de inflação é essencial.
 Preços relativos de comércio dos medicamentos: estudos mos-
tram que existem dois grupos de países: países com preços
livres e países com preços controlados. Mostram também que,
onde havia testes de qualidade rígidos associados a preços li-
vres, os preços cresceram bem menos.

Na discussão a respeito do efeito do controle de preços nos


gastos e no bem-estar também deve ser destacado que:
 Os gastos não aparentaram ser menores, não importando o
tipo de ajuste de preços.
 Avaliar o bem-estar é mais complexo. Normalmente, o bem-
estar do consumidor aumenta quando uma maior quantidade
de bens por um menor preço pode ser adquirida. Isto depende,
no entanto, do uso apropriado do medicamento. Os efeitos indi-
retos em P&D e inovação também devem ser considerados.
 O controle de preços apresenta ambiguidades. Por um lado, os
preços tendem a cair em países que fixam preços dos medica-
mentos; por outro, o controle de preços pode conter incenti-
vos implícitos ao aumento dos preços dos produtos.
 Embora o controle de preços venha sendo utilizado como
principal mecanismo de contenção de gastos, esses gastos ten-
dem a ser crescentes devido a introdução permanente de no-
vos medicamentos e mudanças no perfil epidemiológico.

permite aos reguladores controlarem a contribuição real do princípio ativo de um


medicamento, evitando a substituição artificial por produtos mais caros. Para tanto,
vários métodos de avaliação têm sido desenvolvidos: para um produto químico
similar, testes são realizados para comparar produtos com estrutura molecular pare-
cida; para incrementos substanciais nos produtos, há a comparação de preços inter-
nacionais utilizando a média da taxa de câmbio dos últimos três anos; para similares
ou moderado incremento terapêutico do produto, é feita a comparação entre classes
terapêuticas, com medicamentos comparáveis.

88 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
A experiência nas Américas
Na década de 1970, a posição adotada pelo governo de vários paí-
ses em relação ao nível elevado dos preços dos medicamentos foi o
aumento da regulação e o controle das práticas comerciais das in-
dústrias multinacionais. Além disso, esforços também foram feitos
para incentivar o fornecimento dos genéricos, como forma de re-
duzir os custos e criar mecanismos de competição nos mercados.
Segundo Sarmiento (1995), os países americanos adotam dois
métodos básicos de controle de preços: o controle total e o con-
trole intermediário. O controle total pode implicar aumento da
burocracia e escassez real ou artificial de produtos, se os órgãos
governamentais não estiverem capacitados para monitorar preços.
Consequentemente, o controle intermediário de preços, que com-
bina controle estatal com liberdade de mercado, parece ser o mais
apropriado para uma política de medicamentos que procura man-
ter a estabilidade de preços para os consumidores e a eficiência
dos procedimentos. Ainda assim, a elaboração de uma estratégia
ótima deve ser completada pelo desenvolvimento de programas de
medicamentos genéricos, que mostraram seus méritos em alcançar
os objetivos de eficiência e equidade nos países que já o possuem.
Os Quadros 11 e 12 descrevem as particularidades de cada sistema
em cada país.

Quadro 11. Método de fixação de preços com total controle estatal


nos países da América, 1994
País – autoridade Preço para a farmácia (Mar- Preço para o público
controladora gem do produtor) (Margem da farmácia)
Produtos produzidos domes-
ticamente: custo de produção
Equador + 20% de margem.
Margem da farmácia 25%.
(Ministro da Saúde) Produtos importados: preço
c.i.f. + custos de operação+
20% de margem.
Honduras Produtos importados: preço
(Ministro da Econo- c.i.f. + custos de operação+ Margem da farmácia 27%.
mia) 4% de custos financeiros.
Panamá Custos de acordo com a
Margem da farmácia
(Secretaria de Contro- documentação + margem
30-33%.
le de Preços) (25-30%).
Custos de acordo com a
Paraguai
documentação.
Fonte: Sarmiento (1995).

2. Indústria farmacêutica internacional 89


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Quadro 12. Método de fixação de preços com controle intermediário
nos países da América, 1994
País – autoridade Preço para a farmácia Preço para o público
competente (Margem do produtor) (Margem da farmácia)
Máximo de 10,5% retailers Margem da farmácia não
Brasil
discount. controlada.
O governo controla o preço
final de um número limitado
de medicamentos. Controle
Margem da farmácia não
Canadá sobre a patente de medi-
controlada.
camentos. Ajuste anual de
acordo com a média do IPC
dos três anos anteriores.
Colômbia
Liberdade de precificação
(Ministro do Desenvol-
para 80% dos produtos.
vimento Econômico)
Controle esporádico de mar-
Costa Rica gens. Margem da farmácia de
(Ministro da Econo- Importador: c.i.f.+30%. 30%, e 25% para medica-
mia) Para medicamentos essen- mentos essenciais.
ciais 25%.
Produtores aplicam uma regu-
lação própria. Indicadores
México
que atualizam preços são
determinados pelo governo.
Produtores fixam preços de
venda de acordo com os
custos, margens e preços
Uruguai
competitivos. O governo
monitora os requisitos de
aumentos.
40,5% retailers discount.
Venezuela
A cesta básica é controlada.
Fonte: Sarmiento (1995).

A regulação através do price cap: a experiência dos EUA


Segundo Abbott (1995), há vários problemas potenciais que devem
ser firmemente monitorados quando se aplica esse tipo de regula-
ção para a indústria farmacêutica. Ao testar um modelo de simu-
lação para determinar a magnitude do problema do preço inicial
nas condições de mercado encontradas na indústria farmacêutica,
nos Estados Unidos, Abbott (1995) observou que essas simulações
sugerem que o impacto será um aumento de 50% nos preços dos
novos produtos. Como resultado desse aumento, há uma grande
perda do consumidor nos anos iniciais. O valor presente do bem-
estar social pode ser positivo ou negativo, dependendo da taxa de
desconto assumida.

90 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
O modus operandi da regulação price cap
A regulação price cap (RPC) é uma regulação alternativa para a
regulação tradicional de taxa de retorno e foi introduzida para lidar
primeiramente com as consequências dos altos custos de regulação
na eficiência produtiva e com os altos custos administrativos da
regulação da taxa de retorno. Além disto, a RPC oferece à empresa
alguma flexibilidade na precificação. Com o RPC, a relação entre
o preço do medicamento e o custo de produção é quebrada, forne-
cendo um incentivo às indústrias para produzirem com eficiência.
Os ganhos provenientes do aumento da produtividade são repar-
tidos com os consumidores através de um mecanismo que leva à
redução dos preços reais. Ou seja, permite-se que o nível de preços
da empresa cresça à mesma taxa da inflação menos uma porcen-
tagem fixa, chamada fator “X”. Em uma indústria multiprodutora,
o price cap é aplicado a um índice dos preços da indústria, ao invés
da criação de índices de preços por produto. Frequentemente, a
quantidade vendida por um determinado período é usada como
peso para a construção do índice de preços. Isto é,
Σ(P.Q)< (1+ IPC – X). Σ (P.Q),
onde P indica o preço e Q, a quantidade vendida.
No entanto, alguns autores afirmam que a regulação price cap
só é eficiente em mercados estáveis. Se a demanda cresce, a empre-
sa regulada tem um incentivo para aumentar os preços dos produ-
tos cuja demanda está crescendo e diminuir os preços dos produtos
cuja demanda está caindo (ou crescendo menos rapidamente). As-
sim, esses autores concluem que esse tipo de regulação é inapro-
priado para mercados onde a demanda é volátil.
A indústria farmacêutica é caracterizada por demanda volátil
e ciclos de vida curtos dos medicamentos. Essas rápidas mudanças
na demanda dos produtos individuais não existem, por exemplo,
na indústria de telecomunicação, onde os preços são regulados por
price cap. Esse problema cria dificuldades para a regulação. Na teo-
ria, essa situação poderia ser revertida definindo índices de preços
por medicamento. No entanto, na prática isto seria de difícil imple-
mentação na indústria farmacêutica por causa do grande número de
produtos. Além disto, existem várias maneiras em que um mesmo
princípio ativo pode ser definido como sendo um produto novo.

2. Indústria farmacêutica internacional 91


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Sendo assim, é muito difícil detectar se o produto mudou para fugir
da regulação price cap ou se o “novo” produto é realmente melhor
para os consumidores. Somente se forem atenuados os incentivos
para aumento de preços criados pela demanda flutuante, o price cap
é facilmente manipulado pela indústria farmacêutica.
Existem vários problemas que afetam a regulação dos preços
na indústria farmacêutica. O primeiro deles é a distorção introdu-
zida por meio das diferentes taxas de crescimento da demanda dos
medicamentos. No caso do mecanismo de price cap, o problema
começa quando o mecanismo de price cap é aplicado a vários me-
dicamentos e resulta num aumento dos preços dos medicamentos
novos, cuja demanda cresce a uma taxa mais elevada compensada
por decréscimo dos preços dos medicamentos antigos, cuja deman-
da está caindo (ou aumentando menos rapidamente), devido ao
aumento da competição ou obsolescência. Esse problema pode ser
resolvido com a definição de um índice de preços para cada medi-
camento. Porém, existe aí uma dificuldade devido às diferentes for-
mas que um mesmo princípio ativo pode apresentar no mercado.
O segundo problema analisado da regulação independe do
índice de preços utilizado. Esse problema está relacionado com o
preço com o qual as empresas introduzem um novo medicamento
no mercado. Se uma empresa fixa um preço, os resultados da simu-
lação sugerem que, na melhor das hipóteses, os benefícios da regu-
lação são atrasados por sete anos, e a política destinada a proteger
o interesse dos consumidores acaba por prejudicá-los. A questão
é saber como o regulador pode estar atento à questão dos preços
iniciais. Ou seja, como determinar um preço ótimo para um medi-
camento que está entrando no mercado? A regulação price cap não
fornece uma resposta para essa questão.
Finalmente, escolher a política de regulação farmacêutica de in-
teresse público requer muita pesquisa. Mudanças na forma como os
medicamentos são precificados podem levar o governo a chancelar a
conduta do setor que troca o bem-estar de hoje pelo de amanhã.

O controle de preços no Canadá


Conforme estudo de Anis e Wen (1998), a regulação da indústria
farmacêutica do Canadá ocorre em dois níveis: estadual e fede-

92 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
ral. No nível estadual, cada estado estabelece preços específicos
e outros guias de custos. O desenvolvimento mais recente nessa
área é o requerimento de estudos de custo-efetividade de novos
medicamentos. O governo federal assume a responsabilidade em
assegurar a competitividade do mercado.
O Canadá usou durante muitos anos a licença compulsória
como reguladora dos preços. Dada a pequena parcela do mercado
canadense no mercado farmacêutico mundial (por volta de 3%), o
governo acreditava que tal política não afetava o nível dos gastos
em P&D das multinacionais. Com o GATT e as pressões interna-
cionais e nacionais no sentido de restaurar o reconhecimento do
termo de patente, o Canadá deixou de usar a licença compulsória
como reguladora de preços. Sendo assim, o governo decidiu adotar
um método alternativo – a regulação dos preços.

O controle de preços no nível federal


Para converter o efeito potencial de um mercado não competitivo
trazido pela legislação patentária canadense, foi criado o Patented
Medicines Prices Review Board (PMPRB), com o objetivo de monito-
rar o comportamento dos preços das indústrias multinacionais. O
PMPRB também assumiu a responsabilidade de monitorar o nível
de gastos em P&D das indústrias farmacêuticas. No entanto, sua
função principal é a de prevenir o abuso da posição monopolista
das empresas multinacionais durante o período de exclusividade.
O PMPRB estabeleceu as regras que definem os preços de medica-
mentos como sendo “aceitáveis” ou “excessivos”.
Além do mais, na época de implantação do PMPRB, as revi-
sões dos preços dos medicamentos que já estavam no mercado
foram aceitas como não excessivas, sem nenhum critério de ava-
liação. A regulação foi revista, não sendo permitidos aumentos
cumulativos.
A regulação do PMPRB foi introduzida em 1987 e passou
por algumas modificações desde então. O PMPRB usou o termo
“excessivo” para caracterizar um preço elevado de um novo me-
dicamento ou um aumento considerável no preço de um medica-
mento já existente. As diferentes categorias existentes na regulação
são sintetizadas a seguir:

2. Indústria farmacêutica internacional 93


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
 Categoria 1: novas versões para medicamentos já existentes.
O preço é considerado excessivo se há muita disparidade em
relação aos preços das versões já existentes.
 Categoria 2: melhoria substancial em um medicamento. O
preço é considerado excessivo se excede: (i) o preço de todos
os medicamentos da mesma classe terapêutica ou (ii) a média
dos preços do mesmo medicamento em sete países.
 Categoria 3: novas entidades químicas, que oferecem melho-
ria pequena, moderada ou nenhuma. O preço é considerado
excessivo se excede os preços de todos os medicamentos da
mesma classe terapêutica.

A mudança nos preços de medicamentos já existentes é con-


siderada excessiva se o aumento dos preços excederem o aumento
do IPC. Se, em um dado ano, as firmas não tivessem aumentado
seus preços de acordo com o IPC (que é considerado aumento jus-
tificável), elas poderiam, em períodos subsequentes, aumentá-los
com base no IPC cumulativo dos três anos precedentes.
Depois de um tempo de vigência da regulação, ficou evidente
que, apesar do preço introdutório de um novo medicamento estar
completamente regulado, o crescimento dos preços dos medica-
mentos já existentes não eram fortemente monitorados/regulados.
Além disto, o preço de qualquer medicamento (todas as cate-
gorias) passou a ser considerado excessivo se excedesse o preço do
mesmo medicamento em todos os países listados na regulação.
De acordo com o modelo matemático desenvolvido por Anis
e Wen (1998), a regulação obteve mais sucesso nas categorias 2 e 3
acima discriminadas. Foram observadas na categoria 1 mudanças
nos preços das versões existentes das drogas que eram introduzidas
como “novas” no mercado. Esses aumentos de preços das versões
já existentes não eram “cobertos” pela regulação. Dessa forma, a
regulação incentiva as indústrias a manipularem o espectro de pre-
ços de seus produtos.

94 2. Indústria farmacêutica internacional


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
3. A indústria farmacêutica no Brasil

O parque industrial brasileiro no que se refere à produção de me-


dicamentos é bastante desenvolvido, existindo capacidade produ-
tiva pública e privada, tanto dos produtos finais como de alguns
insumos farmacêuticos da química fina.22 Além disto, cabe ressaltar
que o Brasil está entre os 10 maiores mercados farmacêuticos do
mundo, conforme visto na seção anterior.
A grande diferença em relação ao mercado farmacêutico dos
países desenvolvidos é o domínio das empresas multinacionais que
lideram também, no Brasil, esse mercado. O resultado é uma baixa
taxa de inovação no mercado brasileiro, já que as empresas multi-
nacionais realizam a maior parte das pesquisas em suas matrizes.
A política de medicamentos genéricos, criada em 1999, permitiu o
crescimento de algumas empresas privadas nacionais. Apesar de
termos empresas nacionais de porte equivalente ao das multinacio-
nais em território brasileiro e, portanto, massa crítica para a realiza-
ção de inovações, já que as maiores empresas têm uma propensão
maior a inovar, os produtores de genéricos prescindem da capa-
cidade de inovação para estarem posicionados entre as maiores
empresas do mercado.
Infelizmente, esse movimento não foi acompanhado pelas
empresas públicas que, ainda em 2009, produzem principalmente
medicamentos similares, constituindo-se em um sério entrave para
o avanço dos medicamentos genéricos no âmbito da distribuição
pública realizada pelo SUS (Miranda et al., 2009).

22. A indústria produtora de intermediários químicos ou fármacos para a indústria


farmacêutica denomina-se indústria de química fina e envolve a produção de outros
intermediários químicos além dos vendidos à indústria farmacêutica. A partir dos
anos 1990, com a liberação das tarifas alfandegárias, essa indústria, no Brasil, sofreu
um desestímulo muito grande, aumentado na década de 2000 pela concorrência de
produtos indianos e chineses a baixo custo.

3. A indústria farmacêutica no Brasil 95


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
3.1. Características da oferta
Em relação à principal matéria-prima dos medicamentos farmo-
químicos, os fármacos, observa-se que a maior parte é de origem
importada, tanto em termos monetários quanto em termos de uni-
dades farmacêuticas. Essa é uma das características que distingue a
indústria farmacêutica brasileira da indústria farmacêutica dos prin-
cipais países líderes, que, como visto acima, integra a produção da
fabricação da matéria-prima até a formulação de medicamentos.
Essa situação se agravou mais com a abertura do mercado,
nos anos 1990, quando se observou um aumento considerável na
importação de fármacos. Bermudez et al. (2000) indicam que a
primeira aceleração nessa taxa pode ser observada em 1993 e a
segunda em 1995.
Na Tabela 10, confeccionada a partir de dados de estudo mais
recente realizado pela Abiquim, podemos ver nitidamente os resul-
tados da abertura do mercado de fármacos às importações, como
explicitado acima. Após uma severa queda no faturamento líquido
da indústria química no segmento de produtos farmacêuticos, ocor-
rida nos anos 2000 e 2002, a indústria iniciou alguma recuperação
em 2003. Quando comparamos o faturamento ao longo dos anos
selecionados, verificamos que a indústria só retomou o patamar
alcançado em 1998 no ano de 2005, ou seja, cerca de sete anos
mais tarde. A retomada do crescimento se deve principalmente ao
aumento do consumo interno baseado numa melhora da distribui-
ção de renda, decorrente das transferências governamentais.
Estudo anterior realizado pela Abiquim (2000), porém mais
detalhado, analisou amostra de 93 produtos com importação supe-
rior a US$ 10 milhões. Entre esses, 17 eram fármacos (12 para uso
humano e 5 para uso veterinário), conforme Tabela 11, a seguir.

96 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Tabela 10. Faturamento líquido da indústria química brasileira, 1990-2008 (US$ bilhões)
Tx.
Segmentos 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Cresc.
Média
Produtos químicos de
19 17,4 19,2 19,9 18,5 22,8 19,4 24,1 33 39,4 45,4 55,1 61,2 11,3
uso industrial
Produtos Farmacêu-
2,7 3 5 7,6 8,7 6,7 5,2 5,6 6,8 9,9 11,9 14,6 17,1 19,5
ticos
Hig. pessoal, perf. e
1,6 1,7 2,4 4,2 4,3 3,4 2,8 3,1 3,9 5,5 6,9 8,8 10,4 19,6
cosméticos
Adubos e fertilizan-
2,3 1,7 2,2 3 2,9 3 3,3 4,3 5,6 5,5 5,6 9 14,2 19,1
tes

3. A indústria farmacêutica no Brasil


Sabões e

Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
2 2 2 2,8 3,1 2,3 2,1 2,1 2,7 3,9 4,6 5,5 6,3 11,8
detergentes¹
Defensivos agrícolas 1,1 0,9 1,4 1,8 2,6 2,5 1,9 3,4 4,9 4,2 3,9 5,4 6,9 20,9
Tintas, esmaltes e
1,7 1,7 1,8 2 2 1,5 1,1 1,3 1,5 1,9 2,1 2,4 3 6,3
vernizes
Outros 1,4 1,5 1,6 1,5 1,7 1,4 1,5 1,6 1,8 2 2,2 2,7 2,8 6,4
TOTAL 31,8 29,9 35,6 42,8 43,8 43,6 37,3 45,5 60,2 72,3 82,6 103,5 122,0 12,7
(1) O faturamento de 1990 a 1994 foi estimado pela Abiquim em US$ 2 bilhões.
Fonte: Página da Abiquim na internet.

97
Tabela 11. Importação de produtos químicos
selecionados no Brasil, 1999
Importação
Produtos % Volume (t)
(US$ mil FOB)
Fármacos humanos 12 194.249 7% 6.708
Fármacos veterinários 5 137.813 5% 33.192
Subtotal 17 332.062 12% 39.900
Outros 76 2.197.036 78% 9.237.964
TOTAL 93 2.861.160 100% 9.317.764
Fonte: Elaboração própria a partir de Abiquim (2000).

Os preços unitários médios de importação dos fármacos hu-


manos e veterinários estão entre os maiores do universo observado
no estudo, US$ 8.332/t. Os dois representam 3% do total do uni-
verso considerado e 12% dos produtos importados acima de US$
10 milhões, sendo também aqueles de maior valor agregado.
A Tabela 12 abaixo indica dados desagregados para cada um
dos 12 fármacos de uso humano analisados no mesmo estudo. A
maior parte deles é de produtos antigos com processos produtivos
já bastante conhecidos, tais como a vitamina C e a dipirona, para
os quais haveria capacitação tecnológica em território nacional.
De fato, a produção de dipirona foi descontinuada pela Hoechst,
representando aproximadamente 10% (US$ 18.297 mil) do total
da importação desses 12 medicamentos (US$ 194 bilhões); para a
produção de maleato de enalapril existe capacidade instalada na
Nortec e a importação, em 1999, montou a US$ 17.005 mil; a metil-
dopa que também já foi produzida pela IQT está entre os maiores
valores de importação (US$ 12.598 mil).

98 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Tabela 12. Importação de fármacos humanos
superior a US$ 10 milhões FOB, 1999
Valor Unitário Volume
Importação
NCM Fármaco Importado Importado
(US$ mil FOB)
(US$/Kg) (t)
Acetato de ciprote-
2937.99.11 28.849 38,39 1
rona
2924.29.99 Voltacloreto 20.745 413 50
2933.11.11 Dipirona 18.297 9,50 1.930
Alfa-tocoferol
2936.28.12 17.521 13,39 1.308
Vitamina E
2933.90.46 Maleato de enalapril 17.005 2.137 8
2924.29.91 Aspartame 15.851 41,27 384
2932.99.99 Bromoketal 14.371 43,79 328
2936.27.10 Vitamina C 14.037 5,65 2.484
2937.92.99 Gestodene 12.799 816,26 0,016
2922.50.32 Metidolpa 12.598 61,08 206
Cefatriaxona e seus
2941.90.31 11.443 1.351,34 8.5
Sais
2918.90.99 Pravastatina Sódica 10.733 38.332,09 0.3
Total 194.249 - 6.708
Nota: NCM: Nomenclatura Comum do Mercosul.
Fonte: Elaboração própria a partir de Abiquim (2000).

Os produtos farmacêuticos, em termos da divisão do mercado en-


tre produtos éticos e não éticos, são principalmente produtos éticos
– ou seja, 93% do total do mercado correspondem a medicamentos
vendidos sob prescrição, tanto em termos de valor quanto em ter-
mos de unidades vendidas, conforme Tabelas 13 e 14:
Tabela 13. Mercado brasileiro total em valor, 1996-1999
Valores (US$ mil)
Segmentos de
1996 1997 1998 1999*
mercado
Mercado ético 6.751.749 7.118.730 7.191.123 5.333.750
Mercado não ético 498.923 630.673 589.974 416.608
Total geral 7.250.672 7.749.403 7.781.097 5.750.358
* Estimado.
Fonte: Alanac (2000).

3. A indústria farmacêutica no Brasil 99


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Tabela 14. Mercado brasileiro total em unidades, 1996-1999
Unidades
Segmentos de
1996 1997 1998 1999*
mercado
Mercado ético 1.317.472 1.216.071 1.176.452 1.125.255
Mercado não ético 178.599 159.927 156.154 145.111
Total geral 1.496.071 1.375.998 1.332.606 1.270.366
* Estimado.
Fonte: Alanac (2000).

A indústria farmacêutica instalada no Brasil segue as caracte-


rísticas de segmentação observadas na indústria farmacêutica dos
principais países líderes, onde também predominam os produtos
éticos.
O ciclo de vida dos medicamentos comercializados no país é
bastante mais elevado do que na indústria farmacêutica mundial.
Os principais líderes de vendas são medicamentos que já estão no
mercado há mais de 10 anos, tais como o Cataflam, introduzido
no mercado brasileiro em 1984, o Tylenol, introduzido em 1974,
o Dorflex, introduzido em 1970, o Lexotan, em 1974, e o Luftal,
introduzido em 1962, apenas para citar alguns. Dos 25 principais
produtos comercializados no mercado brasileiro, apenas oito foram
introduzidos na década de 1990. Considerando os medicamentos
com menos de dois anos no mercado, esses representam apenas
4,6% do mesmo em valor e 3% em unidades farmacêuticas (IMS,
2001).

3.2. Características da demanda


Conforme observado anteriormente, diversos fatores influenciam a
demanda por medicamentos, entre os quais, é importante destacar
a infraestrutura de atendimento à saúde, devido ao baixo nível de
renda da população quando comparado com o nível de renda per
capita dos países líderes na indústria farmacêutica. No Brasil, os
dados disponíveis para o ano de 1990, na Tabela 15, indicam que

100 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
o setor público tem um papel preponderante no que diz respeito à
atenção primária de saúde e ao atendimento de emergência.
Tabela 15. Distribuição dos serviços públicos e privados
de atenção à saúde no Brasil, 1990
Unidades de atenção à saúde Público (%) Privado (%)
Centros de atenção primária 95,0 5,0
Unidades especializadas de atenção à saúde 25,5 74,5
Unidades de emergência 65,5 34,5
Unidades hospitalares 21,0 79,0
Fonte: Almeida et al. (2000).

Adicionalmente, dados também para 1990, apontam que os


gastos em saúde per capita situavam-se em torno de US$ 146; em ter-
mos de PIB, isto representa 5,4% do PIB per capita, e 4,2% do PIB
total. Em termos de fonte de recursos, 65,7% foram financiados pelo
setor público, que representaram 6,7% do PIB (WHO, 1997).
A Tabela 16 indica, por faixa de renda, a parcela da popula-
ção brasileira que possui cobertura de serviços de saúde através de
planos privados e a parcela que não possui tal cobertura e, desse
modo, recorre ao Sistema Único de Saúde.

Tabela 16. Serviços de saúde no Brasil por faixa de renda,


população coberta, 2003
Classe de rendimento mensal Não cobertos Cobertos Total
até 1 salário mínimo 22.042.460 655.867 22.701.837
de 1 a 2 salários mínimos 33.361.510 2.411.717 35.776.226
de 2 a 3 salários mínimos 24.535.555 4.019.264 28.555.801
de 3 a 5 salários mínimos 25.145.323 8.347.931 33.497.262
de 5 a 10 salários mínimos 15.377.781 12.008.860 27.386.641
de 10 a 20 salários mínimos 4.433.343 8.532.751 12.967.725
mais de 20 salários mínimos 1.041.465 5.369.543 6.411.008
sem rendimentos 4.291.081 332.004 4.624.423
sem declaração 2.159.373 1.413.609 3.574.289
TOTAL 132.387.891 43.091.546 175.495.212
Nota: O valor nominal de 1 salário mínimo em 2003 era de R$ 240,00.
Fonte: IBGE (2005).

3. A indústria farmacêutica no Brasil 101


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Predomina, desse modo, um sistema público de atenção à
saúde, ainda que não se possa afirmar que aqueles que não estão
cobertos pelo sistema privado sejam efetivamente atendidos pelo
SUS. Apesar de apenas aproximadamente 24,6% da população re-
correr a algum tipo de plano de saúde privado, e, portanto, 75,4%
recorrer ao sistema público, esse funciona de maneira precária,
principalmente nas localidades mais afastadas dos grandes centros
urbanos (OPAS, 1998).
Ao contrário do sistema de atenção à saúde, no caso dos me-
dicamentos observamos a predominância de um sistema privado.
Estima-se que entre 20% a 30% da demanda de medicamentos seja
pública e o restante seja desembolso direto dos consumidores. A
Tabela 17 mostra que o consumo de medicamentos está principal-
mente concentrado nas classes de mais alta renda, sendo que ape-
nas o correspondente a 15% da população, cujo rendimento mensal
ultrapassa 10 salários mínimos, é responsável por 48% do consumo
de medicamentos, com consumo per capita de US$ 193 anual.

Tabela 17. Consumo de medicamentos por faixa de renda, 1996


% do consumo de Consumo per
Renda (SM) % da população
medicamentos capita (US$)
> 10 15 48 193
4 – 10 34 36 64
0–4 51 16 19
Fonte: OPAS (1998).

No Brasil, não é prática dos planos de saúde reembolsar seus


conveniados pela aquisição de medicamentos, à exceção dos medi-
camentos consumidos durante internações hospitalares, conforme
é possível observar na Tabela 18.

