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o Objeto (prestação):
–> DAR: No direito obrigacional, a prestação consiste em dar uma determinada
coisa a alguém. Assim, dar é um ato de transferência de propriedade, que no
direito civil brasileiro se dar de dois modos:
– Coisa imóvel: através de registro cartorial. Ex: se eu compro uma casa, ou seja,
cumpro com o adimplemento imóvel e não a passo para o meu nome, ela para
as circunstâncias legais, ainda pertence à pessoa em que a casa está no nome.
– Coisa móvel: ela se transfere através da tradição, que consiste na entrega
física da coisa móvel. Ex: o exemplo clássico consiste no contrato de compra e
venda, onde o vendedor se obriga a entregar a coisa certa e o comprador, a
garantir seu pagamento.
–> FAZER: É a realização de um ato ao qual o devedor está obrigado a cumprir
em virtude de uma obrigação previamente estipulada. Ex: contrato de serviços
dos mais variados ramos. Assim, se eu contrato um show para a festa de
formatura, os músicos, que pactuaram comigo num contrato de prestação de
serviço de entretenimento, estão compelidos a cumprir com essa obrigação.
–> NÃO-FAZER: Consiste numa abstenção, uma omissão que a pessoa se
obriga a cumprir mediante a realização de determinado negócio jurídico. Ex:
contratação de um artista para representar uma determinada marca, não
podendo representar outra do mesmo gênero; empregado que deve manter
sigilo sobre informação de sua empresa; vizinho que não pode tirar a visão da
praia do outro com uma construção.
OBS: Às vezes, as obrigações de dar e fazer andam juntas. Assim, a obrigação
de dar consiste apenas na transferência da propriedade. Contudo, se a pessoa
também tiver que fazer, este absorve aquele e a obrigação é apenas de fazer.
Ex: Fazer um buque de flores e também se obrigar a entregá-la. A entrega,
absolvida é pela obrigação de fazer.
o Elementos:
–> SIMPLES: São aquelas em que se tem apenas uma unidade de objeto
(prestação); 1 devedor, 1 credor, 1 objeto.
–> COMPLEXAS: São aquelas em que se têm pelo menos mais de um objeto
(prestação) ou mais de um devedor ou mais de um credor. Elas são divididas
em:
a) Alternativas: É aquela em que o devedor ou o credor pode ter opções de
prestação. Ex: Para o adimplemento de determinada prestação, o devedor pode
entregar seu carro, sua casa ou sua lancha.
OBS: A nota essencial das obrigações complexas alternativas é a partícula de
alternância “ou”.
b) Facultativas: É aquela em que se tem uma determinada prestação
preestabelecida, mas dar a opção de “pagamento” através de outro método/
prestação. Ex: Entrega de um computador (objeto do vínculo obrigacional) no
prazo máximo de 5 dias. Caso não seja adimplida no prazo estipulado, a loja se
compromete a dar a pessoa 2 anos de assistência grátis. Essa é a tal obrigação
acessória.
c) Cumulativa: Para que a prestação seja adimplida, o devedor “paga” mais
de 1 prestação. Ex: No exemplo anterior, alem da entrega no prazo de 5 dias,
mesmo que esta prestação seja adimplida no prazo correto, a loja também se
obriga a dar 2 anos de assistência técnica grátis ao cliente.
OBS: A nota essencial das obrigações complexas cumulativas é a partícula
aditiva , ou seja, o conectivo “e”.
o Natureza do objeto:
–> DIVISÍVEL: É aquela que pode ser fracionada sem perda de substância, ou
seja, sem prejuízo jurídico. Ex: Entrega de 1000 kg de arroz; um curso direito
civil (pode ser dado em várias etapas, por vários dias e por vários docentes).
–> INDIVISÍVEL (Art. 258, CC): Três critérios de indivisibilidade:
1. Natureza física: É aquela em que a própria constituição física da coisa
não permite que ela seja fracionada sob pena de perda da essência ou utilidade
da coisa. Ex: Entrega de um cavalo, não poderá ser fracionada.
2. Relevância Jurídica: Apesar de ser divisível, por uma questão de lógica,
torna-se indivisível. Ex: Carro.
3. Fator financeiro/ Natureza econômica: Pode ser divisível, mas não se
pode dividir porque acarretara prejuízo financeiro. Ex: Tirar a moldura do quadro
da Monalisa.
OBS: Divisibilidade -> Regra
Indivisibilidade -> Exceção
o Momento do adimplemento:
–> INSTANTÂNEAS: São aquelas em que a prestação se efetua em uma só
data, sem se prolongar no tempo. Ex: Venda a vista.
–> PERIÓDICAS: São aquelas em que a prestação se perpetua ao longo do
tempo. Ex: Consórcio, promissória.
o Natureza do vínculo jurídico:
–> CONJUNTAS: Numa obrigação onde se tem mais de um devedor ou mais de
um credor, a obrigação ou o bônus é dividido em partes iguais entre eles. Ex:
Credores: A, B e C; Devedores: X e Y; Prestação = R$ 30.000,00; ou seja,
30.000,00/3= 10.000,00, logo X e Y pagam 5 mil para cada credor.
–> SOLIDÁRIA: Não se presume este tipo de vínculo jurídico. Assim, ou ele está
na lei ou no contrato, se não o negócio jurídico não poderá ser efetivado. Logo,
no exemplo supracitado qualquer dos credores poderá exigir de qualquer dos
devedores toda a prestação. Contudo, se receber toda a quantia deverá repassar
quantias iguais para os outros dois.
o Exigibilidade:
–> CIVIL: É aquela jurídica, onde o credor, em caso de inadimplência do devedor,
pode exigir em juízo o ataque ao seu patrimônio, no limite do seu prejuízo.
Contudo, por exemplo, o bem de família não poderá ser atacado. Ex: Única casa
onde se vive com a família; as ferramentas de trabalho; salário de sustento da
família etc.
–> MORAL: Na obrigação moral não há sujeito ativo, passivo, prestação ou
vínculo jurídico, mas ela é estudada porque tem a ver com o dever de
consciência, isto é, quem cumpre uma obrigação moral a faz por mera
liberalidade ou consciência moral.
–> NATURAL OU IMPERFEITA: Na obrigação natural há o sujeito ativo e
sujeito passivo, tem prestação e tem vínculos, mas esse vínculo não é jurídico.
O credor não tem direito de ação contra o devedor ou porque não há previsão
legal (dívida de jogo) ou porque ele teve o direito de ação e perdeu esse direito
(dívida prescrita). A única exceção a essa regra é se o jogador sofreu dolo ou se
o devedor é menor ou sofreu interdição (lei não resguarda dolo). A obrigação
natural é uma obrigação juridicamente inexigível e não se confunde com a
moral, pois a obrigação moral é realizada por mera liberalidade e a natural,
quando paga, o credor a aceita a título de pagamento, sendo também irretratável,
pois quem paga não pode voltar atrás e nem se valer da ação de repetição
indébito
o Presença de elementos acidentais:
–> PURAS: São aquelas em que não se tem nenhuma dos três elementos
acidentais dos negócios jurídicos. São eles:
a) Condição: subordina a obrigação a evento futuro e incerto (ex: o alfaiate
compra tecido da fábrica e combina só pagar o preço se vender as roupas;
vender as roupas não é uma certeza, pode ou não acontecer, 121, 876)
Condições absurdas são proibidas (ex: alugo minha casa a você, mas você não
pode entrar nela, isso é o que a lei chama de “privar de todo efeito o negócio
jurídico”, no art. 122).
b) Termo: subordina a obrigação a evento futuro e certo, há limite temporal
para o pagamento, ou seja, data de vencimento/ pagamento (ex: pagarei o tecido
em trinta dias; trinta dias são o prazo e o prazo é um evento certo, só depende
do inexorável passar do tempo, 132).
c) Encargo: é uma tarefa, compromisso ou comportamento imposto ao
beneficiário de uma liberalidade, como uma doação ou herança. Ex: pode-se
doar uma fazenda com o ônus de construir uma escola para as crianças carentes
da região ou pode-se deixar uma herança para um sobrinho com o ônus de
mandar rezar mensalmente uma missa para o falecido. O encargo precisa ser
pequeno para não caracterizar uma contraprestação (ex: dou um carro a meu
vizinho com o ônus de levar meus filhos e eu para a escola e o trabalho
diariamente; ora, isso não é doação, mas prestação de serviço.
–> CONDICIONAIS: Tem um dos três elementos acidentais do negócio jurídico.
OBS: O Negócio Jurídico só é valido se:
1. Tiver agente capaz;
2. Objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
3. Forma prescrita ou não defesa em lei.
OBS2: Os contratos podem se dar de forma verbal, desde que o seu objeto seja
de pequeno valor. Já nos negócios jurídicos de grande valor, seu modo de
elaboração só se dará de modo escrito. Ex: Doação de um terreno; uma casa
etc
Definição de Obrigação
Podemos entender a obrigação como um vínculo jurídico, que une o credor
(sujeito ativo) ao devedor (sujeito passivo) e faz com que o primeiro possa
exigir do segundo uma prestação, que pode ser de dar, fazer ou não fazer
alguma coisa.
Assim o direito das obrigações é o vínculo existente entre pessoas, sujeito
ativo e passivo, de conteúdo patrimonial, que tem por objeto uma prestação
de dar, fazer ou não fazer alguma coisa. Como já citamos, é uma obri gação
transitória, visto que cumprida a prestação o direito de um e de outro
desaparecem. Ela nasce com tempo certo para acabar.
Elementos Da Obrigação
Elementos da Obrigação.
a) Vínculo Jurídico
b) Partes
c) Objeto
a) O vínculo Jurídico é o elo que permite que o credor exija do devedor uma
prestação (objeto da obrigação), que pode ser de dar, fazer ou não fazer
alguma coisa. Sendo assim, o núcleo da relação obrigacional é o vínculo.
Esse vínculo subdivide-se em duas partes: o débito (Schuld em alemão) e a
responsabilidade(Haftung). Podemos concluir, que dessa forma, se cria uma
relação de subordinação, pois o devedor deve fazer ou não fazer alguma
coisa em favor do credor, que por sua vez, pode exigir o cumprimento e se
isso não ocorrer espontaneamente, o patrimônio do devedor será atingido.
