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CERAMICA TECNICA AVANCADA APLICADA A INDGSTRIA TERMOMECANICA Conterencista EDGAR D. ZANOTTO. Professor e pesquisador da Universidade Federal de Sfo Carlos Departamento de Engenharia de Materiais Bem senhores, eu inicialmente agradeco o convite, também agra- dego ao Professor Egon por ter introduzido o assunto, e na realidade acho que a metade da minha palestra foi adiantada por ele. O meu trabalho vai ser reduzido e eu vou me ater especificamente ao tema ceramica técnica avangada para aplicagdes na industria termo- mecanica, ou ceramicas avangadas, cujas caracter{sticas principais se- jam a alta resisténcia mecdnica, a alta refratariedade e a resisténcia & abrasao. Inicialmente, para introduzir o tema eu apresentarei uma resenha do desenvolvimento mundial e nacional na 4rea de ceramica avangada (Figura 1). Eu acredito que de maneira simplificada os primeiros produtos que foram desenvolvidos a nivel mundial, na drea de ceramica avanga- da, tém sido os capacitadores 4 base de titanato de bério e as velas de ignigao & base de éxido de aluminio, af pelo final da década de 40, Inicialmente, as velas de ignigéo foram desenvolvidas na Alema- nha e rapidamente o Japao e os Estados Unidos também passaram a produzi-las para automéveis a base de alumina ou alto teor de alumina (6xido de aluminio). Depois a Inglaterra, num projeto muito grande, com suporte do Governo Britanico, iniciou os estudos na area do que eles chamaram de New Eletric Materials and New High Temperature Materials. Na década de 50 eles promoveram também o primeiro simpésio, pelo menos com esse titulo, o primeiro simpésio mundial sobre ceramicas avancadas. Obviamente, nesse perfodo palses como Estados Unidos, Japao e Alemanha continuavam a trabalhar no desenvolvimento de pecas resis- tentes & abrasao, materiais cada vez mais refratarios, ceramicas eletré- nicas gradualmente entrando no mercado, até que em 1983 aconteceu o que se chama atualmente febre em cerémica avancada. Através de um artigo publicado num jornal de economia do Japao, onde apés consul- tas a cem presidentes das maiores empresas japonesas tipo Sony, Hit shi, etc, estavam listadas as dez maiores inovagées tecnolégicas ocor: das no perlodo de 73/83. Quer dizer, logo apés o choque do petrdleo. Esses diretores listaram as dez maiores inovagées tecnoldgicas e o jor- nal publicou a seguinte lista: “Maior inovagao tecnoldgica foi integrado em larga escala, em se- gundo lugar vinha a biotecnologia, depois fibras éticas e em quarto lu- gar robdtica e ceramica avangada' Os quatro primeiros Itens jé eram do conhecimento do grande pti- blico, todo mundo j& tinha ouvido falar em fibra ética, robstica, biotec- nologia mas, ceramica avangada realmente foi a primeira vez que o termo foi divulgado a nivel de midia, Ceramica avangada, numa escala relativa, se situa muito préxima da robética, praticamente em quarto, quinto lugar. Além disso, fibras 6ticas na realidade sao constituldas de vidros que sdo materiais cerami- cos avangados. Depois tinhamos interferon, automagao de escritérios, novos materiais que também envolvem materiais ceramicos, super- computadores e tecnologia espacial. De maneira resumida, foi esse artigo que despertou a febre mun- dial em ceramica. Obviamente muita gente jé vinha trabalhando em ce- ramica, desde a década de 30 que se trabalha em ceramica. Mas, o inte- resse de grandes grupos industriais, interesses de industrias ndo-cera- micas para a 4rea de ceramica realmente foi muito despertado nessa &poca, ou um pouco antes disso. Essa 6 a histéria mundial. No Brasil, pelo menos que se tem noticia, os estudos comegaram em 1960, no IPEN, antigo Instituto de Energia Atémica de Sao Paulo, com o desenvolvimento de combustiveis nucleares 3 base de dxido de uranio, que é um material ceramico. Eles montaram uma planta-piloto, montaram o laboratério @ co- megaram a contratar pessoal. Eu acredito que tenha iniciado 14 essa parte de cerdmicas especiais. Na mesma época o IPTem Sao Paulo e o Instituto de Fisica e 0 Departamento de Engenharia Quimica da USP também iniciavam os trabalhos de caracterizagéo