102 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Tabela 18. O sistema privado de atenção à saúde no Brasil, 2007
Organizações
privadas de
Definição Beneficiários Assistência Farmacêutica
atenção à
saúde1
Presta serviços médicos
hospitalares através Ex.: Amil fornece adicio-
Medicina de
de recursos próprios nal ao contrato principal
grupo
e contratados; cobra 16,1 milhões para descontos na com-
(650 empre-
valor fixo per capita. pra de medicamentos na
sas)
Conhecido também rede Farmalife.
como convênios
Presta serviços médicos
hospitalares através
de cooperativas; cobra
Cooperativas 12,1 milhões Dado não disponível
valor fixo per capita.
Conhecido também
como convênios
Presta serviços médicos
hospitalares por orga- Em 1999, 60 planos
Autogestão nizações (públicas ou 5,4 milhões ofereciam algum tipo de
privadas) exclusivamen- assistência farmacêutica
te aos seus funcionários
Presta serviços médicos
hospitalares, permitindo
livre escolha de médicos
Seguradoras 4,1 milhões Dado não disponível
e hospitais pelo sistema
de reembolso no limite
da apólice contratada
Fonte: ABRAMGE, Informativo à imprensa, novembro de 2007.

Tampouco são difundidas as associações de consumidores


de produtos farmacêuticos ou prestação de serviço de aquisição
de medicamento por órgãos de classe, tais como sindicatos, fede-
rações ou confederações de trabalhadores. Uma exceção a essa
regra é o caso dos advogados cujo plano de assistência, a Caarj, co-
bre boa parte dos gastos de seus conveniados com medicamentos
adquiridos na rede de farmácia que o plano possui. A Farmalife,
do grupo Amil, plano de seguro médico líder de mercado, oferece
descontos um pouco superiores ao das redes comuns, a seus con-
veniados.
Uma característica particular do consumidor brasileiro é a
automedicação. Como o serviço de saúde pública é ainda precá-
rio e o controle de receitas é pouco rigoroso, a ida ao médico do
posto de saúde ou do hospital público é muitas vezes substituída
pela consulta ao balconista da farmácia ou da drogaria por parte

3. A indústria farmacêutica no Brasil 103


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
do paciente. Segundo estudo de Arrais et al. (1997),23 o fenômeno
da automedicação é mais marcado entre mulheres de 16 a 45 anos,
para as quais também se dirige a maior parte da propaganda do
setor, por estarem relacionadas aos cuidados da família. A auto-
medicação é basicamente influenciada pelas indicações de pessoas
leigas e pelo histórico de prescrição. Um ponto importante desta-
cado no estudo é o fato de que: “Grande parte dos medicamentos
foram adquiridos para o uso familiar, o que é compreensível do
ponto de vista econômico, mas possibilita problemas tais como ina-
dequação e incompletude dos tratamentos, contaminação cruzada
de pessoas da família (...)” (Arrais et al., 1997, p. 76). As Tabelas 19
e 20 apresentam os dados da automedicação, por principais classes
terapêuticas e princípios ativos.

Tabela 19. A automedicação no Brasil por principais grupos terapêuticos


Frequência
Subgrupo, segundo nível ATC* Frequência (%)
acumulada (%)
Analgésicos 17,3 17,3
Descongestionante nasal 7,1 24,4
Anti-inflamatório/antirreumáticos 5,6 30,0
Antimicrobianos/quimioterápicos 5,6 35,6
Vitaminas 5,5 41,1
Antiespasmódicos/anticolinérgicos 5,2 46,3
Antiácidos/antiulceroso/antiflatulência 4,7 51,0
Hormônios sexuais 4,1 55,1
Anti-histamínicos de uso sistêmico 4,0 59,1
Preparados para tosse e resfriado 3,8 62,9
Relaxantes musculares 2,9 65,8
Antidiarreicos/anti-infecciosos 2,8 68,6
Antiasmáticos 2,1 70,7
* Incluem-se subgrupos que representam mais de 2% do total. Agrupados
representam 70,7% do total. (No total de especialidades = 5.332).
Fonte: Arrais et al. (1997).

23. O estudo de Arrais et al. (1997) abrangeu a aplicação de 4.420 questionários


(2.097 em 94 farmácias do Estado de São Paulo, 1.820 em 22 farmácias de Fortaleza
e 503 em 20 farmácias de Belo Horizonte, tendo sido 246 questionários excluídos do
estudo, por estarem incompletos ou porque os dados davam margem a dúvidas).

104 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Tabela 20. A automedicação no Brasil por princípios ativos
Princípio ativo No Frequência (%) Frequência acumulada (%) Princípio ativo No Freqüência (%) Frequência acumulada (%)
Dipirona (metamizol)** 773 7,1 7,1 Vitamina A 90 0,8 36,2
Ácido acetilsalicílio ** 536 4,9 12,0 Dimeticona 88 0,8 37,0
Cafeína 393 3,6 15,6 Sulfametoxazol ** 88 0,8 37,8
Ácido ascórbico ** 303 2,8 18,4 Vitamina D 86 0,8 38,6
Diclofenaco 166 1,5 19,9 Nafazolina 85 0,8 39,4
Mucato de isometep-
Etinilestradiol ** 160 1,5 21,4 82 0,7 40,1
teno **
Paracetamol 148 1,4 22,8 Bicarbonato de sódio 80 0,7 40,8
Piridoxina 143 1,3 24,1 Ácido cítrico 78 0,7 41,5

3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Fenilefrina 142 1,3 25,4 N-butilescopolamina ** 78 0,7 42,2
Orfenadrina, citrato ** 128 1,2 26,6 Colina 73 0,7 42,9
Fenilpropanolamina 123 1,1 27,7 Cânfora 73 0,7 43,6
Difenidramina ** 118 1,1 28,8 Metionina 72 0,7 44,3
Cianocobalamina 116 1,1 29,9 Hidróxido de alumínio 72 0,7 45,0
Cloreto de sódio 114 1,0 30,9 Dexclorofeniramina 71 0,6 45,6
Levonorgestrel ** 107 1,0 31,9 Cloreto de benzalcônio 69 0,6 46,2
Sulfato de neomicina 101 0,9 32,8 Feniltoloxamina 65 0,6 46,8
Riboflavina 96 0,9 33,7 Mentol 64 0,6 47,4
Trimetroprima ** 94 0,9 34,6 Mebendazol 62 0,6 48,0
Tiamina 90 0,8 35,4
* São apresentados somente os fármacos com freqüência superior a 0,5% compreendendo 48% do total de princípios ativos (No = 10.938).
** Dipirona + Cadeína + Orfenadrina; Dipirona + N-butilescopolamina; Dipirona + Difenidramina; Dipirona + Isometepteno + Cafeína; AAS + Cafeína;
AAS + Ácido ascórbico; Etinilestradiol + Levonorgestrel; Sulfametoxazol + Trimetoprima; Diclofenaco.
Obs.: A frequência de cada princípio ativo é dada pela sua ocorrência em monodrogas e associação medicamentosa.

105
Fonte: Arrais et al. (1997).
Em relação à demanda pública de medicamentos, com a extin-
ção da Central de Medicamentos (CEME), que foi a principal ins-
tituição fornecedora de medicamentos para o sistema de saúde nas
décadas de 1970 a 1990, em 1997, e com o processo de descentrali-
zação da assistência à saúde com o Sistema Único de Saúde (SUS),
aí incluída a assistência farmacêutica e o estabelecimento da Política
Nacional de Medicamentos (Ministério da Saúde, 1998), novas res-
ponsabilidades dos três níveis de governo nessa área começaram a
ser definidas. De maneira que a demanda pública por medicamen-
tos encontra-se divida entre os subprogramas do Programa de Assis-
tência Farmacêutica do Sistema Único de Saúde, com responsabili-
dades diferenciadas em cada esfera de governo (Federal, Estadual
e Municipal), denominadas gestoras do SUS. São eles: assistência
farmacêutica básica; medicamentos essenciais para saúde mental;
medicamentos estratégicos; medicamentos excepcionais.
Os gastos com medicamentos do Ministério da Saúde aumenta-
ram de US$ 384 milhões em 1996 para US$ 689 milhões em 1999.
Desse total, apenas 10% representaram compra dos medicamentos
produzidos por laboratórios públicos. É importante observar que
a produção de medicamentos pelos laboratórios públicos não tem
como propósito substituir a produção dos laboratórios privados, mas
dar suporte às políticas nacionais de saúde de combate e controle
de doenças e promoção do acesso a medicamentos pela população,
principalmente a de baixa renda (OPAS, 1998; ENSP, 2000).
Já na década de 2000, os principais gastos com medicamentos
do Ministério da Saúde aumentaram de R$ 2,48 bilhões em 2002
para R$ 4,26 bilhões em 2005. A Tabela 21 apresenta os gastos, no
período 2002-2005, relativos às ações de Assistência Farmacêutica
sob responsabilidade do Ministério.
O Quadro 13 apresenta, de maneira esquemática, o funciona-
mento de cada um dos quatro programas de assistência farmacêuti-
ca que caracterizam a demanda pública de medicamentos.

106 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Tabela 21. Principais gastos do Ministério da Saúde com medicamentos, 2002-2005 (R$)
Categorias 2002 2003 2004 2005
Medicamentos para atender os Programas Estratégicos, incluindo
997.179.443 1.379.077.507¹ 1.538.130.000 1.792.320.000
medicamentos para DST/Aids e imunobiológicos
Incentivo financeiro a municípios habilitados à parte variável do
piso de atenção básica (PAB) para assistência farmacêutica básica.
166.399.378 173.920.923 192.971.930 281.000.000
Medicamentos para o programa de assistência farmacêutica básica,
correspondentes a R$ 1,00/habitante/ano
Medicamentos de dispensação em caráter excepcional (alto custo),
489.533.000 519.789.868 763.000.000 961.000.000
mediante repasse de teto financeiro aos Estados
Atenção aos pacientes portadores de coagulopatias 273.140.592² 112.445.058 208.000.000 223.000.000
Medicamentos cobertos na atenção hospitalar (AIH + Oncológicos) 560.896.153 703.523.016 882.000.000 1.000.000.000

3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Total anual 2.487.148.566 2.888.756.372 3.584.101.930 4.257.320.000
1 Inclui aquisições realizadas para 2004.
2 Fator VIII: 2002 = US$ 0,41; 2003 = US$ 0,12/0,23 + redução de 25%; 2004 = US$ 0,15.
Fonte: Barbano (s/d).

107
Quadro 13. A demanda pública por medicamentos, programa de assistência farmacêutica
Programa Funcionamento
Tem por objetivo incentivar a descentralização da assistência farmacêutica dentro do SUS relacionada ao abastecimento de

108
medicamentos básicos essenciais que são demandados por uma comunidade e são dispensados na rede ambulatorial do
SUS sob prescrição médica. Essa descentralização é financiada pelos três gestores do SUS, onde a transferência de recur-
sos federais é condicionada à contrapartida dos estados, municípios e do Distrito Federal. Nesse programa, o Ministério
da Saúde repassa para estados e municípios o equivalente a R$ 1,00/ habitante/ ano para que os mesmos estruturem
Assistência Farma-
programas próprios de assistência farmacêutica, devendo ainda complementar os valores com pelo menos mais R$ 1,00/
cêutica Básica
habitante/ ano. Em valores correntes, o repasse de recurso federal está estipulado em R$ 163.947.554,00, que somados
às contrapartidas dos estados e municípios totalizam um valor mínimo de R$ 327.895.108,00. Até março de 2000, esse
programa atingiu 2.367 municípios através de repasses fundo a fundo e 2.057 municípios através de repasses via secre-
tarias estaduais. Segundo estimativas do Ministério da Saúde, o Programa de Assistência Farmacêutica Básica cobre atual-
mente 97% dos municípios e 90% da população.
Esse programa tem por objetivo fornecer medicamentos dentro da rede de assistência do SUS, para pessoas que sofrem de
transtornos mentais. Os recursos destinados ao programa são somados aos recursos do Programa de Assistência Farma-
Medicamentos cêutica Básica repassados para estados e municípios, de forma que, o financiamento desse programa é de responsabilida-
Essenciais para de do Ministério da Saúde e das unidades da federação, cabendo ao primeiro o repasse de 80% do total de recursos, de R$
Saúde Mental 0,22/ habitante /ano, respectivamente. A lista de medicamentos incluídos no programa é composta de 22 medicamentos
constantes da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais. A distribuição aos municípios é de responsabilidade de cada
Secretaria Estadual de Saúde.

Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Esse programa envolve a aquisição de medicamentos constantes dos programas de pneumologia sanitária (tuberculose),
composto por 13 medicamentos; dermatologia sanitária (hanseníase), composto por 10 medicamentos; DST/Aids, com-
posto por 12 medicamentos para o coquetel de combate à Aids e outros medicamentos de combate às infecções oportu-
nistas; endemias focais (malária, leishmaniose, esquistossomose, tracoma, peste e filariose); diabetes; e hemoderivados.
Os medicamentos são adquiridos pelo próprio Ministério da Saúde e depois distribuídos a estados e municípios.
Medicamentos
No tocante aos programas DST/Aids e diabetes, o MS é responsável pelo fornecimento de um conjunto de antiretrovirais
Estratégicos
(que se convencionou chamar de “coquetel”) e de insulina, respectivamente, ficando a cargo de estados e municípios a
aquisição de medicamentos para a terapia complementar nos dois casos. A forma de distribuição desses medicamentos
consiste no repasse às Secretarias Essaduais de Saúde, que por sua vez são responsáveis pela distribuição às Secretarias
Municipais de Saúde, sendo exceção a distribuição de antirretrovirais do programa de Aids para o município do Rio de
Janeiro, que os recebe diretamente do MS.
Os medicamentos constantes desse programa são destinados ao tratamento de determinadas condições especiais, sendo
geralmente produtos de alto custo, incluindo, entre outros, o tratamento medicamentoso de pacientes renais crônicos,
certos tipos de câncer, nanismo hipofisário, endometriose etc. O MS repassa aos estados recursos financeiros até um teto
Medicamentos
específico estabelecido dentro do teto financeiro global do estado no SUS, contrafaturamento através de procedimento

3. A indústria farmacêutica no Brasil


Excepcionais
apropriado de cadastro e autorização de dispensação, sendo os medicamentos adquiridos pelos estados e repassados aos
municípios ou fornecidos diretamente pelo estado, conforme convênios determinados. A lista dos produtos incluídos no
programa é determinada por portaria do MS.
Fonte: Elaboração própria a partir de Brasil. Ministério da Saúde (http://www.saude.gov.br).
É importante lembrar também que em diversos procedimen-
tos incluídos no pagamento de AIHs (Autorização de Internação
Hospitalar) pelo SUS está embutido um valor para gastos com me-
dicamentos. Há ainda a aquisição de medicamentos para unidades
hospitalares próprias do MS e para a rede de saúde das Forças
Armadas, que compõe um sistema à parte do SUS.
Em relação ao perfil epidemiológico da população brasileira,
é preciso observar que, no Brasil, não existem muitos estudos siste-
máticos que retratem a prevalência de doenças, à exceção daquelas
de notificação compulsória, que envolvem patologias transmissí-
veis como sarampo, tétano, malária, tuberculose, cólera e Aids,
entre outras. Quando se trata de estudos de prevalência de uso
de medicamentos, a escassez é ainda maior, considerando-se qual-
quer nível do SUS (municipal, estadual ou federal). Apesar disso
algumas informações relacionadas à mortalidade (principalmente
óbitos ocorridos com assistência médica) e morbidade hospitalar
podem indicar algumas tendências. A Tabela 22 apresenta os da-
dos sobre óbitos por ocorrência e internações hospitalares segundo
causa, respectivamente, agrupados de acordo com capítulo da 10ª
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Re-
lacionados à Saúde (CID-10), em 1998.

3. A indústria farmacêutica no Brasil 109


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Tabela 22. Óbitos por ocorrência e internações hospitalares
segundo causa, CID-10, 1998
Causa – Capítulo da CID-10 Óbito Internação
IX. Doenças do aparelho circulatório 27,59% 9,69%
XVIII. Sint. sinais e achad. anorm. ex. clínicas e labora-
14,92% 1,29%
toriais
XX. Causas externas de morbidade e mortalidade 12,66% 0,55%
II. Neoplasias (tumores) 11,92% 3,31%
X. Doenças do aparelho respiratório 9,89% 15,46%
I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias 5,24% 7,73%
XI. Doenças do aparelho digestivo 4,38% 8,64%
IV. Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas 4,29% 2,64%
XVI. Algumas afec. originadas no período perinatal 3,90% 2,18%
XIV. Doenças do aparelho geniturinário 1,39% 6,95%
VI. Doenças do sistema nervoso 1,17% 1,77%
XVII.Malf. cong. deformid. e anomalias cromossômicas 1,00% 0,66%
V. Transtornos mentais e comportamentais 0,59% 3,72%
III. Doenças sangue órgãos hemat. e transt. imunitár. 0,45% 0,61%
XIII.Doenças sist. osteomuscular e tec. conjuntivo 0,22% 2,13%
XV. Gravidez parto e puerpério 0,21% 24,13%
XII. Doenças da pele e do tecido subcutâneo 0,16% 1,13%
VIII.Doenças do ouvido e da apófise mastóide 0,01% 0,17%
VII. Doenças do olho e anexos 0,00% 0,61%
XXI. Contatos com serviços de saúde 0,00% 1,29%
XIX. Lesões enven. e alg. out. conseq. causas externas 0,00% 5,34%
Fonte: Elaboração própria a partir de Brasil. Datasus (2001).

É possível depreender dos dados acima que as principais causas


de mortalidade no Brasil revelam um perfil semelhante ao observado
nos países mais desenvolvidos (WHO, 1999), porém doenças de inci-
dência pouco relevante nesses países, como as parasitárias e as infec-
ciosas são ainda importante causa de óbitos e de internações no país.
Em relação ao potencial de crescimento da demanda por me-
dicamentos, embora dados sobre o ano de 2000 indiquem que os
gastos potenciais com medicamentos somavam aproximadamen-
te R$ 17 bilhões, em relação aos R$ 11,54 bilhões registrados em
1999 (Gazeta Mercantil, 2000, 2001), estimou-se que para o perío-
do 1998-2003, o mercado brasileiro iria registrar queda de 1,2%
(IMS, 2000a). Como visto anteriormente, realmente, entre 2000
e 2002, houve um arrefecimento de sua taxa de crescimento, mas
que se restabeleceu a partir de 2005.

110 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
3.3. Estrutura de mercado
A Tabela 23 mostra a estrutura da indústria farmacêutica brasileira
entre os anos de 1996 e 2007, que inclui a fabricação de produtos
farmoquímicos, de medicamentos para uso humano, de medica-
mentos para uso veterinário e de materiais para usos médicos, hos-
pitalares e odontológicos. Através desses dados, podemos observar
que a indústria era composta, em 2007, por 1.113 unidades locais,
com um total de 97.025 empregados. No mesmo ano, a massa sa-
larial correspondia à cerca de 3,8 bilhões de reais e o número de
empregos por unidade local chegou a 87. Quanto ao valor da pro-
dução, em 2007, esse chegou à cerca de R$ 24,7 bilhões e o valor
de produção por unidade local a R$ 22,2 milhões. É possível con-
cluir que, entre os anos de 1996 e 2007, esses valores aumentaram,
quase triplicando no caso do valor da produção.
Tabela 23. Estrutura da indústria farmacêutica, 1996-2007
Massa Valor da Valor da
Unidades Pessoal Emprego
Ano salarial Produção Produção por
Locais Ocupado por UL
(R$ mil) (R$ mil) UL (R$ mil)
1996 1.072 73.717 1.332.522 8.858.771 69 8.264
1997 1.140 76.872 1.519.429 10.405.406 67 9.128
1998 1.112 78.741 1.710.841 11.052.110 71 9.939
1999 1.175 82.490 1.892.673 13.436.562 70 11.435
2000 1.129 85.121 2.026.250 13.826.883 75 12.247
2001 1.188 89.730 2.220.474 14.997.739 76 12.624
2002 1.155 83.985 1.247.689 16.936.757 73 14.664
2003 1.226 90.250 2.610.444 19.222.952 74 15.679
2004 1.145 91.187 2.920.635 19.884.338 80 17.366
2005 1.150 90.907 3.382.806 21.542.742 79 18.733
2006 1.134 91.368 3.589.235 23.744.011 81 20.938
2007 1.113 97.025 3.833.806 24.707.673 87 22.199

Fonte: IBGE/PIA, 2007.

A Tabela 24 se refere ao número de estabelecimentos da in-


dústria farmacêutica por porte, considerando somente os produtos
farmoquímicos e a fabricação de medicamentos para uso humano.
Podemos concluir que há uma forte predominância das micro e
pequenas empresas que juntas representam cerca de 78% dos es-
tabelecimentos, nos anos de 2000, 2002 e 2003, e cerca de 70%,
no ano de 2008. As empresas médias representam cerca de 15%
nos primeiros anos analisados e cerca de 18% no ano de 2008. Já

3. A indústria farmacêutica no Brasil 111


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
as empresas consideradas grandes, com mais de 250 empregados,
representavam apenas 5,7% dos estabelecimentos, no ano 2000, e
passaram a representar 11,5%, no ano de 2008.

Tabela 24. Número de estabelecimentos da indústria farmacêutica


por porte, 2000-2008
Tamanho do
estabeleci-
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
mento: empre-
gados ativos
Micro (até 9) 455 444 431 435 416 387 390 365 347
Pequena
221 226 229 245 232 228 238 241 201
(10 a 49)
Média
150 156 154 160 155 147 154 151 144
(50 a 249)
Grande (aci-
68 61 66 71 75 82 91 94 90
ma de 250)
Total 894 887 880 911 878 844 873 851 782
Fonte: Elaboração do Grupo de Economia da Inovação IE-UFRJ, com base na RAIS/MTE.

Com relação ao número de empregados da indústria farma-


cêutica por porte, a Tabela 25 mostra que as grandes empresas con-
centravam cerca de 53,2% dos empregados, no ano 2000, e passa-
ram a responder por aproximadamente 71%, no ano de 2008.
Tabela 25. Número de empregados na indústria farmacêutica
por porte, 2000-2008
Tamanho
do estabe-
lecimento: 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
empregados
ativos
Micro (até 9) 1.498 1.476 1.535 1.411 1.453 1.338 1.393 1.306 1.168
Pequena
5.506 5.259 5.506 5.530 5.173 4.882 5.254 5.244 4.461
(10 a 49)
Média
17.205 18.998 17.895 18.770 18.940 16.802 18.288 18.351 17.448
(50 a 249)
Grande
(acima de 32.504 31.818 33.827 35.684 38.456 41.686 48.669 51.330 56.484
250)
Total 56.713 57.551 58.763 61.395 64.022 64.708 73.604 76.231 79.561

Fonte: Elaboração do Grupo de Economia da Inovação IE-UFRJ, com base na RAIS/MTE.

A existência de uma rede de laboratórios públicos é uma ca-


racterística interessante da indústria farmacêutica no Brasil. Essa
rede é formada por 15 laboratórios públicos, cuja produção tem
por objetivo minorar o problema de suprimento de determinados

112 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
medicamentos (principalmente aqueles de menor interesse para
o setor privado), e têm sido frequentemente tomados como parâ-
metros para a política de medicamentos do Ministério da Saúde.
A produção desses laboratórios representava cerca de 3% da pro-
dução nacional em valor e aproximadamente 10% em volume de
unidades produzidas, conforme Tabela 26.
Tabela 26. Produção dos laboratórios públicos no Brasil, 1999
Laboratório US$ (mil) Unidades
Furp 51.466,27 1.395.267.775
Far-Manguinhos 47.314,39 331.909.940
Lafepe 26.584,65 110.617.000
IVB 12.190,83 57.435.000
Iquego 11.945,61 73.854.044
Funed 8.888,88 153.516.544
Nuplan 2.128,44 57.931.000
Lifal 643,10 14.205.137
LPM, Fepps, Lafesc, Lepemc, LQFE,
61.060,65 Nd
LQFA e LFM
TOTAL (estimado) 222.222,82 2.194.736.440
Nd: Não disponível.
Fonte: Elaboração própria a partir de Brasil. Senado Federal (2000).

Essa produção tem sido marcada por uma relativa instabili-


dade agravada pela orientação das políticas públicas de redução
da intervenção do Estado na economia, que não tem levado em
consideração as especificidades dos mercados farmacêuticos, espe-
cialmente nos países em desenvolvimento. Como resultado, muitos
laboratórios farmacêuticos públicos entraram em um processo de
ruptura, devido a uma variedade de problemas, que vão da insufici-
ência de recursos para investimento em renovação de plantas indus-
triais e para atividades de P&D à falta de recursos para contratação
de pessoal. Além disso, por serem organizações de direito público,
têm sido constantemente afetadas pela burocracia paralisante das
administrações públicas, o que reduz a flexibilidade desses laborató-
rios diante das mudanças no ambiente com o qual eles se defrontam
(BRASIL, Senado Federal, 2000). Adicionalmente, a partir da cada
vez maior descentralização das compras públicas do SUS após a
extinção da CEME, observa-se um aumento crescente da capaci-
dade ociosa desses laboratórios, decorrente da falta de condição de
planejamento da produção que essa descentralização acarreta.

3. A indústria farmacêutica no Brasil 113


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Voltando-nos ao setor privado, os dados de faturamento por
empresa sugerem um nível de concentração relativamente baixo:
a participação das quatro maiores empresas privadas no fatura-
mento total é inferior a 40%. Naturalmente, esse dado não reflete
o grau de concorrência efetivo na indústria farmacêutica brasilei-
ra. A Tabela 27 apresenta uma melhor aproximação do grau de
concentração, calculando a participação de mercado por classe
terapêutica/princípio ativo para alguns dos principais produtos
comercializados no país e permite examinar, ainda, a participação
dos laboratórios nacionais nesse segmento. Nenhuma empresa
nacional aparece entre as líderes dos mercados analisados, sendo
que a melhor colocada entre as empresas nacionais ocupa somen-
te a segunda posição em quatro dos nove mercados analisados.

Tabela 27. Participação de mercado das duas maiores empresas


por princípio ativo e origem de capital, 1999 (%)
Número de Participação de mercado
Classe terapêutica/ Origem do capital
empresas das duas maiores empre-
Princípio ativo das duas maiores
produtoras sas (%)
Analgésico. Anti- 93,79 (Novartis) Multinacional
inflamatório/ Diclo- 7
fenaco potássio 4,46 (Merck) Multinacional

Antibiótico/ 96,98 (Eli Lilly) Multinacional


8
Cefalexina 2,91 (Glaxo Welcome) Multinacional
Anti-hipertensivo. 89,78 (BMS) Multinacional
Vasodilatador/ 6
Captopril 6,77 (Medley) Nacional

Antibiótico/ 58,24 (Smith Kline B.) Multinacional


14
Amoxicilina 21,39 (BMS) Multinacional
Analgésico/ 90,91 (Janssen-C.) Multinacional
3
Paracetamol 8,35 (Sanofi Winthrop) Multinacional
Anti-hipertensivo. 77,01 (MSD) Multinacional
Vasodilatador/ 4
Maleato de Enalapril 20,00 (Biosintetica) Nacional

Analgésico. Antipi- 93,10 (HMR) Multinacional


12
rético/Dipirona 2,54 (Sanofi Winthrop) Multinacional
Ansiolítico/ 88,70 (Roche) Multinacional
9
Bromazepan 9,76 (Aché) Nacional
Ansiolítico/ 81,66 (Roche) Multinacional
7
Diazepan 7,83 (União Química) Nacional
Fonte: Adaptação a partir de Hasenclever et al. (2000).

Em relação às barreiras à entrada no setor farmacêutico brasilei-


ro, observa-se que as despesas com propaganda e marketing, inclusi-

114 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
ve com as equipes de vendas, são os principais elementos de custo
para as empresas, uma vez que atividades de pesquisa e desenvolvi-
mento locais são muito marginais. As Tabelas 28 e 29 mostram, res-
pectivamente, o percentual da receita líquida de vendas investido
em P&D interna e em atividades inovativas, na indústria química,
no Brasil, nos períodos 2001-2003 e 2003-2005. Mesmo que esses
percentuais tenham aumentado do primeiro período estudado para
o segundo, os valores ainda são muito baixos quando comparados
com as empresas líderes mundiais. Em relação às patentes, cabe
observar que a legislação é bastante recente e será analisada mais
adiante.
Tabela 28. Brasil: P&D interno das empresas sobre receita líquida
de vendas, 2001-2003 e 2003-2005 (%)
2001-2003 2003-2005
Indústria farmacêutica 0,53 0,55
Outros da indústria química 0,44 0,51
Indústria química total 0,46 0,55
Fonte: Elaboração do Grupo de Economia da Inovação IE-UFRJ, com base em IBGE/
Pintec.

Tabela 29. Brasil: atividades inovativas sobre receita líquida de vendas,


2001-2003 e 2003-2005 (%)
2001-2003 2003-2005
Indústria farmacêutica 3,44 2,49
Outros da indústria química 1,95 2,18
Indústria química total 2,17 4,16
Fonte: Elaboração do Grupo de Economia da Inovação IE-UFRJ, com base em IBGE/
Pintec.