O vínculo é jurídico, pois é regulado por lei e é provido de sanção e tem
exigibilidade. Se o vínculo é moral, não tem sanção e não possui
exigibilidade. Exemplo: prometer a alguém que está prestes a falecer, que
fará alguma coisa por ele, depois de sua morte. Se a obrigação não for
cumprida, ninguém pode exigi-la, pois não tem sanção, não tem
exigibilidade, não tem vínculo jurídico. Outro exemplo seria o pagamento
de dívida de jogo ou dívida prescrita, são situações em que não há mais
exigibilidade da obrigação, pelo menos não mais exigibilidade jurídica,
apenas moral.
Exemplos de vínculo jurídico: contratar alguém para pintar um muro ou
assumir uma obrigação com um banco. Sempre que houver exigibilidade e
sanção, o vínculo é jurídico. É importante não confundir o vínculo jurídico
com o contrato escrito. Se contrato alguém, como no exemplo acima, para
pintar um muro, existe um vínculo jurídico, ainda que pactuado de forma
verbal, pois é exigível e provido de sanção. Por tal razão, o vínculo jurídico
é considerado um elemento abstrato da obrigação. Ao contrário, o objeto e
as partes, são elementos concretos, o objeto é considerado elemento
objetivo e as partes são elementos subjetivos, mas o vínculo é abstrato ou
imaginário.
As formas de sanção no caso do descumprimento são: a multa contratual, a
indenização por perdas e danos e a multa diária. (temas estudados em
obrigações II)
b) As partes na obrigação são o credor (sujeito ativo) e o devedor (sujeito
passivo), lembrando, que não só as pessoas físicas podem ser sujeito de
obrigações, mas também as pessoas jurídicas. Não pode haver obrigação
válida, sem a presença de pelo menos um credor e um devedor. Podendo
ser múltiplos os sujeitos ativos e passivos, ou seja, vários credores e vários
devedores na mesma obrigação. O sujeito ativo (credor) é o interessado no
cumprimento da obrigação e pode exigi-la do sujeito passivo (devedor), que
é aquele que deve praticar certa conduta em favor do credor (dar, fazer ou
não fazer alguma coisa).
Muitas vezes o sujeito não é determinado de início, mas deve ser pelo
menos determinável. Ex: pagarei a recompensa à quem trouxer o cachorro
desaparecido (promessa de recompensa prevista no artigo 854 do Código
Civil). Aquele que trouxer o cachorro será o meu credor e poderá exigir o
pagamento. A indeterminação deve ser sempre transitória, pois em dado
momento, o credor deve ser determinado, pois o devedor tem o direito de
saber a quem deve pagar. Pode ainda ocorrer a indeterminação do devedor,
o que não é tão comum, como no exemplo de alguém que adquire um imóvel
hipotecado e que responderá pela dívida, muito embora não tenha sido ele
quem a contraiu. Assim o credor poderá receber a dívida de quem assumiu
a titularidade do bem hipotecado.
c) O objeto é a prestação, o objetivo da obrigação. Pode ser dar, fazer ou
não fazer alguma coisa. Como todo negócio jurídico o objeto de qualquer
obrigação deve ser lícito, possível e determinado ou pelo menos
determinável (art.104). Mais adiante vamos tratar da classificação das
obrigações quanto ao objeto: dar coisa certa, dar coisa incerta, fazer e não
fazer)
O objeto ou a prestação é o que vai ser "prestado" pelo devedor, ou seja, é
a atividade do devedor, o que ele terá que dar, fazer ou mesmo não fazer.
Exemplos: pagar uma determinada quantia, prestar um serviço ou no caso
do artista de televisão, que se obriga a não se apresentar em outra emissora,
etc.
Assim, temos a seguinte classificação de acordo com o objeto:
OBRIGAÇÃO POSITIVA: DE DAR COISA CERTA
DAR COISA INCERTA
DE FAZER
OBRIGAÇÃO NEGATIVA: DE NÃO FAZER
Fontes Da Obrigação
Fonte é origem, nascimento. Para o direito, significa a causa ou os fatos que
criam as obrigações. Onde nascem as obrigações?
Assim, são fontes das obrigações:
a) A lei
b) Os contratos e atos unilaterais de vontade
c) Os atos Ilícitos
a) A lei é considerada fonte primária ou imediata da obrigação. Algumas
obrigações decorrem da própria lei, não dependem da vontade das partes.
Ex: obrigação dos pais de cuidar dos filhos menores, obrigação de pagar
impostos. São obrigações impostas pela lei. Elas não decorrem de contratos,
mas são determinadas por lei.
b) Os contratos são uma das principais fontes das obrigações, pois a
maioria das obrigações que assumimos, decorrem de contratos. O Código
Civil tem mais de 20tipos de contratos típicos, cada um com suas
características e regras próprias, como o contrato de compra e venda, de
doação ou o contrato de comodato e ainda permite que as partes criem
contratos atípicos. (425). É bom lembrar, que os contratos, que criam
obrigações nem sempre são escritos, pois nós temos contratos verbais
(firmados oralmente) e que geram todos os efeitos, desde que a lei n ão os
proíba. Exemplo: Se contrato alguém para reformar minha casa e faço o
acerto de forma verbal (oral), combinando todos os detalhes da obra e o
pagamento, é correto afirmar que fiz um contrato, embora não escrito e que
gera todos os efeitos. Portanto, se uma das partes não cumprir o contratado,
a outra poderá exigir o seu cumprimento baseando-se no contrato verbal.
Nesse caso, a obrigação foi criada a partir de um contrato. A fonte da
obrigação foi o contrato firmado entre as partes, embora de forma não
escrita. Por vezes nossos contratos não são escritos, nem verbais(orais),
mas são tácitos. Contratos tácitos são aqueles que decorrem de um
comportamento aceito pela outra parte. Não existe a contratação escrita ou
oral, mas de forma implícita. Quando entramos em um ônibus fazemos
contrato de transporte, sem sequer dizer uma palavra. Entramos, pagamos
o preço, somos transportados e tacitamente(implicitamente) firmamos um
contrato, com regras envolvidas e responsabilidade civil.
Os atos Unilaterais de vontade também são fontes das obrigações. Não
são contratos tecnicamente, pois não há contrato com uma só pessoa.
Exemplo: promessa de recompensa (854) e testamento (são atos unilaterais
de vontade, que criam obrigações). Aquele que promete pagar uma
recompensa à quem lhe prestar algum serviço, não está contratando, pois
esse ato é unilateral e os contratos exigem pelo menos duas partes.
Tecnicamente, trata-se de um ato unilateral de vontade, pois não depende
da vontade da outra parte.
Art. 854.Aquele que, por anúncios públicos, se comprometer a recompensar,
ou gratificar, a quem preencha certa condição, ou desempenhe certo serviço,
contrai obrigação de cumprir o prometido.
c) Os Atos Ilícitos são fontes da obrigação, pois aquele que por ato ilícito
causa danos, fica obrigado a reparar (927). O ato ilícito civil é previsto pelo
artigo186 do código civil. Ex: não cumprir um contrato, a empresa que não
prestou o serviço, a companhia aérea que extraviou a bagagem, o
cabeleireiro que danificou os cabelos da cliente, ou uma colisão de trânsito,
são todos exemplos de situações em que o ato ilícito gerou a obrigação de
reparar o dano causado, portanto o ato ilícito é fonte da obrigação. Vale
lembrar, que o ato ilícito civil não é tipificado na lei, ou seja, o artigo 186 não
prevê os atos ilícitos um a um, mas de forma ampla prevê que quem viola
direitos e causa danos comete o ato ilícito, que pode ser também de caráter
moral.
Art. 186.Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927.Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não
se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha
por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito
Art. 882. Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou
cumprir obrigação judicialmente inexigível.
d) Propter Rem
Nas chamadas obrigações “propter rem” (por causa da coisa ou em razão
da coisa). O sujeito é obrigado a cumprir a obrigação, por ser o titular do
bem, mas na verdade não foi ele quem contraiu a contraiu. Ex: aquele que
adquire um imóvel com dívida de impostos. O sujeito é responsável por ser
o novo titular do bem, pois a obrigação é própria do bem ou “propter rem”,
quem for titular do bem, irá responder pela dívida. Com a aquisição de um
direito real sobre a coisa, surge o dever de cumprir a obrigação.
Quanto ao fim:
e) Obrigações de Meio
A obrigação é considerada de meio, quando o devedor se compromete a
utilizar seu conhecimento técnico, suas habilidades e todos os meios para
atingir um resultado, cumprindo assim a obrigação, mas sem
responsabilizar-se por ele, ou seja, o devedor não garante nenhum
resultado, mas se obriga a desempenhar sua atividade. Exemplo: o
advogado que é contratado para defender um cliente em determinada ação.
O profissional não garante o resultado do processo, mas se obriga a
defender os interesses do contratante. o cliente nesse caso, não poderá
deixar de pagar os honorários do advogado por não ter sido ele vencedor,
pois tal resultado não foi prometido. Desempenhando seu trabalho o
contratado (profissional) cumpriu a obrigação, por se tratar de obrigação de
meio e não de resultado.
f) Obrigações de Resultado
Se a obrigação for de resultado, o devedor se compromete a produzir um
determinado fim e a obrigação só será cumprida se o resultado for
alcançado. No exemplo acima citado, se o advogado se compromete a
elaborar um contrato, só cumprirá a obrigação entregando o contrato, pois
nesse caso se obrigou a atingir um determinado fim (elaborar o contrato).
Também podemos utilizar o exemplo do médico cirurgião plástico, que se
obriga a um resultado estético.
g) Obrigações de Garantia
A obrigação de garantia é aquela que visa eliminar um risco que recai sobre
o credor, reparando suas consequências. Podemos citar como exemplo o
contrato de seguro, em que, a seguradora indenizará o segurado, mesmo
que o dano não tenha sido causado por ele. Assim, o conteúdo da obrigação
é a eliminação do risco.
Frutos
Frutos são as utilidades que uma coisa periodicamente produz. Nascem e
renascem da coisa, sem acarretar-lhe a destruição no todo ou em parte, como o
café, os cereais, as frutas das árvores, o leite, as crias dos animais etc. (CC - art.
