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Recebido em 30/maio/2006
Aprovado em 14/março/2008
Jorge Renato Verschoore, Mestre e Doutor em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, é Professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (CEP 93022-000 — São Leopoldo/RS, Brasil).
E-mail: jorgevf@unisinos.br
Endereço: Universidade do Vale do Rio do Sinos
Avenida Unisinos, 950
93022-000 — São Leopoldo — RS
Alsones Balestrin, Mestre e Doutor em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, é Professor e Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (CEP 93022-000 — São
Leopoldo/RS, Brasil) e Professor Associado ao Instituto de Administração de Empresas da Universidade de Poitiers (França).
E-mail: abalestrin@unisinos.br
En este artículo se realiza un estudio sobre el tema redes de cooperación que abarca
empresas asociadas a las redes formadas por una política pública desarrollada por el
Gobierno del Estado de Rio Grande do Sul, con la finalidad de ampliar la
competitividad de las pequeñas empresas y generar desarrollo económico y social por
medio del incentivo a la formación de redes de cooperación. El objetivo principal del
estudio es identificar y medir los principales resultados competitivos proporcionados
por las redes de cooperación a las empresas asociadas. Para alcanzar dicho objetivo, se
realizó un análisis conjunto en una muestra de 443 propietarios de una población de
3.087 empresas asociadas a las 120 redes del Programa Redes de Cooperación. Los
datos empíricos habían sido recolectados por los investigadores en 2005, y fueron
procesados y analizados estadísticamente. Los resultados obtenidos por medio del
análisis conjunto confirman la importancia de los cinco resultados competitivos que las
redes de cooperación proporcionan a las empresas, en el siguiente orden de
importancia: provisión de soluciones; beneficios de escala y de poder de mercado;
aprendizaje e innovación; relaciones sociales; y reducción de costos y riesgos. Basado
en los resultados, se ha propuesto un esquema conceptual de análisis de los beneficios
competitivos generados por las redes.
Palabras Clave: cooperación interorganizacional, redes, competitividad.
1. INTRODUÇÃO
O tema redes de cooperação tem sido foco de crescente preocupação nos debates
acadêmicos e empresariais. Embora não se constitua em uma idéia recente, visto que o conceito
de rede é empregado na teoria organizacional desde o começo do século XX (NOHRIA, 1992),
a união de empresas com o objetivo de obter soluções coletivas vem recebendo maior atenção
de estudos e práticas organizacionais nas últimas décadas (OLIVER e EBERS, 1998). O
propósito central das redes é reunir atributos que permitam uma adequação ao ambiente
competitivo em uma única estrutura, sustentada por ações uniformizadas, porém
descentralizadas, que possibilite ganhos de escala sem perder a flexibilidade por parte das
empresas associadas.
As redes de empresas apontam uma nova direção para o enfrentamento das pressões
competitivas, na qual as conexões entre os agentes “[...] constituem uma reflexão e um
reconhecimento da interdependência, de forma oposta à autonomia postulada pela teoria clássica
da firma” (THORELLI, 1986, p.41). Os resultados competitivos obtidos coletivamente são
elementos importantes para a delimitação do conceito de rede interorganizacional. Com base
neles, pode-se defini-la como “[...] arranjos propositais de longo prazo entre distintas, porém
relacionadas, organizações lucrativas que permitem a essas firmas ganhar ou sustentar
vantagens competitivas frente a seus competidores fora da rede” (JARILLO, 1988, p.32).
A crescente relevância que o tema redes vem adquirindo no Brasil, tanto na área
acadêmica quanto na empresarial, instigou o presente estudo, com vistas a identificar e
mensurar os principais ganhos competitivos proporcionados pelas redes de cooperação às
empresas associadas. Nesse sentido, optou-se pelo estudo do Programa Redes de Cooperação
(PRC) do Governo do Estado do Rio Grande do Sul por aglutinar grande número de redes com
estruturas organizacionais similares. Além disso, a amplitude de participantes do PRC permitiu
que a pesquisa tivesse uma ênfase quantitativa sobre o impacto da cooperação na
competitividade das empresas. O método da análise conjunta foi adotado por possibilitar a
mensuração dos ganhos competitivos das empresas envolvidas em diferentes segmentos e, além
disso, permitir também a hierarquização de cada um desses ganhos por ordem de importância.