O mercado de medicamentos no Brasil é predominantemente


composto por produtos de marca. A Tabela 30 ilustra a situação apre-
sentando os 10 produtos mais vendidos no país, por faturamento,
em 2000. A amostra corresponde a quase 10% do faturamento total
da indústria e é composta por medicamentos de diversas classes
terapêuticas, tais como analgésicos (Novalgina), anti-inflamatórios
(Cataflan e Voltaren), Keflex (antibiótico), ansiolíticos (Lexotan).

3. A indústria farmacêutica no Brasil 115


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Tabela 30. Medicamentos mais vendidos no Brasil nas farmácias
e drogarias, 05/2000 a 05/2001 (US$ e %)
Ranking Produto Empresa Market-Share (%)
1 Cataflam Geigy Novartis 1,16
2 Viagra Pfizer 0,97
3 Tylenol Janssen Cilag 0,87
4 Dorflex Aventis 0,71
5 Lexotan Roche 0,69
6 Voltaren Geigy Novartis 0,68
7 Novalgina Aventis 0,58
8 Neosaldina Knoll 0,58
9 Keflex Eli Lilly 0,53
10 Hipoglós Procter Gamble 0,52
Total dos 10 principais 7,29
Total dos 25 principais 13,06
Fonte: Elaboração própria a partir de dados primários IMS (2001a).

Em termos de unidades vendidas, a situação é um pouco di-


ferente, com uma mudança na posição dos produtos mais vendi-
dos. Porém, as empresas multinacionais continuam a predominar
no mercado, apenas com a entrada de uma empresa nacional no
cenário, conforme mostra a Tabela 31.
Tabela 31. Medicamentos mais vendidos no Brasil, nas farmácias
e drogarias, unidades, 05/2000 a 05/2001 (%)
Ranking Produto Empresa Market-Share (%)
1 Cataflan Geigy Novartis 1,46
2 Hipoglós Procter e Gamble 1,21
3 Neosaldina Knoll 1,20
4 Novalgina Aventis 1,08
5 Tylenol Janssen Cilag 0,89
6 Redoxon Roche 0,89
7 Buscopan Composto Boehringer Ingelheim 0,81
8 Lexotan Roche 0,80
9 Voltaren Geigy Novartis 0,77
10 Sorine Ache 0,72
Total dos 10 principais 9,83
Total dos 25 principais 17,11
Fonte: Elaboração própria a partir de dados primários IMS (2001a).

116 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
A Tabela 32 ratifica o predomínio das empresas estrangeiras
no mercado nacional, ético e não ético. A participação dos labora-
tórios nacionais oscilava entre 20% e 25% do faturamento total da
indústria em 1999/2000. Entretanto, com a entrada dos medica-
mentos genéricos no mercado, a partir de 1999, essa participação
aumentou para cerca de 40%. De fato, entre as 10 primeiras, em
que só constava uma empresa nacional em 1999, passaram, a partir
de 2006, a constar quatro, conforme a Tabela 32, representando
18,5% do total do faturamento da indústria. A liderança da Aché é
devida, pelo menos em parte, aos acordos que a empresa mantém
com empresas multinacionais que deixaram o país. Por exemplo, a
Prodome é uma joint-venture entre a Aché e a MSD. A Aché tornou-
se, ainda, representante do laboratório Park-Davis no país, o que
permitiu que a empresa explorasse o potencial de vendas dos pro-
dutos líderes da empresa.

Tabela 32. As 10 maiores empresas farmacêuticas no Brasil, 2006


Faturamento Origem do
Ranking Empresa Market-share
(US$ mil) capital
1 Aché 756.460 6,9 Nacional
2 Sanofi-Aventis 742.290 6,8 Estrangeiro
3 EMS Sigma Pharma 555.900 5,1 Nacional
4 Pfizer 541.730 5,0 Estrangeiro
5 Novartis 519.930 4,8 Estrangeiro
6 Medley 403.300 3,7 Nacional
7 Boehringer Ing. 320.460 2,9 Estrangeiro
8 Schering Plough 317.190 2,9 Estrangeiro
9 Eurofarma 301.930 2,8 Nacional
10 Schering do Brasil 298.660 2,7 Estrangeiro
Total das 10 maiores 4.757.850 43,7
Total 10.900.000 100,0
Fonte: Gadelha et al. (2008) e Abiquim.

Em 1999/2000, as companhias estrangeiras mostravam-se também


líderes nos mercados éticos e não éticos, conforme Tabelas 33 e 34.

3. A indústria farmacêutica no Brasil 117


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Tabela 33. Principais companhias da indústria farmacêutica,
mercado ético, 10/1999 a 10/2000
Faturamen-
Ranking Companhia Ranking Empresa Unidades
to (US$ mil)
1 Aventis Pharma 387.255 1 Aventis Pharma 96.124
2 Novartis 369.377 2 Novartis 76.907
3 Aché 339.161 3 Aché 65.429
Bristol Myers
4 235.836 4 Roche 52.700
Squibb
Boehringer
5 Roche 229.995 5 48.640
Ingelheim
6 Schering Plough 204.390 6 Schering Plough 42.834
Bristol Meyers
7 Janssen Cilag 188.965 7 41.003
Squibb
Sanofi Synthe-
8 Pfizer 187.714 8 38.623
labo
Schering do
9 157.610 9 Janssen Cilag 37.184
Brasil
Boehringer
10 154.934 10 Wyeth 26.573
Ingelheim
Total das 10 maiores: 2.455.237 Total das 10 maiores: 526.017
Mercado Ético Total 5.713.278 Mercado Total 1.147.393
Fonte: Elaboração própria a partir de dados primários IMS (2000c).

Tabela 34. Principais companhias da indústria farmacêutica,


mercado não ético, 10/1999 a 10/2000
Faturamen-
Ranking Companhia Ranking Empresa Unidades
to (US$ mil)
D.M. Ind. Farma-
1 82.626 1 Procter Gamble 28.213
cêutica
D.M. Ind. Farma-
2 Procter Gamble 72.185 2 18.150
cêutica
3 Knoll 36.232 3 Knoll 15.683
Smith Kline Smith Kline
4 33.847 4 12.979
Beecham Beecham
Boehringer Boehringer
5 31.064 5 8.065
Ingelheim Ingelheim
6 Bayer 21.581 6 Aventis Pharma 7.888
7 Aventis Pharma 17.615 7 Aché 5.644
8 Aché 15.046 8 Virtus 5.123
9 Virtus 13.929 9 Eli Lilly 4.287
10 Stiefel 11.892 10 Nestlé 4.162
Total das 10 maiores: 336.017 Total das 10 maiores: 110.194
Mercado Total 457.706 Mercado Total 150.811
Fonte: Elaboração própria a partir de dados primários IMS (2000c).

Assim, observa-se que as atividades de produção, desenvol-


vimento e comercialização de bens de saúde têm sido realizadas,

118 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
principalmente, por companhias farmacêuticas internacionais ou
multinacionais, geralmente de grande porte e com estrutura inte-
grada em base mundial, mas não localmente.
A Tabela 35 indica o intenso movimento de fusões e aquisi-
ções ocorrido entre 1979 e 1999.
Tabela 35. Participação dos 20 principais laboratórios no Brasil
(venda às farmácias), 1979-1999
Jan/Dez 1979 Jan/Dez 1989 Jan/Dez 1999
(%) (%) (%)
Roche 4,0 Roche 5,5 Aventis Pharma9 6,8
Johnson & Johnson 3,3 Biogalênica1 5,0 Novartis10 6,1
Merck S/A 3,1 Merrel Lepetit2 4,2 Aché 5,7
Bristol-Meyers
Schering Plough 2,9 Aché 3,9 4,6
Squibb11
Merrel 2,3 Rhodia 3,7 Roche 4,2
3
Aché 2,3 Prodome 2,8 Schering Polugh 3,5
MerckSharp&
2,3 Bristol4 2,7 Janssen Cilag 3,5
Dome
Boehringer Ingel-
Fontoura Wyeth 2,3 Janssen Cilag5 2,7 3,0
heim12
Hoechst 2,2 Sandoz 2,6 Pfizer 2,7
6
Sarsa 2,2 Byk 2,6 Wyeth 2,6
Sanofi Synthe-
Andrômaco 2,2 Schering Plough 2,4 2,5
labo13
Schering do
Rhodia 2,1 Lilly 2,3 2,4
Brasil
Geigy 2,0 Fontoura Wyeth7 2,2 GlaxoWellcome14 2,4
MerckSharp&
Sandoz 1,9 Hoechst 2,0 2,2
Dome
Lilly 1,8 De Angeli 2,0 Lilly 2,1
Squibb 1,8 Merck S/A 1,9 Knoll 2,0
Laborterápica
1,7 Bayer 1,8 Byk 2,0
Bristol
SmithKline Bee-
Bayer 1,6 Wellcome ICI8 1,8 1,9
cham15
Ciba 1,6 Squibb 1,8 AstraZeneca16 1,9
MerckSharp&
Sintofarma 1,4 1,7 Organon 1,8
Dome

Notas:
(1) Ciba+Geigy (9) Hoechst+Merrel Lepetit+Sarsa+Rhodia
(2) Merrel+Lepetit+Richter (10) Biogalênica+Sandoz
(3) Produtos MSD (parcial) (11) Bristol-Meyers+Squibb
(4) Laborterápica Bristol+Mead Johnson (12) Boehringer Ing.+De Angeli
(5) Janssen+Cilag+prod. Johson & Johnson parc. (13) Sanofi+Winthrop+Synthelabo
(6) Byk+Lorenzini (14) Glaxo+Wellcome
(7) Wyeth+Prod. Ayerst parc. (15) SmithKline+ prod. Beecham (éticos)
(8) Wellcome+ICI (16) Astra+Zeneca (ex-ICI)
Fonte: Grupemef (2000).

3. A indústria farmacêutica no Brasil 119


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Considerando-se que o valor das importações de fármacos
tem se mostrado em trajetória ascendente desde a década de 1990,
como visto na seção anterior, não se observa tendência à integração
vertical para trás na cadeia produtiva do setor. Já a integração horizon-
tal é em grande parte decorrente dos movimentos de integração e
concentração que ocorrem em âmbito mundial.
Dois aspectos particulares da estrutura do mercado foram obje-
tos de análise particular neste livro. O primeiro refere-se ao cálcu-
lo do índice de concentração, utilizando-se a mesma metodologia
normalmente empregada na análise antitruste, cujos resultados são
indicados na seção seguinte (3.3.1). O segundo diz respeito ao im-
pacto do crescimento do mercado de medicamentos genéricos sobre a
estrutura da indústria farmacêutica brasileira, que será detalhado
na subseção 3.3.1.1.

3.3.1. Mercados relevantes e poder de monopólio


Um dos grandes desafios da análise econômica na indústria farma-
cêutica consiste na definição do poder de monopólio das empresas,
conforme visto anteriormente, que se mostra pouco relevante quan-
do tomamos as vendas das empresas no mercado total, mas bastante
elevado quando comparamos princípios ativos semelhantes.
Um dos principais obstáculos para a realização desse tipo de
análise é a definição do mercado relevante, devido ao fato de que
as estatísticas industriais delimitam o mercado farmacêutico de ma-
neira muito ampla, dado que nem todos os medicamentos são subs-
titutos entre si, subestimando, dessa forma, o poder de monopólio
das empresas. A alternativa seria a partição da indústria farmacêu-
tica em subgrupos ou segmentos de mercado, nos quais realmente
houvesse concorrência entre elas. Para a divisão dos subgrupos,
dever-se-ia levar em consideração a real substitutibilidade dos pro-
dutos entre si. A utilização de taxonomias por classes terapêuticas
seria uma alternativa. No entanto, mesmo nesse nível de agregação,
podem ser encontradas situações onde os medicamentos apresen-
tem pouco ou nenhum grau de substitutibilidade, sob o ponto de
vista do consumidor. Uma alternativa poderia ser descer ao nível

120 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
de segmentação do mercado por princípio ativo ou matéria-prima
do medicamento. Nesse nível, surgem dois tipos de problema. Por
um lado, a classificação pode ser muito estreita, havendo princípios
ativos diferentes que são substitutos muito próximos entre si. Por
outro lado, medicamentos com o mesmo princípio ativo podem ter
forma farmacêutica diferente e não se apresentarem como substi-
tutos entre si.
Em trabalho realizado, em 2002, no Instituto de Economia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (Hasenclever, 2002), foi
abordado o problema por intermédio da análise das classes tera-
pêuticas e suas subclasses, bem como da avaliação da adequabilida-
de de cada princípio ativo nelas existentes. A solução foi, portanto,
verificar, em cada caso, qual era a capacidade de substituição de
um princípio ativo por outro, dentro da mesma subclasse terapêu-
tica. Avaliou-se, assim, para cada classe, se sua delimitação estava
muito estreita, ou seja, deixando de fora princípios ativos que eram
substitutos próximos entre si, ou se era muito ampla, ou seja, con-
tendo princípios ativos que não eram substitutos próximos entre si.
A partir desse exame, chegou-se ao número de 148 mercados rele-
vantes. Uma limitação dessa abordagem foi tratar como pertencen-
do ao mesmo mercado formas terapêuticas diferentes, correndo-se,
assim, o risco de estar delimitando os mercados ainda de maneira
bastante ampla.
Utilizou-se como fonte das informações sobre mercado (produ-
tos, produtores e faturamento) a base de dados do IMS (International
Medical Statistics) para o mês de outubro de 2000, considerando a
consolidação relacionada aos últimos 12 meses. Nessa base, os pro-
dutos estão organizados em uma classificação própria, baseada na
classificação ATC (Anatomical, Therapeutic, Chemical) da Organização
Mundial da Saúde, visando muito mais um completo inventário dos
produtos do que indicar o grau de substituição entre os mesmos.
O resultado final alcançou uma cobertura de 77% do faturamen-
to do mercado farmacêutico pesquisado pelo IMS no período, cor-
respondendo a cerca de US$ 4.478 bilhões, distribuídos em 148 mer-
cados relevantes, contando com 3.200 produtos e 199 laboratórios.

3. A indústria farmacêutica no Brasil 121


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
A partir da classificação dos produtos nos mercados relevan-
tes, passou-se a contagem do número de produtos, de princípios
ativos e laboratórios em cada mercado relevante. Obteve-se tam-
bém como medida do grau de concentração o índice de Herfin-
dahl-Hirschman.
Esses mercados têm níveis de concentração bastante diferen-
tes. A Tabela 36 divide os 148 mercados identificados de acordo
com a faixa de concentração, definidas pelo IHH. As faixas utiliza-
das para inferir o poder de monopólio ou grau de competição são
extraídas das diretrizes para a política antitruste dos EUA. Mer-
cados com IHH inferior a 1.800 são considerados competitivos,
aqueles com IHH entre 1.800 e 5.600 são considerados oligopo-
lizados e os superiores a 5.600 são entendidos como passíveis de
ação de monopólio.
Tabela 36. Faixas de concentração e poder de monopólio dos
mercados relevantes, 10/1999 a 10/2000
Nº de Soma de Nº de mer- Nº de
Faixas de
mercados % vendas % cados com % produtos %
concentração
relevantes (US$1.000) genéricos genéricos
0-1.800 30 20,3 2.127.701 44,8 24 36,9 220 56,6
1.800-5.600 70 47,3 2.454.984 51,7 31 47,7 146 37,5
5.600-9.999 37 25,0 156.886 3,3 10 15,4 23 5,9
10.000 11 7,4 9.853 0,2 0 0,0 0 0,0
Total 148 100,0 4.749.424 100,0 65 100,0 389 100,0

Fonte: Elaboração própria, com base em Hasenclever (2002), tabela 34.

Poucos são os mercados relevantes da indústria farmacêuti-


ca brasileira, conforme Tabela 36, que se enquadram na primei-
ra categoria, sendo precisamente apenas 20,3% dos mercados. A
maior parte dos mercados tem níveis de concentração intermediá-
rios, entre 1.800 e 5.600. No entanto, uma parte substantiva deles
apresenta-se como quase-monopólios (32,4%).
Parece existir uma relação inversa entre grau de concentração
e tamanho do mercado relevante. Apesar de abrigar apenas 20,3%
dos mercados, a faixa competitiva responde por 44,8% do total das
vendas do setor. O maior número de mercados relevantes encon-

122 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
tra-se na faixa de oligopólio (registram IHH entre 1.800 e 5.600)
com 47,3%, mas suas vendas totalizam 51,7% do total dos mesmos.
A presença de genéricos também parece ser mais comum nos mer-
cados menos concentrados. A quase totalidade dos mercados com-
petitivos, ou seja, 24 em 30, detém produtos genéricos e 56,6% de
todos os produtos genéricos se situam nesse mercado. Isso sugere
que a implementação de uma política de genéricos pode estar ge-
rando uma diminuição no nível de concentração nos mercados,
análise que será aprofundada na seção 3.3.1.1 a seguir.
A Tabela 37 permite identificar algumas características que in-
fluenciam a estrutura produtiva. A equação tem boa adequação – a
estatística F é significativa a 1% e o R2 é adequado para regressões
de corte horizontal. Percebe-se também que a equação confirma
parte das suspeitas levantadas acima. O tamanho do mercado,
definido pelo total das vendas, está negativamente correlacionado
com o nível de concentração. A estatística t indica que a variá-
vel é significativa a 10%. Depois, a presença de grande número de
princípios ativos concorrentes também influencia negativamente o
nível de concentração. Esses dois elementos parecem sugerir que,
de uma maneira geral, a importância da enfermidade em termos
de demanda do medicamento, representada pelo seu faturamento,
relacionada com cada princípio ativo, dificulta a emergência de
barreiras à entrada, além de aumentar o grau de atração de novos
concorrentes. Em simultâneo, deve também incentivar a pesquisa
pela busca de novos produtos.24 A introdução de novos princípios
ativos auxilia na diminuição do grau de concentração do mercado
ao possibilitar concorrência maior com medicamentos já patente-
ados ou que já tenham tido suas patentes expiradas. No entanto,
conforme pode ser visto ainda na Tabela 37, o sinal da variável
“número de genéricos” é positivo, ainda que não significativo es-
tatisticamente, indo contra a intuição levantada e os dados previa-
mente mencionados.

24. Conforme visto acima, a indústria farmacêutica local quase não realiza pesquisa
de novos produtos, tendendo a introduzir produtos pesquisados pelas empresas líde-
res em outros países. Logo, o efeito desse impacto se dará em nível internacional.

3. A indústria farmacêutica no Brasil 123


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Tabela 37. Regressão mínimos quadrados ordinários –
variável dependente: IHH
Variáveis Valores
Constante 6087.2**
(24.686)
Vendas -0.83468E-02*
(-1.847)
Número de Genéricos 1.8959
(0.860)
Número de Princípios
-145.59**
Ativos
(-6.044)
Estatísticas
R2 0.39486
F 31.32**
N 148
Notas: Estatística t entre parênteses;
*significativo a 10%;
**significativo a 1%.
Fonte: Elaboração própria.

Parte do resultado pode ser explicada por vieses relacionados


com a variável utilizada. O indicador “número de produtos gené-
ricos” não é o mais adequado para esse tipo de análise. A política
de genéricos, na época da realização da pesquisa, era muito recente
e grande parte dos produtos registrados ainda estava entrando no
mercado. Isto faz com que, em muitos casos, a parcela de mercado
dos genéricos seja muito pequena. Em outros, ela poderá ser rele-
vante. No entanto, a estatística não está diferenciando cada caso
com respeito a sua importância relativa dentro de cada mercado.
Na próxima seção trataremos do assunto de maneira bastante ex-
tensa e utilizando variáveis mais apropriadas.

3.3.1.1. Impacto da introdução de medicamentos


genéricos na estrutura do mercado brasileiro
A política de genéricos tem sido uma das principais tentativas go-
vernamentais para aumentar o acesso da população a medicamen-
tos. Sua concepção está baseada na ideia de que, uma vez expirada
a patente que resguarda direitos de propriedade sobre a comercia-
lização do medicamento, a introdução de novos produtos sem mar-
ca, associados ao princípio ativo, deverá contribuir para o aumen-

124 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
to da concorrência e para a redução de eventuais imperfeições de
informação presentes no mercado de medicamentos. No primeiro
caso, a entrada de novas empresas deveria assegurar o aumento da
competição no mercado associado a medicamentos de referência e
propiciar importantes reduções no preço. No segundo, na medida
em que os laboratórios associados se encarregariam de realizar o
teste de bioequivalência e biodisponibilidade e implementar cam-
panha de esclarecimento sobre o seu significado, o surgimento dos
genéricos serviria para que médicos e pacientes fossem informados
e aumentasse a procura por produtos alternativos ao medicamento
de referência.
O objetivo da política, então, seria obter ganhos para a popu-
lação em dois níveis. Por um lado, o oferecimento de medicamen-
tos mais baratos, com garantia de qualidade, ampliaria o excedente
do consumidor. Por outro, na medida em que a elasticidade-preço
da demanda fosse elevada, haveria ampliação do consumo e, por
consequência, do conjunto da população que tem acesso a trata-
mento por intermédio de medicamentos.
A esse respeito, cabe destacar três efeitos distintos e suas res-
pectivas hipóteses sobre os seus resultados:
 o efeito que os genéricos exercem sobre a estrutura de merca-
do, ou seja, qual o resultado que a introdução dos genéricos
têm sobre a concentração das vendas. Isto pode ser relevante
na medida em que os medicamentos genéricos podem estar
substituindo produtos de referência ou similares (com marca e
sem marca). O resultado esperado, no segundo caso, é que os
efeitos sobre a estrutura deveriam ser pequenos, enquanto, no
primeiro caso, esses efeitos seriam provavelmente grandes;
 o impacto dos genéricos sobre os preços dos medicamentos,
ou seja, na medida em que os produtos genéricos têm um pre-
ço inferior, qual o impacto sobre o preço médio do mercado.
Espera-se que, com um aumento da concorrência, haja uma
queda do preço médio dos produtos no mercado;
 o efeito dos genéricos sobre a quantidade vendida, ou seja, o
foco central da política governamental é aumentar o acesso
aos medicamentos, aumentando-se a quantidade de medica-
mentos comercializados. Caso o efeito sofrido seja somente
sobre o preço, estar-se-ia trabalhando apenas sobre uma troca

3. A indústria farmacêutica no Brasil 125


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
de excedente entre o produtor e o consumidor. Se o efeito for
sofrido também sobre a quantidade, o objetivo final da política
terá sido atingido.

Dados
Os dados utilizados são da base de dados do IMS referentes a ven-
das do comércio atacadista entre abril de 2000 e abril de 2001.
O uso de dados do comércio atacadista tem deficiências por não
captar as vendas realizadas diretamente da empresa farmacêutica
para o poder público e para o comércio varejista. Esse tipo de defi-
ciência pode gerar dois tipos de vieses para a análise. Primeiro, se
as compras de genéricos, do governo e/ou do comércio varejista,
representar um percentual das vendas totais de genéricos diferen-
te daquele representado pela sua participação no total das vendas
dos demais medicamentos, haverá uma tendência a subestimar (em
caso de participação superior) ou superestimar (em caso de partici-
pação inferior) a importância dos genéricos. É razoável supor que a
participação do governo nas compras totais de genéricos seja supe-
rior a sua participação nas compras dos demais medicamentos. O
governo pode alterar suas compras para genéricos por intermédio
de ordens administrativas, enquanto o setor privado dependerá da
eficiência do sistema de informações para conhecer a existência
dos genéricos. Ademais, a ordem para alterar a prescrição médica
no caso governamental é imediata, ao passo que o setor privado
dependerá do médico e de sua autonomia para prescrever o me-
dicamento. Quanto à venda direta ao comércio varejista, poderá
haver um possível viés em razão da formação de preços no setor
atacadista, normalmente associada a algum tipo de mark-up. Como
a margem de comercialização é um percentual fixo do preço e o
custo da comercialização não difere quando se trata de comercia-
lizar medicamentos genéricos e com marca, a venda de medica-
mentos de marca, em razão de seu preço superior, passa a ser mais
vantajosa para os intermediários atacadistas frente aos genéricos.
A base de dados fornecida pela Anvisa, diferentemente da
base de dados do IMS, registra as vendas de genéricos diretamente
junto ao produtor.

126 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
De acordo com a Tabela 38, em média, no período de análise,
apenas 48% das vendas de genéricos foram captadas pelo IMS.
Na seção 3.3.2 a seguir, estimou-se que a venda de medicamentos
diretamente a farmácias, ao governo e a hospitais estaria em torno
de 12%. Logo, pode-se concluir que existe uma tendência a se su-
bestimar a participação dos genéricos utilizando-se as estatísticas
do IMS.

Tabela 38. Quantidade e crescimento das vendas de genéricos


Comércio Atacadista (IMS) Indústria (Anvisa)
Quantidade Tx de Cres- Quantidade Tx de Cres- IMS/Anvisa
Mês
Vendida cimento (%) Vendida cimento (%) (%)
jun/00 531.100 – 1.922.382 – 27,6
jul/00 674.945 27,1 2.149.825 11,8 31,4
ago/00 794.148 17,7 2.485.160 15,6 32,0
set/00 904.174 13,9 2.434.090 -2,1 37,1
out/00 1.093.253 20,9 2.948.491 21,1 37,1
nov/00 1.227.150 12,2 2.121.163 -28,1 57,9
dez/00 1.505.847 22,7 2.839.881 33,9 53,0
jan/01 1.840.197 22,2 3.368.908 18,6 54,6
fev/01 1.706.654 -7,3 3.114.781 -7,5 54,8
mar/01 2.296.594 34,6 3.979.504 27,8 57,7
abr/01 2.578.420 12,3 4.110.616 3,3 62,7
Total 15.152.482 385,5 31.474.801 113,8 48,1
Fonte: Elaboração própria com base em IMS e Anvisa.

O segundo tipo possível de viés está relacionado a prováveis


diferenças nas taxas de crescimento dos diferentes tipos de deman-
da. Aqui, também se deve esperar diferenças. Como a demanda
governamental é deslocada de maneira imediata para o medica-
mento genérico,25 sua taxa de crescimento, após o período ime-
diato ao lançamento de um medicamento, dependerá apenas do
surgimento de genéricos em novos princípios ativos ou da própria
demanda pelo princípio ativo como um todo, ou seja, do aumento
do número de doentes. No caso da demanda privada, a situação
é diferente. Como não há adesão imediata aos genéricos, a taxa
de crescimento deverá ser lenta inicialmente, crescendo paulati-
namente. Assim, após o lançamento do genérico, a taxa de cres-

25. Está se supondo que, como a política de genéricos é uma política pública, haverá
uma maior aderência dos tratamentos propostos pelo setor público aos medicamen-
tos genéricos.

3. A indústria farmacêutica no Brasil 127


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
cimento de demanda dos genéricos irá depender de dois efeitos:
efeito substituição – mudança paulatina de usuários dos medicamentos
de marca para genéricos – e efeito do aumento da demanda com a in-
clusão de novos consumidores. O efeito substituição por sua vez é
condicionado por dois efeitos distintos. Primeiro, se os consumido-
res e os médicos, responsáveis pela prescrição dos medicamentos
éticos, estão informados a respeito da existência dos medicamentos
genéricos. Segundo, se o comércio varejista está sendo pressionado
– pela demanda, concorrência ou por organismos governamentais
– a trabalhar com produtos genéricos. O efeito aumento do consu-
mo, por sua vez, irá depender do uso mais eficiente dos recursos
públicos na compra de medicamentos e do poder aquisitivo dos
consumidores.
Esse efeito pode ser observado ainda na Tabela 38. Inicial-
mente, o total de genéricos registrados pela base de dados IMS
era de apenas 27,6% do total das vendas da indústria, de acordo
com a base de dados da Anvisa. Na medida em que o tempo vai
passando, a captação das vendas industriais pela base de dados do
IMS passa a aumentar, chegando, em abril de 2001, a 62,7%. De
qualquer maneira, pode-se perceber o sucesso de vendas de gené-
ricos no período, tendo crescido cerca de 386% de acordo com o
IMS e cerca de 114% pela base de dados Anvisa. Isto sugere que,
apesar de haver uma tendência a se subestimar a participação dos
genéricos no total dos medicamentos, a utilização das estatísticas
do IMS deverá superestimar a taxa de crescimento dos genéricos
no período. A base de dados da Anvisa apresenta maior demanda
no período inicial devido à inclusão do setor público.
No entanto, a utilização da base de dados do IMS tem suas
vantagens. Por não incluir as compras do governo, permite isolar
o efeito dos genéricos sobre a demanda privada de medicamentos.
Além disso, a base de dados permite uma comparação temporal
entre a taxa de crescimento de genéricos e dos demais produtos,
devido a sua ampla cobertura. Ademais, apresenta dados de medi-
camentos individuais, permitindo uma análise mais desagregada.