237, parágrafo único)
1 - Percebidos ou colhidos => Foram colhidos.
Obrigação Alternativa
A obrigação alternativa é aquela que tem por objeto duas ou mais prestações
que são devidas, mas o devedor se exonera executando uma só dentre elas.
A obrigação pode conter vários objetos, mas o devedor cumprirá apenas um.
A obrigação alternativa, guarda semelhança com a obrigação de dar coisa
incerta, pois nas duas o objeto é indeterminado, mas a diferença é que a
obrigação de dar coisa incerta se refere ao gênero e a alternativa a objetos
já determinados.
Vimos que na obrigação de dar coisa incerta o gênero não se perde, pois se
a obrigação é entregar 100 sacas de café, poderá ser qualquer um do mesmo
gênero e quantidade. No entanto, quando a obrigação é alternativa e um dos
bens que deveriam ser entregues se perde, a obrigação, se concentra no
outro remanescente. Ex; o devedor se obriga a entregar um carro ou uma
moto, mas não tem mais a moto, logo, deverá cumprir a obrigação
entregando o carro.
Costuma-se dizer, que a obrigação alternativa é vantajosa para ambas as
partes. O devedor pode escolher a prestação que lhe for menos onerosa. O
credor aumenta as chances de cumprimento da obrigação, pois se uma delas
se tornar inexequivel subsistirá a outra, conforme prevê o artigo 253 do
código civil, abaixo transcrito.
Artigo 253: Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação
ou se tornada inexeqüível, subsistirá o débito quanto à outra.
Obrigação facultativa
As obrigações alternativas ou disjuntivas são aquelas que têm como objeto
duas ou mais prestações (objeto múltiplo), e o devedor exonera-se cumprindo
apenas uma delas. A palavra-chave desta obrigação é a conjunção ou, e, como
regra geral, a escolha da obrigação cabe ao devedor.
Já nas obrigações facultativas há um único objeto, e o devedor tem a faculdade
de substituir a prestação devida por outra de natureza diversa, ou seja, com
outro/a objeto/prestação, diverso do principal, prevista subsidiariamente. Como
o dever de prestar tem por objeto prestação determinada, o credor nunca poderá
exigir a prestação posta em alternativa. Mas terá de aceitá-la, se o devedor optar
por ela no momento do cumprimento, sob pena de incorrer em mora
Obrigação alternativa- a obrigação é de entrega do objeto A ou do objeto B, de
forma que a perda de um deles faz com que o outro se torne devido
automaticamente.
DIVISÍVEIS
A obrigação é divisível, quando o objeto for divisível, puder ser fracionado ,
exemplo: dinheiro. E será considerada indivisível se o objeto for indivisível,
não puder ser partido ou dividido, exemplos: carro, mesa, ou um animal.
Assim, ainda que se afirme que a obrigação é indivisível, na verdade o que
é divisível ou indivisível é o objeto (prestação).
Somente quando houver multiplicidade quanto aos sujeitos será relevante
examinar se a obrigação é indivisível ou divisível.
Se é divisível, cada credor só poderá exigir sua quota, assim como cada
devedor só está obrigado pela sua parte respectiva.
Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação
divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas,
quantos os credores ou devedores.
INDIVISÍVEIS
Como vimos, só é relevante saber se a obrigação é indivisível ou não, se
forem vários credores ou devedores, pois havendo apenas um credor e um
devedor ele só se exonera cumprindo a obrigação por inteiro. Conforme o
artigo 258 do código civil, a indivisibilidade pode ocorrer pela própria
natureza do objeto, como por exemplo um animal, ou um relógio ou por
motivos econômicos, como por exemplo um diamante, ou um par de sapatos
ou ainda pode ser indivisível dada a razão determinante do negócio. Nesse
caso é a vontade das partes que torna o objeto indivisível. Exemplo: dívida
em dinheiro.
Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma
coisa ou um fato não suscetível de divisão, por sua natureza, por motivo de
ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico.
A indivisibilidade, seja qual for a origem representa maior vantagem para o
credor, pois poderá cobrar a dívida de qualquer dos devedores, uma vez que
cada um será obrigado pela dívida toda. Assim, se dois comerciantes de
quadro(coisa indivisível), devem um quadro, o credor poderá exigi-lo de
qualquer um dos devedores e aquele que cumprir sozinho ficará sub-rogado
nos direitos do credor, ou seja, poderá cobrar o outro devedor.( cumpre por
inteiro e ganha direitos de credor contra o outro).
Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível,
cada um será obrigado pela dívida toda. Parágrafo único. O devedor, que
paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros
coobrigados.
Ao contrário, sendo vários credores cada um pode exigir do devedor a dívida
toda, conforme prevê o artigo 260 abaixo transcrito:
Art. 260. Se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a
dívida inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando:
I - a todos conjuntamente;
II - a um, dando este caução de ratificação dos outros credores.
Assim, se forem quatro credores de um carro e um devedor, qualquer um
dos credores pode exigir o carro. Porém, o devedor só se desobrigará
pagando a todos em conjunto ou a um deles autorizado pelos demais. Se
pagar a um só, este terá que dar caução de ratificação dos outros credores,
garantindo assim o direito dos demais.
Pelo art.261, na hipótese de um só dos credores receber a prestação inteira,
a cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele, em dinheiro, a parte
que lhe caiba no total, pois se o bem é indivisível e ele recebeu sozinho, terá
que pagar aos demais a parte de cada um.
Se um dos credores eventualmente perdoar a dívida que é indivisível, os
outros ainda poderão exigi-la, mas obviamente terão que descontar a parte
do credor que a perdoou (credor remitente).
Art. 262. Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta
para com os outros; mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do
credor remitente. Parágrafo único. O mesmo critério se observará no caso
de transação, novação, compensação ou confusão.
PERDA DA INDIVISIBILIDADE
Existe a possibilidade de se perder a qualidade de indivisibilidade quando a
obrigação se resolver em perdas e danos. Ou seja, perde a qualidade de
indivisível quando o objeto perecer ou deteriorar com culpa dos devedores.
Se o devedor ou os devedores não tem mais o objeto, a obrigação de
entregá-lo será transformada em obrigação de indenizar.
Se a obrigação se resolve em perdas e danos será representada por
dinheiro. No lugar da obrigação indivisível o devedor agora indenizará em
dinheiro. Se apenas um for culpado somente ele responderá além da sua
quota parte na obrigação, por perdas e danos, liberando os demais não
culpados. Porém, continuam responsáveis pela obrigação.
Art. 263. Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em
perdas e danos.
§ 1o Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os
devedores, responderão todos por partes iguais.
§ 2o Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só
esse pelas perdas e danos.
OBRIGAÇÕES IN SOLIDUM
SOLIDARIEDADE (264-285)
Podemos definir a solidariedade, como um artifício jurídico que serve para
reforçar o vínculo obrigacional.
A obrigação se reparte em quantos forem os credores e devedores, cada um
responsável pela sua quota-parte. A solidariedade permite que a dívida
integral seja cobrada por qualquer credor, sendo devida por qualquer dos
devedores, conforme artigo 264CC, abaixo transcrito;
Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de
um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à
dívida toda.
A solidariedade não se presume e é arbitraria, ou seja, ela decorre de lei ou
simplesmente da convenção da vontade das partes, podendo ser tanto sobre
coisas divisíveis quanto indivisíveis, moveis ou imóveis. (265)
A solidariedade pode ser: Ativa (mais de um credor) ou Passiva (mais de um
devedor).
REFRAÇÃO DO CRÉDITO
Art. 270, CC: “Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada
um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que
corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível”
Direito de regresso
Art. 272: “o credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento
responderá aos outros pela parte que lhes caiba”
- O credor que remite (perdoa a dívida) será responsável pela
quota-parte dos demais.
- Os co-credores terão direito de regresso – direito de exigir do
credor que remitiu ou recebeu a prestação a entrega do que lhes
competir.
- IMPOSSIBILIDADE DA PRESTAÇÃO
SEM CULPA: decorrente de caso fortuito ou força maior = resolução
da obrigação = liberação dos co-devedores.
COM CULPA: de um ou de alguns dos devedores – respondem todos
pelo equivalente, mas pelas perdas e danos só o(s) culpado(s)
Ninguém pode ser culpado pela culpa alheia
art. 280: “todos os devedores respondem pelos juros da mora, ainda que a
ação tenha sido proposta somente contra um; mas o culpado responde aos
outros pela obrigação acrescida”
art. 281: “o devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe
forem pessoais e as comuns a todos; não lhe aproveitando as exceções
pessoais a outro co-devedor”.
DIREITO DE REGRESSO
art. 283: “ o devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de
cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a
do insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de
todos os co-devedores”.
- O coobrigado que cumpre a prestação sub-rogar-se-á no crédito –
mas a solidariedade não passará para o sub-rogado, que terá o
poder de reclamar dos demais as partes em que a obrigação se
fracionou;
- Tem, portanto, o direito de regresso, pois cumpriu além de sua
parte;
- Se um dos co-devedores for insolvente – haverá o rateio entre todos
os co-devedores – inclusive daqueles exonerados da solidariedade
pelo credor.
- Eles contribuirão, proporcionalmente no rateio.
Cessão de Crédito
A legislação civil permite que estabelecida uma obrigação válida e
obedecidos os requisitos legais, os sujeitos credor e devedor transfiram sua
posição na relação jurídica obrigacional a terceiro, que assume o papel do
sujeito que lhe transfere a posição que ocupa na obrigação, com os direitos
e deveres inerentes a essa mesma posição, sem que haja a extinção da
relação jurídica obrigacional.
Sendo permitida a transmissão das obrigações, isto é, a transferência da
posição de um dos sujeitos da relação jurídica a outrem, denomina o Código
Civil de 2002 cessão de crédito a situação de o credor transferir seu papel
na obrigação a terceiro, e assunção de dívida à hipótese em que o devedor
transfere a terceiro a sua posição em uma dada obrigação. Assim, a
transmissão das obrigações implica no fato de que um terceiro, que não
estava originalmente vinculado à obrigação já estabelecida entre o credor e
o devedor, passará a ter o direito de exigir do devedor o cumprimento da
prestação do devedor, como se credor fosse, caso seja uma hipótese de
cessão de crédito.
