10 propostas para a luta por permanência
Junto à luta contra o arrocho salarial, a
batalha pela garantia do direito à
permanência estudantil é central para a
mobilização dos estudantes. Pensando nisso,
humildemente buscamos contribuir para
uma formulação com mais concretude de
propostas que consideramos necessárias e
possíveis para garantirmos esse direito:
1) Transparência das informações sobre a
demanda de assistência estudantil e sobre
o uso dos recursos financeiros!
Hoje, a SAS (Superintendência de
Assistência Social) é responsável por
organizar e avaliar os concorrentes para o
PAPFE (Programa de Apoio à Permanência e
Formação Estudantil). Entretanto, não
conseguimos ter acesso à informação sobre
a quantidade de bolsas de cada tipo que é
disponibilizada, o número de alunos que
ficam sem o que demandam ou o uso dos
recursos financeiros. Por isso, reivindicamos
uma reunião com a SAS na qual ela
apresente o conjunto dos números
referentes à assistência estudantil e também
a formação de uma comissão paritária entre
alunos e reitoria para mapear e organizar a
demanda real existente.
2) Reajuste do auxílio moradia para pelo
menos R$ 535, conforme inflação
acumulada desde o último reajuste (de
jun/2013 a abr/2018).
O atual valor de R$ 400,00, mantido desde
2013, é totalmente insuficiente para os
custos de morar e viver em São Paulo.
Qualquer aluguel custa mais na cidade da
especulação imobiliária. Quando se leva em
conta que esse auxílio é usado pelos
estudantes para outros gastos diários – já
que a USP, ao contrário das universidades
federais, não disponibiliza uma bolsa para
esses fins – esse valor é ainda mais absurdo.
O reajuste, pelo menos de acordo com a
inflação, é urgente!
3) Aumento de 7 milhões no valor anual destinado a
bolsas estudantis, para impedir que os cotistas
deixem a universidade!
Esse ano entraram 1833 estudantes cotistas via FUVEST,
que precisam de política de assistência estudantil para
se manter na universidade. Para contemplá-los com os
atuais Auxílio Moradia-Financeiro (R$ 400), Auxílio
Alimentação (aproximadamente R$ 96 em créditos no
bandejão) e Auxílio Livro (R$ 150), precisaríamos de R$
12.200.448. Esse valor é o mínimo que a reitoria
precisaria aplicar para impedir a evasão desses novos
estudantes, levando-se ainda em consideração que a
oferta de bolsas já era menor do que a demanda antes
da aprovação das cotas. Do ano passado para cá, o
aumento nos recursos destinados para bolsas
estudantis foi de 5 milhões. Portanto, precisamos de um
aumento de no mínimo 7 milhões para garantir que os
novos alunos cotistas permaneçam na USP!
4) Critério de até 1,5 salários mínimos para que
estudantes possam se inscrever para as Bolsas
Emergenciais da USP.
Hoje, a USP somente aceita o cadastro para o
pleiteamento de bolsas emergenciais (para os três
primeiros meses de graduação) de estudantes com
renda de até 1 salário mínimo de renda per capita na
família. Esse índice é incompatível com o custo de viver
em SP e com os critérios da Lei de Diretrizes e Bases de
SP e da política de cotas sociais e raciais, que adotam a
renda máxima de 1,5 salários mínimos.
5) Que estudantes LGBTs expulsos de casa e demais
estudantes sem vínculo familiar não tenham a renda
de seus parentes levada em conta para o cálculo da
renda familiar per capita!
Hoje, toda a renda familiar é considerada, numa política
absurda que inviabiliza a permanência dessas pessoas
que já se encontram situação vulnerável.
6) Aceitação dos recursos dos veteranos que se
inscreveram para o Edital da PAPFE 2018 até março,
permitindo que eles tenham acesso às bolsas de
permanência estudantil.