128 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Optou-se por dividir os medicamentos por princípio ativo e
não por mercado relevante, em razão do alvo da política governa-
mental ser o medicamento de referência dentro de um determina-
do princípio ativo. Foram identificados 75 princípios ativos, totali-
zando 1.250 medicamentos, sendo 146 genéricos, 96 de referência,
521 similares com marca e 486 similares sem marca.

Efeito sobre a estrutura de mercado


Os medicamentos genéricos tiveram um forte efeito sobre a estru-
tura de mercado, conforme pode ser observado na Tabela 39. Em
abril de 2000, o IHH médio era de 0,6731, caindo para 0,5651
em abril de 2001. Esse movimento de desconcentração foi basea-
do na substituição de medicamentos de referência por genéricos.
Os medicamentos de referência que representavam, em abril de
2000, 73,9%, tiveram uma queda de sua participação no merca-
do para 64,4%. O espaço perdido foi quase inteiramente ocupa-
do por produtos genéricos. Isto sugere que a entrada de genéricos
afetou primordialmente a parcela de mercado de medicamentos
de referência, pouco influindo sobre a participação de similares e
similares sem marca, que mantiveram suas parcelas de mercado
praticamente inalteradas. Isto se deve, provavelmente, ao fato de a
propaganda estar dirigida para a substituição dos medicamentos de
referência por genéricos. Dessa maneira, pode ser correto afirmar
que os similares e similares sem marca têm posição privilegiada.
Recentes medidas das autoridades sanitárias no sentido de proibir
os similares sem marca ou exigir que, para sua permanência no
mercado, sejam realizados testes de bioequivalência para renova-
ção dos registros, procuram atacar parcialmente esse problema.26

26. Deve-se destacar que, nesse caso, a preocupação central estaria voltada para a
falta de garantia de bioequivalência e biodisponibilidade. Provavelmente, a adoção
dessa medida criará incentivos para a realização desses testes para os medicamentos
excluídos do mercado.

3. A indústria farmacêutica no Brasil 129


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Tabela 39. Evolução do IHH para os princípios ativos
em que genéricos foram introduzidos, 04/2000 a 04/2001
IHH Parcela de Mercado
IHH Desvio Similar
Referência Genéricos Similar
Médio Padrão Sem Marca
abr/00 0,6731 0,2522 73,9 0,0 4,3 21,7
mai/00 0,6475 0,2606 71,8 1,0 5,2 22,0
jun/00 0,6342 0,2556 70,9 1,8 5,6 21,8
jul/00 0,6228 0,2546 69,7 2,0 6,5 21,8
ago/00 0,6165 0,2545 69,2 2,7 5,8 22,3
set/00 0,6110 0,2588 68,3 2,9 6,1 22,7
out/00 0,6076 0,2524 68,4 4,3 4,5 22,8
nov/00 0,6117 0,2511 68,8 4,6 4,5 22,1
dez/00 0,6046 0,2578 67,9 5,3 5,0 21,8
jan/01 0,5883 0,2599 66,3 6,9 4,8 21,9
fev/01 0,5790 0,2538 65,7 7,7 5,1 21,5
mar/01 0,5714 0,2528 65,1 8,2 5,4 21,3
abr/01 0,5651 0,2520 64,4 9,3 5,1 21,3
Fonte: Elaboração própria com base em IMS.

A regressão apresentada na Tabela 40 procura analisar o papel


representado pela introdução dos genéricos na transformação da
estrutura de mercado identificada na Tabela 39. Trata-se de uma
equação de corte longitudinal, com variáveis dummies de grupo. A
variável dependente é o índice de Herfindhal-Hirschman de cada
um dos 75 princípios ativos acima mencionados, em cada um dos
12 meses entre maio de 2000 e abril de 2001. São utilizadas duas va-
riáveis independentes: parcela de mercado de genéricos (Mktgen)
e vendas. O resultado do modelo é bastante satisfatório: o R2 é sufi-
cientemente elevado e a estatística F sugere boa adequação. A par-
cela de mercado dos genéricos tem sinal negativo e significativo,
sugerindo que quanto maior a participação dos genéricos, menor a
concentração encontrada no mercado. A variável de vendas sugere
um resultado curioso: quanto maior o mercado, maior o seu nível
de concentração.

130 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Tabela 40. Regressão painel, por efeitos fixos e aleatórios
Variável Dependente IHH
Efeito Fixo
(1)
Mktgen -0,45977
(-19.278)
Vendas 0.12582E-05
(5.816)
Estatísticas
N 975
2
R 0.96873
F 366.05
Fonte: Elaboração própria.

Aparentemente, a política de genéricos vem apresentando


bons resultados no que se refere à inserção de medicamentos subs-
titutos no mercado. A experiência norte-americana mostra que, en-
tre a instauração da Hatch-Waxman Act, que disciplinou e incentivou
o mercado de genéricos, e o final do primeiro ano de sua aplicação,
o crescimento foi de apenas cerca de quatro pontos percentuais
(ver CBO, 1998). Após 12 anos, os genéricos atingiram 42,6% do
total de unidades de medicamentos vendidos nos EUA. Os resul-
tados obtidos sugerem a possibilidade de se chegar à participação
semelhante no mercado brasileiro.
Outras questões, tais como poder aquisitivo da população bra-
sileira e cobertura da política pública de aquisição de medicamen-
tos, que apresentam perfis totalmente distintos dos americanos e
europeus, também deverão ser consideradas para que a evolução
do impacto dos medicamentos genéricos possa ser acompanhada.

Preços de Medicamentos
Os preços dos medicamentos, em dólar, no período, de uma ma-
neira geral decresceram, em razão do controle de preços exercido
pelo governo. Isto pode ser observado no Gráfico 1, que mostra
que o preço médio dos 75 princípios ativos analisados caiu de cerca
de US$ 9,00 para cerca de US$ 7,00.

3. A indústria farmacêutica no Brasil 131


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Gráfico 1. Preço médio dos medicamentos, 04/2000 a 04/2001

Fonte: Elaboração própria.

No entanto, deve-se procurar identificar possíveis efeitos da


introdução de genéricos sobre a variação dos preços dos medica-
mentos, principalmente sobre o medicamento de referência. Para
isto, foram elaboradas duas equações (Tabela 41). Na primeira –
equação 1 –, tem-se como variável dependente o preço médio do
medicamento de referência. Na segunda – equação 2 –, a variável
dependente é a variação do logaritmo da relação entre o preço
médio dos medicamentos genéricos (PMGEN) e o preço médio do
medicamento de referência (PMREF). As duas equações utilizam
dados em painel com variáveis dummies de grupo. Para a segunda
equação foram eliminados os anos em que a parcela de mercado
do medicamento de referência era 0. Nas duas equações são testa-
das três variáveis independentes: parcela de mercado de genéricos,
vendas e o índice de Herfindahl-Hirschman.
Tabela 41. Regressão painel, por efeitos fixos
Variáveis Dependentes
Preço médio do medica-
Variáveis independentes ΔLog (PMGEN/PMREF)
mento de referência
Equação (1) Equação (2)
IHH 23.829 -0.33335
(2.866) (-3.671)
Mktgen 4.1697 -0.28286
(0.590) (-2.833)
Vendas -0.24579E-04 -0.37058E-04
(-0.448) (-3.976)
Estatísticas
N 975 403
2
R 0.99080 0.17636
F 1254.84 1.24
Fonte: Elaboração própria.

132 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
A equação (1) da Tabela 41 acima apresenta um R2 suficien-
temente elevado e uma estatística F bastante adequada. O coefi-
ciente da parcela de mercado de genéricos (Mktgen) apresenta um
surpreendente sinal positivo ainda que não seja estatisticamente
significativo. O coeficiente da variável “vendas” tem sinal negati-
vo, porém também não é significativo. A única variável com bom
desempenho é o índice de Herfindahl-Hirschman, que tem sinal
negativo e estatisticamente significativo a 1%. Esse resultado sugere
que não é diretamente a política de genéricos que está influencian-
do os preços, mas sim seus efeitos sobre a estrutura de mercado, ou
seja, quanto mais desconcentrado o mercado, menor o preço do
medicamento de referência. É a desconcentração do mercado, in-
dependente se em decorrência da grande presença de similares ou
como consequência da introdução de genéricos, que parece condu-
zir à redução dos preços dos medicamentos de referência.
A segunda equação da Tabela 41 apresenta um teste alternati-
vo normalmente utilizado na literatura (Caves et al., 1991, e Fiúza e
Lisboa, 2001). Ele procura captar que tipo de estratégia de preços
as líderes de mercado parecem estar adotando após a introdução
de medicamentos genéricos. Os resultados apresentados por Caves
et al. (1991) e Fiúza e Lisboa (2001) sugerem que, após a entrada
de genéricos, as empresas líderes de mercado (produtoras dos me-
dicamentos de referência) adotam uma forma de “Ramsey pricing”,
ou seja, diferenciam seus preços de acordo com os consumidores
envolvidos nas vendas. Dessa maneira, as empresas produtoras de
medicamentos de referência elevariam os seus preços, visando ex-
trair excedente do consumidor dos segmentos mais resistentes à
mudança em que a elasticidade-preço da demanda fosse inferior,
deixando os segmentos de maior elasticidade-preço da demanda
para os genéricos.
Se a relação entre o preço de medicamentos genéricos e medi-
camentos de referência se aproxima de 1, isto indicaria uma conver-
gência entre o preço dos genéricos e aquele dos medicamentos de
referência, ao passo que se ele se aproxima de 0, isto indicaria que
os preços dos dois medicamentos estão se distanciando. Logo, se o
indicador apresenta valores positivos, isto indicaria que a estratégia
utilizada pelas empresas reduz a distância entre os preços. Se o in-
dicador apresenta valores negativos, isto indicaria que a estratégia

3. A indústria farmacêutica no Brasil 133


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
das empresas estaria distanciando os preços e que provavelmente
algum tipo de segmentação de mercado estaria se formando.
No entanto, o modelo da equação (2), ainda na Tabela 41,
apresenta uma adequação bastante débil. Percebe-se que tanto o R2
quando a estatística F são bem pequenos. É interessante observar
que todas as variáveis independentes têm sinal negativo, ou seja,
aparentam estar negativamente correlacionadas com um aumento
da dispersão dos preços, ainda que no conjunto explique muito
pouco a variação.
O mau desempenho do modelo pode estar relacionado com
duas possibilidades que devem ser explicitadas. Primeiro, a in-
trodução de genéricos é bastante recente e o espaço de um ano
avaliado não permitiu identificar estratégias claras de reação por
parte das empresas líderes de mercado. Segundo, a falta de clareza
quanto à estratégia pode ser consequência da força com que a po-
lítica de genéricos foi implementada. Nesse caso, deve-se chamar
a atenção para duas características. De um lado, está o já mencio-
nado controle de preços. De outro, está a administração da política
de genéricos empreendida pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa,
que induziram a preços de entrada de genéricos 40% inferiores aos
preços dos medicamentos de referência. Nesse contexto, o exame
do Gráfico 2, abaixo, pode ser bastante elucidativo.
Gráfico 2. Média da relação entre o preço médio dos medicamentos
de referência e genéricos, 05/2000 a 04/2001

Fonte: Elaboração própria.

134 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
O Gráfico 2 mostra a média da relação entre preços médios de
genéricos e preços dos medicamentos de referência entre maio de
2000 e abril de 2001. Percebe-se que existiu uma flutuação das re-
lações em torno de 0,6, próximo ao preço referencial estabelecido
pelas autoridades sanitárias.

Variação da quantidade
O principal objetivo da política de genéricos era aumentar o acesso
do público a medicamentos por intermédio de preços mais bara-
tos. Essa questão deve ser examinada com cuidado, visto que o
mercado de medicamentos no período apresentou uma contração
de 15,3% das unidades vendidas. Os mercados em que genéricos
foram introduzidos no período apresentaram uma contração ainda
maior de cerca de 17,3%, ainda que os produtos genéricos tenham
crescido cerca de 612%. Em parte, o baixo crescimento registrado
pode ser atribuído à qualidade dos dados utilizados. Conforme já
destacado, tendo sido obtidos a partir dos registros na venda ata-
cadista, eles podem deixar de captar importantes percentuais das
vendas que são dirigidas a órgãos oficiais, compras diretamente re-
alizadas ao produtor ou que fazem parte do processamento interno
de empresas distribuidoras integradas ao varejo (conforme sugeri-
do acima). A Tabela 42 mostra o decréscimo das vendas totais dos
75 princípios ativos analisados e o crescimento da participação dos
genéricos no total das vendas.

3. A indústria farmacêutica no Brasil 135


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Tabela 42. Evolução das quantidades vendidas de medicamentos
por status do produto, 05/2000 a 04/2001
Similar
Genéricos % Referência % sem % Similar % Total
marca
Mai/
362,1 1,3 18.300,9 65,9 1.634,0 5,9 7.463,4 26,9 27.760,4
2000
Jun/
531,1 2,0 17.316,4 65,6 1.608,0 6,1 6.951,7 26,3 26.407,2
2000
Jul/
674,9 2,7 15.879,9 64,6 1.528,8 6,2 6.485,2 26,4 24.568,8
2000
Ago/
794,1 3,2 15.624,5 63,1 1.624,7 6,6 6.702,5 27,1 24.745,8
2000
Set/
904,2 4,0 14.269,6 62,7 1.491,1 6,6 6.076,2 26,7 22.741,2
2000
Out/
1.093,3 4,6 14.936,9 62,3 1.456,1 6,1 6.482,6 27,0 23.968,8
2000
Nov/
1.227,2 5,2 14.839,9 62,9 1.382,2 5,9 6.134,9 26,0 23.584,2
2000
Dez/
1.505,8 6,5 14.242,4 61,3 1.539,4 6,6 5.945,6 25,6 23.233,3
2000
Jan/
1.840,2 7,8 14.001,1 59,4 1.676,5 7,1 6.047,6 25,7 23.565,4
2001
Fev/
1.706,7 8,8 11.455,0 59,2 1.351,8 7,0 4.826,8 25,0 19.340,3
2001
Mar/
2.296,6 9,6 13.996,9 58,8 1.640,3 6,9 5.883,9 24,7 23.817,6
2001
Abr/
2.578,4 11,2 13.165,6 57,3 1.576,0 6,9 5.644,3 24,6 22.964,4
2001
Total 15.514,6 5,4 178.029,1 61,7 18.508,9 6,5 74.644,7 26,0 286.697,4

Fonte: Elaboração própria com base em IMS.

O pior desempenho das classes que detêm genéricos pode ser


alvo de distintas interpretações. Em primeiro lugar, pode-se espe-
cular que a introdução de políticas específicas de genéricos fez com
que as empresas líderes reduzissem os investimentos na divulgação
de seus produtos que estavam sofrendo concorrência de genéri-
cos, dirigindo recursos para novos produtos, em que gozavam de
monopólio no mercado. Segundo, pode-se pensar que a taxa de
crescimento de medicamentos antigos deve ser inferior àquela de
medicamentos mais novos e, por isto, o crescimento registrado no
mercado foi tão pequeno. Terceiro, pode-se simplesmente especu-
lar que se captássemos corretamente a dimensão do mercado de
genéricos, conforme a Tabela 37 sugere, o montante total de vendas
desses princípios ativos seria muito maior, invertendo a lógica. De
fato, se considerarmos que os números da Tabela 42 cobrem ape-

136 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
nas 50% da quantidade total dos genéricos vendidos, a quantidade
vendida total seria de 302 milhões de unidades, o que tornaria o
mercado desses princípios ativos mais dinâmico que os demais.
O esforço aqui realizado está voltado para contribuir para a
compreensão do efeito dos genéricos sobre as unidades vendidas,
tentando diferenciar os mercados de acordo com a participação
total dos genéricos. Para isto, elaborou-se a regressão com dados de
painel com variáveis dummies de grupo e efeitos de período, apre-
sentada na Tabela 43. A variável dependente é a taxa de variação
da quantidade de medicamentos vendidos. Como se trata de um
exame dentro do conjunto de medicamentos com princípios ativos
iguais e formas farmacêuticas semelhantes, os erros de medida se-
rão pequenos.
Tabela 43. Regressão painel com efeitos fixos
Taxa de variação da
quantidade
Constante -0,2578
(-1,047)
IHH 0,2113
(0,553)
Mktgen 0,98118
(3,092)
Vendas 6,875E-0,5
(1,303)
Estatísticas
N 825
2
R 0,142
F 1,39
Fonte: Elaboração própria.

Os resultados apresentados na Tabela 43 parecem ser positi-


vos para a política de genéricos, ainda que o R2 seja bastante baixo
e a estatística F indique significância a apenas 5%, ou seja, o poder
explicativo do modelo é bastante reduzido. No entanto, existe cor-
relação positiva e estatisticamente significativa entre a introdução
de genéricos e a taxa de crescimento da quantidade de medicamen-
tos vendida. Provavelmente, variáveis macroeconômicas não utili-
zadas no modelo poderiam explicar melhor alguns dos resultados
obtidos em termos de taxa de variação.

3. A indústria farmacêutica no Brasil 137


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
3.3.1.2. Outros estudos sobre o mesmo tema
Quando um medicamento patenteado é lançado no mercado, a
empresa produtora detém o monopólio temporário do produto.
Assim, fica assegurado um mercado consumidor sem concorrentes,
no qual se poderão extrair rendas que remunerarão os investimen-
tos iniciais em P&D daquele produto e de outros tantos que não
tiveram sucesso terapêutico ou comercial. Quando a expiração da
patente ocorre, outras empresas podem entrar em cena e produzir
os genéricos.
Note-se que, mesmo quando se inicia a produção de medica-
mentos genéricos, a empresa pioneira mantém o seu produto no
mercado, ou seja, a sua marca. Portanto, se durante o período de
monopólio essa empresa fez consumidores cativos e fiéis à marca, é
possível que, após o lançamento dos genéricos, esses consumidores
continuem usando o medicamento de referência. A propaganda é
um instrumento muito forte no ambiente em que vivemos, sendo
capaz de influenciar a vida das pessoas ao ponto de modificar uma
decisão de compra.
Isto demonstra o quão importante é o investimento realizado
em promoção e divulgação de um produto novo. A propaganda de
medicamentos segue um padrão de investimento inicial, no lança-
mento do produto, bastante volumoso e declinante quando próximo
da expiração da patente. Isto acontece porque a propaganda tem um
efeito expansivo sobre a demanda pelo fármaco, o que poderia fazer
com que os genéricos se beneficiassem dela (Fiuza e Lisboa, 2001).
Além disso, a propaganda poderia sinalizar que o mercado ainda
tem potencial, o que poderia induzir a entrada de mais empresas.
Por outro lado, quando uma empresa produtora do medica-
mento genérico entra no mercado, ela sofre a concorrência da em-
presa pioneira, podendo, ainda, concorrer com outras empresas
produtoras do mesmo genérico. Então, o investimento em promo-
ção segue o mesmo padrão, maior inicialmente, a fim de promover
a marca, e declinante posteriormente.
O medicamento genérico tem outras formas de diferenciação
e promoção no mercado: modificações na forma de apresenta-
ção, na quantidade de medicamento por embalagem de venda e
a inclusão de informações ou componentes adicionais (aplicadores
descartáveis e ilustrações sobre a forma de uso), bem como a valo-

138 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
rização de qualidade da empresa, o denominado marketing institu-
cional. Dentre as empresas que têm utilizado o fortalecimento da
marca institucional na comercialização de medicamentos genéricos
destacam-se: a EMS Sigma Pharma, pioneira no registro e lança-
mento de medicamentos genéricos no Brasil; a Biosintética, com
campanhas publicitárias voltadas para farmácias e distribuidores
e criação de uma revista bimestral informativa; a Eurofarma, pri-
meira empresa a investir em propaganda para o esclarecimento do
consumidor final sobre o conceito de medicamentos genéricos e na
criação do “Disk Genéricos Eurofarma”; e a Medley, com grandes
investimentos em marketing (Abreu, 2004).

Produção de genéricos
As empresas produtoras de medicamentos genéricos focam seus
gastos na produção, distribuição e marketing. Entretanto, os custos
no segmento podem ser altos, devido ao grande número de concor-
rentes e também à necessidade de adequação a padrões de quali-
dade estipulados e a exigências das agências reguladoras (Marinho,
2008).
No início de 2000, chegaram ao mercado os dez primeiros me-
dicamentos genéricos (ampicilina, ranitidina, cefalexina, cloridrato
de metoclopramida, oxacilina sódica, cloridrato de lincomicina,
claritromicina, salbutamol, furosemida e cetoconazol) de uma série
que, no início de 2003, atingiu um montante de 635 produtos com
1.111 apresentações (Barros, 2004, p. 65).
Segundo a Progenéricos (2009), existem, no mercado brasi-
leiro, medicamentos genéricos para o tratamento de doenças do
sistema cardiocirculatório, anti-infecciosos, aparelho digestivo/
metabolismo, sistema nervoso central, antiinflamatórios hormo-
nais e não hormonais, dermatológicos, doenças respiratórias, sis-
tema urinário/sexual, oftalmológicos, antitrombose, anemia, anti-
helmíntico-parasitários, oncológicos e contraceptivos. Ou seja, já
é possível tratar com medicamentos genéricos a maior parte das
doenças conhecidas.
Até o final de 2008, conforme dados da Anvisa, 334 fármacos
estavam registrados, sendo 2.572 medicamentos genéricos regis-
trados com 14.130 apresentações (Anvisa, 2009a). A comparação

3. A indústria farmacêutica no Brasil 139


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
desses dados, referentes a 2008, com os dados de 2003 (acima des-
critos) nos apontam a tendência crescente da participação de gené-
ricos no mercado nacional.
Quando observamos dados de registro por empresa, a EMS
apresenta o maior número de medicamentos registrados, 314 no
total, seguida pela empresa Sigma Pharma, com 259 medicamen-
tos, e pela Nature’s Plus, com 190 medicamentos (Anvisa, 2009b).
A tabela a seguir apresenta as principais empresas detentoras dos
registros de genéricos:
Tabela 44. Número de registros de medicamentos genéricos
por empresa detentora
Rk Empresas Registros
1 EMS 314
2 Sigma Pharma 259
3 Nature’s Plus 190
4 Medley 176
5 Eurofarma 146
6 Prati, Donaduzzi 142
7 Teuto 114
8 Neo Química 94
9 Germed 86
10 Biosintética 82
Fonte: Anvisa, 2009b.

Esses dados podem surpreender à primeira vista, mas ainda


não se refletem em vendas no mercado. O Brasil está longe de
países como os EUA, onde os genéricos são 60% das unidades ven-
didas e equivalem a 13% do faturamento total do mercado, em tor-
no de US$ 22 bilhões (Progenéricos, 2009). Segundo Hasenclever
(2004), a venda de medicamentos genéricos no Brasil, em 2003,
correspondia a US$ 259,7 milhões e 79 milhões de unidades (cai-
xas).
Dados recentemente divulgados mostraram que, somente no
primeiro trimestre de 2007, as vendas foram de US$ 301,3 milhões
e 51,4 milhões de unidades (caixas). Esses números representaram
um aumento de 40,9% frente aos US$ 213,7 milhões vendidos no
primeiro trimestre de 2006 (Folha de S. Paulo, 2007). Ou seja: com-
parando-se com 2003 e supondo-se que as vendas do primeiro e do

140 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
segundo semestres sejam iguais, tivemos, em 2007, um faturamento
maior do que o dobro de 2003, ainda que o número de unidades
não tenha aumentado na mesma proporção. Esse aumento indica
que as vendas de medicamentos genéricos tendem a crescer cada
vez mais. O gráfico a seguir mostra a evolução da participação dos
genéricos no mercado brasileiro.
Gráfico 3. Percentual de participação de medicamentos
genéricos no mercado brasileiro

Fonte: Elaborado a partir de dados obtidos em Progenéricos (2009).

Efeitos no mercado e nos preços a partir da entrada dos


genéricos
Em diversos estudos internacionais foram pesquisados os efeitos da
entrada dos medicamentos genéricos no preço do medicamento de
referência, como visto na seção anterior. Utilizando outra metodo-
logia, Fiuza e Lisboa (2001) realizaram um estudo para o Brasil e
concluíram que o preço do medicamento de referência mantém-se
ou aumenta, com o objetivo de continuar alcançando apenas um
segmento de mercado mais inelástico ao preço e fiel à marca.
No Brasil, a partir de 2000, após a entrada dos medicamen-
tos genéricos no mercado, se esperava que a concorrência maior
refletisse nos preços. De fato, observou-se que os medicamentos

3. A indústria farmacêutica no Brasil 141


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
de referência são sensíveis negativamente ao aumento do número
de genéricos em seus mercados. O comportamento dos produto-
res dos medicamentos de referência, entretanto, mudou frente aos
medicamentos genéricos, quando comparado à maneira como se
comportavam diante da concorrência dos medicamentos similares
(Nishijima, 2003).
Conforme evidenciado por Fiuza e Lisboa (2001), a concor-
rência prévia propiciada pelos medicamentos similares não era
suficiente para reduzir os preços dos medicamentos de referência.
O que pode ser explicado pela não intercambialidade entre um me-
dicamento de referência e um medicamento similar, além da falta
de confiança e credibilidade dos medicamentos similares, tanto pe-
los profissionais prescritores quanto pela população. Ávila (2003)
ressalta ainda que, diferentemente dos medicamentos de marca, o
segmento de genéricos apresenta margens estreitas – logo, não se
pode imaginar grande espaço para a negociação de preços.
Em Hasenclever (2004) é apresentado o forte efeito causado
na estrutura de mercado pela entrada dos medicamentos genéricos
no Brasil. O efeito pode ser sentido na queda das vendas de me-
dicamentos de referência, que, em abril de 2000, representavam
73,9% e um ano depois haviam caído para 64,4%.
Segundo a Febrafarma, os genéricos entraram no mercado e
continuarão ganhando mercado. Em resposta a essa concorrência,
as empresas que não possuem linha de genéricos intensificaram
a busca de produtos inovadores (patenteados). Conforme dados
divulgados em 2007, a área de pesquisa e desenvolvimento de no-
vos medicamentos aumentou em 28,4% a sua previsão de investi-
mentos no Brasil, somando R$ 388,4 milhões (Oliveira, 2007).

Perspectivas futuras
O surgimento dos medicamentos genéricos atraiu investimentos
de empresas nacionais e estrangeiras. Muitas empresas estrangeiras
entraram no novo mercado por associação com empresas nacio-
nais, pela compra de pequenas empresas já existentes, pelo arren-
damento da capacidade ociosa de laboratórios já instalados ou pela
construção de novas plantas (Marinho, 2008).

142 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Em 10 anos de presença no mercado brasileiro (1999-2008), a
indústria de genéricos investiu perto de US$ 170 milhões na cons-
trução e modernização de plantas industriais no Brasil. Desde o
início do programa dos genéricos, as maiores indústrias desse setor
no mundo iniciaram movimento de vendas de seus produtos no
país e estudos para a instalação de plantas industriais no mercado
local, contribuindo decisivamente para a ampliação da oferta de
medicamentos para os consumidores. A previsão de investimen-
tos até 2010 é de cerca de 354 milhões de dólares. O programa
serviu também para o fortalecimento da indústria brasileira. Hoje,
entre as seis maiores empresas farmacêuticas, quatro são brasilei-
ras, como visto anteriormente. São empresas que apresentam cres-
cimento acelerado e todas elas produzem medicamentos genéricos.
No mercado de genéricos, por origem de capital, cerca de 88% das
empresas são nacionais, 3,6 % indianas, 1,8% alemãs, 5,1% suíças,
1,1% americanas e 0,3% canadenses (Progenéricos, 2009).
Há perspectivas de um crescimento ainda maior desse seg-
mento, em razão da abertura recente do mercado de contracepti-
vos e hormônios aos genéricos e com o vencimento de patentes de
vários medicamentos nos próximos anos (Capanema, 2006).
Entre 2009 e 2013, está previsto o vencimento de 15 patentes de
medicamentos patenteados considerados de grande interesse para
o mercado de genéricos. Conhecidos como blockbusters, as receitas
anuais somadas desses medicamentos atingem R$1 bilhão. Dentre
esses medicamentos, encontra-se o Lipitor®, utilizado na hiperco-
lesterolemia e, atualmente, o mais vendido no mundo, gerando,
somente no Brasil, receitas de R$ 210 milhões (Osse, 2009).
Outro caso interessante, que podemos ainda ressaltar nessa
seção, foi o fim da patente do medicamento Viagra®, em junho
de 2010. Dias antes da data do término de exclusividade da em-
presa detentora da patente (a Pfizer), o valor do medicamento no
mercado foi reduzido em 50%. Além disso, foi lançada uma nova
apresentação (caixa com um comprimido). Ambas as estratégias
foram adotadas como formas de prevenção à entrada da empresa
EMS, a primeira a conseguir o registro do genérico do Viagra®
(Oscar, 2010).
Não se poderia deixar de mencionar, entretanto, que os labo-
ratórios públicos não estão contribuindo para ampliar a velocida-

3. A indústria farmacêutica no Brasil 143


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
de de crescimento do mercado de genéricos, conforme estudo de
Miranda (2009). A principal razão é a inadequação desses labo-
ratórios às exigências da Anvisa de obrigatoriedade de testes de
bioequivalência e biodisponibilidade, devido à variabilidade dos
fornecedores.
Essa variabilidade, por sua vez, é resultado da modalidade de
compras de princípios ativos adotada por esses laboratórios, em
cumprimento ao disposto na Lei 8.666/93. Essa lei adota o critério
de preço como principal forma de desempate da concorrência, fa-
zendo com que a questão da qualidade da matéria-prima não seja
considerada.
Fica aqui uma importante recomendação para atuação do se-
tor público na consolidação da política de genéricos no mercado
brasileiro.