de matérias-primas nado avangadas, mas comegaram a implantar um grupo em um laboratério de ceramica. E na Universidade Federal de S40 Carlos, em 1970, foi criado o primeiro curso da América do Sul de Engenharia de Materiais, sendo que uma das modalidade era ceramica, as outras duas, polimeros e me- tais. E af realmente iniciaram-se os estudos e a diversificagao na 4rea, desenvolvimento de ceramicas avangadas. Entdo, de maneira resumida e com alguns erros, provavelmente, porque isso é uma visdo minha da histéria, eu acredito que o panorama global seja bem representado por essa resenha, As definigdes, o Professor Egon jé mostrou, mas rapidamente vou relembré-los (Figura 2). Materiais ceramicos sao entao materiais inorganicos, néo-metdli- cos, cuja produgéo ou aplicagéo envolve um tratamento térmico, um aquecimento. Eles tendem a ser duros, quer dizer, resistentes abra- 40, mas frégeis, quebram sob impacto. Tendem a ser isolantes térmi- cos e elétricos. Os materiais ceramicos englobam as chamadas ceramicas, os ci- mentos, os refratarios e os vidros também, Todas essas classes de ma- teriais séo materiais ceramicos. E h4 muita confusdo na literatura por af, mesmo a internacional. Alguns paises consideram 0 vidro como material ceramico, outros sepa- ram. Ceramica é uma classe, “glasses” outra classe. A gente prefere chamar tudo isso de material ceramico. Todos esses materiais inorgani- cos, ndo-metélicos, que sofrem um tratamento térmico, sdo materiais ceramicos. Cermicas, de uma maneira global, podem ser classificadas como aqueles materiais ceramicos predominantemente cristalinos, cuja estru- tura atémica é muito bem ordenada. E os vidros so os materiais cera- micos nao-cristalinos cuja estrutura atémica 6 desordenada. Nés podemos subdividir as ceramicas avangadas, ou os materiais ceramicos de alta tecnologia (estou usando como sinénimos estes dois termos) em: aplicagdes mecdnicas, éticas, térmicas, quimicas, elétricas, magnéticas, biolégicas e nucleares. Sao oito classes especificas desses materiais (Figura 3). ‘As ceramicas para aplicagées mecanicas compreendem os compo- nentes dos motores. J4 & conhecido do grande ptblico o desenvolvi- mento que vem sendo feito no sentido de se obter os motores dos au- toméveis e avides cada vez mais com partes ceramicas. Componentes de m&quinas em geral, ferramentas de corte, etc. As ceramicas para aplicagdes em eletrénica, que sao os isoladores ceramicos, os substratos eletrénicos, os capacitores, os semi-conduto- res e os piezo-elétricos, As ceramicas magnéticas usadas em magnetos cerémicos tém al- gumas vantagens e algumas desvantagens em relagdo a magnetos me- talicos, As ceramicas utilizadas para aplicagdes térmicas, os super-refraté- rios, materiais que no se fundem ou ndo amolecem mesmo quando submetidos a temperaturas acima de 1.700°C. Os isolantes térmicos re- fratérios também j& s40 conhecidos do publico, os azulejos isolantes que revestem as naves espaciais americanas, sdo materiais ceramicos avangados. As ceramicas de aplicagéo na industria quimica em geral, ou com aplicagées quimicas: sensores de gases, sensores de umidade, sensores de calor, suportes de catalizadores, eletrodos e reatores de alta tempe- ratura, etc. Ceramicas para aplicagées Sticas, as fibras dticas, as ceramicas translucidas por exemplo. Essas lampadas de vapor de sédio altamente eficientes, tem uma camisa ceramica onde o vapor de sdédio é confina- do. O vapor de sédio ataca os vidros. Seria impossivel fazer uma lam- pada de halogénio apenas com o bulbo de vidro, Entao, dentro do bul- bo de vidro h4 uma camisa e uma ceramica translucida. Memérias 6ti- cas, emissores de laser, etc, ‘As ceramicas para implantes ortopédicos, para vélvulas de cora- ¢4o, dentes artificiais, etc. E, finalmente, as ceramicas para aplicagdes nucleares, os combus- tiveis nucleares, as ceramicas resistentes 4 radiagao de alta energia, ma- teriais para blindagem de radiagdo. Mas, de maneira global o Professor Egon j& havia mostrado na- quela transparéncia circular, as diversas fun¢des das ceramicas avan¢a- das. Como o meu seminario é relativo ao tema “‘ceramicas para aplica- des