Em oposição, caso se trate de assunção de dívida, o terceiro se
comprometerá a entregar ao credor, no lugar do devedor, a prestação
originalmente devida por aquele sujeito. Como se processa a transmissão
da posição do sujeito obrigacional a terceiro? Por meio de uma relação
jurídica autônoma em relação àquela no qual se estabeleceu o vínculo
jurídico entre o credor e o devedor, sendo que nessa nova relação jurídica o
vínculo obrigacional se estabelece entre o credor e o terceiro, caso da
cessão de crédito, ou entre o devedor e o terceiro, tratando-se da assunção
de dívida. Tal relação autônoma a natureza jurídica de negócio jurídico,
sujeitando-se assim a produção de seus efeitos, isto é, a transferência da
condição de credor ou devedor ao terceiro, aos requisitos legais quanto aos
sujeitos, objeto e forma, previstos no Código Civil.
Tratando particularmente da cessão de crédito, exige-se, em relação aos
sujeitos, que o credor, denominado cedente, o devedor, denominado cedido
e o terceiro que toma a posição do credor ou devedor, denominado
cessionário, sejam capazes na forma da lei civil para que a relação jurídica
de cessão ou de assunção se possa considerar válida. Nos termos do
Código Civil, deverá ser ainda o objeto da cessão, ou seja, o crédito ou o
débito que se pretende transmitir, lícito, possível, determinado ou
determinável, e tratar-se de um direito patrimonial disponível, ou seja,
aqueles que, por disposição legal, pode o titular alienar a outrem, a qualquer
título.
Tratando especificamente da forma, a primeira parte artigo 286 do Código
Civil reza que “o credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a
natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor"; assim, a
natureza da obrigação, isto é, a natureza do direito estabelecido a partir do
vínculo obrigacional impede que as mesmas sejam transferidas, como pode
impedir igualmente a lei, o mesmo ocorrendo em relação à vontade das
partes, vale dizer, as partes da relação obrigacional inicial, credor e devedor.
O art. 287 estabelece ainda, em relação ao objeto da relação de cessão, que
“salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos
os seus acessórios. “A segunda parte do já citado artigo 286 reza que “a
cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-
fé, se não constar do instrumento da obrigação”; entretanto, a teor do que
dispõe o artigo 221 do Código Civil, combinado com o artigo 129, parágrafo
9.º, da Lei n.º 6015/73, “o instrumento particular, feito e assinado, ou
somente assinado por quem esteja na livre disposição e administração de
seus bens, prova as obrigações convencionais de qualquer valor; mas os
seus efeitos, bem como os da cessão, não se operam, a respeito de
terceiros, antes de registrado no registro público."
Logo, para que a vontade das partes, credor e devedor, impeça que um dos
dois transfira sua posição na obrigação original a um o terceiro, o título da
obrigação original deverá ser registrado no cartório competente, sem a qual
a cláusula que proibir a transmissão da obrigação não é válida, sendo
tecnicamente possível que haja a transferência do crédito ou do débito
criados pela obrigação.
Como negócio jurídico formal, ou seja, aquele cujos efeitos dependem de
que sejam cumpridas determinadas exigências para o aperfeiçoamento do
direito, a transmissão das obrigações exige que, segundo o artigo 288 do
Código Civil, se utilize instrumento público ou instrumento particular que
cumpra as formalidades do artigo 684, parágrafo 1.º: “o instrumento
particular deve conter a indicação do lugar onde foi passado, a qualificação
do outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a
designação e a extensão dos poderes conferidos.” Sem que se utilize o
instrumento apropriado, a cessão de crédito se julga ineficaz, segundo o
mesmo artigo 288.
A eficácia da transmissão das obrigações, tratando-se da cessão de crédito,
ainda fica sujeita à notificação do devedor, pois se considera que o devedor
tem o direito de saber a quem deve pagar a dívida. Assim, se o devedor
pagar a dívida ao credor originário antes da notificação da cessão, o
pagamento será válido, e será julgada extinta a obrigação, caso o terceiro
não terá direitos contra o devedor não notificado, que exerceu direito de
forma regular, mas apenas contra o credor originário, nos termos da
celebração.
Conforme o art. 292, primeira parte, “fica desobrigado o devedor que, antes
de ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo”; o mesmo artigo
de lei trata da hipótese de cessões múltiplas: no caso de mais de uma cessão
notificada, deve o cedido pagar ao cessionário que se apresenta com o título
da cessão, conforme reza o artigo 292, segunda parte: “no caso de mais de
uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título
de cessão, o da obrigação cedida; quando o crédito constar de escritura
pública, prevalecerá a prioridade da notificação.” Complementa o art. 291
dizendo que, “ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que
se completar com a tradição do título cedido”.
A garantia implícita na lei ao direito de pagar do devedor, representada pela
necessidade inicial da notificação é tão grande que, nos termos do art. 298,
mesmo diante do fato que “o crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser
transferido pelo credor que tiver conhecimento da penhora”, garante-se que
“o devedor que o pagar, não tendo notificação dela, fica exonerado,
subsistindo somente contra o credor os direitos de terceiro.”
Em relação aos termos da celebração da cessão de crédito, não se confunde
a responsabilidade do credor cedente em relação ao adimplemento da
obrigação, relacionada com os conceitos de cessão pro soluto e pro
solvendo, com a responsabilidade pela existência e exequibilidade do credito
cedido, fixada nos termos do art. 295 do Código Civil, que reza que “ na
cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica
responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe
cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito,
se tiver procedido de má-fé.”
Em qualquer situação, o cedente é responsável pelo crédito que se aliena,
devendo o mesmo constituir-se em um direito sem danos, que possa ser
exercido sem embaraços pelo cessionário que, sendo impedido de fazê -lo
por ser o crédito gravado de alguma forma, por exemplo, tratar-se de um
direito já prescrito ao momento da cessão, pode responsabilizar o cedente
pelo fato.
Tal responsabilidade é legal e não pode ser afastada pela vontade das
partes, diferentemente daquela relacionada com o cumprimento do crédito
transferido pelo cedido: uma vez transferido direito válido, pode ser que o
devedor não cumpra a prestação a contento ou mesmo não a cumpra
absolutamente; segundo o art. 296, “salvo estipulação em contrário, o
cedente não responde pela solvência do devedor.” Presume a lei serem as
cessões de crédito celebradas, como regra, em caráter pro soluto, no qual o
cedente não tem responsabilidade pelo crédito alienado ao terceiro, sendo
que a cessão pro solvendo, quando o cedente deve responder ao
cessionário pelo cumprimento da obrigação, caso o cedido não o faça, que
deve ser expressamente prevista em contrato.
Tratando-se de cessão pro solvendo, porém, o alcance da responsabilidade
do cedente pelo inadimplemento do cedido é limitado nos termos do art. 297,
segundo o qual “o cedente, responsável ao cessionário pela solvência do
devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os
respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as que
o cessionário houver feito com a cobrança." Como a cessão do crédito
refere-se a substituição de um dos sujeitos da obrigação, o credor, em
relação ao recebimento da prestação, que é substituído nesse quesito pelo
cessionário, o devedor cedido em relação a esse terceiro não perde as
oposições que tinha contra o cedente no instante em que tomou
conhecimento da cessão, podendo argui-las a fim de eximir-se de realizar a
prestação em favor do cessionário.
O art. 294 expõe que “o devedor pode opor ao cessionário as exceções que
lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter
conhecimento da cessão, tinha contra o cedente.” Resumidamente, o
cessionário só poderá exercer o crédito cedido em relação ao devedor nos
mesmos modos e termos de lei e de contrato que poderia ter feito o credor,
se ele mesmo tivesse exercido o crédito contra o cedido. Por fim, o art. 289
estabelece em favor do cessionário que adquire crédito garantido por
hipoteca o direito de averbar o instrumento de cessão no registro
competente, como um modo de garantir a si a execução da hipoteca em caso
de inadimplemento do cedido.
SUCEDÂNEOS DE PAGAMENTO
Novação
Entre as modalidades de sucedâneos de pagamento, isto é, aquelas
hipóteses de lei em que se julga extinta uma obrigação sem que tenha havido
pagamento de qualquer espécie, encontra-se a novação, que consiste
basicamente na extinção de uma obrigação já estabelecida por meio da
celebração de uma segunda obrigação, por meio do qual se julga extinta a
primeira. Ressalte-se que não se trata a novação de reforma de qualquer
natureza da obrigação existente entre o credor e o devedor, uma vez que
não se exige a continuidade, na segunda obrigação celebrada, de nenhum
dos elementos que compõem a primeira, seja o objeto, sejam os sujeitos da
relação jurídica obrigacional.
A novação deve ser caracterizada pela substituição de uma obrigação por
outra que seja substancialmente distinta daquela que se pretende extinguir,
não se falando em novação se não houver uma nova manifestação de
vontades por meio do qual seja introduzido um elemento principal e distinto
daqueles já existentes na obrigação estabelecida. O artigo 360, I, do Código,
ao citar a novação, explica que “dá-se a novação: I - quando o devedor
contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior”,
implicando que a nova obrigação deve ter um objeto distinto daquela que se
pretende extinguir.
O mesmo artigo, em seus incisos II e III, respectivamente, declara que a
novação ocorre quando “novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite
com o credor” ou “quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é
substituído ao antigo, ficando o devedor quite com este”; implicitamente
expondo o legislador que a nova obrigação deve ter aos menos um novo
sujeito, distinto dos anteriores, caso pretenda-se a novação. Não haverá
novação, assim, se se tratar no caso concreto de simples liberalidade do
credor em relação a prazos ou aos acessórios do débito, como juros ou
multas, sem que haja a alteração substancial que deve caracterizar a
novação como sucedâneo de pagamento.
Tem a novação natureza de negócio jurídico, de sorte que para que haja
efetiva extinção do vínculo jurídico já estabelecido seja criada uma nova
relação jurídica válida nos termos do Código Civil, que não estabeleceu
maiores requisitos para o reconhecimento da novação nos casos concretos.