3.3.2. A estrutura do segmento de distribuição de


medicamentos
Como visto anteriormente, os laboratórios privados são detentores
de maior poder de barganha no conjunto da cadeia produtiva entre
a produção e o consumo do medicamento. Eles determinam a dis-
tribuição e preços dos produtos para os varejistas, apesar de alguns
desses serem maiores do que os próprios laboratórios. Isso porque
os laboratórios são conhecidos pelos médicos, responsáveis pelo
receituário. Além disso, foi visto também que é muito comum, no
Brasil, a automedicação. Ou seja, a marca, que está associada aos
produtores, é determinante. Os distribuidores, por sua vez, ofere-
cem os mesmos produtos e, portanto, devem se diferenciar através
do serviço prestado ao varejista. Assim, cabe também analisar a
estrutura de distribuição e dispensação no setor farmacêutico.
A distribuição de medicamentos no mercado brasileiro é rea-
lizada pelas empresas farmacêuticas diretamente às farmácias e
drogarias, estruturadas sob a forma de rede ou independentes, a
distribuidores e atacadistas, diretamente aos hospitais e a órgãos
do governo. A dispensação ao consumidor, entretanto, é realiza-
da apenas pelas farmácias e drogarias e por instituições públicas
e privadas autorizadas para tal, como, por exemplo, a distribuição
ambulatorial (pública). No Brasil, o principal canal de vendas é

144 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
através das farmácias e drogarias, sendo a dispensação ambulato-
rial pública bastante reduzida.
Em relação aos canais de distribuição, em 1998, 86,5% da pro-
dução dos laboratórios foi destinada aos atacadistas e distribuidores,
e desse percentual, 75,1% destinou-se às farmácias e 6,1% às institui-
ções públicas e privadas, e 5,4% a outras entidades. Cerca de 1,6%
das vendas das companhias foi feito diretamente para as farmácias;
9,8% diretamente para as instituições públicas e privadas, sem pas-
sar pelos distribuidores, e 2% a outras entidades (Quadro 14).
Quadro 14. A distribuição de medicamentos no Brasil, 1998

Fonte: IMS (2001).

3.3.2.1. O setor atacadista


As empresas distribuidoras têm atuação regionalizada e apenas a
partir da segunda metade da década de 1990 – mesmo que em um
número pequeno de empresas – foram iniciados esforços de atua-
ção em nível nacional do serviço de distribuição.
Estima-se que existiam cerca de 1,5 mil atacadistas e distribui-
dores de medicamentos, perfumaria e higiene e correlatos no Bra-
sil, que respondiam por 72% da distribuição da produção industrial
no País. O papel desses estabelecimentos na cadeia de distribuição
de medicamentos tornou-se preponderante a partir da década de
1980. O seu faturamento situava-se, em 1999, em torno de R$ 8,5
bilhões. Sendo que os 15 maiores distribuidores e atacadistas res-
pondiam por aproximadamente 50-60% de toda a distribuição de
medicamentos, perfumaria e higiene e correlatos.
Cada distribuidor de uma determinada área atende aos mesmos
clientes que todos os outros, havendo diferenças, quase que exclusi-

3. A indústria farmacêutica no Brasil 145


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
vamente, marcadas pela concessão de crédito ao varejista. Isso signi-
fica que, quando um distribuidor deixa de vender os produtos de um
determinado laboratório, ele perde em dois pontos: primeiro pela
queda das vendas relativa aos produtos daquele laboratório; segundo
pela queda de seu nível de serviço. Os laboratórios usam dessa van-
tagem para pressionar os distribuidores para a compra de estoques
elevados (principalmente nas épocas das tradicionais férias coletivas
da indústria), regulam os preços praticados pelos distribuidores para
o varejo e, além disso, ainda podem vender diretamente aos varejis-
tas de maior porte sem a intermediação dos distribuidores.
O risco de crédito também fica, em grande parte, por conta
dos distribuidores. Os laboratórios vendem a esses com um prazo
que varia de 7 a 20 dias e os distribuidores vendem aos varejistas
com um prazo que varia, em média, de 30 a 60 dias.
A concorrência entre os distribuidores é muito acirrada. Até
meados da década de 1990, a grande maioria dos distribuidores ti-
nha abrangência regional. Nos últimos anos, houve uma expansão
geográfica (ver Tabela 45) dos grandes distribuidores e um encolhi-
mento dos pequenos.

Tabela 45. Principais distribuidores de medicamentos no Brasil, 2001


Distribuidor Sede (Estado) Abrangência
Panarello Goiás Nacional
Profarma Rio de Janeiro Nacional
ITA Rio de Janeiro Nacional
Santa Cruz Paraná Nacional
Audifar São Paulo Região Sudeste
Imediata Recife Regiões Norte e Nordeste
Takeda Amazonas Regiões Norte e Nordeste
Comprofar Espírito Santo Espírito Santo e Rio de Janeiro
Lunar Espírito Santo Espírito Santo e Rio de Janeiro
Jamyr Vasconcellos Rio de Janeiro Rio de Janeiro
Intermed Rio de Janeiro Regiões Sudeste e Nordeste
Fonte: Consulta a especialistas.

Com margens pequenas, elevada concorrência e grande pres-


são dos laboratórios, os distribuidores precisam ter uma operação
logística muito bem montada, de forma a oferecer bons serviços,
rapidez e bons preços aos varejistas. A crescente necessidade de

146 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
melhorar essa logística explica o aumento do tamanho dos distri-
buidores, que procuram diluir os seus custos indiretos.
Outro movimento interessante (mais particular, mas de gran-
de importância) foi o crescimento da distribuidora Panarello. As
pequenas margens, característica central desse mercado, permitem
grandes distorções quando aparecem novos concorrentes com tec-
nologia ou vantagens de custo. No caso da Panarello, a vantagem
era a localização – Goiânia. Por estar aí localizada, essa distribui-
dora obteve isenções fiscais que lhe garantiam enorme vantagem
na concorrência com os outros distribuidores. A Panarello rapi-
damente cresceu e começou a se expandir pelo Brasil (hoje fatura
por volta de R$ 1,3 bilhões, o que é mais que qualquer laboratório
no Brasil). Isso fez com que os distribuidores regionais perdessem
mercado e se vissem forçados a tomar o mesmo caminho (ver Qua-
dro 15).

Quadro 15. Perfil de alguns dos principais distribuidores, 1999


Empresa (Sede) Histórico
Audifar Comercial
Fundada em 1985, atende a 5,43 mil farmácias. Seu fatura-
Ltda. (Guarulhos
mento em abril de 1999 situava-se em R$15,77 milhões.
– SP)
Fundada na década de 1950, atende a 3,5 mil clientes (far-
Distribuidora Brasil mácias, clínicas e hospitais). As vendas às farmácias cor-
Ltda. (Cuiabá – MS) respondem a 92% do seu faturamento. Conta com canal de
compras on-line.
Grupo de atacadistas criado em 1995, atendendo principal-
mente estabelecimentos de pequeno e médio porte. Vende
em pequenas quantidades, exceto para produtos de baixo
Distribuidores
valor agregado e giro elevado. Seu faturamento entre junho
Especializados e
de 1998 e dezembro de 1999 chegou a R$119 milhões, cor-
Categorizados
respondendo principalmente à venda de produtos de higie-
ne e perfumaria (78,3%). Atua em diversos estados através
das empresas atacadistas associadas.
Distribuidora de Fundada em 1967 atende a 7,5 mil estabelecimentos de
Medicamentos pequeno e médio portes, que representam 95% de seu fatu-
Ltda. ramento. Atua na região sul.
Drogajato. Distr.
Fundada em 1974, comercializa cerca de 5,5 mil itens. Atua
Prods. Quim.
em Alagoas e Pernambuco.
Farm. Ltda.
Equipe Distr. de
Fundada em 1939, atende a 13 mil clientes na região sul e
Produtos Farma-
também no Mato Grosso do Sul. Possui canal de compras via
cêuticos Ltda.
internet.
(Londrina – PR)
Fundada em 1965, comercializa um total de oito mil itens
Mercantil Farmed e atende a 10 mil clientes por mês no Estado de São Paulo,
Ltda. (São Paulo principalmente pequenas e médias farmácias. Seu fatura-
– SP) mento anual situa-se em torno de R$ 400milhões. Possui um
sistema de factoring para seus clientes.

3. A indústria farmacêutica no Brasil 147


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Quadro 15. Perfil de alguns dos principais distribuidores, 1999 (cont.)

Empresa (Sede) Histórico


Genésio A. Men-
Fundada em 1968, vende seis mil itens, sendo que 90% são
des & Cia. Ltda.
produtos de perfumaria e medicamentos, atendendo a 4 mil
(Tubarão – Santa
clientes na região sul.
Catarina)
Fundada em 1992, seu faturamento concentra-se na venda
Intermed Farma- às farmácias (80%) e hospitais (20%) . Embora venda pro-
cêutica Nordeste dutos de higiene e perfumaria, 90% do seu faturamento é
Ltda. proveniente da venda de medicamentos. Atua em estados
do nordeste.
Pertence ao Grupo Martins, vende desde alimentos e be-
bidas não alcoólicas a medicamentos, num total de 16 mil
Martins Comércio itens. No caso dos produtos farmacosméticos, seus princi-
e Serviços de Dis- pais clientes são pequenos e médios estabelecimentos. A
tribuição S.A. venda de medicamentos representa 15% do seu faturamen-
to. Possui linha de crédito para financiamento aos clientes
através do Tribanco.
Fundada em 1966, possui filiais em diversos estados. Aten-
Distribuidora Pana- de a 33 mil clientes, sendo que as farmácias correspondem
rello Ltda. (Goiânia a 85% do seu faturamento, e os 15% restantes estão dis-
– GO) tribuídos entre hospitais públicos e privados e entidades
públicas. Vende exclusivamente medicamentos.
Fundada há 50 anos. Inicialmente atuava nos segmentos
de distribuição e varejo, tendo saído do varejo na década
Predimar Distr. de 1980. Em 1994 criou a rede de franquias Farmais e, em
Farm. Ltda. 1999, passou a abastecer exclusivamente aos estabeleci-
mentos franqueados. Opera com um mix de 4,5 mil itens e
seu faturamento em 1998 foi de R$ 240milhões.
Profarma Distr.
Fundada em 1961, atua na região sudeste como distribuido-
Prod. Farmacêuti-
ra de medicamentos e cosméticos.
cos Ltda.
Fundada em 1974, atua não só no segmento de distribui-
Reydrogas Comer- ção, mas também no varejo através das Drogaria Goiás e
cial Ltda. Drogaria Santa Mônica. Atende a 3 mil clientes na região
(Goiânia – GO) centro-oeste, vendendo produtos de higiene, perfumaria,
cosméticos e medicamentos.
Rogê Distribuição
Distribuidor de produtos de perfumaria e higiene, atende a
e Representação
16 mil clientes no estado de São Paulo, desde supermerca-
Ltda. (Guarulhos
dos até pequenas farmácias. Faz parte do DEC.
– SP)
Distribuidora de
Fundada em 1955, atende a 20 mil farmácias na região sul e
Medicamentos
sudeste com mix de 6 mil itens.
Santa Cruz Ltda.
Fonte: Elaboração própria a partir de Gazeta Mercantil (1999).

Muitos dos principais distribuidores operam com estrutura lo-


gística própria, mas já é possível observar um movimento também
em direção à terceirização, como é o caso da Unidock’s, fundada
em 1995 e sediada em Barueri (SP), que atua exclusivamente na
operação logística de distribuir medicamentos, tanto das indústrias

148 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
para os distribuidores como destes para as farmácias. Em 1998,
com a venda de 280 milhões de unidades, a empresa faturou
R$ 1,2 bilhão. Além de distribuir, a empresa realiza também o fra-
cionamento das embalagens direcionadas à venda às farmácias.

3.3.2.2. O varejo farmacêutico


A regulação do setor de varejo farmacêutico é diferente entre os
países. No Brasil, a Lei 5.991/73 estipula que:

Farmácias: são estabelecimentos de manipulação de fórmulas


magistrais e oficinais de comércio de drogas, medicamentos, in-
sumos farmacêuticos e correlatos, compreendendo o de dispen-
sação e atendimento privativo de uma unidade hospitalar ou
de qualquer outra equivalente de assistência médica.

Drogarias: são estabelecimentos de dispensação e comércio de


drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos em
suas embalagens originais.

Apesar de a legislação exigir a presença de um farmacêutico


em cada estabelecimento, não existem dados a respeito do quanto
esses profissionais representam da mão de obra empregada no se-
tor. De acordo com dados da Abrafarma, as 30 redes de farmácias
filiadas à entidade, totalizam 1,21 mil estabelecimentos responsáveis
por aproximadamente 20% do faturamento do setor e empregam
em torno de 21,06 mil funcionários. Em relação à regulação do se-
tor no tocante a preços e margens, a Portaria n. 37/92 do Ministério
da Fazenda estabelece que a margem máxima de comercialização
sobre o preço de fábrica é de 42,85% em relação à receita bruta das
farmácias e drogarias para a venda de medicamentos.
No que diz respeito a preços, segundo a Resolução n. 9 da Câ-
mara de Medicamentos, as farmácias que antes tinham margem de
lucro bruta de 30% passam a ter a margem de lucro bruta contro-
lada pelo governo com base nas faixas de alíquota de ICMS, com
exceção daqueles medicamentos que estão sujeitos à incidência
da cobrança de PIS/Pasep, conforme a Lei 10.147 de 2000. Para
cada faixa de ICMS foi estabelecido um fator de reajuste em re-

3. A indústria farmacêutica no Brasil 149


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
lação aos preços anteriormente estabelecidos pela Lei 10.213 (ver
Quadro 16).27
Quadro 16. Margens de comercialização de
medicamentos no varejo brasileiro, 2001
Preço do fabricante (fator de Preço máximo ao consumidor (mul-
Faixa de ICMS
reajuste sobre a Lei 10.213) tiplicar pelo preço do fabricante)
18% - 0,7000
17% 0,6909 0,9867
16% 0,6820 0,9736
15% 0,6733 0,9610
14% 0,6648 0,9486
13% 0,6565 0,9366
12% 0,6484 0,9248
0% 0,5651 0,8039
Fonte: Elaboração própria a partir da Resolução n. 9, de 13 de setembro de 2001,
da Câmara de Medicamentos.

No Brasil, as farmácias são unidades especializadas na venda


de medicamentos, diferentemente do modelo americano de droga-
rias, que possuem um mix de produtos que lhes garante alto fatura-
mento e margens médias razoáveis. As unidades de venda farma-
cêutica, no Brasil, são pequenas e têm custos fixos altos – entram aí,
principalmente, as regras peculiares aos ramos, que geram custos
operacionais que não se encontram em outros ramos de varejo, tais
como controle de medicamentos que podem causar dependência,
plantão de farmacêutico, regulamentações diversas dos órgãos de
vigilância sanitária, entre outros.
Estima-se que existam aproximadamente 56 mil estabeleci-
mentos, entre farmácias, drogarias e perfumarias, segundo o cen-
so do setor farmacosmético realizado pela ACNielsen (2000), que
representa 87,7% da população e 90% do consumo nacional. As
farmácias e drogarias representam 80% do setor farmacosmético,
segundo dados da ACNielsen.
De acordo com as definições utilizadas pela ACNielsen (2000),
os estabelecimentos do setor farmacosmético são divididos entre
cadeias de farmácias e perfumarias que possuem cinco ou mais lo-
jas com a mesma razão social e CNPJ e farmácias e perfumarias

27. A Lei 10.213, de março de 2001, estabeleceu uma fórmula de reajustes de preços
dos fabricantes de medicamentos, que passaram a ficar congelados até dezembro de
2001. A Medida Provisória 2.230, de 06/09/2001, estendeu esse congelamento de
preços até dezembro de 2002.

150 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
independentes, cooperativas/franquias de farmácias que possuem a
mesma razão social, mas com CNPJ diferentes, mesmo que com
cinco ou mais lojas. Esses estabelecimentos podem funcionar como
autosserviço, caracterizado por funcionar através de check-out e onde a
maioria dos produtos são dispostos de maneira acessível ao cliente,
ou tradicionais, cuja principal característica é o balcão ou a presença
do vendedor.
No período 1992-1998, os estabelecimentos independentes pas-
saram de aproximadamente 35.000 para 56.985 estabelecimentos.
Conforme o Gráfico 4, em relação à evolução do número de estabele-
cimentos, é possível observar que entre os períodos 1993-1996 ocor-
re uma queda no número de estabelecimentos em cadeia, enquanto
existe um aumento no número de estabelecimentos independentes.
Esse movimento se inverte em 1996/1997 e, no ano seguinte, ocorre
uma queda brutal do crescimento do segmento de estabelecimentos
independentes e uma sustentação do crescimento no segmento de
estabelecimentos em cadeia. Em 1999, a recuperação do crescimen-
to dos estabelecimentos em cadeia é acelerada, acompanhada pela
saída da crise do número de estabelecimentos independentes. Em
2000, observa-se uma forte desaceleração do crescimento em ambos
os tipos de estabelecimentos (ACNielsen, 2000).
Gráfico 4. Setor farmacosmético brasileiro – cadeias x independentes,
1993-2000

Fonte: ACNielsen (2000).

De acordo com a ACNielsen (2000), entre 1998 e 1999 o nú-


mero de farmácias e drogarias no Brasil, considerando a metodo-
logia acima, aumentou para 60.722 estabelecimentos. Esse número

3. A indústria farmacêutica no Brasil 151


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
caiu, de 1999 a 2000, para 60.045. Em relação à diferenciação en-
tre estabelecimentos independentes e cadeias, de 1998 para 1999 o
número de cadeias de farmácias e drogarias foi de 3.737 e o núme-
ro de estabelecimentos independentes foi de 56.985. Já no período
1999/2000, houve uma redução tanto no número de cadeias de
farmácias e drogarias, passando para 3.278, quanto no número de
estabelecimentos independentes, para 56.767 (ver Gráfico 5).
Gráfico 5. Setor farmacosmético brasileiro – estabelecimentos e
participação no faturamento, 1998-2000

Fonte: ACNielsen (2000).

Observa-se ainda a predominância de estabelecimentos tradi-


cionais com tendência de aumento. E, embora o número de estabe-
lecimentos com o sistema autosserviço tenha apresentado tendên-
cia de aumento ao longo da década de 1990, em 1999, observa-se
uma forte redução no ritmo de crescimento do número de estabe-
lecimentos voltados para esse sistema (Gráfico 6, a seguir).

152 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Gráfico 6. Evolução por tipo de estabelecimento
do setor farmacosmético, 1992-2000

Autosserviço

Fonte: ACNielsen (2000).

Em relação ao número de estabelecimentos que oferecem


autosserviço e estabelecimentos considerados como tradicionais,
segundo metodologia da ACNielsen, em 1998, tem-se o Gráfico 7.

Gráfico 7. Setor farmacosmético por


tipo de estabelecimento, 1998-2000

Autosserviço

Autosserviço

Fonte: ACNielsen (2000).

3. A indústria farmacêutica no Brasil 153


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
O número de estabelecimentos no setor no período analisado
encontra-se predominantemente concentrado na região sudeste. A
mesma concentração geográfica, em termos de números de estabe-
lecimentos, é observada em termos de faturamento, representando
a região sudeste 62% do faturamento, a região sul, 20%, e os esta-
dos da região centro-oeste (MS, GO), inclusive o Distrito Federal,
com 7%, e os estados da região nordeste (CE, RN, PB, AL, SE,
BA), com 11%, conforme Gráfico 8.
Gráfico 8. Setor farmacosmético brasileiro por área – estabelecimentos e
participação no faturamento, 1998-2000

Nota: Área I (Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe,
Bahia); Área II (Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro excetuando-se municípios
da Área III); Área III (Rio de Janeiro, Niterói, Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Nilópolis,
São Gonçalo e São João de Meriti); Área IV (São Paulo, Santo André, São Bernardo
do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Guarulhos, Osasco, Embu, Taboão
da Serra); Área V (Interior do Estado de São Paulo excluindo municípios da Área IV);
Área VI (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul ); Área VII (Mato Grosso do Sul,
Goiás e Distrito Federal).
Fonte: ACNielsen (2000).

Em relação ao faturamento do setor, estima-se que, em 1998, a


venda de medicamentos e acessórios (seringas, esparadrapos etc.) e
não medicamentos totalizaram US$ 12,09 bilhões. Esse faturamen-
to representa um crescimento médio anual de 8,8% de 1992 em
diante, observando-se uma certa estabilização com uma retração

154 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
de 0,39% no faturamento entre 1997-1998. As farmácias indepen-
dentes respondem por aproximadamente 74% das vendas.
O faturamento dos estabelecimentos independentes passou de
aproximadamente US$ 4,2 bilhões, em 1993, para US$ 9,1 bilhões,
em 1997, e US$ 8,9 bilhões, em 1998. E o faturamento das redes
passou de US$ 1,2 bilhão, em 1993, para US$ 3 bilhões, em 1997,
e aproximadamente US$ 3,1 bilhões, em 1998. No entanto, apesar
dos estabelecimentos independentes representarem 3/4 do fatura-
mento do setor em relação ao faturamento médio das lojas, aquelas
associadas a redes apresentaram um crescimento de aproximada-
mente US$ 400 mil, em 1993, para cerca de US$ 700 mil, em 1996,
e mais de US$ 800 mil, em 1998. Por outro lado, o faturamento
médio dos estabelecimentos independentes situava-se em torno de
US$ 100 mil, em 1993, chegando a US$ 200 mil, em 1997, e caindo
para cerca de US$ 198 mil, em 1998. Em relação à concentração
no varejo do setor farmacosmético, observa-se o seguinte quadro
(Gráfico 9):
Gráfico 9. Concentração do setor farmacosmético
em termos de faturamento, 1997-2000

Fonte: ACNielsen (2000).

Conforme dito acima, as farmácias e drogarias podem vender


não só medicamentos, como também outros produtos de higiene
e perfumaria, acessórios (esparadrapos, seringas etc.), cosméticos,
complementos alimentares e alimentos dietéticos. Entretanto, é
possível observar uma diferenciação em termos do conjunto de

3. A indústria farmacêutica no Brasil 155


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
produtos vendidos em estabelecimentos independentes e estabe-
lecimentos agrupados em redes. Nesses últimos, encontram-se de
seis a sete mil itens, enquanto nos primeiros, o mix pode variar de
500 a sete mil, tendo sido observada a média de 2,5 mil itens em
São Paulo.
Outro tipo de estabelecimento, comum nos Estados Unidos,
mas pouco difundido no Brasil, são as drugstores, que conjugam a
venda de medicamentos em um mix de produtos de limpeza e ali-
mentos, entre outros. Os estabelecimentos mais conhecidos são a
Estrela Galdino (Salvador, BA), Drogaria Araújo (Belo Horizonte,
MG) e Drogamed (Curitiba, PR). Entretanto, é preciso observar
que a Lei 5.991/73 veda a esses tipos de estabelecimentos a venda
de medicamentos.
Em termos de diversificação do mix de produtos dentro do fa-
turamento do setor, nos estabelecimentos ligados às redes, a venda
de não medicamentos é superior ao observado nos estabelecimen-
tos independentes, situando-se entre 25-30% e 10-15%, respectiva-
mente. É importante destacar que o setor realiza 13% dos investi-
mentos de automação. No entanto, é possível observar que, nas
regiões mais distantes dos grandes centros, o nível de automação é
bastante reduzido.
As farmácias que gozam de maiores vantagens são o pequeno
varejista, aquele que possui uma só loja, onde trabalha em tempo
integral (apesar de ter administração mais “artesanal”) ou o gran-
de varejista que possui economias de escala, principalmente na
administração do negócio e dos estoques, além de maior poder de
barganha com distribuidores e indústria.
Os médios varejistas estão enfrentando cada vez mais dificul-
dades. As grandes redes varejistas concorrem com os médios vare-
jistas, que tendem a desaparecer, com os distribuidores e, em última
instância, até mesmo com os laboratórios. Temos alguns exemplos:
Droga Raia, Drogarias São Paulo e Drogasil, em São Paulo; Dro-
garias Pacheco, no Rio de Janeiro; e Drogarias Pague Menos, no
Nordeste (sede em Fortaleza). Essas redes não são clientes dos dis-
tribuidores, pois fazem sua própria distribuição, comprando direta-
mente dos laboratórios. A cada loja que abrem, representam perda
de faturamento para os distribuidores, pois reduzem o faturamento
de pequenos e médios, que são clientes desses. Esse movimento é

156 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
temido também pelos laboratórios, pois, via de regra, uma empresa
deve ter suas vendas pulverizadas ao máximo, pois a dependência
de dois ou três clientes pode ser muito prejudicial.
Essa situação criou outro movimento no mercado, o da aproxi-
mação do varejo com os distribuidores. A Panarello, por exemplo,
comprou a Farmais (maior rede de franquias de farmácia do Brasil)
e a ITA formou uma aliança com a Max/Padrão (maior rede de
franquias do estado do Rio). A criação de redes de franquia de pe-
quenas unidades de negócio, nas quais os proprietários gerenciam
a empresa e, ao mesmo tempo, conseguem melhores negócios e al-
gumas economias de escala no sentido administrativo e, principal-
mente, de marketing é outro movimento observado no mercado.
O Quadro 17 apresenta o perfil das principais redes de farmá-
cias e drogarias no Brasil.
Quadro 17. Perfil de algumas redes de farmácias
e drogarias no Brasil, 1999
Empresa (Sede) Histórico
Fundada em 1966 com apenas uma loja, aumentou para
cinco lojas nos primeiros cinco anos, chegando a 70 em
1991. Após uma reestruturação, o número de lojas próprias
reduziu-se para 36 em 1999, e abriu-se um sistema de fran-
quias, que contava, no mesmo ano, com 16 estabelecimen-
Drobel tos. Em 1998, as lojas próprias apresentaram faturamento
(Porto Alegre – RS) de R$ 35 milhões. O mix de produtos situa-se entre 3,5 e
4 mil produtos entre medicamentos e não medicamentos.
Os primeiros representam 78% do faturamento. O abas-
tecimento de medicamentos das lojas é feito através do
distribuidor, sendo que o de não medicamentos conta com
distribuição própria, ainda que pequena (20%).
Fundada em 1905, é a terceira maior rede de São Paulo.
Em 1999, contava com 78 lojas no Estado de São Paulo,
Droga Raia – Raia operando com um mix de produtos de aproximadamente
& Cia. Ltda. 7 mil itens, entre cosméticos, higiene e perfumaria, que
(São Paulo – SP) representam cerca de 50% do faturamento. Entrou em um
processo de expansão no final da década, abrindo lojas
também no Rio de Janeiro, por exemplo.
Fundada há 60 anos, era composta, em 1999, de 26 filiais
Drogal Farmacêu- no Estado de São Paulo. A venda de medicamentos repre-
tica Ltda. senta cerca de 74% do faturamento. Possui convênio com
(Piracicaba – SP) cerca de 300 empresas para venda de medicamentos a
funcionários com prazo maior.
Originou-se da compra da Farmácia Aguiar, em 1972, pelo
ex-controlador da Drogaria Central. A segunda loja foi inau-
Drogalev – Levy
gurada em 1991. Em 1999, possuía oito estabelecimentos,
Martinelli de Lima
que contabilizaram um faturamento de R$17 milhões em
e Cia Ltda.
1998. Os medicamentos representam 65% das vendas.
(Ribeirão Preto – SP)
Oferece descontos a aposentados e alguns convênios com
empresas.

3. A indústria farmacêutica no Brasil 157


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Quadro 17. Perfil de algumas redes de farmácias
e drogarias no Brasil, 1999 (cont.)

