Professional Documents
Culture Documents
Metadados
Data de Publicação 2017-01-25
Resumo O presente trabalho de pesquisa intitulado “A primeira escola de Serviço
Social em Portugal: o projeto educativo fundador e a configuração
do campo de conhecimento (1935-1955)” pretendeu desenvolver um
trabalho de investigação no âmbito do Programa de Doutoramento em
Serviço Social, iniciado em 2010, promovido pela Universidade Lusíada
de Lisboa. Esta pesquisa opta por situar-se no domínio da história do
Serviço Social, centrando-se na história da educação em Serviço Social e
designadamente naqu...
Palavras Chave Serviço Social - História - Portugal, Serviço Social - Estudo e Ensino
- Portugal, Portugal - Política Social - 1933-1974, Instituto de Serviço
Social (Lisboa, Portugal) - História
Tipo doctoralThesis
Revisão de Pares Não
Coleções [ULL-ISSSL] Teses
http://repositorio.ulusiada.pt
UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais
V. 1
Realizado por:
Teresa Paula Garcia Rodrigues da Silva
Orientado por:
Prof.ª Doutora Marina Manuela Santos Antunes
Constituição do Júri:
Lisboa
2016
U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A
V. 1
Lisboa
Maio 2016
U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A
Lisboa
Maio 2016
Teresa Paula Garcia Rodrigues da Silva
Orientadora:
Prof.ª Doutora Marina Manuela Santos Antunes
Lisboa
Maio 2016
Ficha Técnica
Autora Teresa Paula Garcia Rodrigues da Silva
Orientadora Prof.ª Doutora Marina Manuela Santos Antunes
Título A primeira escola de Serviço Social em Portugal: o projeto educativo
fundador e a configuração do campo de conhecimento (1935-1955)
Local Lisboa
Ano 2016
LCSH
1. Serviço social - História - Portugal
2. Serviço social - Estudo e ensino - Portugal
3. Portugal - Política social - 1933-1974
4. Instituto de Serviço Social (Lisboa, Portugal) - História
5. Universidade Lusíada de Lisboa. Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa - Teses
6. Teses - Portugal - Lisboa
LCC
1. HV348.S55 2016
Dedico este trabalho ao Alberto, meu
marido, e aos nossos filhos Sofia e
Henrique, sem eles não se justificaria a
razão deste esforço.
Com a difícil tarefa de não omitir todos os que de alguma forma contribuíram para a
realização da presente pesquisa, desejo exprimir os meus mais sinceros
agradecimentos à Professora Doutora Mariana Antunes. Foi o seu estímulo,
disponibilidade intelectual, orientação, apoio e as reflexões proporcionadas que me
ajudaram na condução dos trabalhos que resultaram nesta tese, sendo fundamental o
espírito crítico e ponderação na descoberta do objeto de estudo.
Não poderei, deixar de relembrar a importante colaboração que o Dr. Helder Machado
Diretor dos Serviços de Informação, Documentação e Internet, prestou ao longo do
árduo percurso de construção deste relatório científico, desde o esclarecimento da
breve dúvida às longas conversas e partilha de ideias. Agradeço ainda, ao Dr. Paulo
Soares e à Catarina Graça bem como a todos os funcionários da Mediateca da
Universidade Lusíada de Lisboa por toda a disponibilidade e apoio manifestado.
Agradeço, ainda, à Dr.ª Teresa Ponces da Biblioteca do Patriarcado de Lisboa e
Arquivo do Cardeal Cerejeira Dom Manuel Gonçalves Cerejeira (1888-1977), Cardeal
Patriarca de Lisboa (1929-1971) e da Drª Elvira Silvestre responsável pela Biblioteca
do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, pelo rigor, profissionalismo e
respeito pelo trabalho do investigador.
Cabe-me por fim agradecer às colegas que comigo frequentaram o programa doutoral
Paula Ferreira, Helena Rocha e, ainda, Vanda Ramalho e Helena Teles, na discussão
de ideias e na interpretação de alguns dos dados recolhidos. Agradeço à Teresa
Cunha e Carolina Lacerda que enquanto colegas de trabalho na Câmara Municipal de
Cascais, arquivista e assistente social respetivamente, se disponibilizaram a algumas
leituras e a me questionaram sobre a condução do trabalho.
Por último, agradeço profundamente à minha família em especial ao meu marido e aos
meus filhos a quem dediquei esta obra.
The presente researche “The first school of social work in Portugal: the founder
educational project and the field of knowledge’s configuration (1935-1955)” intends to
develope an investigation project in the field of social services’ phd progame, promoted
by the Universidade Lusíada de Lisboa iniciated in 2010. This research, places it self in
the domain of social work history, focusing in the Social Work Education History and
namely in the one that was the founding educational project of the first school of Social
Work in Portugal- Instituto de Serviço Social, in the period that corresponds to the
institutionalization and validity of the first plan of studies, in the Estado Novo.
In the empiric plan this study of primary sources spread out thru various arquives is the
chosen path, like the arquive of Cardeal Cerejeira in the Patriarcado de Lisboa,
Salazar’s arquive in Torre do Tombo and in the monografic collection of this institute,
the now Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa – Universidade Lusíada de
Lisboa. This research, was complemented by the study of works, pappers and
documents, and others texts that relate to the memory of this educational institution,
as well as other archival, hermeneutics and discursive references around is
educational practice.
This scientific work is developed in two main analytical axes. On the one hand,
understanding the history of the first educational institutions in the field of social work
and, on the other, the history of ideas in social work. In this assumption, it becomes
possible to understand how to articulate and combine together the different levels of
materiality, representation and ownership, and these, with the curriculum, teaching and
agency plans, structured in the form of educational project. Finally, know the essence
of the educational material, the boundaries of the Social Work field of knowledge as
academic discipline and to this extent, understand the traditions of the ideas and action
in which we can at the same time settle the roots of Social Work in Portugal.
Introdução................................................................................................................... 25
1. Matriz teórica, conceptual e metodológica da pesquisa .......................................... 41
1.1. Abordagem teórico - concetual ........................................................................ 41
1.2. Natureza do estudo, metodologia e técnicas de recolha dos dados empíricos 58
2. Origem e evolução inicial do Serviço Social ........................................................... 75
2.1. Alguns antecedentes remotos do Serviço Social ............................................. 75
2.1.1. A “Questão Social” e emergência do Serviço Social ................................. 81
2.1.2. O movimento da Charity Organization Society:o pioneirismo .................... 86
2.2. As primeiras escolas de Serviço Social a nível internacional ........................... 92
2.3. Os Modelos e Métodos do Serviço Social tradicional .................................... 102
2.3.1. Modelos contemporâneos de atuação profissional ................................. 109
2.3.2. Conceções complexas de uma profissão................................................ 122
3. Serviço Social Português: as matrizes em presença ............................................ 127
3.1. A emergência do Serviço Social em Portugal ................................................ 127
3.1.1. As organizações de mulheres e de juventude......................................... 135
3.2. A reorganização da assistência social e a reforma sanitária.......................... 140
3.2.1. Os princípios gerais e os órgãos da assistência ..................................... 147
3.2.2. O conceito de Serviço Social no desenvolvimento do sanitarismo .......... 152
3.3. As primeiras tentativas de formação de Assistentes Sociais ......................... 157
3.4. A influência das ciências sociais - o método monográfico ............................. 160
4. Instituto de Serviço Social: a sua fundação .......................................................... 165
4.1. A Associação de Serviço Social como suporte jurídico .................................. 165
4.2. Os primeiros cargos de direção ..................................................................... 179
4.3. Os primeiros cursos existentes e os planos de estudos ................................ 182
4.3.1. O curso de Assistente Social .................................................................. 186
4.3.2. O curso geral e normal de Educação Familiar ........................................ 202
4.3.3. O curso de Donas de Casa..................................................................... 207
5. Instituto de Serviço Social: a dinâmica da sua atividade ...................................... 215
5.1. A função escolar de ensino ........................................................................... 215
5.2. A Função de apoio documental, de cultura social e difusão de princípios sociais
...................................................................................................................... 220
5.3. O Campo de atuação social direta................................................................. 226
5.4. Suporte financeiro do Instituto de Serviço Social ........................................... 235
5.5. O Intercâmbio internacional - as primeiras organizações internacionais de
Serviço Social ....................................................................................................... 241
6. Instituto de Serviço Social: um compromisso para com a sociedade .................... 251
6.1. Os setores de intervenção e saídas profissionais .......................................... 252
6.2. As áreas e campos de atuação . ................................................................... 255
Conclusão................................................................................................................. 285
Referências .............................................................................................................. 305
Apêndices ................................................................................................................. 341
Lista de apêndices ................................................................................................ 343
Apêndice A........................................................................................................ 345
Apêndice B........................................................................................................ 351
Anexos ..................................................................................................................... 355
Anexo A
Anexo B
Anexo C
Anexo D
Anexo E
Anexo F
Anexo G
Anexo H
Anexo I
Anexo J
Anexo K
Anexo L
Anexo M
Anexo N
Anexo O
Anexo P
Anexo Q
Anexo R
Anexo S
Anexo T
Anexo U
Anexo V
Anexo W
Anexo X
Anexo Y
Anexo Z
Anexo AA
Anexo BA
Anexo CA
Anexo DA
Anexo EA
Anexo FA
Anexo GA
Anexo HA
Anexo IA
Anexo JA
Anexo KA
Anexo LA
Anexo MA
Anexo NA
Anexo OA
Anexo PA
Anexo QA
Anexo RA
Anexo SA
Anexo TA
A primeira escola de Serviço Social em Portugal
INTRODUÇÃO
Desde a sua fundação, o Instituto de Serviço Social (ISS), atual Instituto Superior de
Serviço Social de Lisboa (ISSSL), construiu o seu próprio caminho enquanto
instituição educativa no domínio do Serviço Social, acumulando não só um património
de conhecimento em diversas áreas de intervenção social e investigação, construindo
paradigmas que serviram de base à atuação profissional dos assistentes sociais, como
também, reunindo um património específico de técnicas, métodos, conhecimentos,
obras de referência, costumes e práticas profissionais que lhe demarcam um campo
de conhecimento.
Para Soydan (2004), este foi o esforço de Mary Richmond ao criar uma base para o
Trabalho Social de casos através de escolas de formação, já que sendo contra a
criação de cursos na universidade, pensava que esse passo iria arruinar o
compromisso natural dos assistentes sociais com o seu trabalho e defendia uma
escola independente. Foi através do Trabalho Social desenvolvido pela Charity
Organization Society (C.O.S) de Nova Iorque, que se fundou a primeira escola de
Serviço Social no mundo a Escola de Filantropia de Nova Iorque, mais tarde
conhecida como a Escola de Serviço Social de Nova Iorque, incorporada na
Universidade da Colômbia em 1940.
Por outro lado, constitui-se como fronteira temporal o ano de 1955, por coincidir com o
fim de um primeiro ciclo formativo e marcar a fronteira com uma nova etapa de ensino
que coincide com um novo plano de estudos definido pela portaria 15 972 de 18
Setembro de 1956 e uma nova configuração do ensino na conjuntura sociopolítica e
sociocultural que esta pesquisa já não abrange.
Tendo presente a ideia de Durkheim, (1995) pode achar-se estranho que para chegar
a conhecer a humanidade presente seja necessário começar por distanciar-se dela e
transportar-se ao começo da história, remontando às formas mais primitivas e simples,
tentando dar conta das características que definem esse período da sua existência,
para depois mostrar como, pouco a pouco, se desenvolveu, se tornou complexo e
como se chegou ao momento presente.
A escolha deste tema não foi casual. Para além do enunciado decorre, também, da
importância atribuída à preservação do acervo documental desta instituição educativa
com elevada relevância histórica, cultural e científica e, consequentemente, da
preservação da memória coletiva, enquanto elemento constitutivo de uma identidade
profissional.
Neste sentido, não se pretende que a história desta instituição educativa constitua
meramente uma abordagem descritiva ou justificativa da aplicação de uma
determinada política educativa, nem sequer que se confine à relação com o seu meio
envolvente. Pretende-se de uma forma mais abrangente, compreender e explicar a
sua realidade histórica enquanto instituição educativa e integrá-la no quadro mais
amplo da institucionalização da educação em Serviço Social a nível internacional e
dos contextos e circunstâncias históricas, implicando-a na evolução do pensamento
desta comunidade científica e também de uma região e território, dirigindo-se a
problemáticas, públicos e zonas de influência concretas.
Neste domínio, julgou-se pertinente cruzar esta intenção de pesquisa com a história do
pensamento em Serviço Social, encarando a perspetiva do seu desenvolvimento
científico, tomando-o como um conjunto específico de ideias e conceitos, respondendo
Este estudo tem como objetivo central reconstituir a história do Instituto de Serviço
Social, enquanto instituição educativa, exclusivamente feminina neste período e a
forma como contribuiu para a configuração de um campo de conhecimento próprio do
Serviço Social.
Pretende-se especificamente:
Importa situar nesta sequência que, desde 1993, se encontra construído legalmente o
Centro Português de Investigação em História e Trabalho Social (CPIHTS) no qual
Alcina Martins teve um papel fulcral e determinante na sua criação e produção
científica. Este centro tem como principais objetivos, entre outros, o estudo e a
investigação do Serviço Social e da sua história pelo que se constitui como instância
privilegiada no contacto com publicações especializadas neste domínio.
Ao optar por uma reflexão sobre a trajetória de vida do Serviço Social, partindo da
matrizes propostas por Helena Mouro (2009) como sendo de teor doutrinário, de base
racionalista laica, de raiz filosófica, pensa-se chegar ao seu discurso identitário
presente na emergência do Serviço Social enquanto profissão1 e dar continuidade à
ideia defendida de que o Serviço Social surgiu como um força anti modernista. Esta
perspetiva reflexiva modernista que pensa o Serviço Social como produto da cultura
moderna é também referenciada por Gustavo Parra (2001) sobre a Argentina2.
1Sobre Helena Mouro, considera-se ainda fundamental mencionar o seu artigo, publicado em 1995, na
Revista Interações, em que realiza um Breve apontamento sobre a trajetória sócio-histórica do Instituto
Superior de Serviço Social de Coimbra e onde segue, de forma breve, a linha de pesquisa biográfica no
estudo daquela instituição educativa.
2 Ainda sobre a Argentina chama-se a atenção para o artigo elaborado por Solá e Becerra (2009) em que
estas autoras se propõem recuperar alguns aspetos sobre o processo de profissionalização da
Assistência Social, no seu país, na década de 30 do século XX, centrando a sua atenção nos discursos
dos médicos higienistas que geraram ações tendentes a dotar a Assistência Social de um carater
científico e a imprimir um impulso decisivo da intervenção estatal sobre a “questão social”.
Num quadro de fundo mais amplo importa referir a abordagem realizada por Maria
Júlia Cardoso (2013) sobre Assistência, a acção social e municípios: apontamentos
históricos e desafios e sobre a evolução da assistência a nível no âmbito local e a
história da instância municipal, através do olhar lançado sobre o período do Estado
Novo, compreendendo-se que a assistência social nunca foi considerada função
prioritária. Esta deteve, no entender da autora, um papel supletivo por parte do Estado
sendo as suas atividades asseguradas por organizações privadas de fins assistenciais
orientadas para o primado da orientação da família e não do indivíduo em si. Entre
estas organizações encontram-se as Misericórdias, tendo-lhes sido conferido um papel
de extrema importância na coordenação da assistência a nível local, designadamente,
no âmbito da assistência materno-infantil e hospitalar.
A nível internacional salienta-se o estudo realizado por María Victoria Molina Sánchez,
em 1994, intitulado Las enseãnzas del Trabajo Social en España 1932-1983: Estudio
socio educativo, na sequência da sua tese de doutoramento, na Universidade
Pontifícia de Comillas. Este estudo, que pretendeu dar uma visão panorâmica e global
do nascimento das escolas de Trabalho Social em Espanha, abarcando o período
compreendido entre a criação da primeira escola em Espanha, Barcelona em 1932,
até à incorporação das escolas na Universidade em 1983, período em que iniciaram
um novo processo. Sánchez aborda os processos docentes no interior das escolas e
tenta salvar a memória das instituições e pessoas que nelas participaram. Trata-se da
primeira e praticamente a única obra em Espanha que aborda a história das escolas
no seu conjunto e que, partindo do passado, explica o presente do Serviço Social
como disciplina e profissão.
O sentido de pensar uma profissão na atualidade implica, portanto, transitar pela sua
história reconhecendo e desentranhando limites e possibilidades com o objetivo de a
transcender e não de a repetir. Os métodos do Trabalho Social e consequentemente
os elementos constitutivos da metodologia refletem as diferentes épocas. O seu
surgimento e consolidação tem que ver com as visões, conceções, interesses, pedidos
e necessidades (sociais ou profissionais) prevalentes em cada momento.
Na sua obra, Malcolm Payne, em concreto no seu livro intitulado The origins of Social
Work (2005), remonta às origens e desenvolvimento do Trabalho Social
proporcionando uma síntese ambiciosa de material histórico e internacional; explora as
diferentes facetas do Serviço Social, definido por acontecimentos sociais de política,
de profissionalização e crise da profissão, mudanças no cliente, ou mudanças na
orientação prática. Trata-se de um empreendimento realizado por um autor com uma
forte reputação internacional e constitui uma referência básica na literatura do Serviço
Social.
Mais tarde, em 1937, o ministro do interior Mário Pais de Sousa, em visita ao Instituto
de Serviço Social, apela ao interesse das jovens para outro projeto do regime que
opera no âmbito do seu ministério, ou seja, a “Defesa da Família”. As diplomadas,
especificamente as “educadoras familiares" poderiam desempenhar uma outra função
de ensino familiar e doméstico instituído nos liceus, no entanto, as educadoras
familiares desempenhavam outras atividades designadamente junto das mulheres
operárias, desde a sua orientação no governo da casa e todas as tarefas que envolve
a orientação dentro dos valores religiosos.
Este plano de estudos, por incluir a realização de estágios ao longo dos três anos,
configura-se como oportunidade de aprendizagem do desempenho profissional,
modelada no terreno, através do contacto com os mais variados serviços de cirurgia,
medicina, pediatria, puericultura, maternidade e consultas pré-natais, dispensários de
profilaxia em higiene social, hospitais, fábricas, centros sociais e instituições
especializadas em ensino familiar e doméstico.
3 Vide em anexo E
4 Vide em anexo AP
fundamentos do Serviço Social tradicional assente nos passos que foram dados para a
configuração de um campo de conhecimento. Neste capítulo, apresenta-se por último
uma visão sobre o Serviço Social na atualidade a fim de proporcionar um contraste
sobre alguns aspetos ligados à profissão
Refere-se ainda que a tese inclui dois apêndices. O Apêndice A, onde se inclui uma
breve cronologia, destacando alguns momentos-chave da história do Serviço Social no
período em análise e, Apêndice B, onde se reúne os principais diplomas legais
publicados, no período em análise, determinantes para a história do Instituto de
Serviço Social.
****
Neste primeiro capítulo pretende-se apresentar a matriz referencial em que esta tese
se desenvolve, respondendo à necessidade de assinalar a pertinência e as visões que
estiveram subjacentes e que permitiram o estudo do projeto educativo do Instituto de
Serviço Social.
A proposta apresentada por Justino Magalhães na sua obra Tecendo Nexos: História
das Instituições Educativas (2004, p. 6) sustenta o constructo metodológico do estudo
das instituições educativas a partir de constelações epistémicas, tanto de natureza
objetual e substantiva, relativas à materialidade, representação e apropriação, como
especial entre estas duas variáveis, isto é, que existe uma relação entre a teoria, a
prática e a natureza dos problemas sociais, nos contextos em que estes aspetos se
encontram correlacionados, conforme se representa em seguida:
Ilustração 1 - Os campos da história das ideias do Trabalho Social. ([Adaptado e traduzido a partir de:] Haluk Soydan, 2004, p.
193).
Nos estudos desenvolvidos em torno das perspetivas históricas do Serviço Social são
apontados diferentes caminhos que resultam na aplicação de diferentes critérios no
que concerne à abordagem da história do pensamento. De acordo com Soydan (2004,
p. 22) a maior parte dos estudos realizados sobre a história do pensamento em
Serviço Social, foram estudos sobre o desenvolvimento organizativo e institucional,
concebendo o Serviço Social principalmente como uma atividade prática, ou seja,
como uma profissão cuja tarefa é ajudar as pessoas necessitadas, prestando maior
atenção às diferentes formas de organização deste tipo de ajuda. O interesse na
formação das ideias e dos conceitos que estão por detrás da organização de ajuda, do
trabalho da mudança social e das ideias que permaneceram nos diferentes contextos
históricos, etc., ficam remetidas para um segundo plano na apresentação do
Outra perspetiva que se abandona é aquela que resulta da aplicação do critério onde
se assume que o homem, por natureza, está preparado para ajudar os outros. A
utilização deste critério para estudo da história do pensamento, segundo Soydan
(2004) conduz a uma penetração ainda mais profunda na história social com o
propósito de localizar os primeiros indicadores de ajuda mútua que possam definir-se
como Trabalho Social, dando origem, por exemplo, a estudos etnográficos e
descrições literárias em torno da resolução de problemas humanos com elementos
que se enquadrem dentro do Serviço Social. Uma outra perspetiva, ainda dentro deste
descritivo, baseia-se nos esforços do homem para mudar a sociedade, tendo como
critério identificar ações que podem ser definidas como de Serviço Social, e que foram
designadas de “o espirito de progresso humano” ou a Lei da Progressão como as
intitulou o cientista escocês Adam Fergurson (1723-1816). Ora, esta também não será
a intenção desta pesquisa.
Para entrar dentro deste debate, poderemos tentar diferentes formas para delimitar as
fronteiras da matéria e explorar o conteúdo das ideias, como seja, estudar o que
investigam atualmente os assistentes sociais, delimitar a área real da vida social a
associá-la à disciplina de Serviço Social, ou então estudar as realizações dentro desta
disciplina.
Este último caminho, assente no marco teórico de referência desenvolvido por Haluk
Soydan (2004), será o que se apresenta como mais interessante para perseguir nesta
pesquisa. Neste caso, constrói-se e concilia-se uma perspetiva histórica do seu
Para acudir a esta tarefa, toma-se fundamental manter a noção do conceito de que
ciência implica, por um lado, apresentação sistemática do conhecimento e, por outro, a
acumulação sistemática do conhecimento. Deste ponto de vista, quando observamos
o Serviço Social a partir da sua história de pensamento, este percebe-se como uma
das ciências existentes, igual às outras ciências, esperando que tenha uma história de
conhecimento acumulado, métodos e posições alcançadas.
Um dos pontos de partida para esta pesquisa e que será desenvolvido, por isso, nos
capítulos, seguintes resulta numa procura das raízes históricas do Serviço Social nas
tradições do pensamento e da ação nas quais se fundamenta como prática do
pensamento científico e atividade científica em Portugal. No resgate do passado e na
análise desencadeada pela proposta de Soydan (2004, p. 32) aponta para três
componentes do Serviço Social: enquanto atividade prática, disciplina académica e
tradição investigadora.
Uma vez que é intuito da presente pesquisa entender o projeto educativo do Instituto
de Serviço Social no período de 1935 a 1955, deparamo-nos em primeira instância
com a necessidade de enfrentar a complexidade de que se reveste o mundo social,
sendo inevitável, antes de mais, entender a diversidade de campos e espaços
estruturantes que o constituem, o seu contorno especifico, e permitir situar nesse o
campo educativo indo ao encontro do conjunto das visões que o constituem, da
posição dos diferentes agentes e dos campos de forças aí gerados.
A noção de campo para Bourdieu (1989), pode ser entendida como uma “estenografia
conceptual” definindo o modo de construção do objeto da pesquisa, funcionando como
um sinal de que o objeto em questão não retira o essencial das suas propriedades,
não está isolado de um conjunto de relações e considera que essa análise relacional
nos espaços sociais não pode ser entendida senão através das distribuições de
propriedade entre indivíduos. Podemos, desta feita, entender que a posição de cada
agente no espaço social é definida pelo lugar que ocupa nos diferentes campos, ou
melhor, pela distribuição dos poderes que atuam em cada um deles, seja capital
económico, cultural, social ou simbólico entendido este como prestígio, reputação,
fama, isto é, a forma percebida e reconhecida como legítima, nas diferentes espécies
de capital.
A referência teórica parece encontrar aqui de novo a sua justificação, pois será
possível, então, construir um modelo simplificado do campo do conhecimento,
permitindo pensar a posição de cada agente em todos os espaços de jogo possíveis,
bem entendendo que cada campo tem a sua lógica e hierarquia própria.
Partir deste fundamento, é essencial, para não dizer vital para a presente pesquisa,
isto é, aceitar o desafio de descrever esse campo como um espaço multidimensional
de posições definidas em função de um sistema multidimensional de coordenadas
cujos valores correspondem aos valores das diferentes variáveis. O estado das
relações de força traduz-se pois, na forma como em cada momento e em cada campo
se realiza o conjunto das distribuições das diferentes espécies de capital5. Poder-se-á,
assim, obter um conhecimento da posição ocupada neste espaço, pondo em relevo
5 “ [...] os agentes distribuem-se assim nele, na primeira dimensão, segundo o capital que possuem, na
segunda dimensão, segundo a composição do seu capital - quer dizer, segundo o peso relativo das
diferentes espécies no conjuntos das suas posses.” (Bourdieu,1989, p. 135.)
Para Bourdoncle (1998, p. 155) ao nível da formação, a relação entre teoria e prática
foi sempre complexa sobretudo se tivermos em conta a dificuldade em traçar os seus
limites. Frequentemente tenta-se definir os saberes de ação aproximando-os dos
saberes teóricos, tanto que estes últimos se tentam aproximar de objetos de ação e da
sua inteligibilidade. Como resultado, as distinções entre o que é a teoria e o que é a
prática deslocam-se e por vezes desparecem.
Donald A. Shön (1983) apresenta a sua tese dando um lugar central à reflexão em
ação na prática profissional, contribuindo para revalorizar os práticos em relação aos
universitários e aos investigadores pois privilegiam a tradição positivista e
aplicacionista nas universidades americanas. Malglaive (1990) luta por uma nova
conceção de universidade dita profissional, que será marcada pela preponderância de
saberes práticos, de estágios e de diversas formas de tutorias.
Aprofundando um pouco mais, percebe-se que estas (Reimão, 2008) exercem uma
função de iniciação aos valores, que partilham (cada uma à sua maneira) com as
famílias e com as demais comunidades de pensamento em que se inserem. Este facto
contraria a tendência de entendimento do último meio século, que reduz a sua
prestação a um objetivo puramente instrumental de distribuição de conhecimentos.
Este novo entendimento coloca a escola na confrontação com preocupações éticas
que atravessam as sociedades e os indivíduos, e situa-a no movimento do mundo que
abre o progresso ao serviço do homem. Por esta razão, a maior problemática da
escola não é de ordem funcional mas de ordem ética, ou seja, envolve sobretudo
preocupações que respeitam a sensibilização para o bem e para o mal, a tomada de
consciência da universalidade de alguns valores e a iniciação à pertença de cada um à
humanidade na sua totalidade.
Ilustração 2- Constelação epistémica de natureza objetual e substantiva. ([Adaptado a partir de: Magalhães, 2004, p. 138 e 139).
Instituintes/
Instituído Instituição
institucionalização
Ilustração 3 - Constelação epistémica de natureza teórico-instrumental. [Adaptado a partir de: Magalhães, 2004,p. 138 e 139].
Por outro lado, Olga Restrepo (2003) refere que a teoria tradicional concebe as
construções teóricas como atividades próprias do pensamento afastadas da
elaboração de enunciados e proposições que tenham como finalidade o desenho e leis
e modelos explicativos da sociedade e cuja validade depende da correspondência
entre o objeto construído previamente e de um sujeito que está separado de si próprio.
O social, assume-se como algo externo e cognoscível mediante o sentido comum ou a
experiência, esquecendo o papel histórico que os contextos cumprem na construção
social da realidade. Ela opera classificando os dados e levantando sistemas
conceptuais que simplificam a realidade. Elimina as contradições, porque o seu
interesse centra-se na capacidade de resposta e busca de soluções funcionais
segundo os campos específicos de aplicação. Razão pela qual, o pensamento
científico não tem que ocupar-se do questionamento crítico dos conflitos nem as
divisões presentes no interior da sociedade.
Por essa razão, para Restrepo (2003), o processo de constituição do Trabalho Social
está fortemente marcado por uma relação discursiva de externalidade. Desde as suas
origens que a profissão se viu condenada a estabelecer uma série de vínculos com
práticas, princípios, postulados e valores, que não emergiram do seio da profissão
mas que lhe foram funcionais em termos das mediações e afiliações estabelecidas
com a filantropia, o Estado, o público e com o institucional.
Para Mouro (2009,) a sua matriz de caráter doutrinário reflete o peso cultural e
religioso sobre as propriedades referenciais da profissão, suportando-se numa
subcultura assistencialista aliada a uma moral cristã que privilegia o conceito de
pessoa humana. Em consequência as práticas profissionais foram-se sintonizando e
configurando a partir do exercício da representação destes aspetos míticos e
simbólicos ligados às práticas sociais caritativas, beneficentes e assistenciais.
Segundo a autora, estes serão os argumentos que permitem defender a tese de que
não obstante tenha vindo do passado, o Serviço Social ao longo da sua trajetória,
sempre manteve o propósito de atribuir o devido alcance aos aspetos negativos do
processo de transformação social e de modernização, não desvirtuar a natureza das
instituições, gerir o paradoxal dentro de uma existência segura e compensadora para
os seres humanos.
No que respeita à matriz de teor racionalista laico, Mouro (2009) destaca-a por
incorporar influências positivistas na interpretação dos fenómenos sociais e se centrar
na dinâmica dos movimentos sociais, políticos e ideológicos que se empenharam em
estruturar respostas para enfrentar os antagonismos sociais. Esta simbiose permitiu
desconstruir a desqualificação dos estratos sociais mais carenciados enquanto
responsáveis pela fragilização do sistema económico em que se inseriam, o exercício
da filantropia como elemento mobilizador da consciência social e promotor do
reformismo social que faz a separação entre risco e perigo e, por último, a
pericialidade em matéria de ação social mediada, sobretudo, pelos higienistas sociais
tendo resultado na defesa da preservação do tradicionalismo mas implicado com
impulsos libertadores.
Nesta matriz, apesar não abandonar o vínculo a uma perspetiva evolucionista utilizada
para estruturar a fundamentação histórica da institucionalização do Serviço Social e da
construção social da profissão, apresenta-se uma tese contrária a outros autores que
defendem que o Serviço Social já possuía um percurso de pensamento sobre a
tradição ou sobre os costumes na área da ajuda, onde o papel das instituições foi
determinante na recriação de uma cultura tradicional, tornando-se num espaço de
dissolução do Serviço Social, para passar a considerar que a tradição e os costumes
surgiram como resultantes de uma ordem de natureza histórica face ao contexto social
da ação. Esta última estaria mais centrada na relação do Serviço Social com o
pensamento ideológico do presente e do futuro do que numa reflexão sobre o fluxo e a
obtenção de informação sobre as raízes institucionais da profissão (Mouro, 2009, p.
140).
Por último, a matriz de raiz filosófica que se debruça sobre a relação entre a
assistência social e os direitos humanos, organizando a sua estratégia analítica a
partir da evolução do conjunto de práticas de ajuda social e da sua finalidade em
promover os meios assistenciais, por forma a afirmar a dignidade do indivíduo
enquanto ser humano. Considera-se, portanto, que a institucionalização do Serviço
Social no quadro da industrialização, resulta de uma “re-significação” (Mouro, 2009, p.
141) do conceito de indivíduo recriada pelos movimentos filantrópicos, não só pelo
facto de investir na conceção de direitos e deveres da pessoa na sociedade como
também por problematizar a forma de complementar o respeito pela dignidade
individual.
A autora defende que a identidade particular do Serviço Social pode não coincidir com
a sua raiz cultural. Pese embora o seu capital de tradição estar comprometido com a
assistência e com as suas práticas de intervenção, que lhe delimitam uma fronteira
simbólica, o seu interior pode admitir uma pluralidade cultural. Toma, assim, particular
relevância a forma social encontrada pela profissão não só para harmonizar a relação
entre os direitos humanos e a tutela social dos indivíduos sem, no entanto,
axiomaticamente, se reconhecer a liberdade originária do Homem. Mas também se
utiliza da conceção funcionalista da liberdade, ao deixar transparecer nas suas
práticas que o pressuposto da legalidade serve para afirmar a efetividade da liberdade;
e por último, expressa o seu desejo de lutar contra a desigualdade envolvendo-se na
defesa do postulado que obriga a completar os direitos dos cidadãos com os direitos
sociais e económicos.
De forma global, para Mouro (2009), esta abordagem permite contrariar qualquer
teoria que pretenda abarcar toda a emergência institucional da profissão, sendo certo
que em cada cultura particular se encontra um estilo próprio que resulta da
compreensão do contexto cultural em que se inscreve.
Não é, por isso, difícil de concordar que toda e qualquer identidade é construída. Na
verdade, a questão que se coloca, respeita sobretudo ao como, a partir do quê, por
quem e para quê. A construção da identidade recorre necessariamente à matéria-
prima facultada pela história, geografia, biologia, pelas instituições produtivas e
reprodutivas, pelas memórias coletivas, pelos aparelhos de poder, fantasias pessoais
e revelações religiosas. Todavia, essa matéria-prima é processada pelo indivíduo,
grupos sociais e pela sociedade que, desta forma, organizam o seu significado em
função das tendências e dos projetos culturais enraizados em cada estrutura social, e
em função da sua visão de tempo e de espaço.
A opção por estas três dimensões decorreu de uma reflexão sobre as diversas
propostas de investigação e observações, seja no domínio das ciências sociais, seja
no domínio do Serviço Social. Como tal, na perspetiva metodológica foi considerado
Em geral neste tipo de pesquisa, para Buffa e Nosella (2005) o pesquisador deve
procurar antes de mais a interpretação dos fenómenos, mergulhando na interioridade
da instituição tentando construir uma historiografia que explique os fenómenos
inerentes a esta realidade educativa, dando conta dos vários atores envolvidos no
processo. Uma produção historiográfica, enquanto construção e representação da
realidade, implica necessariamente o conhecimento das relações num contexto de
multidimensionalidade.
Nesta medida, não foi intenção apenas descrever esta instituição educativa mas,
explica-la e integra-la numa realidade mais ampla composta pelo seu próprio sistema
educativo, implica-la no processo de evolução da comunidade, sistematizar o seu
primeiro ciclo de vida num quadro mais amplo sem perder de vista a sua singularidade
e perspetivas maiores.
