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1.

Introdução

No presente trabalho, apresenta-se o ofício das parteiras, que tem como base o conhecimento
tradicional. Elas desempenham um papel importante na orientação e assistência às gestantes,
desde a gestação até o parto.

Com informações obtidas por meio de pesquisa bibliográfica, entrevistas e visitas de campo,
apresentamos as tradicionais práticas de cuidado com as gestantes/parturientes; os sentidos
gerados a partir dessa atividade; o nível de inserção no Sistema Único de Saúde (SUS); e a
sobrevivência em meio à ascensão do modelo biomédico.

2. Objetivos

O presente trabalho tem o propósito de compilar informações históricas e da atualidade sobre


o ofício de partejar sustentado por saberes tradicionais; examinar como se dá a
institucionalização dessa prática; e as diferenças em relação ao modelo biomédico, de
paradigma científico, que é hegemônico.

3. Desenvolvimento

3.1 Breve história do partejar no Brasil

Ao longo do tempo, as parteiras desempenham um papel importante na civilização,


auxiliando as gestantes na arte de partejar. Os partos tradicionalmente eram feitos por
mulheres de confiança da parturiente, pessoas como comadres, vizinhas, etc; parteiras-leigas
que adquiriram os saberes a partir da visão empírica e faziam o acompanhamento durante a
gestação, parto, puerpério, até o acompanhamento do recém-nascido. Esses saberes eram
transmitidos oralmente e hereditariamente entre mulheres. Paralelamente a isto, na Europa do
séculos XVII e XVIII, a medicina incorporou os ensinos e práticas e a arte obstétrica nascia e
já dava formação como parteiro ou médico-parteiro.
Em 1808, as escolas de medicina e cirurgia chegaram ao Rio de Janeiro e Bahia, entretanto,
os egressos, médicos-parteiros não obtiveram muita aceitação, haja vista que era um país
colônia e não havia tanto estudo das massas populacionais e o fato de um homem auxiliar o
parto era considerado vulgar. O parto era feito apenas por mulheres, pois era visto como algo
íntimo.

A partir do enfoque biológico e dos conhecimentos anato-patológicos, os partos


‘clandestinos’ eram autorizados a ser interrompidos caso houvesse alguma complicação
anatômica.

Com o tempo e o discurso higienista, as práticas do partos nas grandes cidades foi assumida
pelos médicos obstetras, enquanto no interior do país ainda existia e existe. Em 1997,
estimava-se que havia cerca de 40 mil parteiras nas regiões norte e nordeste (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 1997).

3.2 O partejar no contexto do saber tradicional

O trabalho das parteiras tem como base o saber/conhecimento tradicional, que ampara e
orienta práticas individuais e coletivas numa determinada localidade e garante a reprodução
social desta.

Entende-se como saber tradicional, o resultado do acúmulo de experiências


vivenciadas pelos indivíduos em um lugar, na relação que estabelecem com o
ambiente natural e social e, da mesma forma, a memória coletiva de um grupo que
se reproduz na relação entre os sujeitos e seus pares. (LIMA, 2009, p. 3).

O saber tradicional, além de materializar a forma como os indivíduos interagem com o meio e
provêm suas necessidades, ocupa e ocupou uma lacuna deixada pelo conhecimento
hegemônico na atualidade, de paradigma científico, e do Estado, na forma de políticas
públicas e assistência.

O saber tradicional é a tecnologia social que garante a reprodução e a sobrevivência de


indivíduos e comunidades. No Brasil, ele emerge e se mantém principalmente no meio rural.
É neste contexto que se insere o trabalho das parteiras.
3.2.1 Questão de gênero

A palavra “parteiras” é comumente empregada como se houvesse apenas um gênero, o


feminino. A figura do parteiro é pouco comum. Neste trabalho, por padrão, o termo
empregado é “parteira (s)”.

