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PERDAS E DANOS – DIREITO CIVIL I

Entende-se na expressão perdas e danos um instituto de direito civil assinalado como uma
forma de indenização ( reparação do dano ) de cunho pecuniário e, portanto pessoal ( pode-se
herdar o direito à indenização ) intimamente ligada à responsabilização civil de um devedor
pelo prejuízo patrimonial que leva o credor a arcar, quando numa obrigação incorre em
inadimplência parcial, como nos casos de mora; ou absoluta, quando frustra absolutamente a
possibilidade de cumprimento da obrigação.

De acordo com Venosa, ação de perdas e danos é um modo de falar dos vários tipos de petição
de indenização envolvendo quem sofre um incômodo incomum, um dano. Este incômodo
incomum, nem sempre responde a déficits nos patrimônio material, pois admite-se que os
traumas relacionados ao descumprimento da obrigação também são passíveis de reclamação
de indenização pelos danos causados à alma e ao corpo, além dos seus bens, ainda que jamais
se consiga restituir a situação psicológica de alguém ao que era antes do ocorrido, o que não o
torna inútil, como a jurisprudência antigamente declamava, porque ainda serve como eniente,
confortante ao espírito dos transtornados, embora a indenização seja sempre em dinheiro.

Este é o caso dos danos morais, que será posteriormente analisado.

Requisitos

Um dano é constituído de três fatores essenciais, a saber:

• O sujeito

Aquele que gera direta e imediatamente o prejuízo a outrem. É necessário na medida em que
o Estado não pode ser encarregado pelo restabelecimento do equilíbrio do patrimônio de
todos que tivessem suas obrigações inadimplidas, e também porque isso seria um óbvio
incentivo aos inadimplentes, que não precisariam reparar qualquer prejuízo.

• A culpa

Diferente do sentido penal, em que a culpa é relativa aos casos de negligência, imprudência ou
imperícia, enquanto o dolo é relativo aos delitos que exigem vontade do autor, em direito civil
e neste aspecto do dano, a culpa aqui é genérica, significa simplesmente a imputação ao autor
do prejuízo causado, tendo de ser provada durante o processo de perdas e danos apenas neste
aspecto, porque em matéria de perdas e danos não se mesura uma indenização de acordo
com o nível de culpa do autor, e sim pela quantidade do dano causada à vítima.

• Liame subjetivo

É essencial que no processo de perdas e danos se consiga de início verificar a relação causal
entre a conduta do agente e o prejuízo causado, que tem que ser de uma relação direta e
imediata.

Além disso, são também constituintes da configuração de perdas e danos o dano emergente e
o lucro cessante. O dano emergente, como assinala corretamente o dicionário Aurélio, diz
respeito a um prejuízo efetivo, concreto, provado; ou seja, é a diminuição do patrimônio de
alguém que pode ser mesurada de alguma forma e comprovada perante um juiz.

O lucro cessante, por sua vez, veio para transformar a substituição do pagamento inadimplido
em algo mais efetivo e realmente útil socialmente, porque corresponde àquilo que o credor
razoavelmente deixou de lucrar graças à inexecução da obrigação pelo devedor.

Perdas e danos no Código Civil brasileiro

Podemos encontrar a garantia da indenização por perdas e danos em nosso Código Civil de
2002 quase em total equivalência com os institutos do antigo Código, porque embora até a
Constituição brasileira haja mudado, ainda assim as relações privadas se mantiveram
praticamente a um mesmo nível.

É relevante, porém, a explicitação, pela Constituição e pelo atual Código, do direito à


indenização por danos morais, que antes gerava conflitos na jurisprudência brasileira, porque
não estava facilmente identificado como um instituto individual e legítimo. É um grande
avanço na defesa dos direitos humanos, principalmente na manutenção da dignidade humana.

Hoje podemos encontrar suas garantias no Título IV, Do Inadimplemento e Extinção de


Obrigações, situado no Livro I da Parte Especial, donde o que mais interessa são o artigo 389,
que regula a incidência das perdas e danos e sua qualidade; art. 393, que regula os casos de
descaracterização do dano por caso fortuito; arts, 402 e 403, que vinculam a indenização do
dano emergente e o lucro cessante; e art. 404, que legisla modernamente sobre os encargos
das perdas e danos, quais sejam, a “atualização monetária segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo
da pena convencional”.

Quanto à constituição temos diversos dispositivos esparsos, relacionados à matéria: no art. 5º,
inciso XLV, encontramos a confirmação do instituto da indenização das perdas e danos como
um direito pessoal, transferível aos sucessores, assim como a condenação a indenizar; e,
finalmente, transcreve-se aqui o inc. X do mesmo artigo da CF/88, que assegura claramente o
instituto de reclamação de restituição do status quo anterior ao prejuízo causado:

“X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das


pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;” (CF, 2008)
Além destes dispositivos há vários outros relacionados, que não convém pormenorizar.

Dano Moral

Segundo célebres palavras de Venosa:


“O dano moral é um prejuízo que não afeta o patrimônio econômico, mas afeta a mente, a
reputação da vítima.”
Ainda, com relação aos tipos de prejuízo a que foi submetida a vítima, Venosa diz:
“Esse dano é o que afeta a integridade física, estética, a saúde em geral, a
honra, a liberdade, a manifestação do pensamento etc.”
Com relação ao diferencial entre o dano moral e os diversos danos relacionados ao instituto,
pode-se ultimamente, asseveramos novamente, que não é possível reparar o estrago causado
por dano, então, trata-se propriamente de uma compensação ( com o resto seria uma
substituição do que foi perdido).
Por fim, vale ressaltar que a reclamação de dano moral hoje pode ser cumulada com outro
pedido de dano material, pois agora discerne-se claramente um conceito de outro, com a
ajuda da Constituição de 1988, e em especial com a súmula nº 37 do STF, que afirma que “são
cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato” ( STF,
2008 ).

Referências bibliográficas

CRETELLA, J. Estado e obrigação de indenizar. São Paulo: Saraiva, 1980.


FILHO, Misael Montenegro. Responsabilidade civil. São Paulo: Atlas, 2007 .
VENOSA; VILLAÇA. Código civil anotado e legislação complementar. São Paulo: Atlas, 2004.

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