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Autores:
ZOUAIN, Deborah Moraes – deborah@fgv.br
Chefe do Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa – FGV/EBAPE –Escola
Brasileira de Administração Pública e de Empresas
Doutora em Engenharia de Produção – COPPE/ UFRJ
1. O Contexto do Trabalho
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Somente o futebol, segundo a FIFA, movimenta cerca de 250 bilhões de dólares / ano.
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possam ser diretamente aplicadas no avanço de sua missão e no alcance de sua
visão. Inicialmente, as funções gerenciais na indústria esportiva requeriam
conhecimentos na área de promoção de eventos, que por si só já não é simples.
Atualmente, a abrangência é tão grande que a complexidade é proporcional.
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Tal estrutura poderá ser desenhada a partir dos sistemas materiais e humanos
que compõem o ambiente esportivo e formam um conjunto de organizações, que,
por sua vez, formam o sistema orgânico das práticas esportivas. Não se pode
esquecer que dentro deste sistema existe um amálgama de valores que
influenciam e participam direta e indiretamente da cultura esportiva.
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O profissional especializado na gestão esportiva faz parte desse quadro e o
caráter de especificidade faz emergir a necessidade de um perfil profissional
diferenciado. Entretanto, como essas necessidades são recentes, ainda
permanecem nebulosas as características que deverão definir a especificidade do
perfil profissional do gestor esportivo diante do quadro real e pragmático da cultura
brasileira.
Assim, este trabalho pretende estabelecer o perfil profissional ideal àqueles que
estão à frente da gestão esportiva no caso brasileiro. Qual sua formação, técnico
esportivo ou administrador de negócios? Que tipo de gestão é utilizada? Será que
as necessidades impostas pela realidade do contexto nacional são atendidas pelo
gestor esportivo brasileiro?
2. Metodologia de Pesquisa
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Este trabalho enfoca a realidade brasileira de uma forma genérica, a partir de uma
análise de conteúdo por meio de levantamento realizado em livros, periódicos,
revistas especializadas, artigos publicados em jornais de grande circulação,
internet, profissionais atuantes no mercado, instituições de ensino superior que
atuam na área de gestão de esportes e empresas de consultoria que atuam no
mercado esportivo.
Em seguida, foi empreendida uma pesquisa de campo, junto aos principais nomes
da Gestão Esportiva brasileira, com o propósito de promover uma investigação
mais precisa da realidade e da percepção de diversos atores envolvidos acerca
das mudanças neste contexto.
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Com a intenção de compreender melhor o estado da arte da gestão esportiva sob
a ótica dos entrevistados, com dados que pudessem ser contrapostos às
observações realizadas, também foi realizada no decorrer das entrevistas a
aplicação de um instrumento de levantamento de dados.
3. Gestão Esportiva
3.1 Conceituação:
“A gestão engloba todas as áreas relativas ao esporte tais como: turismo, hotéis,
equipamentos, instalações, investimentos públicos e privados no setor de fitness,
merchandizing, esportes escolares e profissionais. Enquanto a administração
esportiva seria mais limitada e sugere um foco nas relações esportivas escolares”.
O que não impede a existência de programas universitários nos EUA com títulos
distorcidos. Obviamente esta distinção não é universal. Assim como o rótulo dos
programas é inconsistente, seus títulos freqüentemente não estão condizentes
com seus conteúdos programáticos.
Por esta razão, as escolas de negócio, nos Estados Unidos, tomaram o cuidado
de se autodenominar escolas de administração de negócios ao invés de escola de
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gestão de negócios, já que outras áreas de estudo são incluídas nas escolas de
administração de negócios, tais como: contabilidade, finanças, marketing,
economia, comportamento organizacional, direito, gerência de riscos.
De acordo com Parks (1998), a gestão esportiva existe sob dois aspectos:
Primeiro, como uma área profissional e em segundo lugar, como uma área
acadêmica de preparação profissional em muitas instituições de ensino superior.
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programas esportivos militares, patrocinadores corporativos (ex.: Torneio XYZ
Internacional de Tenis), indústria de artigos esportivos e desenvolvimento de
programas esportivos (Associações, Fundações e Institutos), agências sociais
(ACM, SESC, SESI, SENAC, etc), mídia esportiva e programas acadêmicos em
gestão esportiva.
Sob uma perspectiva prática, a gestão esportiva tem existido por muitos séculos,
desde os gregos, quando Herodes, Rei da Judéia, foi presidente honorário dos
Jogos, que atraíam multidões para ver os combates entre os gladiadores ou
animais, quando uma cerimônia maravilhosa abria as competições, seguidas de
disputas atléticas que serviam de entretenimento para milhares de pessoas.
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Os componentes de negócios incluem não somente funções gerenciais como
planejamento, organização, direção e controle, mas também áreas como
contabilidade, marketing, economia e finanças e direito.
Segundo Parks (1998) estas habilidades são, em alguns casos, transferíveis o que
permite ao gestor atuar em várias áreas e não apenas em organizações
esportivas. Apresenta-se a seguir um diagrama que pode representar estes
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clusters e suas interligações.