Obra das Mães pela Educação Nacional e da Mocidade Portuguesa Feminina bem
como Federação Internacional de Serviço Social designada, então, como Secretariado
Internacional Permanente de Trabalhadores Sociais. A história do Serviço Social e
Portugal e no mundo e a emergência das primeiras escolas acompanhou
permanentemente o desenrolar do trabalho situando as origens da profissão desde os
finais do século XIX recorrendo à biblioteca do Instituto Superior de Serviço Social de
Lisboa integrada na Mediateca da Universidade Lusíada de Lisboa e da Biblioteca
Universitária João Paulo II da Universidade Católica Portuguesa.
6 Vide em anexo L
Este documento esclarece, ainda, que ao nível do 3º ano “Para completar o curso
devem as alunas, terminados os três anos, fazer um relatório final de 90 dias de oito
horas diárias de Trabalho Social efetivo, no Centro Social do Instituto de Serviço
Social, e apresentar um relatório com as respetivas estatísticas (Instituto de Serviço
Social, 1944b, p. 323)10. Este dado coloca-nos em dúvida sobre a proveniência de
algumas destas monografias que chegaram aos nossos dias não parecendo tratar-se
apenas de produções de final de curso. Este fato é, ainda, reforçado pela presença de
monografias logo em 1936, coincidindo portanto com o segundo ano do curso e não
em 1937 como seria espectável caso se tratassem de monografias finais de curso11.
Este acervo carece no entanto, de um tratamento arquivístico prévio a fim de permitir a
realização de pesquisa neste domínio.
7 Vide em anexo E
8 Vide em anexo AP
9Vide em anexo L
10 Vide em anexo L
11 Ainda sobre este assunto e em nota de rodapé podemos ser esclarecidos que “Estas primeiras
monografias, de 1936, tendo sido feitas sem ensino especial sobre o assunto, sem modelos e apenas
com explicações, não têm o desenvolvimento e interesse das seguintes” (Instituto de Serviço Social,
1944, p. 326)
Apesar, de existir uma intenção séria em dar continuidade a este estudo e vir a
estudar toda a coleção, iniciou-se um trabalho de registo de algumas destas
monografias realizando uma catalogação, indexação, digitalização, no sentido de
serem disponibilizadas para pesquisa, tendo-se conseguido o tratamento de 61
monografias, utilizadas neste trabalho de pesquisa, como fontes primárias e agora
como produto disponível para consulta, por parte de qualquer outro investigador. Esta
monografia são de seguida apresentadas na Tabela 1.
Nº de
Descrição Cota data
Ordem
1 TEIXEIRA, Maria Helena (1937) – Monografia de (HQ652.T45 1937- 1937
uma família. Lisboa: Instituto de Serviço Social 256910).
2 ALVIM, Maria Carolina Paes de Sande e Castro (RA964.A48 1938- 1938
(1938) – Monografia do hospital da misericórdia de 256816).
cascais. Lisboa: Instituto de Serviço Social
3 CORREIA, Filomena Silva (1938) – Monografia do (RA989.C67 1938- 1938
Hospital Termal Rainha D. Leonor de Lencastre da 256896).
Rainha
4 VIANA, Maria José de Lencastre – Vila do (HQ652.V53 1940- 1940
Conde:monografia de uma família operária. Lisboa: 259631).
Instituto de Serviço Social.
5 SALES, Maria Gabriela Horta Moreira (1942) – (RA989.S25 1942- 1942
Monografia do Preventório de Colares. Lisboa: 256883).
Instituto de Serviço Social.
6 RODRIGUES, Maria Tereza de Matos (1943) - (HQ759.915.R63 1943
Monografia sobre a Casa de Protecção e Amparo de 1943-259632).
Stº. António. Lisboa: Instituto de Serviço Social.
7 ALVES, Maria Adozinda de Morais (1944) – (HV1247.A48 1944
Monografia da Casa Pia. Lisboa: Instituto de Serviço 1944-259805).
Social.
8 FERREIRA, Beatriz Adelaide Borges (????) – A “ (HQ652.F47 1947- 1944
Ponta do Sol” na Ilha da Madeira. Lisboa: Instituto de 259684/2)
Serviço
9 MENDES, Maria Cândida Sirgado d’Azevedo (1944) - (HV347.M46 1944- 1944
História da Santa Casa da Misericórdia de Tôrres 259809
Novas. Lisboa: Instituto de Serviço Social.).
10 FRAGE, Alzira Luisa de (1945) – Monografia de (HQ652.F73 1945- 1945
Terra Chã. Lisboa: Instituto de Serviço Social. 259291).
11 MENDES, Maria Helena de Almeida (1945) – (HQ1697.M46 1945
Mocidade Portuguesa Feminina. Lisboa: Instituto de 1945-259480
Serviço Social.).
12 Vide em anexo AP
Tabela 2 – Documentos consultados no arquivo particular do Cardeal Cerejeira [Dom Manuel Gonçalves Cerejeira (1929-1971)]
Nº
Descrição Cotas Data
doc
1 Instituto de Serviço Social - Resultados
apresentados no 1.º ano de
/S04/02/025 S/data
funcionamento do ISSL
No fundo Cardeal Cerejeira foi, ainda, possível ter acesso a fontes secundárias que
pela sua raridade será importante mencionar, designadamente Serviço Social.
Comunicação apresentada ao 2º Congresso transmontano realizada por Barahona
Fernandes em 1941 (S-04/02/016).
Todos os dados obtidos pelas diferentes vias, foram por sua vez triangulados ou
contrastados por forma a assegurar a sua precisão e veracidade os dados. À medida
que os dados foram sendo reunidos, foram elaborados quadros documentais e mapas
conceptuais relacionando os documentos, sistematizando e interrelacionando a
informação recolhida.
13 Edição portuguesa de 1950 realizada pelo Instituto Superior de Higiene Dr. Ricardo Jorge, atualmente
Instituto Nacional de Saúde – Dr. Ricardo Jorge
14 O manuscrito da tradução elaborada pelo Dr. José Alberto Faria faz parte do seu fundo entregue ao
Instituto Nacional de Saúde – Dr. Ricardo Jorge. Com o intuito chamar a atenção sobre a relevância
histórica e científica deste acervo foi por mim coordenada uma mostra documental intitulada “A
assistência na saúde em Portugal, 1930-1970: INSA e ISSSL - dois percursos, um objetivo” permitindo
testemunhar, de uma forma tangível, como dois percursos institucionais se cruzaram, e se cruzam, por
diversas vezes na promoção do indivíduo na sociedade. A mostra esteve patente na Sala de Exposições
– ULL de 21 novembro a 21 dezembro 2012. No âmbito desta mesma iniciativa foi desenvolvido um
seminário “Ação Social e Promoção da Saúde”, que contou dois painéis intitulados: "Cidadania e
participação em saúde" e "Promover a saúde: novos desafios". Foi assinado o convénio entre a Fundação
Minerva/Universidades Lusíada e o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, pretendendo
alicerçar futuras iniciativas no âmbito do conhecimento e da investigação. Este seminário contou com as
parcerias do Instituto Nacional de saúde – Dr. Ricardo Jorge, Escola Nacional de Saúde Pública e o
Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa/Universidade Lusíada de Lisboa.
Muitos são os exemplos enunciados por Correia (1950). Aristóteles (384-322 a.C.),
Platão (427-347 a.C.), Séneca (04 a.C.- 65 d.C.) e Cícero (106 a.C- 43 a.C.) ter-se-ão
dedicado à sorte dos necessitados, não só cuidando de esmolas materiais mas,
também, do que seria o auxílio justo, oportuno e humano. Instituições no velho Egipto,
como sejam a “Confrarias” do deserto, 3.000 anos antes de Cristo, tinham como
missão apoiar a marcha das caravanas cuidando das fontes nos oásis, de abrigos e
alimentação para os viajantes. Os collegia romanos, os eranistas gregos e os guildes
escandinavos, germânicos e persas eram instituições com o objetivo da ajuda mútua e
defesa profissional, seja dos direitos, seja do aperfeiçoamento técnico dos confrades.
15 Fernando Silva Correia nasceu no Sabugal (1983-1966). Licenciado em Medicina pela Universidade de Coimbra em
1917, tirou em Lisboa as especialidades de Medicina Sanitária em 1920 e de Hidrologia em 1921. Defendeu a tese de
formatura apesar de estar dispensado de o fazer por ter sido expedicionário em França, sendo o Título da tese –
Profilaxia das febres tifoide e paratifoides A e B pela vacinação. O curso de Medicina Sanitária, ministrado no Instituto
Central de Higiene, fornecia a habilitação necessária para o exercício do cargo de delegado de saúde. Fez parte da
comissão nomeada pelo governo para estudar as bases da reforma dos Serviços de Assistência em Portugal. De entre
os vastos trabalhos publicados conta-se o Portugal Sanitário (subsídios para o seu estudo). Dissertação para
Doutoramento em medicina na Universidade de Coimbra. 1 Vol. de 554 págs., Lisboa 1937. Em 1934 foi nomeado
Inspetor da 3.ª Área da Saúde Escolar para os distritos de Castelo Branco, Guarda, Setúbal, Portalegre, Évora, Beja e
Faro, e iniciou a sua carreira docente como professor de Administração Sanitária, Estatística Sanitária, Higiene Social e
Assistência Social e Demográfica no Instituto Central de Higiene Dr. Ricardo Jorge (novo nome atribuído em 1929 em
homenagem ao seu fundador), do qual foi diretor de 1946 a 1961. Dos anos Entre 1935 e 1957, foi também docente no
Instituto Serviço Social, lecionando a disciplina de Profilaxia das Doenças Venéreas, Legislação Sanitária e História da
Assistência. Em 1957 prefaciou a tradução portuguesa do livro Diagnóstico Social de Mary Richmond realizada pelo Dr.
José Alberto Faria em editado pelo Instituto Ricardo Jorge. Empenhou-se em divulgar os preceitos de higiene e
educação junto das classes populares, sobretudo junto das mães e das classes menos favorecidas. Para além disso,
teve um importante papel na área da Educação Física, defendendo uma orientação educativa e denunciando os
malefícios dos desportos violentos. O seu trabalho como polígrafo conta com vários títulos dos quais se destaca O ABC
das Mães (1930), Breviário de Higiene Moral (1931), A Educação Física e a Medicina em Portugal (1935), Origens e
Formação das Misericórdias Portuguesas (1944) e Origens, Evolução e Conceito da Higiene Moderna (1950).
Revelando-se um homem culto, escreveu ainda peças de teatro, como A Máscara (1915) o romance Vida Errada
(1935) e várias biografias sobre diversas personalidades, tais como Arruda Carvalho, Ricardo Jorge, rainha D. Leonor,
entre outras. Fernando da Silva Correia faleceu a 19 de dezembro de 1966, em Lisboa. (CORREIA, Fernando Silva -
Curriculum Vitae e GRAÇA (2000)
Neste período, mas mais tarde, no século XVII, surge o movimento iniciado por S.
Francisco de Sales (1567- 1622), estimulando os leigos à prática da caridade e em
meados desse século em França, S. Vicente de Paulo (1581-1660) fez renascer as
velhas confrarias cristãs tradicionais pela ação direta dos leigos na prática da caridade
organizada, porém
Correia destaca o facto curioso de que o movimento racionalista que deu origem ao
Serviço Social moderno partiu paradoxalmente de países onde o conceito de Lutero
originara as mais graves consequências, como se se tratasse de uma reparação
histórica à luta contra a caridade tradicional.
Para Correia, “foram fixados precisamente em 1899, tendo como ponto de partida
essas escolas, os tipos de instituições e principalmente os pormenores da Técnica do
Serviço Social” (Correia, 1950 p. XXV). Reforça que a sua técnica aprende-se nas
escolas mas a orientação em cada uma delas e a formação dos seus professores está
longe, em todo o mundo, de ser uniforme.
Para explicar os antecedentes mais remotos, Sánchez (1994, p.20) por seu turno,
segue uma linha de pensamento diferente. Desde sempre, a sociedade humana foi
obrigada a enfrentar as desventuras, doenças, desajustes sociais mas, também,
A ação social, por seu turno, constitui um processo progressivo que se inicia na ajuda
natural enraizada nas primeiras formas de vida em sociedade, assentes nas
exigências de cooperação mútua para vencer necessidades de vida precária, e que se
transforma com o tempo numa série de serviços assistenciais, seja de caridade, de
beneficência, de filantropia e bem-estar social institucional. Ou seja, que passa de uma
simples ajuda de caráter paliativo assistencial para um complexo sistema tecnificado
do Estado resultante da afetação e administração de bens e serviços à população em
geral, com o objetivo de proporcionar determinadas condições de vida e de bem-estar
social.
Até ao final do seculo XVIII, ações que não eram sistemáticas no atendimento a
situações de necessidade e desamparo estiveram na mão de pessoas ou de
organizações privadas. São organizações de inspiração cristã empenhadas na ajuda
ao próximo através de atividades para cumprir o dever religioso e que se designa de
caridade e beneficência, ou de realizar o bem por amor ao próprio ser humano a que
se dá o nome de filantropia.
boa intenção. É necessário que estas intenções sejam bem-feitas, sejam eficazes e
eficientes. A ajuda efetiva não consiste apenas em socorrer, numa eventualidade, as
pessoas mais necessitadas, requer antes de mais a aplicação de métodos e técnicas,
permanentes e adequadas, para realizar a capacitação dos envolvidos não só para a
utilização dos próprios recursos como da própria sociedade, isto é, tanto ao nível
individual como coletivo.
Netto (1992) analisa o itinerário que leva dos intentos de racionalização da assistência
à criação dos primeiros cursos de Serviço Social, na passagem do século XIX ao
século XX, para refutar a tese de que a constituição da profissão seria a resultante de
um processo cumulativo, onde o seu ponto de arranque resulta da “organização” da
filantropia, culminando na incorporação gradual de parâmetros teórico-científicos e no
afinamento de um instrumental operativo de natureza técnica. Ora, para Netto (1992) a
questão exibe alguma debilidade na medida em que se torna inepta para dar conta do
elemento central do processo que respeita ao fundamento e que legitima a
profissionalidade do Serviço Social. Se assim fosse, a legitimação profissional era
localizada no embasamento teórico e não, na criação de um espaço socio-ocupacional
onde o agente técnico se movimenta. É, portanto, no estabelecimento das condições
histórico sociais resultante da emersão do mercado de trabalho que surgem as
demandas destes agentes profissionais.
O autor não nega a relação de continuidade que, efetivamente existe entre o Serviço
Social profissional e as formas filantrópicas assistenciais desenvolvidas desde a
emergência da sociedade burguesa. No entanto estas formas estão longe de fornecer
a chave para elucidar a profissionalização do Serviço Social. Em primeiro lugar,
porque a emergência de um novo agente profissional não se cria a partir do nada. O
caminho da profissionalização é o processo pelo qual os seus agentes se inserem em
atividades interventivas cuja dinâmica, organização, recursos e objetivos são
determinados para além do seu controlo, pois passam a desempenhar papéis que lhes
são alocados por organismos e instâncias alheios às matrizes originais das
protoformas do Serviço Social. O Serviço Social constituiu-se como profissão
inserindo-se no mercado com todas as consequências daí decorrentes, tornando-se
vendedor da sua força de trabalho.
O século XIX foi marcado pela revolução industrial e pelo triunfo do liberalismo no
domínio económico e político, significaram um contributo para o amplo progresso do
ponto de vista da economia europeia. Assistiu-se às grandes transformações mas, em
contrapartida, deram também origem a grandes desigualdades do ponto de vista
social. O liberalismo trouxe consigo grandes abusos e exploração que provocaram
graves e complexos problemas sociais, ao acentuar as diferenças de classe e pondo
em relevo as más condições de vida e de trabalho das classes menos favorecidas.
Por esta época refere, Sánchez (1994, p 24) surgem, também, o pensamento crítico
sobre o sistema capitalista, responsabilizando-o por estes grandes males, dando
origem à publicação em Londres do Manifesto Comunista (1848) escrito por Karl Marx
(1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) e o Capital (1867) por Karl Marx. Para
Engels, será na revolução industrial que se devem radicar as profundas mudanças
operadas não só a nível industrial e económico como, também, a nível de toda a
Neste seguimento tendo a Revolução Industrial o seu maior foco na sociedade inglesa,
a assistência social organizada tornou-se, então, como entende Friedlander (1977)
uma resposta desta sociedade perante a avalanche de problemas sociais provocados
pela Revolução e pelo Liberalismo económico e político vigente, centrado
dogmaticamente na não intervenção do Estado. Terão sido três os movimentos que
influenciaram a filosofia social e a prática da assistência social no século XIX, os
Movimentos de Reforma Social, os Movimentos de Investigação Social e as
Sociedades de Organização Cristã, apesar de representarem uma ideologia própria e
possuírem uma inquietação comum.
Sendo Movimentos de Reforma Social, faziam parte Martinez (1991, p. 182) os críticos
de algumas leis inglesas, designadamente os Cartistas que tentaram impedir a
aplicação do Novo Direito dos Pobres de 1834, nas zonas industriais. Apesar da sua
denúncia na Câmara dos Comuns, este Novo Direito acabou por se impor
gradualmente tanto nas zonas rurais como nas zonas agrícolas, devido à falta de força
sindical e à existência de um sistema de ordem forte e repressiva. Fracassaram,
também, todas as suas intenções políticas na aplicação para todos os cidadãos, do
sufrágio universal e do direito ao voto secreto.
Outro impulso decisivo realizado por este movimento de reforma social, no entender
de Martinez (1991, p. 183) foi, o da magna investigação social inglesa sobre a pobreza
e as suas causas que culminou na obra de Charles Booth (1840-1916), intitulada Life
and labour of the people in London de dezassete volumes, iniciada em 1889 e
terminada em 1903. Nos Estados Unidos foi também a partir do livro de Henry George
(1839-1897) intitulado Progress and poverty, publicado em 1879. Estas obras
produziram uma alargada preocupação, decorrente da descoberta da pobreza
conduzindo a que muitos se entusiasmassem com o seu enfrentamento. A este
propósito, Martinez (1991) chama, ainda, a atenção para um estudo em seu entender
mais interessante e melhor documentado que se converteu na obra Poverty, publicada
em 1904 por um trabalhador social nos Settlements de Chicago, Nova Iorque e
Londres, Robert Hunter (1874-1942).
Efetivamente no início do século XX, o ataque à pobreza foi, em parte, dirigido por
grupos que não se ocupavam tradicionalmente dos pobres, tais como os cientistas
sociais, os jornalistas e os pensadores políticos. Mas a chamada “Reforma” foi muito
A Carta Encíclica Rerum Novarum (1891) de Leão XIII (1878- 1903), por natureza a
primeira na hierarquia eclesiástica, aborda a chamada “questão social” e divide-se em
duas partes: “A solução proposta pelo Socialismo” e a “A solução proposta pela
Igreja”.
Garcia (2003, p.108) lembra que foi Leão XIII (1878-1903), quem sugeriu aos católicos
uma atitude concreta a assumir frente aos conflitos gerados pela instauração do
capitalismo desenvolvido como modo de produção dominante, sustentando que o
Estado tem o dever de intervir a favor dos trabalhadores e dos grupos sociais menos
favorecidos. Apesar de aceitar, em termos gerais, o sistema da propriedade privada
sobre os meios de produção, assinala que o capital só pode legitimar-se se se colocar
ao serviço das necessidades da comunidade afirmando a competência do magistério
da Igreja nos problemas sociais. Contudo, exige que o Estado adote medidas
protetoras a favor dos trabalhadores industriais em matéria de higiene, segurança
laboral tutela e descanso semanal, limitação de horários e proibição do trabalho
infantil. Exorta os trabalhadores a organizar-se em associações profissionais.
Estimulou o crescimento do catolicismo social e a inserção da Igreja na comunidade.
Esta seria uma época de profundas mudanças. A implicação da Igreja no social era
complementar ao auge dos pensadores sociais e do posicionamento dos diferentes
estados, que davam os primeiros passos do que mais tarde viria a chamar-se “Estado
de Bem-Estar” e para o qual a Igreja teve uma notável influência.
Quarenta anos depois da Rerum Novarum, em plena crise económica, 1929-1933, Pio
XI (1931) publica a Carta Encíclica Quadragesimo Anno. Esta Encíclica mais do que
uma mera comemoração da magistral Encíclica de Leão XIII (1878-1903), tratou-se de
uma intervenção católica num momento crucial do desenvolvimento do mundo
industrializado. Pois, segundo Pio XI (1931) a missão da Igreja é encaminhar todos
para a felicidade eterna, mas não pode deixar de intervir em tudo o que respeite à
moral e seria uma erro pensar que a economia não se deve subordinar a esta.
Nesta direção, a Quadragésimo Anno torna claro que a riqueza nasce das mãos de
quem trabalha, mas igualmente das matérias-primas e das forças da natureza que o
Criador cedeu. Na indústria, associam-se os que dão o seu trabalho aos que investem
as suas posses, razão pela qual, seria injusto atribuir a uns e a outros, todos os frutos
dessa associação. Para os princípios liberais, continua esta Encíclica, considera-se
erroneamente, que a lei fatal da economia consiste nos patrões acumularem todo o
capital. Mas falso será também pensar, que os frutos do trabalho, amortizado o capital,
devam pertencer todos aos operários. Há, portanto, que repartir as riquezas pelos
indivíduos ou pelas classes, de acordo com o bem comum e com a justiça social.
Neste sentido, deve ser procurada, a todo o custo, a promoção dos trabalhadores mais
Não será só a propriedade mas, também, o trabalho que tem uma dimensão social e
neste sentido deve articular-se com a inteligência e com o capital. Há que empreender
uma reforma nas instituições sendo necessária a promoção da harmonia entre as
profissões mediante a reconstituição dos corpos profissionais, conjugando-se entre si
e todos em ordem ao bem comum. Se a unidade social não pode assentar na luta de
classes, também a ordem económica não pode nascer da livre concorrência. Ou seja,
o princípio regulador da economia deve ser uma ordem jurídica e social inspirada na
justiça e animada pela caridade. Para isso contribuirá não a Ação Católica
diretamente, mas aqueles por ela formados (Pio XI, 1931).
Essa atenção deve incidir em primeiro lugar sobre a aparição de instituições de Bem-
Estar como resultado de conflitos políticos no seio das sociedades industriais. A
expressão mais clara desse movimento encontra-se na Charity Organization Society.
Estes movimentos deram lugar a uma revisão da ordem socioeconómica implantada
pelo capitalismo liberal perante a sua injustiça patente. Esta revisão realizou-se a partir
do próprio liberalismo cedendo a princípios humanitários e morais e também de
posições que pretendiam, senão reformar o sistema para assegurar a sua
sobrevivência, pelo menos mudá-lo radicalmente. Apesar de tudo, a sociedade não é
tomada como um espaço de tranquilidade e prosperidade mas um lugar de conflito e
de tensão.
inglesa daquela época, designadamente a própria rainha que chegou a fazer parte do
seu comité organizador e chegando no começo a estar integrada na Universidade de
Oxford e Cambridge.
Ainda de acordo com esta autora, os princípios básicos enunciados foram desde
sempre, mantidos pela Charity Organization Society, bem como as suas ideias
simples, eficazes e bem acolhidas naquela época e cuja difusão se materializou nos
diferentes ramos desta associação, seja em Londres seja em outras cidades inglesas,
europeias bem como, oito anos depois, na América do Norte onde a associação teve o
nome de Charity Organization Movement e também Scientific Charity.
Outra linha fundamental que importa anunciar para este trabalho, reporta-se à
emergência histórica dos Centros Sociais. O primeiro Centro Social surgiu em
Inglaterra no século XIX, pela mão do pastor protestante Samuel Barnett (1844-1913)
e sua mulher Lady Harriet Barnett (1851-1936) e da sua preocupação com o abandono
das classes operárias e, do mútuo desconhecimento e separação existente entre as
classes sociais. Era sua intenção realizar algo que viesse a diminuir as distâncias
entre as pessoas, promovendo um conhecimento recíproco, o levantamento
educacional e social das classes trabalhadoras, tomando a família no seu todo como
uma unidade social, tornando-a mais capaz para a vida. Esta tentativa foi levada à
prática, ao transformarem a casa paroquial da paupérrima paróquia de São Judas,
onde Samuel Barrnett era pastor, numa “casa de todos”, e onde os habitantes do
bairro passariam as suas horas de lazer, trocando conhecimentos e recebendo lições.
A ideia, segundo Oliveira (1955, p 8) teria nascido em 1873, quando o casal, sediado
em White Chapel, frequentava Oxford e Cambridge, convidando universitários a
compartilhar a sua vida, preocupações e dificuldades com operários, recebendo lições
de paciência, de companheirismo e abnegação em troca de instrução, educação e
amizade. Esta experiência, tão bem acolhida deu corpo, em 1887, ao projeto de
Toynbee Hall estruturado a partir de uma grande casa, preparada para receber um
grande número de jovens que quisessem vir compartilhar com os operários as
dificuldades por eles sentidas. O sucesso desta ideia foi-se rapidamente expandindo,
dando origem a centros sociais um pouco por todo o lado, com resultados satisfatórios
adaptando-se às contingências, especiais e imediatas de cada local e de cada época.
Em breve, outros settlements eram fundados tanto na Inglaterra como em outros
países e, Oliveira (1955) refere existir Federation of Residential Settlements ou a
Educational Settlements Assotiation que agregam centros sociais de iniciativa tanto
pública, como particular.
O primeiro país a receber a lição do casal Barnett, foi a América do Norte com os
primeiros Settlements em Nova Iorque, no ano de 1886, e em Boston criado pela ação
de Robert Archey Woods (1865-1925) e ainda em Chicago, por Jane Addams (1860-
1935). No entanto, enquanto os primeiros possuíram características universitárias o
último, a Hull House, foi adaptado pela sua fundadora à vida americana já que não se
constituiu como uma obra de universitários para trabalhadores mas sim uma obra para
todos aqueles que quisessem trabalhar pela melhoria social.
em 1901. No Brasil, ao que julga Oliveira (1955), terá sido “Engenho Dentro”, no Rio
de Janeiro, da “Legião Brasileira de Assistência”, quando ali existiu Serviço Social.
A fundação dos Centros Sociais reveste-se de extrema importância para este trabalho
na medida, em que será possível melhor entender as bases do projeto educativo
Instituto de Serviço Social. Como veremos mais adiante, o próprio Instituto de Serviço
Social chegou, neste período a criar três centros sociais, que sendo uma realidade
emergente no século XIX não pararam de evoluir até por se tratar de
[…] uma resposta dinâmica a problemas humanos prementes [...] Ao mesmo tempo
que se espalhavam por toda a parte iam alargando e aprofundando a consciência das
suas possibilidades, mercê do aproveitamento de novas luzes que as ciências
humanas e o métodos e técnicas de acção social vieram trazer-lhes (Almeida, 1960, p.
24, 25)
Das pioneiras americanas evidencia-se a obra de Jane Addams (1860- 1935) membro
da Sociedade Sociológica Norte Americana, prémio Nobel da Paz em 1931.
Conhecedora, como já se referiu, da obra dos Barnett, pensou criar algo parecido
tendo para isso conversado com vários cientistas sociais. Sobre esta autora, contam-
se as memórias e a experiência do seu projeto mais emblemático, a Hull House um
famoso Centro Social em Chicago do qual foi cofundadora e que desenvolveu com a
sua colega Ellen Gates Starr (1859-1940) em 1889.
A contribuição de Amy Gordon Hamilton (1892-1967), por seu turno, para com o
Trabalho Social é, igualmente, fundamental e diversa na medida em que combinou o
seu trabalho na New York School of Social Work, a qual integrou em 1923, como
consultora e gestora de diferentes campos relacionados com o Trabalho Social.
publicou vários trabalhos fundamentais para esta disciplina, como por exemplo Theory
and practice of social case work (1958), publicada originalmente em 1940, em que
declara a sua posição filosófica e política sobre o trabalho. Estes axiomas são, por
exemplo: a melhoria do homem é a meta de toda a sociedade; à medida que se
pretende desenvolver os recursos económicos e culturais de um grupo social o nível
de vida melhora progressivamente; a educação que tende a elevar o nível físico e
mental e o bem-estar das pessoas deve ser amplamente desenvolvida; o laço social
entre o homem e outro homem deve conduzir à realização do velho ideal de uma
irmandade universal (Hamilton, 1950).
A ética que deriva destas premissas e outras similares conduz a duas ideias
fundamentais que colocam o Trabalho Social entre as profissões humanísticas.
A primeira é que o acontecimento humano está constituído por uma pessoa e uma
situação, ou seja uma realidade subjectiva e uma realidade objectiva, que comporta em
si uma interação constante. A segunda, em que o método característico do trabalho
social, a fim de alcançar a suas metas, incorpora nos seus processos tanto o
conhecimento científico como os valores sociais (Hamilton, 1987, p.1).
Mary Ellen Richmond (1861-1928) conta em contrapartida com duas obras mais
significativas. Em 1904 iniciou o seu livro Social diagnosis (1917) que escreveu ao
longo de décadas vindo a publicar em 1917 pelo Conselho Geral dos Colégios Oficiais
de Diplomados em Trabalho Social e Assistentes Sociais e o segundo What is social
case work? (1922) Publicada por Russell Sage Foundation. A sua curiosidade
intelectual, sempre ávida de conhecimentos que sustenta o Social Case Work e
evidencia a distância entre os voluntários e os profissionais. Este livro surge como a
marca mais definitiva do seu trabalho e onde incorpora distintos elementos da sua
passagem pela Escola de Chicago.
As escolas de Serviço Social são hoje uma realidade em todos os países, tendo
nascido e evoluído em consonância com cada contexto histórico e social. Neste
sentido, poderá afirmar-se, por conseguinte, que viveram as mesmas etapas,
tendências, influências, contradições e que tratando-se de uma mesma realidade
educativa e social, tentaram criar uma resposta às necessidades sociais que surgiram
em cada momento histórico.
Até à fundação das escolas, o Serviço Social era desempenhado por voluntários, no
entanto, ao longo do século XIX foi tomando forma a ideia de que não era possível
continuar a agir empiricamente e que o Serviço Social deveria ter conceitos definidos e
normas exatas, sendo para isso necessária uma formação para quem conduzir o seu
exercício (Vieira, 1955). É no decurso de 1893 e durante o Congresso das
Organizações de Caridade e Correção nos Estados Unidos que foi lançada por Mary
Richmond, a ideia da criação de uma escola de filantropia aplicada – Training School
in Aplied Philantropy. Esta proposta veio a consubstanciar-se em 1898, na primeira
escola de filantropia, hoje a “New York School of Social Work” filiada à Columbia
University.
Uma das etapas mais significativas para as escolas de Serviço Social foi, sem dúvida,
a compreendida entre as duas Guerras Mundiais 1914-1945. Pelo que na tabela 4,
que em seguida se apresenta, poderemos verificar que é no final do século XIX e
princípio do século XX e sobretudo de 30-50, que as escolas de Serviço Social
começam a espalhar-se por todo o mundo.
Fonte: Traduzido de Sánchez (1990, p. 185) in “Las Escuelas de Trabajo Social en España” Arquivo da federação espanhola das
escolas da Igreja de assistentes sociais (1958)
17Alice Solomon de nacionalidade alemã estuda economia de 1902 a 1906 doutorando-se em 1908 com
a dissertação intitulada “ Causes of pay inequality between men and women” e fundou a primeira escola
de Serviço Social “Social Women”s Shool” em Berlim, torna-se em 1909 secretaria da International
Women”s Federation e converte-se do Judaismo para a Igreja Luterana. Em 1932 esta escola foi
fundou a primeira escola “Social Women’s School”, que só admitiu mulheres até 1945,
ofereceu inicialmente um curso de dois anos sendo, posteriormente, alargado em 1959
para uma formação de quatro anos. Atualmente é designada de Alice Salomon
University of Applied Sciences.
É, também, neste período que se cria em Portugal a primeira escola de Serviço Social.
A história da União Católica Internacional de Serviço Social e a história do Serviço
Social católico no mundo esteve presente nos programas das escolas de Serviço
Social e Portugal não fugiu à regra. Na tabela 5 que se segue poderemos consultar a
vasta influência da União Católica Internacional de Serviço Social na implementação
no ano de 1964, das escolas de Serviço Social, já espalhadas pelos quatro
continentes.
Tabela 5 - Escolas de Serviço Social filiadas na União Católica Internacional de Serviço Social em 1964
renomeada “Alice Salomon Shool” mais tarde “Alice Salomon College of Further Education for Social Work
and Social Sciences of Berlim”
1920 sob os auspícios do Cardeal Mercier (1851-1926), fato que determinou uma
orientação cristã do Serviço Social e um impulso definitivo da profissão (Sánchez,
1994).
A todas estas etapas teremos ainda de acrescentar, segundo Sánchez (1994,) a crise
e evolução do movimento de actualización y cambio, na década de 70, face às novas
tendências e perspetivas da profissão.
Na Bélgica, em 1946, o programa oficial seguido pelas escolas obriga a uma formação
de três anos de estudos onde as alunas podiam escolher seis especializações: -
Serviço Social, Educação Popular, Serviço Social de Infância, Serviço Social de
Indústria entre outras, todavia, projetavam um curso a quatro anos (Vale, 1946).
De acordo com dados publicados em 1964 pelas Nações Unidas, a maior parte das
instituições educativas em Serviço Social no continente africano são criadas muito
mais tarde, uma em 1956, quatro em 1959, três em 1962 e uma em 1963
(Organização das Nações Unidas, 1964).
18As Jeanes Schools são escolas construidas para ajudar o ensino de negros no sul dos Estados Unidos
da América. Anna T. Jeanes concedeu um apoio financeiro considerável para o aprofundamento e
fomento da educação rudimentar em pequenas escolas negras rurais e o fundo incorporado como Fundo
Escolar Rural Negro. Este conceito alargado para outras regiões fora dos Estados Unidos da América
De acordo com as Nações Unidas (1964), tanto a nível básico como superior, o ensino
visava, sobretudo, o ensino de métodos e técnicas de trabalho. Nos países
desenvolvidos a formação assenta na ação sobre pequenos grupos e na ajuda aos
indivíduos, ao passo que nos países em vias de desenvolvimento o Serviço Social é
frequentemente organizado na escala comunitária ou de grupos mais extensos. Na
Europa, existiam vários institutos superiores que ofereciam vários cursos destinados
especificamente a estudantes estrangeiros. São exemplo, o Instituto de Serviço Social
de Moutrouge na França que possuía cursos especiais para assistentes sociais
africanos; a London School of Economics onde se preparava o certificado em Ciências
Sociais e Administração e o College Universitaire de Swansea, que dispensava um
curso de proteção social para estudantes de outros continentes bem como outras
escolas análogas na Bélgica.