Assim, coube à doutrina estabelecer a partir do texto de lei quais são os
requisitos para que se considere que uma dada obrigação seja julgada
extinta por meio da novação; identificam os autores como animus novandi o
principal requisito estabelecido em lei para a novação.
Reza o artigo 361 do Código Civil que “não havendo ânimo de novar,
expresso ou tácito, mas inequívoco, a segunda obrigação confirma
simplesmente a primeira.” O “ânimo de novar” ao qual refere-se o texto de
lei é o animus novandi, entendido pelos doutrinadores como a intenção
premeditada dos sujeitos da nova relação jurídica que tomará o lugar da já
estabelecida, em faze-lo, julgando-se extinta a obrigação original,
substituída que foi pela segunda.
Em sendo a novação um negócio jurídico, por meio do qual se pode exonerar
do débito o devedor, questiona-se se seria necessário o consentimento
deste sujeito nas hipóteses em que ocorra; o artigo 362 reza que “a novação
por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de
consentimento deste.” Não se exige, assim, que o devedor manifeste
consentimento em relação ao débito devido, a ser extinto pela criação de
uma segunda obrigação, por expressa determinação da lei.
Ressalte-se, porém, que a novação, salvo disposição contratual das partes,
isenta a princípio o devedor de boa-fé em relação à solvência do devedor da
segunda obrigação, diante do que dispõe o artigo 363: “se o novo devedor
for insolvente, não tem o credor, que o aceitou, ação regressiva contra o
primeiro, salvo se este obteve por má-fé a substituição.”
Interpreta-se o artigo da seguinte forma: tendo sido indicado pelo devedor
original novo sujeito que, por meio de nova relação jurídica que extinguira a
primeira, assuma em uma nova obrigação débito com o credor original,
sendo de boa-fé o devedor original, não terá qualquer ação contra esse
devedor o credor, salvo disposição em contrário do contrato; caso seja o
devedor original de má, poderá ser demandado pelo credor em caso de
insolvência do sujeito devedor da nova obrigação.
A respeito da obrigação já estabelecida e que se pretende extinguir por meio
da novação, dispõe o artigo 367 do Código Civil que "salvo as obrigações
simplesmente anuláveis, não podem ser objeto de novação obrigações nulas
ou extintas”. Assim, as obrigações anuláveis podem ser extintas por
novação, mas não as nulas, admitindo-se em sede de doutrina que as
obrigações naturais igualmente sejam extintas pela novação, ainda que não
haja determinação explicita no texto da lei a respeito do tema. O principal
efeito da novação consiste na extinção da primitiva obrigação, substituída
por outra, constituída exatamente para provocar a referida extinção.
A extinção da obrigação original é definitiva, e mesmo que posteriormente
se venha a anular a obrigação celebrada em segundo lugar, visando
substituir a originalmente estabelecida entre os sujeitos, esta permanecerá
extinta. Atendidos os requisitos estabelecidos para a validade e eficácia da
novação, considera-se que nos termos do artigo 364, “a novação extingue
os acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em
contrário.”
Assim, a não ser se se estabeleça de forma diferente nos termos da
celebração, eventuais garantias que recaiam sobre o objeto da obrigação
original, como penhor ou hipoteca serão julgadas extintas, salvo se o objeto
da garantia em si pertencer a terceiro que não foi parte na novação, nos
termos do mesmo artigo 364, segunda parte.
Incluem-se entre os acessórios de que fala o artigo os eventuais privilégios
creditícios que porventura possua a obrigação original, como aqueles
derivados da natureza específica, como no caso da falência os créditos de
natureza trabalhista e acidentária; esse e quaisquer benefícios, em
interpretação literal do artigo 364, primeira parte, perdem o privilégio ao
serem extintos e substituídos por outros créditos por meio da novação.
Pode-se estabelecer como regra geral quanto à novação que as garantias
que sejam referentes à obrigação a ser extinta só se manterão em relação à
nova obrigação que a extingue e substitui se o responsável pela garantia
comprometer-se com as partes da nova obrigação a continuar garantindo o
débito, o que se confirma pelo que dispõe o artigo 366 que reza que “importa
exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o devedor
principal.”
A novação opera um efeito particular tratando-se de obrigação solidária a
ser extinta pela celebração de outra: como a obrigação original é extinta e
substituída por outra, que pode contar com novos sujeitos e novo objeto,
considera-se extinta a solidariedade preexistente, continuando vinculados à
nova relação jurídica, seja a título de principal, seja a título de acessório,
apenas os sujeitos e respectivos bens que tenham tomado parte na
formação da nova obrigação.
Assim, aperfeiçoada a obrigação que extingue e substitui a anterior, os
devedores solidários estão livres de qualquer obrigação com os sujeitos da
nova relação jurídica, como dispõe o artigo, que diz que “operada a novação
entre o credor e um dos devedores solidários, somente sobre os bens do
que contrair a nova obrigação subsistem as preferências e garantias do
crédito novado. Os outros devedores solidários ficam por esse fato
exonerados.”
Compensação
consiste basicamente na extinção de uma obrigação já estabelecida por ser
o credor dessa obrigação devedor em outra obrigação diferente, do qual é
credor o devedor da primeira.
Assim, se Tício é credor de Mévio de uma obrigação no valor de R$
200,00(duzentos) reais em uma obrigação A, e Mévio é credor de Tício do
mesmo valor por força de uma obrigação B, não se realiza um duplo
pagamento, mas se pode considerar ambos os débitos extintos, desde que
satisfeitos os requisitos legais.
A compensação pode ser assim, caracterizada como o meio indireto de
extinção de obrigação em que os débitos mútuos, estabelecidos entre credor
e devedor por meio de obrigações distintas, anulam-se mutuamente.A
doutrina distingue as diferentes modalidades de compensação, entre total e
parcial, a ser extinto integralmente ou apenas parte de um dos débitos
compensáveis.
No exemplo acima, caso o valor devido por Tício a Mévio fosse de R$
200,00(duzentos) reais e o valor devido por Mévio a Tício fosse de R$
300,00(trezentos), seria uma hipótese de compensação parcial, uma vez que
haveria um saldo de R$ 100,00(cem) reais em favor de Tício, permanecendo
assim a obrigação em relação à parte do objeto não compensada.
Classifica ainda a doutrina em compensação legal e compensação
contratual ou convencional, a depender da causa da extinção dos débitos
recíprocos: se por força da lei, fala-se em compensação legal; se por força
de um negócio jurídico, fala-se em compensação convencional. O Código
Civil regula apenas a compensação legal; a compensação contratual
obedece às regras gerais de validade e eficácia do negócio jurídico.
O artigo 368 define a compensação como a hipótese em que “se duas
pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas
obrigações extinguem-se, até onde se compensarem.” Ressalte-se que a
compensação legal opera de pleno direito, não havendo necessidade de
sentença judicial que reconheça a extinção das dívidas recíprocas, que
opera de pleno direito, ou seja, automaticamente após constituir-se a
reciprocidade dos débitos entre os sujeitos das obrigações envolvidas.
Não há que se falar, ainda, em compensação legal ser adiada por um do s
débitos ter se constituído em fim de semana ou em dia que não há
expediente bancário, pois segundo o artigo 372, “os prazos de favor, embora
consagrados pelo uso geral, não obstam a compensação”
Os requisitos para que se opere a extinção de obrigações recíprocas entre
os sujeitos são descritos no artigo 369 que reza que “a compensação efetua -
se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis.” Assim, além da
reciprocidade de débitos resultado de obrigações distintas, a extinção de
obrigações por meio de compensação exige que haja fungibilidade entre os
objetos das duas obrigações e que se trate de dois débitos vencidos.
Porém, a fungibilidade que autoriza a compensação legal é uma
fungibilidade intrínseca, isto é, os objetos das obrigações recíprocas não
devem apenas ser fungíveis em si mesmos, mas fungíveis entre si, inclusive
em relação à qualidade, a teor do que dispõe o artigo 370: “embora sejam
do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto das duas prestações, não se
compensarão, verificando-se que diferem na qualidade, quando especificada
no contrato”.
De outro lado, exige-se que haja reciprocidade, isto é, que as posições de
credor e devedor dos sujeitos comuns invertam-se em cada uma das
obrigações a serem compensadas, conforme dispõe o artigo 371, em seu
primeiro trecho: “o devedor somente pode compensar com o credor o que
este lhe dever. “Porém, a lei abre uma exceção, admitindo compensação na
hipótese do próprio artigo 371, segundo trecho, que coloca que “mas o fiador
pode compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado.”
Salvo essa exceção, o Código exige a reciprocidade, reafirmando essa
necessidade da compensação no art. 376, em que “obrigando-se por terceiro
uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe
dever.” Por outro lado, implicitamente, não se admite compensação em que
haja lesão a direito de terceiros, como no caso de uma compensação que
reduza o sujeito à insolvência havendo mais credores a serem pagos,
conforme disposição do artigo 380, primeiro trecho: “não se admite a
compensação em prejuízo de direito de terceiro”.
Porém, a compensação legal pode não ocorrer, caso tenham anteriormente
as partes convencionado que não sucederia compensação, a teor do que
dispõe o artigo 375: “não haverá compensação quando as partes, por mútuo
acordo, a excluírem, ou no caso de renúncia prévia de uma delas.”
Ressalte-se que o artigo estabelece essa regra em relação à compensação
legal, e não para a compensação contratual; assim, mesmo diante da
disposição do artigo 375, que impede a compensação automática dos
débitos recíprocos, no exercício da autonomia da vontade, podem os sujeitos
contratar um adendo àquelas obrigações originais, em que se desconstitua
a cláusula original que impedia a compensação, ou mesmo celebrar um
negócio jurídico de compensação.
Por outro lado, a causa, isto é, o motivo jurídico que cria cada uma das
obrigações recíprocas pode igualmente impedir que as mesmas sejam
compensadas entre si. O artigo 373: “a diferença de causa nas dívidas não
impede a compensação, exceto: I - se provier de esbulho, furto ou roubo ; II
- se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos; III - se uma for de
coisa não suscetível de penhora.”
