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1. B IO G R A F IA
(*) O a u t o r é M i n i s t r o T o g a d o d e C a r r e i r a d o T r ib u n a l S u p e r i o r d o T r a b a lh o .
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logia e U t o p ia " (1929/1931) e " E n s a io s o b re a S o c io lo g ia da C u ltu ra ", publi
cad o p o stu m a m e n te em 1950,
O s p rim e iro s e s c rito s de M a n n h e im e x p re ss a ra m s u a luta contra a h e
rança do id e a lism o a lem ão de Kant, Hegel, H e rd e r e outros. E le s foram um a
tentativa para re v is a r s u a e p iste m o lo gia de co n h e c im e n to na direção in stru
m entalista e torná-la algo m a is útil na a n á lise so cio ló g ica . A t r a v é s d e s s e s
e s c rito s foi criticada a c o n ce p ç ão de h istória intelectual ou internalista do
conhecim ento, enquanto um d e se n v o lv im e n to autô n om o e s e q ü e n te d as
idéias.
N e ssa prim eira fase, M a n n h e im s o fre u influência da tradição h isto ri
cista d e D ilth e y e tam bém do m od elo m arxista de so c ie d a d e e p elos
c l á s s ic o s do p e n sa m e n to so c io ló g ic o a lem ão e do m a r x ism o na e stru tu ra e
d ete rm in a n te s de c o n s e n s o e d is s e n so .
Em seu e n sa io “O Prob lem a de um a S o c io lo g ia do C o n h e c im e n t o ”,
M a n n h e im fez um traçado d o s d e m a is m é to d o s de conhecim ento, então
aceitos, e apontand o s u a s falhas, teceu razõe s para legitim ar a m etod ologia
que ele p rop ôs.
Em “ Ide o log ia e U t o p ia " M a n n h e im continua com s u a in v e stig a ç ã o s o
bre a s o c io lo g ia do c o n h ec im e n to e s e p ro p ô s a in v e stig a r a fundo a natu
reza do p en sa m e n to, não de a cord o co m o m étod o da lógica interna d as
id é ias em que o c o n h ec im e n to avança de a co rd o com a direção e se q ü ê n c ia
conferid a por id é ias an te rio re s m as, em relação à s c o n d iç õ e s s o c ia is de
su a origem . M a n n h e im prop unha um n ovo m étod o d e conhecim ento, o de
in v e stig a r o p e n sa m e n to c o m o resultante de fa to re s socia is, na s u a form a
real e em que fu n cio n a na vid a política e social.
N a se g u n d a fa se de su a vid a intelectual, o e stu d o da Estrutura da S o
ciedad e M o d e r n a aflorou, gu a rn e cid o de p re o c u p a ç õ e s co m a so cie d a d e de
m a s s a e s u a c re sc e n te bu rocratização e d em ocratização. D e s te períod o d e s
tacam -se a s s e g u in t e s ob ras: " O H o m e m e a S o c ie d a d e " publicada na In
glaterra em 1935; e “Liberdade, Poder e Planificação S o c i a l” (1950).
2. OBRA
A S O C IO L O G IA D O C O N H E C IM E N T O
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q uanto ou tro s s e d esfazem , com su b ite z igual, para vo ltar a reaparecerem
de um a fo rm a m odificada. D a í a n e c e s sid a d e de c o m p re e n sã o d o p ensa
m ento c o m o um p r o c e s s o vital.
C ontrastando, M a n n h e im co n sid e ro u o p e n sa m e n to c o m o um fe n ô m e n o
parcial, um su b c on ju n to da totalidade da existência, ao m e s m o te m p o em
que dep ende de d a d o s e xiste n cia is. A n te rio r e su b jace n te à h istória inte
lectual, o s e r e n globante e d in â m ico é o c a m p o h istó ric o e s o c ia l p o s s i
bilitando que o sig n ific a d o teórico im anente do p e n sa m e n to p o s s a s e r tra n s
ferido.
M a n n h e im , s e g u in d o o e xe m p lo de M a rx , con te m p lo u a luta d e c l a s s e s
so c ia is, c o m o fator d eterm inante da co n stru ç ã o de id e o lo g ia s e da s u a d e s
truição, à m ed ida em que um a c la s s e em o p o siçã o , atacava a s b a s e s fu n
cio n a is da ideologia da c la s s e dom inante, d e stru ía a eficácia so c ia l d as
id é ias e tra n sc en d ia a s u a im anência teórica.
