You are on page 1of 11

A importância de uma abordagem

ético-política do design

Ana Clara NACIFF1


Mariana MAIA2

Resumo

Este artigo tem como objetivo principal discorrer sobre os impactos


causados pelo design em uma sociedade, a importância de seu cunho ético-político para o
ecossistema e o papel do designer, enquanto projetista, como agente diretamente
influenciador nas atitudes e comportamentos de uma população, usando sua profissão
como ferramenta de alto poder transformador. Além de procurar diferenciar a moral de
ética e explicitar a real necessidade que as empresas possuem na criação de códigos de
conduta nos dias de hoje para a regulamentação de suas atividades.

Palavras-chave: Design. Ética. Moral. Sociedade.

a cidade é uma criação natural, e que o homem é por natureza um


animal social, e que é por natureza e não por mero acidente, não fizesse parte
de cidade alguma, seria desprezível ou estaria acima da humanidade […]
Como costumamos dizer, a natureza não faz nada sem um propósito, e o
homem é o único entre os animais que tem o dom da fala. Na verdade, a
simples voz pode indicar a dor e o prazer, os outros animais a possuem (sua
natureza foi desenvolvida somente até o ponto de ter sensações do que é
doloroso ou agradável e externá-las entre si), mas a fala tem a finalidade de
indicar o conveniente e o nocivo, e portanto também o justo e o injusto; a
característica especifica do homem em comparação com os outros animais é
que somente ele tem o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto e de
outras qualidades morais, e é a comunidade de seres com tal sentimento que
constitui a família e a cidade (ARISTÓTELES. Política, I, 1253b, 15).

1
Estudante de Desenho Industrial da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI) da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ). E-mail: anaclaranaciff@gmail.com
2
Estudante de Desenho Industrial da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI) da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ). E-mail: m.maiademello@gmail.com
Introdução

Somos, por natureza, animais que vivem em comunidade, e dessa forma, somos
necessariamente influenciados por questões relacionadas ao bem comum, à regras que
buscam reger um convívio em sociedade, onde existem normas e punições para aqueles
que, mesmo em sua liberdade e pensamento individuais ferem de alguma maneira o bem-
estar público e coletivo.
É em um contexto social que nos vemos incluídos desde os mais remotos
tempos e é nesse contexto em que a profissão do Design está inserida. E, como qualquer
outra profissão, também estamos sujeitos a questionamentos relacionados à questões
éticas que influenciam diretamente a sociedade, principalmente na condição de atores que
estão constante e diretamente oferecendo produtos, serviços, ideias etc, muitas vezes
sobre a premissa de melhoria de vida das pessoas, seja em âmbito pessoal ou global.
Desta forma, nesse texto buscamos observar e levantar questionamentos
de modo a refletir a importância do papel do designer, bem como a ética profissional
relacionada e como ela se apresenta, ou deveria se apresentar, de modo a enriquecer e
devolver bons resultados à população.

Definindo moral e ética

Antes de começarmos é imprescindível definirmos do que se trata o termo "ética",


e como ele se distingue de "moral". Cada um significa e se refere à coisas distintas, mas
são comumente confundidos entre si. É importante também entendermos o significado de
ética, para que dessa forma possamos entender, mais a frente, ética profissional e
empresarial, e de que maneira elas estão presentes no campo do design e na sociedade de
modo geral.
No contexto filosófico, ética e moral possuem diferentes significados. Moral são
os costumes, regras, tabus e convenções estabelecidas por cada sociedade. Em outras
palavras, é o conjunto de regras aplicadas no cotidiano e usadas continuamente por cada
cidadão. Essas regras orientam cada indivíduo, norteando as suas ações e os seus
julgamentos sobre o que é certo ou errado, bom ou mau e, logo, moral e imoral.
Etimologicamente, tem origem no termo latino morales que significa “relativo aos
costumes”.
A ética está associada ao estudo fundamentado dos valores morais que
orientam o comportamento humano em sociedade; é um conjunto de conhecimentos
extraídos da investigação do comportamento humano ao tentar explicar as regras morais
de forma racional, fundamentada, científica e teórica. Em suma, é uma reflexão sobre a
moral. Na célebre obra Ética a Nicômaco3, o filósofo grego Aristóteles definia a ética
como uma virtude moral voluntária dos indivíduos em direção ao bem. Derivada do
grego ethos, ética significa “modo de ser”, “caráter”. Como a ética não é produto do
acaso, mas uma escolha consciente e voluntária que se equilibra no mediano, não nos
extremos, ela pode ser ensinada e esta é a razão de ser dos códigos de conduta. O desafio
é tirá-la do papel e dar-lhe aplicação prática.