Diferentes eram as razões que levavam as parteiras a exercerem sua prática. Como
geralmente as parteiras e as parturientes tinham a mesma origem social,
compartilhavam das mesmas expectativas, valores e crenças em relação ao destino
das mulheres em um mundo organizado e dirigido por homens, marcado pelo
casamento e pela maternidade (MARTINS, 2004, p.69)

A prática do cuidado às gestantes era e continua eminentemente feminino, o que leva a uma
discussão de gênero, pontuada na citação acima. É reflexo das convenções sociais, num
contexto não apenas de que apenas as mulheres vivenciam a experiência do parto, mas do
papel predominante atribuído a elas, doméstico e de reprodução, por muitos anos, mas que,
gradativamente, vem decaindo em razão das lutas e conquistas do movimento feminista.

Com o advento da medicina de paradigma científico, o cenário modifica-se bastante, e o


homem passa ocupar significativo espaço na prática da ginecologia e obstetrícia,
representando 47,6% dos especialistas (SCHEFFER, M. et al, 2015, p.224).

3.2.2 Sentidos gerados

O trabalho de quem adota o saber tradicional como referencial é pautado pela construção de
vínculos afetivos e confiança. Parteira e gestante/parturiente, em geral, compartilham do
mesmo território e, por consequência, das dificuldades de “ser mulher”. A gestação e o parto
tornam-se ambiente de solidariedade entre as mulheres.

Sororidade é o pacto entre as mulheres que se reconhecem como próximas


fisicamente e afetivamente; são relações contínuas e regulares que com o tempo
assumem uma equivalência muito semelhante àquelas que se estabelecem nos
espaços de familiares ou através de vínculos sanguíneos (MAUSS, 2003; SIMMEL,
2006; CAILLÉ, 2009; MARTINS & NUNES, 2004 apud ALVES, 2014 p.73)

Os vínculos são construídos na vivência em comunidade e nos contatos estabelecidos ao


longo da gestação. Parteira e mulher gestante não se encontram apenas no momento do parto.
A gestação reforça os laços de amizade e confiança.

Com base em valores pessoais e de modo instintivo, a atuação das parteiras está em sintonia
com o que é bastante preconizado, atualmente, em manuais, normativos e políticas dentro do
Sistema Único de Saúde (SUS): resgatar o diálogo e a proximidade entre profissionais de
saúde e usuários para práticas de saúde que não sejam mecanicistas.

Comumente, as parteiras enxergam em sua prática um caráter humanista e o cumprimento de


um papel social dentro da sociedade em que vive, dissociado das perspectivas material e
financeira.

O trabalho da parteira se diferencia do trabalho denominado produtivo, porque não


está associado à criação de mais valia, ao valor de mercadoria, valor de troca
pré-determinado. A modalidade de pagamento, como forma de retribuição ao seu
trabalho, é estabelecida segundo as possibilidades das mulheres assistidas e, sendo
assim, sua prática não implica em pagamento por serviços prestados. Possui caráter
humano e social, enfatizado por elementos de natureza afetiva, tais como amor,
caridade, bondade e solidariedade (BESSA, 1999)

O trabalho das parteiras envolve sentimentos díspares, relacionados ao prazer do papel de


auxiliar a mulher concluir sua jornada natural de gerar uma nova vida e, por outro lado, aos
riscos existentes. O êxito do trabalho, ou seja, a conclusão do parto e o nascimento do bebê
geram alegria e satisfação pessoal, além do reconhecimento da comunidade. Em
contrapartida, as limitações técnicas e operacionais fazem com que as parteiras tenham que
lidar também com a angústia da morte de crianças e toda a carga afetiva gerada.

3.2.3 Práticas de cuidado

Sem assistência institucional, a maioria das parteiras realiza um trabalho que se constitui
numa missão quase solitária. A zona rural é seu campo de atuação mais comum. Isso implica
em dificuldades operacionais, como percorrer longas distâncias, inclusive a pé, e assistir as
mulheres gestantes em residências sem energia elétrica, apenas com o auxílio de utensílios
domésticos rústicos, como lamparinas.

A casa da gestante é o seu “consultório”. A parteira assume como rotina visitar a gestante,
embora o inverso também ocorra. Não existe um aparato tecnológico que sustente sua prática.
Os sentidos são suas ferramentas: o olhar e o toque. Antonia Pereira da Silva, 66 anos de
idade, natural do município de Angical (PI), em entrevista realizada por meio do aplicativo
Whatsapp, ratifica essa informação. Ela e todos os irmãos nasceram com o auxílio de uma
parteira.