D o is e x e m p lo s de co m o o s m o d o s de p e n sa m e n to s ã o d e te rm in a d o s p e
las ca te g o ria s s o c io ló g ic a s p od em s e r e n co n tra d o s em M a n n h e im . U m d e le s
refere-se ao Esta d o A b s o lu t o e a o s p artidos p olític os q ue articulavam s e u s
ob jetivos de m od o a tra n sform á -lo s em cred o filosófico, em co n ce p ç ã o
política da realidade; o outro é relativo ao cap italism o, o qual M a n n h e im
atribui o re co n h e cim e n to do p en sa m e n to científico e te c n o ló g ic o c o m o úni
c o paradigm a.
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d e conflito entre a s id éias caracterizada por uma am pla ond a de in com p re
e n sã o e d e se n te n d im e n to entre a s p e s s o a s , que ele atrib uía a um p r o c e s s o
de interp enetração m útua de g r u p o s c o ltiv o s socia l e intelectualm ente h e
te ro gê n e o s. Tornava-se, então, em e rg e nte a n e c e s sid a d e de interpretação
correta da realidade histórico-social.
M a s , so m e n te re co n h e ce n d o e s s a s c o n e x õ e s do p e n sa m e n to à e x istê n
cia do g ru p o se ria p o s sív e l exe rce r o controle d e s t e s fatores, até então in
co n tro lá ve is do p en sam ento. M a n n h e im , enfim, queria c o loc a r a so c io lo g ia
do co n h e c im e n to a s e rv iç o da política social, a sp ira n d o su p e ra r o que c o n
s id e ro u a c r is e da so c ie d a d e dem ocrática.
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Com a co n stru ç ã o de s u a teoria so c io ló g ic a do conhecim ento, p roc u
rou M a n n h e im d e s e n v o lv e r um se n tid o o p o sto à v is ã o internalista do c o n h e
cim ento, refutando a teoria de que o p r o c e s s o do co n h e c im e n to não se d e
se n v o lv e historica m e n te de acordo com leis im a n e n te s que e n vo lve m as
p e c to s co m o a razão e a natureza d as co isa s, O p e n sa m e n to é, então, in
fluenciad o por fa tores e x iste n c ia is ou “e xtra te ó ric o s", que m od ificam as
fo rm a s de pensar, o conteúd o do conhecim ento, influenciand o tam bém a
''p e r s p e c t iv a ” do sujeito. Este te rm o é definido por M a n n h e im co m o “a m a
neira total de um sujeito co n ce b e r a s co isa s, tal c o m o é determ inad a pelo
se u am biente h istóric o e so c ia l".
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Em p rim e iro lugar, há o p en sa m e n to do tipo e sc o lá stic o , resultante do
p eríod o está tico da socied ad e. N e ste períod o os r e s p o n s á v e is pela v is ã o
do m und o eram o s m ág ic os, o s b râ m a n e s e o clero m edieval que fo rm a
va m a cam ada intelectual organizada co m o casta; e le s detinham o m o n o p ó
lio do p en sam ento. Este provinha, não da e xp eriência concreta com a vida
cotidiana, q u er d o s s e u s conflitos, q uer d o s re su lta d o s e m p íric o s n e ga tiv o s
ou p o sitivo s. M a s havia um a d istância da vida conflitiva do dia-a-dia. A s
v á ria s p o s iç õ e s de p od er dentro da m e s m a estrutura so cia l é que in fluen
ciavam; a s v á ria s interp retações acerca da "v e rd a d e ".