Entre 1950 e 1960, foi criado um grande número de escolas de formação de auxiliares
sociais com programa de estudos de três anos designadamente em Bamako19,
Ouagadougou20, Cotonou21, Fort-lamy22, Conacry23 e Bangui24. Estas escolas
ministravam cursos de gestão, instrução cívica e moral profissional bem como noções
de corpo humano completados, de acordo com cada escola, com uma formação
prática. Os alunos eram admitidos com 15 e 16 anos para trabalhar sobre a direção de
assistentes sociais qualificados. Relativamente à formação profissional de base, eram
cursos profissionais que visavam formar assistentes sociais no sentido da atribuição
de um certificado de especialização profissional, para alunos já titulares de diplomas
universitários. Em geral a duração dos estudos para, esta categoria, era de três anos
(Organização das Nações Unidas, 1964, p. 3).
Para a Organização das Nações Unidas (1964) o objetivo geral do ensino das noções
relativas ao homem e à sociedade, é compreender o comportamento humano. A
escolha das noções sociais no ensino visa, sobretudo, incutir no estudante
conhecimentos, que o ajudarão no seu trabalho com indivíduos, grupos, instituições e
as coletividades. Esses conhecimentos serão tão importantes quanto permitam avaliar
as necessidades em estabelecer e executar os programas de caráter preventivo e
curativo.
Passando agora para o contexto da América Latina foi em 1925, que se inicia o
funcionamento daquela que foi a primeira escola de Serviço Social em Santiago do
Chile, fundada pelo Dr. Alejandro del Río Soto Aguillar (1867-1936) e, efetivamente, a
primeira escola na América Latina (Castro, 2008).
Serviço Social na América Latina. Para Ander Egg (1975), o ano de 1925 pode ser
considerado o ano de nascimento do Serviço Social profissional na América Latina e
marca a criação da primeira escola da especialidade num país latino-americano.
Contudo, o Serviço Social latino-americano sofreu uma forte e decisiva influência
externa nomeadamente entre 1925 e 1940, do influxo belga, francês e alemão e, a
partir de 1940, passou a ter um selo vincadamente norte-americano.
Barreix (1971), por seu turno, introduz um distanciamento face às ideias de Ander-
Egg, com quem colaborou em algumas edições acentuando que o fato, da escola ter
sido criada por um médico é um dado de extrema relevância, pois nesta época os
médicos já sabiam muito bem que poderiam rentabilizar o seu trabalho fazendo-se
rodear de uma série de subalternos que na sua dependência e direção, lhes vão
dando conta do cumprimento de tarefas específicas complementando a função médica
propriamente dita. Deste modo, o Serviço Social na América Latina surge como uma
subprofissão subordinada à profissão médica, na medida em que estes, incluindo o Dr.
Alejandro del Río (1867-1936), procuravam elevar a sua eficiência e rendimento,
través do recurso a outras formações. Mais tarde, o mesmo aconteceria com
advogados e outros profissionais e também com as próprias instituições de
beneficência que passam a estimular o desenvolvimento do Serviço Social. As
assistentes sociais, concluído o seu curso, não ficavam restritas ao trabalho com
médicos e advogados. As instituições sociais apresentavam-se como um excelente
campo de trabalho incorporando o seu desejo de fazer bem o Bem.
O Serviço Social tradicional pode ser situado no período que medeia entre a
institucionalização da profissão (início do séc. XX) e os anos 60 e 70 rompido pelos
movimentos de renovação que surgem por toda a Europa, nos Estados Unidos e
América Latina e que questionam, não só o Serviço Social como toda a organização
social.
Para Amy Gordon Hamilton (1958) na sua primeira edição de 1940 da obra The theory
and practice of social case work, o homem é um organismo biossocial o “caso”, o
problema e o tratamento tem de ser sempre tomado pelo assistente social como um
processo psicossocial. Um caso social não é determinado pelo tipo de cliente (uma
família, uma criança, uma pessoa idosa, um adolescente) nem determinado pelo tipo
de problema (incapacidade económica ou um problema de comportamento). Um caso
social é um “evento vivo” que envolve sempre fatores económicos, físicos, mentais,
emocionais, em várias proporções.
25
As obras clássicas, produzidas por Mary Richmond (1861-1928) Social diagnosis e
What is social case work? An introductory descripton publicadas em 1917 e 1922
respetivamente pela Russell Sage Foundation, Nova Iorque, vem permitir à profissão
um processo sistemático para o estudo e atenção ao indivíduo afetado por problemas,
transformando-se num guia metodológico para realizar um diagnóstico em função dos
dados recolhidos pelo assistente social, na tentativa de chegar à definição da situação
social do cliente, problematizada em ordem a uma orientação adequada nas agências
ou instituições de assistência social (Diaz, 1987). É também a partir desta obra que o
Serviço Social sofreu um grande impulso, enquanto método de intervenção composto
por três grandes etapas: o estudo, o diagnóstico e o tratamento.
Neste sentido, o estudo permitia o apuramento dos factos e dados da vida do cliente,
que condicionariam as suas dificuldades pessoais e sociais, o diagnóstico consistiria
na interpretação dos elementos previamente apurados. Por último, o tratamento,
fundado nas etapas precedentes, centra-se na eliminação das dificuldades
identificadas.
25 De acordo com Ilda Lopes Silva, (2004) no seu Livro “Mary Richmond um olhar sobre os
fundamentos do Serviço Social” esta terá produzido para além do livro “Social Diagnosis” em 1917 e
“What is Case Work? An introductory description” em 1922, ambos editados pela Russell Sage
Foundation, outras obras importantes, entre elas, “Friendly visiting among the poor: A handbook for
charity workers”, editada por The Macmillan Cº, New York em 1899. Esta terá sido a sua primeira obra
onde reune o material utilizado pelos membros das equipas da “Charity organization society” no “trabalho
com o caso individual”. Em 1907, o livro “The good neighbor in de the moderne city”, J.B. Lippincott
Cº, com uma edição de dez mil exemplares em Filadelfia. Em 1925 “Child marriages”, Russell Sage
Foudation, New York e em 1929 “Marriage state”, Russell Sage Foundation, New York, ambos redigidos
com a colaboração de Fred S. Hall, este ultimo publicado após a sua morte. Silva, acrescenta que outros
estudiosos da sua obra acrescentam, com razão, um sétimo livro, editado em 1930 “The long view”,
Russel Sage Foudation, Nova Iorque, por reunir artigos escritos durante o período de 1882 a 1928. Este
foi organizado por Joanna C. Colcord, diretora do Departamento de Organização da Caridade, da Russell
Sage Foudation e por Ruth Z.C. Mann (Silva, 2004, 18,19).
social no seu continuum que parte de uma intervenção individual até à intervenção
comunitária. Assim temos:
Ilustração 4- Espaços de intercessão dos métodos tradicionais e a dificuldade em delimitar os fenómenos humanos sobre os
quais se intervém. ([Adaptado a partir de:] Manuel Barbero Garcia (2008, p. 423)26.
26 Tradução livre
Barbado Garcia assinala que o Serviço Social Comunitário nos dias de hoje
A década de 30 do século XX, para além de ter sido dominada pela Grande
Depressão, foi, marcada também pelos principais esforços para definir e formular o
método de Serviço Social de Grupo. Neste período assistimos ao reaparecimento de
algumas publicações da década anterior, colocando ênfase no pequeno grupo como
essencial para a solução do problema individual e social bem como a importância do
seu estudo científico na vida diária. A este propósito refere-se à importância da obra
de Grace Longwell Coyle (1892-1962), Social process in organized groups, surgida em
1930 neste domínio, apesar de não centrar o seu estudo na formulação do Serviço
Social de Grupo.
Apesar das teorizações do Serviço Social com grupos, só tenham sido desenvolvidas
a partir da década de 1930, assinala-se que mais uma vez que a prática precedeu a
teoria, já que, como afirma Martinez (1991, p. 338), os fundamentos do Trabalho
Social com grupos já estavam presentes em muitas iniciativas de índole social na
Inglaterra vitoriana, designadamente, nos Settlements. Em 1955, refere Robertis
(1994, p. 8) a Organização das Nações Unidas organizam o primeiro seminário
europeu sobre “Social group work” em Helsinkia (Finlândia).
Nesta linha, sublinha-se o conceito de Serviço Social de Grupos proposto por Gisela
Konopka (1965) um método de Serviço Social que ajuda os indivíduos a melhorar o
seu desempenho social, através de experiências construtivas em grupo e a enfrentar,
de forma eficaz, os problemas pessoais, de grupo ou da comunidade.
A gradual evolução dos métodos tradicionais do Serviço Social, a par da sua evolução
teórica e epistemológica, determinou na década de 60 a procura de um método de
intervenção único, integrador dos objetivos e das propostas dos três métodos (caso,
grupo e comunidade) e holístico capaz de dar resposta à natural interdependência
entre as situações individuais, grupais e comunitárias. Tratava-se, ainda, da busca de
um enfoque centralizador do conceito de intervenção social, capaz de evidenciar o
conjunto das ações e estratégias desencadeadas pelo assistente social para modificar
a situação do seu cliente.
Partindo de uma base comum, apresentada por diferentes autores que se debruçaram
sobre os papéis e as funções exercidas pelo Serviço Social no desenvolvimento
histórico da prática profissional, Restrepo (2003) destaca como tipologia de atuação
profissional: a prestacional ou assistencialista, a preventiva, a promocional e
educativa. A atuação promocional do Serviço Social caracteriza-se por dar ênfase ao
desenvolvimento social e humano, considerando o indivíduo como construtor da
realidade e sujeito ativo do seu próprio bem-estar. Está orientada para potenciar as
capacidades individuais e os recursos coletivos para melhorar ou satisfazer as
necessidades humanas e sociais, dando relevo à capacidade de resposta que as
pessoas, grupos ou comunidades, afetadas por determinadas situações, possuem
para assumir as mudanças e superar as dificuldades.
São, portanto, modelos dinâmicos, abertos, flexíveis e como tal estão num processo
permanente de desconstrução e construção, a sua aplicação é atravessada pela
dimensão individual e coletiva estabelecendo um são equilíbrio entre ambas. Os
modelos fazem parte da caixa de ferramentas técnicas interativas como a observação,
a entrevista, os gabinetes e os grupos de discussão, entre outras.
Desta forma a autora defende que o Serviço Social contemporâneo deve assumir uma
estrutura de prática profissional reta como um modelo capaz de se interrogar e de se
construir como elemento redutor, instrumental ou corroborador da teoria. Pois a prática
profissional é, antes de mais, uma instância mediadora e, como tal, deve ter a
capacidade de estabelecer pontes com a teoria e com a realidade social possibilitando
aprendizagens e desaprendizagens que revertem o desenvolvimento teórico,
metodológico e investigativo do profissional.
Cada prática profissional, para Kasher (2005) pode, ainda, ser composta por cinco
elementos propostos, isto é, baseia-se num conjunto sistemático de conhecimentos
específicos esse conjunto de conhecimentos teóricos fundem-se com a aquisição das
destrezas necessárias para levar a cabo os diferentes tipos de atuações em que
consiste o exercício da profissão. Nesse pano de fundo de conhecimentos teóricos e
destrezas práticas convém destacar uma terceira característica onde se define toda a
prática profissional: o compromisso de melhoria.
Porém, essa compreensão pode não ser só local, tem também de ser global, ou seja,
significa não só compreendê-la mas também os bens e os serviços que
constitutivamente obtém e proporciona num horizonte global de sentido. Isto é,
compreender o significado da prática profissional no conjunto da vida humana e dos
indivíduos em sociedade, caso contrário cai-se no que Ortega y Gasset (1973) refere
como sendo “la barbárie del especialismo”.
O que distingue, portanto, a profissão de um ofício é que este último repete, sempre
da mesma maneira, o que se fez na primeira vez. Ao passo que o profissional, o bom
profissional, tem condições de inovar e melhorar enfrentando situações individuais e
talvez irrepetíveis. Supõe-se, portanto, que os profissionais saibam resolver os casos
Sobre o usuário e os seus direitos define o princípio do respeito pela pessoa e pela
sua dignidade e direitos. Este princípio surge na decorrência do anterior, que
estabelece a relação assimétrica entre benfeitor e beneficiário e sustenta que o
usuário dos serviços profissionais não deve ser considerado mero objeto ou
destinatário desses serviços senão uma pessoa, com dignidade e direitos que devem
ser respeitados e, portanto, tomada em consideração e respeitada. Ou seja, alguém
que deve participar nas decisões que o afetam enquanto pessoa. Tomar a ética
Este tem vindo a ser considerado o princípio da autonomia por observar o princípio do
respeito pela pessoa, pela sua dignidade e direitos entrando em diálogo com o
usuário, tomando em consideração o seu ponto de vista, estabelecendo pactos e
acordos acerca da prestação profissional, tornando-o protagonista, subordinando a
ação profissional que oferece como contribuição necessária e importante para este
progredir no seu modo de entender a vida.
A ética profissional entronca, de acordo com Alonso (2008, p. 23), com a ética social
ao intervir com critérios de justiça no sentido de marcar prioridades e distribuir
recursos escassos, o que a obriga a questionar-se sobre a função social que
desempenha e, por seu turno, o que a sociedade espera dela.
sobre o desejável e viável no que concerne às políticas públicas, que se ocupam dos
bens sociais, especialmente quando essas políticas e bens estão relacionados com o
bem interno da sua profissão.
Todas as profissões para Alonso (2008, p. 25) tecem reflexões acerca da melhor
maneira de alcançar e realizar o bem interno nas situações sociais em mutação e
acerca dos conhecimentos e técnicas que lhe abrem o caminho. Estes debates,
discrepâncias e discussões em torno das diferentes formas de realizar os bens
internos são um recurso substancial dos contributos éticos associados ao bem-estar
da sociedade e aos fins básicos da vida humana.
Alonso propõe uma via média (2008, p. 27) que evite, por um lado, a segregação
completa que leve ao corporativismo ou que os profissionais se diluam como grupo de
especialistas na massa dos leigos ou, ainda, evitar o pior, que se deixem colonizar
pela lógica do poder político ou pela lógica da rentabilidade económica dos
responsáveis institucionais. Só quando interagem os três protagonistas fazendo valer
a própria perspetiva e articulando com as outras, se está em condições de promover a
dimensão pública da ética profissional e as profissões verdadeiramente contribuem
para a vida pública.
De uma forma conclusiva o conferencista refere que a ética tem a ver com o que
fazemos connosco próprios e os com outros e acrescenta que
“[…] la humanidad es la virtud que nos permite dar a cada assunto el peso y la
importancia que le corresponde en el marco de una vida humana, la própria y la de
otros. (Kasher, 2005, p. 30)
Em última análise somos todos humanos e, o que cada profissão propõe é contribuir
com os seus recursos específicos a prestar um serviço à vida humana tomada com
humanidade, em suma tratar humanamente cada ser humano. Os valores que
sustentam as práticas atuais do Serviço Social estão enraizados na sua história e na
memória coletiva da profissão.
redução das diferenças e oferta das mesmas oportunidades para todos. Daí os
mecanismos de discriminação positiva incorporados nos programas de ação social,
necessários para dar oportunidade a certas categorias da população;
Para além destes princípios, Robertis (2003, p. 47), afirma que a ética da
responsabilidade conduz-nos à análise dos meios, das diferentes opções possíveis,
das alternativas eleitas e na avaliação das consequências. A este respeito Gisela
Konopka (1965) afirmava que a forma de actuar de estar conforme com as finalidades
que se persegue, pois, a forma como nos aproximamos dos seres humanos em
dificuldade, pode converter os nossos programas em úteis, ou detestáveis. Prestar
auxílio pode ser humilhante ou pode realizar-se de forma a que não viole o respeito
que a pessoa, em situação de infortúnio, deve possuir por si própria.
Tendo em conta os meios utilizados, torna-se imperioso que se reflita sobre a relação
de ajuda, centrada na pessoa e nas suas capacidades, a qual fundamenta a noção de
confiança. Sem realizar um estudo etimológico e lexical muito aprofundado, podemos
dizer que as palavras utilizadas pelos profissionais do Trabalho Social para denominar
as pessoas a que se destina a intervenção variaram muito durante as diferentes
épocas históricas.
Este conceito também se utiliza nas diferentes correntes da pedagogia ativa como
forma de reflexão, análise e aprendizagem, a partir de situações específicas de
diversas disciplinas profissionais. Assim o conceito de cliente incorporou-se totalmente
no vocabulário profissional a partir da influência das correntes psicológicas e
psicanalíticas. O seu uso foi confirmado por Carl Rogers (1902-1987) nos seus
trabalhos sobre a relação de ajuda terapêutica, pois dava ao conceito de cliente uma
significação simbólica de liberdade. Na Roma antiga, tratava-se de um plebeu que se
colocava debaixo da proteção de um patrício; esta palavra designa também a pessoa
que requer os serviços de um médico, de um advogado, de um estabelecimento
bancário, ou que é comprador habitual do comércio.
No Serviço Social este conceito, porém, com o decorrer do tempo tem entrado em
desuso, o “caso social” passou a uma situação social, termo mais assético e neutro.
O conceito de cliente na profissão foi introduzido por Mary Richmond (1917), que
pensava que a palavra “caso” estava impregnada de vocabulário médico e seria
redutora, pois considerava que o “caso” do trabalhador social é a situação ou
problema e não a pessoa envolvida, tornando-se necessário distinguir a pessoa do
problema e o termo adequado seria cliente (Robertis, 2003, p.60)
Todos estes termos podem entender-se como uma intenção de diminuir o peso
estigmatizante da ajuda social associada a conceitos como os de pobre, indigente,
assistido e restituir-lhe uma afirmação do direito de cada um a utilizar o bem comum
disponível para todos. Estas palavras servem para designar aquele com quem
trabalhamos atualmente e substituem-se simplesmente pelo termo pessoa que se
Para o Serviço Social, a conceção de pessoa como ser individual está presente desde
o início e um dos princípios da profissão o individualismo. Conceptualizado e apoiado
nos princípios éticos de reconhecimento da dignidade da pessoa e de aceitação e
respeito pelas diferenças, o Serviço Social desenvolveu uma teoria e uma prática
relativa à pessoa como indivíduo. Contudo, atualmente, a pessoa não é só
considerada nos seus aspetos individuais senão, também, na sua dimensão individual
e coletiva (Robertis, 2003). A pessoa como ser coletivo faz parte de uma sociedade
em que vive, partilha a sua cultura e os seus valores e está imersa nas caraterísticas
sociais, económicas e políticas do seu meio específico e da sua época histórica. Neste
sentido, o seu devir individual entrecruza-se com o itinerário dos seus
contemporâneos, onde cada pessoa é simultaneamente um individualidade única e
diferente mas, ao mesmo tempo, igual a todas as outras pessoas da sua envolvente
social, tem os mesmos condicionantes socioeconómicos, os mesmos direitos, as
mesmas obrigações e, em certa medida, aspirações semelhantes. Acentua-se, assim,
o que é comum e não no que a distingue inspirando-se na declaração dos direitos
humanos: “todos os homens nascem livres e iguais”.
Desta feita, o conceito de pessoa viu-se enriquecido, segundo Robertis (2003), com
uma compreensão mais ampla e complexa do ser humano como ser social e apoia-se
ainda nas evoluções éticas e deontológicas da própria profissão, ou seja, na ética da
convicção, da responsabilidade e da discussão.
se, elabora-se, decide-se, leva por diante um projeto comum, com tudo o que significa
enfrentar, negociar, conceder, procurar consensos e acordos.
Convém a este propósito salientar que a relação de ajuda à pessoa não se reduz a
uma ajuda relacional ou na satisfação de uma carência ou mesmo necessidade, tende
a uma autonomia utilizando uma pedagogia do êxito baseada nas capacidades e
potencialidades das pessoas, inclusivamente daquelas que se encontram diminuídas e
ainda que recebam ajuda mas sobretudo que participem plenamente com processo de
ajuda, na sua definição e na sua realização.
Desta perspetiva podemos então ver que na metodologia profissional, a pessoa com
quem se trabalha é considerada um ser autónomo mesmo que reduzida em razão da
idade, saúde física ou mental e um ser que participa no processo de ajuda. Esta não
se organiza para a pessoa, mas com a pessoa a partir da sua própria definição, tendo
28
Robertis refere-se a parecer do CSTS (France.Conseil Supéreur en Travail Social) (1998) L”Intervention
Sociale d”Aide a la Personne,Rapport au Ministre du Travail et des Affaires Sociales, París, 1996.Rennes:
ENSP. “ el trabajo social siempre privilegió el concepto de persona pero, en su posicionamento ético
atual, tiende a postular un nuevo humanismo que llamaremos humanismo social […] La palavra social
junto a humanismo nos permite ir más lejos. […] Si proponemos esta apelación es porque nos permite
dejar atrás la dimensión antropocêntrica, al no centrar-se solamente en la persona como ser-esencia, sino
en su consideración como ser social, en su diferencia, en sus relaciones com los demás, en sus lazos
consu entorno e, en fin, como actor e elemento constitutivo de una sociedad […] Formulando de este
modo la ética del trabajo social, tenemos en cuenta ambos aspectos, es decir, la persona como un todo,
su ser profundo y la persona como ser social
em conta os seus desejos e os seus projetos. Este facto não é uma descoberta
recente nem uma inovação, pois Mary Richmond já afirmava que
Inspiradas, mais uma vez, nas reflexões éticas e na oposição a uma eficácia
desumanizada que sugerem certas práticas atuais, centramo-nos nas noções de
sujeito, de ator social, de cidadão.
Mas para Robertis, o conceito de cidadão vai mais além do direito constitucional. Um
cidadão é também aquele que participa ativamente na vida da cidade e que, para além
de formar parte desta, modela, modifica, cria, dinamiza a vida social, expõe e
transmite as suas ideias, organiza-se para os outros e com os outros. A dinâmica da
cidadania não é pura afirmação dos direitos escritos é também organização da vida
quotidiana da vida democrática, a atuação da vida cívica, a criação permanente de
novas possibilidades.
É pois nesta dualidade – acesso a direitos e cidadania ativa, que o assistente social
vai desenvolver um compromisso com e para a pessoa. Em cada um destes níveis se
estabelece objetivos do assistente social, objetivos de restauração da cidadania
(encontrar soluções, melhorar condições de vida, afirmar dignidade e aumentar auto-
estima) e objetivos de promoção da cidadania, criar laços significativos com os outros,
ser participante da vida coletiva, obter reconhecimento e sentimento de utilidade
social.
Entre aqueles que consideram o Serviço Social uma instituição, vamos encontrar na
década de quarenta Helen Leland Witmer (1898-1979) quando destaca que a primeira
e principal função do Serviço Social é prestar assistência aos indivíduos, face às
dificuldades com que se deparam no uso dos serviços de um grupo organizado ou na
sua própria atuação, também, eles como membros de um grupo organizado.
Como se percebe, a tentativa de esclarecer o que é que Serviço Social significa, não é
de todo uma tarefa fácil. Para Faleiros (2011), a construção de uma definição implica
entender algumas disputas no seio desta disciplina que passam por serem não só
linguísticas mas também ideológicas e políticas desencadeadas por diferentes projetos
políticos, por diferentes sentidos produzidos no quotidiano, bem como por diferentes
estratégias e operacionalizações que balizam a ação profissional.
Ainda, segundo Faleiros (2011), se nos detivermos sobre o discurso fundador de Mary
Richmond e na sua intenção de chegar ao fundamental para se entender o Serviço
Social de Casos, vamos encontrar um enfoque sobre a interação entre a
“personalidade e o meio social” assente, portanto, no ajustamento dos indivíduos entre
si e entre o homem e o meio social, o que situa o objeto da profissão no ajustamento
social.
Sobre o Serviço Social enquanto atividade prática a literatura tradicional é muito rica
em definições. As primeiras definições remontam aos trabalhos de Mary Richmond
(1915) e referem-se ao Serviço Social de Casos podendo ser definido como
A arte de fazer coisas diferentes para e com diferentes coisas para e com pessoas
diferentes em cooperação com eles para atingir de uma vez e ao mesmo tempo que
eles a melhoria da sociedade (Richmond, 1915, p. 1)30.
29
René Sand (1877- 1953) de origem Belga fez a sua primeira aparição no campo internacional em 1921
quando se juntou à League of Red Cross Societies onde se tornou seu secretário geral. Em 1929 foi o
primeiro presidente The International Hospitals Association. Foi ainda secretário-geral do ministério da
saúde Belga em 1937. A seguir à segunda Guerra Mundial ocupou o lugar na medicina social da
University of Brussels (1945-1952) tomando parte proeminente nas atividades da seção da saúde da
League of Nations na World Health Organization. Foi o idealizador e fundador da Conferências
internacionais de Serviço Social. A sua obra principal intitulou-se Le Serviçe Social atraver le monde
(1932) presidente entre (1946-1953) da International Association Schools of Social Work (Social Work and
Society Internacional Online Journal)
30 Tradução livre
Social work is a systematic way of helping individuals and groups toward better
adaptation to society. The social worker will work together with clientes to develop their
inner resources and he will mobilize, if necessary, outside facilities for assistence to
bring about changes in the environment. Thus, social work tries to contribute towards
greater harmony in society. As in other professions social work is based on specialized
knowledge, certain principles and skills. (IFSW, 1959, p. 3)
O Serviço Social, tal como outras profissões, prefere observar-se como uma profissão
baseada numa teoria, no entanto, são vários os autores de diferentes épocas que
concordam que, enquanto disciplina, o que a carateriza é o seu caráter
eminentemente prático e a necessidade de gerar a sua própria epistemologia. Mas,
apesar de tudo, continua a ser considerada como uma ciência nova, jovem e pouco
desenvolvida (Viscarret, 2007).
31 idem
32 ibidem
33 Tradução livre
Acrescenta, que o Serviço Social nas suas diversas vertentes encontra subjacente um
conjunto de valores, teorias e práticas. Valores resultantes de ideais humanitários e
democráticos baseados na igualdade e dignidade de todas as pessoas. Apoia-se em
teorias do desenvolvimento e do comportamento humano e dos sistemas sociais,
atendendo à complexidade das interações entre os seres humanos e o seu ambiente e
à capacidade destes em alterar as influências por ele provocadas, para analisar
situações complexas ao nível individual, organizacional, social e cultural. E numa
metodologia assente num corpo sistemático de conhecimentos sustentado em
evidências resultantes da avaliação de pesquisas e de práticas profissionais onde se
inclui o conhecimento específico de cada contexto.
Privilegia-se uma visão panorâmica a partir daquelas que foram as suas matrizes em
presença na educação em Serviço Social, por forma a demonstrar que o surgimento
das escolas de Serviço Social resulta de um processo contínuo de composição e
recomposição da profissão, na tentativa de corresponder aos desafios que lhe são
colocados no quadro da dinâmica do processo ideológico e cultural em concreto.
A atenção passa não só pela situação política, social e económica de Portugal nos
anos 30, pela reforma sanitária e reorganização da assistência social implementada
seguindo o projeto ideológico do Estado Novo, a sua visão, sobre o ensino, sobre o
papel da mulher e dos jovens na sociedade mas, também, pelo movimento do
catolicismo social português que se desenvolveu a partir das interpretações e
traduções práticas da Doutrina Social da Igreja no sentido de responder à “questão
social” colocada pela industrialização e emergência do liberalismo.
Nesta linha, Correia (1950) que procurou as origens remotas do Serviço Social em
Portugal, defende que será fácil localizar nos sentimentos essencialmente cristãos
presentes desde a formação da nação século XII e na própria ação do clero, os
percursores do Serviço Social. É evidente que tal não era possível, quando a
distribuição de bodos e esmolas se realizavam “às cegas” e de forma injusta. Ocorria
quando se conjugava uma ação de averiguação das causas sociais da miséria ou do
infortúnio com a procura de um tratamento do mal e a remoção da sua origem. Neste
aspeto, a concretização das 14 Obras de Misericórdia, eram o melhor e mais completo
programa que existia.
Ao longo do tempo, Correia (1950. p. XXXVIII) acrescenta ser possível referir alguns
notáveis que, ao lado do clero, se notabilizavam pela sua ação pessoal, visitando os
pobres e averiguando as causas da pobreza. São exemplo a Rainha Santa Isabel nos
finais do século XIII e começo do seculo XIV e Nun’Álvares, no final do século XIV e
início do século XV e, ainda, o trabalho das Confrarias que existiram em várias
cidades. Muitas possuíam ou administravam albergarias, hospitais, gafarias ou
mercearias. Em antigas “disposições de compromisso” encontra-se registo de
praticarem a visitação domiciliária, o mesmo se poderá pensar das Ordens Terceiras,
S. Domingos e S. Francisco às quais pertenceram vários Reis de Portugal
“Por esse compromisso, os irmãos, escolhidos entre pessoas de “honesta vida, boa
fama, sã consciência, tementes a Deus e guardadores dos seus mandamentos” eram
obrigados a fazer visitas a doentes, a pobres, a presos e a pobres envergonhados,
acompanhadas de inquérito da situação, levando-lhes alimentos ou conforto espiritual,
pedindo-lhes pão para distribuir, conciliando os desavindos, realizando, enfim autêntico
Serviço Social” (Correia, 1950, p. XXXIX).
Correia (1950), chama a atenção para o ano de 1504, e para o trabalho realizado no
Hospital de Todos-os-Santos, onde o pessoal realizava visitas domiciliárias não só a
pedido dos doentes mas, sobretudo, e sistematicamente à procura de sifilíticos, para
ali serem internados e tratados
Não poderemos esquecer o papel das Misericórdias, do século XVI ao século XIX, que
em Portugal espalhadas por todo o país, a par das confrarias, nunca deixaram de
praticar as 14 Obras de Misericórdia.
Este autor considerava, em 1950, que esta primeira prática, realizada por pessoas
com formação cristã que se dispunham a praticar as 14 Obras de Misericórdia,
representava uma verdadeira prática do Serviço Social, tendo obviamente sofrido
várias alterações ao longo do tempo. Mais tarde, no século XX, iniciou-se em Portugal
a Medicina Social de que foram pioneiros Sousa Martins (1843-1897), Augusto Silva
Carvalho (1861-1957), Alfredo Lopes, Ricardo Jorge (1858-1939), Costa Sacadura
(1877-1966), Tovar Lemos, Faria de Vasconcelos, entre outros. Em 1921 Faria de
Vasconcelos define as funções da “enfermeira visitadora”. Em 1924, Pacheco de
Miranda fez um ensaio sobre Serviço Social, que segundo Fernando Silva Correia
(1950), já seguia os moldes preconizados por Mary Richmond (1861-1928) e Richard
Cabot (1868-1939).
Correia (1950) menciona, ainda, que em 1925, Pacheco de Miranda, Branca Rumina e
Sara Benoliel em Lisboa, António Emílio de Magalhães com Gil da Costa e Veiga Pires
e Almeida Garrett, no Porto, Adelino Vieira de Campos em Coimbra, e José Alberto
Faria, Tovar de Lemos, Augusto Oliveira, José Lopes Dias e Beleza dos Santos e ele
próprio Fernando Silva Correia, iniciaram a partir das Caldas da Rainha. Sem saber
uns dos outros, uma campanha que esteve na origem e na instalação definitiva do
Serviço Social.
(1902-1964) que veio a lecionar no Instituto de Serviço Social, como veremos mais
adiante. Abel de Varzim foi diretor do jornal “O trabalhador” (1931-1948) e deputado à
Assembleia Nacional na II Legislatura, onde a sua colaboração com o Estado Novo se
realiza no sentido de cristianizar a ordem corporativa. Porém, o padre Abel de Varzim
acaba por contrapor o corporativismo de Estado, implementado por Salazar (1889-
1970) defendendo o corporativismo de associação preconizado pela Doutrina Social
da Igreja o que o levou a romper com o regime.
Mais tarde, Adérito Sedas Nunes (1928-1991) que foi Presidente da Juventude
Universitária Católica e marcou as ciências sociais portuguesas, criando em 1962, o
“Gabinete de Investigações Sociais” e, no ano seguinte, a revista Análise social. As
temáticas dos seus primeiros trabalhos incidem sobre Doutrina Social e o
Corporativismo tendo sido entre 1956 e 1958, diretor do Centro de Estudos do
Ministérios das Corporações.
Filomena Mónica (1978,) situa-nos nos anos 30 num Portugal com a economia mais
atrasada de toda a europa. Distante, geograficamente, do centro de desenvolvimento,
com um processo de industrialização lento, devido aos interesses coloniais e à
dominação estrangeira, entre outros fatores. As unidades fabris modernas eram
escassas, na sua maioria pequenas empresas e mesmo até, muitas vezes, artesanais.
Dos dados disponíveis assinala que aproximadamente 20% da força de trabalho
estaria no setor secundário, porém a quase totalidade seriam operários de oficinas e
artesãos. A principal indústria empregadora de mão-de-obra seria a têxtil, absorvendo
um terço da força de trabalho industrial. Mais de metade da população ocupava-se do
cultivo da terra. No norte do País a partir do minifúndio e no Sul do latifúndio,
recordando a inexistência de uma reforma agrária que estaria na origem dos entraves
ao aumento da produção, mas indispensável para a acumulação do capital.
A ditadura não era uma exclusividade portuguesa, Em Itália, Benito Mussolini (1883-
1945) já vinha de longa data como aponta Carvalho (2011) mas outra ameaça mais
forte surgia no centro da Europa. Hitler chega ao poder em 1933, ao mesmo tempo
que Salazar (1889-1970) foi nomeado para Presidente do Concelho de Ministros e em
1935 o ditador alemão denunciou o Tratado de Versalhes (1919), ação que anunciava
o prelúdio do conflito mundial que, em 1939, viria a deflagrar. Para complementar esta
ideia deve acrescentar-se que Salazar foi nomeado ministro de guerra em 11 de maio
de 1936, e que foi em Julho desse mesmo ano que se iniciou a sangrenta Guerra de
Espanha, entendida como uma cruzada contra o comunismo.
34 Para Salazar (1889-1970), a doutrina dos direitos individuais, sendo o resultado de um longo
desenvolvimento histórico, constituía uma doutrina particularmente perigosa, pois as sociedades não
podiam nem deviam ser revolucionadas de acordo com ideais utópicos. A sua ordem não dependia de um
contrato abstrato mas fundava-se em Deus. A igualdade dos homens, era por ele considerada um mito, já
que não dependia do poder político do cidadão, de um simples conceito abstrato mas antes de mais de
entidades concretas como seja a família e o município com existência lógica e cronológica anterior à
comunidade política (Mónica, 1978, p.86, 87).