termomecanicas”, eu vou detalhar um pouquinho mais as proprie- dades destas cerémicas para aplicagdes termomecénicas. A Figura 4 apresenta algumas propriedades positivas e algumas negativas da ceramica avangada, quando se compara, por exemplo, aos metais ou polimeros. Inicialmente, as positivas. Os materiais cermicos tem um alto médulo de elasticidade, em outras palavras, uma alta rigidez. Dificilmente eles deformam, Nao é & toa que essas raquetes de ténis com fibras de carbono, fibras de boro que nés adotamos como materiais ceramicos, o carbono artificial, 0 bo- ro artificial, o nitreto de silfcio ou fibras de alumina, tém encontrado aplicagées cada vez maiores. As raquetes de ténis nao podem se defor- Mar quando sofrem o impacto, por isso elas séo reforgadas com fibras ceramicas. Estes materiais ceramicos tém alta rigidez, alta dureza com resisténcia 4 abrasdo, séo muito resistentes 4 abras4o, nao se desgas- tam facilmente. O Professor Egon mostrou muitas transparéncias e, na maioria delas, aquelas pecas sé existem devido & sua alta elasticidade & abra- sao, As ferramentas ceramicas por exemplo, eu trouxe aqui uma tesou- ra, as laminas de corte j& esto sendo feitas de ceramica, elas nao oxi- dam, nao enferrujam e nao perdem o corte ou, dificilmente perdem o corte. No Japao jé se pode compré-la em supermercados, Outra propriedade interessante: os materiais ceramicos tem uma baixa massa especifica, a densidade das ceramicas & praticamente a me- tade da densidade dos metais, Os metais tem densidades tipicas de 7 a 8 gramas por cm? e as ceramicas de 2 a 4 gramas por cm?. Entao, as mdquinas feitas com ceramicas sio muito mais leves. Imaginem um avido de ceramica, é metade do peso de um avido metdli- co, grosseiramente e falando. Inércia quimica é outra propriedade importante. Elas néo enferru- jam, n4o sao atacadas quimicamente, sdo dificeis de sofrerem ataque quimico, oxidagao, etc. Depois, refratariedade, quer dizer, a resisténcia a altas temperatu- ras, E muito diffcil fundir esses materi Essa tesourinha exige dois mil graus para se fundir. O cabo é de polimero, mas a lamina sé se funde a 2.000°C, Outra propriedade positiva interessante é a elevadissima resistén- cia tedrica, quer dizer, teoricamente pode-se calcular a energia de liga- 40 que une dois ou mais 4tomos num material ceramico. Séo materiais covalentes, ou idnicos, de alta energia de ligagdo. Entdo, teoricamente, qual a resisténcia de um material? E propor- cional 4 sua energia de ligagdo atémica e isso é altfssimo. Sé 0 fato da resisténcia teérica ser muito alta significa que melhoras no processa- mento podem eliminar os defeitos que depreciam a resisténcia mecani- ca de maneira que se chegue a valores mais préxmios, na prdtica, dos valores calculados teoricamente. E j4 se chegou a 1/4 do valor tedrico com alumina de zircénio que 6 um material especifico, reforgado com zircénia, Devido & sua baixa densidade, a resisténcia especifica, que seria a resisténcia mecanica dividida pela densidade, & muito alta em relacao aos metais, por exemplo. Outro fator importante, a resistéricia mecanica se mantém até temperaturas relativamente elevadas, por isso estao iniciando as aplica- ges nos motores ceramicos, Para quem ainda no acredita nos motores ceramicos, eu j4 tenho aqui uma pega incrivelmente complexa. Isso 6 um rotor de turbo de ce- ramica, isso é nitreto de silfcio, Os pistons ceramicos. Aqui 6 um pistéo de alum{nio cuja cabeca ja 6 de ceramica. S6 com essa aplicagaozinha de ceramica Ja dé para ele- var a temperatura de trabalho no motor e aumentar a eficiéncia do pro- cesso termodinamico. Além disso, 0 objetivo 6 eliminar toda a refrige- ragdo do automével, A condutividade térmica na maioria das ceramicas é baixa em rela- ¢40 aos metais e a expansdo térmica é controlavel, quer dizer, existem materiais ceramicos com coeficientes de expansdo térmica praticamente Zero, Pode-se aquecer o material que ele nao se expande. Isso muito bom porque esses materiais que nao se exapandem tém uma altissima aplicabilidade em situagdes de alta temperatura, Por outro lado, outros materiais ceramicos tém alto coeficiente de expansdo