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Qualquer sociedade teve a árdua missão de lidar com pessoas tidas como “loucas” ou
que divergiam com os padrões de normalidade de sua época. Essas pessoas eram consideradas,
a depender de seu contexto histórico, como seres possuídos pelo demônio, fúnebres etc. fazendo
com que fossem submetidas a diversos tipos de torturas como afogamento, morte na fogueira e
outros tratamentos reservados aos feiticeiros/bruxas, ou eram acorrentadas e trancadas em
quartos ou paredes.
Na idade média, surgiram as primeiras tentativas de atribuir à doença mental, causas
supostamente biológicas. Via-se um maior atendimento humanitário aos deficientes mentais, se
comparado com outras épocas, mas esse atendimento estava voltado mais para indivíduos com
bons status econômicos, sendo reservado aos mais pobres, os piores tratamentos.
Nas primeiras décadas do século XIX vários manicômios privados fundados no EUA
tinham recebido as influencias reformistas de Pinel e Tuke. Os programas de tratamento moral
foram, muitas vezes, baseados no modelo de York, enfatizando a realização de atividades
terapêuticas ao ar livre. Contudo, os mais pobres acabavam em prisões, asilos ou eram largados
pela família e vagavam pelo interior do país.
Com o aumento populacional e, consequentemente, aumento de doentes mentais,
tornou-se necessário a criação de manicômios públicos, financiado pelo estado, e assim se fez.
E a cada avanço populacional, mais próximo de uma prisão esses manicômios ficavam, devido
à sua superlotação e falta de verbas compatíveis para a situação.
A melhoria de tratamento oferecido nessas instituições foi o foco de Dorothea Dix, uma
educadora da Nova Inglaterra que inspecionou, durante 18 meses, instituições públicas que
pudessem abrigar os doentes mentais (prisão, hospitais, manicômios, etc.). Ela escreveu severas
críticas ao alarmante nível de abuso e negligência que esses pacientes sofriam e ao seu
tratamento semelhante a pior que o tratamento de animais. Os pacientes eram acorrentados às
paredes, sem aquecimento e cheios de excrementos, malvestidos e mal alimentados.
A denúncia foi levada a sério e houve reformas, fornecendo um aumento das verbas para
os manicômios estaduais de Worcester. E assim se fez em outros estados, após suas críticas.
Em 1848, com exceção de Carolina do Norte, Texas e Flórida, sua campanha havia atingido
todos os estados. Seus esforços contribuíram para a criação de 47 hospitais e escolas para os
mentalmente deficientes, e embora à muitas dessas instituições tenham retornado os problemas
de superlotação e abusos, sua defesa melhorou radicalmente a vida dessas pessoas.
Logo após o início do século XX, outra reforma foi instaurada, por Clifford Beers,
baseando-se na ideia de que a doença mental poderia ser curada e até mesmo evitada com
tratamento adequado. Beers foi ex paciente de 3 instituições de tratamento mental, devido a sua
tentativa de suicídio seguida de um ano de depressão. Depois de receber alta da 3ª instituição,
ele compilou as anotações num livro, descrevendo a vida de um paciente mental hospitalizado.
Seu livro teve um impacto maior devido ao autor ter passado pela experiência e porque
carregava a mensagem de que a doença mental tinha cura.
Beers teceu críticas aos psiquiatras, mas focou mais nos atendentes responsáveis pelo
funcionamento diário da instituição psiquiátrica, documentando os relatos de abusos verbais e
físicos que ele sofria. Ele exigia melhores condições e treinamento profissional para estes
atendentes. Em 1909, Beers fundou o Comitê nacional para higiene mental, dedicado a
prevenção e incentivo à saúde mental. O progresso no tratamento da doença mental implica,
necessariamente, no aperfeiçoamento do seu diagnóstico.
O Mesmerismo e a Hipnose.
Durante essas diversas reformas, vários médicos procuraram desenvolver novas formas
de tratamento, bem como teorias acerca da origem das doenças. A sangria, vista anteriormente,
foi adotada por boa parte dos médicos do final do século XVIII e início do século XIX, e em
manicômios particulares, foram adotadas diversas formas de tratamento moral para
manipulação de comportamento dos pacientes. Foi nesse contexto que uma nova abordagem de
tratamento psicológico surge, a psicanálise.