35 Com seguinte redação “As associações e organizações da Igreja podem livremente estabelecer e
manter escolas particulares paralelas às do Estado, ficando sujeitas, nos termos do direito comum, à
fiscalização deste e podendo, nos mesmos termos, ser subsidiadas e oficializadas. O ensino religioso nas
escolas e cursos particulares não depende de autorização do Estado, e poderá ser livremente ministrado
pela Autoridade eclesiástica ou pelos seus encarregados. É livre a fundação dos seminários ou de
quaisquer outros estabelecimentos de formação ou alta cultura eclesiástica. O seu regime interno não
está sujeito à fiscalização do Estado. A este deverão, no entanto, ser comunicados os livros adoptados de
disciplinas não filosóficas ou teológicas. As autoridades eclesiásticas competentes cuidarão que no
ensino das disciplinas especiais, como no da História, se tenha em conta o legítimo sentimento patriótico
português”
36 Braga da Cruz (1999, p. 96) refere-se incorretamente ao facto do Padre Abel Varzim ser então
professor no Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa sua designação atual. Neste período, este
instituto não possuía o titulo de superior já que só lhe viria a se concedido em 1961 (Alvará 263 de 24 de
Junho de 1937 – averbamento de 7 de Dezembro de 1961).
Segundo Nóvoa (1990), o modelo educativo do Estado Novo este impunha uma
ideologia conservadora e nacionalista assente num debate “instrução versus
educação” onde teria existido, para o autor, “um projeto de moldagem das inteligências
e sensibilidades”. É esta a ideologia salazarista que “limitava as expectativas de
mobilidade alimentadas pela detenção de uma mais-valia escolar, canalizando os
investimentos pessoais para a fertilização do lugar social que cada um ocupava”. A
reforma educativa de António Carneiro Pacheco (1887-1957), assentou nos consensos
sociais entretanto produzidos e “transfere-se do exterior para o interior da educação”
sendo que a “política educativa apropria-se dessa fonte exógena de legitimação,
deixando claro que o universo escolar é mais “totalizado que totalizador” (Nóvoa,
1990, p. 459).
Por todas estas razões, Nóvoa sublinha ainda que, o Estado Novo terá de facto
entendido todas as potencialidades do ensino como fator de socialização, criando
novas áreas curriculares, expandindo as atividades circum-escolares e o reforço dos
dispositivos de controlo das famílias. De qualquer forma, Nóvoa conclui que apesar
das importantes consequências sociais no enquadramento das crianças e das
famílias, o “tolitarismo educativo” terá sido menos poderoso do que se pensava na
medida em que a afirmação da diferença nunca deixou de existir onde “ [...] a acção
das pessoas e dos grupos sociais” conseguiu “viabilizar uma apropriação outra da
cultura escolar” (Nóvoa, 1990, p. 515).
preparação de uma escol dos que lhe ficassem abaixo na escala social, sendo por
este motivo inaceitável uma difusão igualitária da cultura (Mónica, 1978, p.132).
Carneiro Pacheco (1887-1957)37 insistia que a escola deveria contribuir para abrandar
o afluxo às cidades, pregando insistentemente as maravilhas da vida rural. Aliás, a
glorificação da vida rural tornou-se um ponto central do salazarismo já que o próprio
Salazar (1889-1970), era um “filho do campo”.
Em Portugal, a atuação feminina no espaço público era escassa e sem tradição. Não
sendo, por isso, preocupação primordial do Movimento Nacional Socialista, organizar a
mulheres nacionais sindicalistas. Nem no seu órgão principal – Revolução – se
vislumbra a intervenção feminina (Pimentel, 2007).
37
António Faria Carneiro Pacheco (1887-1957). Licenciado e doutorado pela Universidade de Coimbra foi
professor universitário e catedrático. Na sua carreira político-administrativa ocupou, entre outros, o cargo
de deputado sidonista em 1918, foi vogal e depois Presidente da Comissão Executiva da União Nacional
em 1934, Ministro da Instrução Publica que mudando o nome do Ministério para Ministério da Educação
Nacional. A ele se deve, enquanto ministro, a criação da Mocidade Portuguesa em 1936 e nesse mesmo
ano a Obra das Mães pela Educação Nacional nesse mesmo ano, a Junta Nacional de Educação, o
Instituto de Alta Cultura, a Academia Portuguesa de História e o Instituto Nacional de Educação Física.
Posteriormente foi Embaixador e plenipotenciário junto da Santa Sé (1940 a 1945), Embaixador em
Madrid entre 1943 e 1953, Deputado à Assembleia Nacional na I e II Legislaturas e ainda Procurador à
Câmara Corporativa do Conselho Corporativo. (Castilho, 2009)
A referida articulista terá, ainda, argumentado que seria uma injustiça para os próprios
nacionais-sindicalistas que, por um lado, defendessem a ordem em causas justas, por
outro, encontrarem em suas casas a desordem, o desassossego e as suas esposas
empregassem o “tempo unicamente a experimentar penteados e vestidos” (Pimentel,
2007, p. 21). Caso o marido defendesse ideias contrárias, de natureza democrática ou
falsos princípios do liberalismo, a mulher não deveria mostrar passividade, mas sim
força e ação para o atrair aos ideais nacionalistas. Na luta contra o comunismo e o
liberalismo, o ceticismo e o pessimismo dos “vencidos da vida”, a mulher nacional –
sindicalista supriria as insuficiências da família e da escola, formaria o “individuo para
a comunidade” de acordo com a perspetiva cristã e corporativa O Movimento Nacional
Sindicalista dissolveu-se por nota oficiosa de Salazar (1889-1970), em 29 de Julho de
1934 (Pimentel, 2007).
aos feridos da guerra civil espanhola encontra-se a “Secção Auxiliar Feminina da Cruz
Vermelha Portuguesa” com sede na Liga dos Combatentes da Grande Guerra que por
seu turno também conta com uma seção feminina (Pimentel, 2007).
Entre algumas mulheres que faziam parte da Legião Portuguesa e após se encontrar
previsto nos seus estatutos a criação de grupos de legionárias vocacionadas para os
“serviços auxiliares de saúde ou de ação social”, definiu-se as “Bases das
Organizações Legionárias Femininas”. A esta organização poderiam pertencer todas
as portuguesas maiores de 18 anos que quisessem servir a Legião Portuguesa no
“campo de actuação reservado à mulher, pelos princípios morais e sociais da
Revolução Nacional” (Pimentel, 2007, p. 25) que ficando sob a autoridade dos
respetivos comandantes distritais da Legião Portuguesa poderiam atuar em campos
de atuação específicos entre os quais os serviços de enfermagem, destinados a apoiar
a Ação Social Legionária; os serviços de assistência, dentro do que se considerava ser
os princípios da moral cristã e, ainda, na divulgação de noções de higiene, puericultura
e de educação familiar.
Baseada nas diretrizes da carta papal da Ex Officiosis Litteris do papa Pio XI (1922-
1939) a Igreja iniciou-se na organização do apostolado dos leigos em associações
especializadas de acordo com o sexo, idade e meio social, pelo que, em 1934, foi
publicado o “Estatuto da Acção Católica Portuguesa”. A 19 de março desse mesmo
ano surgiram, ainda, os estatutos das duas grandes organizações femininas, ou seja a
Liga de Acção Católica Feminina e a Juventude Católica Feminina que, em maio, já
contava com dez mil associadas (Pimentel, 2007).
A partir de 193638, ano da criação da Obra das Mães pela Educação Nacional, as
organizações católicas femininas encontraram-se envolvidas em campanhas e
atividades, bem como no ano seguinte, com a criação da Mocidade Portuguesa
Feminina. Foram objetivos dessas organizações femininas católicas afastar a mulher
da fábrica e a jovem da rua e da prostituição, bem como de outras organizações laicas
como seja a associação Florinhas da Rua, fundada em 1917, pela futura dirigente da
Obra das Mães, Condessa de Rilvas que mais tarde veio, também, a criar o Instituto
Médico-Pedagógico Condessa de Rilvas. Este instituto fundiu-se posteriormente com
as Florinhas da Rua e tornou-se em 1935, uma instituição semioficial dependente de
vários ministérios que a subsidiaram (Pimentel, 2007).
Por seu turno, Carneiro Pacheco (1887-1957), no decurso do mesmo Congresso apela
à educação e à formação ideológica dos jovens sem, contudo, os integrar em partidos
ou milícias, mas num movimento nacionalista de caráter espiritual. Aliás, Carneiro
Pacheco (1887-1957), que toma posse da pasta do Ministério de Instrução, em 21 de
janeiro de 1936, que mais tarde se viria a transformar em Ministério da Educação
Nacional, apresentou uma semana depois a proposta de Lei nº 1941 em que se incluía
o propósito de criação da Mocidade Portuguesa. Essa proposta seria aprovada a 11
de abril anunciando-se que à Mocidade Portuguesa seria dada uma organização
nacional e pré-militar que estimulasse o desenvolvimento integral da sua capacidade
física, formação do caráter e a devoção à Pátria, que a colocasse em condições de
poder concorrer para a sua defesa (Pimentel, 2007, p. 28).
Irene Pimentel (2007) afirma ser difícil saber, ao certo, quando e como surgiu a ideia
de criar as duas organizações, a Obras da Mães pela Educação Nacional e a
Mocidade Portuguesa. Embora, muitas questões se levantam sobre a sua origem e
autoria e estejam sem resposta às razões de criação de uma organização estatal de
mulheres, a autora consegue afirmar que a Obra das Mães foi criada pelo Ministério
da Educação Nacional.
Uma das monografias realizadas pelas alunas do Instituto de Serviço Social refere que
Foi no dia 11 de Julho de 1936 que teve lugar a primeira reunião preparatória para a
instituição da Obra das Mães pela Educação Nacional (O.M.E.N.) de que a Mocidade
Portuguesa Feminina (M.P.F.) é uma das secções. A reunião realizou-se no Ministério
da Educação Nacional, sob presidência de Sua Excelência o Ministro Dr. António Faria
Carneiro Pacheco fundador e principal organizador da O.M.E.N. e, por conseguinte, da
M.P.F. Nesta reunião foi nomeada a Junta Central, ficando determinado convidar-se
para Presidente de Honra a esposa do Chefe do Estado, Exmª. Senhora D. Maria do
Carmo Fragoso Carmona e Presidente efectiva a Exmª Senhora Condessa de Rilvas.
Quatro dias depois, no dia 15 de Julho, realizou-se no Palácio Presidencial de Belém e
sob a presidência da Ex.ª. Senhora D. Maria do Carmo de Fragoso Carmona, a sessão
solene da Instituição da O.M.E.N. O Diário do Governo de sábado 15 de Agosto de
1936 (1ª Série39) inseria os Estatutos da mesma obra (Almeida, 1945, p. 4).
Para Maria Guardiola (1895-1987), era missão da Obra das Mães pela Educação
Nacional restabelecer
[…] a tradição nos seus conceitos de Amor, Deus e da Pátria, do respeito pela família,
do amor do trabalho e na aceitação do cultivo daquelas virtudes que aureolaram as
frontes das nossas mães e fizeram delas os anjos tutelares da família” 40 (Pimentel,
2007, 29)
Pimentel (2007) conclui que a função específica da elite feminina do Estado Novo
passava por “exercer uma ação social, moralizadora e educativa” dirigida a habilitar a
mulher para a educação familiar, de acordo com as boas tradições portuguesas.
Mais tarde, em 1913, foi promulgada uma lei sobre a responsabilidade patronal pelos
acidentes de trabalho e em 16 de Maio de 1916 a lei nº 494 que instituiu o Ministério
do Trabalho e Previdência Social. Em 1919, são decretados os seguros sociais
obrigatórios de doença, desastre, trabalho, invalidez e velhice e criado o Instituto de
Seguros Sociais Obrigatórios e Previdência Geral (ISSO-PG), organismo incumbido da
Assistência Pública, contudo como refere Pimentel (2001, p. 80) no período
republicano-liberal, as leis não passaram do papel ou tiveram escassa aplicação.
É pois, mais tarde, após o golpe militar de 1926 que o Instituto de Seguros Sociais
Obrigatórios e Providência Geral (ISSO-PG) é integrado no Ministério das Finanças
onde as suas competências em matéria de Assistência Publica são transferidas para a
Direção Geral da Assistência (DGA).
que em seu discurso, como enfoca Pimentel (2011), considerou ser a assistência
prestada aos “anormais físicos, psíquicos e sociais” uma “obrigação da sociedade
como meio de legítima defesa contra a degenerescência da raça” (Pimentel, 2011, p.
81).
Por outro lado, a tradução e edição do livro “Diagnóstico Social” de Mary Richmond só
ocorreu em Portugal pela mão de Instituto Superior de Higiene Dr. Ricardo Jorge, em
1950.
Acrescenta “
É um conceito muito mais vasto, mas com a vantagem de corresponder à realidade dos
fenómenos. Os anglo-saxões chamaram-lhe Serviço Social ao que nos chamamos
Assistência, se englobarmos nesta designação a chamada Política Social. Como o seu
fim último é proporcionar remédio para todos os males sociais e individuais, que ora
são interdependentes ora isolados, servir-nos-emos da nomenclatura médica para
classificar os seus meios de atuar que são diversos. É assim que, seguindo a esteira
de René Sand, designaremos a caridade e a filantropia individuais como "paliativos", tal
esmola de alguns tostões, de uma refeição ou de algumas roupas. Atenuam de certo
modo as necessidades do momento, as manifestações do mal-estar, mas além de não
remediarem definitivamente o mal, são remédios incertos e arbitrários. § Na categoria
dos remédios etilógicos, atacando a causa dos males na sua fonte, ficará colocada a
"assistência "curativa": - tal o mutilado ao qual se adapta o aparelho ortopédico que
remediando o seu defeito, o torna útil a si e à sociedade. Quando a assistência se
ocupa de fortalecer o organismo social, melhorando as condições da vida de todos e
cada um, dir-se-á " assistência construtiva (Dias Júnior, 1932, p. 8)
Para José Lopes Dias (1945) infelizmente, os progressos das técnicas nas indústrias
não foi acompanhado do respeito pela moral do trabalho e dos negócios, o que
resultou numa nova ordem geradora de sofrimentos e infelicidades desde a
insuficiência de adaptação às novas condições de vida, onde o homem não sai
sempre valorizado e quantas vezes escravizado. Tendo sido para dominar estas
situações que nasceu o Serviço Social.
Portugal que nos finais do século XIX tinha uma população que rondava os 5,5
milhões de habitantes, onde 60% da população trabalhava na agricultura, pelo que o
impacto da industrialização em Portugal era reduzido, pese embora se assista neste
período a uma intensificação do desenvolvimento industrial. (Conejo et al., 1992, p 5).
No final do século XIX Lisboa que contava com 300 mil habitantes era uma cidade mal
iluminada e insalubre de tal forma que mais de metade das crianças que nasciam em
Lisboa não chegava aos cinco anos o que revelava uma taxa de mortalidade infantil
altíssima (Martins, 1999, p. 56).
No decénio de 1921 - 1930 a referida taxa passou para 19,4%, no entanto, na Suíça e
no Reino Unido não foi superior a 12,1% e 12,3%, para no decénio de 1931-1940
sofrer uma descida acentuada para 16,3%. Só finalmente em 1947, a nossa taxa de
41 No Decreto- Lei nº 12.477 de 12 de outubro que reorganizou em 1926, os serviços de saúde pública.
No começo do século XX, 60% das mortes eram causadas por doenças contagiosas
que graças aos trabalhos de Pasteur, Ebert e Lavedan, entre outros cientistas,
diminuíram drasticamente e libertou a humanidade do perigo das epidemias, um
verdadeiro flagelo que, em determinados países dizimou um terço da população. São
elas sobretudo a varíola, o tracoma42, o sezinismo43, a tuberculose, a lepra e as
doenças venéreas (Subsecretariado de Estado da Assistência Social, 1949, p. 24).
A luta contra todas estas doenças impunha portanto a melhoria da higiene individual e
coletiva, diagnóstico e tratamento precoce, razão pela qual se criaram dispensários
postos anti-tracomatosos que funcionavam em zonas onde as epidemias eram mais
intensas. Com o objetivo de orientar, coordenar e fiscalizar a ação profilática e
terapêutica no combate à tuberculose foi criado em 1945 o Instituto de Assistência
Nacional aos Tuberculosos que sucedeu à Assistência Nacional aos Tuberculosos que
para desenvolver um combate eficaz à tuberculose dividiu o País em três zonas:
Norte, Centro e Sul (Subsecretariado de Estado da Assistência Social, 1949).
De acordo com esta orgânica anti-tuberculosa em cada zona era constituída por:
42 Tracoma é uma doença que atinge os órgãos visuais oftálmica altamente contagiosa, de etiologia
bacteriana, causadora de comprometimentos na córnea e na conjuntiva e que na época conduzia à
cegueira
43 Também designada como Malária
Tovar Lemos (1932) defende que o trabalho dos funcionários de saúde poderá ter
mais resultado desde que seja criado e anexado ao Serviço Clínico, o serviço de
Assistência, pelo que o Serviço Social deve trabalhar em colaboração íntima com o
serviço clínico e sob dependência dele. Porém, não é fácil estabelecer as regras dessa
educação, pois tudo depende das qualidades da assistente social e das qualidades de
inteligência e cultura do doente
[...] Regras, preceitos, avisos que a assistente individualizará conforme cada caso, para
que o doente se convença de que se pensa nele e nos seus em especial, e que o que
se faz é medida geral, pois o egoísmo de cada um faria menosprezar o interêsse, quási
incompreendido por grande número de pessoas que desconfiam de tanto cuidado
(Lemos, 1932, p. 11).
1º – A educação do doente
Acolhimento:
A educação do doente deve ser iniciada desde o primeiro momento em que o doente
chega ao Dispensário [...] Fundamental é porém que a assistente social adquira logo
desde inicio uma ascendência sôbre o doente, inspirando-lhe confiança e simpatia,
para o que o que o trabalho deverá ser feito o mais à vontade possível, mais rápida ou
lentamente conforme os casos, esforçando-se sempre porém por que o doente se
convença de que todo o esfôrço e toda a organização é para seu bem, para bem dos
seus, e do desinterêsse que o Dispensário e o pessoal poderiam ter por cada um dos
que ali vão procurar remédio para o seu mal de ocasião (Lemos, 1932, p.11).
Claro que o doente em breve é esclarecido das suas dúvidas e, adquirida a confiança e
compreendido o que se pretende, raros são, quando o trabalho social é bem feito, os
que não nos ficam querendo e estimulando […] Se o doente sabe lêr, dão-se-lhe
folhetos, prospectos, aconselham-se livros, etc. Se não sabe ler, é necessário insistir,
contar-lhe factos, sem o aterrorizar todavia, pois espíritos há em que as narrativas
demasiado impressionantes poderiam causar desequilíbrios mentais, que iriam agravar
a perturbação psíquica própria da doença, que faz com que o doente hesite, caile, na
ânsia de se curar, e tome qualquer resolução, por vezes menos conveniente (Lemos,
1932. p. 13)
2º - Vigilância do tratamento
Uma das funções pois do serviço social é exactamente vigiar o doente, não só durante
os tratamentos, mas nos períodos de repouso, fazendo com que êle apareça nas datas
fixadas pelo médico Para esse efeito, disporá as fichas médicas de modo a poder
verificar se de facto o doente volta ou não quando lhe foi indicado (Lemos, 1932, p. 14)
De tudo deve o Serviço Social inquirir e procurar remediar, resolvendo por si o que lhe
fôr possível, ou chamando atenção do médico para o caso. Geralmente a causa das
irregularidades é possível demover, e o tratamento faz-se como deve ser, ou pelo
menos melhor (Lemos,1932, p. 21).
3º A despistagem na família
Averiguada a sífilis num doente, inquirido da família, dos filhos, as suas doenças, etc.
Procura-se trazê-los aos Dispensário e caso tenham sífilis procuraremos que se tratem
aqui ou em qualquer outra parte. Se alguns componentes da família, filhos, por
exemplo, não vivem com os pais, ou até fora de Lisboa, procura o Serviço Social,
providenciar para que seja facilitado no local onde estejam, o tratamento devido
(Lemos,1932, p. 23).
4º O auxílio social
Ao tentar definir o seu papel, Lemos (1932) assinala que o serviço do assistente social
é semelhante ao das enfermeiras visitadoras das obras de proteção à infância, mas o
espirito que preside ao trabalho é diverso, bem como a natureza do seu trabalho,
razão pela qual as qualidades a exigir ao pessoal são diferentes e as
responsabilidades sejam maiores.
44 A obrigação de prestar assistência é ao mesmo tempo dever cívico ou de justiça social e preceito
religioso de caridade (Decreto lei nº 32.255, de 12 de Setembro de 1942, citado por Negreiros,1949, p.
52)
45 A Delegação do Porto do Instituto Ricardo Jorge, então designado por Instituto Superior de Higiene
(ISH) e dirigido por Fernando da Silva Correia, foi criada a 9 de Setembro de 1954, sob proposta da
Direcção-Geral de Saúde e aprovação do Subsecretário de Estado da Assistência Social J. G. Melo e
Castro. A sua fundação estava prevista desde 1945, em consequência da reorganização dos Serviços da
Assistência Social efetuada, com a intenção de implementar uma política de saúde e assistência nacional
orientada, sobretudo, para uma ação preventiva e educativa. Por convite do Ministro do Interior Joaquim
Trigo de Negreiros, a instalação e organização da delegação no Porto estiveram a cargo do Professor
Gonçalves Ferreira, à época médico nutricionista do Instituto e antigo assistente da Faculdade de
Medicina de Coimbra, onde colaborara na regência do curso de Medicina Sanitária, sendo nomeado seu
primeiro director. Conforme determinação do despacho da sua criação, a delegação veio a ocupar
dependências, devolutas há vários anos, do recém-encerrado Hospital de Santa Clara.
Esta base legal permitiu a transformação do cenário na Casa Pia de Lisboa de 1943
para 1947, pois ao incluir estas modalidades de assistência, viu o número de menores
assistidos de 1905 para 3638 menores48 (Negreiros,1949, p. 51).
Constava-se, por esta altura, que a duração média de vida tinha subido 50% desde
meados do último século razão pela qual esta medida vinha ao encontro da
necessidade de aumentar o período de vida ativa daqueles que ainda podiam
trabalhar. Mais do que o internamento, interessava proporcionar meios de trabalho aos
velhos e aos parcialmente inválidos. Assim, seja o Instituto de Assistência aos
Inválidos como o de Assistência à Família procuravam manter a assistência dos
velhos e inválidos em regime aberto, porém, quando esse internamento se tornava
46 Art..º. 11º O Estado assegura a constituição e defesa da família, como fonte de conservação e
desenvolvimento da raça, como base primária da educação, da disciplina e harmonia social, e como
fundamento de toda a ordem política pela sua agregação e representação na freguesia e no município
(Constituição da república 1933, Decreto nº 22: 241 de 22 de Fevereiro)
47 Subsídios aprovados pelo decreto-lei nº 32.613, de 13 de dezembro de 1942, e no regulamento
49 Em quatro anos foram despendidos mais de 100.000 contos, obtidos do produto das taxas sumptuárias
e da generosidade particular: em subsídios a albergues, cozinhas económicas e sopa dos pobres; na
aquisição de cobertores, enxergas, xailes e roupas de toda espécie; na construção e arranjo de casas
para pobres; na compra e distribuição de aparelhos ortopédicos, carros para inválidos, óculos, etc.; na
reparação de embarcações e apetrechos de pesca – pão para a boca, agasalho para o corpo, habitação
para a família, bordão para o aleijado, trabalho para o desempregado – e ainda na assistência à mãe e à
criança, fonte e esperança de vida (Negreiros,1949, p. 52, 53).
50 Vide em anexo P
Em Portugal o referido diploma aponta para uma clara falta de pessoal de enfermagem
e do seu baixo nível de preparação. Com a previsão de construção de novos hospitais
e a ampliação de outros tornou igualmente imperiosa a remodelação do ensino da
enfermagem em ordem a habilitar os enfermeiros em quantidade e qualidade
necessária para um maior rendimento destas organizações hospitalares. Em ordem a
colmatar essa preocupação o referido Decreto-Lei para além de ter como objetivo a
reorganização do ensino da enfermagem permite, ainda, no funcionamento nessas
mesmas escolas de cursos de Serviço Social. As escolas poderiam ministrar
simplesmente os cursos de enfermagem em um ou mais cursos ou, então,
“cumulativamente o curso de administração hospitalar e de serviço social, destinando-
se este último exclusivamente ao sexo feminino” (Decreto-lei nº 36 219 de 10 de Abril
de 1947, p. 278)51
51 Vide em anexo P
52 Vide em anexo AD
“A meu ver, serviço social é todo o esforço tendente a elevar a dignidade humana, quer
promovendo a expansão de suas regalias materiais e espirituais, quer opondo-se a
todas as causas que atingiram ou venham atingir o bem – estar dos indivíduos” (Dias
Júnior, 1932, p. 7).
Numa outra categoria inscrevem-se os remédios etiológicos que atacam os males pela
raiz e que se podem então classificar como assistência “curativa”. São exemplo os
mutilados que recebem aparelhos ortopédicos e que de novo se tornam úteis para a
sociedade. Temos, ainda, a assistência “construtiva” que se ocupa de fortalecer o
organismo social, melhorando as condições da vida de todos e de cada um, onde
Por último, temos a assistência “preventiva” que se propõe evitar e prevenir possíveis
e frequentes problemas e que atingem toda a população (Dias Júnior, 1932, p. 10).
Sendo o Serviço Social tão vasto, as suas funções vêem-se, em primeiro lugar,
inscritas no sentido da “instrução” e da “educação”. É forte a convicção de que a
No que respeita à atividade de uma agente social esta divide-se entre instituições,
locais de trabalho, de assistência de educação, e as famílias. A família, enquanto
núcleo essencial de uma sociedade disponibiliza os temas mais variados e aspetos
infinitos para aprofundamento.
[…] sobretudo estabelecer a sua íntima ligação com os assistidos e as suas famílias e
de as integrar mais perfeita e harmonicamente no agregado social, aumentando o seu
rendimento e ampliando a sua ação […] que sabem realmente os bons pastores da
nossa serra sôbre a sua função? Quem nos diz que os socorridos são, de facto, os
mais necessitados, que os consulentes nos dispensários compreendem e cumprem o
tratamento instituído, que seguem os preceitos higiénicos recomendados? Como evitar
que os doentes infecciosos, isolados e tratados a preceito nos hospitais, voltem a
espalhar o seu mal, ao regressar aos seus lares? Que sabem nas aldeias de higiene e
Fernandes (1941) reforça, ainda, que a melhor forma de exercício do Serviço Social é
através dos organismos designados de Centros Sociais referindo-se a estes como a
“casa de todos para todos” citando Maria Leonor Correia Botelho, aluna do Instituto de
Serviço Social de Lisboa e assistente social do Centro Social de Cascais. Ou seja,
uma casa aberta a todos destinada a atender as famílias de toda a condição social,
sem distinção de ideias políticas ou religiosas, a cultivar o espírito de solidariedade e
auxílio social, a orientar no aproveitamento dos organismos de assistência, a difundir
as sãs regras da higiene, a promover o ensino familiar de pequenas artes e ofícios
domésticos, animar até o espírito recreativo e a despertar o interesse pela educação e
aprimoramento das classes desprotegidas, elevando-as e aproximando-as das mais
cultas e afortunadas.
O mesmo autor refere que, em 1946, este último curso funcionou em circunstâncias
especiais, já que nele foram admitidas senhoras que já exerciam o cargo de auxiliares
Utilizando este conceito matricial de Serviço Social, entende-se que Correia (1950)
situe em 1926 e, mais concretamente no Decreto nº 12 477 de 12 de Outubro, que
reorganiza os serviços de Saúde Pública e onde se determina que seja criado um
corpo especial de enfermeiras de visita para moléstias infeciosas, a primeira referência
conhecida em leis portuguesas a profissionais femininas do Serviço Social e a cursos
de ensaio de 1929 e 1930 dirigidos por incumbência do então Diretor Geral de Saúde
Dr. José Alberto Faria, pelos doutores Carlos d’ Arruda Furtado, e António Pina e
Oliveira Júnior coadjuvados pelos doutores Pedro da Cunha e Ernesto Roma e que se
realizaram no “Posto de Proteção à Infância de Lisboa”.
Nesta sequência, entende Correia que o conceito de Serviço Social não envolve
apenas a prestação de um serviço nem tão pouco é um sinónimo de assistência, de
filantropia, de esmola individual ou coletiva, e acrescenta que
Para ter esse título não basta ser feito por senhoras, visto poder ser praticado por
homens, não basta para o realizar conhecerem-se as ciências cuja aplicação prática
ele exige, nem sequer o praticar a medicina preventiva. Tem de tudo isto um pouco
mas exige menos cada uma destas características do que a sua aplicação oportuna,
judiciosa, firme e suficientemente persistente, para dele resultar o equilíbrio do
indivíduo e de todos os elementos com quem ele convive, ou a sua adaptação
inteligente ao meio e o aperfeiçoamento deste modo de tornar uns e outros mais
perfeitos do que eram, segundo as aptidões, a saúde, a robustez e a maior produção
desse indivíduo e as possibilidades dos que o cercam, conforme exigem as regras da
[…]a bôa vontade de pessoas caritativas falha por sua vez ou dá lugar a esbanjamento,
por falta de orientação conveniente. O bem-fazer também tem a sua técnica, que
permite a máxima eficiência e economia, evita abusos e duplicidade inútil nos serviços
(Correia, 1938, p. 399).
A este propósito, refere o papel das Misericórdias que, apesar de as considerar como
indicadas para o trabalho da assistência, desenvolvem modalidades que se poderiam
todavia, realizar com despesas insignificantes “A colaboração dos delegados de saúde
com as Misericórdias impõe-se e ela será honrosíssima para êles, utilíssima para
estas e eficaz para os necessitados” (Correira, 1938, p. 402).
53Sobre este assunto refere-se o importante artigo elaborado por Francisco Branco (2015) “Itinerário das
profissões sociais em Portugal, 1910-1962”, publicado na revista Análise Social, 214, L (1º).
Para além dos trabalhos práticos contemplarem desde “ [...] a observação inicial,
interrogatório do menor, dos pais ou tutores e elaboração dos respetivos relatórios,
observação social com o inquérito social e observação no grupo, apreciação de todos
os elementos de observação, elaboração de relação de inquéritos sociais [...] ” foram
desenvolvidas “[...] visitas a instituições que se ocupavam de menores ( maternidades,
54Artur Ramos no decurso da sua carreira profissional foi professor do Instituto de Orientação Profissional
Maria Luísa Barbosa de Carvalho, diretor do Tribunal de Menores da Tutoria de Infância de Lisboa (1951),
professor de Direito de Tutelar de Menores do Instituto de Serviço Social, desde a sua fundação,
professor na Escola Prática de Ciências Criminais, Assistente Técnico dos Serviços de Reeducação de
Menores e Inadaptados na Comissão de Construções Prisionais. Na sua carreira político-administrativa foi
Chefe de Gabinete do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Jaime Fonseca Monteiro (1929-1939) e
Vereador da Câmara Municipal de Lisboa (1951). (Castilho, 2009)
Para Lemos a
“ [...] cultura técnica da assistente social prepara-se com relativa facilidade. Mas pode
ter uma cultura técnica completa e nunca ser capaz de dar uma boa assistente social
pelo que só após um estágio no serviço se poderá avaliar a sua capacidade” (Lemos,
1932, p. 35).
[...] essencialmente prática e sem pretensões, não deve ter em vista mais que dar os
elementos mínimos que permitam trabalhar com conhecimento de causa. O resto,
havendo condições vem depois. Todos os excessos de conhecimentos virão a
prejudicar a disciplina e as relações com os médicos, a eficiência dos serviços, e criar-
lhes uma categoria social mal definida, com todos os seus inconvenientes (Lemos,
1932, p. 35).
3º Perigo das doenças venéreas e da sífilis. O que é a sífilis e a sua importância social.
Evolução
Esta matéria deve ser dada em lições no período de um mês. O estágio em períodos
renováveis de 2 meses (Lemos, 1932, p. 35-36).
numa prática profissional centrada na relação estabelecida. Desde logo, incorpora este
conhecimento nos cursos desenvolvidos, por forma a criar competentes visitadoras
domiciliárias.
Em 1880, o Serviço Social nos Estados Unidos, conta já com referência de trabalho
realizado por estas visitadoras domiciliárias havendo registos históricos da sua
presença nas equipas de saúde (Richmond, 1950). A trilogia inicial, higiene, educação
e saúde, que caracteriza o Serviço Social na sua origem deixou marcas profundas na
sua identidade e define um Modelo Clássico de atuação assente, essencialmente, no
relacionamento humano.
Para Cruz (2001, p. 246) uma vez aplicado o método das monografias, é possível
saber em cada família a parte que ocupam as necessidades correspondentes à vida
moral e à vida material, demonstrando a permanência destes dois elementos
fundamentais da constituição essencial da prosperidade dos povos. Permite ainda,
verificar as diferentes formas como as cinco variáveis, ou seja, os ritos da religião, a
organização da soberania e as três formas da propriedade privada, tomam o seu lugar
entre esses povos.
É, pois, a convite de Portugal, que Léon de Poinsard (1912) chega ao nosso país e se
propõe estudar os grupos humanos integrando-os na sua obra intitulada Portugal
Ignorado. Este estudo que deve proceder com ordem lógica, do simples para o
composto, do conhecido para o desconhecido, sendo a família o grupo social ativo
mais simples e de mais fácil compreensão e análise resultando em monografias de
família.
No seu livro “12 Lições sobre o Serviço Social” Dias (1945) refere que Ciência Social é
uma ciência de factos pela filiação nas verdadeiras causas, quer seja nas mais
próximas como nas mais remotas. Adepto do método iniciado por Jacques Valdour55
(1872- 1938) e de Paul Descamps (1888-1974), concorda que um caso fica explicado
quando se conhece a sua causa, não se devendo formular hipóteses mas partir
sempre de verificações exatas.
Refere a propósito dos inquéritos familiares, que estes serão inúteis sem o juízo do
conjunto em aspetos basilares para o Serviço Social. Se, por um lado, os inquéritos
permitem a ordenação de factos, a catalogação dos detalhes e servem também de
alicerce para a ação social, as monografias transcendem por isso esses fins utilitários
e imediatos no que concerne a facultar uma explicação científica das sociedades. Dias
(1945) demonstra assim a influência do pensamento de Paul Descamps (1888-1974)
e, em última instância por Frédéric Le Play (1806 – 1882) por partilhar a ideia de que
este processo descritivo e explicativo, a adotar na ciência social ou mesmo da
sociologia experimental, assumindo que tal método merece ser tratado no ensino
superior (Dias, 1945, p. 190).