Entretanto, e s s e sis t e m a unitário de interpretação do m un d o se d e s in
tegrou, quand o os intelectuais se libertaram da rig o ro sa organização da
Igreja. N o s p e río d o s de R e n a sc im e n to e d e R e form a o s p e n s a d o re s c o m e
çaram a o b s e rv a r que havia n u m e r o s a s c o n c e p ç õ e s do m und o e v á ria s or
d e n s on tológicas. O objeto tornara-se d em a sia d am e n te am b íguo, p o is fôra
s u b m e tid o a m últip las interp retações d ive rge n te s. O clim a era de incerte
zas. H avia n e c e s sid a d e de e ncontrar um a b a se s e g u ra para a existê n cia
objetiva. Então s u rg iu a e p istem ologia, tom and o co m o ponto de partida o
sujeito co gn o sce n te , p o is este, p re ssu p u n h a-se , é m a is im ediatam ente a c e s
sív e l que o objeto. O objetivo era definir a natureza e o va lo r do ato c o g n i
tivo hum ano. C o m o exem plo, cita M a n n h e im a corrente racionalista da filo
sofia fra n c e sa e alemã, de D e s c a rte s e de Kant,
N o entanto, o re c u rso e p iste m o ló g ic o d e m on strou -se insuficiente, p o is
não havia um s e r tra n sc e n d e n te e infalível capaz de em itir um julgam ento
so b re o va lo r do n o s s o p en sam ento. Entretanto, p o ssib ilito u o aparecim ento
de um a p sic o lo g ia geral e do pensam ento. Esta tam bém tinha o objetivo
de e xp licar o sig n ific a d o a partir de s u a gênese no sujeito. O indivíduo
se p a ra d o do grupo. M a s , tal c o m o a ep iste m olo gia, e sq u e cia -se do fator
socia l do conhecim ento. Isto s e deve, conclui M a n n h e im , ao fato de que
a m b a s evo lu íra m em p e río d o s ra d ic a is de in d iv id u a lism o e su b je tiv ism o na
é p oca da d e sin te g ra ç ã o da ordem so cia l m edieval e no início da era b u rg u e
sa-capitalista.
D e form a su b se q ü e n te , s u rg e a s o c io lo g ia do conhecim ento, num a é p o
ca de crise no p en sam ento, dentro de um contexto so cia l que tentou c o n
trabalançar a s te n d ê n cia s de um a so c ie d a d e individ ualista e indirecionad a
com um tipo m a is o rgâ n ico de ordem social.
A p rofundid ad e d as d ife re n ça s e xiste n te s entre e s tilo s de p en sa m e n to
levou M a n n h e im a fazer a d istin ç ão entre o co n ce ito p articular e total da
ideologia.
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M a n n h e im faz um a co n e xão p ro g re ss iv a entre o s co n c e ito s de ideologia
e so c io lo g ia do conhecim ento. Inicialmente, a d esco b e rta d a s ra íze s s o c ia is
do p en sa m e n to a s s u m iu a form a de "d e s m a s c a r a m e n t o ". O indivíduo, se m
q u e stio n a r a su a própria p o siç ã o in ve stiga a s b a s e s d a s id éias do a n ta g o n is
ta e a s interpreta c o m o m era fu n ç ã o da p o s iç ã o so cia l ocupad a pelo m esm o.
M a n n h e im reporta-se a o s partidos p olític os co m o o s p rim e iro s a s e utiliza
rem d esse método, a fim de d e m o n stra r a o s g ru p o s d om in a n te s que as
s u a s idéias refletiam o s a s p e c t o s d e c o rre n te s de s u a s sit u a ç õ e s de vid a
e de in te re s s e s in co n scie n te s. A o m e s m o tem po, a s p róp ria s o p in iõ e s do
gru p o atacante eram rob u stec id a s. O p róxim o p a s s o é adquirido q uand o o
indivíd uo in te re ssa -se pela aná lise s o c io ló g ic a da estrutura do p e n sa m e n to
do adversário, em s u a totalidade, com a finalidade de encontrar s u a s c o n s
tru çõ e s su b ja ce n tes d ete rm in a d as pela s u a p o siç ã o social. Finalm ente, nu
ma fa se própria da so c io lo g ia do conhecim ento, o indivíduo, se m o intuito
de m oralizar ou d enunciar, m a s a p e n a s co m o in te re sse de p e sq u isa r, s u
jeita à a n álise ideológica não a p e n a s a e strutura de c o n sc iê n c ia e p e n s a
m ento do a dversário, m a s to d o s o s p o n to s de vista, questionando, a ssim , a
própria p osição. A s e stru tu ra s s o c ia is é que p o ssib ilita m que o m e s m o ob
jeto a s s u m a d ife re n te s fo rm a s e a s p e c t o s no p r o c e s s o da e vo lu çã o social.
