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Anotações sobre Fagundes Varella

ASSIS, Machado de. Carta a J. Tomás da Porciúncula. (1875) In: _______.


Obra Completa de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, vol. III,
1994. Disponível em: <
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8276
>. Acesso em: 30 set. 2017.

“Varella não é desses mortos comuns cuja memória está sujeita à condição da
oportunidade; não passou pela vida, como a ave no ar, sem deixar vestígio;
talhou para si uma larga página nos anais literários do Brasil.” (ASSIS, 1994,
s/p)

“[...] digno de inveja é aquele que, transpondo o limite da vida, deixa alguma
coisa de si na memória e no coração dos homens, fugindo assim ao comum
olvido das gerações humanas. Varella é desses bem-aventurados póstumos.”
(ASSIS, 1994, s/p)

“Poeta de larga inspiração, original e viçosa, modulando seus versos pela


toada do sentimento nacional, foi ele o querido da mocidade do seu tempo.”
(ASSIS, 1994, s/p)

“A natureza e a vida do interior eram, em geral, as melhores fontes da


inspiração de Varella; ele sabia pintá-los com fidelidade e viveza raras, com
uma ingenuidade de expressão toda sua. Tinha para esse efeito a poesia de
primeira mão, a genuína, tirada de si mesmo e diretamente aplicada às cenas
que o cercavam e à vida que vivia.” (ASSIS, 1994, s/p)

“A literatura brasileira é uma realidade e os talentos como o do nosso poeta o


irão mostrando a cada geração nova, servindo ao mesmo tempo de estímulo e
exemplo. A mocidade atual, tão cheia de talento e legítima ambição, deve pôr
os olhos nos modelos que nos vão deixando os eleitos da glória, como aquele
era, – da glória e do infortúnio, tanta vez unidos na mesma cabeça.” (ASSIS,
1994, s/p)

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ROMERO, Sílvio. História da Literatura Brasileira, Vol. 2. p. 1198-1210. Rio
de Janeiro: Garnier, 1888.

– A grafia e a pontuação serão atualizadas, salvo em nome de obras e


situações específicas.

“LUIZ NICOLÁO FAGUNDES VARELLA – (1841-1875) – é, como já se disse, o


laço que prende o lirismo de Álvares de Azevedo e companheiros, o
sertanegismo de Bittencourt Sampaio e colegas ao hugoanismo socialístico da
escola condoreira.” (ROMERO, 1888, p. 1198).

“É um poeta de grande mérito, uma singular figura digna de reverências e


atenções. É muito conhecido, bastante lido e muito mal estudado.” (ROMERO,
1888, p. 1198)

Seu livro Nocturnas foi publicado em 1861.

Segundo S. Romero, até o momento da publicação de sua História da


Literatura Brasileira, existiram apenas cinco poetas que foram
“verdadeiramente descuidosos, andarilhos, boêmios” (1888, p. 1200), a saber,
Gregório de Matos, Laurindo Rabello, Aureliano Lessa, Bernardo Guimarães e,
finalmente, Fagundes Varella. “Destes cinco os mais populares foram Gregório,
o satírico, Laurindo o elegíaco, e Varella o lirista.” (ROMERO, 1888, p. 1201)

“A obra do poeta, aparentemente lógica, é uma das mais contraditórias que


possuímos; aparentemente pessoal, é uma das mais impessoais de nossa
literatura.” (ROMERO, 1888, p. 1201)

“De sua leitura depreendi o seguinte: Varella não foi um triste, nem um alegre,
nem um crente, nem um cético, nem um liberal, nem um autoritário; porque foi
tudo isto ao mesmo tempo, conforme o ensejo e a ocasião. Foi uma natureza
múltipla, variada, excessivamente excitável, atormentada por estímulos
diversos. Varella foi um agitado.” (ROMERO, 1888, p. 1201)

As produções que mais o definem, afirma o crítico, “são aquelas em que


aparecem essas incertezas, essas flutuações, essas névoas, esses claros e
obscuros, essas vagas aspirações, esses sonhos róseos e dúbios, esses
matizes impalpáveis, essas ondulações quiméricas de um espírito inconsistente
adormecido numa espécie de embriaguez. É o que eu chamei o lirismo
báquico.” (ROMERO, 1888, p. 1201-1202)

Romero contesta a caracterização de Varella como um poeta triste. “Nada mais


claro; a crítica iludiu-se completamente.” (ROMERO, 1888, p. 1203)