térmica, o que facilita a sua jungao a certos metais, Entao permite. uma flexibilidade de Projeto, essa grande gama de materiais ceramicos. Eu falei das propriedades positivas. Existem algumas negativas que nés temos que citar, As ceramicas séo frageis, elas resistem pouco a impactos. Se elas no fossem frageis os motores cerémicos j& estavam hoje rodando por af. O problema ainda a resolver 6 a diminuigao da fragilidade e o au- mento da tenacidade, aumento da resisténcia ao impacto. Também elas tém em geral uma baixa resisténcia a choque térmico, E muito comum Pratos, copos, etc, se quebrarem quando se coloca um material frio em material quente e vice-versa. Sé0 essas duas propriedades negativas due vem limitando a aplicagao em larga escala dos motores ceramicos, Mas, isso ha maneira de se resolver e avangos muito grandes nessa érea vém acontecendo, Uma outra propriedade negativa é o grande espalhamento de valo- res de resisténcia. Quer dizer, num ago bem feito, um engenheiro sabe que a resisténcia mecanica é 2.000 kg/forga por cm?, A ceramica tem desvio-padréo muito grande. Numa pega que tem 2.000 kg/forca por om?, outra pega pode ter 200, dez vezes menor, Entao, hé uma dificul- dade de projeto muito grande. Hé uma baixa confiabilidade devido ao largo desvio-padrao das propriedades mecanicas. Também hé maneiras de se controlar isso. E, finalmente, a resisténcia mecdnica depende muito do acabamen- to superficial da pega, em outras palavras, depende muito do processa- mento do material ceramico, da existéncia de poros, de defeitos, de in- clus6es e de trincas superficiais. Como eu disse no infcio, a resisténcia tedrica 6 muito alta. Mas, os defeitos introduzidos durante o Processamento abaixam violentamente essa resisténcia mecanica. Entao, os avangos atualmente N&o sao relacionados muito a novas composigées. Sao relacionados ao processamento, as melhoriae no pro- cessamento para se eliminar os defeitos, Eu havia me esquecido, mas tem um outro problema, chamado “fadiga estética’. A resisténcia mecanica dos materiais ceramicos de- cresce com o tempo por razdes j& conhecidas. Eles sofrem um ataque quimico progressivo, muito lento, mas ela cai com o tempo. E possivel prever tempo de vida de um determinado material ceramico sobre.uma determinada situagdo mec4nica. Bom, mas nesse balango entre propriedades positivas e negativas, hd espago para muito desenvolvimento. Outro fator importante é que as matérias-primas para obtengdo dessas ceramicas séo muito mais abundantes, como disse o Professor Egon, do que o cobalto, platina, vanddio, esses metais raros que sdo aplicados nas super-ligas. Os materiais ceramicos sao a base de alumfnio, (alumina), ferro si- Ifcio, oxigénio, que sao materiais abundantes na natureza. E por isso que est4 havendo essa febre na d4rea de ceramicas. Eles tem muitas propriedades positivas e os cientistas esto trabalhando para minimi- zar, para controlar as propriedades negativas. Bem, quem esté trabalhando em ceramica no Brasil? Nés fizemos uma tabela resumida dos varios pesquisadores exis- tentes no Brasil, que esté na Figura 5. Na regiao de Sao Carlos, Araraquara, hé quatro grupos trabalhan- do ha alguns anos em materiais avangados. Tem o DEMA, na Universi- dade Federal de Sao Carlos; um grupo no Departamento de Quimica; no Instituto de Quimica da UNESP em Araraquara; e no Instituto de Fisica e Quimica da USP l4 em Sao Carlos também. No total temos aproxima- damente vinte pesquisadores, mais da metade deles com titulo de Ph.D. E um grupo razdavel, com alguns anos de experiéncias em materias ce- ramicas avangados. Em Sdo Paulo, capital, também ha trés grupos relativamente gran- des. O principal 6 0 do IPEN - Instituto de Pesquisas Nucleares, conta com sete Ph.D. e a linha principal é ceramica para aplicages nucleares. Depois hd o IPT, em Sao Paulo, tem bastante experiéncia acumulada em matérias-primas ceramicas e tem uma pequena fabrica-piloto de alumina, produtos de éxido de alumina e, na Engenharia Quimica da USP, experiéncia acumulada também em matérias-primas ceramicas. Em Campinas temos o Instituto de Fisica da Unicamp, dois grupos j4 com alguma experiéncia