Franz Anton Mesmer foi um médico que estava cada vez mais convencido de que as
forças magnéticas afetavam a saúde humana. Dizia ele que as doenças resultavam de forças que
se opunham, causando assim uma desarmonia, um mal alinhamento interno. Ele descobriu que
ao prescrever medicamentos com altas doses de ferro para seus pacientes com distúrbios
psicológicos e, em seguida, passasse um imã sobre o paciente, este entrava em uma espécie de
crise e, logo ao sair dela, sentia-se que sua saúde havia melhorado. Anos depois, essa técnica
se aperfeiçoaria e se transformaria na hipnose que conhecemos.
Após um tempo, Mesmer notou que não precisava passar os imãs, pois, para ele, seu
corpo havia poderes magnéticos. Ele passou a massagear os nervos de parte dos corpos dos
pacientes e a melhora era vista a cada terapia, fazendo com que reforçasse sua crença em seus
poderes místicos. Contudo, os médicos conservadores de Viena viram essa técnica com maus
olhares, principalmente pelo fato de seus pacientes serem mais do sexo feminino e ele teria que
tocá-las em algumas partes do seu corpo. Logo a opinião pública sobre Mesmer passou a ser
bastante negativa, fazendo com que ele fosse expulso da Universidade de Viena e sua técnica
fosse proibida na cidade.
Mesmer transferiu seu consultório para Paris, em 1778. Suas terapias, de início, foram
vistas com bons olhos pela população local, fazendo com que existissem filas de clientes para
serem atendidos. Mesmer, pensando em tratar, também, os mais necessitados, magnetizou um
carvalho que ficava no centro da cidade, para que os mais pobres pudessem ir até lá se beneficiar
de seu tratamento
Assim como em Viena, a comunidade científica não viu a terapia com bons olhares, o
que fez que o rei designasse uma comissão, a qual teve como participantes Benjamin Franklin,
Lavoisier e Joseph Guillotin, para analisar a questão da validade do mesmerismo e, como era
de se esperar, o relatório da comissão mostrou que a terapia não tinha fundamento científico e
os benefícios que ela vinha trazendo era, possivelmente, provocado pelas crenças de seus
pacientes.
Do Mesmerismo à Hipnose
O mesmerismo continuou a se espalhar pela Europa. Os mesmerizadores viajavam pelo
interior fazendo apresentações dramáticas. Em uma delas estava John Elliotson, que ficou
bastante intrigado com as demonstrações de anestesia, durante as quais os mesmerizados não
demonstravam sentir dor. Elliotson, que já não tinha uma boa fama por criar uma ferramenta o
qual muitos médicos se recusavam a usar, o estetoscópio, foi visto com mau olhar pela
comunidade médica quando ele passou a mesmerizar seus pacientes, e quando propôs um
estudo sobre o efeito anestésico desta técnica. A diretoria do hospital o qual ele trabalhava
negou a permissão para o estudo, proibindo o mesmerismo em suas instalações. Elliotson, como
forma de protesto, demitiu-se e passou o resto da vida investigando o mesmerismo.
De fato, a técnica possuía boa eficácia na anestesia dos pacientes. James Esdaile
compilou centenas de cirurgias feitas com anestesia induzida por mesmerização, mostrando que
a taxa de óbito foi de apenas 5%, para os 40% de cirurgias sem anestesia. Vale ressaltar que
não tinha sido descoberto nenhum anestésico químico.
Na década de 1840 houve vários relatos de amputações bem-sucedidas com anestesia
induzida por mesmerização, em alguns casos, amputavam-se até a perna com o paciente
totalmente imóvel e sem sentir dor. Nessa mesma época, o mesmerismo foi bastante respeitável.