Para alcançar o objetivo proposto, o artigo está estruturado da seguinte forma: inicia-se
com uma reflexão sobre as redes de cooperação e seus ganhos competitivos; logo após,
apresenta-se uma síntese da metodologia utilizada na pesquisa. Na seqüência, analisa-se, em
linhas gerais, o PRC. Em seguida, são apresentados os principais resultados e, ao final,
destacam-se as implicações decorrentes e as considerações finais da pesquisa.
potencializar a capacidade de competição das empresas emergiu ao final da década de 1990, por
meio das pesquisas de Human e Provan (1997). Partindo de pesquisas anteriores, os autores
propuseram-se identificar os diferentes resultados possíveis de serem obtidos por meio de redes.
Não obstante, ao compararem os resultados das empresas associadas com os de suas
concorrentes, estabeleceram a idéia de que a participação em redes de cooperação pode ser
entendida como um instrumento de ganhos de competitividade para empresas de menor porte.
Em decorrência da percepção de que a cooperação gera ganhos competitivos para as
empresas, governos e entidades privadas ao redor do mundo, instituíram políticas de promoção
e apoio de iniciativas de redes. No Brasil, o PRC é uma das experiências mais duradouras, que
fomenta, desde 2000, no Rio Grande do Sul, a geração de um amplo e variado conjunto de redes
de cooperação. Por seu êxito, a política tornou-se foco de pesquisas e estudos de caso acerca dos
ganhos competitivos das empresas participantes. Partindo dos resultados desses estudos (BÖHE
e SILVA, 2004; MACADAR, 2004; PEREIRA, 2004; BALESTRIN, 2005; VERSCHOORE,
2006) e alinhando-os a outras contribuições seminais sobre o tema (JARILLO, 1988;
PERROW, 1992; POWELL, 1998; THOMPSON, 2003), foi possível, a priori,aglutinar, em
cinco ganhos o extenso número de variáveis que afetam a competitividade das empresas
associadas às redes. A seguir, serão apresentados esses ganhos, suas definições, o referencial
teórico de suporte, bem como uma síntese desse referencial, que orientarão a pesquisa empírica.
Parte dos problemas enfrentados por uma empresa de pequeno porte pode ser superada
pelo desenvolvimento de soluções a partir da rede na qual ela se insere. Serviços de garantia ao
crédito, prospecção e divulgação de oportunidades, bem como auxílio contábil e técnico-
produtivo (BEST, 1990) podem ser internalizados pelas redes para minimizar os obstáculos
impostos às empresas. As redes de cooperação também podem suprir as necessidades de
capacitação de seus associados por meio de treinamentos e de consultorias, pois elas têm
melhores condições de identificar fragilidades comuns e encontrar soluções coletivas.
Paralelamente, as redes podem desenvolver sistemas de informação para a disseminação
eletrônica de soluções entre seus associados (ROCKART e SHORT, 1991). Assim, esse fator
diz respeito a todos os serviços, produtos e infra-estrutura disponibilizados pela rede para o
desenvolvimento de seus associados.
As soluções disponibilizadas pelas redes de cooperação também assumem a forma de
infra-estrutura e de apoio às ações de maior amplitude, facilitando ações individuais dos
associados. Essa infra-estrutura coletiva materializa o sentido dos envolvidos em pertencer ao
grupo (OLSON, 1999), fortalecendo seus vínculos e conectando-os mais intensamente à rede
(HANDY, 1997). Por fim, é importante que os associados percebam o jogo de soma positiva
que ocorre nas relações em rede para que a infra-estrutura coletiva se torne uma solução viável.
“Por exemplo: abrir mercado em outro país por si só justifica a presença de minha empresa na
rede, mesmo que minhas vendas para esse país tenham sido menores do que as das outras
empresas da rede” (BALESTRO, 2004, p.63).
vantagem de permitir o rápido acesso às novas tecnologias por meio de seus canais de
informação. “Acentuando a amplitude da informação, elas criam as condições para promover
inovações, conjugando diferentes lógicas e novas combinações de informações” (POWELL,
1987, p.81). Outro ganho em termos de inovação é a redução da lacuna entre a concepção e a
execução das atividades, já que nas redes de cooperação todos estão habilitados a inovar
(PERROW, 1992). Por último, há o benefício da aproximação entre as empresas associadas, que
facilita a partilha de idéias e elimina preconceitos como “[...] a síndrome do não-inventado-aqui,
em que inovações e idéias são rejeitadas porque não foram criadas e desenvolvidas
internamente” (LORENZONI e BADEN-FULLER, 1995, p.151). Por tudo isso, tanto a
aprendizagem quanto a inovação constituem-se em ganhos das redes de cooperação. Assim,
define-se aprendizagem e inovação como o compartilhamento de idéias e de experiências entre
os associados e as ações de cunho inovador desenvolvidas em conjunto pelos participantes.