Normalmente, as inscrições para demanda de bolsa
ocorrem no início de cada ano. Para 2018, a data limite
de inscrição se deu em novembro do ano passado, em
mudança de última hora e com pouca divulgação que
acarretou na não inscrição por pessoas que
precisam de auxílio. A aceitação dos recursos desses
estudantes é condição básica para garantir a
permanência deles.
 7) Efetivação da adoção de critério
socioeconômico para a alocação das bolsas de
pesquisa e extensão da universidade.
No orçamento previsto para 2018, a USP destina
mais de R$37 milhões a bolsas de estudo e
pesquisa, e cerca de R$36 milhões para bolsas
de permanência. Num cenário em que as bolsas
de permanência já são claramente insuficientes,
a própria SAS recomenda aos estudantes que
busquem essas bolsas como complementação,
admitindo o fracasso na política de permanência
que deveria existir. Diante disso, a adoção de
critérios socioeconômicos para bolsas de
estudo e pesquisa contribui para diminuir o
tamanho do problema.
8) Devolução dos blocos K e L do CRUSP e
residência estudantil em todos os campi!
A USP precisa de políticas consistentes de
moradia estudantil, que não dependam da
disponibilidade de bolsas a cada ano. Hoje, a
maioria dos campi sequer tem residência
universitária e, os que têm, têm uma
disponibilidade de vagas muito abaixo da
necessária. No campus Butantã, já temos
prédios construídos para esse fim, os blocos K e
L, tomados hoje pela reitoria.
9) Reabertura da Creche Oeste
Apesar das orientações da justiça, a USP se
recusa a reabrir a Creche Oeste, que garantia
para muitas mães e pais estudantes o direito de
criar seus filhos e ao mesmo tempo concluir
com qualidade seu cursos.
10) Pela manutenção por um semestre das
bolsas de permanência estudantil para
estudantes que trancam o curso diante de
problemas de saúde física e mental.
Atualmente uma das condições para a
manutenção das bolsas da SAS é que o
estudante esteja com a matrícula ativa, mesmo
quando este enfrenta questões de saúde física
ou mental. Isso tira dele o direito de manter suas
condições de subsistência em momentos de
maior vulnerabilidade, tornando a permanência
na universidade ainda mais precária.
PARA ALÉM DA JUSTEZA DAS PAUTAS: POR
UM MOVIMENTO ESTUDANTIL À ALTURA DE
SEUS DESAFIOS
Por mais justas que sejam nossas pautas, a
força delas se dá quando elas são apropriadas
e incorporadas por amplas quantidades de
estudantes. Essa força é imprescindível para
podermos impô-las às reitorias e governos.
Assim, precisamos fazer de nossos fóruns
espaços que verdadeiramente contribuam para
a organização e massificação de nossas lutas.
Para isso, precisamos construir uma nova
cultura política no movimento. Hoje, vemos
uma postura de guerra de todos contra todos e
a todo custo, que reproduz a lógica do
neoliberalismo e de fragmentação da esquerda.
As piores consequências disso são a
naturalização e disseminação em nossos
espaços de organização de práticas como
interrupção de falas, deboches, vaias, tentativas
de implosão da assembleia e até mesmo uso
de força física. De diversos lados, busca-se
ganhar a assembleia no grito, que se sobrepõe
às possibilidades democráticas de debate.
Todos saem perdendo, e ainda mais as pessoas
menos apropriadas do movimento, mais
inseguras ou estruturalmente excluídas da
política, como mulheres, LGBTs, negritude e
juventude periférica – os que mais precisam de
permanência estudantil.
Quando somos muitos e organizados
coletivamente, podemos construir lutas e obter
vitórias. E para sermos muitos, precisamos
construir práticas políticas coerentes com
nossos objetivos: nossos fóruns precisam ser
espaços democráticos, participativos e que
possibilitem as sínteses, o diálogo e as lutas
conjuntas. Vamos por um movimento à altura
do futuro que queremos construir!