O médico James Braid, decidiu investigar essa técnica, na esperança de desvalidá-la, mas o
resultado foi outro. Ele acabou por reconhecer alguns de seus efeitos e cunhou um novo termo:
neuro-hipnologia. Não demorou muito para que o fenômeno passasse a ser chamado de
hipnologia ou hipnotismo. Braid descobriu que o transe hipnótico poderia ser induzido fazendo
o paciente olhar fixamente para um objeto um pouco acima de sua linha de visão e enfatizou os
processos inconscientes por trás desse fenômeno.
Braid trouxe um certo grau de legitimidade para o hipnotismo, mas não havia muita
coisa quanto à sua explicação. Duas teorias divergentes surgiram na França: de um lado os
médicos da cidade de Nancy e, do outro, o diretor do hospital Salpêtrière de Paris.
Ao primeiro, Liebeault e Bernheim formularam o conceito de sugestão, tido como uma
aceitação de uma ideia/ordem do hipnotizador e transformada em ação, por parte do paciente.
Para eles, todas as pessoas tinham a sugestionabilidade como um traço normal da personalidade,
variando de grau a grau conforme muda de indivíduo.
Enquanto isso, o diretor do hospital Salpêtrière, Jean-Martin Charcot, pioneiro no
tratamento da epilepsia e especialista no tratamento da histeria, acreditava que esta e a
“sugestionabilidade” eram duas manifestações da mesma patologia, trazendo um status
patológico para o referido “traço da personalidade”. Ele acreditava que a suscetibilidade à
hipnose era um indício de histeria subjacente. Para Charcot, seria possível diferir entre os falsos
histéricos dos falsos, pois somente os verdadeiros poderiam ser hipnotizados.
Charcot, em suas demonstrações, selecionavam os “melhores” pacientes histéricos para
hipnotizar e sugerir diversas ações que, como era de se esperar, eram realizadas. Ele alegou que
teve sucesso ao usar a hipnose para remover sintomas histéricos.
Os médicos de Nancy discordavam inteiramente das opiniões de Charcot acerca da
hipnose, gerando um debate histórico que resultou cerca de 801 artigos sobre a natureza da
hipnose. Em meados da década de 1890, boa parte dos observadores rejeitaram as ideias de
Charcot, em favor do modelo de Nancy.
O mito de Freud traz duas características: a primeira traz Freud como um herói
solitário que tenta a todo custo lutar para defender suas ideias em um ambiente totalmente
hostil; a segunda, mantém a ilusão de que suas teorias são totalmente originais. Ambos esses
aspectos vêm sendo questionados. Freud era um personagem controverso, mas suas ideias não
eram tão revolucionárias. Ele mesmo contribuiu para que se instaurasse esse mito, tanto por
selecionar seu primeiro biografo, Ernest Jones, mas também por destruir cartas em pelo
menos duas ocasiões, dificultando a detecção das origens de suas ideias.
Juventude e Formação
A Criação da Psicanálise
Na década de 1880, Freud desenvolveu sua prática neurológica, e não lhe faltava
pacientes. Como a era Vitoriana era marcada pela ideia de que sexo no casamento tinha o
propósito apenas de produção e o por prazer limitava-se à busca de prostitutas, por parte dos
homens, a insatisfação sexual feminina e outras características fez jus à uma boa clientela para
Freud. Havia uma abundancia de sintomas neuróticos e Freud começou suas terapias usando
desde tratamentos convencionais, como hidroterapia, até procedimentos como hipnose e outro
semelhante à catarse.
Foi nesse período que Freud descobriu a livre associação, o qual consistia em o paciente
se deitar de forma relaxada e falar tudo o que viesse à mente. Freud percebeu que isso era difícil
para muitas pessoas e atribuiu a isso o nome Resistência, que, para ele, era um sinal de que
estava chegando ao problema.
Além da livre associação, ele descobriu e usou a análise dos sonhos. Ele acreditava que
os sonhos eram desejos disfarçados, distinguindo entre seu conteúdo manifesto e o latente.
Através da elaboração, o conteúdo latente se transforma, simbolicamente no manifesto.