Ainda na sua obra as “12 Lições para o Serviço Social”, Dias (1945) reforça ainda o
seu entendimento com exemplos práticos onde acentua
55Jacques Valdour (1872- 1938) foi o iniciador do que designou de "La Méthode concrète en science
sociale (1914) e autor de outros livros Les Méthodes en Science sociale (1927) e Les Méthodes de liaison
entre la science sociale expérimentale et les autres sciences naturelles (1931).
“1º É preciso começar o estudo de uma sociedade pela monografia completa duma
família operária voltada a um mister essencial 2º entre as famílias operárias votadas a
um mister, deve escolher-se um tipo puro e completo; 3º a monografia da família
operária compreende não somente o estudo dos fenómenos sociais mas ainda das
relações entre a família e o meio social. Uma vez escolhida a família- tipo, esclarecem-
se, em primeiro lugar os meios de subsistência: a) o lugar em que vive, o solo, o sub-
solo, culturas, industria, clima, etc.; b) o trabalho, e or seu intermédio as ligações ao
meio; c) a propriedade imobiliária; d) os bens móveis; e) o salário; f) o orçamento
doméstico; g) a família, pai, mãe, filhos e filhas, inválidos ou velhos; h) o modo de vida
material, alimentação, vestuário, habitação; i) as fases acidentais da existência; j) a
organização material do trabalho, da propriedade, da assistência; k) o comércio; l) a
cultura intelectual; m) a religião; n) a vizinhança; o) a corporação, nos aspectos de
mutualidade, assistência, ligas; p) a freguesia ou paróquia e, enfim, os outros
interesses públicos a que pertence, o concelho, a província, as afinidades com o
estrangeiro, raça e expansão internacional “ (Dias, 1945, p. 192- 193).
Dias (1945) Conclui que este longo esforço de análise resulta em operações de
síntese, de classificação e sistematização de caráter permitindo perspetivas concretas
para as possibilidades do Serviço Social. Uma posterior leitura das monografias
portuguesas obtidas por agentes sociais permitirá, por si mesmo, a defesa deste
instrumento de investigação social. (Dias, 1945, p. 193)
Neste capítulo, seguindo o proposto pelo modelo teórico de referência, será abordada
a fundação do Instituto de Serviço Social e o caminho percorrido no seu primeiro ciclo
formativo bem como traçar uma análise e compreensão sobre o seu suporte jurídico, a
sua estrutura orgânica, os primeiros cargos de direção, os cursos ministrados e
respetivos planos de estudo.
56 I Congresso da União Nacional – Volume II – p. 176-397 (cf. Exposição acerca do Instituto de Serviço
Social, 1944, p. 311) Vide em anexo P
57 Vide em anexo M
Com o intuito de fundar da primeira escola de Serviço Social em Portugal, foi criada
em Lisboa, a Associação de Serviço Social – “Associação de Beneficência” –
aprovada pelos alvarás nº 545 de 17 de Outubro de 1935, mais tarde designada
“Associação de Cultura e Formação Profissional” pelo alvará nº 227 de 20 de
Dezembro de 1941 (Instituto de Serviço Social, 1942?, Instituto de Serviço Social,
1944b, p. 4 e Instituto de Serviço Social, 1957a, p. 3)58. Em documento intitulado,
“Orgânica do Instituto de Serviço Social” (Instituto de Serviço Social, 1942?, p. 1)59,
referem os autores que “conforme nos foi sempre explicado”, pelo facto de ser uma
Associação de Serviço Social, a base de sustentação do Instituto de Serviço Social,
assentava numa combinação com o Patriarcado, por se considerar que esta seria a
forma que asseguraria a autoridade da Igreja, permitindo a possibilidade de manter a
escola “à sombra” de uma associação cultural, já que se vivia numa época de pouca
liberdade religiosa. Refere, ainda, este texto que os estatutos teriam sido elaborados
pelo Dr. Abel de Andrade, sendo o primeiro consultor assistente60, o Monsenhor
Manuel Anaquim.
estatutos da Associação de Serviço Social competindo a este assistir e intervir nas reuniões não só da
Assembleia Geral como do Conselho de Direção sendo que de acordo com o artigo 17º dos mesmos
estatutos as decisões não teriam carater executório sem a sua aprovação.
61 Viscondessa de Pernes
62 Vide em anexo AT
63Vide em anexo AT
64 Em finais de 1925, a nomeação de Manuel Anaquim para bispo de Damão provoca uma crise
diplomática já que o vaticano se recusa a elevar o cónego a bispo considerando a medida do estado
português uma forma de coação do Papa. Esta crise vem a ser resolvida pelo acordo sobre o Padroado
assinado com a Santa sé em 1928.
Ilustração 5 – Os deputados D. Domitília Miranda de Carvalho, António Almeida Pinto da Mota, D. Maria Cândida Parreira e D.
Maria do Santos Guardiola na sala da Assembleia Nacional. S/ Autor. 10 de janeiro de 1935. (Arquivo Fotográfico da
Assembleia da Republica)
De acordo com o artigo 3º dos seus estatutos, a Associação de Serviço Social, tinha
por fim:
65 Alberto de Carneiro de Mesquita (1880-1962) foi licenciado em Teologia pela Universidade de Coimbra
e em Direito pela mesma universidade realizando o seu Doutoramento em Direito também em Coimbra.
Para além de Procurador à Câmara Corporativa por designação do episcopado português, em
representação da Igreja Católica, foi Pároco e professor do seminário de Lamego; Cónego arcediago da
Sé de Lisboa; Secretário do Cardeal Patriarca de Lisboa; Deão da Sé de Lisboa e em 1951 Protonotário
apostólico e membro do Conselho de Administração dos Bens Eclesiásticos (Castilho, 2009)
66 Regina Quintanilha (1893-1967) foi licenciada em Direito pela Universidade de Coimbra e a primeira
67 Vide em anexo AT
68 Vide em anexo H
69 Domingos Fezas Vital (1888-1953) foi Professor de Direito, chegando a reitor da Universidade de
Coimbra com a Ditadura Nacional (1927-1930). Presidente da Junta de Educação Nacional (1940-46) e
da Câmara Corporativa (1944-46). Dirigente da Causa Monárquica e lugar-tenente do duque de Bragança
(desde 1942). É um dos redatores do projeto da Constituição de 1933, e também um dos introdutores em
Portugal das teorias institucionalistas de Maurice Hauriou (1856-1929) e Georges Renard (1867-1943)
que, nos anos trinta, permitem uma atualização das teorias corporativistas, fazendo-as ligar ao próprio
neotomismo. É um dos subscritores do Parecer da Câmara Corporativa que apoia o projeto de extinção
da Maçonaria em 1935, juntamente com Afonso de Melo Pinto Veloso, Gustavo Cordeiro Ramos, José
Gabriel Pinto Coelho e Abel de Andrade. (Maltez, 1991, Vol. 2, p. 301)
70 Vide em anexo AG
A 17 de Março de 1935, encontrando-se ladeada pelo Sr. Cardeal Patriarca e pelo Sr.
Ministro da Instrução e outras figuras representativas da inteletualide à época, Mlle
Thérèse Lévêque, a primeira diretora técnica do Instituto, proferiu a sua primeira
conferência, centrando-se nos objetivos e programa do Instituto (Instituto de Serviço
Social, 1936b, p. 4)73.
71 Vide em anexo M
72 Vide em anexo B
73 Vide em anexo B
74 Vide em anexo C
75 Vide em anexo E
Ilustração 6 - Visita do Dr. Mário Pais de Sousa (Ministro do Interior) ao Instituto de Serviço Social acompanhado por Dra. Dona
Maria Guardiola (à sua direta) e Condessa de Rilvas (à sua esquerda) a 20-02-1937. (Arquivo da Torre do Tombo
[PT/TT/EPJS/SF/001-001/0042/0158L])
Nesse diploma legal de 1939, ressalta, no seu artigo 1º, que a formação de
assistentes de Serviço Social se prende com a necessidade de proporcionar pessoal
técnico para os serviços públicos e instituições particulares dando, assim, corpo à já
referida decisão emanada pelo I Congresso Nacional, deixando claro que estas
diplomadas por escolas de iniciativa privada poderiam ser recrutadas para serviços de
assistência do próprio aparelho do Estado, ou para entidades privadas. Evidencia-se,
assim, que o estado corporativo se eximiu de criar ele próprio, escolas de Serviço
Social no ensino público, o que permite, com pertinência o questionamento sobre esse
facto.
[...] prestar provas perante um júri único, de três a cinco membros, nomeado pelo
Ministro da Educação Nacional, com intervenção de professores dos institutos e uma
delegada da Obra das Mães pela Educação Nacional” (Decreto-lei 30 135, 1939, p.
1404)76
76 Vide em anexo E
77 Encontra-se referência à venda em 1941 do Palácio do Mitelo por parte da Srª D. Maria Vitória de
Carvalho Daun e Lorena a D. Lídia Cabeça viúva do professor Dr. Custódio Cabeça, no artigo publicado
pela revista do ISSSL, Intervenção Social 2/3, intitulado “O palácio do Metelo” elaborado por Segismundo
Pinto (1985, p. 113). Neste palácio funcionaria, desde 1942 o Instituto de Serviço Social e posteriormente
o Instituto Superior de Serviço Social até 2006, ano em que transitou para a Universidade Lusíada de
Lisboa. D. Lídia Cabeça é uma das sócias fundadoras da Associação de Serviço Social, não se
descartando, portanto, a hipótese de que a compra deste palácio tivesse origem na vontade desta em
facultar instalações especificamente para o exercício daquela associação.
78 De acordo com este Alvará 263, de 24 Junho de 1939, em 12 de junho de 1969, o Instituto de Serviço
Social foi autorizado a mudar a sua denominação para Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa.
Ilustração 7 - Instalações do instituto de Serviço Social, Largo do Mitelo nº 1, 1945. (Arquivo do Instituto Superior de Serviço
Social de Lisboa, 1945)
O Instituto de Serviço Social estipula, então, como finalidade do seu projeto fundador
[...] conseguir a mais elevada concepção e organização da vida familiar e social por
meio de larga ação social de educação e de melhoramento das condições de vida nos
seus vários sectores”.
79 Vide em anexo M
Porém, só mais tarde em maio de 1948, foi aprovado pelo Ministro da Educação
Nacional o diploma de assistente social e no dia 9 de julho desse mesmo ano se
procedeu-se à
Nesta cerimónia, que foi presidida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, fizeram-se
representar o Ministro da Educação Nacional e os Sub-Secretários da Assistência e
das Corporações.
80 Vide em anexo M
81 Vide em anexo M
82 Vide em anexo M
83 Vide em anexo V
Ilustração 8 - Conexões do Instituto de Serviço Social com várias entidades. ([Adaptado a partir de:] Instituto de Serviço Social, 1945,
p.15 A)84
84 Vide em anexo M
A segunda carta, datada de março 1954, dizia juntar com notório atraso, as atas das
reuniões da Associação de Serviço Social de janeiro de 1953 e o relatório da atividade
do Instituto de Serviço Social de 1952, não perdendo a mesma diretora “ [...] a
oportunidade de agradecer a nomeação de Monsenhor Avelino Gonçalves para a
Associação de Serviço Social” (Instituto de Serviço Social, 1954b, p. 2)86, tratando-se,
tal como já foi referido anteriormente, de uma nomeação eclesiástica, prevista pelos
estatutos e que viria a preencher o cargo de consultor assistente. Esta informação é,
também, ratificada na ata da Assembleia de Serviço Social de 1955, dando conta de
que Monsenhor Avelino Gonçalves continuaria a ser o Reverendo Consultor
Assistente, esse ano (Associação de Serviço Social, 1955a, p. 1)87.
85 Vide em anexo AB
86 Vide em anexo AK
87 Vide em anexo AM
88 Vide em anexo R
89 Vide em anexo E – Decreto-Lei 30 135 de 14 de Dezembro de 1939. A este respeito chama-se especial
atenção ao avançado nos “Art.º 1.º- Pelo Ministério da Educação Nacional e dentro do quadro dos
estabelecimentos de ensino particular poderá ser autorizado o funcionamento de institutos destinados à
formação de assistentes de Serviço Social [...] § único. Ficam desde já autorizados para todos os efeitos
dêste decreto-lei desde que ao regime por êle estabelecido se sujeitem, o Instituto do Serviço Social e a
Escola Normal Social, existente em Lisboa e Coimbra respetivamente. [...] Art.º 3.º Os diplomas de
assistente de Serviço Social, com ou sem especialidade, poderão ser oficializados, a requerimento da
direcção dos respectivos institutos e sob parecer da Junta Nacional da Educação, desde que os planos de
estudo e os programas sejam conformes aos que por êste decreto-lei se estabelecem ou, em revisão
bienal, venham a substituí-los. [...] Art.º 5.º Mediante requerimento fundamentado e sob parecer da Junta
Nacional da Educação, poderão os institutos ser autorizados a criar cursos de especialização técnica [...]
A visão quanto ao futuro, nutrida pelo Instituto de Serviço Social em 1945, apontava
para a necessidade de uma maior expansão e de um crescente aperfeiçoamento na
formação de profissionais face aos repetidos apelos dos vários setores da vida
nacional os quais, se estenderam por todo o país, vinham a constituir-se numa rede de
Trabalho Social eficiente. Para levar a cabo esta tarefa seria necessário um conjunto
de medidas, entre elas: a instituição de bolsas de estudo, que facilitavam o ingresso
no curso a candidatas de meios menos abastados, a criação de um Lar, tornando
possível a vinda para Lisboa das alunas da província e a organização de uma
Artº 8.º O aproveitamento será em cada instituto anualmente verificado pelos respectivos júris de exame,
mas a concessão dos diplomas de cada curso dependerá de prestação de provas perante um júri único,
de três a cinco membros, nomeado pelo Ministro de Educação Nacional, com intervenção de professores
dos institutos e uma delegada da Obra das Mães pela Educação Nacional. Art. 9.º O Título de assistente
de Serviço Social é privativo das diplomadas nos termos dêste decreto-lei [...] ”.
90 Vide em anexo M
91 Vide em anexo M
O relatório de atividades de 1954 dá conta desta alteração orgânica, onde, a sua então
diretora, Maria Carlota Lobato Guerra, refere que
Começarei por falar das alterações da orgânica interna do Instituto, feitas no início de
1954 para melhor estruturação de todos os serviços, em virtude das quais ficaram
constituídos os dois sectores- da Escola e Actuação Social Directa e do Centro de
Estudos, coordenados e orientados pela Direcção Comum do I.S.S. […] Os resultados
fôram favoráveis. Obteve-se desta forma, pela separação das respectivas escritas e
registos e pela possibilidade de repartição de várias tarefas, maior facilidade de
administração e de direcção, útil autonomia dos serviços e leve descongestionamento
do trabalho (Instituto de Serviço Social, 1955, p. 2)93.
O trabalho da direção
Percebe-se nestes documentos da época, que existe uma clara revisão do projeto
educativo foi um facto e que a vigência do primeiro plano de estudos se aproxima do
fim. O principal trabalho da Direcção Comum em 1955, seria o estudo cuidadosamente
92 Vide em anexo M
93 Vide em anexo AL
94 Vide em anexo AL
95 Vide em anexo AS
96 Vide em anexo AS
Ilustração 9 – Elizabeth d’Albignac Bandeira de Melo (Condessa de Rilvas), S/ Autor.: Arquivo da Torre do Tombo
[PT/TT/EPJS/SF/001-001/0048/2652L]
Custódia Alves do Vale foi diretora do Instituto de Serviço Social ocupando esse cargo
por despacho do Ministério da Educação Nacional de 4 de Abril de 1946 através de
averbamento realizado de 8 de Abril de 1946 no Alvará 263 de 24 de Junho de 193797.
Do mesmo Alvará consta a cessação do exercício do cargo em 18 de Dezembro de
1950 tendo sido lavrado, nessa data despacho de substituição para a sua sucessora
Maria Carlota de Magalhães Lobato Guerra, cargo que exerceu durante quatro anos.
Em janeiro de 1949, o relatório de atividade do Instituto de Serviço Social para o ano
de 1948 já assinado por Maria Carlota Magalhães Lobato Guerra, dá conta da
97 Vide em anexo C
Maria Carlota de Magalhães Lobato Guerra (Cargo de Diretora entre 1950 - 1964)
Ilustração 10 – Ficha da aluna Maria Carlota Magalhães Lobato Guerra. (Arquivo do Instituto Superior de Serviço Social, 1938).
Pelo exposto se depreende que, Maria Carlota Lobato Guerra tomou em suas mãos a
direção do Instituto de Serviço Social muito antes do despacho de nomeação,
98 Vide em anexo V
99 Vide em anexo Y
Este sentido de formar um grupo de escol para todas as atividades do Serviço Social,
compreende uma direção já, anteriormente, analisada sobre a educação do Estado
Novo, onde se defende que o único esforço considerado viável neste domínio será,
mediante a preparação de um escol, formar a mente dos que lhe ficavam abaixo na
escala social. Neste contexto se aceitaria o objetivo de formar agentes de Serviço
Social iniciando neste campo um trabalho preventivo e de educação a partir das
instituições presente na sociedade portuguesa.
Para sua diretora técnica foi convidada Mlle Thérèse Lévêque à qual, mais tarde, se
vieram juntar Mlle Marie Huille e Mlle Geneviève Rouyer, diretoras de “Centros do
Instituto Familiar e Doméstico de Paris” para partilharem entre si os cursos
especializados da secção B (Instituto de Serviço Social, 1936b, p. 8)103.
100 Vide em anexo C – Alvará nº 263 produzido pelo Ministério de Educação Nacional em 24 de Junho de
1937, salientando os respetivos averbamentos realizadas a este Alvará nas datas supra referidas.
101 No decurso do processo de pesquisa foi localizado o esboço deste relatório que reporta à atividade do
Brasil, por exemplo, recorda Vieira (1955, p. 12) o programa dos primeiros anos era o
mesmo das escolas da França e da Bélgica. Porém, a Segunda Guerra Mundial veio
limitar as relações com a Europa e em concreto com esses países, obrigando o
próprio Brasil a ceder à propaganda dos Estados Unidos que, em paralelo, ofereciam
bolsas de estudo nas Escolas de Serviço Social americanas. Posteriormente, essas
mesmas alunas, uma vez profissionais, introduziam as técnicas americanas nas
escolas brasileiras.
Pela análise deste diploma percebe-se que os cursos de educação familiar, apesar de
terem sido estudados e experimentados pelo Instituto de Serviço Social, só terão sido
aprovados oficialmente até 1956 precisamente pelo Decreto-lei nº 40 678 de 10 de
Julho desse ano. Através desse diploma passam a poder funcionar, nas Escolas de
Serviço Social os cursos de, serviço social, de educação familiar e o curso normal de
educação familiar.
Esta aprovação obriga a que em Setembro desse mesmo ano através da Portaria nº
15 973 de 18 de Setembro106 se equipare o curso de educação familiar professado no
Instituto de Serviço Social de 1935 a 1950 ao curso normal de educação familiar a que
se reporta o Decreto-Lei nº 40 678, bem como o curso geral de educação familiar
professado pelo Instituto de Serviço Social de Lisboa de 1951 a 1955, ao curso geral
de educação familiar a que se refere este último diploma legal.
Das fontes consultadas, o plano de estudos do curso de assistente social tem desde o
seu início a duração de três anos. Esta duração permanece inalterável nos 16 anos
subsequentes, ou seja, até ao segundo plano de estudos aprovado em 1956 (Portaria
[…] onde se habilitem raparigas, até as de melhor condição, para exercerem junto de
fábricas, organizações profissionais, instituições de assistência e de educação coletiva
e de obras similares uma ação persistente e metódica de múltiplos objetivos –
higiénicos, morais e intelectuais -, em contacto directo com famílias de todas as
condições (Decreto-Lei 30135 de 14 de Dezembro de 1939, p. 1403)109.
Ainda, no âmbito da interpretação deste diploma legal podemos entender que será o
Ministério da Educação Nacional, dentro do quadro dos estabelecimentos de ensino
particular a autorizar o funcionamento de institutos destinados à formação de
assistentes de serviço social de modo assegurar a satisfação das necessidades de
pessoal técnico, tanto para serviços públicos como para instituições particulares que
se encontrem envolvidos, de alguma forma, com objetivos de educação e de auxílio
social.
Tabela 7 - Comparação dos planos de estudo nos anos 1936, 1939 e 1944
Iniciação ao funcionamento
prático do Serviço Social
Contabilidade Dr. Manuel Albernaz Contabilidade Sr. Viriato Almeida
Formação técnica
Dactilografia D. Maria Germana Soares
(compreendendo contabilidade
(Diplomada)
e dactilografia)
Formação técnica Dr. Artur Bivar Formação técnica Dr. Artur Bívar
Estágios Estágios Estágios
Dr. Padresca (Medicina Cirurgia Prof. Padresca
Hospital de St Marta Adultos) Medicina Prof. Pulido
Dr. Gentil (Cirurgia Pediatria Hospital de St Marta Prof. Gentil e Prof. Reinaldo
Adultos) Puericultura (numa creche) dos Santos
Prof. Reinaldo dos Santos
Hospital D. Estefânia Dr. Leite Lage (Medicina Hospital dos Capuchos Dr. Matos Chaves, Dr.
Infantil) Martinho Rosado
Creche Misericórdia e Puericultura Hospital da Estefânia Dr. Calheiros, Dr. Leite Lage
Júlia Moreira
2º ano
1936 1939 1944
Disciplinas Docentes Disciplinas Disciplinas Docentes
A vida física e as suas perturbações
(profilaxia)
Higiene social, ante-natal e do Dr. Manuel Vicente Moreira 1. Profilaxia, higiene e Higiene Social pré natal Dr.ª Custódia Alves do Vale
recém-nascido assistência social
Higiene Social do cancro Dr. M. Athias a) Pré -natal, natal e do recém- Higiene Social do Cancro Dr. M. Athias
Dr. Bénard Guedes nascido; Dr. Bénard Guedes
Dr. Loureiro b) Da infância Dr. Prates
Dr. João Magalhães c) Da idade escolar; Dr. Bacelar
Dr. Henrique Parreira d) Dos flagelos
Higiene social das doenças Dr. Gomes da Costa Higiene social das doenças Dr. Gomes da Costa
venéreas venéreas
Higiene social da 1ª idade Dr. Branca Rumina Higiene social Infantil Dr.ª Branca Rumina
Higiene social mental Dr. Vitor Moreira Fontes Higiene social escolar Dr. Vitor Moreira Fontes
Dr. Barahona Fernandes
Higiene social da tuberculose Dr. Daniel Sttau Monteiro Higiene Social da Dr. Daniel de Sttau Monteiro
Tuberculose
História da assistência Dr. Fernando Correia
Higiene e urbanismo Sr. Vasco Moraes Palmeiro Elementos de: Legislação sanitária Dr. Carlos de Arruda Furtado
Regaleira (Arquiteto a) Higiene e urbanismo Higiene e Urbanismo Eng.º Agnelo Prazeres
D.P.G.) b) Legislação sanitária
Higiene Social do alcoolismo Dr. Carlos Pinto Trincão Higiene Social do Alcoolismo Dr. Carvalho Marques
e Toxicomania
Filosofia Moral Dr. José Garcias (Padre) encíclicas que lhe dizem respeito Filosofia Padre Maurício dos Santos
Cultura religiosa (Continuação) Religião Padre Costa Lima
Serviço Social e seu funcionamento
3º ano
1936 1939 1944
Disciplinas Docentes Disciplinas Disciplinas Docentes
A) Aulas
A vida física e mental; suas
perturbações (continuação)
Higiene do trabalho Mlle Marie Thérèse 1- Profilaxia; higiene e assistência Higiene mental infantil Dr. Vitor Moreira Fontes
Lévêque social mental (infantil e de adultos) Higiene mental de adultos Dr. Barahona Fernandes
Prevenção dos 2- Profilaxia das doenças e Doenças e intoxicações profissionais Dr. Carvalho Marques
acidentes de trabalho intoxicações profissionais e outras;
Organização social das higiene e fisiologia do trabalho; Legislação do trabalho Dr. Macedo Santos e Dr. França
fábricas prevenção dos acidentes de trabalho Vigon
Doenças profissionais Dr. Arnaldo Almeida
Dias
Toxicomania Dr. Arnaldo de Almeida
Dias
Estudo da vida social (continuação)
Economia social Correia (Padre) 1- Economia, direito e
legislação do trabalho e
previdência
Direito penal e criminal Dr. Augusto de Oliveira 2- Noções de direito criminal e penal Direito Criminal Dr. Augusto de Oliveira
História da Assistência Dr. Fernando Correia 3- História e legislação da História da Assistência Dr. Fernando Correia
assistência
Num primeiro pilar de ensino teórico (designado como aulas) encara do ensino com o
desenvolvimento de quadro eixos fundamentais:
- Estudo da vida física e das suas perturbações (ano preparatório iniciação, 2º ano
profilaxia, no 3º ano) circunscrevendo a vida, à vida física à vida moral
Depreende-se do exposto que o plano de estudos tem como foco a atenção sobre o
indivíduo nas diferentes áreas de vida, a vida física, mental, moral, social, na tentativa
de construir, desta forma, uma visão integral da pessoa humana. Com esta visão são
ministradas disciplinas em diferentes áreas: área da medicina em concreto da
Medicina Social; na área do direito, ligadas ao ramo do Direito Constitucional, Civil,
Trabalho, Criminal e Penal; na área da filosofia ligadas ao domínio das ideias e à
Psicologia e disciplinas ligadas ao Serviço Social.
Interessante notar que, ao que designa disciplinas ligadas Serviço Social são
entendidas matérias onde se abordam noções de contabilidade e datilografia no ano
preparatório e, nos anos subsequentes, a ação social corporativa e sindicatos
nacionais. No último ano, matérias ligadas à organização social da indústria e higiene
industrial bem como organização agrícola. Este aspeto por si só apontará, por todo
este período, ausência de matérias ligadas aos fundamentos de Serviço Social e
portanto de embasamento da atividade prática de conhecimentos desta área
disciplinar.
Ilustração 11 - Assistente Social Maria Leonor Botelho e aluna (1943-1944). S/ autor. (Arquivo do Instituto Superior de Serviço
Social de Lisboa, 1943-1944)
Outra das ausências notadas neste plano é a Sociologia. De acordo com Adérito
Sedas Nunes (1988) a Sociologia era geralmente considerada inútil e abstrata e para o
regime era sobretudo perigosa, suspeita e subversiva. Salazar (1889-1970) terá
inclusivamente afirmado que se tratava de “um socialismo disfarçado” como algo
confuso que “ já no seu tempo não se sabia o que era” (Nunes, 1988, p. 37). Enquanto
nos Estados Unidos da América a Sociologia se ia afirmando tanto a nível institucional
como académico, em Portugal no período do Estado Novo, a Sociologia não era
reconhecida como ciência social117. Segundo Pereira (2007) a década de trinta, nos
anos da Segunda Guerra Mundial e do imediato pós-guerra, foram tempos de negação
do social e fragilizados do ponto de vista do campo universitário nacional, e o seu
retrato foi exclusivamente informado pelos critérios dominantes da doutrina
corporativa, a ideologia oficial do regime (2007, p.3).
117 Em Portugal, só a partir do final dos anos de 1950 se iniciou o esboço do pensamento sociológico
sistemático e a perspetivar uma prática sociológica concreta, pela ação, que resultou de uma pequena
abertura institucional admitida pelo regime totalitário do Estado Novo. Adérito Sedas Nunes foi o
protagonista maior nessa ação ao criar, com outros investigadores, a revista Análise Social (Pereira,
2007).
Todavia, mais tarde, em 1952, encontramos uma nova abertura e alusão ao tema da
Sociologia no relatório de atividade onde se refere que “Considerando quanto mais se
exige às Trabalhadoras Sociais, [...] e ainda a necessidade de despertar no nosso
meio o interesse pela Sociologia, dando conhecimentos seguros, organizou-se uma
Semana de Estudos consagrada a este assunto, que constituiu simultaneamente os
“Dias das Finalistas”. Sob o tema geral “Perspectivas Sociais em Portugal” visou-se
principalmente o estudo dos vários meios sociais do nosso país [...]” (Instituto de
Serviço Social, 1953, p. 8)118
[…] frisando como receava um estudo livresco e lhe parecia mais útil para a formação
das trabalhadoras sociais o aprofundar dos estudos de Serviço Social e a observação
prática da realidade (Associação de Serviço Social, 1954 a, p. 2) 121
Esta não era a posição partilhada pela diretora do Instituto de Serviço Social Maria
Carlota Lobato Guerra
Maria Carlota Guerra admite ter trocado impressões com o secretário do Instituto de
Alta Cultura Dr. Medeiros Gouveia, sobre a criação do Centro de Sociologia no
Instituto de Serviço Social e sobre o seu financiamento tendo-se este mostrado
favorável à iniciativa, sobretudo, atendendo às figuras dirigentes da Associação de
Serviço Social. Após longa discussão e face ao entusiasmo que os presentes
imprimiram à questão, Marcelo Caetano veio a não se opor a esta iniciativa. Ficou
decido nesta reunião a criação do referido Centro de Estudos optando-se por ficar
dependente da própria Associação […] sobretudo para que assim fosse possível obter
a subvenção por parte Instituto de Alta Cultura pode dar a Centros de investigação
científica e dada a conveniência de que ficasse a dirigi-lo um dos professores do
Instituto da Associação de Serviço Social (Associação de Serviço Social, 1954 a, p.
3)123
[…] tendo Marcelo Caetano proposto que fosse o Prof. Souza da Câmara. Este porém
protestou, insistindo para que fosse antes o Prof. Marcelo Caetano, Insistência a que
se associaram os outros professores presentes. O Prof. Marcelo Caetano acabou por
aceitar, ficando combinado que o assunto seria posto à aprovação da Próxima
Assembleia Geral (Associação de Serviço Social, 1954 a, p.3)
Tendo em consideração a formação social que vinha sendo ministrada pelo Instituto
de Serviço Social desde a sua criação, o Governo da República faz publicar a 14 de
Dezembro de 1939, através do já referido Decreto-Lei nº 30 135 o primeiro plano de
estudos, que determina que só poderá exercer com eficiência uma ação persistente e
de múltiplos objetivos dentro fábricas, organizações profissionais, instituições de
assistência e de educação coletiva e obras similares, quem possua, “[...] a par de uma
vocação natural uma mentalidade especialmente formada [...]” pelas escolas de
Serviço Social (Decreto-Lei nº 30 135, 1939, p.1403)124.
Neste diploma o Governo considera não ser possível alhear-se da formação destas
“obreiras” já que iriam trabalhar com famílias nos mais diversos meios, sobretudo com
famílias humildes e de cultura restrita, sendo necessário que estas não se possam “[...]
desviar do sentido humano, corporativo e cristão” (Decreto-Lei nº 30 135, 1939,
p.1403, 1404). Esta seria a razão pela qual se publicavam os princípios gerais de
orientação e coordenação a que se deveriam submeter os estabelecimentos de
educação para o Serviço Social, bem como se aprovava o plano geral de estudos e
programas. O objetivo desta formação consistia na realização de uma ação persistente
e metódica e com múltiplos objetivos, contemplando a formação de dirigentes idóneas
e responsáveis e simultaneamente conscientes e cooperadoras ativas da Revolução
Nacional (Decreto-Lei nº 30 135, 1939, p.1403).
Ilustração 12 - Alunas do 2º ano em estágio no Instituto Português de Oncologia (1947-1948)). S/ autor. (Arquivo do Instituto
Superior de Serviço Social de Lisboa, 1947-1948).
Neste projeto de proposta de lei nº 516, entendia-se que, decorridos dezasseis anos,
se verificava a necessidade de introduzir certas alterações ao articulado do referido
Decreto-Lei, no sentido de alcançar uma correspondência mais perfeita às exigências
de evolução social portuguesa
É, pois, nestes primeiros passos que, segundo Fernandes (1985) o Estado forte e
corporativo, não podendo ignorar as classes proletárias, vai atribuir uma extraordinária
missão e influência decisiva a estes profissionais. A esta função social acarinhada pelo
poder, de natureza marcadamente ideologico-política, contrapõe-se a abertura e
flexibilidade deixada ao ato complexo da formação. Trata-se, portanto, em seu
entender de uma autonomia relativa da formação face ao poder que se materializava
no exercício da profissão. Criado, pois, nestas circunstâncias sociais e políticas, o
ensino em Serviço Social só mais tarde “ [...] vai evoluir de uma formação de natureza
filosófica, jurídica e paramédica para uma formação que consente o seu lugar nas
ciências sociais” (Fernandes, 1985, p. 129).
Aulas e conferências
Disciplinas Professor Nº de aulas Exame final
Cozinha Maria Onélia Levy 30 aulas de 6horas Prático
Alimentação “ 15 aulas de 1 hora Escrito e oral
Remendar “ 15 aulas de 2 horas Prático
Corte Adriana Rodrigues 30 aulas de 3 horas Prático
Passar a ferro “ 12 aulas de 2 horas Prático
Metodologia da economia “ 25 aulas de 3 horas Escrito e oral
doméstica
Direito constitucional Dr. Marcelo Caetano ou Escrito e oral
Dr. Fezas Vital
Direito civil Dr. Paulo Cunha ou Escrito e oral
Pinto Coelho
Economia Política e Padre Abel Varzim Escrito e oral
social
Encíclicas “ Escrito e oral
Filosofia Padre Maurício ds Escrito e oral
Santos
Religião Padre Costa Lima Escrito e oral
Higiene e Urbanismo Eng. Agnelo Prazeres Escrito e oral
Conferências
Noções de higiene social Dr. Sttau Monteiro 2 Conferências
da tuberculose
Noções de higiene social Dr. Gomes da Costa 1 Conferência
das doenças venéreas
Fonte: Elaborado a partir de Instituto de Serviço Social, 1944b, anexo IV129
Aulas e conferências
Disciplinas Professor Nº de aulas Exame final
Cozinha Maria Onélia Levy 15 a 20 aulas de 6horas Prático
Corte Adriana Rodrigues 30 aulas de 3 horas Prático
Chapéus e Flores Maria Onélia Levy 25 aulas de 2 horas Apresentação
dos trabalhos e
Ornamentação do lar Adriana Rodrigues 25 aulas de 2 horas duma “obra
prima”
Moral profissional “ 10 aulas de 1,30 horas Escrito
Metodologia do ensino 12 aulas de 1h (teóricas) Escrito oral e
“
familiar 12 aulas de 1h (praticas) prático
Encíclicas Padre Abel Varzim
Filosofia Moral Padre Abel Varzim
Religião Padre Costa Lima
Conferências
Higiene Social do cancro Dr. Mark Athias
Higiene Social do Dr. Carvalho Marques
Alcoolismo
O problema da prostituição D. Mª Carlota L. Guerra
Organização do tempo livre D. Mª Leonor Botelho
Bibliotecas D. Mª Leonor Botelho
Fonte: Elaborado a partir de Instituto de Serviço Social, 1944b, anexo V131
Pela leitura das tabelas 8 e 9, torna-se claro que o plano de estudos do curso de
Educadoras Familiares, apesar de integrar disciplinas de natureza prática, envolvia na
formação conhecimentos ligados ao Direito, Economia Política e à Medicina, dá conta
igualmente de uma preocupação com a formação moral e social das alunas incluindo
disciplinas ligadas à Filosofia, Moral e Religião. Assinala-se como interessante a
disciplina de Moral profissional própria de uma visão corporativa. A formação das
alunas contemplava, ainda, encargos e trabalhos a pedido do professor bem como a
realização de visitas de estudo. Por fim e terminados os 3 anos do curso as alunas
deveriam realizar um estágio final de 90 dias, integrando 8h de trabalho diário em
“Educação Familiar”, no Centro Social do Instituto e apresentar o respetivo relatório.
