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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ


CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE CASTANHAL
FACULDADE DE PEDAGOGIA
JOSÉ ALAN DA SILVA TEIXEIRA
LONGINO ARRUDA ALVES
TIAGO FERREIRA DAMASCENO

PESQUISA DE CAMPO NEGRO E EDUCAÇÃO: RACISMO NO ENSINO


SUPERIOR EM CASTANHAL-PA

Castanhal – PA
2018
JOSÉ ALAN DA SILVA TEIXEIRA
LONGINO ARRUDA ALVES
TIAGO FERREIRA DAMASCENO

PESQUISA DE CAMPO NEGRO E EDUCAÇÃO: RACISMO NO ENSINO


SUPERIOR EM CASTANHAL-PA

Trabalho apresentado junto ao Curso de


Pedagogia da Universidade Federal do
Pará, Campus Universitário de
Castanhal, para obtenção de nota
parcial da disciplina de Antropologia
Educacional.

Docente: Prof.º. Dr. Assunção Amaral


Discentes: José Alan da Silva Teixeira,
Longino Arruda Alves e Tiago Ferreira
Damasceno.
Pedagogia 2017.2

Castanhal – PA
2018
1 A HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL

A escravidão no Brasil durou cerca de 300 anos, sobretudo baseada na


mão de obra negra, trazida da África. Após a longa travessia transatlântica,
desembarcavam no Brasil pessoas trazidas compulsoriamente do seio familiar,
dos amigos e de sua própria cultura sendo impedidos de viver seus princípios,
leis e vida. A África de seus pais, irmãos e filhos ficou no outro lado do Atlântico,
“e dali por diante teriam que conviver com o trauma do desenraizamento das
terras dos ancestrais” (ALBUQUERQUE; FILHO 2006: 65).
O negro, no território que mais tarde se denominaria Brasil, veio da África
para manter e expandir fazendas, lavouras de cana-de-açúcar, na agricultura de
subsistência, na criação de gado, na produção de charque, nos ofícios manuais
e nos serviços domésticos, no transporte de objetos e de pessoas e constituíam
a mão-de-obra mais numerosa empregada na construção:
“Por mais de trezentos anos a maior parte da riqueza produzida,
consumida no Brasil ou exportada foi fruto da exploração do trabalho
escravo. As mãos escravas extraíram ouro e diamantes das minas,
plantaram e colheram cana, café, cacau, algodão e outros produtos
tropicais de exportação”. (ALBUQUERQUE; FILHO 2006: 65)

Viver no regime de escravidão é antes de tudo, submeter-se à condição


de propriedade, sendo, portanto, passível “de ser leiloado, vendido, comprado,
permutado por outras mercadorias, entre outras situações desumanas”
(ALBUQUERQUE; FILHO 2006: 65). Isso representa especialmente ser
submetido ao domínio do senhorio e trabalhar de sol a sol na ocupação qual for
designada.
Somente após 300 anos de escravidão negra, esta começou a perder a
legitimidade, causada pela forte pressão ao governo imperial, vindo dos
escravos e dos avanços do partido republicano (ANDRADE, 201-?). Nesse
cenário muitas eram as rebeliões e manifestações em favor da abolição dos
escravizados no Brasil. Durante a última década do período imperial
brasileiro o contexto era de instabilidade e tensão social:
“A questão da escravidão era um ponto importante a ser resolvido e
vinha, desde meados do século XIX, causando preocupação e a
promoção de leis que tentavam adiar uma solução definitiva, como
a Lei Eusébio de Queirós, a Lei do Ventre Livre e especialmente a Lei
dos Sexagenários, aprovada apenas três anos antes da Lei Áurea”
(ANDRADE, 201-?).
Segundo ANDRADE, 201-?, a Lei Áurea promulgada em 1888 marcou o
fim da escravidão de modo formal. Um dos problemas em torno da abolição é
que ela foi apresentada pelo estado monárquico como um presente, e não como
conquista e lutas travadas por atores fundamentais: precisa-se destacar o
envolvimento decisivo dos escravizados nesta luta. A Lei Áurea marca um
contexto político de pressões para o fim da escravidão, entretanto, como
sabemos, ainda hoje existe escravidão.
A abolição da escravidão não resolveu de todo os problemas causados
pelas desigualdades sociais e raciais no país. A preferência pelo imigrante
europeu, as poucas oportunidades aos ex-escravos ocasionaram uma
desigualdade social que reforçou o racismo e está presente até os dias atuais
(ANDRADE, 201-?). A cultura negra que foi sufocada durante esse período,
ainda hoje se mantém abafada, mesmo com uma leve projeção da valorização
da cultura afro.