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M a n n h e im achou de e sp ecial relevância situ a r o co nceito de p ersp e ctiva
no p eríod o c o n te m p o râ n eo de interpretação m útua d o s g ru p o s coletivos, s o
cial e intelectual hete ro gê n e os. O conflito entre a s idéias acontece, não
a p e n a s a nível de n a ç õ e s de um outro hem isfério, m a s tam bém entre a s
vá ria s ca m a d a s so c ia is, g ru p o s p ro fiss io n a is e de intelectuais.
Essa situ a çã o de conflito entre as idéias pode s e r re p resentada da
se g u in te form a: Im a g in e m o s um círculo, em se u centro e stá o objeto; ao
redor, a s p e s s o a s h e te ro g ê n e a s ou re p re se n ta n te s do gru p o socia l a que
pertencem objetivam visu a liza r o objeto ou d e m o n stra r que o visu a liza ra m
e que o objeto tem esta ou aquela form a e natureza. Entretanto, cada o b s e r
vad or tem su a m aneira de vê-lo de a cord o com a própria vivê ncia socia l e
histórica. C a d a um tem a su a p ersp e ctiva particular que lhe determ ina o
â n gu lo de visão. D e n tro d e s s a p a isa g e m he te ro gê n e a de p ersp e ctiva s, tem
lugar a d is c u s s ã o acerca do objeto. U m d o s participantes, crend o no se u
próprio ponto de vista, d isco rre rá so b re a parte do objeto que c o n se g u iu
ve r e falará so b re a su a interpretação parcial do p rob le ma. O u tro partícipe
tenderá a n e gar a a s se rt iv a daquele, p orq ue a su a v is ã o do objeto lhe é di
ferente; o se u sig n ific a d o brota da totalidade de s u a s p róp rias re ferên cia s
so c ia is. E a s s im s u c e ssiv a m e n te . Em co n se q ü ê n cia, o sig n ific a d o do objeto
p erm anecerá p arcialm ente o b sc u ro para cada um d o s participantes, dando
lugar ao d e se n te n d im e n to ou d isse n so .
E s s e q uad ro d ese stru tu ra d o r de idéias oferece um c a m p o p rop ício à
atuação do m étod o da so cio lo g ia do conhecim ento. Esta s e propõe a o rga n i
zar o círculo da d is c u s s ã o . Perm an e ce m o s crité rios de " v e r d a d e " e " e r r o "
na d is c u s s ã o . O que m uda é a p ersp e ctiv a d o s participantes. E s t e s sã o leva
dos, co m o que a d e slo c a re m de se u ponto de vista p articular e a adquirirem
a p ersp e ctiv a do oponente. A form a de interpretação do m und o d este p a s s a
rá a s e r vista c o m o uma função de d eterm inad a p o siç ã o social. E s s e pro
cesso relacional de idéias com a estrutura social indica a transição da
p ersp e ctiv a p articular à total.
3. A ESTRUTURA D A S O C IE D A D E M O D E R N A
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M a n n h e im achava que, por c a u sa do sis t e m a industrial, não é m a is p o s
síve l um a pseud o-d em ocracia, em que o p od er p olítico era atribuído à s elites
intelectualm ente m a is preparadas. Hoje, o m aior nú m e ro de g r u p o s s o c ia is
v is a participar no controle socia l e político. Portanto, há a n e c e s sid a d e de
que to d o s tenham o m e s m o nível de c o m p re e n sã o da realidade. C a s o c o n
trário, a so c ie d a d e não s e estabilizará. O p e n sa m e n to e a a ção d ev e m s e r
d em ocraticam en te o rien ta d o s para a planificação da so c ie d a d e m oderna, de
form a a controlar a s situ a çõ e s, s e m os in co n v e n ie n te s da ditadura e da
barbárie. Ele fez um a d istin ç ão entre trê s tip o s de p en sam ento, re laciona
d o s à s n e c e s s id a d e s socia is. N u m nível m a is primário, coloca-se o p e n s a
m ento da “d e sco b e rta o c a s io n a l”, em que a so lu ç ã o para d eterm inad o tipo
de prob lem a é acidentalm ente encontrada. Esta é a fa se original de uma
organização socia l e econôm ica, cujo exem plo, s ã o os co le to re s de ali
m ento e o s ca ça d ores; num e stá g io m a is avançado, s u rg e o p e n sa m e n to
do tipo “ in v e n tiv o ”, caracterizado pela im agin ação e pela p re visão . N e sta
fase, o s objetivos s ã o c ria d o s e se le c io n a d o s; finalm ente, no e stá g io do
p en sa m e n to “p la n ifica d o ", tanto a s in stitu içõ e s isolad as, q uanto o s ob jetivos
sã o re gu lam e n ta d os e racionalm ente rela cio n ad o s dentro da so c ie d a d e com o
um todo.