132 Atualmente designada como Fundação Inatel, a Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT)
foi criada em 1935 com o objetivo de “criar as infra-estruturas destinadas às atividades culturais,
desportivas e recreativas dos trabalhadores e suas famílias, com vista a “um maior desenvolvimento físico
e moral”. Os “organismos corporativos da economia nacional, as grandes empresas e as próprias
entidades individuais com meios e condições para tanto” são instados a cooperar com o Estado para esse
fim. A ação da FNAT estendia-se a todo o território nacional por intermédio das suas delegações
(provinciais) e subdelegações (concelhias), competindo-lhes cooperar na avaliação de todos os assuntos
e na execução de todas as iniciativas. Nas freguesias rurais a FNAT era representada pelas Casas do
povo e Casas de pescadores. Os beneficiários da FNAT eram obrigatoriamente sócios de um dos
elementos da organização corporativista do trabalho: de um sindicato Nacional, de uma Casa do povo ou
Casa de pescadores; sendo que os Centros de Alegria no Trabalho (CATs) constituíam as estruturas de
base nas empresas. Nas zonas de residência urbana os Centros de Recreio Popular (CRPs) cumpriam
essa função” (INATEL, 2016)
[...] que se não conseguiu ainda apesar da importância evidente do problema [...] pois
o reconhecimento oficial do curso de Educação familiar é uma das mais antigas
aspirações da Direcção do I.S.S.” (Associação de Serviço Social, 1949, p. 8)136
Tal como podemos constatar, nesta tabela 11, pela natureza das matérias ministradas,
estas revestem-se de uma orientação dirigida para prática de atividades domésticas,
não deixando, apesar de tudo, de facultar às alunas momentos de prática
supervisionada através de estágios realizados na sede do Instituto de Serviço Social
em instalações especiais. Estas instalações especiais serão obviamente os Centros
Sociais que foram sendo criados o longo deste período, essencialmente com o
objetivo de proporcionar às alunas locais destinados ao exercício prático de
conhecimentos que adquiriram de forma mais teórica. O primeiro sabemos tratar-se do
Centro Social da Bempostinha fisicamente sediado em instalações anexas ao Instituto.
Desde 1936, que as alunas, desejosas por obter uma formação que as preparasse
para a sua futura missão de esposas e mães, poderiam ser admitidas para a
frequência livre de cursos teóricos escolhidos no programa geral e de cursos práticos
especiais, de cozinha e corte, aos quais se juntaria a partir de 1936/37 cursos de
139
remendos e passar a ferro (Instituto de Serviço Social, 1944b, anexo XVII [fl. 2]) .O
curso livre de Donas de Casa destinava-se especialmente às raparigas de classe
dirigente, possuía a duração de um ano escolar e não dava direito a diploma.
O curso era dividido em três partes: conferências, aulas práticas e aulas teórico-
práticas. As conferências em torno da “ A formação da mulher para a missão de mãe e
dona de casa” responsabilidade de Adriana Rodrigues, obrigava a assistir a 25
conferências de três horas cada, incluindo testes escritos e sua discussão. No domínio
das aulas páticas, eram tratados os temas de “Culinária” e “Alimentação” por Maria
Onélia Levy, sendo num número total de 25 aulas de 6h cada e, ainda, aulas práticas
de “Corte e arranjos de roupa”, por Adriana Rodrigues num total de 25 aulas de 3
horas. (Instituto de Serviço Social, 1944b, anexo X)140
Ilustração 13 – Aula do Curso de Donas de Casa (1943-1944). S/Autor. (Arquivo do Instituto Superior de Serviço Social de
Lisboa
Por último, eram facultadas noções gerais de remendos, trabalhos caseiros, passar a
ferro, economia doméstica, enfermagem caseira, higiene e puericultura da
responsabilidade de ambas as professoras, registada na ilustração 17 e 18, obrigando
a 25 aulas de três horas cada.
Ilustração 14- No Instituto de Serviço Social. Algumas alunas procedendo à confeção de doces em 20-02-1937. S/ Autor.
Arquivo da Torre do Tombo [PT/TT/EPJS/SF/001-001/0042/0160L]
Tabela 12 - As primeiras alunas a frequentar o Instituto de Serviço Social, nos anos letivos 1935-36 e 1936-37
Tal como podemos constatar pela leitura da tabela 12, no curso preparatório as alunas
dividiam-se em alunas ordinárias, voluntárias e para conferências. Após frequência
deste curso preparatório, as alunas enveredariam pelo curso de sua preferência. No
total dos dois primeiros anos letivos o Instituto de Serviço Social terá então formado o
número considerável de 134 alunas.
Ilustração 15 - Alunas do curso de Serviço Social (1943-1945). S/ Autor. Arquivo do Instituto Superior de Serviço Social de
Lisboa
Mais tarde, o relatório de atividade do ano de 1949 regista que, nesse ano, terão
concorrido 26 candidatas tendo apenas cinco feito o exame de admissão mas dessas
apenas uma veio a ser apurada. Este facto dá conta, efetivamente, do grau de
exigência na seleção das alunas. No Curso de Normal de Educação familiar houve,
nesse ano cinco candidatas, no entanto nenhuma delas satisfez as condições de
admissão levando a que a Direção do Instituto tivesse que decidir pela não entrada em
funcionamento do referido curso, a ter de prescindir do conjunto de condições que
considerava básicas e indispensáveis para a formação de boas educadoras familiares
(Instituto de Serviço Social, 1949b, p.3)142
No que respeita ao curso de Donas de Casa e apesar de se ter iniciado em 1936, este
foi organizado, como vimos, de forma mais sistemática só a partir de 1941/42, tendo
registado, as seguintes frequências:
Atendendo aos valores expostos na tabela 13, a partir do ano letivo 1941/1942 até
1943/44 a frequência destes cursos conta com uma franca adesão, registando um
forte aumento justificando a aposta no projeto educativo realizando em revestir a
formação com um caráter mais sistemático.
Instituto de Serviço Social tem as suas origens ligadas à própria transformação social
do século XX, manifestamente com o objetivo de corresponder a necessidades de
formação profissional das assistentes sociais exigida pela criação de múltiplas
organizações de caráter social, à semelhança do que acontecia nas obras congéneres
de outros países. A organização moderna da sociedade criava em todo o mundo
circunstâncias sociais novas que surgiam das necessidades impossíveis de satisfazer
na sua plenitude pelos métodos de educação e do bem-estar mais antigos.
De acordo com Maria Carlota Lobato Guerra, o Instituto tem as suas origens ligadas à
própria transformação social do século XX, manifestamente com o objetivo de
corresponder a necessidades de formação profissional das assistentes sociais exigida
pela criação de múltiplas organizações de caráter social, à semelhança do que
acontecia nas obras congéneres de outros países (Instituto de Serviço Social, 1957a,
p.2)150. A organização moderna da sociedade criava em todo o mundo circunstâncias
sociais novas que surgiam das necessidades impossíveis de satisfazer na sua
plenitude pelos métodos de educação e da forma bem-estar mais antigos.
A situação do país também assim o exigia, afirma Guerra (Instituto de Serviço Social,
1957a, p. 2)151. Se nos meios rurais e de província a ação de amparo, guia e estímulo
era exercida por um sistema patriarcal do “serviço do povo”, isto é, pelas melhores
famílias que iam sendo cada vez menos, nas cidades, onde o desenvolvimento tinha
Para o Professor Barahona Fernandes152, em 1941, sob pena dos mais graves
malefícios, o papel dos assistentes sociais e educadores familiares seria fundamental,
sendo que as suas funções tão variadas e complexas não se podem improvisar. Estas
requerem uma longa e vasta preparação de matérias de Medicina, Higiene, Psicologia,
Economia, Sociologia e muitas outras que constam no programa do curso do Instituto
de Serviço Social. Mas saber formar uma assistente social não basta é necessária
uma “verdadeira vocação humanitária, um entusiasmo ardente e dedicação extremada
à causa dos desprotegidos e desfortunados” (Fernandes, 1941, p. 10)153. Em seu
entender, esta profissão, especificamente feminina e integrada na orgânica social
moderna, nada deve ter de mercenária ou burocrática mas ser assente num real
apostolado de ação caritativa e humanitária, organizada e inteligente que a torna numa
profissão livre, plena de nobreza e elevação moral.
O aperfeiçoamento geral do curso é tema eleito pelo relatório de 1947, que assinala
ter sido decidido na Assembleia Geral da Associação de Serviço Social de 1946
constituir-se um “Conselho Pedagógico formado por professores dos vários sectores
do ensino ministrado no Instituto de Serviço Social” tendo-se até essa data (1947)
reunido três vezes “para apreciação de diversos assuntos, nomeadamente das
condições de admissão do ISS, tendo-se verificado já ser muito proveitosa a sua
acção” (Instituto de Serviço Social, 1948a, 3)154.
152 Dr. Henrique João de Barahona Fernandes (1930-1946) – manteve a regência, iniciada em 1937, do
curso de Higiene Mental do Instituto de Serviço Social, com trabalhos práticos na consulta externa e
elaboração de inquéritos sociais. Segundo refere o seu III Curriculum Vitae (Fernandes, 1946) foi a partir
do trabalho de instrução das assistentes sociais e de ação social psiquiátrica, feito em conjunto com a
higiene mental infantil, sob a direção do Prof. Vitor Fontes, que se tornou possível a criação do primeiro
dispensário de Higiene Mental, em 1942, no Hospital de Júlio de Matos e concomitantemente se
formaram as primeiras assistentes sociais que começaram a trabalhar neste campo. Constata que a
experiência dos três primeiros anos de atividade veio demonstrar a viabilidade deste processo dando
bases para a diferenciação, promulgada pela reorganização da assistência psiquiátrica dos dispensários
de Profilaxia e Higiene Mental, anexos aos Centros de Assistência Psiquiátrica.
153 Vide em anexo G
154 Vide em anexo R
entrada neste estabelecimento de ensino, visto ter sido alargada a isenção de exame
a todas as candidatas que possuam o curso completo dos liceus, o curso de
professora primária ou equivalente. O exame de admissão constituíra-se apenas
obrigatório ”[…] para as candidatas com cultura equivalente ao 3º ciclo do curso liceal”
(Instituto de Serviço Social, 1948a, p. 3)155.
Estas novas alterações nas condições de admissão não puderam ser adaptadas de
imediato já que dependiam de alterações a realizar ao Decreto-lei inicial 30 135 de 14
de Dezembro de 1939 e relativo, como já se referiu, ao reconhecimento oficial do
curso, o que terá obrigado a enfrentar algumas medidas de natureza pedagógica.
[…] primeiro pela já citada troca de impressões entre a sua Direcção e uma das
monitoras do I.S.S. acerca da desejada alteração do decreto-lei que oficializou o cursos
e as duas escolas, e depois pela vinda a Lisboa da Direcção e alunas da Escola
Normal Social” (Instituto de Serviço Social, 1949a, p. 4)161.
Estes fatos denunciam a intenção séria em assumir a questão da admissão das alunas
bem como o aperfeiçoamento do ensino, como duas variáveis centrais neste projeto
educativo.
Outra ameaça é identificada pela então diretora do Instituto, em 1948 (Dr.ª Custódia
do Vale). Uma vez que se estariam a fundar em vários pontos do país, escolas de
auxiliares sociais anexas a escolas de enfermeiras ou independentes, como seja, em
Castelo Branco, Coimbra, dentro em breve será tarde de mais para obter uma “boa
planificação do trabalho social “.A direção insiste que a solução apontaria para a
implementação do projetado Comité ou Comissão Nacional de Serviço Social, cujas
funções poderiam compreender ou efectivar tal planificação, no entanto alguns dos
membros da Associação consideram o assunto melindroso e delicado pois, se são
conhecidas as vantagens e as possibilidades os
[...] inconvenientes poderiam também ser reais caso esta não tivesse uma composição
equilibrada e neutral, com representação doseada das diferentes actividades e
Mais tarde em 1952, outra ideia considerada de grande interesse para este projeto
educativo foi proposta pelo professor Sousa da Câmara, e que defendia “que se
criasse um corpo de estudiosas que no Centro de Estudos do Instituto de Serviço
Social, se dedicasse a fazer os trabalhos pedidos, a aprofundar a técnica do Serviço
Social, e a servir de agentes de ligação que amparassem as “antigas” nos vários
sectores de trabalho onde pelo país fora se encontram, treinando-se, assim, para a
sua futura missão de professoras e monitoras do I.S.S.” (Associação de Serviço
Social, 1952, p. 3)167. Estes “trabalhos pedidos” como veremos mais adiante, são
trabalhos solicitados por variadas organizações sociais ao Instituto de Serviço Social
por se considerar existir aí os profissionais especializados em Trabalho Social. Ora,
esta proposta defende ao que se julga, a complementaridade do projeto educativo ou
seja a ideia de que a escola é produtora de profissionais especializados no Trabalho
Social para atuar na sociedade no entanto a formação e o treino dos professores e
monitores não pode estar desconectada dessa realidade social e é ela mesma que
terá um papel de moldar a formação dos próprios profissionais
Ilustração 16 - Alunas na Biblioteca do Instituto de Serviço Social (1943-1944). S/ Autor. Arquivo do Instituto Superior de
Serviço Social de Lisboa
Estes pedidos dão corpo a atividade do que foi constituído como Centro de Estudos do
Instituto. Na tabela 15, que se segue, poderemos consultar a natureza dos pedidos
efetuados, são eles:
Tabela 15 - Pedidos de Trabalho Social realizados ao Instituto de Serviço Social nos anos de 1944, 1947, 1949 e 1953
Num olhar atento sobre os pedidos de Trabalho Social que foram dirigidos ao Instituto
de Serviço Social no período em análise, poderemos concluir o peso significativo das
solicitações provenientes do setor fabril e de bairros operários e no reforço da
atividade social nos organismos corporativos. São solicitações que respeitam, tal como
se pode verificar, a colaborações no domínio da organização e reorganização do
Serviço Social ou da ação social desenvolvida no sentido de harmonizar as relações
sociais na empresa e de assistência ao trabalhador e à sua família. As solicitações nos
últimos anos representados na tabela respeitam à cooperação com serviços de
assistência e organismos de expressão internacional como seja a FAO (Food and
Agriculture Organization of the United Nations), Comissão de Cooperação Técnica da
Africa ao Sul do Sahará e a União Internacional dos Organismos Familiares.
Ainda, nesta área, poderemos ainda encarar o esforço realizado em 1947 por algumas
assistentes sociais e educadoras familiares em realizar resumos de artigos publicados
com o objetivo de “tirar o máximo rendimento e ainda manter as trabalhadoras sociais
ao corrente dos problemas de carater social e educativo que se debatem
presentemente no nosso país e no estrangeiro” (Instituto de Serviço Social, 1948, p. 6)
atividade que denominou a “Revista das Revistas”177. Regista-se esta atividade até
pelo menos 1954, mantendo-se com a colaboração das “Trabalhadoras Sociais da
Casa e as Estagiárias Finais” (Instituto de Serviço Social, 1955, p. 7)178.
organismos que poderiam recorrer a esta forma de ação (Instituto de Serviço Social,
1953, p. 1)184
Ilustração 17 – Educadora familiar Lucinda Abrantes (em pé, ao lado da máquina de costura numa consulta no Centro Social. S/
Autor. Arquivo do Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa
O relatório, do ano de 1950, refere que o Centro Social da Bempostinha, o mais antigo
contava já “ [...] com os seus 8 anos de trabalho [...] notando-se melhoria crescente
nas suas actividades e aspirações” (Instituto de Serviço Social, 1951, p. 5)187
Tabela 16 - Atividades desenvolvidas nos Centros Sociais do Instituto de Serviço Social nos anos de 1943, 1947, 1948 e 1949
Fonte: Elaborado a partir de Relatórios e Atividades (Associação de Serviço Social, 1944, p. 2)188, (Instituto de Serviço Social, 1948a,
p.11 )189, (Instituto de Serviço Social, 1949b, p. 8, 9)190, (Instituto de Serviço Social, 1949a, p. 9)191
Ilustração 18 – Assistente Social Maria das Neves Fernandes Duarte recebendo a Sr.ª Maria Morais na sala do Centro Social
(1944-1945). S/ autor. Arquivo do Instituto de Superior de Serviço Social de Lisboa
“Devo porém frisar que, apesar da boa vontade de todos os vários serviços que
acolhem as nossas estagiárias, a Direcção do Instituto de Serviço Social voltou a sentir
este ano ainda com maior acuidade o inconveniente dos estágios finais não se
efectuarem sempre em serviços nossos e sob orientação das monitoras da casa, o que
veio reforçar mais ainda a necessidade da creação do novo Centro Social do Instituto
de Serviço Social [...] ” (Instituto de Serviço Social, 1949a, p. 3)
A obra iniciada nestes dois Centros Sociais do Instituto de Serviço Social era
completada por mais dois Centros Sociais, não pertencentes ao Instituto mas onde
trabalhavam monitoras e estagiárias, designadamente o Centro Social do Menino
Deus, pertença do Patriarcado de Lisboa e ocupado pelas Irmãs de São José de Cluny
(Instituto de Serviço Social, 1954a, p. 8)198 e na Obra Social de Alfama, de iniciativa
paroquial, “onde as nossas Trabalhadoras Sociais atendem as famílias das duas
freguesias de Stº Estevão e de S. Miguel” (Instituto de Serviço Social, 1951, p. 6)199.
Menino
Centros Sociais Bempostinha Beato Alfama
Deus
196 A ata sugere a leitura da correspondência entrada no I.S.S. a 5 de Março de 1952 e consultar o registo
de correspondência J/439
3
197 Vide em anexo AF
198 Vide em anexo AI
199 Vide em anexo Y
200 Vide em anexo Y
Pela análise da tabela 17, se compreende a forte atividade social realizada por estes
Centros Sociais, sobretudo o Centro Social da Bempostinha que, tendo realizado a
sua abertura quase em simultâneo ao Instituto de Serviço Social, contava, em 1950,
com aproximadamente 15 anos de atividade. As respostas sociais dirigidas à
comunidade, a avaliar pelo número de registos apresentados, denunciam um impacto
considerável para as comunidades onde se encontram integradas, dando corpo ao
projeto educativo do Instituto de Serviço Social enquanto estrutura de ensino prático
com implantação no território e de atividade direcionada para a intervenção
comunitária.
Com base neste mesmo ano de referência, as atividades educativas no Centro Social
da Bempostinha contaram com a presença de 1 309 presenças de raparigas e 15 603
de rapazes “ [...] são os novos os grandes obreiros da educação da massa pela
colaboração inteligente e entusiasta sempre prestada aos Trabalhadores Sociais do
Centro” (Instituto de Serviço Social, 1951, p. 6)201.
Em 1952, apresentação dos dados estatísticos relativos aos movimentos desses três
Centros Sociais foram reunidos na tabela 18 os seguintes:
Tabela 18 - Movimentos dos Centros Sociais do Instituto de Serviço Social, no ano de 1952
Presença de
11821 10 397 703 214 - - 12524 10611
rapazes
Presença de
3957 3241 107 8300 - - 4064 11541
raparigas
Movimento de
livros nas 1645 1245 115 98 - 1760 1343
bibliotecas
Fonte: Elaborado a partir dos Relatórios de atividade dos anos de 1952 e 1953 respetivamente (Instituto de Serviço Social, 1953, p. 7)203
(Instituto de Serviço Social, 1954a, p.9)204
[...] pelo aluguer de uma loja situada por baixo de parte da casa, medida esta que
constitui pesado sacrifício económico, mas que foi determinada pela necessidade de
obstar a que tal loja fôsse, como parecia inevitável, alugada a outra entidade de cuja
vizinhança havia justificados receios” (Instituto de Serviço Social, 1954a, p. 8)207.
O Instituto conclui deste alargamento melhores resultados, já que foi possível uma
maior influência educativa entre os frequentadores do Centro.
Tal como se viu em capítulos anteriores, os Centros Sociais, que tiveram origem no
trabalho do casal Barnett a partir da observação das distâncias sociais e da
incapacidade dos menos favorecidos, de reagirem construtivamente sozinhos,
definiram-se como um meio humano de operar a aproximação de classes e o
enriquecimento mútuo, através de uma ação de dar e receber, considerando que só
um conhecimento real seria capaz de suprir as deficiências humanas e sociais do meio
onde estiver localizado. Multiplicados por vários países, são lançados neste período
como recurso da organização social, sendo considerados como Centros Sociais na
época as organizações que possuam três características essenciais: possuam lugares
abertos permanentemente e destinados a receber as famílias, nas suas dificuldades,
sem distinção de condições políticas, religiosas ou sociais; procurem dar robustez a
família e por ela estender sua atividade, a todos os seus membros: crianças, jovens e
pais e que possuam um espírito de solidariedade, um fim educativo e recreativo e
procurem o melhoramento físico, moral e social dos que o frequentam (Oliveira, 1955,
p. 14).
precedente que a todos muito alegrou” (Associação de Serviço Social, 1954b, p. 2) 210.
Depreende-se do exposto tratar-se de uma ação que se deseja de continuidade.
Referindo-se ao facto como a “primeira residente” pressupõe-se a intenção daquela
Associação de Serviço Social em promover uma ancoragem e enraizamento dos
Centros Sociais na sociedade portuguesa. De resto, são estruturas que ainda
compõem a atualidade organizacional e cumprem um papel social fundamental.
O relatório de atividade de 1947 aponta o ano de 1943 como o ano em que se criara
um Lar destinado sobretudo às alunas da província, com o intuito de “ [...] melhor
exercer a sua actuação educativa junto das alunas [...] “ (Instituto de Serviço Social,
1948a, p. 9)211 Contudo, neste relatório, avalia-se a este propósito que não foi de todo
possível tirar deste Lar aquele rendimento educativo que se esperava e julgou a
Direção de não continuar esta atividade que se traduzia numa pesado encargo para a
instituição.
Em 1944, e ainda nesta sequência, foi dirigido um apelo, sobre a situação económica
do Instituto por um conjunto de signatários216, ao Ministro da Educação Nacional
alertando que esta obra ficaria perdida se os poderes públicos não estendessem um
apoio financeiro. “A situação económica que foi sempre má, está a tornar-se
desesperada, e o instituto terá de cerrar as suas portas se aquele auxílio financeiro
não fôr dado [...] ” acrescentam que
da Obra das Mães pela Educação Nacional justifica-se “em virtude deste organismo recrutar técnicas dos
seus Centros de educação entre as diplomadas do I.S.S.”
Receitas Despesas
Esta situação é, aliás, confirmada por outro documento (Instituto de Serviço Social
suas dívidas, 1944a, p.1)222, onde se apresenta um transporte de dívidas desde 1943,
dívidas essas essencialmente para o Cardeal Patriarca (englobando divida para com a
Ação Católica e empréstimos de dois anos, respetivamente 1943 e 1944), e ainda para
com a Condessa de Rilvas, bem como rendas em atraso e regresso a França de Mlle
Lévêque223. O Patriarcado de Lisboa e a Direção do ISS, na pessoa da Condessa de
Rilvas são consideradas, portanto, as figuras que se distinguem grandemente como
benfeitores sem as quais não seria possível manter este projeto educativo (Instituto de
Serviço Social, 1945, p. 17)224.
220
Em 1945 a mensalidade no instituto rondava os 125$00 (Instituto de Serviço Social, 1945, p. 19, cf.
anexo M)
221 Vide em anexo M
222 Vide em anexo J
223 Não se tornou possível apresentar o respetivo somatório já que este se encontra incorreto.
224 Vide em anexo M
225 Vide em anexo T, p. 2
226 Vide em anexo AE, p. 12
227 Vide em anexo T, p. 2
228 Vide em anexo AE, p. 12
mencionada ainda como uma “velha dívida” no relatório de atividade do ano de 1947
(Instituto de Serviço Social, 1948a, p. 16)229
Em 1947, para além dos subsídios da Obra das Mães pela Educação Nacional são
referidos outros subsídios importantes e que consubstanciam a relação estabelecida
com os diferentes ministérios. Desta feita, contava-se com
Este último aspeto dá conta de outra importante característica deste projeto educativo
e que respeita às bolsas de estudo das alunas com maiores dificuldades.
Quantias
Rubricas
Orçamentadas Recebidas
Escola e Centros Sociais 374.648$75 381.840$00
Escola 130.000$00 129.060$00
Receitas escolares 100.000$00 88.810$00
Subsídios da OMEN 30.000$00 30.000$00
Empréstimos - 10.250$00
Centros Sociais 244.648$75 252.780$00
Donativos para o Centro Social do Beato 4.540$00 5.040$00
Venda a favor dos Centros Sociais 3.648$75 -
Donativos 12.460$00 11.740$00
Subsídios do Ministério das Corporações e 200.000$00 200.000$00
Previdência social
Subsídio do Ministério do Interior 24.000$00 36.000$00
Direção e Centro de Estudos 115.351$25 114.681$25
Saldo do ano anterior 351$25 351$25
Subsídio do Patriarcado de Lisboa 20.000$00 20.000$00
Subsídio da Associação de Serviço Social 2.000$00 1.830$00
Subsídio do Ministério da Educação Nacional 90.000$00 90.000$00
Dividas ativas 3.000$00 2.500$00
Total 490.000$00 496.521$25
Fonte: Elaborado a partir de Breves notas sobre a sua atividade no ano de 1953 (Instituto de Serviço Social, 1954a, p.11)232
No que concerne às despesas, estas poderão ser analisadas a partir do quadro que
em seguida se apresenta:
Quantias
Rubricas
Orçamentadas Recebidas
Escola e Centros Sociais 369.460$00 381.865$75
Escola 125.972$00 136.881$85
Pessoal 103.323$00 114.713$20
Material 6.500$00 9.130$00
Serviços e encargos diversos 16.148$00 13.038$65
Centros Sociais 244.448$75 244.983$00
Centro Social da Bempostinha 155.778$00 153.335$30
Pessoal 83.778$00 79.385$00
Verba atribuída pela Direção 72.000$00 73.950$00
Centros Social do Beato 48.710$00 76.156$40
Pessoal 72.710$00 41.156$40
Verba atribuída pela Direção 24.000$00 31.000$00
Centro Social do Menino Deus 15.000$00 15.492$00
Pessoal 13.800$00 13.980$00
Verba atribuída pela Direção 1.200$00 1.512$00
Direção e Centro de Estudos 120.540$00 114.647$50
Pessoal 98.440$00 89.533$80
Instalações 19.000$00 19.295$70
Biblioteca 1.500$00 2.308$10
Estudos em Meios Rurais 800$00 582$30
Dias das finalistas 800$00 2.927$60
Total 490.000$00 496.513$25
Fonte: Elaborado a partir de Breves notas sobre a sua atividade no ano de 1953 (Instituto de Serviço Social, 1954a, p.12)233
São vários os panoramas que podemos inferir do confronto das tabelas, em epígrafe.
Relativamente ao ano de 1953 verifica-se haver um equilíbrio quase perfeito entre o
global das receitas e despesas sendo, respetivamente, 496.521$25 e 496.513$25,
deduzindo-se uma pequena diferença entre ambas de, apenas, 8 escudos. Observa-
se, deste modo, existir preocupação e elevado rigor em matéria de gestão orçamental.
Mães pela Educação Nacional e aos Centros Sociais, por seu turno, os subsídios dos
Ministérios das Corporações e Previdência Social e do Interior e por último afeto à
Direção e aos Centros de Estudo o subsídio do Patriarcado de Lisboa, o subsídio da
Associação de Serviço Social e do Ministério da Educação Nacional.
Congresso de ciências
agrárias apresentação de
1944
estudo acerca das
industrias Caseiras
Paris Enviada comunicação sobre
Congresso “La Mére as condições sociais da
Abril /1947
– Ouvrière de mulher em Portugal
Progrès Humain”
Lucerne Congresso
da União Católica
Internacional de
Serviço Social
Setembro/1947 Paris Congresso das Maria Carlota Lobato Guerra
Escolas de Serviço Isabel Maria Ataíde
Social
Paris – Reunião
Internacional dos
Centros Sociais
Lisboa A Secretária Geral do
Bureau, da Union Catholique
Internacionale de Service
Junho/1949
Social. Mlle Baers, realizou
uma palestra sobre os fins
daquela organização
Roma Maria Nazareth Palhinha,
Setembro/1950 Isabel Maria Atayde e Maria
Carlota Lobato Guerra
Nápoles Reunião da Federação
Internacional dos Centros Maria Helena Trigo
1954
Sociais
Fonte: Elaborado a partir de Acta da Assembleia geral da Associação de Serviço Social (Associação de Serviço Social, 1944, p. 2) 236 o
Relatórios de actividade do ISS, (Instituto de Serviço Social, 1948a, p. 8 )237 (Instituto de Serviço Social, 1951, p. 5)238
[…] conhecer escolas sociais e métodos de formação usadas noutras nações; visitar
obras sociais e organizações sociais através das quais se pudessem apreciar possíveis
diferenças ou aperfeiçoamento na técnica do trabalho social (Instituto de Serviço
Social, 1947, p. 1).
[...] quando ainda não se tomou verdadeiramente contacto com os problemas sociais
do seu país, e quando a maturidade de espírito ainda é necessariamente incompleta,
ela seja posta em contacto tão íntimo com os problemas e a mentalidade de países
estranhos (Instituto de Serviço Social, 1947a, p. 4)243.
242 Interessante verificar que nos anos 40 já se desenvolviam programas de mobilidade internacional de
alunos.
243 Vide em anexo O
[...] assustador o aumento de certos males sociais, como, por exemplo, a delinquência
infantil, originada pela em parte pelo afastamento de casa, das mães obrigadas a
trabalhar, e o esforço feito em todos os países para acudir a essas muitas misérias
nascidas do descalabro social (Instituto de Serviço Social, 1947a, p. 5)246.
É, precisamente, esse esforço tão necessário que exige o abandono por parte do
Serviço Social de atividades mais “construtivas” e “educacionais” e que no entanto
constituem a sua essência, obrigando a tarefas meramente assistencialistas,
frequentemente “… paliativos indispensáveis, não constituem, no entanto, solução
para os casos familiares, nem contribuem para o progresso social” (Instituto de Serviço
Social, 1947a, p. 6)247.
Nesta conferência, Portugal intervém através do discurso proferido por Maria Carlota
de Magalhães Lobato Guerra, assistente social do Instituto e Serviço Social, que a
título pessoal entende que Portugal, pese embora não tenha tomado parte neste
recente conflito, tem problemas específicos neste tempo de guerra na medida em que
tem sentido graves repercussões designadamente retardando a aplicação de medidas
de ordem social para a solução de numerosos problemas, como sejam, a habitação, a
saúde pública e o progresso da indústria e da agricultura. Acrescenta, que o Serviço
Social desde o seu surgimento em 1935 tem-se dedicado a trabalhar nas mesmas
diretivas, cooperando com a formação integral das famílias e dos indivíduos no sentido
de obter a recuperação económica e social.
Neste domínio e, em seu entender, a família e os seus direitos foram protegidos pela
Constituição de 1933 e por um conjunto de outras leis entre as quais foi assegurada a
constituição do “Bem de família” (Instituto de Serviço Social, 1947, Anexo VII248), a
criação do Instituto da Família, a aplicação de convenções coletivas de trabalho pelos
seguros sociais e subsídios familiares e, a lei da assistência onde se define o seu
caráter preventivo e se estimula a iniciativa privada.
De acordo com Guerra (1946) o Serviço Social em Portugal mantém-se fiel à mesma
matriz ou seja a
estudo de 1946 foi também aproveitada para visitar um conjunto de obras médico-
sociais252 e obras de recuperação de delinquentes253 e fabricas254
A escolha aos Centros Sociais para visitar seriam aqueles que despertavam até mais
interesse na medida em que se toma “[...] esta forma de Serviço Social como sendo
aquela que mais se harmoniza com as características e necessidades do meio
português” (Instituto de Serviço Social, 1947a, p. 25)255. Porém, este meio de atuação
não seria comum pelo que a sua visita ficou circunscrita a uma visita em Bruxelas e
outra em Paris.
252 Obras médico-sociais tais como:- Ouvre Nationale de l”enfance em Bruxelas e École en Plein Air
Roger de Grimbergue em Rixensart, (Bélgica);- Home d”enfants et ècole privée Bergconne” Gstaad,
Oberland Bernois (Suiça);- Les Noisetiers (Suiça);- Hôpital de Saint Pierre (Bruxelas);- Hôpital de Côchin
(Paris); - Station- ècole de Réeducation et Aprentissage e sanatório “Les Bruyéres” – Charleroi (Bélgica);-
Clínica para Crianças Deficientes – Antuérpia (Bélgica);- Institut Medico- Pedagogique ste Elisabeth –
Rixensart- (Bélgica); - Institut Salva Mater (Bélgica)
253 Obras de recuperação de delinquentes, tais como: Ètablissement Central d”Observation – Mol –
Bélgica (Instituto de Serviço Social, 1947, p. 18); Prisão- escola – Hoogstraeten – Bélgica - (Instituto de
Serviço Social, 1947, 20); Aumônerim des Prisons – Paris (Instituto de Serviço Social, 1947, p. 18).
254 Fábricas tais como: “Trefilerie Beka” e “Cervejas Vandenheuvel” – Bruxelas (Instituto de Serviço Social,
1947a, p. 23)
255 Vide em anexo O
Em Paris, a residência social “Maison Sociale de Saint Denis” foi criada por idealismo
generoso de Mlle. Marie Jeanne Bassot e possuía um corpo de assistentes sociais
residentes. A missão destas profissionais consistia em
[…] acolher a toda a hora quantos ali queiram ir solicitar auxílio, informação ou
conselho amigo, em manter num constante esforço de adaptação às necessidades e
aspirações do meio, aquelas atividades que pareçam necessárias ou úteis ao seu bem-
estar aperfeiçoamento, em desenvolver entre todos o espírito de vizinhança e
colaboração leal (Instituto de Serviço Social, 1947a, p. 26)256.
como forma de difundir o seu ideal e o seu espirito bem como, a fundação de novos
Centros.