O Design e a ética

Design é apresentado por escritores, segundo a fala de Herbert Simon (1996)4,


como uma atividade que busca mudar situações em outras de maior preferência. Ao
conceber design assim, em termos de mudanças direcionadas a preferências, nos é
sugerida uma capacidade potencial do mesmo como uma ferramenta ideal para uma
cidadania responsável e socialmente engajada: um design capaz de ser estímulo, capaz de
provocar uma sociedade a mudar a si mesma de estados existentes indesejáveis a estados
de maior potencial, mais favoráveis.
No entanto, os profissionais da área geralmente habitam um espaço de
conflito ético, onde expressam um desejo de responsabilidade social enquanto se
comportam de maneiras que eles mesmos assumem não fazer parte desse padrão. Mas
como designers socialmente engajados podem saber o que é, de fato, socialmente
responsável, e como podemos encontrar maneiras de justificar, copiar e encontrar

3
Ética a Nicômaco, escrito por volta de 350a.C. (em grego: Ἠθικὰ Νικομάχεια transl. Ēthicà
Nicomácheia; em latim: Ethica Nicomachea) é a principal obra de Aristóteles sobre Ética
4
Herbert Simon. The sciences of the artificial (3rd ed.).Cambridge, Mass.: MIT Press, 1996.
soluções em situações conflitantes e eticamente comprometidas? O sociólogo Zygmunt
Bauman (1993)5 articula a natureza do dilema muito bem quando diz: O uma vez unitário
e indivisível “imediatamente” começa a se dividir em “economicamente razoável”,
“esteticamente agradável”, “moralmente adequado”. Ações podem estar certas por um
lado, erradas por outro. Qual ação deve ser medida por qual critério? E se um número de
critérios se aplicam, a qual deve ser dado a prioridade? (Bauman, 1993. p.5)
Claro que esse questionamento não está relacionado apenas com a atividade do
design em si, mas estão presentes em considerações éticas de toda atividade humana.
Tentativas sérias para apoiar a cidadania socialmente responsável de designers devem
lutar com essas questões, tanto relacionadas a atividade geral quanto as que são mais
específicas para a natureza do design. Até que ponto podemos sacrificar um projeto
eticamente para adequá-lo às exigências mercadológicas e/ou capitalistas?
Começando de maneira geral, Bauman (1993) em seu trabalho sobre ética
traz nossa atenção sobre alguns conceitos que são relevantes. O primeiro é o da
“flutuação” da responsabilidade em uma sociedade que investiu muito esforço, ao longo
da história recente, na divisão radical do trabalho. Enquanto todas as tarefas dependem do
envolvimento de diversas pessoas comprometidas para serem concluídas, se torna
impossível para qualquer indivíduo reclamar ou ser acusado de propriedade exclusiva,
autoria ou responsabilidade por qualquer ação. Nesse âmbito, as ações individuais são
insignificantes, sejam elas boas ou ruins. Bauman explica como:

“a culpa se espalha de maneira tão fina que até o mais zeloso e sincero auto-
escrutínio ou arrependimento de qualquer um dos ‘atores parciais’ vai mudar
pouco, ou quase nada, no estado final dos problemas. Para muitos de nós,
muito naturalmente, essa futilidade gera crença na ‘vaidade dos esforços
humanos’ e parece ser uma razão boa o suficiente para não nos
comprometermos nesse auto-escrutínio e acerto de contas de nenhuma forma”
(BAUMAN,1999, p.19; tradução livre)

De maneira a superarmos a falta de sentido e nossa aparente


insignificância relacionada aos atos individuais, uma estratégia copiosa é a de “não se
pensar sobre o assunto”. O “não pensar” nos liberta para o agir sem culpa. Pensando

5
Zygmunt Bauman. Postmodern Ethics. Oxford: Blackwell Publishing, 1993
ainda mais sobre isso, Bauman introduz a existência de uma outra estratégia muito
conhecida que ele denomina como estratégia do “interpretador”. Ela sugere que na
coleção de fragmentos de situações sociais em que a vida de uma pessoa é divida, ela
assume vários “papéis”, e em nenhum deles identifica como sendo seu verdadeiro, único
e insubstituível “eu”. Esse mecanismo de defesa nos permite evitar essa falta de sentido
enquanto somos capazes de evitar a responsabilidade de nossas próprias ações rejeitando-
as por terem sido tomadas enquanto atuando como um personagem:

Enquanto indivíduos, nós somos insubstituíveis. Mas não somos, contudo,


insubstituíveis enquanto atuantes de nossos muitos personagens. (...) Quase
nada mudaria, no entanto, se eu, esse interpretador em particular, optasse por
sair: outra pessoa iria prontamente ocupar a vaga que eu deixei. ‘Alguém vai
fazê-lo de qualquer forma’, nos consolamos, e não sem razão, quando uma
tarefa moralmente suspeita ou impalatável nos é exigida (BAUMAN, 1993.
p.19; tradução livre).

