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( p
r = x2 + y 2 + z 2 ,
θ
p
ρ = r sen θ = x2 + y 2 .
qH
y
Nosso primeiro objetivo é expressar o laplaciano
HH
ϕ de uma função de três variáveis
x ρ HHq
∆u = uxx + uyy + uzz
em termos das coordenadas esféricas (r, θ, ϕ). Um cálculo direto é bastante longo. Por isto,
seguimos outro caminho. Usando a expressão do laplaciano em duas variáveis em termos das
coordenadas polares, temos
1 1
uxx + uyy = uρρ + uρ + 2 uϕϕ . (1)
ρ ρ
Notemos que as relações
z = r cos θ , ρ = r sen θ
são análogas às relações entre as coordenadas cartesianas e polares no plano, somente, agora,
com z e ρ desempenhando, respectivamente, os papéis de x e y. Portanto, usando novamente a
expressão do laplaciano em cordenadas polares, podemos escrever
1 1
uzz + uρρ = urr + ur + 2 uθθ . (2)
r r
Somando uzz a ambos os lados em (1), temos
1 1
∆u = uxx + uyy + uzz = uρρ + uzz + uρ + 2 uϕϕ
ρ ρ
e, usando (2),
1 1 1 1
∆u = urr + ur + 2 uθθ + uρ + 2 uϕϕ . (3)
r r ρ ρ
Precisamos expressar uρ em coordenadas esféricas. Pela Regra da Cadeia,
uρ = ur rρ + uθ θρ + uϕ ϕρ .
Simetria Axial
Para simplificar, vamos considerar somente problemas com simetria axial, isto é, o caso em que
a função u não depende de ϕ , dependendo apenas de r e θ . Nesse caso, as derivadas em
relação a ϕ se anulam e a expressão do laplaciano se simplifica um pouco,
1 2 1 2 1 cot θ
∆u = r ur r
+ sen θ u θ θ
= urr + ur + 2 uθθ + 2 uθ . (11)
r2 r2 sen θ r r r
O exemplo a seguir mostra que essa situação particular é de interesse, pois corresponde a um
problema fisicamente relevante.
Exemplo. Dois hemisférios de raio a condutores de eletricidade e isolados pelo equador são
carregados até atingirem os potenciais +U0 e −U0 , respectivamente. Determinar o potencial:
(a) Na região interior à esfera;
q (b) Na região exterior à esfera.
vas. Mas, depois de atingir o equilı́brio, não haverá
−U0 mais corrente e, portanto, cada um dos hemisférios
2
(a) Na região interior. No interior da esfera o potencial u é solução do problema
∆u = 0 , para 0 < r < a
(
U0 , se 0 < θ < π2
u(a, θ) =
−U0 , se π2 < θ < π
Resolvendo por separação de variáveis, começamos procurando uma função da forma u(r, θ) =
F (r) G(θ). Substituindo na equação diferencial, obtemos
2 0 1 cot θ
F 00 (r) G(θ) + F (r) G(θ) + 2 F (r) G00 (θ) + 2 F (r) G0 (θ) = 0 .
r r r
Multiplicando por r2 e dividindo por F (r) G(θ) , separamos as variáveis
Este é um problema clássico, para o qual existe um método também clássico de resolução.
Ele consiste em fazer a mudança de variável µ = cos θ .
dG dG dµ dG
G0 (θ) = = = −sen θ
dθ dµ dθ dµ
d2 G dG 2
2 d G
G00 (θ) = = − cos θ + sen θ
dθ2 dµ dµ2
Substituindo na equação diferencial obtemos
d2 G dG
1 − cos2 θ 2
− 2µ + λG = 0 ,
dµ dµ
isto é,
d2 G dG
1 − µ2
− 2µ + λG = 0, (13)
dµ2 dµ
que é a já estudada equação de Legendre. Como a variação de θ é no intervalo 0 ≤ θ ≤ π ,
segue que µ = cos θ varia no intervalo −1 ≤ µ ≤ 1 . Mas só nos servem soluções da equação
de Legendre que sejam limitadas no intervalo [−1, 1] , soluções que sejam definidas e finitas
inclusive para µ = ±1 . Como vimos, isto só acontece para
3
Substituindo este valor de λ na outra equação, obtemos a equação de Euler–Cauchy
Os cálculos que fizemos até aqui são válidos tanto para a região interior quanto exterior à
esfera. Seriam válidos também para a região entre duas esferas centradas na origem.
Neste ponto vamos começar a tratar especificamente o problema de Dirichlet para a região
interior à esfera. Estamos procurando soluções definidas inclusive na origem, onde r = 0 . Logo,
B = 0 , pois r−n−1 se torna infinita na origem. Assim,
Fn (r) = An rn . (18)
e, então,
un (r, θ) = An rn Pn (cos θ) . (19)
Fazendo a superposição, temos
∞
X
u(r, θ) = An rn Pn (cos θ) . (20)
n=0
As condições de fronteira
∞
( π
X U0 , se 0 < θ < 2
u(a, θ) = An an Pn (cos θ) = π
n=0 −U0 , se 2 <θ<π
Sabemos que Z 1
2n + 1
n
An a = f (µ) Pn (µ) dµ .