Ganhos
Definição Variáveis Referências
Competitivos
Dimaggio e Powell (1983)
Best (1990)
Benefícios obtidos em
Poder de barganha Waarden (1992)
decorrência do crescimento do
Relações comerciais Lorenzoni e Baden-Fuller
número de associados da rede.
Escala e Poder de Representatividade (1995)
Quanto maior o número de
Mercado Credibilidade Human e Provan (1997)
empresas, maior a capacidade
Legitimidade Perrow (1998)
da rede em obter ganhos de
Força de mercado Campbell e Goold (1999)
escala e de poder de mercado.
Macadar (2004)
Böhe e Silva (2004)
Capacitação
Os serviços, os produtos e a Best (1990)
Consultorias
infra-estrutura disponibilizados Rockart e Short (1991)
Marketing
Acesso a Soluções pela rede para o Handy (1997)
Prospecção de
desenvolvimento de seus Olson (1999)
oportunidades
associados. Balestro (2004)
Garantia ao crédito
Powell (1987; 1998)
Lorenzoni e Baden-Fuller
Disseminação de
(1995)
O compartilhamento de idéias e informações
Kraatz (1998)
de experiências entre os Inovações coletivas
Aprendizagem Wildeman (1998)
associados e as ações de cunho Benchmarking interno e
e Inovação Beeby e Booth (2000)
inovador desenvolvidas em externo
Phan e Peridis (2000)
conjunto pelos participantes. Ampliação de valor
Araújo (2000)
agregado
Polt (2001)
Balestrin (2005)
Miles e Snow (1986)
Jarillo (1988)
Håkansson e Snehota
Atividades
(1989)
A vantagem de dividir entre os compartilhadas
Ebers e Grandori (1997)
associados os custos e os riscos Confiança em novos
Redução de Ebers (1997)
de determinadas ações e investimentos
Custos e Riscos Richardson (1997)
investimentos comuns aos Complementaridade
Kay (1998)
participantes. Facilidade transacional
Barney (1999)
Produtividade
Prahalad e Ramaswamy
(2004)
Pereira (2004)
Williamson (1985)
Limitação do
O aprofundamento das relações Coleman (1990)
oportunismo
entre os indivíduos, o Axelrod (1990)
Ampliação da confiança
crescimento do sentimento de Perrow (1992)
Relações Acúmulo de capital
família e a evolução das Ring e Van de Ven (1994)
Sociais social
relações do grupo para além Lado, Boyd e Hanlon (1997)
Laços familiares
daquelas puramente Gulati, Nohria e Zaheer
Reciprocidade
econômicas. (2000)
Coesão interna
Böhe e Silva (2004)
3. METODOLOGIA
hierarquização abre caminho para maior conhecimento a respeito das empresas e dos empresários
envolvidos nas redes, suas interpretações, preferências e opiniões em relação aos ganhos das redes
que mais contribuem para a competitividade das empresas associadas. Nesse sentido, o método
estatístico mais adequado para alcançar os objetivos propostos é a análise conjunta (conjoint
analysis).
Optou-se por adotar essa análise por ser uma técnica multivariada que permite compreender
como respondentes desenvolvem preferências de importância sobre determinado fenômeno
(HAIR et al., 1998). Por meio dela, é possível identificar graus importância para determinado
conjunto de fatores, permitindo assim ordená-los hierarquicamente e realizar análises detalhadas
sobre o efetivo impacto ou a verdadeira utilidade das variáveis implícitas em cada fator. De acordo
com alguns autores Hair et al. (1998), a análise conjunta é a única técnica multivariada por meio
da qual o pesquisador primeiro constrói os fatores pela combinação de variáveis reais ou
hipotéticas, para só então apresentá-los aos respondentes. Seguindo as informações prestadas pelo
pesquisador, cabe ao respondente organizar os ganhos apresentados de acordo com sua preferência
ou opinião quanto à importância relativa de cada fator em relação aos demais.