Não haverá compensação, assim, se uma das dívidas tiver origem em
esbulho, furto ou roubo, pelo caráter ilícito, logo inexigível, dos débitos
constituídos a partir desses atos; igualmente, no caso de uma das dívidas
for originada de comodato, depósito ou alimentos.
Ressalte-se que nos casos dos incisos I e II do artigo 373 fica impedida
mesmo a compensação convencional, diante do impedimento legal.
O artigo 649 declara que “são absolutamente impenhoráveis: I - os bens
inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução; II
- os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência
do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as
necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida; III - os
vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se
de elevado valor; IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários,
remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios;
as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento
do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os
honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3o deste artigo;
V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou
outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão;
VI - o seguro de vida; VII - os materiais necessários para obras em
andamento, salvo se essas forem penhoradas; VIII - a pequena propriedade
rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família; IX - os
recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação
compulsória em educação, saúde ou assistência social; X - até o limite de
40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em caderneta de
poupança; XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos, nos
termos da lei, por partido político”.
Um caso particular de compensação é o estabelecido para a hipótese do
artigo 377, que cuida da possibilidade de compensação diante de cessão de
crédito: “o devedor que, notificado, nada opõe à cessão que o credor faz a
terceiros dos seus direitos, não pode opor ao cessionário a compensação,
que antes da cessão teria podido opor ao cedente."
Se, porém, a cessão lhe não tiver sido notificada, poderá opor ao cessionário
a compensação do crédito que antes tinha contra o cedente.”Interpreta -se o
artigo da seguinte forma: notificado o devedor original da cessão de crédito
praticada pelo credor, deve imediatamente invocar perante o novo credor
eventual compensação legal que possua contra o credor original, sob pena
de não fazê-lo posteriormente.
Tal regra, porém, não se confunde com a do artigo 380, segundo trecho,
segundo o qual “o devedor que se torne credor do seu credor, depois de
penhorado o crédito deste, não pode opor ao exeqüente a compensação, de
que contra o próprio credor disporia”, caso em que a extinção da obrigação
fica impedida por não haver reciprocidade entre os sujeitos
envolvidos(exequente do credor e devedor do credor) na compensação.
A compensação legal é abrangente, incluindo os valores necessários à
liquidação dos débitos recíprocos, a teor do que dispõe o artigo 378: “quando
as duas dívidas não são pagáveis no mesmo lugar, não se podem
compensar sem dedução das despesas necessárias à operação.”Por outro
lado, havendo a possibilidade de diversas dívidas serem compensadas nos
termos do Código Civil, aplicar-se-á o artigo 379 em que “sendo a mesma
pessoa obrigada por várias dívidas compensáveis, serão observadas, no
compensá-las, as regras estabelecidas quanto à imputação do pagamento”.
Confusão
extinção de obrigação em que, não havendo pagamento, julga-se extinta a
obrigação por se ter reunido na mesma pessoa os papéis de credor e
devedor de uma mesma obrigação, conforme definido no artigo 381:
”extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as
qualidades de credor e devedor.”
O exemplo clássico, citado por quase todos os manuais, refere-se ao filho
que, sendo devedor do próprio pai, é único herdeiro do patrimônio que o pai
lega por ocasião de seu falecimento. Transferindo-se por sucessão ao filho
os haveres do falecido pai, créditos e débitos, o filho herdeiro torna-se,
simultaneamente, devedor do espólio do pai e credor do valor a ser pago a
esse mesmo espólio, do qual é herdeiro.
O mesmo exemplo pode ser usado para ilustrar a possibilidade de ser a
confusão total ou parcial, sendo relativa ao todo ou apenas parte do débito
obrigacional; dispõe o artigo 382: “a confusão pode verificar-se a respeito de
toda a dívida, ou só de parte dela.” No exemplo citado acima, não havendo
patrimônio suficiente legado pelo falecido para o pagamento total da dívida
do filho herdeiro, poderá ser a mesma considera extinta apenas em parte.
Como peculiaridade do instituto da confusão, o artigo 384 estabelece que
“cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus
acessórios, a obrigação anterior.” Pela disposição do artigo citado, deixando
de haver a causa que motiva a confusão, a obrigação que fora extinta é
retomada, inclusive em relação aos acessórios, como as garantias
eventualmente prestadas pelo devedor.
Tratando-se de obrigação gravada com solidariedade ativa, a confusão
obedece à regra geral a respeito dessa forma de solidariedade, estabelecida
no artigo 269: “o pagamento feito a um dos credores solidários extingue a
dívida até o montante do que foi pago.” Por sua vez, se se tratar de
solidariedade passiva, a regra a ser obedecida será a do artigo 277:
“pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida
não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia
paga ou relevada.”
A confusão harmoniza as duas regras citadas na disposição do art. 383, em
que consta que “a confusão operada na pessoa do credor ou devedor
solidário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva parte no
crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade.”
Assim, equiparando-se juridicamente ao pagamento, a confusão opera a
extinção das obrigações solidárias ativas ou passivas, de forma proporcional
à extensão da confusão havida, mantendo-se a solidariedade em relação ao
restante da obrigação que concerne aos demais sujeitos devedores ou
credores, que não tenham sido alvo da confusão.
Remissão
renúncia do credor ao direito de exigir o cumprimento da obrigação do
devedor.
Entretanto, há que se notar que, mesmo caracterizando-se uma forma de
renúncia do credor, não se deixa ao simples arbítrio do credor a
possibilidade de exigir ou não um crédito, posto que tal situação geraria
insegurança jurídica para o devedor, que não saberia ao certo se lhe seria
dada a chance de exercer o direito de pagar, e para terceiros que
eventualmente contratassem com os sujeitos da obrigação, em cessão de
crédito ou assunção de dívida, pelo mesmo motivo.
Assim, exige a lei que o devedor aceite esse ato de desistência, uma vez
que pagar é um direito que lhe assiste e que não haja perdas para terceiros,
derivadas da renúncia do credor; assim, estabelece artigo 385 do Código
Civil que "a remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação,
mas sem prejuízo de terceiro".
Tem a remissão natureza jurídica de negócio bilateral, dada a exigência do
artigo 385, sendo necessário observar todos os requisitos legais quanto à
validade e eficácia dos negócios jurídicos em geral; a remissão pode
materializar-se em um instrumento próprio que, obedecendo as disposições
do artigo 104, contenha a formalização do credor em desistir do crédito, a
aceitação do devedor em relação à remissão propriamente dita e o
consentimento de eventuais terceiros, potencialmente afetados pela
desistência do credor.
Essa forma de remissão, denominada expressa, segundo interpretação
sistemática do Código Civil, é exigível apenas em se tratando de obrigações
cujos títulos sejam documentos públicos, uma vez que dispõe o artigo 386
do mesmo Código que "a devolução voluntária do título da obrigação,
quando por escrito particular, prova a desoneração do devedor e seus
coobrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor, capaz de
adquirir".
É importante destacar o aspecto da voluntariedade da devolução do
documento que comprova a obrigação firmada entre o credor e o devedor, o
que permite distinguir a hipótese do artigo 386 daquela do artigo 324, que
estabelece que “a entrega do título ao devedor firma a presunção do
pagamento”, sendo que o parágrafo único do mesmo artigo dispõe que
“ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em sessenta
dias, a falta do pagamento.”Ao contrário da disposição do artigo 324, a
remissão opera a extinção da obrigação sem pagamento, para o que se
exige que a devolução do título seja voluntária por parte do credor e aceita
por parte do devedor.Pode se configurar ainda uma remissão presumida na
hipótese do artigo 387, em relação a uma eventual garantida representada
por penhor.
Reza o artigo 387 que “a restituição voluntária do objeto empenhado prova
a renúncia do credor à garantia real, não a extinção da dívida.” Assim, a
devolução voluntária do objeto dado em garantia de uma obrigação firma
presunção de que o credor, por seus próprios motivos e razões, desistiu de
exigir o cumprimento da garantia em caso de inadimplemento da obrigação,
e não do próprio débito.
Por fim, segundo o artigo 388, “a remissão concedida a um dos co-devedores
extingue a dívida na parte a ele correspondente; de modo que, ainda
reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode
cobrar o débito sem dedução da parte remitida.” Pelo artigo citado, salvo a
possibilidade de conceder o credor comum a remissão a todos os co -
devedores, a desistência do direito de crédito aceita por um dos co -
devedores só beneficia os demais na proporção em que extinguir o débito
geral, devido por todos.
Perdas e Danos
Sucedendo o inadimplemento da obrigação surge para a parte lesada pelo
descumprimento o direito de exigir o pagamento de perdas e danos,
entendidos em sentido lato como a recomposição dos prejuízos causados
pelo inadimplemento, que podem ser materiais ou morais, dependendo de
ser o prejuízo mensurável em caráter pecuniário, isto é, em dinheiro, ou não.
Segundo a súmula 37 do STJ, “são cumuláveis as indenizações por dano
material e dano moral oriundos do mesmo fato.”
O conceito de perdas e danos na esfera civil compreende tanto os danos
emergentes, isto é, o prejuízo efetivo sofrido pela parte prejudicada pelo
inadimplemento, como os lucros cessantes, isto é, os prejuízos potenciais e
diretamente causados pelo inadimplemento.
Em uma hipótese em que um táxi sofra um acidente e precise ser reparado,
ficando alguns dias em oficina mecânica, o causador do acidente deverá
responder perante o dono do táxi pelo valor dos consertos necessários, o
que define no caso os danos emergentes, bem como o valor dos dias
parados em que o taxista deixou de lucrar com os serviços do veículo, o que
define os lucros cessantes.
Essa é a interpretação do artigo 402 do Código Civil que reza que “salvo as
exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao
credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que
razoavelmente deixou de lucrar”. É pressuposto que o inadimplemento seja
culposo, isto é, causado pela negligencia, imperícia ou imprudência do
sujeito, pois caso não haja culpa do sujeito, não haverá direito ao pagamento
de perdas e danos.
Assim, tratando-se de inadimplemento causado por caso fortuito ou força
maior, não se poderá exigir perdas e danos ainda que diante de p rejuízo
grave. É o que se apura da interpretação do artigo 393 que diz que “o
devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força
maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado”.