Contesta também a caracterização de “sertanegista, bucolista por índole e


tendência irresistível”. (Cf. sua discordância de Franklin Távora acerca desta
caracterização em ROMERO, 1888, p. 1203-1204)

“o traço pessoal do lirismo de Fagundes Varella é certo fantasiar vago e


dolente, aéreo e brumoso, cheio de doçuras e sonoridades, alguma cousa de
impalpável e quimérico, de vaporoso e dúbio, como os sonhos de um espírito
alheado da realidade.” (ROMERO, 1888, p. 1204)

Segundo Sílvio Romero, “Não há poeta algum da língua portuguesa que tenha
empregado tanto a palavra névoa, e ele vivia num país tropical, numa terra
banhada de luz...”. E completa o crítico, “As névoas, ele as tinha no espírito. E
esse ser agitadiço, essa alma exuberante e lírica dava-se bem na embriaguez
dos sonhos e das cismas indefiníveis. E quando o vago, o brumoso, furta-cor
dos anelos aéreos não lhe era gerado pela própria fantasia, ele o provocava
nas doçuras tentadoras do vinho.” (ROMERO, 1888, p. 1205)

“Varella era do número desses que sabem o que valem quimeras e ilusões,
como preservativos conta as asperezas da realidade crua. Sua poesia era uma
filha da fantasia alada e impalpável.” (ROMERO, 1888, p. 1208)

A certa altura, perto do final de seu texto sobre o poeta, o crítico abre duas
condicionais: 1) Se a poesia é cópia da realidade, do mundo exterior, então
Varella, apesar de seu talento, não passa de um poeta secundário; 2) “Se,
porém, a poesia é uma região encantada criada pelas almas de eleição para
delícia e prazer de nós outros, os pobres condenados às cruezas da vida, ele
foi talvez o maior de nossos poetas, porque nenhum foi tão amoravelmente
idealista e fantasioso.” (ROMERO, 1888, p. 1209)

Finalizando sua explanação, aponta que as melhores qualidades de Varella


“são a espontaneidade, a música e a doçura dos versos, o vigor e a segurança
das descrições, a abundância e a riqueza das imagens.” (ROMERO, 1888, p.
1209) E termina com uma exortação: “As novas gerações devem sempre ler o
delicioso sonhador dos Cantos Meridionaes e dos Cantos e Phantasias. Não
pode haver mais inteligente e sincero companheiro. Lêde-o, lêde-o.”
(ROMERO, 1888, p. 1210)

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VERÍSSIMO, José. História da Literatura Brasileira. Paris: Aillaud; Rio de


Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1916. Disponível em: <
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=37034
> Acesso em: 30 set. 2017.

Capítulo XIV – Os últimos românticos – II: Poetas

Conforme explica o historiador, “O Romantismo byroniano, temperado por


Álvares de Azevedo, de Musset e Sprocenda e de outros condimentos de
idêntico sabor literário, tinha certamente desviado da sua direção primeira,
cristã, patriótica e moralizante, o movimento literário com que aqui se iniciara a
nossa literatura nacional.” (VERÍSSIMO, 1916, p. ??) No entanto, em sua visão,
embora tenha exercido influência nos mencionados poetas, tal vertente do
romantismo não chegou a formar uma escola forte. “Nos anos de [18]60,
mesmo no atrasado Brasil, já não havia atmosfera para ele. A voz do
desespero, da ironia, do ceticismo daqueles poetas europeus substituía-se
como um clarim de guerra vibrante de cóleras, mas rica de esperanças, ora
flauta bucólica, ora lira amorosa, tuba canora e belicosa ou doce avena da paz,
mas em suma, otimista, a voz de Victor Hugo.” (VERÍSSIMO, 1916, p. ??)

Os poetas de então “apresentam um misto de romantismo e das tendências


estéticas que em nascendo para a vida literária encontraram no seu ambiente.
Tem em dose igual o desalento sentimental, mesmo o ceticismo, apenas
menos anunciado daquela geração e os ideais práticos, as emoções sociais, a
preocupação humana, ainda política, com os instintos de propaganda da
corrente hugoana. E apenas alguma leve nota de indianismo ou brasileirismo
nela transformada num mais íntimo que ostensivo nacional. E como em Victor
Hugo, além da feição social e humanitária, o que mais os impressiona são os
aspectos verbais do seu estro, a sua altiloquência poderosa, caem no
arremedo, geralmente infeliz, desse feitio da sua poética.” (VERÍSSIMO, 1916,
p. ??)