D e igual m odo, na so cie d a d e M a n n h e im identifica tr ê s f a s e s h istóric a s:
a primeira, de a cord o com a te rm inologia usad a p or D u rkheim , co rre sp o n d e
a da solid aried ad e m ecânica, caracterizada pelo p re d o m ín io do g ru p o so b re
o indivíduo. Este, seja pela tradição, seja pelo m edo, não s e se n te em co n
d iç õ e s de v iv e r in d ep end entem ente do grupo: d eve v iv e r ou p erecer dentro
deste. O indivíd uo não tem c o n sc iê n c ia de si, c o m o um s e r iso la d o e, p or
tanto, não pode a s s u m ir re sp o n sa b ilid a d e s individuais. C o n tra sta n d o com
e s s e m und o de co m p orta m e n to hom ogêneo, s u rg e em s e u lugar, a so c ie d a d e
da co m p e tição individual. N e sta fase, o indivíduo já é capaz de form ar
s u a s p róp rias o p in iõ e s e de co n ce b e r o m und o a partir de s u a s e xp eriê n
c ia s p e s s o a is . Ele v iv e ncia a individualidade e não tem e a re s p o n s a b ili
dade. Tem c o n sc iê n c ia de s e u s in te re s s e s e adapta-se à s c irc u n stâ n c ias,
para m elh or servi-los. U m e xem p lo de co ntrib uição ao c re sc im e n to da re s
p onsab ilid ad e p e s s o a l foi o s is t e m a de p e q u e n as prop riedad es, p o is o indi
víd u o era ob rigad o a elaborar um a e stratégia de ação para não p erec e r na
luta com petitiva. O re su ltad o im ediato foi o su rg im e n to de um a racionali
dade subjetiva ou racio cín io de concorrência. A terceira fa se h istórico-social
c o rre sp o n d e a da so cie d a d e industrial. C aracteriza-se pelo a b and ono da
atitude de co m p e tição mútua. O indivíduo é levado a s e s u b o rd in a r porque
co m p re n d e que, abrindo m ão de certas va n ta g e n s p e s s o a is , colabora com
a m anutenção do sis t e m a e co n ô m ic o e social, re sg u a rd a n d o s e u s in te re s s e s
p e s s o a is ; com prende, ainda, que o m e c a n ism o so cia l é c o n stitu íd o a partir
de a c o n te cim e n tos in terd epend entes que d evem s e r su je ito s a planificação.
O term o "p la n ific a ç ã o " é u sad o por M a n n h e im com o se n tid o de re
c o n stru ir uma so c ie d a d e em transform ação, com o s p róp rio s e le m e n to s e x is -
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tentes dentro dela, e com o fim de transform á-la em reduto saud áve l d o s
ob je tivos do h om e m p rop iciando a canalização de s u a s en e rgia s. A t r a v é s
do planejam ento a ordem socia l p a s s a a s e r a de um E sta d o de s e rv iç o e
de e xistê n cia de fo rm a s e s s e n c ia is de liberdade.
4. IN FLU ÊNC IA DE M A N N H E IM
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é intrigante e paradoxal o fato de que a s o c io lo g ia do conhecim ento,
além de não ter d esaparecid o, flo re sce u em v á ria s áreas, sem , ao m e s m o
tempo, esp a lh a r a s in fluências de M a n n h e im .