Tal pensamento ressoa de forma muito parecida com o que o filósofo


alemão Peter Sloterdijk (2001)6 expõe como nosso atual cinismo. Ele descreve como a
característica essencial do nosso cinismo moderno, a de nos permitirmos trabalhar, não
importa quais condições nos serão impostas. O que é interessante notar no relato de
Sloterdijk é sua afirmação de que somos totalmente cúmplices deste fato, embora não
percebamos, e acabamos abraçando isso como um fundamento necessário para o nossa
existência neste mundo:

Para os cínicos, não são burros; e de vez em quando eles certamente vêem o
nada ao qual tudo isso leva. Seu aparelho psíquico tornou-se suficientemente
elástico para incorporar como um fator de sobrevivência a dúvida permanente
sobre suas próprias atividades. Eles sabem o que estão fazendo, mas eles fazem
isso porque, a curto prazo, a força das circunstâncias e do instinto de auto
preservação estão falando a mesma língua, e eles estão lhes dizendo que tem
que ser assim. Outros fariam de qualquer maneira, talvez pior (SLOTERDIJK.
2001, p.5; tradução livre).

Esse fenômeno, que Peter chama de algo como “consciência falsa


iluminada pelo cinismo”, unido à “flutuação” da responsabilidade e a separação de
nossos personagens e de nós mesmos, nos permitem regularmente, sem uma dor

6
Peter Sloterdijk. Critique of cynical reason. (5th printing).Minneapolis: University of Minnesota Press,
2001.
insuportável, e como parte do nosso dia a dia, existir dentro de um estado de conflito
ético.

Ética empresarial e responsabilidade social

Através dessa reflexão inicial é possível perceber que muitos são os fatores que
desvirtuam o profissional, de exercer suas atividades de maneira completamente ética;
seja por uma sociedade que dita a obsolescência do indivíduo dentro de um
corporativismo, no qual ele pode ser facilmente substituído, ou porque nossa sociedade
capitalista está acostumada com a ideia do lucro a qualquer custo, muitas vezes indo
contra direitos humanos, como no uso de trabalho escravo e infantil ou mesmo contra
direitos ambientais e etc.
O que não se pode negar é que o abstracionismo e não definição, de forma até
mesmo jurídica, do que seria considerado “ético” ou não, tende a deixar uma linha tênue
aberta à interpretações e ações eticamente duvidosas por parte dos profissionais. Portanto,
a definição de uma ética no trabalho é muito importante para a dinâmica do mesmo.
Devido a essa subjetividade as empresas cada dia mais tem investido em
elaboração de códigos de ética, baseados em assuntos recorrentes como a sustentabilidade
ambiental, governança corporativa e responsabilidade social corporativa. Ser ético passou
então a contar como valor adicional à própria expectativa natural do agir eticamente, ou
seja, agir de forma correta e reproduzir valores éticos tornou-se uma representação de
méritos adicionas à imagem de profissionais e de empresas, que agora se submetem a
essas ações não mais por ser moralmente correto, mas devido a obrigação de seguir um
código, normas, contratos de conduta escritos. Em outras palavras, a criação dos códigos
de conduta não visam a ética como virtude e sim como aspecto econômico e jurídico.
Eles possuem perspectiva econômica pois o compromisso ético e a
responsabilidade social corporativa associaram-se à ao marketing e se tornaram pontos
fortes como propaganda sobre marcas e serviços, tanto pelo mercado quanto por
consumidores.
Já sob o ângulo jurídico, criaram-se dois tipos de código de ética: a) códigos que
possuem regras jurídicas obrigatórias, ligando as empresas adeptas a um órgão externo
independente e que estão situados dentro do conceito de autorregulação; e, b) códigos de
ética internos das empresas, cuja elaboração se baseia em declarações de conteúdo
“moral” e, portanto, distanciando-se de ser uma obrigação jurídica para a empresa, ou
então afirmações que declaram compromissos que apenas traduzem obrigações que já são
previstas em lei, como “contra o trabalho infantil”, “respeito ao trabalhador” ou “contra a
discriminação racial”, além de dispositivos que traduzem condutas comerciais
consolidadas secularmente como “respeito e satisfação do cliente”.