1.1 A Educação do Negro no Brasil em uma Perspectiva Histórica

Na condição de escravizado, ainda durante o Império, o negro não tinha


o direito à educação. Segundo Matilde Ribeiro (2004) o Brasil agiu com grande
permissividade, ao que tange a propagação do preconceito e racismo, ao
estabelecer por meios de decretos a proibição de negros à educação, e cita
também que ainda hoje o negro não tem sua história social estudada em sala de
aula. (apud JESUS, 2012:2).
Já na República, teoricamente por ser livre, o negro teria direito à
educação, entretanto, as leis e decretos que tratavam desse assunto
manifestavam racismo explícito, ao afirmarem a segregação do negro nos
“espaços de brancos”, que por consequência incluía a escola, se apresenta
então a interdição à escola por meio de mecanismos da República, tais decretos
e leis afirmavam que a educação era direito de todo cidadão brasileiro, o que
excluía os negros naturalmente africanos e os afro-brasileiros. O negro adulto
não poderia frequentar a escola, porém, esse direito estava condicionado ao
professor, que decidia por sua disponibilidade, se aceitava educá-lo ou não.
(RIBEIRO, 2004 apud JESUS, 2012:2).
Das várias reformas educacionais dos séculos XIX e XX, o espaço aberto
ao negro sempre foi bastante tímido, embora aparentes de universalização,
gratuidade e democratização, nunca se criou chances reais ao ex-cativo, para
integralizar-se no sistema escolar brasileiro. Os poucos que conseguiram esse
êxito eram de famílias, ou apadrinhadas a famílias abastardas.
Em agosto de 2012 foi sancionada a lei nº 12.711/2012, que dispõe sobre
o sistema de cotas, que reserva ¼ (um quarto), ou seja, 25% (vinte e cinco por
cento) das vagas em todas as universidades e institutos federais, para alunos
egressos de escolas públicas ou particulares, que tenham cursado como bolsista
integral, autodeclarados pretos, pardos e indígenas e por pessoas com
deficiência, nos termos da legislação, em proporção ao total de vagas no mínimo
igual à proporção respectiva de pretos, pardos, indígenas e pessoas com
deficiência na população da unidade da Federação onde está instalada a
instituição, segundo o último censo da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística – IBGE, oriundos de famílias com renda igual ou inferior a 1,5
salário-mínimo (um salário-mínimo e meio) per capita. (BRASIL:2012) Referente
a passos concretos ao acesso do negro à educação, a lei que dispõe do ingresso
ao ensino superior foi a mais eficaz.

2 COMO O NEGRO É REPRESENTADO NO LIVRO DIDÁTICO

O livro didático é um dos materiais pedagógicos mais utilizados pelos


professores, representa para as crianças empobrecidas “o único recurso de
leitura na sua casa” (SILVA, 2001). O livro didático então, se constitui, em virtude
da importância concedida a ele, como “expansão de estereótipos não percebidos
pelo professor” (SILVA, 2001: 15).
Isso ocorre porque o livro didático, geralmente, “omite ou apresenta de
um uma forma simplificada e falsificada o cotidiano, as experiências e
o processo histórico-cultural de diversos segmentos sociais, tais como
a mulher, o branco, o negro, os indígenas, os trabalhadores, entre
outros” (SILVA, 2001: 15).