Exem plificando, M irc e a Eliade e C la u d e L é vi-Stra u ss, na elaboração s o
bre a s ca te g o ria s fu n d a m e n ta is do p en sam ento, d ev e m m uito a Jung, D u rk
heim e M a u s s , m as, p raticam ente nada a M a n n h e im .
M a s s e a influência direta de M a n n h e im é hoje q u a se im perceptível,
no atual d e se n v o lv im e n to da socio log ia, o in te re s s e em c e rta s d as g ra n d e s
questões da s o c io lo g ia do c o n h ec im e n to que ele levantou não so m e n te
tran sb ord a as fron teiras d iscip lin are s, atingind o cam pos da história da
ciência e e p istem ologia, c o m o tam bém , re su lta no livro m a is citado e pro
vavelm ente m ais lido d as C iê n c ia s S o c ia is dos ú ltim o s trinta a n o s — A
estrutura d as R e v o lu ç õ e s C ie n tífic a s de T h o m a s K u h n (1). N e sta obra, Kuhn,
físic o por p rofissã o, e historia d or da C iê n c ia p or opção, argu m e n ta que a s
ciê n cia s s o c ia is d evem tratar a C iê n c ia Natural, c o m o o m a is p o d e ro so e
revolucionário instru m e nto n o s últim os trê s sé c u lo s, c o m o q u alq u e r outro
fe n ô m e n o s o c ia lm e n te c o n stru íd o em d ete rm in a d os co n te x to s h istóric os.
Diz, im plicitam ente, que a tentativa da filosofia, e em particular da e p iste
m olo gia científica, de exp licar se u incontestável êxito em algo exterior à
s u a prática social, o "fu n d a m e n t is t a " quer na ontologia do m undo, q uer na
lógica d o s s e u s p roced im entos, não s o m e n te é mal s u c e d id o até hoje, m as
fadado ao fra c a sso . Em se u lugar, aponta o c a m in h o do naturalismo, ao
estu d o da prática e do fe n ô m e n o da ciê n cia c o m o q u alquer outra e x p re s s ã o
social, pelo cam in h o da so c io lo g ia do conhecim ento.
É esp e cia lm en te interessante, então, que ce rto s filó s o f o s co n te m p o râ
n e o s da ciência, p or e xe m p lo Ronald N. G ie re (2) adm itindo a derrota do
p rogram a "fu n d a m e n tis ta 1’, optam por um a ab o rd a ge m " n a t u r a lis t a " para o
e stu d o da ciência, to m and o a obra de K uhn c o m o ponto de partida e o novo
cam p o de investigação, a S o c io lo g ia da Ciência, co m o u m a co n trib u içã o im
portante a este em preendim ento.
O q uadro m uda de figura q uanto a e stu d o s de ideologias, que co m e ça m
a ocupar um lugar im portante na a n á lise socio lóg ica . S u a influência, n e s s e
sentido, pode s e r atribuída ao u s o do term o "id e o lo g ia ” , que d e sp e rto u a
atenção d o s so c ió lo g o s, c o m o tam bém , pelo fato de que M a n n h e im estu d ou
o a s su n t o com e sp ecial dedicação. Se m e lha m e n te , há influência de Man
nheim no e stu d o do p ap el político e social de intelectuais e d o s s is t e m a s
in stitu cio n ais da vid a intelectual, na form a em que foi co n d u zid o p or T h e o
d or Geiger, R o b e rt K. M e rton , J o se p h Ben-David, Talcott P arso n s, M a rtin
Trow, L e w is C o s e r e outros.
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Tam bém , hou ve m a is recep tivid ade relativam ente à id é ias m a c ro s o c io
ló gica s de M a n n h e im q uanto à so cie d a d e de m assa , cuja aparição coincidiu
com o su rg im e n to da influência da so c io lo g ia do M a r x is m o e da obra de
M a x W e b e r s o b re d em ocra cia e capitalism o, Na época, p re ocu p a va m -se o s
s o c ió lo g o s em decifrar a s c a u s a s do o c a so d a s s o c ie d a d e s lib erais e do
su rg im e n to d o s re g im e s p o p u lista s e totalitários. Em co n se q ü ê n cia, a influ
ência de M a n n h e im , nesta área, foi m a is duradoura.
BIBLIO G RAFIA:
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