Empresa (Sede) Histórico


Fundada em 1979, possuía, em 1999, 75 lojas no Paraná.
Drogamed Com a fusão com a Minerva, a Drogamed incorporou outras
(Curitiba – PR) 39 lojas com sua bandeira. Funciona à semelhança das drug-
stores norte-americanas. Possui central de abastecimento.
Fundada antes da década de 1960, atuava inicialmente
Drogão – Irmãos também no atacado, desativado em 1995. Contava, em
Guimarães Ltda. 1999, com 34 lojas próprias, operando com sete mil itens.
(São Paulo – SP) Em 1998, faturou US$ 60 milhões a preços correntes. Pos-
sui central própria.
Drogaquinze – Dis-
tribuidora e Droga- Fundada em 1962, possuía 28 lojas próprias, em 1999,
ria Sete Irmãos Ltda. com mix de produtos entre medicamentos e produtos
(São José dos Cam- para higiene.
pos – SP)
Fundada em 1906, possui 50 lojas próprias. O mix de pro-
dutos inclui 10.000 itens entre medicamentos, produtos
Drogaria Araújo para higiene pessoal e perfumaria, produtos veterinários e
S.A. de conveniência. 60% das vendas correspondem a medica-
(Belo Horizonte – mentos. O faturamento, em 1998, foi de R$106,86 milhões.
MG) O abastecimento das lojas por distribuidores e atacadistas é
de apenas 10% do total, correspondendo a indústria a 90%. A
distribuição para as lojas é feita pela própria empresa.
Drogaria e Farmácia Fundada em 1927, atua no Estado de Santa Catarina. Em
Catarinense 1999, possuía 47 lojas, com um mix de produtos bastante
(Joinville – SC) variado. Em 1998, o faturamento chegou a US$ 60 milhões.
Fundada em 1983, a partir da fusão das redes de drogarias
Estrela e Galdino. Possuía, em 1999, 12 lojas próprias e
11 lojas franqueadas, que, em 1998, contabilizaram um
faturamento total de R$ 39,6 milhões. As lojas funcionam
Drogaria Estrela no sistema das drugstores norte-americanas, vendendo
Galdino – DPM um mix bastante diversificado de produtos com 11,5 mil
Bahia Distribuidora itens. Essa atividade, no entanto, é mantida através de uma
de Perf. E Med. liminar, uma vez que, no Brasil, não é permitida a venda de
Ltda. medicamentos nesses tipos de estabelecimentos. Embora
(Salvador – BA) possua uma central de distribuição, essa é de tamanho
relativamente pequeno, sendo desse modo 70% do abaste-
cimento realizado diretamente nas lojas pelo distribuidor.
No caso dos medicamentos, o abastecimento é realizado
quase que totalmente pelos distribuidores (85%).
Fundada em 1971, possuía, em 1999, 24 lojas próprias que
trabalham com um mix de sete mil itens (medicamentos
e acessórios de perfumaria), sendo que os medicamentos
Drogaria Iporanda
correspondem a 75% do faturamento. Possui um clube de
– Walter Geraigire e
descontos para aposentados, que oferece 20% de desconto
Cia Ltda.
em 800 medicamentos e 12% para qualquer medicamento.
(Baixada Santista
Oferece ainda descontos em outros estabelecimentos cre-
– SP)
denciados e seguro contra morte e invalidez para pessoas
com mais de 65 anos. Possui um sistema de acompanha-
mento de clientes com doenças crônicas.

158 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Quadro 17. Perfil de algumas redes de farmácias
e drogarias no Brasil, 1999 (cont.)

Empresa (Sede) Histórico


Fundada em 1960, contava, em 1999, com 21 lojas, aten-
dendo a 300 mil clientes por mês, com um mix de 11,3 mil
itens, sendo que os medicamentos são responsáveis por
Drogaria Onofre
80% do faturamento. Em 1998, o faturamento foi de R$ 80
Ltda.
milhões com um faturamento médio das lojas em torno de
(São Paulo – SP)
R$ 444 mil. Oferece um desconto médio de 20% aos clien-
tes e procura acompanhar o perfil dos clientes através de
um cartão magnético que registra o histórico de compras.
Drogaria Santa
Fundada em 1943, possuía, em 1999, 20 lojas, sendo que
Marta
18 em Belo Horizonte. Trabalha com um mix de sete mil
(Belo Horizonte –
itens atendendo a 160mil clientes por mês.
MG)
Fundada em 1948, possuía, em 1999, 25 lojas atendendo
em média 170 mil clientes por mês, oferecendo um mix de
produtos de cinco mil itens, desde medicamentos a bom-
Drogaria São Bento
bons e refrigerantes. Em 1998, o faturamento chegou a R$
– Buainain e Cia.
2,5 milhões, sendo que 70% corresponde à venda de medi-
Ltda.
camentos e 25% a de perfumaria. As compras são divididas
(Campo Grande
em: 45% diretamente dos fabricantes e 55% a partir de
– MS)
atacadistas e distribuidores. O grupo Buainain é também
proprietário da Distribuidora Brasil de Medicamentos. Ofe-
rece descontos a 350 empresas e também a aposentados.
Fundada em 1943, possuía, em 1999, 149 lojas atendendo
a cerca de 3,5 milhões de clientes, oferecendo um mix di-
versificado de produtos, sendo que a venda de medicamen-
tos é o principal negócio. Em 1998, o faturamento foi de R$
Drogaria São Paulo
606.589 milhões. Atua em diversos municípios do estado
Ltda.
de São Paulo. Possui central própria de abastecimento e
(São Paulo – SP)
frota de caminhões própria. Oferece ainda um programa de
fidelização, através de pontos acumulados a partir de de-
terminado valor de compras, além de 12% de desconto para
aposentados cadastrados.
Fundada em 1935 a partir da fusão entre a Drogaria
Braulio e Drogaria Brasil. Dois anos mais tarde, fundiu-se
com mais outras cinco drogarias. Em 1952, inaugurou o
Laboratório Drogasil para fracionamento e fabricação de
produtos. Transformou-se em sociedade anônima em 1972.
Os centros de distribuição existentes em outros estados
foram centralizados em São Paulo na década de 1970. Na
década de 1980, inaugurou sua primeira loja funcionando
no sistema drugstore. Em 1995, já após a incorporação da
Remasil a Farmasil, terminou as atividades de comércio de
Drogasil S.A.
alimentos, vendeu o laboratório de medicamentos, passan-
(São Paulo – SP)
do a atuar somente nos segmentos varejista e atacadista
de medicamentos, perfumaria e correlatos. Em 1997, saiu
do setor atacadista. Em 1998, possuía 121 lojas no estado
de São Paulo (117) e Minas Gerais (4). Atende, em média,
66,37 mil clientes. Em 1998, o faturamento bruto da rede
montou à R$ 272,85 milhões, sendo que 76,82% represen-
tava a venda de medicamentos. Possui uma central própria
de distribuição, que é abastecida majoritariamente pelos
fabricantes (94%). Possui programas de fidelização e des-
conto médio de 12%.

3. A indústria farmacêutica no Brasil 159


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Quadro 17. Perfil de algumas redes de farmácias
e drogarias no Brasil, 1999 (cont.)

Empresa (Sede) Histórico


Fundada em 1995, a partir de uma associação de farmá-
cias independentes. Para uma farmácia independente se
associar, precisa ter faturamento mínimo de R$ 40mil/mês
e funcionar também no sistema autosserviço. A venda de
medicamentos representa 80% do faturamento. A rede é
Farma e Cia Ltda.
formada por 75 lojas em São Paulo, que vão desde esta-
(São Paulo – SP)
belecimentos com 40m2 a 250m2. Possui depósito central
que é abastecido majoritariamente por distribuidores (90%).
Oferece descontos para aposentados (5 a 10%) e convênios
com empresas e planos de saúde (Intermédica e Sul Amé-
rica).
Fundada em 1994, a partir de uma associação de pequenas
e médias drogarias da região do ABCD, contava, em 1999,
Farma 100
com 140 lojas. Em 1998, o faturamento das empresas
(ABCD – São Paulo)
associadas montou a R$ 70milhões. 70% do abastecimento
das lojas é feito por distribuidores.
Farmácia dos Po-
Fundada há mais de 100 anos, atua no Recife e em Salva-
bres – N. Landim
dor, com um total de 43 lojas (40 no Recife e 3 em Salva-
Comércio Ltda.
dor).
(Recife – PE)
Fundada em 1974, atua em Londrina (PR) através de nove
lojas próprias e um depósito central, além de um labora-
Farmácia Vale Verde
tório de manipulação. O mix de produtos compreende de
Ltda.
seis a sete mil itens, do qual 72% das vendas corresponde
(Londrina – PR)
a genéricos. Em 1998, o faturamento montou a R$ 11,31
milhões.
Fundada em 1981, compreendia, em 1999, 126 lojas
atendo em média 1,3 milhão de clientes por mês. O mix
de produtos compreende sete mil itens, dos quais três mil
Farmácia Pague são medicamentos, que representam 65% das vendas. É
Menos – Empreen- uma das maiores redes no nordeste. Além de produtos na
dimentos Pague área farmacêutica, perfumaria e higiene, fornece também
Menos S.A. serviços de revelação de filmes, pagamento de contas e
(Fortaleza – CE) venda de vale-transportes, cobrando R$ 0,30/autenticação.
O faturamento em 1998 montou a R$ 154milhões, repre-
sentando um aumento de 133% em relação a 1995 (R$ 61
milhões).
Fundada em 1994 como uma franquia de farmácias pela
Predimar Distribuidora de Medicamentos, através da MMR
Adm. e Serv. Ltda. Em 1999, a rede contava com 650 lojas
no Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio
Grande do Sul. Cada loja atende em média 400 clientes/
Farmais
mês, com um mix de produtos de perfumaria, higiene e
medicamentos, sendo que esses últimos representam 65%
das vendas. Apenas os produtos que não são vendidos pela
Predimar podem ser adquiridos de outros fornecedores
pelos franqueados.
Fundada em 1994, atua na cidade de São Paulo através de
Farmax – Ferreira
11 lojas próprias. Além de produtos nacionais de higiene,
Bentes Com. de
perfumaria e medicamentos, trabalha também com produtos
Medicamentos Ltda.
importados. Oferece descontos para aposentados e mantém
(São Paulo – SP)
convênio com empresas para descontos em medicamentos.

160 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Quadro 17. Perfil de algumas redes de farmácias
e drogarias no Brasil, 1999 (cont.)

Empresa (Sede) Histórico


Fundada em 1994, por iniciativa do grupo Amil. Em 1999,
possuía 25 unidades (13 no estado do Rio de Janeiro e 12
no estado do São Paulo), com um faturamento total mensal
Farmalife Farmácia em torno de R$ 3,8 milhões. Possui um depósito central no
& Conveniência Rio de Janeiro e 1 entreposto comercial em São Paulo. Ope-
Ltda. ra com um mix de 15,5 mil itens, dos quais os medicamen-
(Rio de Janeiro – RJ) tos representam 68% das vendas. Vende também produtos
de perfumaria, higiene e cosméticos importados, com foco
em cosméticos. O abastecimento é feito majoritariamente
pela indústria (90%).
Fundada em 1897, contava com 192 lojas em 1999, entre
estabelecimentos próprios (130) e franqueados (62), nos
estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Essa rede foi
montada também através de diversos processos de expan-
são, através de fusões e aquisições que tiveram início em
1952, com a fusão com outras duas drogarias, estendendo-
se a 1973, com a incorporação de outras três drogarias. Em
1980 e 1994, foram incorporadas outras duas drogarias.
Além disso, a Panvel possui participação na distribuidora
Panvel S.A. Droga-
de medicamentos DImed, no Laboratório Industrial Farma-
rias e Farmácias
cêutico – Lifar, na revendedora de combustível Dimesul e
(Porto Alegre – RS)
na Dimed Adm. e Cobranças Ltda. O faturamento da rede
em 1998 montou a R$ 171,16 milhões. Além da venda de
medicamentos, atua também através de uma central de
manipulação para aviamento de receitas e fórmulas. Opera
com um mix de cinco mil itens, dos quais os medicamentos
representam 70% das vendas. Oferece descontos a apo-
sentados através do Clube do Aposentado Panvel, tanto na
própria rede quanto em outros estabelecimentos, através de
convênios.
Fundada em 1998, é uma central de serviços cuja marca
Refarma – Rede Bra-
pertence ao Sincofarma (Sind. do Com. Var. de Prod. Farm.
sileira de Farmácias
do Estado de SP). Possuía, em 1999, 161 empresas asso-
e Drogarias
ciadas. O objetivo da Refarma é proporcionar condições de
(São Paulo – SP)
concorrência às farmácias independentes.
A Jamyr Vasconcellos antecipou a aproximação ou integra-
ção vertical entre distribuidores e varejistas. Iniciou suas
atividades na área de distribuição no Rio de Janeiro e, há
aproximadamente 15 anos, teve a visão de entrar no vare-
jo. Cresceram absurdamente, principalmente amparados na
vantagem de custo com impostos. Na verdade, compram
como distribuidores e vendem como varejistas. Até agora,
pagavam menos impostos (PIS/Cofins) e ainda tinham uma
margem maior que as outras farmácias. Hoje, como PIS/
Jamyr Vasconcellos
Cofins são cobrados por substituição, eles perderam parte
(Rio de Janeiro – RJ)
dessa vantagem, mas mantêm as condições comerciais
de distribuidores. Com isso, conseguiram oferecer preços
mais baixos. Um dos primeiros resultados foi a falência da
Drogaria Popular, que era a maior rede do Rio de Janeiro. A
estratégia adotada foi montar, em várias localidades, lojas
da Pacheco ao lado de lojas da Drogaria Popular; com a
quebra dessa rede, a Pacheco comprou as lojas. Hoje, uma
Drogaria Pacheco tem média de faturamento cinco vezes
maior do que a média das drogarias do estado.
Fonte: Elaboração própria a partir de consulta a especialistas e Gazeta Mercantil (1999).

3. A indústria farmacêutica no Brasil 161


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
3.4. Conduta
Observa-se que as maiores empresas farmacêuticas atuando no
mercado brasileiro, que são filiais das mesmas empresas farmacêu-
ticas internacionais, investem muito pouco em P&D, de modo que
é possível atribuir o sucesso dessas empresas principalmente ao do-
mínio de suas funções de produção e marketing. Para confirmar a
regra, existem exceções; alguns exemplos de pequenas empresas
nacionais, tais como a Microbiológica, produtora de insumos far-
macêuticos, e a Biobrás, que realizam investimentos em P&D.
As empresas multinacionais que operam no Brasil têm suas
estratégias determinadas tanto pela legislação do país de origem
quanto pelo país onde operam plantas industriais de transforma-
ção. Embora o mercado doméstico brasileiro de produtos acaba-
dos – medicamentos – seja suprido principalmente por produção
local, vem-se observando um aumento nas importações de medica-
mentos acabados. No que diz respeito a fármacos, essa tendência já
é anterior, com a agravante de que a maior parte do que é consu-
mido no país é importada.
No que diz respeito às atividades de P&D, as empresas nacio-
nais possuem um posicionamento semelhante às das multinacio-
nais e ambas situam seus gastos com P&D em torno de 0,59% do
faturamento, dos quais mais de 70% são com desenvolvimento,
24% em pesquisa aplicada e apenas 3,4% em pesquisa básica. As
atividades de pesquisa estão relacionadas com a caracterização dos
insumos utilizados e com controle de qualidade, e não com a busca
de novos medicamentos (Hasenclever et al., 2000).
Embora haja uma infraestrutura científica razoavelmente de-
senvolvida no País, o desenvolvimento tecnológico mínimo reali-
zado é restrito a algumas poucas empresas privadas nacionais e a
algumas organizações públicas. Esse esforço não é compatível com
o tamanho do mercado brasileiro. Assim, numa indústria caracte-
risticamente intensiva em P&D como a farmacêutica, os gastos com
essas atividades ficam, no Brasil, abaixo da média observada para
a indústria como um todo que, segundo a base de dados da Anpei,
foi de 1,33% em 1998 (Hasenclever et al., 2000). Esse quadro de
baixo nível de investimento em P&D no Brasil não é característico
apenas da indústria farmacêutica, mas de praticamente todos os

162 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
setores da indústria, com exceção de algumas empresas em alguns
setores da economia.
Segundo Hasenclever et al. (2000), dentre as várias hipóteses
explicativas para essa diferença tão significativa das estratégias
das empresas farmacêuticas, atuando nos mercados internacional
e brasileiro, em relação aos investimentos em P&D, duas surgem
como as mais prováveis. A primeira delas diz respeito às diferen-
ças do ambiente no qual as empresas farmacêuticas operam, des-
tacando-se os aspectos da estrutura de mercado e regulamentações
governamentais específicas ao setor. Em geral, nos mercados com
uma estrutura de mercado onde a rivalidade entre as empresas é
mais acirrada, esperam-se maiores investimentos em P&D como a
principal forma de diferenciação entre as empresas. Com relação
à regulamentação, várias suposições poderiam ser feitas dependen-
do da natureza da regulamentação. Por exemplo, a lei de patentes
poderia estimular esse tipo de investimento no país, principalmen-
te nas áreas em que as vantagens de diversidade animal e vegetal
trouxessem um diferencial para o desenvolvimento das atividades
de P&D locais. Outra regulamentação que poderia ter um efeito
positivo sobre os investimentos em P&D seria a obrigatoriedade
de realização de testes clínicos que tivessem e utilizassem como
padrão o perfil epidemiológico da população brasileira para toda
importação, produção ou comercialização de medicamentos.
Além disso, supõe-se a possibilidade de que as regulamenta-
ções influenciem a estratégia de mercado. Um exemplo disto se-
ria competição via preços, que poderia se estabelecer quando o
mercado de medicamentos genéricos, regulamentado no mercado
brasileiro em 1999, passar a representar uma fatia significativa no
mercado total de medicamentos.
A segunda hipótese diz respeito a uma possível divisão do traba-
lho entre a matriz e a filial no que diz respeito às atividades de P&D.
As empresas multinacionais não investiriam, no Brasil, um valor
muito elevado nessas atividades, porque já realizam esses gastos
junto a suas matrizes, onde existem vantagens locacionais devido à
qualidade da infraestrutura científica e tecnológica.
Já no que diz respeito aos laboratórios públicos, a grande maioria
possui uma linha de produção pouco diversificada, concentrando-
se em medicamentos de custo mais baixo. Em geral, a produção

3. A indústria farmacêutica no Brasil 163


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
desses laboratórios é voltada para medicamentos genéricos que
atendem aos programas do Ministério da Saúde. São, geralmente,
medicamentos com potencial de mercado relativamente reduzido
e com custos de P&D inferiores, que os laboratórios privados não
se interessam em produzir, mas que são de grande importância
para a política nacional de saúde. Alguns laboratórios têm também
se dedicado à produção de medicamentos que atendam programas
específicos do Ministério da Saúde, como é o caso dos medicamen-
tos para Aids.
Em relação à estratégia de preços, podemos observar, a partir dos
dados da Tabela 46, que as empresas tendem a estipular preços mais
elevados para os produtos com menos de dois anos e que os produtos
com mais de dois anos apresentam preços médios menores.
Tabela 46. Preço médio por tempo de mercado no Brasil,
1996-1999 (US$)
1996 1997 1998 1999*
Mercado Total 5,10 5,61 5,84 4,53
Produtos com mais de 2 anos 4,85 5,46 5,65 4,35
Produtos com menos de 2 anos 10,46 11,46 12,54 11,07
Produtos com menos de 6 meses 9,80 11,56 9,52 9,42
Fonte: Alanac (2000).

3.5. Desempenho
O faturamento da indústria farmacêutica brasileira, em 1998, foi de
aproximadamente US$ 10,31 bilhões, cerca de 3,38% do mercado
mundial. A queda do faturamento da indústria farmacêutica brasi-
leira, em 1999, deve-se em grande parte à desvalorização da moeda
nacional frente ao dólar americano. A partir daí, cresceu, alcançan-
do um faturamento de US$ 12,5 bilhões em 2008.
Em relação à evolução da balança comercial do setor farma-
cêutico, observa-se que, no período de 1982 a 1998, com a abertura
do mercado, iniciou-se um processo de aceleração do volume de
importação que ultrapassou, em 1993, a faixa dos US$ 200 milhões
FOB, atingindo aproximadamente US$ 1.400 milhões FOB, em
1997, e reduzindo-se para aproximadamente US$ 1.200 milhões
FOB, em 1998 (Bermudez et al., 2000).
No tocante a preços, podem ser distinguidos dois momentos
no período 1989 e 1998. Antes do Plano Real (1994), entre 1989 e

164 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
outubro de 1993, a variação do Índice de Preços no Atacado para
produtos farmacêuticos (IPA-Farmac) foi inferior à variação do
IPA-DI, o índice de preços médios para a indústria. O IPA-Farmac
foi superior ao IPA-DI entre outubro de 1993 e julho de 1994, mas,
com a adoção do Plano Real, a situação voltou a se inverter, de tal
modo que a variação do IPA-Farmac voltou a ser inferior a do IPA-
DI até setembro de 1995. A partir de setembro de 1995, tem início
um segundo momento, a partir do qual a variação do IPA-Farmac é
sistematicamente superior a do IPA-DI (Hasenclever et al., 2000).
Nos dados disponíveis para o período de 1994 a 199928 a respei-
to do comportamento dos preços de 13.851 produtos vendidos no
mercado brasileiro, apenas 5.646 possuíam informações em todos
os períodos. Dessa subamostra, 5.334 tiveram aumento de preços
(maior ou igual a 20% acumulado no período); 234 mantiveram pre-
ços estáveis (maior ou igual a 0% e menor que 20% acumulado no
período) e apenas 78 apresentaram queda de preços (menor 0%).
A Tabela 47 apresenta o desempenho do setor, entre 1989 e 2000,
para um grupo de 40-90 empresas. Observamos que a relação LL/
PL é positiva para quase todo o período e que a forte desvaloriza-
ção da moeda nacional frente ao dólar tem afetado o setor.
Tabela 47. Margens de rentabilidade da indústria farmacêutica*
brasileira, 1988-2000 (US$ mil 1994)
Em- Receita Lucro Patrimônio
Ano LL/PL RL/PL
presas Líquida Líquido Líquido
1989 67 559.796,64 (36.237,63) 470.675,77 -7,70% 118,93%
1990 91 1.127.091,05 50.073,08 495.988,07 10,10% 227,24%
1991 89 1.031.996,21 (91.837,77) 720.950,89 -12,74% 143,14%
1992 91 892.052,59 99.580,59 924.475,13 10,77% 96,49%
1993 75 664.537,38 89.915,43 817.470,55 11,00% 81,29%
1994 86 1.917.056,22 401.028,79 1.331.722,19 30,11% 143,95%
1995 85 2.510.485,33 753.675,17 1.942.024,22 38,81% 129,27%
1996 84 3.150.569,23 311.721,76 1.075.258,51 28,99% 293,01%
1997 40 2.488.405,25 208.267,92 1.125.050,13 18,51% 221,18%
1998 53 4.058.669,00 366.938,00 1.976.930,00 18,56% 205,30%
1999 66 4.966.733,22 399.534,30 2.309.639,49 17,30% 215,04%
2000 76 3.374.002,63 110.310,08 1.527.478,30 7,22% 220,89%
* Inclui produtos farmacêuticos e veterinários.
Fonte: Dados primários, Gazeta Mercantil (vários números).

28. Dados obtidos junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

3. A indústria farmacêutica no Brasil 165


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Em relação às importações (Tabela 48), observa-se a saída da
Argentina, Japão e Países Baixos, entre 2000 e 2006, da lista dos dez
maiores fornecedores brasileiros. Percebemos, também, a entrada
da Índia e da China, que se tornaram importantes exportadores
de medicamentos para o Brasil. Além disso, é possível notar que a
queda no valor das importações provenientes dos Estados Unidos
foi muito significativa, apesar do país continuar ocupando a primei-
ra posição no ranking. Portanto, ainda que continue predominando
o fluxo de produtos importados de países desenvolvidos, no ano de
2006, conclui-se que essa situação poderá se modificar com o cres-
cimento das exportações dos produtos chineses e indianos.
Tabela 48. Importação da indústria farmacêutica brasileira,
10 principais países, 2000 e 2006 (US$ FOB)
2000 2006
Estados Unidos 1.498.659.505,00 Estados Unidos 699.141.552,00
Alemanha 423.295.580,00 Suíça 424.693.657,00
Argentina 365.999.847,00 Alemanha 347.927.848,00
Japão 187.668.938,00 França 274.503.397,00
França 179.439.058,00 Itália 150.191.801,00
Reino Unido 156.385.973,00 China 149.308.691,00
Suíça 121.776.003,00 Índia 141.100.584,00
Países Baixos 94.734.716,00 Reino Unido 135.797.905,00
Bélgica 93.148.095,00 Bélgica 101.557.842,00
Itália 92.107.324,00 Irlanda 91.019.993,00
Total 3.213.215.039,00 Total 2.515.243.270,00
Fonte: Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior.

Em relação às exportações (Tabela 49), observa-se, também, uma


modificação, passando o País a exportar, predominantemente, para
países europeus e reduzindo o volume de exportação para países
em desenvolvimento. Destaca-se a importância decrescente do co-
mércio de produtos farmacêuticos dentro da região do Mercosul.

166 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Tabela 49. Exportação da indústria farmacêutica brasileira,
10 principais países, 2000 e 2006 (US$ FOB)
2000 2006
Argentina 78.334.951,00 Estados Unidos 227.441.020,00
México 28.894.204,00 Alemanha 204.033.364,00
Venezuela 20.532.499,00 Suíça 109.977.941,00
Colômbia 18.741.231,00 França 103.797.076,00
Japão 14.465.695,00 Itália 97.639.943,00
Alemanha 13.785.801,00 Reino Unido 78.051.543,00
Chile 12.931.276,00 Argentina 52.255.661,00
Bélgica 12.469.699,00 México 49.255.352,00
Suíça 11.272.648,00 Japão 39.444.363,00
Porto Rico 9.268.573,00 Países Baixos 38.307.494,00
Total 220.696.577,00 Total 1.000.203.757,00
Fonte: Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior.

3.6. Políticas públicas brasileiras


As políticas públicas para o setor farmacêutico compreendem desde
políticas relacionadas à tributação e subsídios; políticas comerciais e
políticas industriais específicas; marcos regulatórios específicos em
relação ao registro, comercialização, financiamento, distribuição,
dispensação e preços de medicamentos, e competição; até políticas
macroeconômicas. Não obstante, o foco deste livro é o marco regu-
latório do setor, principalmente aqueles aspectos que afetam direta
ou indiretamente o acesso da população a medicamentos.
Os aumentos indiscriminados de preços têm sido uma cons-
tante preocupação dos formuladores e executores das políticas de
saúde no país, o que se verifica tanto nas diretrizes gerais da Política
Nacional de Saúde, quanto na busca de instrumentos regulatórios
“indiretos” para promover a concorrência (e assim conter os pre-
ços), até a instituição de um controle direto sobre preços, realizado
desde dezembro de 2000.
Diante desse quadro, esta seção irá concentrar-se naquelas po-
líticas ou no marco institucional-regulatório do setor farmacêutico
relacionado, mais ou menos diretamente, ao acompanhamento e
controle de preços de medicamentos. A seguir, apresentamos o de-
talhamento das seguintes políticas:

3. A indústria farmacêutica no Brasil 167


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
 Política Nacional de Medicamentos;
 Registro de produtos, produção, comercialização e fiscalização;
 Políticas de defesa da concorrência;
 Lei de patentes;
 Controle de preços;
 Medicamentos genéricos.