Tendo sido definidos os cinco ganhos, partiu-se para o desenho dos estímulos de coleta, ou
seja, as combinações de níveis de ganhos identificados pelo pesquisador (MALHOTRA, 2001).
Para facilitar a tarefa de organização dos respondentes, foram atribuídos dois níveis para cada
fator: baixo e alto. Na construção dos estímulos, foram adotados dados de entrada não-métricos e
uma abordagem de perfil pleno, em que são elaborados perfis completos a partir do conjunto de
ganhos. “Tipicamente, cada perfil é descrito em um cartão índice separado” (MALHOTRA, 2001,
p.556). Como os cinco ganhos gerariam número elevado de perfis, realizou-se um planejamento
fatorial fracionário por meio do SPSS, reduzindo-os para 12 cartões de estímulo.
A coleta de dados da pesquisa ocorreu em 2005, sendo realizada pelos autores e por seus
auxiliares, os quais foram devidamente treinados para a aplicação da técnica. Selecionou-se o
grupo de respondentes aleatoriamente a partir do cadastro das empresas do PRC. Alcançou-se uma
unidade amostral de 443 respondentes, avaliada como satisfatória para os fins dessa pesquisa.
Todos os respondentes foram classificados em dois segmentos − tempo de existência e número de
associados da rede − para detalhar a análise dos resultados, que constituiu a etapa posterior do
processo. O objetivo central da análise foi identificar o grau de importância atribuído pelos
respondentes aos cinco ganhos apresentados. Primeiramente, os resultados foram analisados de
forma agregada, o que possibilitou uma visão geral representativa da população de representantes
de empresas organizadas em redes de cooperação. Em seguida, como complementação,
empreendeu-se também uma análise comparativa entre os dois grupos segmentados.
empresas. Cabe destacar que as redes formadas pelo PRC são constituídas por PME que se
situam geograficamente próximas, atuam em um segmento específico de mercado, relacionam-
se de forma não-hierárquica e associativa, prevalecendo a confiança mútua, e coordenam-se a
partir de mínimos instrumentos contratuais que garantam a governança.
O PRC foi concebido com três pilares de sustentação:
• uma metodologia de formação, consolidação e expansão de redes entre empresas;
• uma estrutura regionalizada de suporte à implementação do modelo de rede proposto;
• uma coordenação estadual gerida pela Sedai.
Cada pilar cumpre uma função imprescindível no desafio de criar e sustentar redes de
empresas. A metodologia de formação de redes é a base de operacionalização do PRC. Sua
elaboração objetivou proporcionar as melhores condições para o surgimento das redes,
organizando a cooperação entre as empresas interessadas. Ela sistematiza os principais passos
necessários para que empresas com características semelhantes consigam empreender ações
conjuntas com vistas a atingir objetivos comuns. As etapas da metodologia compreendem, entre
outras, a exposição da idéia, a definição de um plano de atuação conjunta das empresas, a
execução das ações previstas no plano operacional da rede e o planejamento estratégico de
longo prazo. O segundo pilar do PRC é a utilização de núcleos regionais de atuação sustentados
por convênios com diferentes universidades, as quais desempenham dois papéis relevantes: a
intermediação entre as especificidades locais e a coordenação estadual e a operacionalização da
ferramenta metodológica junto às redes de empresas. Por fim, o terceiro pilar situa-se na
coordenação estadual. Todas as ações do PRC são organizadas por uma estrutura específica
mantida na Sedai, que tem por função dar sentido integrado de política pública focada em
empreendimentos de pequeno porte e direcionada a construir um desenvolvimento regional
endogenamente determinado.
A operacionalização do PRC teve início no ano 2000. O projeto-piloto contou com uma
universidade conveniada e sete consultores capacitados, que atendiam demandas pontuais de
grupos de empresas que já manifestavam o desejo de organizar-se em redes de cooperação. Por
meio desse projeto-piloto, foi possível aprimorar a metodologia e o processo de treinamento e
acompanhamento dos consultores. Nos meses seguintes, deu-se início à fase de disseminação do
PRC, na qual foram conveniadas outras cinco universidades, contratados e capacitados 30
consultores, promovida a massificação dos instrumentos de comunicação e sensibilização de
empresas, com a criação de materiais publicitários, e realizados eventos especificamente
voltados às PME.