também em fibras dticas (nés vamos ter o Dr. José Mauro & tarde explicitando as pesquisas e desenvolvimento em Campinas), e um grupo também do Professor Suzuki trabalhando com quartzo, que é uma matéria-prima ceramica bastante importante. Temos um grupo emergente em Sao José dos Campos, no CTA, iniciando trabalhos hd dois anos na 4rea de motores. E teremos amanha também o Dr. Tessaleno que vai explicar em detalhes os desenvolvi mentos no CTA em S&o José dos Campos na 4rea de motores cerami- cos. No Rio de Janeiro nés temos o Instituto Militar de Engenhari também trabalhando na 4rea de ceramicas para aplicagdes em termo- mecanicas e 0 INT com experiéncia acumulada em matérias-primas ce- ramicas. E além desses temos outros grupos. Temos um grupo na Bahia, outro em Campina Grande, uma pessoa no Rio Grande do Sul. Algumas outras pessoas, dando um total aproximado de 96 pessoas trabalhando em ceramica, nem todas em ceramica avangada. Esse é 0 total de pes- quisadores em ceramica. Tirando uma parcela, digamos, 10% disso af trabalhando em ceramica avangada. Por levantamento que fiz recentemente (Figura 6), eu acredito que esses ntimeros sejam bem préximos da realidade. H& uma escola do SENAI em So Caetano do Sul que forma técnicos ceramistas, e mil técnicos j4 foram formados em ceraémica desde 62, desde o inicio da es- cola. A Universidade Federal de Sao Carlos j& formou cem Engenheiros Ceramicos desde o seu inicio e a Universidade Federal da Paraiba re- centemente implantou um curso e j4 formou doze Engenheiros Cerami- cos. Sao as tnicas duas escolas que formam Engenheiros Ceramicos. Quer dizer, Engenheirds de materiais com especializagdo em ceramica. Mestres, foram formados nove na Universidade Federal de Sao Carlos, trés na Universidade da Parafba, sete no IME, vinte na USP e cinco no exterior. Doutores temos no Brasil hoje trinta doutores em ceramica, dez formados na USP e vinte no exterior, mas nem todos trabalhando em ceramica avangada, talvez, meio a meio. A maior parte desse pessoal trabalha com ceramicas tradicionais. Esse é 0 total de doutores que o Brasil tem em ceramica, trinta. Eu tenho dados agora dos Estados Unidos, eles estao formando oi- tenta por ano, doutores em ceraémicas. E nds temos trinta na histéria toda. Voltando novamente as ceramicas para uso termomecanico eu lis- to aqui as principais. Atualmente as principais ceramicas para uso ter- momecanico séo: alumina, zircénia, carbeto de sillcio e nitreto de sill- cio. Uma estimativa feita por uma empresa norueguesa de marketing esté na Figura 7. A bolinha representa o prego médio estimado da ma- téria-prima, do pé especial de alumina, de zircénia, de carbeto de silf- cio. Prego médio da alumina, um délar 0 quilo; prego médio de zircénia, carbeto de silfcio e nitreto, dez délares 0 quilo. E 0 prego do pé. A faixa representa o prego minimo estimado e 0 prego méximo estimado. Isso d& uma idéia do que se pode esperar em termos de vendas para essas matérias-primas de ceramica avangada. No trabalho feito pela mesma firma norueguesa de marketing, tem um ano de explosdo comercial, ano que realmente o produto vai entrar no mercado para valer, de 1980 ao ano de 2010, de diversos componen- tes ceramicos avangados. Por exemplo, ferramentas de corte j4 estdo no mercado. O Brasil importa ferramentas de corte, de ceramica. Bicos de solda também j& estaéo no mercado, a ENGESA jé fabrica no Brasil um certo tipo de bico de solda, Hé muitos tipos. Garras de precisdo também j& existem no mercado internacional. Componentes de bombas mecani- cas, selos mecanicos, camisas. Componentes de motores para baixa temperatura. Vejam que nessa faixa de 1985 a 1990 devem estar no mercado varias partes de motores para temperaturas relativamente bai- xas. Rolamentos cerémicos, em 1990 mais ou menos, devem substituir os metdlicos. E componentes para motores de alta temperaturas ou pa- ra turbinas devem estar planejados para mais ou menos entre 1990 e 1995. Eu acredito que amanha o Tessaleno do CTA vai dar uma visdo um pouco melhor sobre isso, porque ele vai falar especificamente sobre motores. Mas, de acordo com estas estimativas, quer dizer, nessa