Isso quer dizer que, em alguns casos, as informações, ideias, imagens


contidas nos livros didáticos, apresentadas em forma descontextualizada podem
criar ou contribuir para a expansão de ideias que afirmem uma imagem
corrompida ou adulterada da realidade de alguns grupos como negros, índios,
mulheres, trabalhadores, entre outros, estereotipando-os. Os livros que utilizam
materiais autênticos possuem menores possibilidades de contribuir com esse
fenômeno de estereótipos, pois trabalham com imagens, histórias e/ou contextos
reais, e não fictícios como os encontrados em livros didáticos de materiais não-
autênticos.

2.1 Análise da imagem do negro no livro didático

Nessa perspectiva, buscou-se analisar como os livros didáticos


apresentam a imagem do negro para observar como essa imagem é retratada.
Para isso, utilizou-se os livros i) Matemática 2ª série, Projeto Pitanguá (obra
coletiva concebida, desenvolvida e produzida pela Editora Moderna, 2005) do
componente curricular Matemática, Ensino Fundamental I; e ii) Interpretação de
Textos: Construindo Competências e Habilidades em Leitura, de William Cereja,
Thereza Cochar e Ciley Cleto (Editora Atual, 2009) do componente curricular
Língua Portuguesa, do Ensino Médio.
Analisaram-se algumas unidades dos livros, escolhidas de forma
aleatória, a saber, unidades 1 e 7 do primeiro livro e unidade 3 do segundo,
seguindo os critérios: a) quantidade de imagens/figuras apresentando o negro b)
se há contextualização ao apresentar as imagens; e c) a diferença em
quantidade de imagens referentes a negros e a outras etnias, no sentido de
equidade.
No primeiro critério de análise temos: Na Unidade 1 do primeiro livro, cujo
tema é Agricultura, aparecem 11 (onze) imagens que apresentam negros. Essas
imagens representam, na maioria, exemplos dos exercícios ou de conteúdo.
Na Unidade 7, cujo tema é Atletas, aparece 8 (oito) imagens que
apresentam negros. Geralmente exemplificando conteúdo e práticas de esporte.
Na Unidade 3 do segundo livro, cujo tema é A leitura nas provas do ENEM
e dos Vestibulares, aparecem 6 (seis) imagens que apresentam negros. Nessa
unidade as imagens exemplificam exercícios e abrem os capítulos.
No segundo critério de análise, observa-se que na abertura da Unidade 1
do primeiro livro, há uma tela onde apresenta um cafezal e escravos trabalhando,
esta unidade trabalha com o tema agricultura, não há menção em nenhum
momento que o período retratado foi no passado, não há contextualização
relevante, nesse caso o professor deve ficar atento e salientar que a imagem
representa a lavoura e não o trabalho escravo humano, podendo a imagem por
si própria aludir ao preconceito e ao racismo. Assim como em duas outras
ocasiões ocorre o mesmo 1.
Na Unidade 7, ainda no primeiro livro, não há alusão a
superioridade/inferioridade atribuído ao papel que os negros representam nas
imagens. Todos são ginastas ou estão praticando esportes, deve-se mencionar
que há uma médica negra, salientando que sua etnia não influenciou na
profissão escolhida.
Na unidade 3, do segundo livro, a imagem que apresenta a unidade há
uma mulher branca estudando. Na imagem que apresenta o primeiro capítulo há
uma sala de aula com pessoas estudando para o vestibular, nelas não há
negros2. Esses dois casos devem ser abordados pelo professor. Este deve
informar que as imagens reforçam um perfil do universitário no Brasil, que na
maioria são pessoas da etnia branca. Além de suscitar um debate de questões
históricas que apontem o motivo da pouca quantidade de negros frequentando
o ensino superior. Tais imagens apresentam perfis extremamente racistas e
estereotipados, devem ser questionadas e analisadas pelos aprendizes,
mediados pelo professor.
No terceiro e último critério de análise, onde se buscou a diferença em
quantidade de imagens referentes a negros e a outras etnias, no sentido de
equidade, apurou-se que a Unidade 1 do livro didático Matemática 2ª série,
contém 21 (vinte e uma) imagens, destas, apenas 9 (nove) apresentam negros.
A Unidade 7 contém 17 (dezessete) imagens, onde 8 (oito) representam negros.
E por último a Unidade 3, do livro Interpretação de Textos: Construindo
Competências e Habilidades em Leitura, que apresenta um total de 46 (quarenta
e seis) imagens e destas apenas 6 (seis) apresentam negros. Observa-se que,
do total de 84 (oitenta e quatro) imagens, apenas 23 (vinte e três) se referem à
imagem do negro, nas quais nem sempre aparecem contextualizadas, no sentido
de igualdade racial, o que confere a algumas etnias certa superioridade, por
exemplo, ainda encontra-se imagens de negros como escravos de forma
descontextualizada.