Em dezembro de 2003, houve a assinatura de sete novos convênios com universidades,
que aumentou para 45 o número de técnicos envolvidos com a operacionalização do PRC.
Realizando melhorias em pontos cruciais, como a metodologia de formação das redes e a
capacitação dos técnicos que assessoram as empresas, mas sem alterar os pressupostos básicos
de atuação, obteve-se um salto qualitativo e quantitativo das redes. Desde seu início, em 2000,
até 2005, foram constituídas 120 redes de cooperação com a participação de mais de 3 mil
empresas, gerando e mantendo 30 mil postos de trabalho e representando um faturamento
conjunto de aproximadamente R$ 3 bilhões (RIO GRANDE DO SUL, 2005). O PRC
30
Grau de Importância (%)
25
20
15
Escala e Acesso a Aprendizagem Redução de Relações
Poder de Soluções e Inovação Custos e Sociais
Mercado Riscos
Tabela 1
Segmentação pelo Tempo de Existência da Rede
Tabela 2
Segmentação pelo Número de Associados da Rede
De acordo com a tabela 3, a percepção dos respondentes quanto aos ganhos competitivos
apresenta diferenças significativas. Observa-se que redes com menos de 15 associados
valorizam mais o fator Ganhos de Escala do que redes com maior número de associados. Essa
valorização decorre da incapacidade em obter os benefícios da escala devido ao tamanho
Tabela 3
Grau de Importância dos Ganhos Competitivos e Número de
Associados da Rede
Número de Importância
Ganhos Competitivos Número de Associados
Respondentes Média
Menos de 15 220 21,8482
Entre 16 e 30 192 18,5145
Escala e Poder de Mercado
Mais de 30 030 15,7177
Total 442 19,9840
Menos de 15 220 23,5339
Entre 16 e 30 192 27,5848
Acesso a Soluções
Mais de 30 030 38,4170
Total 442 26,3038
Menos de 15 220 19,8625
Entre 16 e 30 192 20,0730
Aprendizagem e Inovação
Mais de 30 030 14,9707
Total 442 19,6219
Menos de 15 220 17,8827
Entre 16 e 30 192 15,5064
Redução de Custos e Riscos
Mais de 30 030 14,1053
Total 442 16,5941
Menos de 15 220 16,8727
Entre 16 e 30 192 18,3205
Relações Sociais
Mais de 30 030 16,7870
Total 442 17,4958
visão entre os dois grupos de respondentes. Em geral, tanto as empresas participantes de redes
mais jovens como as empresas participantes em redes mais maduras observam intensidade
semelhante em seus ganhos competitivos.
Tabela 4
Grau de Importância dos Ganhos Competitivos e Tempo de
Existência da Rede
Apesar dessa semelhança geral, pequenas diferenças podem ser observadas nos ganhos
Relações Sociais, Escala e Poder de Mercado e Aprendizagem e Inovação, cujas vantagens são
mais intensamente percebidas pelos representantes de redes com maior tempo de atuação do que
os representantes das redes com menos de um ano de vida. A maior divergência está, porém, no
fator Redução de Custos e Riscos, que os respondentes de redes com menos tempo de atuação
valorizam em maior grau se comparados aos representantes das redes com mais de dois anos de
existência. Essa diferença indica que, à medida que a rede evolui, os ganhos relacionados à
simples diminuição dos custos das empresas vão sendo substituídos pelos ganhos derivados da
escala e da aprendizagem e inovação. Esses dados apontam que os ganhos competitivos das
empresas em redes de cooperação tornam-se mais complexos com o amadurecimento da rede.