faixa de 1985 a 1995, a maioria dos produtos vai estar no mercado ja. Uma idéia da histéria dos motores cerémicos. A Inglaterra fez isso com varias coisas, Eles inventaram os motores ceramicos na década de 60 ¢ atualmente tém nivel de pesquisa de investimento muito baixo nos motores ceramicos (Figura 8). Os Estados Unidos, nao sei dizer porque razdo, aparentemente estao diminuindo levemente o nivel de atividade. O nivel de atividade é o numero de pessoas trabalhando e o numero de délares, a quantidade de délares investido nessa 4rea, Esta caindo le- vemente enquanto que a Republica Federal Alema e o Japao, o Japao principalmente, esto investindo macigamente nos motores ceramicos. So dados deste ano, bem recentes. No Brasil, um fenémeno interessante: em levantamento que eu fiz na Revista Brasileira de Ceramica, de 1981 a 1986, temos a percentagem de artigos técnicos publicado em ceramica avancada (Figura 9). Em 1980 tinhamos que 1% dos artigos publicados se relacionavam & cera- mica avangada. Hoje, 1985-1986, 40% dos artigos publicados na revista nacional de ceramica se refere 4 ceramica avangada. Isso indica que o Brasil, pelo menos a nivel de pesquisa, com todas as dificuldades, tam- bém tem um nivel de atividade razodvel nessa area de ceramica avanga- da. Bom, finalmente um exemplo do que é interacao universidade-in- dustria nos Estados Unidos (Figura 10). Existem vinte empresas financiando pesquisas de ceramica avan- ada nos Estados Unidos, com duas linhas atualmente em andamento: processamento de materiais cerémicos e motores ceramicos. Essas mesmas empresas, so empresas que tém filiais no Brasil. Quase todas as universidades americanas tém financiamentos muito importantes por parte de industrias, uma coisa que deve ser incentivada aqui no Brasil. As industrias consorciam e financiam a mesma pesquisa depois elas dividem o resultado. Bem, eu gostaria apenas de concluir. O meu ponto de vista é 0 se- guinte: © mercado mundial atual é da ordem de 5 a 6 bilhdes de délares para a cerdmica avancada (Figura 11). As projecdes para o ano 2000, 2010, sdo de 40 a 60 bilhdes de délares. O mercado nacional de cerarnica avangada é da ordem de 200 mi- Ihdes de délares hoje. Se crescer com as mesmas taxas projetadas para 0 Japao, Estados Unidos, etc, séo taxas da ordem de 15 a 20% ao ano, nés chegaremos rapidamente a um bilhdo de délares em 1990. Isso sugere que as pesquisas sejam incentivadas, recursos huma- nos devem ser formados, empresas devem comegar a financiar pesqui- sa, nao esperar que sé 0 Governo financie isso. Sobre as matérias-primas 0 Professor Egon jé falou muito bem, eu concordo. Nés temos reservas grandes em minérios de zircénia, alum{- nio, ferro, titanio, o Brasil detém 65% das reservas mundiais de quartzo. Entretanto, os recursos humanos s&o poucos ainda. Sé hé duas universidades que formam engenheiros de cerémica, temos sé trinta Ph.D’s no Brasil inteiro, em ceramica, uma parcela deles trabalhando em ceramica avangada. Meu ponto-de-vista é que hoje se domina tec- nologia de produtos de alumina na 4rea termomecanica, nao se faz qua- se nada em carbeto de silfcio, em nitreto de silfcio, em zircénia, sé alu- mina. Entéo ha espago af para desenvolvimento de implantagao de tec- nologias. Recomendag&o final seria: 0 reaparelhamento dos laboratérios existentes, incentivo 4 formagao de recursos humanos e incentivo 4 formacgéo de consércios entre industrias, universidades e centros de pesquisa, Eu acredito que a 4rea, em termos de mercado 6 uma 4rea que vale a pena, os investimentos valem a pena. Obrigado. HISTORICO 1, ALEMANHA, JAPAQ, USA BaTiO3 década de 40 \Velas de ignicao 2 INGLATERRA New Eletrical Materials New High - T Materials década de 50 First Special Ceramics Symposium 3. JAPAO, 1983 Maiores Inovagées Tecnoldgicas VLSI Interferon Biotech Aut. escritérios Fib, éticas Novos Materiais Robética Sup. computadores Cer. Avangada TEc, espacial NO BRASIL 1, IPEN _ = 1960 ~ Combustfveis nucleares IPT/USP - 1960 - Matérias primas 2. UFSCar - 1970 - Eng. de Materias - ceramica Figura 1 - Resenha histérica do desenvolvimento mundial no campo das ceraémicas avangadas. 