Conforme José Veríssimo aponta, apenas dois poetas dessa época teriam
conseguido distinguir-se dos demais e dar uma feição mais pessoal ao estilo
hugoano, seriam eles Tobias Barreto e Castro Alves.

Com Castro Alves, é possível dizer que “se alarga nossa inspiração poética,
objetiva-se o nosso estro e os poetas entram a perceber que o mundo
visível existe. Poeta nacional, se não mais nacionalista, poeta social, humano
e humanitário, o seu rico estro livrou-o de perder-se num objetivismo que, não
temperado de lirismo, é a mesma negação da poesia. As cousas sociais e
humanas as viu e entendeu e as cantou como poeta, às vezes com
prevalência da eloquência sobre o sentimento, mas sempre com sentida
emoção de poeta.” (VERÍSSIMO, 1916, p. ?? – grifos nossos)

L. N. Fagundes Varella foi contemporâneo destes dois poetas, isto é, de Tobias


Barreto e de Castro Alves, e, na visão do historiador, quiçá os teria emulado.
Conforme explica, as poesias de Varella foram feitas “entre os anos de 60 e 75.
Cronológica e literariamente sucede aos primeiros poetas da segunda geração
romântica, que admirou e imitou. Além da deles, sofreu visível e
confessadamente, como, aliás, aconteceu a todos os poetas posteriores a
Gonçalves Dias, a influência do poeta maranhense.” Estas influências foram
decisivas na formação poética de Varella, mas o crítico/historiador, assevera
que, mesmo que em menor incidência, o poeta teria sido influenciado por T.
Barreto e C. Alves. Segundo ele,

“Varella era de essência um puro sentimental, e isso ficou apesar das suas
medíocres tentativas de poesia patriótica. Mas a sua originalidade, se a tinha,
ressentiu-se demasiado de todas essas influências. Lido após aqueles poetas,
deixa-nos a impressão do já lido. No tom propriamente lírico dos seus poemas,
nada se depara de novo, nem no fundo nem na forma.” (VERÍSSIMO, 1916, p.
??)

Veríssimo não encontra em Varella “virtudes notáveis ou sinais de distinção”,


embora encontre várias reminiscências de outros poetas, e, além disso, acusa-
o de “repetições de seus próprios pensamentos e dizeres”, apontando assim
uma suposta “falta de originalidade” em conjunto com certa “banalidade.” Ainda
nas palavras do autor, Varella, sendo um “poeta espontâneo, de uma
inspiração quase popular, é também poeta muito descuidado de seu estro e da
sua arte, todo entregue à pura inspiração, que as reminiscências e o prestígio
daqueles poetas queridos frequentemente comprometem.” (VERÍSSIMO, 1916,
p. ??). Não obstante estas características, Veríssimo faz-lhe uma concessão e
afirma que “Havia, entretanto, nele um grande fundo de poesia, isto é, de
sentimento poético.” Em sua visão, para que o poeta tivesse sido realmente
grande, não deveria ter cedido seu engenho com demasiada negligência às
influências que permearam sua obra. Afinal, conforme ressalta o crítico,

“a sinceridade que parece haver no seu sentimento, a simplicidade às vezes


deliciosa do seu cantar, a melancólica voluptuosidade e o íntimo brasileirismo
daquele sentimento, com a mesma ingenuidade da sua poética seduzem-nos
irresistivelmente e justificam a estima que, apesar das restrições feitas, ele
merece e teve dos seus contemporâneos.” (VERÍSSIMO, 1916, p. ??)

“O que há de bom, às vezes mesmo de excelente, em Varella, é o seu lirismo


sentimental, as suas manifestações de dor de pai ou de amante, os seu
lamentos de poeta infeliz, ou que, por amor do romantismo, se fez infeliz,
quando, o que desgraçadamente acontece com demasiada frequência, não lhe
desmerecem o canto imitações ou reminiscências de outros poetas.”
(VERÍSSIMO, 1916, p. ??)