1
Conferir Anexo II.
2
Conferir Anexo II.
Essa análise3 resultou na comprovação de que o mais utilizado dos
materiais pedagógicos, segundo SILVA, 2001, o livro didático, ainda apresenta
o negro estereotipado e o discrimina, dessa forma fortalece o privilegio a classes
tidas como superiores, estabelecendo critérios de superioridade/inferioridade.
Ainda que apareça a figura do negro é bastante tímida frente às outras etnias,
como índios, asiáticos e principalmente brancos, entre outros. Isso revela que,
se o professor não possuir um olhar crítico e atento para essa questão, o livro
didático acaba contribuindo para que permaneça o atual cenário de racismo e
preconceito em nossa sociedade, e principalmente dentro da escola. O professor
deve utilizar o livro didático como ferramenta de libertação da cultura de
superioridade/inferioridade criada por etnias que se julgam superiores.

3 PESQUISA DE CAMPO NEGRO E EDUCAÇÃO: RACISMO NO ENSINO


SUPERIOR EM CASTANHAL–PA

A Pesquisa de Campo realizada para discutir a relação Negro e Educação


se baseou na coleta de dados, através da ferramenta de gravação de áudio do
aplicativo de mensagem instantânea Whatsapp. Os informantes da pesquisa são
estudantes do ensino superior, de universidades situadas na cidade de
Castanhal, Pará, Brasil; abrangendo tanto o ensino público, a saber: UFPA, IFPA
e UEPA4; quanto o privado: Estácio/Fcat e UNIP5. Logo, o objetivo da pesquisa
é investigar se há casos de racismo no ensino superior em Castanhal; como se
deu os prováveis casos; quem cometeu o ato racista.
Procuramos identificar se atos racistas ocorrem na academia, o objetivo
primeiro é alertar movimentos, os coordenadores dos campi e diretores das
faculdades dos respectivos campus pesquisados, para políticas efetivas de
combate ao racismo. Assim como divulgar o resultado da pesquisa nas redes
sociais, para que toda a comunidade acadêmica tenha conhecimento.
A ficha de pesquisa6 está composta de 6 (seis) itens: 1) Título; 2) a
identificação dos entrevistadores; 3) as perguntas originais 4) as orientações ao
informante; 5) um quadro para identificação dos informantes, dos dados
pessoais e escolares do entrevistado; 6) quadro reservado à transcrição dos

3
No Anexo I estão descritas todas as situações em que apareceu a figura do negro.
4
Universidade Federal do Pará; Universidade do Estado do Pará; Instituto Federal do Pará.
5
Universidade Estácio de Sá/Faculdade de Castanhal; Universidade Paulista.
6
Ver Anexo III.
áudios colhidos. A pesquisa é semiestruturada, e pode(m) surgir nova(s)
pergunta(s) durante a entrevista, assim como o entrevistador pode utilizar
somente as descritas na ficha.

