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“Varella não é desses mortos comuns cuja memória está sujeita à condição da
oportunidade; não passou pela vida, como a ave no ar, sem deixar vestígio;
talhou para si uma larga página nos anais literários do Brasil.” (ASSIS, 1994,
s/p)
“[...] digno de inveja é aquele que, transpondo o limite da vida, deixa alguma
coisa de si na memória e no coração dos homens, fugindo assim ao comum
olvido das gerações humanas. Varella é desses bem-aventurados póstumos.”
(ASSIS, 1994, s/p)
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ROMERO, Sílvio. História da Literatura Brasileira, Vol. 2. p. 1198-1210. Rio
de Janeiro: Garnier, 1888.
“De sua leitura depreendi o seguinte: Varella não foi um triste, nem um alegre,
nem um crente, nem um cético, nem um liberal, nem um autoritário; porque foi
tudo isto ao mesmo tempo, conforme o ensejo e a ocasião. Foi uma natureza
múltipla, variada, excessivamente excitável, atormentada por estímulos
diversos. Varella foi um agitado.” (ROMERO, 1888, p. 1201)
Segundo Sílvio Romero, “Não há poeta algum da língua portuguesa que tenha
empregado tanto a palavra névoa, e ele vivia num país tropical, numa terra
banhada de luz...”. E completa o crítico, “As névoas, ele as tinha no espírito. E
esse ser agitadiço, essa alma exuberante e lírica dava-se bem na embriaguez
dos sonhos e das cismas indefiníveis. E quando o vago, o brumoso, furta-cor
dos anelos aéreos não lhe era gerado pela própria fantasia, ele o provocava
nas doçuras tentadoras do vinho.” (ROMERO, 1888, p. 1205)
“Varella era do número desses que sabem o que valem quimeras e ilusões,
como preservativos conta as asperezas da realidade crua. Sua poesia era uma
filha da fantasia alada e impalpável.” (ROMERO, 1888, p. 1208)
A certa altura, perto do final de seu texto sobre o poeta, o crítico abre duas
condicionais: 1) Se a poesia é cópia da realidade, do mundo exterior, então
Varella, apesar de seu talento, não passa de um poeta secundário; 2) “Se,
porém, a poesia é uma região encantada criada pelas almas de eleição para
delícia e prazer de nós outros, os pobres condenados às cruezas da vida, ele
foi talvez o maior de nossos poetas, porque nenhum foi tão amoravelmente
idealista e fantasioso.” (ROMERO, 1888, p. 1209)
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Conforme José Veríssimo aponta, apenas dois poetas dessa época teriam
conseguido distinguir-se dos demais e dar uma feição mais pessoal ao estilo
hugoano, seriam eles Tobias Barreto e Castro Alves.
Com Castro Alves, é possível dizer que “se alarga nossa inspiração poética,
objetiva-se o nosso estro e os poetas entram a perceber que o mundo
visível existe. Poeta nacional, se não mais nacionalista, poeta social, humano
e humanitário, o seu rico estro livrou-o de perder-se num objetivismo que, não
temperado de lirismo, é a mesma negação da poesia. As cousas sociais e
humanas as viu e entendeu e as cantou como poeta, às vezes com
prevalência da eloquência sobre o sentimento, mas sempre com sentida
emoção de poeta.” (VERÍSSIMO, 1916, p. ?? – grifos nossos)
“Varella era de essência um puro sentimental, e isso ficou apesar das suas
medíocres tentativas de poesia patriótica. Mas a sua originalidade, se a tinha,
ressentiu-se demasiado de todas essas influências. Lido após aqueles poetas,
deixa-nos a impressão do já lido. No tom propriamente lírico dos seus poemas,
nada se depara de novo, nem no fundo nem na forma.” (VERÍSSIMO, 1916, p.
??)
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Além disso, no início da parte II deste curto texto, Cunha explica que “Não é
impossível que o título de Noturnas tenha sido sugerido a Fagundes Varela poe
esta passagem do prefácio de Heine: ‘J’ai dit que dand les Nocturnes se
trouvent les premier vagissement du poète lyriqe: ser derniers soupirs, j’allais
dire son râle de mort, se trouvent à la fin de ce volume, dans une série de
lamentations que j’ai intitulées le livre de Lazare’. Embora o Diário de Lázaro de
Varela nada tenha de comum com o livro de Heine (Franklin Távora faz
aproximações com José de Alencar), quem sabe se não está aí mais uma
sugestão?” (CUNHA, 1971, p. 110)
CUNHA, Fausto. Fagundes Varela ou a Rebeldia Poética. p. 118-124. In:
________. O Romantismo no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra S.A.,
1971.
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SOUZA, Davi de. Fagundes Varella: um bardo boêmio. In: Fazendo Gênero
8 – Corpo, Violência e Poder – Florianópolis, de 25 a 28 ago. 2008. ST 63 – A
escrita do eu: ficções e confissões da dor II.
A despeito de minha discordância, juntamente com a historiadora literária
Luciana Stegagno-Picchio, o autor afirma que o conhecimento da biografia de
Fagundes Varella é de suma importância para o entendimento de sua obra, e é
por esta via que Davi de Souza constrói sua argumentação.
“Poeta errante por excelência, tanto na vida quanto na obra, Varella arrastou-se
pelos empoeirados caminhos do Rio de Janeiro do século XIX, até seu corpo
se estiolar nas pedras e espinhos do mundo, e nas águas ardentes da vida.”
(SOUZA, 2008, p. 01)
Segundo Davi de Souza, o poeta era tão dado à errância que “quando seu
primeiro filho nasceu, foi preciso pôr um anúncio no jornal para que ele tivesse
conhecimento disso e voltasse para casa: estava uma de suas crises de
andarilho. Pois ele andava muito, e a esmo, pelos caminhos mais ermos,
errando de cidade em cidade, de fazenda e fazenda, bebendo e compondo.”
(SOUZA, 2008, p. 01)
Segundo o autor, Varella era um poeta bastante sincero. E suas poesias são
quase sempre verdadeiras, “desde que os compreendemos pela via biográfica.
Daí sua obra estranha, tanto quanto a sua vida.” (SOUZA, 2008, p. 03)
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Indo na mesma direção, Chociay, em seu livro Teoria do Verso (1974, p. 30),
explica que