O mesmo artigo define, em seu parágrafo único, que “o caso fortuito ou de
força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível
evitar ou impedir.”Admitindo-se ser o sujeito obrigacional responsável pelo
inadimplemento, salvo disposição legal ou contratual em contrário, as perdas
e danos só alcançam os prejuízos diretamente causados pelo fato danoso,
e não aqueles que, ainda que possam ser vinculados ao fato, não são por
ele imediatamente causados.
O Código Civil de 2002 adotou a chamada teoria dos danos diretos e
imediatos, estabelecendo a necessidade de haver uma relação de
causalidade direta, real e imediata a fim de embasar a pretensão do sujeito
em relação às perdas e danos.Assim, havendo a perda de um cavalo de
corridas causada pela negligencia, imprudência ou imperícia, ainda que se
possa exigir em juízo indenização de perdas e danos pelo valor efetivamente
utilizado para construir-se instalações apropriadas para o animal, não se
poderá demandar, a mesmo título, o pagamento de indenização pelo
possível prêmio em corridas que o animal se estivesse vivo poderia ganhar
para seu proprietário.
É o que se extrai do artigo 403 do Código Civil que estabelece que “ainda
que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem
os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato,
sem prejuízo do disposto na lei processual”.
Entretanto, os valores que compõe as perdas e danos não são aleatórios, e
ainda que possam ser diversos, a depender do que determinar a lei ou o
contrato para aquela dada situação, o artigo 404 coloca como regra geral
que “as perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão
pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente
estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem
prejuízo da pena convencional”.
O artigo citado estabelece que o valor fixado em sentença, a que faz jus o
sujeito, deverá ter preservado o seu valor, desde a fixação até o efetivo
pagamento, pela atualização dada pelos juros de mora e pela correção
monetária, e incluir no valor as despesas e custas do processo, os
honorários pagos ao advogado e a multa contratual porventura existente,
que poderá ser cobrada juntamente com as perdas e danos, com as
peculiaridades próprias que a lei estabelece para essa forma de multa.
Destaque-se que os “juros moratórios” a que se refere o artigo citado são os
juros legais, fixados entre os artigos 406 e 407 e que a correção monetária
se dá, conforme jurisprudência, a partir de tabelas específicas em que os
tribunais estabelecem fórmulas para a atualização dos débitos judiciais,
inclusive os de perdas e danos.
Ressalte-se que o parágrafo único do citado artigo 404 declara que “provado
que os juros da mora não cobrem o prejuízo, e não havendo pena
convencional, pode o juiz conceder ao credor indenização suplementar”.Por
fim, o início da contagem dos juros de mora do inadimplemento das
obrigações depende, conforme o Código Civil estabelece que, no caso de
responsabilidade contratual, isto é, aquela em que a fonte da obrigação é
um contrato, conforme o artigo 405, “contam-se os juros de mora desde a
citação inicial.”
Juros
Genericamente, os juros são considerados frutos civis, isto é, vantagens que
o bem jurídico principal produz sem que se esgote a sua essência;
especificamente, os juros são formas de remuneração do capital, ao ser
esse capital aplicado em uma das espécies de empréstimo em dinheiro.
Dessa forma, pode-se considerar que os juros são o pagamento proporcional
ao tempo de uso de uma determinada quantia de dinheiro que se toma
emprestada.
O Código Civil, apesar de referir-se em inúmeros artigos ao conceito de
juros, dedica apenas dois artigos à regulamentação legal dos juros;
doutrinariamente, a doutrina distingue os juros legais e os juros
convencionais ou contratuais.
Os juros legais são aqueles devidos por força de lei, independentemente de
acordo prévio entre as partes, enquanto os juros convencionais ou
contratuais são estabelecidos em contrato, dependendo do que estipular o
contrato entre as partes.
Ainda, os juros podem ser classificados como compensatórios ou
moratórios, de acordo com a função exercerem em relação ao montante
principal; os juros compensatórios são aqueles devidos a título de
remuneração pelo uso do capital emprestado, como citado acima.
Os juros moratórios, por sua vez, constituem uma indenização pelo prejuízo
resultante do atraso no cumprimento da obrigação causado por culpa do
sujeito.
Estabeleceu-se uma discussão a respeito dos juros moratórios previstos no
artigo 406 do Código Civil, diante da redação apresentada: “quando os juros
moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou
quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que
estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda
Nacional.”
Diante da redação sumária do artigo 406, discutiu-se a taxa de juros de mora
a que se refere o artigo : trata-se da taxa do Sistema Especial de Liquidação
e de Custódia (SELIC), utilizada pela Receita Federal para a cobrança dos
débitos fiscais ou a taxa de 1% (um por cento) ao mês, prevista no artigo
161, parágrafo 1.º, do Código Tributário Nacional?
Após muita discussão, ficou consolidado, tanto pela doutrina como pela
jurisprudência, que a taxa de juros de mora prevista no artigo 406 do novo
Código Civil é de a SELIC(Sistema Especial de Liquidação e de Custódia)
conforme previsto pelas Leis n. º 9.065/95 e n. º 9.779/99.
O artigo 407 reza que “ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o
devedor aos juros da mora que se contarão assim às dívidas em dinheiro,
como às prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o
valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as
partes.”
Correção Monetária
Para as obrigações que se constituem em dívidas de dinheiro, isto é, aquelas
em que o objeto da prestação é representado por uma quantia de moeda,
existe uma questão criada por ter o Código Civil de 2002 adotado o princípio
do nominalismo, segundo o qual o dinheiro é mensurado apenas em relação
ao seu valor nominal, isto é, a quantidade de unidades monetárias descritas
pela obrigação.
Segundo o artigo 315 “as dívidas em dinheiro deverão ser pagas no
vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos
artigos subsequentes”.
Assim, uma obrigação que implique na restituição do valor de R$ 100,00(cem
reais), salvo disposições contratuais possíveis, é cumprida ao restituir-se ao
credor essa mesma quantia de reais.
Entretanto, é um fato econômico que o dinheiro, ao longo do tempo, sofre
um processo mais ou menos lento de desvalorização, isto é, crescentemente
exigem-se mais unidades monetárias para serem adquiridos os mesmos
bens e serviços, fenômeno conhecido como inflação.
Diante dessa situação, o legislador possibilitou que as obrigações
contratuais podem ficar sujeitas às chamadas cláusulas de escala móvel,
disposições contratuais celebradas entre os sujeitos visando o reajuste do
valor monetário da obrigação mediante indexadores, taxas e cálculos
estipulados livremente, pautados os sujeitos ou não por leis específicas.
Essa cláusula promoverá a atualização do valor da obrigação até o momento
em que se cumpra ou não a obrigação; caracterizado o inadimplemento,
porém, o Código Civil estabelece no artigo 389 que “não cumprida a
obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários
de advogado”.
O Código Civil cita a correção monetária nos artigos 389, 395, 404, 418, 772
e 884, sob a denominação de “atualização monetária”, a ser interpretada
como um mecanismo econômico destinado a preservar o valor original da
obrigação em dinheiro, e não representar um acréscimo a esse valor, a
qualquer título.
Assim, diante de uma sentença que condene o réu ao pagamento de um
valor monetário a título de inadimplemento obrigacional entre outros
acessórios, o valor inicial será atualizado por meio da correção monetária,
desde o momento do ajuizamento até o momento do efetivo pagamento,
sendo que a cláusula de escala móvel garantirá a atualização pretendida
pelas partes até o momento do inadimplemento.
A fim de evitar o prolongamento das demandas já decididas em discussões
em sede de execução a respeito do valor devido pela atualização, os
tribunais fazem publicar, periodicamente, tabelas de correção de débitos
judiciais que, mediante fórmulas que variam dependendo do tipo de débito
judicial e da natureza do direito, determinarão o valor atualizado do débito
do devedor.
Ressalte-se que tais tabelas só são aplicáveis nos cálculos de débitos
judiciais, se não houver normas específicas estabelecidas por lei para
aquele caso em particular, ou com decisão transitada em julgado
estabelecendo critério e índices diferentes daqueles da tabela.
Repise-se que a correção monetária apenas a preservar o valor real da
moeda diante do processo inflacionário inerentemente presente em qualquer
economia, e não representar qualquer forma de vantagem patrimonial para
o credor em relação ao devedor.
Arras
A fim de reforçar o interesse no cumprimento voluntário da obrigação, as
partes podem fazer uso do instituto das arras, constituindo-se este na
entrega prévia de um bem jurídico, que pode ou não ter a mesma identidade
do objeto da obrigação, servindo este objeto ao mesmo tempo como uma
confirmação final do contrato celebrado, uma forma de fixação prévia de
indenização caso não se venha a cumprir a obrigação combinada e um
princípio de pagamento, sendo o objeto dado em arras da mesma natureza
do objeto da obrigação principal.
Essa é a interpretação do artigo 417 do Código Civil que estabelece que “se,
por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à outra, a título de
arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as arras, em caso de execução,
ser restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo gênero da
principal”.Destaque-se que não são as arras uma modalidade de contrato
preliminar nem de cláusula penal, mas sim a de negocio jurídico acessório
cuja eficácia depende da obrigação principal.
Ainda, as arras devem ser celebradas no mesmo momento da obrigação
principal, independente da natureza das arras, isto é, da finalidade atribuída
pelos sujeitos da relação jurídica às mesmas. Dessa forma, têm as arras
caráter real, isto é, não há arras em relação jurídica, ainda que expressa em
instrumento essa intenção dos sujeitos, se não houver a efetiva entrega do
bem.De acordo com a finalidade estabelecida pelos sujeitos, credor e
devedor, as arras serão confirmatórias ou penitenciais, conforme se extrai
dos artigos 418 a 420 do Código Civil; não havendo disposição em contrário,
serão as arras consideradas confirmatórias.
As arras tem função confirmatória na celebração do contrato como prova do
acordo de vontades e da obrigatoriedade da relação jurídica obrigacional, o
que impede os sujeitos contratantes de rescindir unilateralmente o contrato,
uma vez entregues as arras combinadas.Caso decida um dos sujeitos da
obrigação, após a entrega das arras, rescindir o contrato, deverá arcar com
perdas e danos, sendo que a solução legal para a questão depende do
sujeito obrigacional que tenha prestado as arras ser ou não ser o mesmo
sujeito que rescinde o contrato.