2 −1
A integral acima foi calculada na Seção 24, equação (35), nos complementos de leitura opcional,
1 · 3 · . . . · (2 n − 1) (−1)n (4 n + 3)
A2n = 0 e A2n+1 = · U0 , ∀n ≥ 1 ,
2 · 4 · . . . · (2 n) · (2n + 2) a2n+1
Z 1 Z 1
3 3
A1 = f (µ) P1 (µ) dµ = 3 µ U0 dµ = U0 .
2a −1 0 2a
4
Quem não leu a parte opcional da Seção 24, pode calcular os primeiros coeficientes A2n+1 , a
partir de uma tabela contendo os primeiros polinômios de Legendre, conforme calculados na
Seção 24. Fazendo assim, não vamos obter o coeficiente genérico como na expressão (21) abaixo,
mas podemos calcular um número qualquer de termos da expansão.
Na região interior à esfera, r < 1 ,
∞
3U0 r cos θ X 1 · 3 · . . . · (2 n − 1) (4 n + 3) r2 n+1
u(r, θ) = + U0 (−1)n · P2 n+1 (cos θ) . (21)
2a (n + 1)! 2n+1 a2n+1
n=1
B
F (r) = . (22)
rn+1
A solução, então é,
∞
X Bn
u(r, θ) = Pn (cos θ) , (a < r < ∞) . (23)
rn+1
n=0
B2 n+1 1 · 3 · . . . · (2 n − 1) B1 3
B2 n = 0 , 2n+2
= U0 (−1)n (4 n+3) , ∀n ≥ 1 e 2
= U0 .
a 2 · 4 · . . . · (2 n) · (2 n + 2) a 2
5
Potencial Gerado por uma Carga Pontual
Continuando com o material de leitura opcional, vamos dar uma aplicação concreta da função
geradora dos polinômios de Legendre. Consideremos uma carga q no ponto (0, 0, a) . Na figura
temos
d2 = a2 + r2 − 2ar cos θ .
Pq
O potencial u no ponto P , gerado pela carga q , vale
d
q 1 q 1
u= = · p . (25)
a q r 4π0 d 4π0 a2 − 2ar cos θ + r2
θ
q
Na região r < a , colocando r2 em evidência dentro da
raiz quadrada e retirando para fora como r, temos
q 1
u= r r 2 . (26)
4π0 r
a 1−2 cos θ +
a a
Lembremos que a função geradora dos polinômios de Legendre é
∞
1 X
G(x, t) = √ = Pn (x) tn . (27)
1 − 2xt + t2
n=0
r
Em (27), substituindo x por cos θ, t por e aplicando o resultado obtido em (26), obtemos
a
∞
q X rn
u= Pn (cos θ) n+1 , se 0 < r < a. (28)
4 π 0 a
n=0
a
Note que o que faz com que a série (28) convirja é o fato que < 1.
r
Na região r > a (longe da origem), dentro da raiz em (25) devemos colocar em evidência r
e não a, como feito acima. Fazendo isso, em vez de (26), obtemos vale
q 1
u= r a 2 .
4 π 0 a
r 1−2 cos θ +
r r
e, usando a função geradora,
∞
q X an
u= Pn (cos θ) n+1 , se r > a. (29)
4 π 0 r
n=0
a
Note que o que faz com que a série (29) convirja é que < 1, na região r > a.
r
Reunindo (28) e (29), temos
∞
rn
q X
Pn (cos θ) n+1 , se 0 < r < a
4π0
a
n=0
u= ∞
(30)
q X an
se a < r < ∞
4π Pn (cos θ) n+1 ,
0 r
n=0
6
Potencial do Dipolo
Suponhamos que temos uma carga q no ponto (0, 0, a) e uma carga −q no ponto (0, 0, −a) . O
potencial gerado pelo dipolo é a soma dos potenciais gerado por cada uma das cargas indivi-
dualmente. Usando (29), o potencial longe do dipolo será dado por
∞ ∞
q X an − (−a)n q X a2n+1
u= Pn (cos θ) n+1
= P2n+1 (cos θ) 2n+2 . (31)
4π0 r 2π0 r
n=0 n=0
a
Bem afastado do dipolo, para r a , a razão é muito próxima de 0 e consequentemente suas
r
potências
2n+1
a2n+1 1 a
2n+2
= ·
r r r
são muito pequenas. A expressão exata do potencial do dipolo é (31), mas só o primeiro termo
da série já dá uma boa aproximação para r a
q 2a cos θ
u≈ ,
4π0 r2
ou,
1 m cos θ
u≈ ,
4π0 r2
onde m = 2aq é chamado de momento do dipolo. Esta última aproximação é bastante usada
em Fı́sica.