4 ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADO

A pesquisa analisou dados de 10 (dez) informantes, dos seguintes cursos:


Agronomia (IFPA), Administração (UNIP), Engenharia da Computação,
Pedagogia, Letras – Língua Portuguesa, Letras – Língua Espanhola, Sistemas
de Informação (UFPA), História (Estácio/FCAT) e Tecnologia de Alimentos
(UEPA).
Na primeira pergunta: 1. Você sofreu discriminação racial em sua vida
escolar ou em algum momento da sua vida escolar? 7 (sete) pessoas deram
resposta afirmativa, sim sofreram racismo. Destas sete, cinco sofreram racismo
tanto no ensino superior como em toda a vida escolar, e dois somente no ensino
fundamental.
Na segunda pergunta: 2. O seu ensino foi afetado em consequência
desse ato? 6 (seis) pessoas afirmaram ter o ensino afetado por sofrerem
atos de racismo. Apenas 1 (uma) não sentiu o ensino afetado após ter sofrido
racismo, em contrapartida dos outros seis.
Na terceira pergunta: 3. Você procurou seus direitos legais/ Como
atuou a Instituição? Das sete pessoas que sofreram atos racistas, somente
1(uma) procurou seus direitos junto à instituição, porém esta não obteve
resultado. Os outros afirmaram não saber o que era racismo na época em que
sofreram, ou não quiseram procurar seus direitos legais, ou não se manifestaram
apenas. Outra, ainda disse que, não queria afetar a vida da pessoa que cometeu
o ato racista.
Na quarta pergunta: 4. Quem cometeu o ato racista? 3 (três) informantes
afirmaram que os próprios colegas de classe cometeram os atos racistas (no
ensino básico e superior); 2 (dois) afirmaram que alunos e professores
cometeram os atos racistas (no ensino básico e ensino superior); e 2 (dois) que
afirmaram que foram professores os que cometeram atos racistas (somente no
ensino superior).
Na questão cinco: 5. Comente sobre o ocorrido, nós colhemos as
informações de como se seu o ato racista. Segue algumas respostas: B2 – “Foi
um momento de apresentação, o professor simplesmente questionou o fato de
“eu me sobre sair” sobre certas coisas, [em relação] [em relação dos demais];” /
A7 – “Na graduação quando um professor falou de cotas. Cotas pra mim é
reparação social, porque a gente está mais de 300 anos atrasados por conta do
período colonial e tudo mais”; / A6 – “mais recente, no 3º semestre uma aluna
da minha sala, branca e de cabelo liso, me chamou de macaca. Deixei por
menos, só que a situação se agravou e eu conversei com ela. [...] Eu tenho
alguns amigos que não me aceitam [...] eu sofro racismo não só na escola
[universidade], mas também das pessoas que me rodeiam, pelo fato de ser
negra. Se você está com cabelo preso você não sofre discriminação racial, mas
se você se revelar [usá-lo naturalmente ou em estilo black power] soltar o cabelo,
usar roupas diferentes [mosaicos africanos, ou cores fortes que remetem à
África], se você andar diferente, falar diferente, já é motivo para falarem que você
é negra [...]
Na sexta pergunta: 6. Você já presenciou um Ato Racista? Sete (sete)
informantes afirmaram já terem vistos atos de racismo: cometer injúria,
inferiorizar, comentários racistas foram as principais respostas, os demais
responderam apenas “sim”.
Na sétima pergunta: 7. Na sua vida escolar houve momentos/atos
voltados à valorização da identidade negra? 7 (sete) informantes disseram
que sim; 2 (dois) disseram que não; e 1 (um) não quis comentar. Comentários:
A6 – “Somente na graduação, pois, no ensino fundamental não havia tido o
‘boom’ não estava em evidência, consciência negra era como se fosse um dia
qualquer. Na vida escolar do fundamental eu queria me esconder, não mostrar
minha raiz [do cabelo]”.
Algumas vezes vai de apelidos a trocadilhos, e outras de injúria a
humilhação. As vítimas geralmente se sentem acuadas e a maioria não buscou
seus direitos legais. O perfil de quem comete racismo: pessoas da etnia branca,
são alunos e professores da classe. Os atos são questionamento indevidos,
levando em consideração a cor da pele negra, como: inteligência e capacidade;
apelidos que insultam; trocadilho comentários que aludem ao passado no negro
como escravizado. Em consequência disso, esses negros graduandos, na
maioria dos casos tiveram o ensino afetado, pois se sentiam retraídos e
incapazes. De todos os entrevistados, nove presenciaram tanto racismo explícito
quanto velado. E na vida escolar, apenas um caso de promoção da cultura e
identidade negra. No restante dos casos, eles citam somente o dia 20 de
novembro como algo sempre superficial, quando citam a consciência negra. Em
um acaso a informante disse que o negro ainda é apresentado como escravo
nos livros didáticos, em um caso a informante afirma que é um dia sem racismo
(20 de novembro) é muito pouco em face dos trezentos e sessenta e cinco dias
do ano com racismo. Com base nos dados apurados, conclui-se que há atos
racistas no ensino superior em Castanhal-PA.