O artigo 418 estabelece que “se a parte que deu as arras não executar o
contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for
de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por
desfeito, e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e
honorários de advogado".
Assim, em uma hipótese em que o credor tenha entregado arras ao devedor,
e não tenha esse devedor cumprido o combinado, o credor poderá
considerar resolvida a obrigação e exigir em juízo a devolução em dobro das
arras já entregues, com todos os consectários legais pertinentes, como juros
e correção monetária.Porém, pode ocorrer que o valor em dobro das arras
não seja suficiente para cobrir os prejuízos causados pela desistência do
devedor da hipótese acima; sendo essa a situação, abrem-se ao credor duas
possibilidades, nos termos do artigo 419, que diz que “a parte inocente pode
pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras
como taxa mínima.
Pode, também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as
perdas e danos, valendo as arras como o mínimo da indenização”.Assim,
pode o sujeito prejudicado pela desistência demandar por uma indenização
maior, provando não serem as arras em dobra suficientes para compensar
os prejuízos havidos ou, em alternativa, exigir que o sujeito faltoso cumpra
o contrato e pague perdas e danos a serem apurados em juízo.
Em ambos os casos, destaque-se, as arras e seu valor respectivo
funcionarão como mínimo indenizatório devido ao sujeito prejudicado.Por
sua vez, as arras serão consideradas penitenciais caso uma das partes da
obrigação venha a desistir da obrigação após sua celebração, por meio do
direito de retratação. Explica-se: ainda que já celebrada uma obrigação e
obrigatório seja o cumprimento da mesma, sob pena de inadimplemento,
podem as partes estipular entre si o direito de arrependimento, isto é, o
direito de desistir de cumprir a obrigação. Ressalte-se que o direito de
arrependimento não se confunde com o inadimplemento, puro e simples.
Nessa hipótese, vale a disposição do artigo 420 do Código Civil: “se no
contrato for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das partes,
as arras ou sinal terão função unicamente indenizatória. Neste caso, quem
as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as recebeu devolvê-
las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito a
indenização suplementar".
Diferentemente do que sucede com as arras confirmatórias, as arras
penitenciais não permitem a cobrança em juízo de valores suplementares, a
título de indenização, porém não se exige como nas arras confirmatórias,
prova de que o valor das arras prestadas não é suficiente para cobrir os
prejuízos experimentados pelo sujeito prejudicado.
Assim, nas arras penitenciais, se o sujeito obrigacional que prestou as arras
é o mesmo que exerce o direito de arrependimento, perderá essas arras em
favor do outro, que não poderá demandar por indenização maior; caso
contrário, isto é, se o sujeito obrigacional que exerce o direito de
arrependimento recebeu as arras do outro, deverá devolvê-las em dobro,
desobrigado igualmente de indenização extra.
Cláusula Penal
Cláusula penal, multa contratual ou pena convencional é o pacto acessório,
celebrado conjuntamente com a obrigação principal ou em ato posterior, por
meio do qual fica estabelecido entre os sujeitos da obrigação que, ao
estabelecer o pagamento de um valor em dinheiro, a perda de alguma
prerrogativa secundária da relação jurídica ou a entrega de algum bem,
pretende reforçar o cumprimento da obrigação, evitando tanto o
inadimplemento absoluto como o relativo.
Essa é a interpretação do artigo 408 do Código Civil que estabelece que
“incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde que,
culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou se constitua em
mora.”Observe-se que, dado o caráter contratual, e não legal, da cláusula
penal, sucedendo o inadimplemento, absoluto ou relativo, causado por ato
de responsabilidade do sujeito obrigacional, surgirá para o outro,
automaticamente, o direito de exigir o cumprimento da cláusula penal,
independente de notificação.
Destaque-se que a cláusula penal é um pacto ou obrigação acessória, isto
é, que depende da validade e eficácia de outro ato ou negócio jurídico para
que possua essa cláusula, igualmente, validade e eficácia, dentro da regra
geral do Código Civil que o “acessório segue o principal”(acessorium
sequitur principale).
O artigo 409 do Código Civil, ao rezar que “a cláusula penal estipulada
conjuntamente com a obrigação, ou em ato posterior, pode referir-se à
inexecução completa da obrigação, à de alguma cláusula especial ou
simplesmente à mora” estabelece as funções exercidas pela cláusula penal.
De uma lado, a cláusula penal destina-se a evitar que suceda à obrigação o
inadimplemento absoluto, caso em que a doutrina outorga-lhe o nome de
compensatória; de outro, destina-se a estabelecer um valor mínimo e
incontroverso entre os sujeitos da obrigação, a título de perdas e danos, para
o caso de mora, quando recebe o nome de cláusula penal moratória.
Ainda que as duas funções sejam exercidas em diferentes escalas por
ambas as formas de cláusula penal, enquanto a cláusula penal
compensatória exerce predominantemente o papel de garantia contra o
inadimplemento absoluto, a teor do que dispõe o artigo 410, “quando se
estipular a cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação,
esta converter-se-á em alternativa a benefício do credor”, a cláusula penal
moratória funciona predominantemente como mecanismos de recomposição
das perdas e danos causados pela mora, como demonstra o artigo 411
“quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou em segurança
especial de outra cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de exigir a
satisfação da pena cominada, juntamente com o desempenho da obrigação
principal”.
Destaque-se ainda que, conforme os artigos transcritos, enquanto a cláusula
penal moratória pode ser demandada juntamente com o cumprimento da
obrigação principal, em caso de mora, a cláusula penal compensatória deve
ser escolhida no lugar de exigir o credor o cumprimento da obrigação
principal não sendo possível, a critério do legislador, exigir o cumprimento
de ambas.
Nada impede, porém, que em um dado negócio jurídico coexistam os doi s
tipos de cláusula penal, posto que os momentos obrigacionais de ambas são
sucessivos e não simultâneos.
Conforme doutrina, caso não seja clara a função a que se destina uma
cláusula penal estipulada em contrato, deve orientar-se o julgador pelo valor
estipulado pelas partes; caso esse valor seja mais próximo do valor total da
obrigação, se presume tratar-se de cláusula compensatória; caso o valor não
seja aproximado dessa forma, considera-se a cláusula penal moratória.
Ressalte-se que tal só sucede se não houver disposição contratual expressa
identificando o papel da cláusula penal e nem disposição legal a respeito,
como sucede no Código de Defesa do Consumidor, por exemplo, que em
seu artigo 52, parágrafo 1.° declara que nas relações contratuais de
consumo “as multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações
no seu termo não poderão ser superiores a dois por cento do valor da
prestação”.
Porem, em qualquer circunstancia, conforme estabelece o artigo 412, “o
valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da
obrigação principal.” Caso suceda tal situação, conforme jurisprudência, o
juízo só deverá reduzir a cláusula penal ao patamar mínimo, igual ao do valor
da obrigação, e não julgar nula a disposição contratual a respeito.
Igualmente haverá determinação do juízo para reduzir o valor da cláusula
penal nos termos do artigo 413, que reza que “a penalidade deve ser
reduzida eqüitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido
cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente
excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio”.
Assim, nas hipóteses do citado artigo, determinará o juízo que seja
diminuído o montante devido a título de cláusula penal, proporcionalmente
ao que restar verificado no caso concreto, em relação ao cumprimento
parcial, ou à natureza e finalidade do negócio.
O artigo 418 estabelece que “se a parte que deu as arras não executar o
contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for
de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por
desfeito, e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e
honorários de advogado".
Assim, em uma hipótese em que o credor tenha entregado arras ao devedor,
e não tenha esse devedor cumprido o combinado, o credor poderá
considerar resolvida a obrigação e exigir em juízo a devolução em dobro das
arras já entregues, com todos os consectários legais pertinentes, como juros
e correção monetária.
Porém, pode ocorrer que o valor em dobro das arras não seja suficiente para
cobrir os prejuízos causados pela desistência do devedor da hipótese acima;
sendo essa a situação, abrem-se ao credor duas possibilidades, nos termos
do artigo 419, que diz que “a parte inocente pode pedir indenização
suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima.
Pode, também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as
perdas e danos, valendo as arras como o mínimo da indenização”.
Se por um lado cabe ao devedor, como regra, provar que houve cumprimento
parcial da obrigação, não se exige do credor, beneficiado pela cláusula
penal, que prove que o inadimplemento causou-lhe prejuízo, podendo ser
exigido o cumprimento da cláusula penal diante do simples descumprimento
da obrigação principal, a teor do que dispõe o artigo 416 “para exigir a pena
convencional, não é necessário que o credor alegue prejuízo”.
Porém, o parágrafo único do mesmo artigo estabelece que “ainda que o
prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir
indenização suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver sido, a
pena vale como mínimo da indenização, competindo ao credor provar o
prejuízo excedente”.
Interpreta-se tal disposição do seguinte modo: pode o sujeito prejudicado
pelo inadimplemento demandar por uma indenização maior, provando não
ser o valor da cláusula penal suficiente para compensar os prejuízos
havidos, desde que haja expressa previsão em contrato de tal situação. Não
havendo, cabe ao sujeito contentar-se com o valor da cláusula penal
moratória ou, em alternativa, tratando-se de cláusula penal compensatória,
exigir que o sujeito faltoso cumpra o contrato e pague perdas e danos a
serem apurados em juízo.
Porem, havendo a previsão de indenização suplementar em contrato,
destaque-se, a cláusula penal e seu valor respectivo funcionarão como
mínimo indenizatório devido ao sujeito prejudicado, que deverá provar os
prejuízos excedentes para haver a referida indenização suplementares.
Por fim, tratando-se de obrigação indivisível, conforme artigo 414, “sendo
indivisível a obrigação, todos os devedores, caindo em falta um deles,
incorrerão na pena; mas esta só se poderá demandar integralmente do
culpado, respondendo cada um dos outros somente pela sua quota”. Porém,
conforme o parágrafo único do mesmo artigo, “aos não culpados fica
reservada a ação regressiva contra aquele que deu causa à aplicação da
pena”.