1, DEFINIGOES MATERIAIS CERAMICOS: Materiais inorganicos, nao metélicos, cuja produgdo ou aplicagéo envolve tratamento térmico. Tendem a ser duros e frageis, isolantes térmicos e elétricos CERAMICAS: Materiais ceramicos predominantemente cristalinos. VIDROS : Sdlidos ndo cristalinos que apresentam o fenémeno de transi¢ao vitrea (ZARZYCKI). VITRO- CERAMICAS: Sdlidos policristalinos obtidos pela cristalizagdo con- trolada de vidros (MC MILLAN). Figura 2 — DefinigGes para os materiais ceramicos MATERIAIS CERAMICOS DE ALTA TECNOLOGIA @ MECANO - Ceramicas Componentes de motores, Componentes de maquinas, Ferramentas de corte @ ELETRO- Ceraémicas Isoladores, Capacitores Semicondutores, Piezoelétricos @ MAGNETO - Ceramicas Magnetos © TERMO - Ceramicas Super-refratarios Isolantes refratérios @ CHEMO - Ceramicas Sensores de gases e umidade, Suportes de catalizadores, Eletrodos @ OPTO - Ceramicas Cerdmicas transitcidas, Memérias dticas Emissores de LASER @ BIO - Ceramicas Implantes ortopédicos Ceramicas dentdrias @ NUCLEO - Ceramicas Combustiveis nucleares Materiais para blindagem Figura 3 - Divisdo funcional das cerémicas avangadas PROPRIEDADES TERMO-MECANICAS DAS CERAMICAS AVANGADAS POSITIVAS © Alto médulo de elasticidade © Dureza - resistécia 4 abrasdo © Baixa massa especffica © Inéreia quimica © Refratariedade © Elevadissima resisténcia tedrica Elevada resisténcia espectfica © Resisténcia mecénica em altas temperaturas © Baixa condutividade térmica © Expansao térmica controlavel (0-15x10-6/2C) NEGATIVAS © Fragilidade Resisténcia ao impacto Resisténcia ao choque térmico © Grande espalhamento de valores de resisténcia © Resisténcia depende muito do processamento e do acabamento super- ficial © Fadiga estatica Figura 4 — Propriedades termo-mecanicas das ceramicas avancadas. GRUPO DE PESQUISA EM CERAMICA NO BRASIL GRUPO LINHA PESQUIS/PhD S. CARLOS DEMa-UFSCar Materiais Ceramicos Avancados 12/06 DQ-UFSCar Materiais Ceramicos Avancados 02/02 1Q-UNESO Materiais Ceramicos Avancados 04/03 IFQSC-USP Materiais Ceramicos Avangados 02/02 S. PAULO IPEN Ceramicas nucleares 16/07 IPT Matérias-primas e Al203 09/04 EQ-USP. Matérias-primas 07/03 CAMPINAS IF-UNICAMP Fibras dticas, quartzo 11/04, S. J. CAMPOS CTA Ceramicas termo-mecanicas 08/03 RIO DE JANEIRO IME Ceramicas termo-mecanicas 03/00 INT Matérias-primas 02/00 OUTROS Matérias-primas 18/02 TOTAL 96/36 Figura 5 — Grupos de pesquisa em ceramica no Brasil. PESSOAL FORMADO EM CERAMICA ATE 1986 SENAI UFSCar UFPb IME USP \EXT. TOTAL (1962) (1970) __(1976)_(1972) (1960) Técnicos 1000 - - - - = = 1000 Engenheiros = 100 12 - sos 112 Mestres - 9 3 7 2 5 44 Doutores - - - - 1020 30 EMPRESAS ATUANTES NO BRASIL NGK : Aneis de trefila, placas de revestimento, esferas para moinhos, bicos de solda, pegas de Alz03 e mulita em geral COORS : Pecas especiais de Alg03 keramus : Produtos de Al203, cristobalita e cordierita IPT : Produtos de Al203 PROCER : Tubos e cadinhos de Alz03 CETEC* : Guias - fios CILCERAM : Guias - fios FOSECO* : Refratérios especiais CARBORUNDUN : Elementos aquecedores de SiC, Refratarios SiC e ial LOCALIZAGAO: interior do Estado de $40 Paulo * Sao Paulo - Capital Figura 6 — Pessoal formado em ceramica no Brasil, até 1986. a SIN, iC (a) zr |e Aln03 USS/kg 10 20 30 40 nia 1 sosoalalit 1 COMPONENTES DE TURBINAS I ee COMPONENTES DE MOTORES DIESEL PARA ALTA T 2 4 —_—»—_ ROLAMENTOS COMPONENTES DE MOTORES PARA BAIXA T, ABRASAO e+ +» COMPONENTES DE BOMBAS isi -_—_»—_ GARRAS DE PRECISAO +e BICOS DE SOLDA —e———— FERRAMENTAS DE CORTE L 1985 30 s 2000 eS 10 ANO FIGURA OT — PRECOS ESTIMADOS DAS CERAMICAS AVANCADAS (a) E PROJEQOES DE " BREAKTHROUGH" COMERCIAL (b) MOTORES CERAMICOS NIVEL DE ATIVIDADE INGLATERRA 60 6 7 cd 80 3s 90 95 ANO FIGURA 08 - INVESTIMENTOS FEITOS EM CERAMICA AVANCADA , A PARTIR DE 1960. FONTE : JOHNSON, LR., ARGONNE NAT.LAB.ANL/ CNSU 38 (1983) REVISTA CERAMICA ARTIGOS PUBLICADOS: pa PERCENTAGEM FIGURA 09 = ARTIGOS PUBLICADOS SOBRE CERAMICA AVANGADA NO BRASIL, ENTRE 1980 € 1986 20 EMPRESAS FINANCIAM O DESENVOLVIMENTO DE PESQUISA TECNOLOGICA NAS UNIVERSIDADES LINHAS: PROCESSAMENTO DE MATERIAIS CERAMICOS MOTORES CERAMICOS SERVICOS