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A ALFABETIZAÇÃO E O ENSINO FUNDAMENTAL

DE NOVE ANOS: OS DESAFIOS DO 1º ANO

Autora: Mestranda Regina Celia dos Santos Câmara


Orientadora: Profa. Dra. Norinês Panicacci Bahia

Como os professores que atuam no 1º ano foram prepara-


dos para a ampliação de mais um ano no Ensino Fundamental?
Que formação receberam? Como as formações trataram essa
nova organização? O que pensam sobre o ensino da leitura e da
escrita nessa faixa etária? A criança deve ou não ser alfabetizada
aos seis anos? Por que essa antiga questão é (re)colocada? O
foco do trabalho foi o professor que atua nas classes do 1º ano
a partir da implantação do Ensino Fundamental de nove anos:
como lidaram com a nova organização da escola; suas crenças
sobre os saberes das crianças; onde e como buscaram apoio para
realizarem o trabalho pedagógico.
O estudo consiste em uma pesquisa sobre o ingresso das
crianças de seis anos no Ensino Fundamental de nove anos,
em quatro escolas públicas do estado de São Paulo. Como
fundamento para as análises dessa política educacional, o refe-
rencial teórico adotado pauta-se em estudos sobre a legislação,
a concepção de infância, os conhecimentos sobre os processos
de aprendizagem da leitura e da escrita, a formação de profes-
sores e o trabalho pedagógico perante as diretrizes do Ensino
Fundamental de nove anos. Para tanto, foram utilizadas obras
de autores que ajudam a pensar o processo inicial de construção
do sistema de escrita alfabético e do letramento como Ferreiro
e Teberosky (1985) e Magda Soares (1997); e outros que tratam
do ensino e aprendizagem na educação infantil e discutem a
prática dos professores no ensino da leitura e da escrita nas
séries iniciais e a formação dos professores como Sonia Kramer
(1995), Délia Lerner (2002), Colello (1995) e Telma Weisz (1999).

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Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo, estruturada na
análise das proposições dos documentos oficiais, na aplicação
de um questionário (para 25 professores) e na realização de
entrevistas de aprofundamento com cinco professores (dentre
os que responderam o questionário). O propósito da aplicação
do questionário e da realização de entrevistas teve como obje-
tivos: traçar o perfil e conhecer aspectos da vida profissional
dos professores (sujeitos da pesquisa); analisar as ideias que
norteiam suas práticas de alfabetização; analisar como foram
preparados para essa nova realidade; discutir sobre os avanços
e/ou as dificuldades encontradas para desenvolverem o trabalho
pedagógico com as crianças do 1º ano; e analisar sobre o que
acreditam que deve ser garantido para o sucesso da escolari-
dade dessas crianças. Para orientar e analisar os dados obtidos
nas entrevistas, foram utilizados os seguintes autores e obras:
Maria Laura Puglisi Barbosa Franco (2003) – Análise de conteúdo;
Antonio Chizzotti (1991) – Pesquisa em Ciências humanas e sociais;
e Laurence Bardin (1977) – Análise de Conteúdo.
A pesquisa, em fase de conclusão, revela que incluir as
crianças de seis anos no Ensino Fundamental foi, para os entre-
vistados, uma medida positiva; no entanto, a implantação ocorreu
sem o preparo das escolas e dos professores. Aos docentes que
assumiram as classes de 1º ano coube o desafio de, mesmo sem
as condições estruturais e a devida formação, organizarem o
tempo e os espaços escolares. Ficou evidente nas análises acerca
do relato das práticas dos professores entrevistados o destaque
dado à alfabetização e ao letramento, embora todos reconheçam
a importância da dimensão lúdica nas atividades pedagógicas da
sala de aula. Esse destaque decorre das interpretações que fazem
das determinações da Secretaria Estadual de Educação e das
pressões indiretas percebidas por eles quanto ao compromisso
com a alfabetização nesse 1º ano da escolaridade obrigatória,
entre elas a expectativa da comunidade escolar – pais e profes-
soras – dos anos seguintes do Ensino Fundamental. Por fim, os
dados revelam, ainda, a necessidade de se garantir a formação
dos educadores, bem como de discussões sobre o currículo das
turmas de seis anos.

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Referências
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