O designer como agente transformador

Além das normas éticas previstas por códigos, que são comumente relacionadas
às profissões em geral, o designer como profissional projetual, de praticamente tudo o
que nos rodeia, tem o papel de agente transformador nas atitudes e comportamentos da
sociedade como um todo. Cabe a ele estabelecer um diálogo eficaz e claro entre o
consumidor e o produto ou serviço, na expectativa de prover informações e métodos que
estimulem o interesse e sensibilidade do usuário no que tange aos problemas globais ou
sociológicos, impactando-os positivamente.
Ele pode e deve usar sua profissão, de forma ética, como ferramenta na
transformação de pessoas, hábitos e consequentemente do futuro. Afinal é ele que tem a
capacidade de tornar material uma idéia ou conceito, ao organizar o pensamento e tornar
tangível aquela invenção, criando assim o artificial baseado em nossas necessidades, afim
de suprir uma deficiência ou ausência.
Para Manzini; Vezzoli (2002)7 o design, entendido em seu significado mais
amplo, compreende o conjunto de atividades projetuais, desde o projeto territorial até o
projeto gráfico, passando pelo projeto arquitetônico e bens de consumo, é o instrumento
fundamental para a integração do sistema-produto, isto é, o conjunto integrado de

7
Ezio Manzini; Carlo Vezzoli. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos ambientais
dos produtos industriais. São Paulo: EDUSP, 2002.
produto, serviço e comunicação com que as empresas se apresentam ao mercado; é o que
faz nascer novas propostas, social e culturalmente apreciáveis e assim mudar a visão do
consumidor.

O designer e a responsabilidade ambiental

Dentre os muitos problemas que o capitalismo tem agravado substancialmente a


questão ambiental é um dos mais preocupantes hoje em dia e isso deve-se ao fato do
assíduo incentivo à cultura de consumo, onde os métodos de propaganda e a
obsolescência programada mantêm os consumidores reféns de um modelo de
desenvolvimento econômico baseado no estímulo do ciclo contínuo, produção-consumo-
mais produção, para acumulação do capital. Mészáros (1989, p.88)8 diz que vivemos na
sociedade descartável que se baseia na “taxa de uso decrescente dos bens e serviços
produzidos”, ou seja, o capitalismo evita a todo custo a concepção de bens duráveis e
reutilizáveis.
As propagandas geradas por meio do design aliado à publicidade são sem dúvida
o artifício principal na sociedade de consumo além de incentivador dominante de nossas
escolhas, pois são através delas que nos são anunciados os produtos que até então não
tínhamos consciência que precisávamos, e na grande parte das vezes realmente não
precisávamos. A função da propaganda é seduzir o cliente almejando um consumo
dirigido, trabalhando arduamente na função de convencer o consumidor da necessidade
de produtos supérfluos para então aquecer as vendas. É o que Bauman (2008)9 chama de
“economia do engano”. Para Latouche (2009, p.18)10, “a publicidade nos faz desejar o
que não temos e desprezar aquilo que já desfrutamos. Ela cria e recria a insatisfação e a
tensão do desejo frustrado”.
Para manter em constante funcionamento essa cultura de consumo precisamos
adquirir e desejar a todo momento novos artefatos para então trocar o que já possuímos –
seja por que saíram de moda, por falha ou por considerarmos outro modelo mais