O Serviço Social, enquanto disciplina com espaço de reflexão teórica sobre a vida
social, sobre as necessidades sociais e sobre o modo de satisfazê-las define-se, em
função de um objeto e natureza, objetivos e fins. No seu seio apresentam-se modelos
teóricos e referências sobre trabalho realizado, abordam-se métodos, descrevem-se
campos de intervenção dos profissionais, fomentam-se debates e discussões.
Sobre este tema são duas das questões sobre as quais importa refletir. Por um lado,
sobre os organismos ou agentes prestadores de serviços mais concretamente aos
locais institucionais onde as assistentes sociais desempenhavam a sua atividade após
conclusão do seu curso e, por outro, sobre os setores de intervenção, por referência
aos coletivos humanos, para os quais ou com os quais se realizam determinadas
atividades ou se oferecem certas prestações ou serviços.
Neste ano, o autor, refere existir no total 146 assistentes sociais e educadoras
familiares e mais 900 visitadoras e outras auxiliares do Serviço Social, número que
deve incluir o Instituto de Serviço Social de Lisboa e Escola Normal Social e Coimbra,
Instituto Superior de Higiene Dr. Ricardo Jorge e restantes escolas.
Em 1955, das 18 alunas que terminaram o curso, apenas, iniciaram a sua atividade
profissional16. A tabela que em seguida se apresenta, tabela 21, realiza uma
distribuição das alunas recém-formadas por instituições empregadoras.
Instituições Nº de alunas
Obra das Mães pela Educação Nacional 4
Instituto de Assistência à Família 2
Bairros Municipais de Lisboa 2
Cruz Vermelha Portuguesa 1
Empresas 2
Hospital da Misericórdia do Porto 1
Centro Social e Paroquial em Moscavide 1
Escola de Educação Familiar em Gouveia 1
Obra da regeneração na Amadora 1
Instituto de serviço Social – Sector Rural 1
Total 16
Fonte: Elaborado a partir do Relatório de Atividades nos anos de 1955 e de 1956 (Instituto de Serviço Social, (1957, p. 11) 262
De salientar na leitura da tabela 24 a Obra das Mães pela Educação Nacional que
apesar das diversas ligações que possuía com este projeto educativo acresce a de
entidade empregadora das profissionais recém-formadas.
Como vimos, projeto educativo do Instituto de Serviço Social era complementado, nas
suas vertentes escolar, cultural e de ação direta pela organização profissional das
trabalhadoras sociais sendo tal fato mencionado na ata da Assembleia da Associação
de Serviço Social (Associação de Serviço Social,1944, p.2)264 assinalando o ano de
1943 como o ano inicial dessa organização, contando a Associação de criar em breve
o respetivo sindicato.
Porém, como nota última, refere-se o esforço deste projeto educativo em realizar “Dias
de Aperfeiçoamento” contemplando antigas alunas (Diplomadas) que possuam o
desejo de crescente aperfeiçoamento profissional, uma vez passada a sua formação
escolar e que pretendam manter-se a par dos principais problemas e transformações
da vida social moderna. Esta iniciativa iniciou-se em 1944, registando-se, logo nesse
ano, 52 assistentes sociais e educadoras familiares para assistir a essa iniciativa.
Assistiram ainda a estas conferências 595 alunas e ouvintes e realizaram visitas, 109
alunas.
A partir dos documentos reunidos sobre este período e, sobretudo, os que realizam
um balanço inicial da atividade do Instituto de Serviço Social, torna-se claro que as
Assistentes Sociais e Educadoras Familiares no decurso deste período, exerceram
funções em instituições oficiais e particulares, como sejam; os Centros Sociais, Bairros
populares, Casas do Povo e dos Pescadores. Grémios, Fábricas, Instituições médico-
sociais, entre outras. Para as Assistentes Sociais a sua função consistia na educação
ou reeducação integral das famílias de que se ocupavam, no melhoramento
económico e social das suas condições de vida e na reorganização do respetivo meio.
No que respeita às Educadoras Familiares competia mais especialmente, a partir de
um ensino familiar e doméstico, formar os diversos meios moral e tecnicamente
preparando e orientando, sobretudo, a mulher para cumprir a sua missão de mãe de
família e de dona de casa (Instituto de Serviço Social 1945, p. 7)265.
Ainda, de acordo com este último documento, a missão de ambas seria levar a todo o
país, ao lar, à oficina, aos campos, à escola, ao dispensário, sem olhar a classes e
meios tudo o que o conceito de educação pudesse abarcar, pois seria este o elemento
fundamental de combate à ignorância. Esta missão exigiria destas duas profissões,
dedicação profunda mas, o volume de pedidos de profissionais para a criação de
novos serviços desde a fundação do Instituto, aumentava a cada dia podendo estas
profissionais, auferir vencimentos consideráveis.
[...] a criação de escolas de formação social onde se habilitem raparigas, até da melhor
condição, para exercerem junto de fábricas, organizações profissionais, instituições de
assistência e de educação coletiva e de obras similares uma ação persistente e
metódica de múltiplos objetivos - higiénicos, morais e intelectuais- em contacto direto
com as famílias de todas as condições. Só poderá trabalhar com eficiência dentro
dêsse imenso campo de ação quem possua, a par da vocação natural, mentalidade
especialmente formada e firme, sentido social, que naquelas escolas se suscitem e
educam (Decreto-lei nº 30 135 de 14 de Dezembro de 1939)
Serviço Social no mundo e por falar do que se lhe pede e ele não pode dar, dizendo
que hoje em dia há por toda a parte uma tal “crença” no Serviço Social que em tudo
para ele se apela, verificando-se mesmo a tendência para se descarregar
exclusivamente nos trabalhadores sociais toda a preocupação social, pelo que as
relações entre os homens, já desumanizadas por outros fatores, mais endurecem a
tornam artificiais. Isto constitui um mal, pois só quando as principais relações sociais de
novo se humanizarem o bem-estar voltará ao mundo
O segundo problema
[…] resulta deste incremento desmedido do Serviço Social, é que, reclamados por
todos e para tudo, os trabalhadores sociais se tornam massa; essa massa já não tem
Em 1957, a diretora Maria Carlota Lobato Guerra, numa exposição escrita reafirma
que neste período o “Instituto de Serviço Social é uma instituição particular que visa o
melhoramento das condições de vida e o progresso e bem-estar social da população
por meio de larga ação educativa e social” (Instituto de Serviço Social, 1957b, p. 1)273
e torna claro que, no encalce deste objetivo pretende-se realizar a difusão da doutrina
do Serviço Social, não só através de profissionais que prepara, como junto dos
responsáveis e, também, do público em geral. Estas profissionais, não deviam
descurar o estudo da evolução do meio, das correntes de pensamento e das novas
modalidades de ação, mas deveriam procurar conservar os princípios morais básicos
em face do outro.
D”une extrême acuité, ils se detachement três nettement sur le fond gris de l”humaine
souffrance, mais, ne concluons pas trop vite, il ne s”agit pas de problèmes isolés; bien
au contraire, il s” agit de manifestations diverses d”un immense problème infiniment
complexe mais unique, le problème de l´home affaibli e dévoyé qui ne veu plus
chercher la force, qui ne sait lus trouver son chemin. C”est donc l”homme surtout qu”il
faut imédiatement sauver; tremper fortement les âmes, former les couers et les esprits
selon l”ideal supérieur du véritable humanisme chrétien, voilá la tache la plus préssant
du moment. Or cette tâche, point n”est besoin d”y insister, appartient en premier lieu à
la famille” (Instituto de Serviço Social, 1947a, Anexo III, p. 1)274.
Este discurso centra, claramente, a raiz e natureza dos problemas sociais no indivíduo
que sendo fraco se desvia do caminho certo, não querendo, por essa razão, procurar a
força nem encontrar de novo o seu caminho. Trata-se, portanto, de salvar o homem e
a sua alma, formando os corações e os espíritos, de acordo com esse ideal superior. A
definição deste contorno impõe às profissionais difíceis cruzadas em ordem à
regeneração da sociedade.
Porém, essa cruzada deverá ocorrer no seio da família, onde se pode contar com a
influência de todos os membros, com a mutualidade, interdependência e entreajuda, já
que
Decorrente do exposto e num enfoque ainda mais sensível, verifica-se no texto que as
habilidades ou competências a desenvolver no sujeito, respeitam ao desenvolvimento
e educação das virtudes humanas, como seja: a elevação moral, o sentido de dever, a
simplicidade, o autodomínio e a submissão.
A própria Obra das Mães pela Educação Nacional surge numa linha de criação de
instituições de apoio à família e designadamente às famílias numerosas, atuando
principalmente junto dos Centros Sociais e de Centros de Educação familiar onde as
Assistentes Sociais e as Educadoras familiares, formadas pelo Instituto de Serviço
Social, exercem a sua atividade. Esta constatação foi retirada por Maria Carlota
Lobato Guerra na sua apresentação na reunião da União Católica Internacional de
Serviço Social em Bruxelas em 1946 quando refere “
D’ autre part, des institutions dont le but est de favoriser la famile ont éte créées
pendant ces dernières années, telle l”órganization féminine “Oeuvre des Mères pour
l”Education Nationale”, qui a tenté un mouvement d”aide aux familles nombreuses et
qui agit surtout au moyen de Centre Sociaux et de Centre d” Education familiale où les
Assistentes Sociales el les Educatrices Familiales formées à notre Institut déploient
leus activité” (Instituto de Serviço Social, 1947a, p. 4)278 .
Mais uma vez, se identifica outro dos alicerces do Estado Novo indo ao encontro da
nova sociedade que Salazar (1889-1970) procurava edificar e que pressupunha um
regresso à antiga família patriarcal. A par de Deus e da Pátria a Família constituía um
dos pilares, e valores fundamentais, do regime. Tratava-se de uma instituição cujas
278 Vide em anexo O
279 Vide em anexo O
Como porém ainda não há entre nós profissionais especializados neste sector, penso
que o caminho mais adequado seria um trabalho individual e de grupo se possível,
junto dos "liders" locais no sentido de os abrir para uma responsabilidade comunitária e
à mobilização dos recursos locais para solução dos problemas encontrados em
conjunto. Penso ainda que o Centro se deveria ocupar também e pelo mesmo método
doutros grupos que se fossem formando naturalmente e tentar fornecer à comunidade
de forma cada vez menos directiva os meios ao seu alcance, quer materiais quer
técnicos, que fossem necessários fases iniciais duma ação neste sentido” (Santos,
1958, p. 186).
E a segunda que
Estes aspetos deverão ser entendidos como sinais de transformação e abertura para
um novo período, um novo plano de estudos e consequentemente um novo projeto
educativo. Um período que sem dúvida aponta para a consolidação dos métodos,
mostrando abertura a novos contornos de envolvimento no Serviço Social.
Simplesmente que sente, como nós temos possibilidade especial de sentir, a dolorosa
tragédia de tantos seres que vivem dia a dia, ano a ano, numa degradação progressiva
a que o Serviço Social, não consegue arrancá-los, quem ouve, como nós podemos
com tanta frequência ouvir de tantos lados, crescer essa onda de malquerenças, de
incompreensões, de desconhecimento mútuo, que opõe cada vez mais fortemente as
classes, quem pode, como nós podemos, olhar de perto as chagas sociais que
alastram e a insensibilidade geral que cresce, quem vê e vive tudo isto, não consegue
pensar que baste fazer muito. Em momento tão grave menos do que tudo é sempre
nada (Instituto de Serviço Social, 1955, p. 9,10) 281.
Apesar deste trecho datado de 1955 e nos remeter para uma esfera individual
enquanto raiz dos problema sociais, constata-se em 1957 um enfoque diferente
salientado por Maria Carlota Guerra. No seu relatório de 1956, refere-se que
[…] o Instituto de Serviço Social pende hoje para as actividades de Acção Social, isto é
para o trabalho de influência sobre os quadros sociais e sobre os grandes grupos
populacionais, visando a reforma das estruturas no sentido de as tornar favoráveis à
valorização e desenvolvimento humanos na sua integralidade”. E, acrescenta que, para
tanto, se torna necessária “a participação em comissões para estudo ou ação,
constituídas geralmente por elementos de várias profissões em diferentes sectores da
vida nacional e orientadas para o exame dos grandes problemas sociais do momento
(Instituto de Serviço Social, 1957a, p. 1)282.
Esta visão denota sinais de transição do projeto educativo face ao novo período que
se avizinha, resultante dos trabalhos efetuados em 1955 em ordem à sua
consubstanciação através da alteração no plano de estudo em 1956.
A este propósito é curioso salientar um fato que assinalava a vida do Instituto no ano
de 1953 “a Benção e a entrega dos Evangelhos às Finalistas. Realizada em grande
intimidade, a 23 de Julho no Paço Patriarcal, por sua Eminência o Senhor Cardeal
Patriarca”. Esta cerimónia traduz o direcionamento da missão destas profissionais
acrescentando o referido relatório que
Sentimo-lo nós a “velha guarda”, que mais confiante vê partir para a vida as novas,
quando se sabe munidas dessa fonte de força e de luz que os Evangelhos constituem,
quando pensa que os receberam como símbolo da sua futura missão (Instituto de
Serviço Social, 1954a, p. 2)283.
Depreende-se das palavras da diretora que a ação dos profissionais se julga mais
ampla e mais lata, o que significaria que, as raízes dos problemas não estarão apenas
nas condições psicológicas da pessoa mas noutras condições que apenas
profissionais, dotados de espirito cristão se aventurariam a perscrutar. Com efeito,
entende, que a assistente social não deva passar por ser apenas um técnico que
embora competente, apenas distinga para o seu “cliente” o emaranhado das obras e
leis sociais, apresentando-se como um mero “dépange”286.
[…] se se trata de técnicas dos casos psicológicos, que tenham verdadeira e profunda
preparação médica e filosófica e assim façam séria e ultimamente “case-work, não
estremos perante outra profissão, intimamente relacionada, é certo, com Serviço
Social, mas na realidade diferente não só quanto ao seu fim, mas sobretudo, quanto ao
âmbito e processos? (Instituto de Serviço Social, 1953, p. 2) 287
Esta conclusão é reforçada no debate gerado na Assembleia desse mesmo ano onde
são discutidos certos desvios da atuação social em todo o mundo e que
Na verdade, para Maria Carlota Lobato Guerra, em Portugal ainda se conserva muito
puro o conceito do Serviço Social e pensa-se na assistente social como a “Amiga” que
se
[…] poderá aproximar-se das Famílias e ser recebida em casa com alegria e confiança.
Mantem-se a noção de que ela deve conhecer a vida daqueles que serve, entrar nos
seus meios, humanizar ali as relações sociais por uma acção discreta, ao mesmo
tempo apaziguante e estimuladora (Instituto de Serviço Social, 1953, p. 2) 289.
Ao contrário de outros países, onde a profissão é mais antiga, terão evoluído para
outras formas de ação, fruto da pressão das correntes de pensamento e, sobretudo,
das convulsões da segunda guerra mundial.
[…] mais uma técnica que se vai consultar a tal hora, em tal escritório, do que aquele
elemento dinâmico e maleável que integrado em cada meio, aproximando-se das
Famílias, constituí como que fermento na massa e ajuda a cada um a encontrar, pelas
suas próprias luzes e forças o caminho da recuperação ou do aperfeiçoamento
(Instituto de Serviço Social, 1953, p. 2) 290.
[…] parecia ter-se chegado ao ponto culminante da viragem que de há tempos se vem
dando lentamente no Instituto: de escola para preparação de agentes de Serviço Social
directo vai ter de se passar pela pressão do exterior (que força a elevar o nível dos
programas e sobretudo transformar a formação dada) para centro de preparação de
agentes de direcção e de administração obras sociais (Associação de Serviço Social,
1953a, p. 2)291.
[…] aparecimento em Portugal, mais tarde ou mais cedo, do Serviço Social laico do
espirito mercenário, o possível desânimo da iniciativa particular pela dificuldades de
Esta preocupação levou Maria Carlota Guerra a procurar alguns apoios a fim de se
evitar a criação das referidas escolas, tentando encontrar-se com o Cardeal Patriarca
e com o Subsecretário da Assistência Social para entender quais seriam, doravante as
funções do Instituto. Relativamente ao Cardeal Patriarca não obteve qualquer
resultado prático e para aquele Subsecretário, entende-se da ata que, sendo o
Instituto uma obra subordinada ao Ministério da Educação Nacional, não estaria na
sua esfera de atuação, tendo apenas a opinião de o “Instituto não fornece um número
de diplomadas suficiente” (Associação de Serviço Social, 1953a, p. 3)293.
[…] para lhe expor a sua convicção da urgência da criação naquela cidade de um
Instituto de Serviço Social para formação de assistentes sociais e de educadoras
familiares” que apesar do interesse, este revelou também “bastantes apreensões
quanto à viabilidade do projecto (Associação de Serviço Social, 1953a, p. 2)294.
causados pela civilização desumanizada dos nossos dias, prestando auxílio de toda a
natureza às famílias e aos indivíduos em condições especiais psicológicas, morais, de
trabalho, saúde, ou deficiência económica, e tentando dar uma contribuição útil,
quando não essencial, para a reforma das estruturas, a criação de quadros sociais
mais consentâneos com a natureza e a dignidade humana, quer através de uma ação
directa, quer através dos estudos sociológicos que devem constituir a base de todo o
planeamento e ação sociais (Instituto de Serviço Social, 1957b, p. 1) 296e (Republica
portuguesa,1956, anexo p. 2)297.
A Educação Familiar,
[…] visa de uma forma específica a vida familiar nos seus múltiplos aspetos, a
formação e aperfeiçoamento dos vários membros da família, o fortalecimento da
própria estrutura familiar, a ocupação do tempo livre, isto através da ação directa junto
dos indivíduos ou através das actividades de grupo, lançando mão de todos os
processamentos modernos utilizáveis na formação moral e psicológica, no
aperfeiçoamento cultural e técnico, na melhor preparação para a vida doméstica,
conduzindo a uma mais perfeita integração no meio social, preparando os indivíduos
para uma adaptação rápida e equilibrada às novas estruturas, as comunidades do
futuro (Instituto de Serviço Social, 1957b, p. 1,2) 298.
Ora, esta distinção nas necessidades do Serviço Social é assinalado como decorrente
de uma consciência lógica e de exigências de uma especialização face à divisão do
trabalho que conduz à diferenciação dos seus agentes. Caso hipoteticamente se
admitisse um único tipo de agente para as várias funções do Trabalho Social, a sua
preparação teria de abranger um conjunto de conhecimentos e técnicas
imprescindíveis a uma ação profunda em qualquer destes campos que exigiria um
formação demasiado longa e consequentemente impossível de ser ministrada
(República Portuguesa, 1956, anexo p. 3)299.
Isto, para além de se considerar que, na prática, os desafios da vida profissional não
reúne as condições necessárias para que o mesmo agente possa ocupar-se ao
mesmo tempo de ambos os desempenhos de forma eficiente. Qualquer destas
atividades é extraordinariamente absorvente e exige disponibilidade total (Republica
Portuguesa, 1956, anexo p. 3)300
p. 66), refere-se à classificação que divide o Serviço Social por campos de aplicação,
isto é, família, menores, escolas, saúde, empresas, delinquência, meio rural, etc. e,
acrescenta que, a partir desta classificação, ou melhor dentro de cada campo, os
congressos nacionais e internacionais procurariam estudar desta maneira o Serviço
Social no que respeita, aos problemas a serem resolvidos, a clientela, os recursos, etc.
Sendo comum que os programas das escolas apresentassem a mesma divisão seja
das cadeiras teóricas como no campo dos estágios301.
Les travailleus sociaux portugais travaillent dans ce cadre à toutes les formes de
Service Social, d”usine, de secteur et surtout dans des Centre Sociaux, la formule qui
correspondant le mieux ai caracteristique de notre millieu (Instituto de Serviço Social,
1947a, Anexo VII, p. 1)303 .
Maria Carlota Lobato Guerra (1952) vai ao encontro desta mesma ideia referindo que
em certos setores, como seja o Serviço Social do Trabalho, Serviço Social Rural e
sobretudo Residências Sociais, parecem ser os únicos a manter-se fiéis ao conceito
do Serviço Social Tradicional (Instituto de Serviço Social, 1953, p. 2)304
Atendendo, como vimos, a todo o reflexo das estratégias e influências dos agentes
envolvidos na institucionalização desta primeira escola de Serviço Social, este
materializou-se, claramente, na formação com um claro domínio da saúde pública e da
medicina social contribuindo, em larga medida, para tornar a área da saúde, a área
301 Arthur E. Fink, na sua obra de 1941, The field of social work, segue também esta classificação. O autor
divide o Serviço Social em campo da família, menores, escolar psiquiátrico, médico social, correcional,
grupo e comunidade.
302 Vide em anexo O
303 Vide em anexo O
304 Vide em anexo AE
Ainda no campo da difusão dos princípios sociais devo referir a participação do Instituto
no curso anualmente organizado para os Sub-delegados de Saúde, no Instituto de
305 A Organização Mundial de Saúde, (1948) que entende que “A saúde é um estado completo bem-estar
físico, mental e social e não consiste apenas na ausência de doença ou enfermidade” (WHO,1948). Esta
perspetiva, inovadora para a época e já bastante conhecida e divulgada por aquela organização
introduziu uma conceção mais dinâmica da vivência biológica enquanto inseparável do contexto
sociocultural, psicológico, económico, ecológico, em que o indivíduo vive, superando uma perspetiva
negativa de entendimento da saúde como ausência de doença. A constituição da Organização Mundial de
Saúde foi adotada pela Conferência Internacional de Saúde, Nova Iorque, 19-22 Junho, 1946; assinada a
22 Julho de 1946 pelos representantes de 61 estados e entrou em vigor a 7 de Abril de 1948. Esta
definição de saúde não foi alterada desde 1948.
Higiene, por meio de palestra sobre Serviço Social que ali realizei em Maio, a convite
do respectivo Director (Instituto de Serviço Social, 1949b, p. 8)306
[…] projecção duma série de “films” que focam chagas sociais e os meios de as sarar,
e ainda pelo estudo da alegria cristã feito por uma estagiária final. A Missa, as
Trindades rezadas na capela, a benção do Santíssimo a concluir o dia e as práticas
que acompanhavam cada um destes actos religiosos puseram a nota cristã, fazendo
encarar a dôr nos seus aspectos mais profundos e mais consoladores (Instituto de
Serviço Social, 1949b, p. 5)307.
A atuação do Serviço Social na área rural foi, desde muito cedo, apropriada pelas
alunas como área de atuação profissional tal como poderemos verificar na colocação
da aluna quando refere na sua monografia
Creio que se é necessária uma Assistente Social Rural, mais necessária é a presença
de uma educadora familiar, cuja missão mais se adapta às necessidades de uma boa
utilização de tempo livre, e de educação familiar na Vila do Cadaval (Ribeiro, 1947, p.
145).
[…] ver fazer em Portugal como o exemplo do que se passa em Inglaterra, onde o
“Country agente””308, verdadeiro João Semana agrícola, de colaboração com a “Home
demonstrator”, a assistente social rural se ocupam das populações rurais, e com outro
exemplo americano, o dos “4H” 309 uma organização educativa de rapazes e de
raparigas (Associação de Serviço Social, 1949, p. 7) 310.
[…] é-me particularmente grato referir uma nova actividade do Instituto de Serviço
Social – a sua actuação em meios rurais. Iniciada em Março de 1950 pela assistente
social Maria Helena Costa Trigo que em Mora e em algumas localidades vizinhas se
dedicou ao estudo e actuação directa, procurando penetrar no meio e analisar certos
problemas sociais, incidiu ultimamente também sobre Vila Cova, terra da Beira para
onde foi insistentemente solicitada a acção do Instituto de Serviço Social (Instituto de
Serviço Social, 1951, p. 5)311
Santa Sofia do distrito de Évora, em Vila Cova, perto de Ceia e em Pias do Distrito de
Beja.
[...] reuniu apenas duas vezes porém a sua actividade manteve-se durante todo o ano,
orientando-se especialmente no sentido de conseguir a organização dos Cursos
Ambulantes de Educação Familiar e do serviço Social junto dos Ranchos da cultura do
arroz. Ambas estas iniciativas haviam partido do mesmo Grupo de trabalho. Para sua
efectivação foram pois entregues ao sector Rural do I.S.S.” (Instituto de Serviço Social,
1955, p. 7)315
Contudo, Maria Carlota Lobato Guerra expressa que “as vocações rurais não
abundam mesmo entre as alunas vindas da província” preocupando-se com a
excessiva burocratização a que se vêm sujeitas as trabalhadoras sociais e acrescenta
que
Esta área de atuação rural efetivamente concorda-se que de trata de uma área de
atuação que oferece muitas possibilidades de trabalho, mas onde poucos desejam
trabalhar. As alunas parecem preferir o trabalho das zonas urbanas, sobretudo, nas
cidades.
Dez empresas nos abriram as portas, sendo justo referir que em todas as estagiárias
foram tratadas o melhor possível. A entrada no meio fabril fez-se das formas mais
diversas, pois só pela adaptação às circunstâncias locais algum proveito poderia obter-
se. Desde a visita pormenorizada a todas as fábricas feita durante 6 dias completos,
que ocupou toda a estadia na C.U.F., no Barreiro, até ao trabalho de empacotar tabaco
realizado pelas estagiárias a par das operárias, num entendimento que deixou lágrimas
numas e noutras à despedida, passando ainda pelo serviço de enfermagem na fábrica
de Penteação de Lãs na Alhandra, etc., de tudo se fez, na preocupação de tudo se
conseguir um bom contacto com o meio. E fez-se com proveito seguramente, embora,
em virtude do atrazo com que chegaram ao I.S.S. as necessárias autorizações das
empresas, num período tão curto que não poude considerar-se de facto tal actividade
um verdadeiro estágio (Instituto de Serviço Social, 1949b, p. 4) 318.
[...] a tomar parte na IIIª Semana Social Portuguesa, todas as finalistas, aproveitando-
se também a ocasião para visitar fábricas, Casas do Povo e outras obras sociais de
interesse daquela região (Instituto de Serviço Social, 1949b, p.5)319.
meio, indicam no entanto boa compreensão do papel do Serviço Social e confiança nas
alunas do Instituto (Instituto de Serviço Social, 1951, p. 3)320.
Nesse ano foi, ainda, realizada visita à Metalúrgica Duarte Ferreira onde as alunas
tiveram ocasião de tomar contato com a população operária das mais características e
interessantes.
Entende-se aqui, que a função dos profissionais se relaciona com o bem-estar social
dos operários, empregados da empresa e das suas famílias. Identifica-se, claramente,
a função assistencial no atendimento às necessidades individuais e grupais dos
trabalhadores e uma função investigadora dos problemas pessoais e familiares e
sociais que poderão vir a atingir esses trabalhadores. No entanto, poderíamos
identificar segundo Vieira (1955, p. 33) ainda outras funções tradicionais, a função
informativa e a função de gestão de recursos sociais, organização de tempos livres e
férias, incentivo a serviços e programas dentro da empresa como seja: refeitórios
sociais ou para trabalhadores, orientação familiar, creches, organização de clubes,
bolsas de estudo para filhos de operários e empregados, escolarização, formação de
cooperativas de consumo.
[…] ocuparem-se do estudo sociológico do meio, de tudo o que diz respeito aos
problemas de trabalho comunitário, integração social e trabalho social de grupo e do
Serviço Social de caso. Com os seus métodos específicos, estas formas de actuação
não podem ser realizadas por quem, para elas não tenha formação especial (Salinas,
1960, p. 25).
Os serviços, em contrapartida, pelo modo como são prestados devem ser uma
ocasião de valorização das pessoas e de questionamento a cada passo, pois, o desejo
legítimo de ajudar aqueles a quem se reconhece uma carência pode levar a uma
atitude assistencialista, longe de favorecer o sentido de dignidade da pessoa a quem
se dá. Por essa razão, a área cultural educativa e recreativa, surge enunciada logo no
imediato sendo considerada a formação profunda das pessoas e Salinas (1960) chega
mesmo a enunciar que espera não estar a exagerar “se disser que a eficácia de um
Centro pode ser medida pelo número e sobretudo pela qualidade dos seus
responsáveis que conseguiu descobrir, formar e pôr a render” (Salinas,1960, p. 26)
[...] levando a sua ajuda e protecção junto dos lares, ao seio das famílias
desprotegidas, auscultando as misérias e penares, vendo e sentindo, no meio do seu
viver, as suas dificuldades e necessidades (Fernandes, 1941, p.3,4)324.
Efetivamente, em seu entender, o Centro Social não será mais do que uma “
[…] a casa de todos para todos [...] destinada a atender as famílias de tôda a condição
social, sem distinção de idéias políticas ou religiosas, a cultivar o espírito de
solidariedade e auxílio social, a orientar no aproveitamento dos organismos de
Este trabalho utilizaria o que considera ser a mais as modernas técnicas científicas ao
serviço do auxílio social que na proposta do professor Barahona Fernandes, se situa a
primeira, ao nível da informação e estudo prévio do meio dos habitantes da
constituição das famílias e das suas condições de vida. Devendo, para isso, os
assistentes sociais introduzirem nas suas visitas inquéritos sistemáticos a todas as
habitações, apurando o estado de sanidade, de higiene, a economia, a moral e
instrução e todo o viver social em geral. Com base nesta informação recolhida
organizam um ficheiro de família das diferentes povoações contendo elementos
médicos, económicos, sociais. A partir desta base poderá então ser estabelecido um
plano de assistência, benemerência e melhoramento social, adaptado às verdadeiras
realidades das populações e das regiões.
A ação das educadoras familiares entraria, portanto, em sintonia com a ação das
assistentes sociais, sem no entanto descurar a colaboração com outros intervenientes,
Ilustração 19 - Exemplo de organização de um Centro Social: Centro Social “Ponta do Sol” na Ilha da Madeira (Ferreira, 1944, p. 148 a)
Neste sentido, a criação dos centros sociais apresenta-se com uma ideia claramente
formada. Atendendo ao detalhe conseguido na formulação de qual seria um plano de
atuação naquele domínio, a aluna revela conhecimento, sobre as habilidades e
competências implicadas gestão de um centro social. A partir desta ilustração é
possível perceber que um Centro Social desempenharia um papel mediador entre as
várias organizações com atuação local (incluindo o próprio Estado) e a população.
Percebe-se o relevo colocado ao esforço de concertação que um centro social poderá
desempenhar na resolução dos problemas que lhe são colocados pela população para
a garantia do bem-estar e do progresso.
[…] tentar modificar ligeiramente alguma destas obras a fim de evitar repetições. 3º
organizar na referida comissão: - um serviço de inquérito com o pessoal necessário
para evitar que os dados fundamentais, continuem a ser registados pelas simples
informações dos próprios, quando procuram auxílio; - um ficheiro geral constituído
pelos elementos colhidos e pelas cópias dos verbetes das fichas, enviados por cada
obra que, no momento oportuno, dariam todos os esclarecimentos pedidos. 4º -
conseguir colaboração do clero para a educação moral, num íntimo trabalho de
conjunto. Só a julgo possível quando os novos sacerdotes vierem substituir os actuais
que, pela sua idade e vivendo há 40 anos na vila, não aceitam já intromissões. 5º -
despertar o interesse do meio para isto: - continuar a ação assistencial em vigor,
encaminhando-a suavemente no sentido indicado. - Promover distracções sãs nos
centros referidos. Por exemplo: fazer reaparecer o grupo dramático "Os curiosos";
auxiliar as tentativas dos escuteiros e iniciativas desportivas. - organizar passeios, uns
familiares, outros para determinados membros com fins formativos. - recorrer o mais
possível ás famílias ricas e aproveitar todas as boas vontades e obras lançadas
(Junqueira, 1948, p. 140-141).
4) Com todas as pessoas influentes no meio: famílias nobres, famílias ricas, etc.
Em resumo, estas actividades poderiam ser coordenadas por uma futura Casa do Povo
- Casa de todos os habitantes da Vila -em que existisse um Serviço Social, que
estabeleceria o contacto com as famílias ao mesmo tempo que centralizava toda a
acção (Ribeiro, 1947, p. 145).
A ação dos Centros Sociais não dispensaria a criação de seções da ação católica "O
Trabalho Social a realizar, poderíamos pensar na criação de um Centro Social, duma
casa do povo e, considerando o desenvolvimento integral, a criação das secções da
Acção Católica que ali faltam" (Trigo, 1948, p. 78)
Creio que o Centro de SS. por toda a atenção que preste a esta modalidade de
assistência, nunca seria demais[...]. O Centro Social em toda e qualquer modalidade de
assistência ao próximo procurará tirar efeitos de ordem moral não tanto pela
administração direta de conceitos como pela maneira de agir para com as pessoas
(Peixoto, 1949, p. 141).
No testemunho que se segue, parece claro para a aluna que a sua missão se
expressa na assistência de parcelas da população carentes no suprimento das suas
327 O prof. Dr. Victor Moreira Fontes, neste ano de 1949, além de fazer parte o corpo docente do ISS,
ocupava o cargo de vogal do Conselho de Direção da Associação de Serviço Social (Associação de
Serviço Social, 1949, p. 3) Vide em anexo X
328 Vide em anexo W
Em primeiro lugar parece-nos vantajoso lembrar o princípio de Serviço Social que nos
diz: "apenas devemos ajudar os outros quando êles se não bastarem a si mesmos".
Partindo dêste princípio evitaremos que a nossa vontade de bem servir nos entusiasme
demasiado, e nos leve a criar obras e serviços que poderão ter uma ação destruidora
na vida da população, quando apenas pretendíamos construir (Frage, 1945, p. 213).
Não foi por mero capricho que preferimos fazer a monografia da Terra-chã, mas sim
porque, querendo fazer um estudo sério e quanto possível profundo, era esta freguesia
a que mais no-lo facilitava, pois é a que melhor conhecemos porque desde há muitos
anos vivemos em íntimo contacto com os seus habitantes e por isso mesmo sentimos
com êles as suas aspirações, as suas dificuldades, os seus sofrimentos e as suas
alegrias [...] Uma vez estudado o meio, procuramos conhecer uma família típica desse
mesmo meio, e ver quais as influências que êste teve sobre aquela (Frage, 1945, p. 1).