A importância do sexo
Através de sua experiência com a histeria, Freud acreditou que os problemas sexuais
estavam intensamente correlacionados com as questões problemáticas de seus pacientes. Estes,
ao voltar ao passado por meio da livre associação, aparentemente tinham vivido algum trauma
sexual na infância. Foi aí que foi proposta a hipótese da sedução. Para ele, a histeria resultava
de um abuso sexual na infância por parte de um dos pais ou outro adulto, mas esquecido pela
criança por falta de compreensão desta, e retornado na afloração da puberdade, sob forma de
um sintoma histérico.
A apresentação de sua teoria da sedução foi vista com mal olhares pela comunidade
médica. Ele mesmo passou a duvidar dessa relação entre abuso e histeria e mostrava-se bastante
incomodado com as origens de histeria em pessoas que não sofreram traumas. Ao abandonar
essa teoria, trazendo a ideia de que os eventos sexuais não eram reais, mas si imaginários, ele
passou a ver, também, que a sexualidade não era algo que começava na adolescência, mas já
havia em crianças, como vários outros sexólogos já haviam sugerido. A partir daí e de sua
autoanálise que foi criado/descoberto o “complexo de édipo”.
Já aos 54 Anos, Freud já estava desenvolvendo sua Metapsicologia, uma teoria geral
dos processos mentais e comportamento humano. Essa metateoria evoluiu consideravelmente
durantes os 20 anos seguintes. Após a primeira guerra mundial, Freud estava convicto de que
as tendências destrutivas tinham influência sobre a motivação do comportamento quanto as
tendências sexuais. Freud, em 1920, publicou o livro Para além do princípio de prazer, trazendo
os conceitos de pulsão de morte e pulsão de vida, propondo que o comportamento humano seria
motivado por ambas pulsões.
Outros famosos conceitos em anos posteriores foi a divisão da estrutura da
personalidade em id, ego e superego, além de sua distinção de ansiedade em três formas, uma
para cada uma das forças que pressionam o ego: a ansiedade objetiva/realística; a ansiedade
neurótica; e a ansiedade moral. Ele também descreveu, juntamente com sua filha, os
mecanismos de defesa do ego. Contudo, grande parte destes dois últimos trabalhos, a descrição
da distinção dos tipos de ansiedade e os mecanismos de defesa, pertencem a sua filha.
Freud em Perspectiva
Contribuições
Críticas
As críticas giravam em torno: da fixação de Freud em suas teorias, não possibilitando
que a divergência de ideias fosse aceita; de seu conteúdo “machista/vitoriano” no qual afirma
que o superego nas mulheres nunca chega ao fim, e que estas tinham inveja da condição
masculina; de sua ênfase excessiva à sexualidade; e de sua utilização de amostras limitadas e
imparciais, usando os dados dos pacientes da maneira que lhe convinham.
A psicologia logo sentiu a necessidade de aplicar seus conceitos para uma melhora na
sociedade e, nesse contexto, que se destaca a figura de Ligtner Witmer, que passou a aplicar a
psicologia para melhorar a vida das pessoas quando uma professora levou um garoto de 14 anos
que não conseguia aprender a escrever. Witmer descobriu que parte do problema vinha do
problema de visão do garoto, que, ao usar óculos, passou por um treinamento que o fez melhorar
em seu desempenho de escrita.
Após esse e um outro segundo evento, Witmer se convenceu de que poderia criar uma
clínica em seu laboratório para ajudar seus pacientes. A clinica logo virou objeto de comentários
e Witmer passou a atender cerca de vinte outras crianças com problemas fisiológicos, cognitivos
e comportamentais relacionados ao desempenho escolar. Em dezembro de 1896, ele fez um
pronunciamento em uma reunião da APA, fazendo um apelo para que desenvolvessem
programas de treinamento para a área que ele trabalhava.
Em 1907, ele fundou a publicação The psychological Clinic, o qual publicou artigos que
descreviam seus dez anos de clínica, e, novamente, fazendo um apelo por pesquisas e
treinamento, e propiciando a criação de uma nova profissão.
A clínica de Witmer cresceu rapidamente e incorporou diversas funções especializadas
ao seu objetivo de diagnosticar e tratar os problemas em crianças.