8
István Mészáros. Produção destrutiva e o estado capitalista. São Paulo: Ensaio, 1989.
9
Zygmunt Bauman.Vida para consumo. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
10
Serge Latouche. Pequeno tratado do decrescimento sereno. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
avançado ou desenvolvido. Logo o crescimento do capital é proporcional ao aumento da
destruição da natureza pois na atual sociedade, da obsolescência programada, tudo acaba
em lixo. Quanto mais curta for a vida dos produtos maior e mais intenso será o descarte
do mesmo.
Como já citado anteriormente o design aliado à publicidade é que são os
propulsores responsáveis por fazer com que essa dinâmica funcione. Esse padrão de
mercado baseado na obsolescência está se tornando responsável pela escassez dos
recursos naturais, na etapa da produção, e na abundância de produção de resíduos,
ocorridos no consumo e descarte. Magera (2012)11 salienta que a humanidade, que existe
no planeta há milhares de anos, conseguiu alcançar a maioria de todos os avanços
tecnológicos e informacionais apenas nos últimos duzentos anos. Mas essa sociedade do
consumo, que, em nome do progresso, aumenta o volume e a velocidade das coisas
produzidas industrialmente, eleva também o volume de lixo. Simultaneamente, os
usuários não são incentivados a se conscientizar a respeito da produção de resíduos
produzidos e o impacto que isso proporciona.
Portanto faz-se cada vez mais necessário o designer como gestor preponderante
desse processo mudar sua postura mediante aos projetos e suas divulgações, procurando
agir de forma mais consciente e ética possível perante às consequências que suas escolhas
irão causar à sociedade, visando minimizar sempre que possível o impacto ambiental
negativo. Pois a elaboração e aumento de uma cultura projetual baseada na preocupação
das questões ambientas e no estímulo a comportamentos conscientes por meio dos
consumidores pode impulsionar a mudança dos fatores – desenvolvimento e conservação
– hoje em dia contraditórios, em elementos intrínsecos e complementares.
Para denominar essa espécie de cultura projetual utiliza-se o termo ecodesign ou
eco-concepção – cuja primeira definição foi dada por Victor Papanek em seu trabalho
intitulado Design for the Real World, publicado originalmente em 1971 – sugerindo um
processo que tem por finalidade tornar a economia mais “leve” e baseia-se em criar um
produto preocupado-se em reduzir seus impactos ambientais, porém conservando sua
qualidade de utilização e até remodelando o relacionamento produto – usuário. Esse
método tem como alvo otimizar a qualidade da vida humana e considera o ecossistema do

11
Márcio Magera. Os caminhos do lixo. Campinas (SP): Átomo, 2012.
qual estamos integrados tão indispensável quanto a execução técnica, o controle de custos
e a demanda do mercado, tornando o designer um agente socialmente responsável e
consciente.

Considerações Finais

Como pudemos observar ao longo do texto, o designer mais do que qualquer


profissional deve procurar se manter o mais ético possível em seus projetos, levando em
consideração a responsabilidade social que lhes é atribuída. Porém o "ser ético" não
significa somente o fato de seguir os códigos de conduta da profissão ou da empresa que
está inserido e sim a virtude de fazer escolhas responsáveis, sem se isentar das
consequências pelo fato de muitos dos projetos gerados hoje serem de cocriação, e assim
ninguém se torna responsável direto pelos desdobramentos do mesmo.
Esse profissional deve ter a obrigação de buscar conhecer a procedência dos
materiais que serão usados em seu projeto e como a extração afeta seu entorno, o tipo de
mão-de-obra que será utilizada, , quanta energia é demandada para seu transporte, etc.
Essas informações nem sempre são fáceis de serem obtidas, afinal, a cada dia que passa o
dinheiro tem sido mais importante que vidas, mas conformismo não condiz com o
pensamento de um bom designer.
Ser ético-político no design indica que nós, profissionais da área, devemos estar
conscientes que todas as vezes que estamos inseridos em um projeto, estamos
reinventado o mundo e comportamentos sociais. Temos de encontrar esperança nessa
possibilidade de que design, precisamente devido à sua natureza estética, tem o potencial
de ser usado para retornar sentimento a uma sociedade que se encontra constantemente
anestesiada para o verdadeiro "ser ético".
Referências

ARISTÓTELES, Política. Editora Universidade de Brasília, Trad. Mario da Gama Kury,


1985.

Significado de Ética e Moral. Significados.com.br. Disponível em:


http://www.significados.com.br/etica-e-moral/

SIMON, H. A. The sciences of the artificial (3rd ed.).Cambridge, Mass.: MIT Press,
1996.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 4ª edição. São Paulo: Nova Cultural,1991.

BAUMAN, Z. Postmodern Ethics. Oxford: Blackwell Publishing, 1993

SLOTERDIJK, Peter. Critique of cynical reason. (5th printing).Minneapolis: University


of Minnesota Press, 2001.

MANZINI, Ezio Manzini; VEZZOLI, Carlo. O desenvolvimento de produtos


sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo: EDUSP,
2002.

MÉSZÁROS, I. Produção destrutiva e o estado capitalista. São Paulo: Ensaio, 1989.

BAUMAN, Z. Vida para consumo. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

MAGERA, Márcio. Os caminhos do lixo. Campinas (SP): Átomo, 2012.

You might also like