3.6.1. A Política Nacional de Medicamentos


A Política Nacional de Medicamentos (Brasil, Ministério da Saúde,
1998), aprovada pela Portaria 3.916, de 30/10/98 do Ministério da
Saúde, tem o propósito de indicar as principais ações governamen-
tais voltadas para garantir a necessária segurança, eficácia e quali-
dade dos medicamentos, a promoção do uso racional e o acesso da
população àqueles considerados essenciais.
Estabeleceram-se, para isso, oito diretrizes destinadas a asse-
gurar o acesso da população a medicamentos seguros, eficazes e
de qualidade, ao menor custo possível. Destacamos, a seguir, os
aspectos das diretrizes previstas que se relacionam às preocupações
com os preços de medicamentos.
 Adoção de relação de medicamentos essenciais – consiste em esta-
belecer um elenco dos produtos considerados básicos e indis-
pensáveis para atender a maioria dos problemas de saúde da
população, que devem estar continuamente disponíveis à so-
ciedade. Cabe ao Ministério da Saúde atualizar continuamen-
te a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais – Rename.
A divulgação ampla da Rename possibilita, entre outras van-
tagens, a aquisição de medicamentos a menores preços. É con-
siderada um meio fundamental para orientar a padronização,
quer da prescrição, quer do abastecimento de medicamentos,
principalmente no âmbito do SUS, constituindo, assim, um
mecanismo para a redução dos custos dos produtos.
 Regulamentação sanitária de medicamentos – engloba as ações
relativas ao registro de medicamentos e à autorização para o
funcionamento de empresas e estabelecimentos, bem como as
restrições e eliminações de produtos que venham a revelar-se
inadequados ao uso, na conformidade das informações decor-
rentes da farmacovigilância. Dentre as principais questões rela-

168 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
cionadas à vigilância sanitária, está a previsão de uma legislação
regulando os medicamentos genéricos, que foi efetivamente
criada em 1999, pela Lei 9.787, comentada mais adiante.
 Reorientação da assistência farmacêutica – prevê-se que o modelo
de assistência farmacêutica não deva se restringir à aquisição
e à distribuição de medicamentos. As ações incluídas nesse
campo da assistência visam a implementar, no âmbito das três
esferas do SUS, todas as atividades relacionadas à promoção
do acesso da população aos medicamentos essenciais. O mo-
delo de assistência farmacêutica deve estar fundamentado:
na descentralização da gestão; na promoção do uso racional
dos medicamentos; na otimização e na eficácia do sistema
de distribuição no setor público; no desenvolvimento de ini-
ciativas que possibilitem a redução nos preços dos produtos,
viabilizando, inclusive, o acesso da população aos produtos
no âmbito do setor privado. A descentralização da aquisição
e distribuição de medicamentos essenciais é uma das metas
apontadas. A cooperação técnica e financeira entre as esferas
de governo que implementaram essa descentralização através
da aquisição direta e transferência de recursos, bem como a
orientação e o assessoramento aos processos de aquisição – os
quais devem ser efetivados em conformidade com a realidade
epidemiológica, visando assegurar o abastecimento de forma
oportuna, regular e com menor custo, priorizando os medica-
mentos essenciais e os de denominação genérica. Nesse par-
ticular, o gestor federal, especialmente, em articulação com
a área econômica, deverá identificar medidas com vistas ao
acompanhamento das variações e índices de custo dos medi-
camentos, com ênfase naqueles considerados de uso contínuo.
Ainda com relação à articulação, a atuação conjunta com o
Ministério da Justiça buscará coibir eventuais abusos econô-
micos na área de medicamentos.
 Promoção do uso racional de medicamentos – voltada à informação
relativa às repercussões sociais e econômicas do receituário
médico, principalmente no nível ambulatorial, no tratamento
de doenças prevalecentes. Terá importante enfoque a adoção
de medicamentos genéricos, envolvendo a produção, a co-
mercialização, a prescrição e o uso.

3. A indústria farmacêutica no Brasil 169


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
 Desenvolvimento científico e tecnológico – prevê-se o incentivo à
revisão das tecnologias de formulação farmacêutica e à di-
namização de pesquisas na área, com destaque para aquelas
consideradas estratégicas. Destacam-se, nesse tema, a previsão
de apoio ao desenvolvimento de tecnologia de produção de
fármacos, principalmente da lista Rename, e estímulo à sua
produção nacional.
 Promoção da produção de medicamentos – visa-se ao estabelecimen-
to de uma efetiva articulação das atividades de produção de
medicamentos da Rename, a cargo dos diferentes segmentos
industriais (oficial, privado nacional e transnacional). Prevê-se a
utilização da capacidade instalada dos laboratórios oficiais, pre-
ferencialmente, para atender as necessidades de medicamen-
tos essenciais, especialmente os destinados à atenção básica, e
estimulada para que supra as demandas oriundas das esferas
estadual e municipal do SUS. Esses laboratórios podem, entre
outras coisas, constituir-se em uma das instâncias favorecedoras
do monitoramento de preços no mercado. Com referência aos
medicamentos genéricos, o Ministério da Saúde, em ação arti-
culada com os demais ministérios e esferas de Governo, preten-
de estimular a fabricação desses produtos pelo parque produtor
nacional, em face do interesse estratégico para a sociedade bra-
sileira, incluindo, também, a produção das matérias-primas e
dos insumos necessários para esses medicamentos.
 Garantia da segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos –
fundamenta-se no cumprimento da regulamentação sanitária,
destacando-se as atividades de inspeção e fiscalização. Essas
atividades são coordenadas em âmbito nacional pela Secre-
taria de Vigilância Sanitária (extinta, após a criação da Anvi-
sa). Previu-se a sistematização do arcabouço legal existente,
adequando-o aos princípios e diretrizes constitucionais e legais
do SUS, bem como ao estágio atual do processo de descentra-
lização da gestão.
 Desenvolvimento e capacitação de recursos humanos – entre outras
finalidades, a política de formação de recursos humanos deve
se voltar para áreas estratégicas, como, por exemplo, a vigilân-
cia sanitária, que sofre crônica carência de pessoal capacitado
na área, nas três esferas de gestão do SUS.

170 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Em 2004, a Política Nacional de Assistência Farmacêutica
(PNAF), instituída pela Resolução/CNS nº 338/2004, afirmou que
a garantia de acesso e equidade às ações de saúde, inclui, necessa-
riamente, a Assistência Farmacêutica. Sendo assim, os medicamen-
tos genéricos se apresentam como a alternativa mais econômica
frente aos altos custos que os medicamentos representam nos gas-
tos com saúde.

3.6.2. O Sistema Nacional de Vigilância Sanitária – registro


de produtos e licenciamentos
O Sistema de Vigilância Sanitária é regido pela Lei 6.360/76, que
estabeleceu critérios para o registro de produtos e licença de es-
tabelecimentos. Conforme analisa Hasenclever et al. (2000), as
principais condições para o exercício de atividades de produção
e comercialização de produtos farmacêuticos estabelecidas na Lei
6.360/76 são os seguintes.
 As atividades de extração, produção, transformação, sinteti-
zação, purificação, fracionamento, reembalagem, importação,
exportação e armazenagem de drogas ou insumos farmacêuti-
cos só podem ser exercidas por empresas devidamente auto-
rizadas pelo Ministério da Saúde29 e cujos estabelecimentos
sejam licenciados pelo órgão sanitário.
 A autorização depende de comprovação técnica, científica e
operacional e demais exigências regulamentares.
 O licenciamento, pela autoridade local, dos estabelecimentos
industriais ou comerciais depende da autorização para funcio-
namento pelo Ministério da Saúde30 do atendimento a exigên-
cias de caráter técnico e sanitário estabelecidas em regulamen-
to e instruções do Ministério da Saúde.
 Todos os produtos farmacêuticos, inclusive importados, devem
ser registrados previamente para que possam ser industrializa-
dos ou expostos à venda. Entre as exigências para registro en-
contra-se a apresentação de amostras para análises e experiên-
cias que sejam julgadas necessárias pelos órgãos competentes.

29. Essa competência foi transferida para a Anvisa.


30. Essa competência foi transferida para a Anvisa.

3. A indústria farmacêutica no Brasil 171


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
A Lei 6.360/76 foi modificada pela Lei 9.782/99, que defi-
niu o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e criou a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Essa agência passou a
centralizar as atribuições sobre a matéria, anteriormente dispersas
no Ministério da Saúde. Também foram estendidas aos parceiros
do Mercosul as condições para registro de medicamentos simila-
res existentes para as empresas locais. Isto é, os produtores insta-
lados na Argentina, no Paraguai e no Uruguai, passam a ser trata-
dos como produtores brasileiros e não mais como exportadores
(Hasenclever et al., 2000).
O Ministério da Saúde exerce as competências da União re-
ferentes à formulação, acompanhamento e avaliação da política
nacional de vigilância sanitária. À Anvisa cabe a implementação
e execução das políticas, coordenando o Sistema Nacional de Vi-
gilância Sanitária. Para isso, dispõe de poderes normativos, fisca-
lizatórios e disciplinares no seu âmbito de atuação (v. art. 6o da
Lei 9.782/99). Questões relacionadas a preços de medicamentos
só foram incorporadas às preocupações da Anvisa posteriormente,
por Medida Provisória.
Atualmente, a Medida Provisória 2.190-34 (de 23/08/01) acres-
centa às atribuições da Anvisa a tarefa de monitorar a evolução dos
preços de medicamentos, equipamentos, componentes, insumos e
serviços de saúde, podendo, para isso, requisitar informações, fazer
vistorias etc. Pode, ademais, convocar os responsáveis por aumen-
tos de preços supostamente abusivos para apresentar justificativas
cabíveis, quando verificar a existência de indícios de infração à or-
dem econômica (cf. critérios da Lei 8.884/94).
A Portaria 772/98, do MS submete ao regime de vigilância
sanitária a importação de medicamentos. A exigência principal é
a obtenção de licença prévia de importação (LI) para a aquisição
de medicamentos no exterior. Com esse instrumento será possível
conhecer antecipadamente o produto a ser importado, sua origem
e seu destino no país. A portaria transfere para a Vigilância Sani-
tária o controle e a fiscalização das mercadorias para desembaraço
aduaneiro, antes realizado sob a coordenação da Receita Federal,
que era responsável pela convocação dos órgãos anuentes.
Com a portaria, as mercadorias chegam à Receita Federal
previamente licenciadas e registradas no Siscomex. Para que isso

172 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
seja possível, entretanto, o produto, antes de ser despachado pela
Receita será encaminhado a um estabelecimento credenciado pela
Vigilância Sanitária, que se transforma em seu fiel depositário. A
medida representa, na prática, a eliminação da licença automáti-
ca. O trânsito dos importados no território nacional até o local de
seu desembaraço, onde será feita a fiscalização, significa um custo
adicional para a internalização dos produtos provenientes dos paí-
ses-membros do Mercosul. Esses mecanismos de controle estavam
previstos em legislação anterior, mas não haviam sido utilizados
até o momento.

3.6.3. Normas de políticas de defesa da concorrência


As políticas de defesa da concorrência englobam não apenas a po-
lítica antitruste (que têm uma natureza reativa),31 mas também uma
série de ações governamentais para incrementar a concorrência nos
mercados (de natureza pró-ativa, como, por exemplo, a política de
incentivos aos medicamentos genéricos). Além disto, as políticas de
defesa da concorrência poderiam ser vistas também como formas
“indiretas” de combater o problema de aumentos indiscriminados
de preços.

3.6.3.1. A lei antitruste (Lei 8.884/94)


O controle antitruste consiste na repressão a infrações à ordem eco-
nômica caracterizadas pela produção de efeitos anticoncorrenciais
(cf. definido no art. 20 da Lei 8.884/94), como aumento arbitrário de
lucros, exercício abusivo de posição dominante etc.. O aumento “abusivo”
de preços, além de constituir um dos tipos exemplares de condu-
tas anticompetitivas descritos no art. 21 da Lei (XXIV), seria uma
conduta que denota o exercício de poder de mercado e, portanto,
poderia ser reprimida pela lei antitruste.
Entretanto, embora a aplicação da lei antitruste ao setor far-
macêutico tenha um papel importante no controle do exercício do
poder de mercado, não é a mais adequada para tratar de forma

31. No sentido de que apenas se preveem punições para condutas anticompetitivas


já efetuadas e cujos efeitos danosos sobre a concorrência já ocorreram.

3. A indústria farmacêutica no Brasil 173


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
direta o problema dos preços. Resumidamente, pelas seguintes
razões:32
 Existe um entendimento – dominante – de que não deve fa-
zer parte da ação antitruste reprimir diretamente o comporta-
mento de imposição de preços ou aumentos abusivos; caberia
à autoridade antitruste atuar apenas indiretamente, reprimindo
práticas que viabilizam o abuso de preços ou, ainda, prevenin-
do o surgimento de estruturas de mercado mais concentradas
propícias a aumentos abusivos.
 Essa postura parte do pressuposto de que os resultados do
processo concorrencial são sempre positivos para o bem-estar.
Mas devemos considerar também que uma posição de poder
de mercado pode ser o resultado de um processo competiti-
vo que teve um vencedor; uma vez conquistado – “legitima-
mente” – o poder de mercado pode ser exercido com efeitos
contrários à eficiência. Ou seja, um preço/aumento abusivo
pode ocorrer sem que anteriormente tenha havido quaisquer
problemas estruturais ou comportamentais de concorrência,
nessa hipótese, esse preço seria a conduta a ser combatida pelo
sistema antitruste.
 Mesmo admitindo essa hipótese, a questão, então, é saber se
esses eventuais problemas decorrentes dos aspectos negativos
da concorrência podem e devem ser enfrentados com o ins-
trumental antitruste. Ou, no que nos interessa aqui mais parti-
cularmente, se a ocorrência de um aumento abusivo de preços
pode ser tratada como uma conduta anticompetitiva como
qualquer outra.
 O primeiro problema a ser enfrentado seria o estabelecimento
de critérios para se julgar abusivo um aumento de preços.
 Porém, existe, ainda, uma outra objeção, ligada à tradição anti-
truste de não substituir os agentes privados no processo de
tomada de decisões, mas sim de apenas criar as regras do jogo
que não podem ser infringidas (e se caracteriza como impo-
sição de obrigações negativas).33 A natureza dos “remédios”
antitruste decorre dessa tradição, que é a de não substituir a

32. Para uma discussão mais detalhada da questão, ver Mello (2001b).
33. É, por isso, considerada uma forma de ação menos intervencionista do Estado
do que outras, como, por exemplo, a regulação ativa.

174 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
concorrência (ao contrário da regulação ativa), de não impor
obrigações positivas.
 Assim, se eventualmente uma autoridade antitruste julgar uma
conduta de preço abusivo como anticompetitiva, cairá numa
armadilha: por um lado, a autoridade não deve determinar
qual o preço a ser seguido nem fazer o papel de regulador de
preços; não poderá se furtar, entretanto, a estabelecer ao me-
nos um patamar acima do qual o preço será tido como abusivo
– do contrário, o agente destinatário da ordem não saberá o
quanto deve baixar seu preço a fim de enquadrar-se na exi-
gência do poder público. Nesse caso, a autoridade antitruste
estará agindo, em parte, de modo semelhante a um regulador
que impõe um sistema de preços fixando tarifas máximas, por
exemplo.
 Uma ordem para baixar preços constitui um remédio compor-
tamental que tem como consequência o dever de a autoridade
monitorar posteriormente, de forma contínua, o cumprimento
de sua decisão, o que exige uma estrutura administrativa/bu-
rocrática de acompanhamento e controle de preço, ao mesmo
tempo em que não é suficiente para assegurar a concorrência
no mercado afetado.
 Conclui-se que, embora a preocupação com preços não deva
estar ausente da análise antitruste, por outro lado, a natureza
dos instrumentos desse sistema legal é inadequado para com-
bate de preços/aumentos abusivos e ineficaz do ponto de vista
da promoção das condições de concorrência.

3.6.3.2. Políticas ativas de defesa da concorrência


As medidas pró-concorrência visam incentivar o funcionamento de
mecanismos que fortaleçam a concorrência. Entre elas destaca-se
o incentivo à produção de medicamentos genéricos, que contribui
para combater o poder de mercado das empresas associadas à mar-
ca registrada. Os efeitos de tais medidas, entretanto, restringem-se
aos segmentos de mercado de produtos éticos não patenteados e de
venda livre. Outras medidas são o licenciamento compulsório e o
monitoramento dos preços.

3. A indústria farmacêutica no Brasil 175


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
3.6.3.2.1. A lei de genéricos
A lei dos genéricos (Lei 9.787/99) representou uma relevante mu-
dança no marco institucional da indústria farmacêutica brasileira
nos anos 90. Hasenclever et al. (2000) destacam as principais alte-
rações realizadas na Lei 6.360/76:
 instituiu a exigência de que todos os medicamentos comercia-
lizados com marca também ostentem, nas embalagens e ma-
teriais promocionais, a denominação do fármaco ou princípio
farmacologicamente ativo com uma dimensão não inferior a
metade do tamanho das letras e caracteres da marca;
 atribuiu ao Ministério da Saúde a competência para promo-
ver a difusão de informações sobre o uso de medicamentos
genéricos;
 obriga que as aquisições de medicamentos e as prescrições mé-
dicas/odontológicas de medicamentos, no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS), adotem a denominação do princípio
ativo;
 obriga o órgão federal responsável pela vigilância sanitária a
editar, periodicamente, a relação de medicamentos registrados
no país, de acordo com a classificação farmacológica da Rela-
ção Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) vigente;
 estabelece preferência ao medicamento genérico nas compras
do SUS, quando houver igualdade de preço e demais condi-
ções de aquisição;
 estabelece que os medicamentos similares devam ser sempre
identificados por nome comercial ou marca; e
 prevê regulamentação especial sobre os medicamentos genéri-
cos pelo órgão federal de vigilância sanitária.

A regulamentação do registro de medicamentos genéricos era


inexistente até a edição dessa lei. Existiam medicamentos similares
aos medicamentos com marca vendidos pelo princípio ativo, mas
sem a garantia técnica de bioequivalência.
O medicamento genérico define-se como: “medicamento si-
milar a um produto de referência ou inovador, que se pretende ser
com esse intercambiável, geralmente produzido após a expiração
ou renúncia da proteção patentária ou de outros direitos de exclusi-

176 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
vidade, comprovada a sua eficácia, segurança e qualidade, e desig-
nado pela DCB ou, na sua ausência, pela DCI” (Lei 9.787/99).
A lei foi regulamentada pelo Decreto 3.181/99 e, no que diz
respeito aos genéricos, pela Resolução 391/99 da Anvisa. Essa últi-
ma aprova o Regulamento Técnico para Medicamentos Genéricos,
estabelecendo critérios e condições para registro e controle de qua-
lidade de genéricos, para testes de biodisponibilidade e bioequiva-
lência, e para dispensação de medicamentos genéricos nos serviços
farmacêuticos públicos e privados.
A Resolução Anvisa 92/00 regulamentou as características,
condições e proibições das embalagens e propagandas de medi-
camentos e estipulou prazo de seis meses para que medicamen-
tos similares passassem a ser comercializados necessariamente por
nome comercial ou marca. Mais recentemente, a Resolução An-
visa 36/01 proibiu, definitivamente, a comercialização de medica-
mentos similares registrados com nome do princípio ativo, a partir
de 15/09/2001. Portanto, agora só poderão existir medicamentos
genéricos ou de marca. Os antigos similares deverão ou adotar uma
marca sob a qual possam ser comercializados, ou realizar os testes
necessários para poderem ser vendidos como genéricos.
A RDC Anvisa 51/07 especifica que, no âmbito do SUS, as
prescrições deverão ser feitas obrigatoriamente com a DCB ou
com a DCI. Enquanto nos estabelecimentos privados de saúde,
a prescrição ficará a critério do profissional prescritor, podendo,
portanto, ser feita com a DCB, com a DCI ou ainda com o nome
comercial.
Com relação à dispensação de medicamentos, a resolução ins-
titui que um medicamento de referência, mesmo que prescrito pelo
seu nome comercial, a DCB ou DCI, poderá ser intercambiável
com o respectivo genérico. E quanto ao medicamento similar, esse
deverá ser dispensado quando prescrito pelo seu nome de marca
ou pela respectiva DCB ou DCI correspondente.
Além dos aspectos legais apontados acima, destaca-se também
a criação de linhas de financiamento através do Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para estimu-
lar a produção de genéricos. Em maio de 2001, foram lançadas
duas linhas de crédito dentro do “Programa de Apoio à Produção
e Registro de Medicamentos”, através do BNDES, para estimular

3. A indústria farmacêutica no Brasil 177


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
a produção de genéricos no país: uma de caráter mais genérico e
outra relacionada diretamente à importação de equipamentos.
 Programa de Apoio à Produção e Registro de Medicamentos: tinha
por objetivo, garantir e ampliar a oferta de medicamentos ge-
néricos e seus princípios ativos no país. O programa pretendia
também assegurar a qualidade desses medicamentos, através
da adequação tecnológica e capacitação gerencial e produtiva
de laboratórios produtores. Essa linha de financiamento esta-
va prevista para ficar aberta até 31 de dezembro de 2003 e os
prazos dependiam da finalidade do investimento.
 Programa de Apoio à Importação de Equipamentos: tinha por objeti-
vo financiar, através de instituições financeiras credenciadas, a
importação de máquinas e equipamentos novos destinados às
micro, pequenas e médias empresas. Poderiam ser apoiadas as
operações protocoladas na Finame até 14 de janeiro de 2002,
observada a disponibilidade de recursos de US$ 210 milhões.

Após a extinção, em 2003, do Programa de Apoio à Produção


e Registro de Medicamentos, foi criado, pelo BNDES, o Profarma
– Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Cadeia Produtiva
Farmacêutica, que teve início em maio do ano seguinte com previ-
são de término para o ano de 2007.
Após a avaliação dos resultados do Profarma, o BNDES optou
por renová-lo e estender a sua vigência até 31 de julho de 2012, en-
tendendo que nesse momento seria importante apoiar a inovação
e incentivar as exportações no setor. O programa manteve a sigla
Profarma, mas passou a se chamar Programa de Apoio ao Desen-
volvimento do Complexo Industrial da Saúde. Outra modificação
importante foi a inclusão dos laboratórios públicos no Profarma.
O quadro a seguir mostra as principais características dos
subprogramas que compõem o Profarma – Programa de Apoio ao
Desenvolvimento do Complexo Industrial da Saúde.

178 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Quadro 18. Principais características dos subprogramas do Profarma
Subpro-
Principais características
grama
Objetivos: Apoiar os investimentos das empresas do Complexo Industrial
da Saúde para a construção, expansão e modernização de capacidade
produtiva; apoiar os investimentos das empresas do Complexo Industrial
da Saúde para adequação às exigências do órgão regulatório nacional, a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, bem como para adequa-
Produção

ção às exigências de órgãos regulatórios internacionais e da Organização


Mundial da Saúde – OMS; apoiar iniciativas voltadas para modernização
ou implementação de melhorias na estrutura organizacional, administrati-
va, de gestão, comercialização, distribuição e logística da empresa.
Clientes: Empresas, de qualquer porte, com sede e administração no país;
Administração pública direta ou indireta.
Modalidade de apoio: Financiamento e/ou subscrição de valores mo-
biliários.
Objetivos: Financiamento, na fase pré-embarque, à produção de bens
Pré-embarque

nacionais inseridos no complexo industrial da saúde, destinados à


exportação.
Clientes: Empresas exportadoras de qualquer porte, desde que cons-
tituídas sob as leis brasileiras, tenham sede e administração no país e
mantenham atividades de produção no Brasil de produtos inseridos no
complexo industrial da saúde.
Exportação

Formas de apoio: Direto e indireto.


Objetivos: Apoio à comercialização, no exterior, de aparelhos e máqui-
nas médicos e/ou odontológicos desenvolvidos no Brasil e serviços
Pós-embarque

associados, na modalidade supplier’s credit, mediante o desconto de


títulos de crédito ou a cessão de direitos creditórios relativos à expor-
tação.
Clientes: Empresas exportadoras de qualquer porte, desde que cons-
tituídas sob as leis brasileiras, tenham sede e administração no país e
mantenham atividades de produção e comercialização de aparelhos e
máquinas médicos e/ou odontológicos no Brasil.
Forma de apoio: Direto.
Objetivos: Apoiar projetos de empresas do Complexo Industrial da Saú-
de, em cooperação ou não com Instituições Científicas Tecnológicas,
relacionados a inovações radicais ou incrementais; apoiar projetos que
visem contribuir para a construção e consolidação da infraestrutura da
Inovação

inovação em saúde no país; apoiar projetos que promovam a internali-


zação de competências e atividades relacionadas à pesquisa, desenvol-
vimento e inovação no país.
Clientes: Empresas com sede e administração no país; Administração
pública direta ou indireta.
Modalidade de apoio: Financiamento; e/ou participação na empresa (via
subscrição de valores mobiliários); ou participação nos resultados do
projeto.
Objetivos: Apoiar a incorporação, aquisição ou fusão de empresas que
resultem na criação de empresas de controle nacional de maior porte
e/ou mais verticalizadas.
Reestruturação

Clientes: Pessoas jurídicas de Direito Privado, sediadas no Brasil, cujo


controle efetivo seja exercido, direta ou indiretamente, por pessoa
física ou grupo de pessoas físicas, domiciliadas e residentes no Brasil,
e nas quais o poder de decisão esteja assegurado, em instância final,
à maioria do capital votante representado pela participação societária
nacional.
Modalidade de apoio: Financiamento; e/ou participação na empresa (via
subscrição de valores mobiliários).

3. A indústria farmacêutica no Brasil 179


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Quadro 18. Principais características dos subprogramas do Profarma (cont.)

Subpro-
Principais características
grama
Objetivos: Primeira fase – contratação de um estudo com o intuito de
elaborar um plano estratégico de inserção dos produtores públicos no
Sistema Nacional de Saúde, de promover aumento na eficácia e eficiência
no sistema público de compras e distribuição de produtos relacionados
à saúde, bem como dos produtores públicos individualmente e no seu
conjunto. Segunda fase – apoiar a implementação de planejamento estra-
tégico visando à inserção dos produtores públicos no Sistema Nacional
de Saúde; apoiar os investimentos dos Produtores Públicos para a cons-
trução, expansão e modernização de capacidade produtiva de reagentes
e dispositivos para diagnósticos, hemoderivados, imunobiológicos, inter-
Produtores Públicos

mediários químicos e extratos vegetais para fins terapêuticos, princípios


ativos e medicamentos para uso humano de interesse estratégico para a
Política Nacional de Saúde; apoiar iniciativas voltadas para modernização
ou implementação de melhorias na estrutura organizacional, administra-
tiva, de gestão, comercialização, distribuição e logística dos Produtores
Públicos; apoiar os investimentos dos Produtores Públicos para adequação
às exigências do órgão regulatório nacional, a Anvisa – Agência Nacio-
nal de Vigilância Sanitária, bem como para adequação às exigências de
órgãos regulatórios internacionais e da OMS – Organização Mundial da
Saúde; apoiar, de forma diferenciada, projetos inovadores dos Produtores
Públicos, em cooperação ou não com Instituições Científicas e Tecnoló-
gicas, sejam relacionados a inovações radicais ou incrementais; e apoiar
projetos que visem contribuir para a construção e consolidação da infra-
estrutura da inovação em saúde no País.
Clientes: Administração pública direta ou indireta.
Modalidade de operação: Aplicação não reembolsável: poderão ser
aplicados recursos do Fundo Social e do Fundo Tecnológico – Funtec,
observadas as normas específicas vigentes para os referidos fundos.
Fonte: Elaboração própria, a partir de informações disponíveis na página do BNDES
na internet.

3.6.3.2.2. A lei de patentes (Lei 9.279/96)


Conforme Bermudez et al. (2000, p. 54), até 1945 a legislação bra-
sileira de Propriedade Industrial concedia direitos de patente para
produtos e processos farmacêuticos. A partir daí “foram excluídas
de privilegiabilidade (...) [até] (...) 1969 [onde se] (...) aboliu por
completo, o patenteamento para a área farmacêutica, proibição
que perdurou até a entrada em vigor da atual Lei de Propriedade
Industrial – Lei 9.279/96 de 14 de maio de 1996”.
A atual Lei 9.279/96 é extensiva a pedidos de patente prove-
nientes do exterior e depositados no país por quem tenha proteção
assegurada por tratados ou convenções em vigor no Brasil. A pa-
tente de invenção vigorará pelo prazo de 20 anos contados da data
de depósito do pedido e não poderá ser inferior ao prazo de 10
anos. Para fins econômicos, dois outros aspectos da lei devem ser

180 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
considerados: o conceito de patenteabilidade e a figura de licença
compulsória.
O licenciamento compulsório de patentes também é um instrumen-
to que permite questionar abusos de poder de mercado associados
aos direitos de exclusividade garantidos pelas patentes, afetando o
mercado de éticos patenteados. Esse instrumento, entretanto, pare-
ce ser de eficácia limitada – depende da existência de um produtor
efetivamente capacitado e disposto a receber a licença e produzir o
medicamento patenteado. Pode, entretanto, ser usado como “ame-
aça potencial” para favorecer a posição de contratantes governa-
mentais em negociações de preços.
De acordo com a Lei 9.279/96, a licença compulsória é cabível
nos seguintes casos:
 exercício abusivo do direito de patente (art. 68, caput);
 abuso de poder econômico (art. 68, caput);
 não exploração do objeto patenteado em território brasileiro,
salvo inviabilidade econômica (art. 68, § 1o, I);
 comercialização aquém das necessidades do mercado (art. 68,
§ 1o, II);
 patentes dependentes (art. 70);
 casos de emergência nacional ou interesse público, declarados
em ato do Poder Executivo Federal (art. 71).