Essas parteiras se tornavam como é hoje o médico da família, de confiança. Às


vezes, elas visitavam as mulheres para saber se estava com anemia, viam os olhos.
Tinham aquele cuidado anterior (ao parto). Elas mediam a barriga das mulheres,
davam algum toque sobre a posição da criança.
A experiência do parto não ocorre em ambiente externo ao familiar, mas na própria residência
da parturiente, conforme as condições dadas. É a vivência deste momento fonte do próprio
conhecimento. É um saber de natureza prática.

A mulher é incentivada a ficar à vontade, nas posições que achar mais confortável: de
cócoras, de quatro, apoiada numa rede, etc.

A figura do pai entra em cena de modo excepcional, quando a mulher sente dificuldades
físicas para se manter numa determinada posição.

Durante o parto, o ritmo da parteira é condicionado ao da parturiente, que é muito particular a


cada uma delas. Não há pressa ou pressão sobre a mulher para acelerar o parto. A prática das
parteiras constitui-se num modelo pouco intervencionista e mais direcionado à mitigação da
dor e à força emocional.

Os elementos fé e religiosidade são evocados para fortalecer as duas partes: parturiente e


parteira. Numa das entrevistas citadas no artigo “Histórias de vida: as parteiras tradicionais e
o nascimento em casa” (2007), uma das parteiras relata o ritual de chegada do bebê, com a
frase: “Louvado seja nosso senhor Jesus Cristo”. As pessoas presentes respondem: “Para
sempre seja Deus louvado”.

Nascido o bebê, a parteira assume os cuidados com a criança, a parturiente e os afazeres


domésticos, envolvendo ervas medicinais e certo misticismo. Antonia Silva relata como eram
os cuidados nos partos de sua mãe:

A minha mãe, depois dos partos, tomava todos os dias um banho de folha, de pinhão
roxo ou maria mole (que dava em lugar úmido e tinha uma flor amarela). Aquele
banho era medicinal. E valia a pena. Era tudo verdadeiro. Os cuidados depois do
parto eram de repouso absoluto. Durante 15 dias, ela (mamãe) não saía do quarto;
era com a cabeça amarrada. Apenas tomava banhos com essas folhas todos os dias
de manhã. Colocava as folhas para cozinhar, tirava a água bem morna e fazia o
asseio.

3.3 Comparação entre saberes tradicionais e biomedicina no cuidado às


gestantes/parturientes

Os saberes tradicionais compõem um conjunto de informações, modos de fazer, criar e saber


que são transmitidos oralmente entre os participantes de determinado grupo, passados de
geração em geração, e constituindo uma parte da sua cultura, suas práticas e seus costumes.

O saber científico difere do saber tradicional não apenas por seus resultados, mas
por razões que se remontam no tempo e no espaço. O saber científico se afirma
como verdade absoluta até que outro paradigma o sobrepuje posto que universalista,
o que não se aplica aos conhecimentos tradicionais (CARVALHO; LELIS).

As parteiras, que são mulheres de confiança das gestantes ou com experiências reconhecidas
pelo seu grupo, assistem as mulheres no trabalho de parto, parto e pós-parto, bem como dos
recém-nascidos. Nesse contexto, as crianças nascem em um ambiente prazeroso: as mulheres
são acompanhada pelas parteiras e recebem menos intervenções.

As parteiras utilizam das ervas, raízes e folhas cultivadas por elas mesmas ou pelas
parturientes. Essas matérias-primas naturais são processadas por meio de maceração, chás e
garrafadas, que servem de cura para inflamações, dor de cabeça, hemorragia e outras
enfermidades decorrentes do parto.

As parteiras fazem puxações e massagens com óleos naturais nas grávidas para ver como o
bebê está ou endireitá-lo quando não está na posição correta. As mulheres também tem o livre
arbítrio de escolher a melhor maneira de ter seu bebê e principalmente de quem elas está
acompanhada na hora do parto.