PRESTADOS PELAS UNIVERSIDADES AS FIRMAS: ENSAIOS DE CONTROLE DE QUALIDADE PLANEJAMENTO DA PRODUGAO PROJETOS DE EQUIPAMENTOS DESENVOLVIMENTO DE PROCESSOS Figura 10 — RelacGes entre universidades e indistrias nos Estados Unidos. USS BILHOES sof 4of 30 20 TOTAL MUNDIAL 10h ELETRONICAS | api E usa morores FIGURA 11 ~ MERCADO MUNDIAL DOS MATERIAIS CERAMICOS DE ALTA TECNOLOGIA DEBATE WILSON GESSER (FUNDIGAO TUPY) Eu tenho uma dUvida, acho que é bastante elementar, mas eu ndo co- nhego quase nada de cerémica. Perguntaria em que estagio se encontram os estudos para que seja factivel a maior utilizagao da ceramica avancada em motores, principalmente quanto 4 diminuigao da fragilidade e quanto ao im pacto e choque térmico. EDGAR ZANOTTO Hoje em dia, a esperanca dos ceramistas no aumento da resistén- cia & fragilidade seriam os compésitos cerémicos, materiais ceramicos reforgados com fibras ceramicas ou reforgados com particulas cerami- cas. Os compésitos ceramicos tém uma resisténcia a impacto bem maior do que os materiais convencionais monoliticos. E portanto, nessa linha de desenvolvimento de compésitos ceramicos, que se vislumbra a solu- Go para este problema. WILSON GESSER Zanotto, eu s6 queria ser um pouco provocativo e fazer a seguinte colo- cacao: 0 Japao n4o tem metais refratarios, enfim néo tem nada de metal |4, 0 Brasil term nidbio, tit&nio, zircnio, tungsténio; serd que esse modelo de cera- mica avangada cabe para um pals que tem esse tipo de reservas? Veja, eu do estou colocando uma opinido, eu estou tentanto provocar um pouco a discussao. EDGAR ZANOTTO Do titanio obtém-se, quero dizer, do minério jé se obtém o dxido de titanio que € um dos principais componentes das ceramicas eletréni cas, Os capacitores cer&micos atuais sao a base de titanato de bario e ti- tanato de estréncio. Entdo, o titanio é uma ceramica quase pronta na natureza e sé um leve beneficiamento do minério. Nao precisa reduzir, obter um metal, etc. O nidbio também, cujo dxido tem aplicagées de tissima constante dielétrica, Entao, veja bem, a idéia nao é substituir todos os metais, a idéia 6 substituir quando for vantajoso. Nada impede que uma parte das reservas de titdnio seja reduzida eo titanio metélico seja obtido e outra parte seja relegada para a ceramica. A gente ndo tem que levar pelo lado da paixdo, é 0 custo-beneficio, quero dizer, quando for vantajoso o uso do metal se usa o metal, quando for vanta- joso 0 uso da cerémica se usa a cerémica, Mas todos esses minérios que vocé situou tém aplicag4o em ceramica. JORGE (CERAMICA E VELAS DE IGNIGAO NGK DO BRASIL) Na qualidade de fabricante de cerémicas avangadas a gente vé que aqui no Brasil, pouco se tem preocupado com as normas técnicas, Tanto o Professor Edgar quanto o Professor Egon mostraram um aspecto geral de como esta a cerdmica avangada tanto a nivel mundial e pouco do que se faz aqui no Brasil. Entéo, uma preocupagao que nds temos quando esté tentanto expandir para um mercado extemo & exatamente alguma coisa que possa nortear o produto, a qualidade do produto, entao a pergunta que eu tenho é como se encontra essa situagao da normatizagao técnica aqui no Brasil? EDGAR ZANOTTO Bem, esse ponto é muito bem levantado e importante, e a resposta zero, se encontra no nivel zero. Nés estamos aprendendo ainda a tra- balhar com ceramica avangada. Muito pouca gente trabalhando, muito pouca gente formada, que eu saiba nao hd ninguém preocupado, nin- guém trabalhando em relagdo 4 normatizagao. JORGE Entéo é o seguinte: nds estamos trazendo essa preocupacdo, come¢a- mos a discutir esta questao ndo sé dentro da fdbrica mas estamos tentanto levar isso para fora. Uma sugestdo que eu deixaria aqui, (principalmente para o Professor Egon que faz parte da Diretoria da Associag4o de Cerdmica) & que durante o Congresso de Cerdmica, que deverd haver no prdximo ano, se inicie algum debate em tomo desse tema. A pesquisa estd al, o mercado é super-competitivo e quando se estd tentando ir para o exterior depende-se disso; entdo a sugestdo é que no prdximo congresso a gente abra um férum de debates em tomo desse tema.

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