5 CONCLUSÃO

O longo período de escravidão negra no Brasil se consolidou como uma


experiência que marcou diversos aspectos da cultura e da sociedade brasileira.
Mais que uma simples relação de trabalho, a existência da mão de obra escrava
africana fixou um conjunto de valores em nossa sociedade brasileira em relação
ao trabalho, aos homens e às instituições. Observamos à luz dessa trajetória a
ocorrência do problema do preconceito racial e social no decorrer de nossa
história.
No que tange à educação, Candau (2003 apud JESUS, 2012: 15) afirma
que o cotidiano escolar é um espaço de diferentes relações sociais que refletem
a diversidade cultural da sociedade brasileira. As diferentes formas de ver o
mundo, estilos, crenças, costumes, cores e etnias, estão presentes no cotidiano
escolar, pois a escola “é um micro universo social, assim as formas de se
relacionar com o outro demonstram práticas sociais e mecanismos sutis de
difusão do preconceito e estereótipos” (CANDAU, 2003).
A escola pode se tornar um local propício a reprodução do preconceito,
então se faz necessário todo um debate sobre os mecanismos que podem
favorecer a naturalização de preconceitos, onde, às vezes, tais mecanismos
podem ser o próprio material pedagógico, até mesmo o livro didático.
Os dados apresentados através da pesquisa de campo revela que há
racismo explícito no ensino médio em Castanhal-PA, com isso, se faz necessário
maior intervenção das instituições com seu alunado, em políticas efetivas e
debates sobre o tema. Se propõe levar esse estudo aos coordenadores de curso
e dos campi para alertá-los dessa infeliz realidade, assim com apresentar os
dados nas redes sociais para informar a comunidade acadêmica.
O negro ainda hoje é estigmatizado e toda sua luta social é escondida
dentro da própria instituição formadora de pessoas, pensamentos,
conhecimentos, profissionais e valores: a universidade.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de; FILHO, Walter Fraga. Uma história do negro


no Brasil. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006.

AMARAL, Assunção José Pureza. Da senzala à Vitrine: Relações Raciais e


Racismo no Mercado de Trabalho em Belém. 2004. 215p. Dissertação – UFPA,
Belém: 2004.

ANDRADE, Ana Luíza Mello Santiago de. Lei Áurea. InfoEscola. Disponível em
<https://www.infoescola.com/historia-do-brasil/lei-aurea/> . Acesso em 07 de
Janeiro de 2018.
BRASIL. Lei nº 12.711/2012, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o ingresso
nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de
nível médio e dá outras providências, Brasília, DF, ago 2012.

BRASIL. Ministério da Educação. SILVA, Ana Célia da. “A desconstrução da


Discriminação no Livro Didático. In Superando o Racismo na Escola. 3ª Ed.
Org. Kabengele Munanga. Brasília: PNUD, 2001

JESUS, Samuel de. O Negro na Educação Brasileira. Vozes dos Vales:


Publicações Acadêmicas. Minas Gerais, Nº 01, 01-11, março de 2012.