Com a ascensão do modelo biomédico, de paradigma científico, o trabalho da obstetrícia, que


antes pertencia à parteira, passe para o domínio de profissionais com formação acadêmica,
como médicos e enfermeiros. O modelo biomédico reconhece como aptos apenas os
profissionais e com formação conforme suas concepções.

O parto, antes uma experiência natural, transforma-se em ato médico, favorecendo a


medicalização e o abuso de ferramentas e tecnologias que, se mal utilizadas, podem ocasionar
desconforto e sofrimento às parturientes. Tais situações podem ser visualizadas nas denúncias
de violência obstétrica.

No Brasil, no setor privado, a proporção de cesarianas é grande, chegando a 88% dos


nascimentos. No setor público, envolvendo serviços próprios do SUS e os contratados do
setor privado, chegam a 46%. A Organização Municipal de Saúde (OMS), porém, recomenda
que as cesarianas não excedam 15% do total de partos. (ENSP, 2014).
3.4 Parteiras tradicionais no âmbito do SUS

Em algumas localidades do Brasil, são fornecido cursos de capacitação e distribuídos os kits


parteira - eles contêm materiais básicos para manejo na hora do parto - às parteiras oriundas
de comunidades tradicionais e atuantes com conhecimentos práticos. Essas ações são
realizadas por meio de projetos dentro do Programa de Trabalho com Parteiras Tradicionais
(PTPT), desde o ano de 2000, pelo Ministério da Saúde. O objetivo é reduzir os índices de
mortalidade materna e infantil e incentivar a prática da humanização no parto, com a troca de
experiências entre gestores e trabalhadores da saúde, além da participação de Organizações
não Governamentais (ONGs), em populações de situação de vulnerabilidade socioeconômica
e isoladas geograficamente.

A atuação das parteiras tem eficácia estratégica por elas intercalarem uma ponte de
comunicação ao indicarem às gestantes os serviços de saúde e verificarem a viabilidade do
parto domiciliar em cada situação. Além disso, através de trocas de saberes com as parteiras
tradicionais, os gestores e profissionais da saúde elaboram um “diagnóstico da região,
desenhando o mapa da saúde, buscando mapear o fluxo da rede e a inserção das parteiras”
(BRASIL, 2014) e portanto, definir as atividades a serem desenvolvidas pelas parteiras em
suas devidas áreas de ação.

Com o intuito de se obter o conhecimento da existência ou não de ações políticas voltadas


para a inclusão das práticas do partejo tradicional no âmbito do SUS, no município de
Santarém (PA), este grupo de pesquisadores realizou uma visita, em 5 de março de 2018, à
Secretaria Municipal de Santarém (SEMSA).

A recepção foi feita por uma enfermeira que se identificou com o nome Socorro, servidora
lotada na assessoria de rios da SEMSA. Ela informou que existia um projeto que viabilizava a
inserção das parteiras tradicionais no sistema de saúde local, por meio do qual eram
realizadas oficinas e entregues às participantes alguns materiais necessários para os partos e
recursos pelo trabalho desenvolvido.
Atualmente, porém, segunda a enfermeira Socorro, o projeto encontrava-se paralisado em
razão da escassez de recursos financeiros. Ela acrescenta que muitas comunidades já possuem
profissionais de enfermagem e este seria mais um motivo para que “eles” (os gestores) não
vejam tanta necessidade da realização do trabalho em conjunto com as parteiras tradicionais.

É notório que, apesar do reconhecimento da importância da parteira tradicional, ainda são


incipientes as políticas públicas específicas que incentivem suas práticas e assegurem seus
direitos no exercício de suas atividades, levando em questão a eficiência do PTPT na inclusão
das parteiras, como destaca GUSMAN et al. (2015, p. 3):

Embora as oficinas de troca de experiências e revisão das práticas sejam


importantes para a melhoria da assistência e das condições de trabalho, é evidente
que se trata de uma estratégia que reduz a complexidade da questão ao saber/fazer
da parteira. Assim, cabe indagar o quanto essa estratégia tem sido eficaz para
produzir a inclusão da parteira, do parto domiciliar ou da mulher atendida pela
parteira no SUS.