6. IMPLICAÇÕES DA PESQUISA
No que tange aos resultados desta pesquisa, o fator mais lembrado por empresários,
quando se fala em rede, é a possibilidade de ampliar a força de ação de uma empresa pela união
com outras empresas. Destacado pelos trabalhos de Lorenzoni e Baden-Fuller (1995), Human e
Provan (1997) e Perrow (1998), Escala e Poder de Mercado foi comprovado por esta pesquisa
como um ganho competitivo almejado e realizado pelas empresas participantes de redes de
cooperação. Na análise agregada dos representantes de empresas associadas às redes, seus
percentuais foram um dos mais realçados. Os resultados evidenciam que os ganhos daí
derivados são amplamente perceptíveis, independentemente do tamanho ou do número de
associados da rede. Paralelamente, Acesso a Soluções destaca-se como o fator mais importante
para os associados de redes. O elevado percentual desse fator indica que os empresários
entendem a rede como um meio de minimizar suas dificuldades individuais, ao mesmo tempo
em que reduz as dificuldades dos envolvidos. Os estudos de Best (1990) e Waarden (1992)
mostram que, em diversas iniciativas de cooperação, a possibilidade de acessar soluções por
parte dos associados já é, por si só, uma forte motivação para a formação da rede.
Entre as revelações desta pesquisa, uma das mais significativas foi a expressiva
relevância apregoada ao fator Aprendizagem e Inovação pelos representantes de empresas. Os
resultados demonstraram que, nas redes de cooperação, o ambiente favorável à aprendizagem
organizacional e à geração de inovações possibilita ganhos tão importantes que praticamente se
igualam em preferência aos relativos ao fator Escala e Poder de Mercado, identificados com
freqüência como um dos maiores benefícios das redes. Desse modo, os dados empíricos
referendam a coerência dos postulados teóricos de diversos autores, entre os quais Powell
(1998), Gulati (1998), Schibany e Polt (2001), Hämäläinen e Schienstock (2001).
A possibilidade de reduções de custos e de riscos por meio das redes de cooperação está
vastamente documentada pelas publicações que abordam o tema (EBERS e GRANDORI, 1997;
JARILLO, 1988; PRAHALAD e RAMASWAMY, 2004). Esta pesquisa contribuiu com as
discussões a esse respeito, ao evidenciar, com fundamento nas análises quantitativas, a
importância do fator Redução de Custos e Riscos para os envolvidos nas redes originadas
através do PRC. Embora com graus inferiores a outros ganhos, os representantes de empresas
manifestaram que a Redução de Custos e Riscos é desejada e alcançada pelas empresas em
redes de cooperação. O benefício das Relações Sociais foi incluído no rol de ganhos estudados
em decorrência dos múltiplos trabalhos teóricos que demonstram o impacto de aspectos como
confiança e capital social no desenvolvimento socioeconômico e organizacional (GAMBETTA,
1988; COLEMAN, 1990; PUTNAM, 1996). A pesquisa realizada evidenciou a capacidade de as
redes gerarem as condições necessárias ao fortalecimento dos laços de relacionamento entre
seus participantes, confirmando os postulados teóricos de autores como Perrow (1992),
Fukuyama (1995), Gulati, Nohria e Zaheer (2000), entre outros.
As evidências relativas aos cinco ganhos competitivos das empresas em redes de
cooperação apresentadas permitem desenvolver um esquema analítico de compreensão do
fenômeno baseado em duas características determinantes em qualquer rede de cooperação:
tempo de existência e número de associados. O esquema exposto na figura a seguir tem por
objetivo orientar e facilitar o entendimento sobre a geração de ganhos competitivos pelas redes
de cooperação. Na figura, organizam-se os ganhos estudados conforme as seguintes evidências
desta pesquisa:
Ganhos de
Acesso a Escala e Poder
Número de Associados da Rede
Soluções de Mercado
Redução de Aprendizagem e
Custos e Inovação
Riscos
Relações Sociais
Conforme consta na figura, pode-se afirmar que a geração de ganhos competitivos das
redes de cooperação está fortemente condicionada a seu tamanho e a seu tempo de atuação. As
redes ainda em vias de consolidação, com pouco tempo de existência, apontam ter como
prioridade buscar reduções de custos e oferecer soluções a seus associados. Alguns ganhos,
como as relações sociais e a aprendizagem e inovação, são obtidos com o amadurecimento da
rede e, por isso, situam-se mais à direita da figura. No canto superior esquerdo, está posicionado
o fator Acesso a Soluções, uma vez que a quantidade e, principalmente, a qualidade das
soluções proporcionadas pela rede dependem do crescimento do número de participantes. O
fator Escala e Poder de Mercado situa-se no canto superior direito da figura, indicando que seus
reais benefícios somente serão alcançáveis à medida que haja evolução conjunta do tamanho e
do tempo da rede.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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