Salvo nessa última hipótese, em que a licença pode ser conce-


dida de ofício, nos demais casos elas são concedidas pelo INPI, a
requerimento de interessado com capacitação técnica e econômica
para explorar a patente.
As hipóteses a, b e d são as que podem se relacionar com contro-
le da concorrência: a primeira delas – abuso de direito – pode ser en-
tendida como desvio de finalidade no uso do direito de exclusividade
patentária.34 Seria necessário, para caracterizá-la, definir o que seria

34. A caracterização de abuso de direito está embasada na ocorrência de um desvio


da finalidade social de um direito garantido por lei, que é “medido” a partir da fina-
lidade e não dos limites do direito em si: o abuso não é um ato contrário ao direito ou
exercido além dos limites do direito subjetivo garantido juridicamente. Antes, o ato
abusivo se caracteriza com o exercício de um direito subjetivo dentro de seus limites
traçados por lei, mas desvirtuando os fins econômicos e sociais que embasaram a
instituição de tal direito. Implica, portanto, não se admitir que o exercício de um
direito provoque o desvirtuamento das finalidades para as quais se outorga uma
prerrogativa jurídica. Em decorrência, para detectar-se um abuso de direito, requer-

3. A indústria farmacêutica no Brasil 181


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
a finalidade do direito de patente e por que parâmetros certa conduta
seria considerada desviante (por relação a essa finalidade).
A segunda hipótese é claramente um caso de conduta anti-
competitiva julgada como tal segundo critérios da Lei Antitruste
– pelo Cade ou pelo Judiciário (o pedido de licença só pode ser
feito depois de comprovado o abuso por decisão administrativa ou
judicial).
A terceira hipótese – não satisfazer às necessidades do mercado
–, embora no texto da Lei 9.279 apareça sem qualquer vinculação
com práticas anticompetitivas, pode claramente ser associada com
a prática de boicote, uma possível conduta anticompetitiva confor-
me a lei antitruste. Aparentemente, contudo, nesse caso, não há a
obrigação de que a prática seja previamente julgada como infração
à ordem econômica.
A experiência recente na questão da licença compulsória para
medicamentos antirretrovirais aponta para uma importante medi-
da no que diz respeito ao poder de barganha do governo relativa-
mente não só a preços, como também à internalização da produ-
ção de medicamentos. Destaca-se, ainda, que a licença compulsória
combinada com outras medidas pode servir como um elemento
potencial para introduzir maior concorrência no setor, conforme
pode ser observado pela experiência canadense.

3.6.3.2.3. Medidas relacionadas a controle de preços


Desde dezembro de 2000, quando foi editada a Medida Provisória
2.063, retomou-se o controle de preços do setor farmacêutico. A
MP definiu normas de regulação para preços de medicamentos e
criou a Câmara de Medicamentos; sofreu algumas reedições e foi,
finalmente, transformada na Lei 10.213, em 27/03/2001.
A norma em questão estabeleceu que, até 31/12/2001, os reajus-
tes de preços de medicamentos seriam controlados pela Câmara de

se uma análise que não se limite à abordagem tradicional do direito desde uma
perspectiva formal e individualista, mas que busque determinar “... a finalidade ou a
destinação que o direito subjetivo possui no ambiente social” (Bruna, 1997:161). Ademais,
deve-se notar que, sendo essa uma regra analítica – que não tipifica atos que, em si,
sejam abusivos –, a abusividade só pode ser apurada caso a caso, mediante análise
dos efeitos provocados pelo ato, cotejando tais efeitos com aquelas finalidades sociais
visadas pela instituição do direito.

182 3. A indústria farmacêutica no Brasil


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Medicamentos. Para isso, estabeleceu-se como parâmetro para rea-
justes uma Fórmula Paramétrica de Reajuste de Preços de Medica-
mentos (FPR) que determinava o valor máximo do Reajuste Médio
de Preços a ser permitido para todas as empresas. A diferença entre a
Evolução Média de Preços (EMP) de cada empresa e o Índice Para-
métrico de Preços (IMP) definido pela Lei era o critério a ser utiliza-
do para decidir se uma determinada empresa podia ou não promo-
ver novos aumentos. Regra geral, os preços máximos assim fixados
em janeiro de 2001 seriam “congelados” até 31/12/2001 (art.8).
À Câmara de Medicamentos (Camed) competia a implemen-
tação da lei (art. 12); tinha poder de decidir, entre outras coisas, os
pedidos para reajuste extraordinário de preços, a exclusão de grupos
ou classes de medicamentos da regulação de preços, receber as infor-
mações devidas das empresas e decidir sobre a aplicação das sanções
administrativas por infração à lei (estabelecidas nos arts. 14 e 15).
Essa Câmara era composta de um Conselho de Ministros
(Casa Civil, Justiça, Fazenda e Saúde) e um Comitê Técnico (com-
posto pelos Secretários de Gestão de Investimentos em Saúde/MS;
de Direito Econômico SDE/MJ; de Acompanhamento Econômico
SEAE/MF e por um representante da Casa Civil).
A Lei 10.213/01 foi alterada pela Medida Provisória 2.230 de
06/09/01 que, basicamente, estendeu o prazo de controle de pre-
ços até 31 de dezembro de 2002.
Ainda em relação a medidas de controle de preços, merece
menção a regulamentação das margens de lucro das farmácias que
são fixadas de acordo com as fórmulas para cálculo do preço má-
ximo ao consumidor, editadas por resolução da Câmara de Medi-
camentos (ver 3.3.2.2).
Por sua vez, a Medida Provisória nº 123, de 26 de junho de
2003 (posteriormente convertida na Lei 10.742/2003), criou a Câ-
mara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) em
substituição à Camed. Segundo a lei, são atribuições da CMED:
adotar, implementar e coordenar “atividades relativas à regulação eco-
nômica do mercado de medicamentos, voltados a promover a assistência
farmacêutica à população, por meio de mecanismos que estimulem a oferta
de medicamentos e a competitividade do setor”.

3. A indústria farmacêutica no Brasil 183


Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Bibliografia

ABBOTT III, Thomas A. Price regulation in the pharmaceutical industry:


Prescription or placebo? Journal of Health Economics, 14, p. 551-565, 1995.
ABREU, Jussanã Cristina de. Competitividade e Análise Estrutural da Indús-
tria de Medicamentos Genéricos do Brasil. Rio de Janeiro: Escola de Química,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2004. 164p. (Dissertação de mes-
trado em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos.)
ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS. Medicamentos a partir de
plantas medicinais no Brasil. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciên-
cias, 1998.
ACNIELSEN. Estrutura do Varejo Brasileiro – Censo 2000. São Paulo:
ACNielsen, 2000.
AIACHE, J-M; AIACHE, S.; RENOUX, R. Criação de um medicamen-
to. Brasíndice Guia Farmacêutico, ano XXXIV, n. 416, p. 1-4, 5 mar. 1998.
ALMEIDA, C.; BAPTISTA, T.; TRAVASSOS, C.; PORTO, S. Health Sec-
tor Reform. Rio de Janeiro: ENSP/Fiocruz, 2000. mimeo.
AMERICAN CHEMICAL SOCIETY. The Pharmaceutical Century. Ten
Decades of Drug Discovery. Washington, D.C.: American Chemical Society,
2000.
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA).
Números de registros de medicamentos genéricos: valores acumulados. 2009a. Dis-
ponível em: http://www.Anvisa.gov.br/hotsite/genericos/estatistica/1_
valoracumulado.pdf. Acesso em: 22 jun. 2009.
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA).
Números de registros de medicamentos genéricos: por empresa detentora. 2009b.
Disponível em: http://www.Anvisa.gov.br/hotsite/genericos/estatistica/4_
empresa.pdf. Acesso em: 22 jun. 2009.
ANIS, Aslam H.; WEN, Quan. Price Regulation of Pharmaceuticals in
Canada. Journal of Health Economics, 17, p. 21-38, 1998.
ARRAIS, Paulo Sérgio D.; COELHO, Helena L. L. C.; BATISTA, Maria
do Carmo D. S.; CARVALHO, Marisa L.; RIGHI, Roberto E.; ARNAU,

Bibliografia 185
Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Josep Maria. Perfil da automedicação no Brasil. Revista de Saúde Pública,
v.31, n. 1, p. 71-77, 1997.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA QUÍMICA (ABI-
QUIM). Identificação dos Gargalos Tecnológicos. Determinantes da Importação de
Produtos Químicos. Projeto Conjunto Abiquim, EQ, UFRJ e Siquim. Apoio
PADCT – Plataforma Tecnológica. São Paulo: Abiquim, out. 2000.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE MEDICAMEN-
TOS GENÉRICOS (PRÓ-GENÉRICOS). 2009. Disponível em: http://
www.progenericos.org.br/mercado.shtml. Acesso em: 22 jun. 2009.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MEDICINA DE GRUPO (ABRA-
MGE). Informativo à Imprensa 2007. São Paulo: Abramge, 2007.
ASSOCIAÇÃO DOS LABORATÓRIOS FARMACÊUTICOS NA-
CIONAIS (ALANAC). Informe Brasil. Brasília: Alanac, 2000.
ÁVILA, Jorge de Paula Costa. Políticas ativas para o desenvolvimento do setor
farmacêutico brasileiro: oportunidades e bases conceptuais para a sua formulação.
Rio de Janeiro: Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, 2003. 204p. (Tese de doutorado em Saúde Coletiva.)
BAIN, Joe. The Profit Rate as Measure of Monopoly Power. The Quarterly
Journal of Economics, v. 55, n. 2, p. 271-293, 1941.
—. Market Classifications in Modern Price Theory. The Quarterly Journal of
Economics, v. 56, n. 4, p. 560-574, 1942.
—. Barriers to New Competition: their character and consequences in manufacturing
industries. Cambridge: Harvard University Press, 1956.
—. Industrial Organization. New York: Wiley, 1959.
BARBANO, Dirceu Brás. Apresentação no Fórum Regional de Inovação Tec-
nológica, Inclusão Social e Redes de Cooperação da Região Central do Estado de
São Paulo. São Paulo, s/d. 18 slides. Disponível em: http://www.cultura.
ribeiraopreto.sp.gov.br/ssaude/conselho/dirceu.pdf. Acesso em: 20 jan.
2010.
BARROS, J. A. C. Políticas farmacêuticas: a serviço dos interesses da saúde?
Brasília: Unesco, 2004. 264p.
BENNETT, Sara; QUICK, Jonathan D.; VELÁSQUEZ, Germán. Pub-
lic-Private Roles in the Pharmaceutical Sector. Implications for equitable access
and rational drug use. Health Economics and Drugs DAP Series, WHO/
DAP/97.12. Geneva: World Health Organization, 1997.
BERMUDEZ, Jorge Antônio Zepeda. Indústria Farmacêutica, Estado e Socie-
dade. Crítica da Política de Medicamentos no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1995.

186 Bibliografia
Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
—.; POSSAS, Cristina de Albuquerque. Análisis crítico de la política de
medicamentos en el Brasil. Boletim Oficina Sanit Panam., v. 3, n. 119, p.
270-277, 1995.
—.; EPSTEJN, Ruth; OLIVEIRA, Maria Auxiliadora; HASENCLEVER,
Lia. The WTO Trips Agreement and Patent Protection in Brazil: Recent Changes
and Implications for Local Production and Access to Medicines. Rio de Janeiro:
ENSP/Fiocruz, 2000.
BOSTON CONSULTING GROUP/BCG. Ensuring Cost-Effective Access to
Innovative Pharmaceuticals. Do market interventions work. Boston: The Boston
Consulting Group, 1997.
BOWONDER, B.; YADAV, S. R&D spending patterns of global firms.
Research and Technology Management, p. 49-55, nov.-dez. 1999.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Política Nacional de Medicamentos.
Brasília: Ministério da Saúde, 1998.
—. Assistência Farmacêutica. Brasília: Ministério da Saúde, 2000. 40 p.
—. Datasus. Brasília: Ministério da Saúde, 2001.
BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Relação Anual
de Informações Sociais – RAIS (vários números).
BRASIL. SENADO FEDERAL. Relatório da CPI dos Medicamentos. Relató-
rio Final. Brasília: Senado Federal, 2000.
CALLEGARI, Lucas. Análise Setorial. A Indústria Farmacêutica. São Paulo:
Gazeta Mercantil, 2000.
CAMARA, Marcia Regina Gabado da. Indústria farmacêutica: grupos estraté-
gicos, tecnologia e regulamentação. A experiência brasileira em debate. São Paulo:
Universidade de São Paulo, Departamento de Economia, 1993. (Tese de
doutorado.)
CAPANEMA, L. X. L. A indústria farmacêutica brasileira e a atuação do
BNDES. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 23, 2006.
CAVES, R.; WHINSTON, M.; HURWITZ, M. Patent expiration, entry
and competition in the US pharmaceutical industry. Brookings Papers on
Economic Activity, p. 1-66, 1991.
CHANDLER JR., Alfred DuPont. Scale and scope: the dynamics of industrial
capitalism. Harvard: Belknap Press, 1990.
CIÊNCIA HOJE, v. 15, n. 89, abr. 1993.
COMITÊ DE INTEGRAÇÃO DE ENTIDADES FECHADAS DE AS-
SISTÊNCIA À SAÚDE (CIEFAS). Pesquisa Nacional Ciefas 1999. 1999.
Disponível em: http://www.ciefas.org.br/f_pesquisa.htm.

Bibliografia 187
Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA/SP. Revista do Farmacêutico,
São Paulo: Conselho Regional de Farmácia – SP, n. 47, jul. 2000.
CORREA, P. Impacto setorial dos processos de integração subregional. O caso da
indústria farmacêutica. Rio de Janeiro: Funcex, 1999. mimeo.
DREWS, Jürgen. Innovation deficit revisited: reflections on the productiv-
ity of the pharmaceutical industry. Drug Discovery Today, n. 3, v. 1, p. 492-
494, 1998.
—.; RYSER, Stephan. Innovation deficit in the pharmaceutical industry.
Drug Information Journal, v. 30, p. 97-107, 1996.
DUNNE, Timothy; ROBERTS, Mark J.; SAMUELSON, Larry. Patterns
of Firm Entry and Exit in U.S. Manufacturing Industries. The RAND Journal
of Economics, 19, 4, p. 495-515, 1988.
ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA. Súmula, n. 78. Rio de
Janeiro: ENSP/Fiocruz, jul. 2000.
EUROPEAN GENERICS ASSOCIATION (EGA). Disponível em:
http://www.egagenerics.com. Acesso em: 1 nov. 2000.
EURO RSCG LIFE. Top 10 pharmaceutical companies in 2008. s/d. Dispo-
nível em: http://www.scribd.com/doc/24111293/Top-10-pharmaceutical-
companies-in-2008. Acesso em: 11 mar. 2010.
FERGUSON, Paul R. Industrial Economics: issues and perspectives. London:
Macmillan Education Ltda, 1988.
FIUZA, E. P. S.; LISBOA, M. B. Bens credenciais e poder de mercado:
um estudo econométrico da indústria farmacêutica brasileira. Texto para
Discussão nº 846, Rio de Janeiro: Ipea, 2001.
FOLHA DE S. PAULO. Genéricos têm alta de 41% nas vendas no 1º trimes-
tre. 2007. Disponível em: http://www.progenericos.org.br/noticias/12.htm.
Acesso em: 20 mar. 2008.
GADELHA, Carlos Augusto G.; TEMPORÃO, José Gomes. Produção
farmacêutica e de imunobiológicos no Brasil: a necessidade de um novo
padrão de intervenção estatal. In: FLEURY, S. (org.) Saúde e democracia: a
luta do Cebes. São Paulo: Lemos, 1997.
GADELHA, Carlos A. G.; MALDONADO, José; VARGAS, Marcos. Es-
tudo setorial sobre a indústria farmacêutica: uma agenda de competitividade para
a Indústria Paulista. SDE/IPT-SP, 2008.
GAZETA MERCANTIL. Balanço Anual. São Paulo: Gazeta Mercantil,
1989 a 2001.
—. Análise Setorial. Farmácias e Drogarias 1999. São Paulo: Gazeta Mercantil,
1999.

188 Bibliografia
Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
—. Atlas do Mercado Brasileiro. São Paulo: Gazeta Mercantil, 2000 e 2001.
GRUPEMEF. A saúde no Brasil analisada por três dos principais fato-
res que compõe o mercado farmacêutico. Revista Grupemef, n. 55, ano 22,
maio-jun. 2000.
HASENCLEVER, Lia. Uma análise da indústria farmacêutica através do
modelo Estrutura-Conduta-Desempenho. Rio de Janeiro, 2001. (Mimeo
IE/UFRJ; notas de aula).
—. (coord). Diagnóstico da indústria farmacêutica brasileira. Projeto 914BRZ58.
Rio de Janeiro: Unesco/FUJB/Instituto de Economia/UFRJ, 2002.
—. O mercado de medicamentos genéricos no Brasil. In: Simpósio Franco-
Brasileiro: O novo direito da propriedade intelectual no domínio da saúde e dos seres
vivos. Brasília, 2004.
—.; WIRTH, Itzhak; PESSOA, Caroline Araújo. Estrutura industrial e re-
gulação na indústria farmacêutica brasileira e seus efeitos sobre as ativi-
dades de P&D. XXI Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica. São Paulo:
Núcleo PGT/USP, 7 a 10 nov. 2000. Trabalho completo em CD-ROM.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
(IBGE). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2003. Acesso e utilização
de serviços de saúde. 2005.
—. Pesquisa de inovação tecnológica – Pintec – 2005. Rio de Janeiro: IBGE,
2007. 160 p.
—. Pesquisa Industrial Anual-Empresa. 2007.
INTERNATIONAL MEDICAL STATISTICS (IMS). 2000a. Disponível
em: http://www.ims-global.com/insight/news_story/000517a.htm. Acesso
em: 31 jul. 2000.
—. Drug Monitor 12 Months December 1998. London : International Medical
Statistics, Press Release, 2000b.
—. The Pharmaceutical Market in Brazil. London: International Medical Sta-
tistics, out. 2000c.
—. Drug Monitor 12 Months December 2000. London : International Medical
Statistics, Press Release, 2001a.
—. International Medical Statistics Health. London: IMS, maio 2001b.
LU, Z. J.; COMANOR, W. S. Strategic Pricing of New Pharmaceuticals.
Review of Economics and Statistics, v. 80, n. 1, p. 108-118, 1998.
MARINHO, Vera Maria Costa. Política industrial para fármacos e medica-
mentos: planejamento e implementação. Rio de Janeiro: Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Escola de Química, 2008. 273 p. (Tese de doutorado em
Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos.)

Bibliografia 189
Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
MASON, Edward S. Price and production policies of large-scale enter-
prise. American Economic Review, v. 29 (supl), p. 61-74, 1939.
—. The current state of the monopoly problem in the United States. Har-
vard Law Review, v. 62, n. 8, p. 1265-1285, 1949.
MELLO, Maria Tereza Leopardi. Questões de defesa da concorrência no
setor farmacêutico. In: NEGRI, B.; DI GIOVANNI, G. (orgs.) Brasil: Ra-
diografia da Saúde. Campinas, SP: Unicamp, 2001a. p. 465-497.
—. Notas sobre políticas de controle do poder de mercado na indústria farmacêutica.
Rio de Janeiro: IE/UFRJ/Anvisa, 2001b. mimeo.
MEYERS, Abbey. Orphan Drugs: the Current Situation in the US, Eu-
rope and Asia. Drug Information Journal, 31, p. 101-104, 1997.
MIRANDA, Elaine Silva; PINTO, Cláudia Du Bocage Santos; REIS, An-
dré Luis de Almeida dos; EMMERICK, Isabel Cristina Martins; CAM-
POS, Mônica Rodrigues; LUIZA, Vera Lucia; OSORIO-DE-CASTRO,
Claudia Garcia Serpa. Disponibilidade no setor público e preços no setor
privado: um perfil de medicamentos genéricos em diferentes regiões do
Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 25, n. 10, p. 2147-2158, 1997.
MORVAN, Yves. Fondements d’Economie Industrielle. Paris: Economica,
1991.
NISHIJIMA, M. Os preços de medicamentos de referência após a entra-
da dos medicamentos genéricos no mercado brasileiro. Revista Brasileira de
Economia, 62(2), p. 189-206, 2008.
—.; BIASOTO JR., G. Os preços dos medicamentos de referência após
a entrada dos medicamentos genéricos no mercado brasileiro. In: XXXI
ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA DA ANPEC. Anais...
2003. Disponível em: http://www.anpec.org.br/encontro_2003.htm. Aces-
so em: 11 fev. 2008.
OLIVEIRA, D. Laboratórios reagem a genéricos com pesquisa. Folha de
São Paulo, 21 mar. 2007. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/
folha/dinheiro/ult91u115385.shtml. Acesso em: 17 jul. 2009.
ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE (OPAS). A Saúde no
Brasil. Brasília: Organização Panamericana da Saúde, Escritório de Repre-
sentação no Brasil, 1998.
OSCAR, N. Pfizer corta preço do Viagra pela metade para enfrentar gné-
ricos. O Estado de São Paulo, 09 jun. 2010. Disponível em: http://www.esta-
dao.com.br/estadaodehoje/20100609/not_imp563679,0.php. Acesso em:
18 jun. 2010.
OSSE, J. S. Guerra das patentes. Isto É Dinheiro, 27 jun. 2009.

190 Bibliografia
Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
PHARMACEUTICAL RESEARCH & MANUFACTURERS OF AME-
RICA (PhRMA). Pharmaceutical Industry Profile 1999. Washington, DC:
PhRMA, 1999.
—. Pharmaceutical Industry Primer 2001. A Century of Progress. Washington,
D.C.: PhRMA, 2001.
—. PhRMA Annual Membership Survey – 2009. Washington, D.C.: PhRMA,
2009.
PRICEWATERHOUSE COOPERS (PwC). Pharmaceutical Market and
Deal Survey. Chicago: Pricewaterhouse Coopers, 1997.
ROGERS, R. Pharmaceuticals under pressure. Chemical and Engineering
News, p. 21-32, 17 jan. 2000.
SARMIENTO, Alvaro Zerda. Alternativas de Políticas de Precios de Medica-
mentos in las Americas. Genebra: World Health Organization, 1995. (Série
Economía de la Salud y Medicamentos, n. 1.)
SAXENIAN, Helen. Getting the Most of Pharmaceutical Expenditures. Wash-
ington, D.C.: World Bank, 1994.
SCHERER, F. M. Industrial market structure and economic performance. Chi-
cago: Rand Mc Nally College Publishing, 1970.
—.; ROSS, D. Industrial Market Structure and Economic Performance. 3. ed.
Boston: Houghton Mifflin Company, 1990.
SCRIP. Scrip World Pharmaceutical News, vários números.
SOLTERO, R. A.; STAGNER, W. C.; KENLEY, R. A.; CAUDILL, W. L.
The Changing Role of Pharmaceutical Development Organizations. Phar-
maceutical Technology Contract Services, p. 36-42, 2000.
STIGLER, G. J. The organization of industry. Homewood, Ill: Irwin, 1968.
UNITED STATES CONGRESSIONAL BUDGET OFFICE (CBO).
How Increased Competition from Generic Drugs Has Affected Prices and Returns
in the Pharmaceutical Industry. Washington, D.C.: Congressional Budget Of-
fice, 1998.
U. S. CONGRESS. OFFICE OF HEALTH TECHNOLOGY ASSESS-
MENT. Pharmaceutical R&D: Costs, Risks and Rewards. Washington, D.C.:
U. S. Government Printing Office, fev. 1993.
VON WEIZÄCKER, C. C. Barriers to entry: A theoretical treatment. Berlin;
New York: Springer-Verlag, 1980.
WHITTAKER, Erica; BOWER, D. Jane. A shift to external alliances for
product development in the pharmaceutical industry. R&D Management, v.
24, n. 3, p. 249-261, 1994.

Bibliografia 191
Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
WIRTH, Itzhak; HASENCLEVER, Lia. Globalization in the Pharmaceu-
tical Industry: a Comparison across Brazil, Japan and the USA. BALAS
Proceedings, p. 459, 1999.
—. The Pharmaceutical Enterprise in Brazil; Globalization, Internal Or-
ganization and Performance. In: GLOBAL BUSINESS AND TECH-
NOLOGY ASSOCIATIONS – GBTA 2000. Anais... Rio de Janeiro: ST.
John’s University: PUC-Rio, 15-18 jun. 2000.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). World Drug Situation.
Genebra: World Health Organization, 1988.
—. Selected Topics in Health Reform and Drug Financing. Genebra: World He-
alth Organization, 1998.
—. The World Health Report 1999. Geneva : World Health Organization,
1999a.
—. WHO Expert Committee on Essential Drugs. Genebra: World Health Orga-
nization, nov. 1999b.
—. Global Pharmaceutical Expenditures. Health Economics and Drugs. Genebra:
World Health Organization, 2000. (EDM Series n. 3.)
ZUCCHI, P.; DEL NERO, C.; MALIK, A. M. Gastos em Saúde: os fa-
tores que agem na demanda e na oferta dos serviços de saúde. Revista de
Administração Pública, n. 32, v. 5, p. 125-147, set.-out. 1998.

Decretos, leis, medidas provisórias, portarias e resoluções


Decreto 3.181/99 de 14 de abril de 1999. Regulamenta a Lei nº 9.787, de 10
de fevereiro de 1999, que dispõe sobre a Vigilância Sanitária, estabelece o
medicamento genérico, dispõe sobre a utilização de nomes genéricos em
produtos farmacêuticos e dá outras providências.
Lei 6.360/76 de 23 de setembro de 1976. Rege o Sistema de Vigilância
Sanitária e estabelece critérios para o registro de produtos e licença de
estabelecimentos.
Lei 8.884/94 de 11 de junho de 1994. Transforma o Conselho Adminis-
trativo de Defesa Econômica (Cade) em Autarquia, dispõe sobre a pre-
venção e a repressão às infrações contra a ordem econômica e dá outras
providências.
Lei 9.279/96 de 15 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações relativos
à propriedade industrial.

192 Bibliografia
Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Lei 9.782/99 de 27 de janeiro de 1999. Define o Sistema Nacional de Vi-
gilância Sanitária, cria a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e dá
outras providências.
Lei 9.787/99 de 11 de fevereiro de 1999. Altera a Lei no 6.360, de 23 de
setembro de 1976, que dispõe sobre a vigilância sanitária, estabelece o
medicamento genérico, dispõe sobre a utilização de nomes genéricos em
produtos farmacêuticos e dá outras providências.
Lei 10.147, de 21 de dezembro de 2000. Dispõe sobre a incidência da
contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do
Patrimônio do Servidor Público – PIS/Pasep, e da Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social – Cofins, nas operações de venda dos
produtos que especifica.
Lei 10.213 de 27 de março de 2001. Transforma a Medida Provisória 2.063
em Lei.
Lei 10.742 de 6 de outubro de 2003. Define normas de regulação para o
setor farmacêutico, cria a Câmara de Regulação do Mercado de Medica-
mentos – CMED e altera a Lei nº 6.360, de 23 de setembro de 1976, e dá
outras providências.
Medida Provisória 2.063. Define normas de regulação para preços de me-
dicamentos e criou a Câmara de Medicamentos.
Medida Provisória 2.190-34 de 23 de agosto de 2001. Acrescenta às atri-
buições da Agência a tarefa de monitorar a evolução dos preços de me-
dicamentos, equipamentos, componentes, insumos e serviços de saúde,
podendo, para isso, requisitar informações, fazer vistorias etc.
Medida Provisória 2.230 de 06 de setembro de 2001. Estende o prazo de
controle de preços até 31 de dezembro de 2002.
Medida Provisória 123, de 26 de junho 2003. Define normas de regulação
para o setor farmacêutico, cria a Câmara de Regulação do Mercado de
Medicamentos – CMED, altera a Lei nº 6.360, de 23 de setembro de 1976,
e dá outras providências.
Portaria 3.916, de 30 de outubro de 1998 do Ministério da Saúde. Aprova
a Política Nacional de Medicamentos.
Resolução da Anvisa RE n. 391 de 9 de agosto de 1999. Aprovar o Regu-
lamento Técnico para Medicamentos Genéricos
Resolução da Anvisa RDC nº 92 de 23 de outubro de 2000. Regulamenta
as características, condições e proibições das embalagens e propagandas
de medicamentos.

Bibliografia 193
Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505
Resolução da Anvisa RDC nº 36 de 15 de março de 2001. Proíbe a comer-
cialização de medicamentos similares registrados com nome do princípio
ativo, a partir de 15/09/2001.
Resolução da Anvisa RDC nº 51 de 15 de agosto de 2007. Altera o item
2.3, VI, do Anexo I, da Resolução RDC nº 16, de 2 de março de 2007 e o
Anexo da Resolução RDC nº 17, de 2 de março de 2007.
Resolução da Câmara de Medicamentos nº 9 de 13 de setembro de 2001.
Disciplina as margens de comercialização dos medicamentos e dá outras
providências.
Resolução do Conselho Nacional de Saúde n. 338 de 6 de maio de 2004.
Aprova a Política Nacional de Assistência Farmacêutica

194 Bibliografia
Este exemplar está registrado para uso exclusivo de MARCELO GUIMARAES - 17608505

You might also like