Muitas parteiras relatam dificuldades para exercerem sua função, como a falta de materiais
utilizados no parto, as longas distâncias que precisam percorrer dentro da comunidade e da
comunidade até o centro de saúde de referência; a falta de meios de comunicação em casos de
riscos, dentre outros, que, na maioria dos casos, só podem ser resolvidas mediante ações
políticas.

Apesar dos obstáculos enfrentados, a atuação dessas mulheres dentro das instâncias de saúde,
como os conselhos, possibilita a articulação dessas trabalhadoras em prol da reivindicação de
melhorias para a categoria (GUSMAN et al., 2015).

3.5 Um relato de experiência

Em busca de mais informações e relatos de experiência, este grupo de pesquisadores


identificou e realizou entrevista com a senhora Tarcila, de 72 anos de idade, natural da
comunidade remanescente quilombola Murumuru, localizada no município de Santarém
(PA). Ela trabalhou durante um curto período de tempo de sua vida como parteira; fez cerca
de 15 partos e teve 12 filhos.
A primeira experiência dela como parteira foi o parto de sua sobrinha. Dona Tarcila conta
que, quando do ofício de parteira, não havia a preocupação em orientar o pré-natal às
parturientes, mas que, em algumas ocasiões, era procurada antecipadamente para “puxar a
barriga”1 das gestantes. O atendimento era em domicílio e, algumas vezes, tinha que ir para
outras comunidades. Ela informa que cobrava um valor simbólico de R$ 30.

Em seus relatos, Tarcila afirma que possui o dom do partejar, pois muitas das técnicas que
realizava tinha aprendido apenas observando. Ela garante que sempre foi segura de si e, nos
momentos em que precisava, pedia “intervenção” divina, dessa forma, perdia o medo e
ajudava as gestantes, não só fisicamente, mas emocionalmente também. Por motivos de saúde
e idade, atualmente dona Tarcila não realiza mais partos e, portanto, cessou a atividade de
parteira.

A partir da análise do contexto em que Dona Tarcila se encaixa, percebe-se o empirismo2 em


suas técnicas, o que não deveria ser condenado, como usualmente é nos dias atuais. É de
grande importância levarmos em consideração a cultura da população em determinado
território.

4. Conclusão

O conhecimento tradicional é de suma importância dentro das diversas práticas de saúde, e o


trabalho exercido pelas parteiras já vem desde muito tempo e contribui para garantir a
reprodução social de comunidades e a sobrevivência de indivíduos, principalmente no meio
rural. A partir deste trabalho, foi apresentado um pequeno histórico do papel das parteiras, os
desafios enfrentados no exercício desse trabalho e como os conhecimentos tradicionais se
fazem presente dentro da cultura das comunidades e a relação entre os saberes tradicionais e
os da biomedicina.

1
“Puxar Barriga” é uma prática que consiste em manobras realizadas pelas parteiras para colocar o
feto na posição correta para facilitar na hora do parto.

2
Empirismo: atitude de quem se atém a conhecimentos práticos; que se orienta pela experiência.
Apesar das limitações técnicas e operacionais no exercício das parteiras tradicionais, a
construção de vínculos é forte, o que gera grande intimidade e a percepção de confiança por
parte das gestantes/parturientes.

Por possuir estreita relação territorial e pessoal com as mulheres em âmbito comunitário,
mesmo hoje, quando existem conhecimentos científicos relevantes sobre a gestação e o parto
e redes assistenciais em diferentes níveis, a figura das parteiras poderia ser mais empregada e
valorizada, considerando o contexto de algumas políticas institucionalizadas, como a de
Humanização - que tem o acolhimento como uma diretriz - e a dificuldade da prestação de
serviços por parte do SUS em localidades distantes do perímetro urbano e de difícil acesso.

O cenário que se visualiza atualmente é de envelhecimento do partejar tradicional, no sentido


de que diminuiu o surgimento de novas parteiras. As parteiras, em geral, têm idade avançada,
o que suscita dúvidas sobre a reprodução e manutenção deste ofício no futuro. Onde subsiste,
o partejar tradicional constitui-se como um campo de resistência, em razão da sobrevivência
em meio ao modelo biomédico, nos cenários com ou sem apoio institucional.
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