SOUSA, Rainer Gonçalves. Escravidão no Brasil. Brasil Escola. Disponível em


<http://brasilescola.uol.com.br/historiab/escravidao-no-brasil.htm>. Acesso em
07 de Janeiro de 2018.
ANEXO I

Descrição e quantitativo de imagens que apresentam negros nos livros


didáticos: Matemática 2ª série, Projeto Pitanguá (Editora Moderna, 2005); e
Interpretação de Textos: Construindo Competências e Habilidades em Leitura,
de William Cereja, Thereza Cochar e Ciley Cleto (Editora Atual, 2009).

Matemática 2ª série:
UNIDADE 1 – Agricultura
1. (Pág. 8) – Tela mostrando uma fazenda de café com negros escravos.
(Fazenda de Café, tela de A. C. Porto, 1986).
2. (Pág. 11) – Negro no papel de aluno.
3. (Pág. 12) – Negra na roça, dialogando com branco.
4. (Pág. 13) – Negra ao lado de oriental.
5. (Pág. 15) – Negros brincando com jogos e desenhando.
6. (Pág. 22) – Negra perto de frutas.
7. (Pág. 25) – Negra dialogando.
8. (Pág. 26) – Negra perto de frutas.
9. (Pág. 30) – Negros brincando com jogos de cartas.

UNIDADE 7 – Atletas
1. (Pág. 154) – Negro nadando.
2. (Pág. 156) – Negro praticando ciclismo.
3. (Pág. 157) – Negra praticando nado sincronizado.
4. (Pág. 159) – Negros fazendo atividade física na academia.
5. (Pág. 162) – Negros em cerimônia de apresentação de um campeonato.
6. (Pág. 167) – Negros no papel de médica e de pacientes.
7. (Pág. 168) – Negro socializando.
8. (Pág. 170) – Negros e brancos fazendo ginástica.

Interpretação de Textos: construindo Competências e Habilidades em


Leitura:

UNIDADE 3 – A leitura nas provas do ENEM e dos Vestibulares


1. (Pág. 141) – Negro no cotidiano; tomando champanhe. (Corbis/LatinStock)
2. (Pág. 155) – Negro escravo apanhando de chibata. (Feitor castigando
escravo, tela de Jean-Baptiste Debret, 1835).
3. (Pág. 160) – Negros e brancos na figura de operários. (Operários, tela de
Tarcila do Amaral, 1933).
4. (Págs. 195 e 204) – Negros e brancos no papel de alunos. (Corbis/LatinStock;
Digital Vision/Keystone)
5. (Pág. 206) – Negro no papel de jogador de futebol. (Jupiter Unlimited)
6. (Pág. 213) – Exercício abordando a questão étnica no Brasil: imagem de uma
mão branca e uma mão negra em harmonia.
ANEXO II

Imagens extraídas dos livros didáticos: Matemática 2ª série, Projeto Pitanguá


(Editora Moderna, 2005); e Interpretação de Textos: Construindo Competências
e Habilidades em Leitura, de William Cereja, Thereza Cochar e Ciley Cleto
(Editora Atual, 2009).

Imagem 1 Imagem 3

Figura 3 A figura de uma menina negra, ao lado de


uma pessoa da etnia branca, em um local que
Figura 1 Alunos brancos, sem a presença de parece com uma roça, de forma
negros, afirmando um estereótipo de ascensão descontextualizada, ou pouco explícita.
da etnia branca em relação ao ensino superior.
Imagem 2 Imagem 4

Figura 2 Cafezal com negros escravizados, sem contexto Figura 4 A figura de uma menina negra em um local
específico. Reforça a imagem do negro como escravo, que parece com uma feira, de forma
esconde sua cultura e estigmatiza o negro descontextualizada, aludindo à profissões tidas
como subalternas por algumas classes sociais.
Reforça a imagem de classes sociais e profissões.
ANEXO III

Ficha de Pesquisa.

Figura 5 Frente. Figura 6 Verso.

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