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CUNHA, Fausto. O que não é de Varela. p. 106-112 In: ________. O


Romantismo no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra S.A., 1971.
“Estou lembrado que o autor me disse uma vez que esta e mais algumas peças
do seu livro eram imitações”. É com esta citação de Quirino dos Santos, em
sua apresentação para o livro Vozes d’América, de Varella, que Fausto Cunha
inicia este capítulo. O autor ainda menciona que, “Mais tarde, no estudo que
acompanha a edição Visconti Coaraci, glosa Franklin Távora o aviso de Quirino
e aponta algumas semelhanças entre os versos de Varela e os de outros. ‘Um
dos traços característicos da poesia de Varela, diz ele, é a imitação ao lado de
muita originalidade’.” Cunha, no entanto, explica que, esta observação, mesmo
sendo em parte verdadeira, também “poderia estender-se a qualquer romântico
brasileiro: Dias, Azevedo, Casimiro, Casto Alves.” (CUNHA, 1971, p. 106)

Além disso, o autor complementa com a seguinte afirmação “A verdade é que


as ‘imitações’ de Varela têm sido objeto de vários escritos, inclusive o
desastrado fora de José Veríssimo, que, mais ou menos incapaz de nadar no
oceano romântico sem o apoio das informações de Sílvio Romero, atribui a
Castro Alves precedência em relação àquele de quem não passou, mais uma
vez, de simples epígono.” (CUNHA, 1971, p. 106)

A partir daí, o autor passa a abordar a referência ao poema “Ilusão”, dado


como da autoria de Varela, “mas na realidade a tradução livre de uma das
peças do Lyrisches Intermezzo de Heine” (CUNHA, 1971, p. 106) Segundo o
autor, mesmo que tenha sido um erro tipográfico, ou mesmo que Varela não
tenha mencionado a autoria do poema, para o público da época estaria
bastante claro que aquela seria uma tradução ou uma adaptação do poema de
Heine.

Além disso, no início da parte II deste curto texto, Cunha explica que “Não é
impossível que o título de Noturnas tenha sido sugerido a Fagundes Varela poe
esta passagem do prefácio de Heine: ‘J’ai dit que dand les Nocturnes se
trouvent les premier vagissement du poète lyriqe: ser derniers soupirs, j’allais
dire son râle de mort, se trouvent à la fin de ce volume, dans une série de
lamentations que j’ai intitulées le livre de Lazare’. Embora o Diário de Lázaro de
Varela nada tenha de comum com o livro de Heine (Franklin Távora faz
aproximações com José de Alencar), quem sabe se não está aí mais uma
sugestão?” (CUNHA, 1971, p. 110)
CUNHA, Fausto. Fagundes Varela ou a Rebeldia Poética. p. 118-124. In:
________. O Romantismo no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra S.A.,
1971.

O presente capítulo glosa sobre a afirmação em “Mimosa – Poema da Roça –


Em três Cantos”, no qual o poeta solicita ao “Censor austero, rígido analista”,
para que lance seus preceitos e tratados “Às chamas vivas de voraz incêndio.../
Alma que sente, que se inspira e canta,/ Não conhece compêndio”. Cunha nos
lembra de afirmação semelhante feita por Álvares de Azevedo, em seu Conde
Lopo.

Mais adiante no capítulo, Cunha menciona que na “transição do Classicismo


para o Romantismo ocorreu virtual desmantelamento do verso. Não me refiro
aqui à rebeldia estética consciente, mas sim exatamente à deficiente
composição vérsica. Se bem que a má redação dos românticos em geral tenha
sido o primeiro passo para a libertação da linguagem literária, emperrada,
através dos sáculos, pelos falsos conceitos gramático-retóricos, é preciso que
se diga com todas as letras que muitas vezes essa reação se desencadeou no
plano da mera ignorância.” (CUNHA, 1971, p. 121)

E complementa explicando que “No tocando ao manejo do verso, verificou-se


uma singular passagem da mestria dos clássicos e dos arcádios para a
imperfeição romântica. Esse fenômeno foi mais ou menos geral nos países de
formação latina. Se naqueles, como França, Espanha, Itália, dotados de rico
lastro cultural, com uma tradição estética bem alicerçada, o fenômeno teve
inúmeras ramificações e correspondeu a uma verdadeira revolução estética e
poética, aqui no Brasil e em Portugal o que se viu mais frequentemente foi o
solecismo, o pé quebrado, a silabada pura e simples.” (CUNHA, 1971, p. 121)

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SOUZA, Davi de. Fagundes Varella: um bardo boêmio. In: Fazendo Gênero
8 – Corpo, Violência e Poder – Florianópolis, de 25 a 28 ago. 2008. ST 63 – A
escrita do eu: ficções e confissões da dor II.
A despeito de minha discordância, juntamente com a historiadora literária
Luciana Stegagno-Picchio, o autor afirma que o conhecimento da biografia de
Fagundes Varella é de suma importância para o entendimento de sua obra, e é
por esta via que Davi de Souza constrói sua argumentação.

