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Disciplina: Métodos Qualitativos

Professor: Roberto Pires e Almir de Oliveira Júnior


Aluno: Helio Antonio Rossi de Castro Filho
Data: 28/05/2018 Período: 1º/2018

RESENHA METODOLÓGICA

INTRODUÇÃO

A presente resenha se propõe a apresentar uma metodologia para um estudo empírico


utilizando-se de uma das estratégias de análise qualitativa abordadas no curdo de métodos
qualitativos do Mestrado Profissional em Políticas Públicas e Desenvolvimento do
IPEA/ENAP.
Como tema de pesquisa, analisou-se o processo de construção do Programa para
Sustentação do Investimento (PSI) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), criado em 2009 pela Resolução CMN 3.759, de 1997 como uma política
anticíclica para auxiliar a economia brasileira à reagir ao travamento de crédito que se seguiu à
crise financeira mundial de 2008.
Inicialmente, o governo buscou estimular a produção, aquisição e exportação de bens
de capital; financiando, a juros subsidiados, máquinas, equipamentos, caminhões, ônibus e
máquinas agrícolas com taxas de juros que variaram de 2,5 a 4,5% a.a.
A partir de 2011, o PSI passou a ser operado também pela Financiadora de Estudos e
Projetos (Finep), empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações, para fins de financiamento de inovação tecnológica no país.
A trajetória do BNDES nos últimos anos mostra um substancial salto na sua capacidade
de desembolso ocorrido em razão dos aportes de recursos do Tesouro Nacional. De fato, em
seis anos, o PSI concedeu cerca de R$ 450 bilhões em financiamentos, o que representa quase
um quinto de todo o crédito do Sistema Financeiro brasileiro.
Cabe neste estudo analisar os fundamentos que levaram o Estado brasileiro à utilizar-se
de endividamento público, via emissão de títulos públicos para subsidiar, em montante de
grande relevância, setor econômicos específicos.

METODOLOGIA

A fim de compreender a processo de construção do PSI, será utilizada neste estudo a


metodologia de caso único (within-case), mediante o rastreamento de processos (process-
tracing). Para tanto, a produção de dados se dará por entrevistas com os atores envolvidos na

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construção do PSI e através de pesquisa documental nas atas do Conselho Monetário Nacional
(CMN) e em publicações institucionais do BNDES.
Process-tracing é uma estratégia de pesquisa qualitativa que possibilita “a análise de
evidências nos processos, sequências e conjunturas de eventos num caso para o propósito de
desenvolver ou testar hipóteses sobre mecanismos causais que possam explicar o caso”
(BENNETT e CHECKEL 2015, p.7, apud COSTA et al., 2014). Nesse sentido, deve-se
identificar a cadeia causal e a conexão entre os mecanismos causais por meio da observação
sistemática, em um mesmo caso, de evidências selecionadas e analisadas para avaliar hipóteses
(BENNETT, 2008; COLLIER, 2011; MAHONEY, 2012, apud COSTA et al., 2014).
Em essência, o método de process-tracing é a montagem cuidadosa, por meio de testes
de hipóteses, de um encadeamento causal que leva a algum resultado específico, produzindo
uma explicação a partir de um caso individual, único (BENETT, 2008, apud COSTA et al.,
2014).
A justificativa para a escolha do estudo de caso como estratégia para a análise se deve
às vantagens desse método no tratamento de processos que envolvem conjunturas críticas, tendo
em vista a possibilidade de se realizar uma avaliação pormenorizada e holística, que permite
identificar a forma como mecanismos causais operam em contextos específicos. Especialmente
os estudos de casos que se utilizam do process-tracing são adequados para explicar eventos
raros e auxiliar na descoberta de variáveis pouco aparentes.
Ademais, o uso do process-tracing em estudo de caso auxilia na investigação dos efeitos
de interação no período de contingência da conjuntura crítica (GEORGE e BENNETT., 2004).
Gerring (2007), por sua vez, alude para o fato de que têm maior afinidade com objetivos de
pesquisa em que se formulem hipóteses, em que haja validade interna, em que o entendimento
causal seja dos mecanismos e em que se aprofunde a abrangência da proposição.
Segundo Mahoney (2003), o estudo de caso único (within-case) diferencia-se do
comparado (cross-case) por ser mais minucioso, o que permite que se explore mecanismos
causais em profundidade e se transcenda limitações inerentes, a fim de oferecer especificação
detalhada dos processos de interesse.
Além disso, o process-tracing é um dos meios indicados para identificar mecanismos
intervenientes, vínculo entre variável explicativa e variável independente (MAHONEY et al.,
2007). Trata-se de método crucial na viabilização de análises de n pequeno, porque faculta
diferenciar correlações de condutas causais. (MAHONEY, 2003).
Segundo Hall (2003), em situações em que se identificam múltiplos efeitos de interação,
isto é, em que se torna difícil explicar resultados com duas ou três variáveis independentes, o
process-tracing apresenta-se como método bem equipado para verificação de teorias.
“O estudo do processo que leva a determinado resultado permite
restringir suas causas potenciais, forçando o analista a avaliar caminhos
causais alternativos e a mapear os caminhos causais pertinentes ao
resultado encontrado em análises de caso único” (GEORGE e
BENNETT, 2004, tradução nossa).