Uma outra monografia, desta feita, de 1949 sobre “Ponte da Barca” reforça a
necessidade do sentido de rigor no aprofundamento pelo estudo do meio exigindo uma
permanência na região uma observação direta e intensa do meio exposto. Esta aluna
revela-se familiarizada com conceitos próprios de metodologia reportando-se ao
Diagnostico social
Gostaria de me ocupar desse trabalho com mais tempo o que não só me permitiria uma
penetração maior, como ainda, na laboração vagarosa dos elementos colhidos e daria
o ensejo de poder falar com mais certeza sobre a situação atual comparada àquela de
que já só ouvimos falar envolta no trama das histórias e lendas [...] Só uma aturada
permanência na região, com observação direta e intensa do meio, daquilo que faz a
essência da vida de qualquer aglomerado humano e que por vezes se nos apresenta
fechada hermeticamente, de difícil acesso, levando-nos a fáceis conclusões
deformadas e inexatas, é que nos poderá levar a um diagnóstico social que na verdade
corresponde à realidade dos males (Peixoto, 1949, p. 1)
Reporte-se que só em 1950 é publicada pelo Instituto de Higiene Dr. Ricardo Jorge
uma versão traduzida do Livro de Mary Ricmond Social Diagnosis. Uma outra aluna
apresenta uma linguagem Este sentido de aprofundamento remete para um conjunto
de princípios e valores profissionais
[...] dinâmica do agir é envolvida, portanto, por este conjunto interiorizado de objectivos,
valores profissionais que se convertem em atitudes na medida em que esta, enquanto
Missão oportuna, porque necessária e certamente possível no momento presente,
exigiria do trabalhador social nela investido cultura lata, infinito tacto e delicadeza,
suma dedicação abnegado desprendimento, a par duma corajosa pertinácia. Impunha-
se, logo de início, um programa bem nítido, não tendo em minuciosas linhas de
conduta prática, mas, de maneira rigorosa, nos objectivos atingir e nos campos de
acção a explorar (Lencastre, 1947, p. 169).
Quando se compara as memórias dos alunos, com o que nesse período já brotava nos
primeiros congressos da profissão, é impressionante denotar um enorme contraste. Se
a partir de 1926, Mary Richmond possui uma ampla difusão pública e o Case Work
conhecido por numerosos assistentes sociais nos anos 30, são fracas as suas
referências neste projeto educativo. A reflexão sobre a própria prática profissional é
escassa e difusa no entanto entende-se uma atitude profissional direcionada para ir ao
encontro das situações sociais e dos seres humanos obtendo o necessário
descenimento que a habilitam na sua atuação. Existe, a consciência de um papel que
assume e com o qual se compromete.
CONCLUSÃO
Na senda deste objectivo, foi possível verificar que no decurso de 1893 e durante o
Congresso das Organizações de Caridade nos Estados Unidos foi lançada a ideia de
criar escolas para formar os agentes do Serviço Social e masi tarde em 1898, foi
fundada a primeira escola, hoje a New York School of Social Work, filiada na Columbia
University. A educação sistemática em Serviço Social na Europa e mais
concretamente na Alemanha, começou em 1899, em Berlim, liderada por Alice
Solomon (1872-1948). No entanto, só em 1908 é que Alice Solomon (1867-1936)
fundou a primeira escola, Social Women’s School, atualmente designada de Alice
Salomon University of Applied Sciences. Na frança, a primeira escola de Serviço
Social foi fundada em Paris, em 1918. Ainda na Europa, verifica-se igualmente que em
1925, foi criada a primeira escola de Serviço Social, na Bélgica, pelo Cardeal Mercier
(1851-1926).
entre 1956 e 1963. Na América Latina com a fundação da primeira escola de Serviço
Social no Chile, em 1925, inaugura-se, uma nova etapa dentro da profissão, marcando
um novo patamar de institucionalização produzido pela incorporação do Serviço Social
no espetro das profissões de nível superior. No Brasil, a ideia de uma escola de
Serviço Social, é situada em 1932, quando as Cónegas de Santo Agostinho de S.
Paulo, que contratam Mlle. Adéle de Loneux, uma especialista belga, para realizar um
curso de três meses de “Iniciação à Ação Social”. Nos primeiros anos, o programa era
o mesmo das escolas da França e da Bélgica
A esta proliferação de escolas de Serviço Social pelo mundo, com especial incidência,
na europa, estão associadas as consequências da revolução industrial e o triunfo do
liberalismo, no domínio económico e político, que significaram, no século XIX um
contributo para o amplo progresso do ponto de vista da economia europeia, dando
origem às grandes transformações nas sociedades, mas em contrapartida, deram
também origem a grandes desigualdades sociais. O liberalismo trouxe consigo,
grandes problemas sociais, ao acentuar as diferenças de classe e pondo em relevo as
más condições de vida e de trabalho, das classes menos favorecidas, Pelo que a
emergência da procura do profissional de Serviço Social, tem por base as
modalidades, através das quais, o Estado burguês confronta a “questão social” e a
tipificação das políticas sociais a passar de uma simples ajuda de caráter paliativo
assistencial, para um complexo sistema tecnificado, resultante da necessidade de
afetação e administração de bens e serviços à população em geral, com o objetivo de
proporcionar determinadas condições de vida e de bem-estar social.
Admite-se, por isso, que o Serviço Social não se ergue como um projeto sociopolítico
particular, mas como um campo de ligação ideológica da Igreja Católica e do Estado
Novo, capturado e instrumentalizado pelo projeto conservador burguês, determinado,
este sim, por um projeto sociopolítico de classe, caminhando com alguma tensão para
a laicização. Concorda-se, desde logo, que dificilmente foram fatores intracientíficos,
os que conduziram ao aparecimento do Serviço Social, enquanto disciplina académica
em Portugal.
A coleção de monografias realizadas pelas alunas e que chegaram aos nossos dias
apropriam claramente esses ideiais desenvolvendo um projecto educativo assente
num método científico positivo
O projeto educativo inicial deste Instituto, foi marcado profundamente pelo esforço das
suas primeiras Diretoras, Elisabeth d’ Albignac bandeira de Melo (Condessa de Rilvas)
entre 1935-1944, Custódia do Vale, entre 1946 - 1950 e Maria Carlota de Magalhães
Lobato Guerra, entre 1950 e 1964, ) justificando-se abrir como perspetiva de futuras
investigações, a estruturação de estudos biográficos sobre estas figuras.
domínio das ideias, à Psicologia. Contudo aponta-se por todo este período, ausência
de matéria ligadas aos fundamentos de Serviço Social e, portanto, de embasamento
da atividade prática de conhecimentos desta área disciplinar.
O Instituto de Serviço Social não possuía apenas uma visão institucional deste projeto
educativo, a visão sobre a sua missão abrangia um horizonte mais global, defendendo
o Serviço Social enquanto campo de conhecimento. Nesta assunção eram
identificadas algumas ameaças que provinham sobretudo da fundação em vários
pontos do país, de escolas de auxiliares sociais, anexas a escolas de enfermeiras ou
Mais tarde, em 1952, outra ideia considerada de grande interesse para este projeto
educativo emerge, criando-se um corpo de estudiosas, que no Centro de Estudos do
Instituto de Serviço Social, com a intenção de se dedicar com exclusividade, a
responder a trabalhos sociais solicitados pela comunidade. Contribuiria, por esta via,
para aprofundar a técnica do Serviço Social, e para servir de agentes de ligação que
amparassem as antigas alunas nos vários setores de trabalho, onde, se treinavam,
assim, para a missão de futuras professoras e monitoras do Instituto de Serviço Social.
Estes pedidos de Trabalho Social, são trabalhos solicitados por variadas organizações
sociais ao Instituto de Serviço Social, por se considerar existirem aí os profissionais
especializados para o efeito. Esta proposta, defende a complementaridade do projeto
educativo, ou seja, a ideia de que a escola é produtora de profissionais especializados
no Trabalho Social para atuar na sociedade, sendo possível manter a sua supervisão,
pois a formação e o treino dos professores e monitores, não pode estar desconectada
dessa realidade social e é ela mesma que terá um papel de moldar a formação dos
próprios profissionais.
A obra iniciada nestes dois Centros Sociais do Instituto de Serviço Social, era
completada por mais dois Centros Sociais, não pertencentes ao Instituto, mas onde
trabalhavam monitoras e estagiárias, designadamente, o Centro Social do Menino
Deus, pertença do Patriarcado de Lisboa e ocupado pelas Irmãs de São José de Cluny
e o Centro Social na Obra Social de Alfama, de iniciativa paroquial, onde
Trabalhadoras Sociais, formadas pelo Instituto, atendem as famílias das duas
freguesias de Stº Estevão e de S. Miguel.
A criação dos destes centros sociais, em Portugal, tal como noutros paises, têm em
comum, na sua génese, o trabalho de Samuell Barnett (1844-1913) lançados, como
recurso de organização social, são considerados como Centros Sociais na época “ as
“Casas para Todos”, entendidas como organizações que possuem três características
essenciais: tenham lugares abertos permanentemente e destinados a receber as
famílias nas suas dificuldades, sem distinção de condições políticas, religiosas ou
sociais; procurem robustecer a família e por ela estender sua atividade, a todos os
seus membros: crianças, jovens e pais, possuam um espirito de solidariedade, um fim
educativo e recreativo e procurem o melhoramento físico, moral e social dos que o
frequentam.
Pese embora Portugal não tenha tomado parte na 2ª Guerra Mundial, atravessou,
problemas específicos e característicos desse tempo de guerra, na medida em que
sentiu graves repercussões, designadamente, retardando a aplicação de medidas de
ordem social para a solução de numerosos problemas, como sejam a habitação, a
saúde pública e o progresso da indústria e da agricultura bem como no domínio da
produção de conhecimento. Neste enquadramento, encontrou-se o projeto educativo
fundacional comprometido, não com a neutralidade, mas com um campo de
conhecimento académico ancorado numa intencionalidade de ação.
procurar insuflar-lhes o bom espírito, pois era necessário garantir que seriam
“apóstolas” e não meras profissionais.
A missão de ambas seria levar a todo o país, ao lar, à oficina, aos campos, à escola,
ao dispensário, sem descriminar classes e meios, tudo o que o conceito de educação
pudesse abarcar, enquanto elemento fundamental de combate à ignorância. Esta
missão exigiria destas duas profissões, dedicação profunda pois, o volume de pedidos
de profissionais, para a criação de novos serviços desde a fundação do Instituto,
assim o exigia. Em concreto opta-se, claramente, por uma atuação na organização da
comunidade, na medida em que muitos dos problemas individuais e familiares, cuja
causa se encontram no ambiente em que se inserem, podem desaparecer com uma
melhor organização dos quadros sociais ou dos recursos locais. Do ponto de vista dos
seus fundamentos, localiza-se aqui as raízes de um Serviço Social de Comunidades
envolvendo essencialmente uma abordagem à família, pautado por evocações
ideológicas, ligadas ao cumprimento do papel da mulher na sociedade portuguesa.
Esta abordagem da família parece assim justificar-se por duas vias. Pela ação moral
que deverá ocorrer no seio da família, onde se pode contar com a influência de todos
os membros, com a mutualidade, interdependência e entreajuda, já que se trata, de
salvar o homem e a sua alma, formando os corações e os espíritos, de acordo com
esse ideal superior. E pela abordagem na defesa da família, como fonte de
conservação e desenvolvimento da raça, como base primária da educação, da
disciplina e harmonia social, e como fundamento de toda a ordem política pela sua
agregação e representação na freguesia e no município tal como se preconiza na
Constituição de 1933. A família é evocada, não como uma abordagem defendida pela
comunidade científica, senão, pelo alinhamento com as virtudes morais, com as
instituições e com o próprio Estado Novo.
Neste domínio, e perseguindo a classificação que divide o Serviço Social por campos
de aplicação, assiste-se sobretudo ao desenvolvimento de três campos de atuação
dominantes – a área da saúde, a área rural e a área do trabalho e da previdência.
A realidade para Max Weber (1993), sendo infinita, é inesgotável, caracterizada pela
diversidade, jamais poderá ser apreendida na sua totalidade. O conhecimento
científico não se encerra em si mesmo, nem traduz a reprodução integral do real, é
Em síntese
A defesa da ideia de “corpo são em mente Sã“, tem subjacente uma necessidade de
educação moral e de educação higiénica da sociedade, à qual o Instituto de Serviço
Social responde com uma tripla função, de ensino, de cultura social e difusão de
princípios sociais, bem como, com uma atuação directa nos problemas sociais da
população local.
Estas transformações que marcaram, sem dúvida, o fim do projeto educativo fundador
do Instituto de Serviço Social, vieram, ao tempo, aprofundar um forte compromisso
com a sociedade, através da expansão do Serviço Social e da Educação Familiar
Todo o acervo do Instituto de Serviço Social, bem como outras instituições educativas
facultam um manancial riquíssimo de fontes documentais, produzidas pelos atores
educativos e pela própria instituição, no âmbito das suas atividades, constitui um
património importantíssimo que importa explorar no âmbito da Investigação em Serviço
Social ou em debate outras disciplinas no domínio das ciências sociais e humanas.
REFERÊNCIAS329
AGUADO, O.V. (2006) – Teorias de las principales figuras del Trabajo Social. In
FERNÁNDES GARCIA, Tomás, coord. ; ALEMÁN BRACHO, Carmen, coord. -
Introducción al trabajo social. 3.ª ed. Madrid : Alianza Editorial. p. 110- 130.
ALAYÓN, Noberto (2012) – La primera escuela de servicio social [Em linha]. [S.l.] :
Noberto Alayón. [Consult. 20 Jul. 2014]. Disponível em
WWW:<URL:http://norbertoalayon.blogspot.pt/search?updated-min=2012-01-
01T00:00:00-08:00&updated-max=2013-01-01T00:00:00-08:00&max-results=50.html>.
ALAYÓN, Norberto (1980) – Hacia la história del tabajo social en Argentina. Lima :
Celats Ediciones.
ALINSKY, S. (1976) – Manuel de l’animateur social : une action directe non violente.
Paris : Editions du Seuil.
ALMEIDA, Maria Susana de [et al.] (1960) – Serviço social de sector : conferência e
testemunhos de trabalho. Lisboa : Instituto de Serviço Social.
329 Estas referências foram elaboradas com base nas seguintes normas:
ISO 7144:1986 – Documentation – Présentation des thèses et documents assimilés.
Esta norma estipula a criação de um capítulo específico para a organização das
referências bibliográficas de todos os documentos citados no texto;
NP 405-1:1994 – Referências bibliográficas: documentos impressos;
NP 405-2:1998 – Referências bibliográficas: materiais não livro;
NP 405-3:2000 – Referências bibliográficas: documentos não publicados;
NP 405-4:2002 – Referências bibliográficas: documentos electrónicos.
BARBIER, Jean Marie [et al.] (1996) – Savoirs theoriques et savoirs d”action. Paris :
Presses Universitaires de France.
BARBIER, Jean-Marie, dir. ; GALATANU, Olga, dir. (2004) - Les savoirs d”action : une
mise en mots des compétences?. Paris : L’Harmattan.
BARREIX, Juan ; ALAYÓN, Norberto ; CASSINERI, Ethel (1971) – ABC del trabajo
social latino americano. Buenos Aires : Editorial Ecro.
BARTLETT, Harriett M. (1993) – A base do serviço social. 4.ª ed. São Paulo : Pioneira.
BLAIKIE, Norman (2010) - Designing social research. 2nd ed. Cambridge : Polity
Press.
BOEHM, Werner H. (1959) – Objectives of the Social Work curriculum of the future.
The compreensive report of the curriculum study. New York : Council on Social work
education. V. 1.
BOOTH, Charles (1903) – Life and labour of the people in London. Londres :
Macmillan and company.
BOURDIEU, Pierre (1997) - Les usages sociaux de la science : pour une sociologie
clinique du champ scientifique : une conférence-débat. Paris : INRA.
CASTELLS, Manuel (2003) – O poder da identidade. São Paulo : Paz e Terra. V. .2.
CASTRO, Manuel Manrique (2008) - História do Serviço Social na América Latina. São
Paulo : Cortez.
COYLE, Grace Longwell (1930) – Social progress in organized grups. New York :
Richard R. Smith.
CRUZ, M. Braga, dir. ; PINTO, António da Costa, dir. (2004) - Dicionário Biográfico
Parlamentar : 1935-1974 : M-Z. Lisboa : Instituto de Ciências Sociais da Universidade
de Lisboa : Assembleia da República. V. 2.
DECRETO-LEI n.º 26 893/1936. Diário do Governo I série. 181 (15 Ago. 1936) 981-
984.
DECRETO-LEI n.º 28 262/1937. Diário do Governo I série. 285 (8 Dez. 1937) 1379-
1383.
DECRETO-LEI n.º 30 135/1939. Diário do Governo I série. 291 (14 Dez.1939) 1403-
1405.
DECRETO-LEI n.º 35 457/1946. Diário do Governo I série. 13 (19 Jan. 1946) 33-34.
DECRETO-LEI n.º 36 219/1947. Diário do Governo I série. 81 (10 Abr. 1947) 280-277.
DECRETO-LEI n.º 36 914/1948. Diário do Governo I série. 136 (14 Jul. 1948) 508.
DECRETO-LEI n.º 38 884/1952. Diário do Governo I série. 190 (28 Ago.1952) 875-
878.
DECRETO-LEI n.º 40 678/1956. Diário do Governo I série. 143 (10 Jul. 1956) 1083-
1084.
DIAS JÚNIOR, José Lopes (1932) - Em redor do Serviço Social. Lisboa : [s.n.].
DIAS, José Lopes (1945) – 12 lições sobre o Serviço Social. [S.l. : s.n.].
DIAZ, Jorge Torres (1987) - História del trabajo social. Buenos Aires : Editorial
Hvmanitas.
FALEIROS, Vicente de Paula (1991) - Saber profissional e poder institucional. 4.ª ed.
São Paulo : Cortez.
FALEIROS, Vicente de Paula (1999) - Estratégias em Serviço Social. 2.ª ed. São
Paulo : Cortez.
FIGUEIRA, Josefina (1999) - Serviço Social, profissão & identidade – que trajectória?.
Lisboa/S. Paulo : Veras Editora.
FRAGE, Alzira Luisa de (1945) – Monografia de Terra Chã. Lisboa : [s.n.]. Instituto
Superior de Serviço Social. (HQ652.F73 1945-259291).
FRIEDLANDER, W (1977) – Dinâmica de trabajo social. 2.ª ed. México : Ed. Pax.
GRAÇA, Luís (2000) - História da saúde no trabalho : 2.1. a reforma da saúde pública
no virar do século XIX [Em linha]. Lisboa: Escola Nacional de Saúde Pública,
Universidade Nova de Lisboa. [Consult. 20 Jan. 2015]. Disponível em WWW:<URL
http://www.ensp.unl.pt/lgraca/textos16.html>.
HAMILTON, Amy Gordon (1958) – Teoria e prática do Serviço Social de casos. Rio de
Janeiro : Agir.
IGRELA CATÓLICA. Papa, 1878-1903 (Leão XIII) (1991) – Rerum Novarum. Lisboa :
Rei dos Livros.
IGRELA CATÓLICA. Papa, 1922-1939 (Pio XI) (1956) – Ex Officiosis Litteris. São
Paulo : Vozes.
IGRELA CATÓLICA. Papa, 1939-1958 (Pio XII) (1971) - Quadragésimo anno. São
Vaticano : Typis Polyglottis Vaticanis.
IGRELA CATÓLICA. Papa, 1958-1963 (João XXII) (1990) – Mater Magistra. Lisboa :
Edições Paulistas.
LEMOS, Alfredo Tovar (1932) - O Serviço de assistência social. [S.l.] : Direcção Geral
de Saúde. Dispensário de Higiene Social. Imprensa Social. Folheto 8.º de 36 pags.
LIMA, Marinús Pires de (1982) - Notas para uma história da organização racional do
trabalho em Portugal (1900-80) alguns resultados preliminares de uma investigação
em curso. Análise Social. 18:72-74 (Julho-Dezembro 1982) 1299-1366.
LOWRY, F. (1937) - Objectives in Social Casework. The family. 18:8 (1937) 261-268.
MARTINELLI, Maria Lúcia (2003) - Serviço Social na área da saúde : uma relação
histórica. Intervenção Social. Lisboa. 28 (2003) 9-18.
MOURO, Helena, coord. ; SIMÕES, Dulce, coord. (2001) - 100 anos de serviço social.
Coimbra : Quarteto Editora.
NETTO, José Paulo (1992) - Capitalismo Monopolista e Serviço Social. São Paulo :
Cortez.
OLIVEIRA, Nair Cruz de (1955) - Uma experiência de trabalho social num centro
social. 2.ª ed. Rio de Janeiro : Serviço Social do Comércio.
ORTEGA Y GASSET, José (1973) - O homem e a gente. Trad. J. Carlos Lisboa. Rio
de Janeiro : Ibero-Americano.
PAYNE, Malcolm ; CAMPLING, Jo (2005) - The origins of social work : continuity and
changes. New York : Palgrave Macmillan.
PEIXOTO, Joana Maria Rocha (1949) - Monografia de Ponte da Barca. Lisboa : [s.n.].
Acessível no Instituto Superior de Serviço Social, Universidade Lusíada de Lisboa.
(HQ652.P45 1949-260320).
PERDIGÃO, Maria Teresa dos Santos Pinto (1952) - Monografia de Peniche. Lisboa :
[s.n.]. Acessível no Instituto Superior de Serviço Social, Universidade Lusíada de
Lisboa. (HQ652.P47 1952-258360).
PIMENTEL, Irene Flunser (1999) - A assistência social e familiar do Estado Novo nos
anos 30 e 40. Análise Social. 34:151-152 (2.º-3.º 1999) 477-508.
PIMENTEL, Irene Flunser (2007) - Influências internas e externas na obra das mães e
na mocidade portuguesa feminina. Campus Social. 3-4 (2006/2007) 19-43.
PINHO, Maria Antónia Ferreira de Azevedo (1952) - Costa de Caparica. Lisboa: [s.n.].
Acessível no Instituto Superior de Serviço Social, Universidade Lusíada de Lisboa.
(HQ652.P56 1952-258372).
POINSARD, Léon (1912) - Portugal ignorado. Porto : Magalhães & Moniz Editores.
PORTARIA nº 15 972/1956. Diário do Governo I série. 200 (18 Set. 1956) 1501-1503.
PORTARIA nº 15 973/1956. Diário do Governo I série. 200 (18 Set. 1956) 1503.
RIBEIRO, Maria Raquel (1947) - Vida do Cadaval monografia. Lisboa : [s.n.]. Acessível
no Instituto Superior de Serviço Social, Universidade Lusíada de Lisboa. (HQ652.R53
1947-258921.
RICHMOND, Mary (1917) - Social diagnosis. New York : Russell Sage Fundation.
RICHMOND, Mary (1950) - Diagnóstico social. Trad. José Alberto Faria. Lisboa:
Instituto Superior de Higiene Dr. Ricardo Jorge.(INSA: 7396): Gradiva.
RICHMOND; Mary (1922) - What is social case work? an introductory description. New
York : The Russell Sage Foundation.
SALINAS, Maria Luis [et al.] (1960) - Os centros sociais ao serviço da pessoa e da
Comunidade. Serviço Social de Sector. Conferência e testemunhos de trabalho.
Lisboa : Instituto de Serviço Social.
SÁNCHEZ, M.ª Victoria Molina (1990) – Las escuelas de trabajo social en Espanha.
Cuadernos de Trabajo Social. Madrid. 3 (1990) 183-197.
SÁNCHEZ, M.ª Victoria Molina (1994) – Las enseñanzas del trabajo social en España,
1932-1983 : Estudio-sócio educativo. Madrid : Universidad Pontíficia de Comillas.
SANTOS, Maria Isabel Rodrigues (2009) - O discurso histórico sobre o serviço social
em Portugal. Lisboa : Universidade Católica Editora.
SCHÖN, Donald (1983) - The reflective practitioner : how professionals think in action.
Londres : Temple Smith
SOYDAN, Haluk (2004) - La História de las ideas en el trabajo social. Consejo General
de Diplomados en Trabajo Social y Assistentes Sociales. Valência : Tirant Lo Blanch.
TORGAL, Luis Reis (2009) - Estados novos, estado novo : ensaios de história política
e cultura. Coimbra : Fundação para a Ciência e Tecnologia. V. 2.
VIEIRA, Balbina Ottoni (1955) - Introdução ao trabalho social. Rio de Janeiro : Serviço
Social do Comércio.
VIEIRA, Balbina Ottoni (1980) - História do Serviço Social. Rio de Janeiro : Agir
Editora.
BIBLIOGRAFIA330
ALMEIDA, João Ferreira de [et al.] (1992) - A exclusão social, factores e tipos de
pobreza em Portugal. 1.ª ed. Oeira : Celta Editora.
ALVES, Maria Adozinda de Morais (1944) - Monografia da Casa Pia. Lisboa : [s.n.].
Acessível no Instituto Superior de Serviço Social, Universidade Lusíada de Lisboa.
(HV1247.A48 1944-259805).
330 Esta bibliografia foi elaborada com base nas seguintes normas:
ISO 7144:1986 – Documentation – Présentation des thèses et documents assimilés.
Esta norma estipula a criação de um capítulo específico para a organização dos
documentos que não foram citados no texto e que fizeram parte da revisão da
literatura;
NP 405-1:1994 – Referências bibliográficas: documentos impressos;
NP 405-2:1998 – Referências bibliográficas: materiais não livro;
NP 405-3:2000 – Referências bibliográficas: documentos não publicados;
NP 405-4:2002 – Referências bibliográficas: documentos electrónicos.
BARATA, Clotilde Eduarda da Silva (1952) - Monografia sobre Odivelas. Lisboa : [s.n.].
Acessível no Instituto Superior de Serviço Social, Universidade Lusíada de Lisboa.
(HQ652.B37 1952-258162).
BERNOUX, Philippe (1985) - La sociologie des organisations. 4.ª ed. Paris : Seuil.
CLODE, Maria Rita Dória Monteiro (1965) – Estudo das condições da Tuberculose na
Madeira. Lisboa : [s.n.]. Acessível no Instituto Superior de Serviço Social, Universidade
Lusíada de Lisboa. (RA644.T7 C56 1965-257030).
CORBI, Juliet ; STRAUSS, Anselm (2008) - Basics of qualitative research. 3rd ed.
London : Sage.
COSTA. Maria Cristina Barata Feio (1948) – Monografia social de Monchique. Lisboa:
[s.n.]. Acessível no Instituto Superior de Serviço Social, Universidade Lusíada de
Lisboa. (HQ652.C67 1948-259044).
CRESPO, Maria Henriqueta Cordeiro Dias (1952) – A vila de Alter do Chão. Lisboa :
[s.n.]. Acessível no Instituto Superior de Serviço Social, Universidade Lusíada de
Lisboa. (HQ652.C74 1952-258164).
FALCÃO, Maria do Carmo Brant de Carvalho (1977) - Serviço social : uma nova visão
teórica. São Paulo : Cortez & Moraes.
FALEIROS, Vicente de Paula (2002) - Estratégias em Serviço Social. 4.ª Ed. S. Paulo :
Cortez Editora.
IGRELA CATÓLICA. Papa, 1922-1939 (Pio XI) (1956) - Ex Officiosis Litteris. São
Paulo : Vozes.
IGRELA CATÓLICA. Papa, 1958-1963 (João XXII) (1990) - Mater Magistra. Lisboa :
Edições Paulistas.
JESUS, Maria Lídia Pestana (1964) - O problema da debilidade mental. Lisboa : [s.n.].
Acessível no Instituto Superior de Serviço Social, Universidade Lusíada de Lisboa.
(HV3004.J47 1964-256903).
LUCIO, Pilar (2006) – Metodologia de pesquisa. 3.ª ed. São Paulo: McGraw-Hill.
MAIO, Maria Amália do Reis Messias (1958) – Alvor : estudo monografico. Lisboa :
[s.n.]. Acessível no Instituto Superior de Serviço Social, Universidade Lusíada de
Lisboa. (HQ652.M35 1958-260007).
MARX, Karl (1992) – O capital : crítica da economia política. Lisboa : Editorial Avante.
MARX, Karl ; ENGELS, Frédéric (1998) - Manifesto do Partido Comunista. São Paulo :
Cortez.
MERCEDES, Maria das (1964) - Problemas médico sociais das doenças da pele:
(tinha, úlcera da perna, piodermite e erisipela). Lisboa : [s.n.]. Acessível no Instituto
Superior de Serviço Social, Universidade Lusíada de Lisboa. (RL71.M47 1964-
256893).
MINAYO, Maria Cecília, org. (1996) - O desafio do conhecimento. 4.ª ed. São
Paulo/Rio de Janeiro : Hucitec/Abrasco.
NEGREIROS, Maria Augusta [et al.] (1999) – Serviço Social, profissão & identidade.
Que trajectoria?. São Paulo : Veras Editora.
PAIS, Maria da Luz Machado de (1965) – Alguns aspectos sociais do problema dos
cegos em Portugal (Asilo – Escola A.F. Castilho). Lisboa : [s.n.]. Acessível no Instituto
Superior de Serviço Social, Universidade Lusíada de Lisboa. (HV1598.P35 1946-
256906).
PATTON, Michael Quinn (1990) - Qualitative, evaluation research methods. 2nd Ed.
Newbury Park : Sage Publications.
PERNÃO, Maria Manuela Neves (1957) – A praia da Vieira. Lisboa : [s.n.]. Acessível
no Instituto Superior de Serviço Social, Universidade Lusíada de Lisboa. (HQ652.P47
1957-258361).
PRATAS, Maria Odete Nunes Alves Lizardo (1967) - Estudo sobre perturbações
mentais. Lisboa : [s.n.]. Acessível no Instituto Superior de Serviço Social, Universidade
Lusíada de Lisboa. (HV3004.P73 1967-257378).
SANTOS, Maria Eunyce Branco Silva (1958) - Fontelo : um trecho do Alto Douro :
esboço de um estudo monográfico-social. Lisboa : [s.n.]. Acessível no Instituto
Superior de Serviço Social, Universidade Lusíada de Lisboa. (HQ652.S26 1958-
258394).
SANTOS, Maria Leonor Joly Braga (1952) – Monografia da Vila de Almada. Lisboa :
[s.n.]. Acessível no Instituto Superior de Serviço Social, Universidade Lusíada de
Lisboa. (HQ652.S26 1952-257490).
SARMENTO, Maria Manuela (2008) - Guia prático sobre a metodologia científica para
a elaboração, escrita e apresentação de teses de doutoramento,dissertações de
mestrado e trabalhos de investigação aplicada. 2.ª ed. Lisboa : Universidade Lusíada
Editora.
SEGARRA, Maria Fernando Ribeiro (1965) - Estudo das causas sociais que estão na
base da grande mortalidade infantil verificada nos bairros nativos – Inhambane. Lisboa
: [s.n.]. Acessível no Instituto Superior de Serviço Social, Universidade Lusíada de
Lisboa. (HB1323.C5 M6 1965-257230).
SILVA, Augusto Santos, org. ; PINTO, José Madureira, org. (2003) - Metodologia das
ciências sociais. Porto : Edições Afrontamento.
SILVA, Maria Emília Campos (1948) - Monografia sobre Vilar Formoso. Lisboa : [s.n.].
Acessível no Instituto Superior de Serviço Social, Universidade Lusíada de Lisboa.
(HQ652.S55 1948-259005).
TEIXEIRA, Maria Helena (1937) - Monografia de uma família. Lisboa : [s.n.]. Acessível
no Instituto Superior de Serviço Social, Universidade Lusíada de Lisboa. (HQ652.T45
1937-256910).
TRINDADE, Maria Fernanda Valente Campos Ferreira (1959) - Nazaré. Lisboa : [s.n.].
Acessível no Instituto Superior de Serviço Social, Universidade Lusíada de Lisboa.
(HQ652.T75 1959-257731).
VELOSO, Maria Beatriz (1965) – O problema das mães solteiras. Lisboa : [s.n.].
Acessível no Instituto Superior de Serviço Social, Universidade Lusíada de Lisboa.
(HV700.5.V45 1965-256815).
VIANA, Maria José de Lencastre (1940) – Vila do Conde : monografia de uma família
operária. Lisboa : [s.n.]. Acessível no Instituto Superior de Serviço Social, Universidade
Lusíada de Lisboa. (HQ652.V53 1940-259631).
LISTA DE APÊNDICES
1893 Introduzido pela primeira vez o conceito de Social Work por Anna L Dewes
no “Congresso Internacional de Beneficiência, correcção e filantropia”
realizado em Chicago com o objetivo de motivar especialistas em
Assistência Social (Diaz, 1987, p. 125)
1898 Inicio dos primeiros cursos de seis semanas em Trabalho Social na Charity
Organization Society of New York (Diaz, 1987, p. 125)
1936 Fundação da Boston College Shoool of Social Work pelo Padre Walter
McGuinn, sendo a quarta mais antiga escola católica de Serviço Social no
Estados Unidos. (Boston College Graduate School of Social Work
consultado em 28.02.2013)
Autoriza o funcionamento de
institutos destinados à formação de
assistentes de Serviço Social, em
curso de duração de 3 anos. Define o
Ministério da Educação plano geral de estudo e programas.
D.L 30 135 14 dezembro 1939
Nacional Os planos de estudo então aprovados
seriam retificados no diário do
Governo de 10 de fevereiro de 1940
por despacho da Presidência do
Concelho
Aprova o plano de estudos da
especialização de Visitadora Escolar,
um complemento de formação para
Portaria Ministério da Educação os assistentes sociais que viessem a
30 outubro 1939
9 360 Nacional integrar os serviços de saúde escolar,
que apenas funcionou durante um
ano letivo no Instituto de Serviço
Social de Lisboa.
Considera que os estabelecimento da
assistência e beneficiências tinham
como objetivo prestar assistência
D.L 35 108 7 novembro 1945
religiosa e moral aos assistidos ,
sobretudo pela irmandades da
misericórdia
Determinam a criação de cursos de
especialização em Serviço Social
Corporativo e a sua implementação
pelos institutos de Serviço Social, e
instituindo a atribuição de bolsas de
Presidência do estudo para estudantes da província.
Concelho e do A formação proposta era constituída
D.L 35 457 19 janeiro 1946
Ministério da Educação por dois grupos de matérias; Trabalho
Nacional (evolução e características atuais,
panorama agrícola e industrial
português, organização corporativa e
legislação) e melhoria das condições
de vida (previdência, pedagogia e
cultura popular)
Reorganização do ensino de
Enfermagem abrindo-lhes a
possibilidade de criação de cursos de
D.L 36 219 10 abril 1947 Ministério do Interior
de Serviço Social, medida que se
enquadrava no âmbito da designada
Reorganização da Assistência (1945)
Este diploma regula, em harmonia
com a recente reforma do ensino
Ministério da Educação secundário a admissão ao curso de
D.L. 36 914 14 junho 1948
Nacional Serviço Social e a sua duração. O
curso de assistente de serviço Social
terá a duração de 3 anos, seguido de