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TEXTO 2

Como o modelo educacional prejudica as notas de alunos negros, segundo este estudo
Jornal Nexo, 03 de Nov, 2017

Alunos negros possuem desempenho escolar inferior ao de alunos brancos, mesmo quando estudam
na mesma escola e são submetidos à mesma grade curricular ao longo do tempo. O resultado, que foi
descrito por economistas em estudo publicado pela FEA (Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade) da USP, aponta a discriminação racial no ambiente escolar e a alta rotatividade de
professores como fatores explicativos para a diferença de desempenho entre negros e brancos.
Autores do estudo argumentam que mesmo quando possuem igual desempenho escolar e disciplinar
ao de alunos brancos, estudantes negros possuem maior probabilidade de receberem notas baixas.
Segundo o estudo, em termos práticos, isso significa que negros possuem uma chance 4,5% maior de
repetirem a oitava série do antigo ginásio (atual nono ano do ensino fundamental).
Para os autores, a discriminação na atribuição de notas decorre de fatores relacionados à estrutura
educacional em um país marcado pela desigualdade racial, como o Brasil. Entre os pontos que
contribuem para esse fenômeno está a alta rotatividade de professores – que dificulta o
estabelecimento de vínculos com os alunos e estimula avaliações subjetivas baseadas em estereótipos
estéticos – e o baixo investimento do governo na capacitação de professores para lidarem com a
questão racial.
A pesquisa se baseou na comparação de indicadores de desempenho escolar de duas fontes. Por um
lado, foram utilizadas as notas atribuídas pelos professores aos alunos em sala de aula. Por outro,
foram utilizados dados do Saresp (Sistema de avaliação de rendimento do estado de São Paulo),
exame anual aplicado pelo governo estadual. Os dados abarcam o período de 2007 a 2010.
Comparando as duas fontes de dados e aplicando técnicas econométricas, os pesquisadores obtiverem
indicadores que sugerem que as notas de alunos negros na avaliação subjetiva – professor em sala –
são sensivelmente menores do que as notas na avaliação “cega” – caso do Saresp.
O resultado dos autores está alinhado com a perspectiva de que a desigualdade racial prejudica o
desempenho escolar de alunos negros, como demonstram os livros “Os mecanismos de discriminação
racial nas escolas brasileiras” e “As políticas públicas e a desigualdade racial no Brasil”, ambos do
Ipea, e os estudos “Quem é negro, quem é branco: desempenho escolar e classificação racial dos
alunos” e “Preconceito racial e desempenho escolar: estudo com negros e brancos em escolas de
Salvador (BA)”.
Isso ocorre por dois mecanismos.
Primeiramente, por viverem, em média, em famílias com pior condição socioeconômica, alunos
negros teriam menos oportunidades de desenvolverem o conteúdo passado pelos professores em
escolas. Nessa linha, a dificuldade de acesso a materiais didáticos por limitação de renda, por
exemplo, podem atrapalhar o aprendizado de alunos negros.
Em segundo lugar, o desempenho de alunos negros também é prejudicado em decorrência de práticas
discriminatórias ocorridas dentro das escolas. De acordo com essa perspectiva, atitudes
preconceituosas desmotivam alunos negros no ambiente escolar e, por vezes, fazem com que eles
abandonem os estudos. A presença da discriminação no sistema educacional, central para o
desenvolvimento intelectual e social dos jovens, colocaria a escola como um dos ambientes centrais
na reprodução das desigualdades raciais.

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