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Para a utilização desse método, seguiu-se alguns critérios entendidos como necessários.
Primeiramente, é necessário indicar o ponto de início e o do fim da análise (FALLETI, 2006).
O recomendado é que o de início seja a última conjuntura crítica antes do evento a ser estudado.
Neste estudo, trata-se da Resolução CMN 3.759, de 1997, que criou o PSI. Em segundo lugar,
a abordagem indica que a “explicação dos resultados de interesse deve ser feita voltando-se no
tempo, e identificando-se os eventos chave, processos ou decisões que vinculam as causas com
o resultado” (FALLETI, 2006). Por último, usar essa estratégia implica reconstruir uma
cronologia explícita da sequência de fatos que constituem o processo de interesse, o que requer
uma conceptualização precisa sobre os tipos de eventos que constituem ou não esse processo
(FALLETI, 2006).
O process-tracing somente fornece base segura para inferência causal se conseguir
estabelecer caminho ininterrupto e vincular as pretensas causas aos efeitos observados.
Variáveis intervenientes com resultados contrários aos esperados enfraquecem (mas não
invalidam) o caminho causal e a hipótese que nele se baseiam de forma única. Na falta de
informações ou de prescrições pormenorizadas, o process-tracing somente autoriza conclusões
provisórias. Outra limitação do método é a existência de mais de um mecanismo correspondente
com determinada evidência de process-tracing, o que torna difícil determinar qual dos
mecanismos é causal e qual é espúrio. Ainda assim, esse procedimento leva a eliminar algumas
explicações e garante inferências para construir teorias ou formular políticas (GEORGE et al.,
2005).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SILVA, Fábio Mariano e CUNHA, Eleonora Schettini Martins. Process-tracing e a Produção


de Inferência Causal. Em: Teoria & Sociedade nº 22.2, p. 104-125, 2014.

FALLETI, Tulia. G. Theory-Guided Process-Tracing in Comparative Politics: Something Old,


Something New. APSA-CP, Volume 17, Issue 1, 9-14, 2006.

GEORGE, Alexander L. e BENNETT, Andrew. Case Studies and Theory Development in the
Social Sciences. MIT Press: Cambridge, 2004.

GERRING, John. The Case Study: What it is and What it does. In BOIX, Charles e Susan C.
STOKES (eds.). The Oxford Handbook of Comparative Politics. Oxford University Press:
New York, 2007.

HALL, Peter A. Aligning Ontology and Methodology in Comparative Politics. In MAHONEY,


James e Dietrich RUESCHEMEYER. Comparative Historical Analysis in the Social
Sciences. Cambridge University Press: New York, 2003.

MAHONEY, James. Knowledge Accumulation in Comparative Historical Research: the case


of Democracy and Authoritarianism. In IMAHOMEY, James e Dietrisch

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RUESCHEMEYER. Comparative Historical Analysis in the Social Sciences. Cambridge
University Press: New York, 2003.

MAHONEY, James e Celso M. VILLEGAS. Historical Enquiry and Comparative Politics. In


BOIX, Charles e Susan C. STOKES (eds.). The Oxford Handbook of Comparative
Politics. Oxford University Press: New York, 2007.

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