Em suas palavras, Fagundes Varella é, “dentre os nossos poetas malditos, o


mais conhecido.” (SOUZA, 2008, p. 01)

“Apesar de ter tido um grande reconhecimento em vida, foi um desgraçado, um


desdichado, um daqueles seres cujo destino, muito atroz, torturou-o por trinta e
três anos; o que não o impediu de deixar o legado de uma vasta e diversificada
produção poética, ainda hoje difícil de se ‘classificar’.” (SOUZA, 2008, p. 01)

“Poeta errante por excelência, tanto na vida quanto na obra, Varella arrastou-se
pelos empoeirados caminhos do Rio de Janeiro do século XIX, até seu corpo
se estiolar nas pedras e espinhos do mundo, e nas águas ardentes da vida.”
(SOUZA, 2008, p. 01)

Segundo Davi de Souza, o poeta era tão dado à errância que “quando seu
primeiro filho nasceu, foi preciso pôr um anúncio no jornal para que ele tivesse
conhecimento disso e voltasse para casa: estava uma de suas crises de
andarilho. Pois ele andava muito, e a esmo, pelos caminhos mais ermos,
errando de cidade em cidade, de fazenda e fazenda, bebendo e compondo.”
(SOUZA, 2008, p. 01)

“Em 1861 publica, numa plaqueta de 30 páginas, Nocturnas, onde se


encontram alguns de seus melhores versos, como Archetypo e A enchente, e
onde também já se evidencia a sua ‘errância’ poética, tanto formal quanto
temática.” (SOUZA, 2008, p. 02)

“Autor de mais de uma centena de poemas, de ampla temática e, sobretudo, de


variadas formas, Fagundes Varella é, dentre os poetas do período romântico
brasileiro, aquele que mais sinceramente cantou sua própria dor: a dor de
existir. Seu desconforto errante de andarilho e alcoólatra está presente em
muitos de seus poemas. Poemas esses que lhe conferem um ‘ar’ decadente,
antes mesmo do decadentismo, e que por seu tom confessional ultrapassa o
romantismo.” (SOUZA, 2008, p. 03)

Segundo o autor, Varella era um poeta bastante sincero. E suas poesias são
quase sempre verdadeiras, “desde que os compreendemos pela via biográfica.
Daí sua obra estranha, tanto quanto a sua vida.” (SOUZA, 2008, p. 03)

“Temos assim em Fagundes Varella não apenas uma série de poemas


confessionais, que lhe deixam transparecer uma forte angústia existencial,
como também todos os elementos de um poeta decadente em plena década de
1860, um ‘agitado’ que escreveu poemas anti-escravocratas, liberais,
sertanejos, bucólicos, urbanos e melódicas canções, que expressou seu amor
às florestas, às verdes campinas, assim como também à embriaguez e aos
prazeres citadinos.”

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Apontamentos sobre as Nocturnas, de Varella.

Antes de passar aos versos de Varella, é necessário trazer mais duas


considerações. A primeira é de Péricles Eugênio da Silva Ramos, que em seu
livro Do Barroco ao Modernismo – Estudos de Poesia Brasileira (2ª ed. rev. e
aum., 1979, p. 84), assevera que “Entre os sestros da versificação romântica
está o uso intensivo da diérese, isto é, partição de um ditongo em duas
sílabas”, pratica esta que, segundo o autor, era “autorizada pelos tratadistas da
época.”.

Indo na mesma direção, Chociay, em seu livro Teoria do Verso (1974, p. 30),
explica que

“os românticos nunca hesitavam em manter ou forçar


separações de vogais entre vocábulos ou no interior de
vocábulos, mas não faziam do recurso uma fatalidade,
efetuando a junção das mesmas sequências caso o verso
disso tivesse necessidade. Essa atitude, aliás, estava em
perfeito acordo com a tradição versificatória em nosso
idioma. Diz-se de nossos parnasianos que repugnavam
ostensivamente o hiato, manifestando na teoria e na prática
verdadeira obsessão pela sinalefa e sinérese.”

Levando em conta essas considerações, os apontamentos elencados no


DLNotes buscam observar o tratamento que o poeta dá em seus versos no
livro indicado acima em relação às ocorrências de tal fenômeno para sustentar
futuras discussões sobre o assunto.

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