Gerência de Informações
Relações
com a Oratória
Comunidade
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conduzam as responsabilidades dos seus trabalhos.
Liderança- influenciar os
funcionários na maneira
mais eficiente Motivação- inspirar os
funcionários em agir da
maneira mais eficiente
Controle- monitorar o
progresso das metas e
objetivos do planejamento
Processo Decisório - escolher Comunicação- enviar e receber
o curso de ação das alternativas as informações
para alcançar as metas e objetivos
Recrutamento- seleção e
treinamento das pessoas
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aEsporte para lazer e recreação; Esportes atléticos; Indústria de produtos
esportivos; Turismo esportivo e hotelaria; Agências esportivas
Esta definição parece lógica desde que o campo da gestão esportiva tenta
compreender as funções e habilidades requeridas para conduzir efetivamente os
negócios das organizações esportivas.
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Apud in Parkhouse, op. cit
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Conforme foi visto, seis competências foram identificadas como cruciais para
todos os gestores esportivos, não importando o cenário e o foco. A natureza e a
posição do gestor esportivo nos vários cenários e nos diferentes níveis de
gerência determina o grau que uma ou mais competências serão enfatizadas. A
seguir o detalhamento destas competências proposto por Parkhouse (1991).
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Gerência fiscal – habilidade para planejar, prever e controlara todos os aspectos
financeiros da organização.
Alguns estudos sobre competências do gestor esportivo foram realizados nos EUA
e Austrália. A seguir, os resultados de quatro desses estudos que poderão
fornecer dados importantes para a análise destas competências e o
estabelecimento de um paralelo entre estes resultados, ressaltando suas
características comuns. E ainda servir para nortear a pesquisa no caso da
realidade brasileira, observada as características do ambiente esportivo nacional.
Foram investigados três níveis de gerência (I– baixa; II– média; III– alta), para
determinar as diferenças. Das cento e doze (112) competências, apenas as cinco
(05) principais de cada nível serão identificadas. Elas são significativas porque
cada nível relaciona-se bem com as habilidades gerenciais para gestão de
pessoal descrita por Katz (1974):
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Habilidade conceitual – são requeridas para os gestores que desejam enxergar a
organização de forma global bem como as relações entre as partes que compõe a
organização.
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Tabela 3 – Classificação das Competências – Gerência Nível Médio
Fonte: Parkhouse, The Management of Sport: Its Foundation and Aplication, 1996.
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Em outro estudo realizado por Parks and Quain (1986), foram entrevistados
gestores esportivos de seis diferentes carreiras: fitness, promoção de eventos,
marketing esportivo, gerência e administração esportiva, direção de clubes
esportivos e gerência de atividades aquáticas.
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Este estudo ilustra o escopo da gestão esportiva. A gestão esportiva é multi–
facetada, ou seja, no seu campo de atuação profissional muitas opções de carreira
existem.
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Apud in Parkhouse, B. 1996 , op. cit.
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Lambrecht (1987) realizou uma pesquisa onde identificou diversas competências
necessárias à gerência de clubes e para determinar se existem diferenças nas
competências requeridas nas organizações de tamanhos diferentes.
Distribuição:
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Fonte : Parkhouse, The sport management: its foundation and application, 1996.
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Pode-se observar que em ambos os estudos a competência mais cotada foi à
comunicação com o cliente. Isto é um dado significativo, porque sugere ser
possível generalizar algumas competências de acordo com os cenários.
A partir destes dados pode-se perceber que existem pontos comuns entre o perfil
genérico e o perfil encontrado no profissional brasileiro, e ainda com aquele que
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atenda às expectativas dos gestores atuantes no mercado brasileiro. A seguir tem-
se um quadro comparativo entre estas competências, permitindo a análise entre
os aspectos gerais (mundiais) e os específicos do caso brasileiro.
Ø Planejamento estratégico.
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Percebe-se então que na ótica do gestor esportivo brasileiro, em atividade, o
conhecimento do ambiente esportivo é fundamental para que um profissional
possa estar apto a atuar neste segmento do mercado.
Para o Dr. Eduardo Viana, o gestor esportivo que tentar ingressar neste mercado
sem conhecimento de esportes, ou mesmo sem ter vivenciado o ambiente, sofrerá
a mais dura restrição, ou de acordo com suas palavras: “o novo profissional
sofrerá dura resistência para ingressar no mercado, desde que já tenha algum
vínculo com o ambiente esportivo, pois aquele que não o possui, não sofrerá
resistências, na verdade, será repelido”.
O consultor Alexandre Loures, acredita que apenas com uma gestão profissional a
situação caótica em que o futebol brasileiro se encontra poderá sofrer alguma
mudança. Dessa forma, poder-se-á negociar em melhores condições os produtos
que envolvem o espetáculo esportivo, tais como: bilheteria, direitos de
transmissão, licenciamento de produtos, alimentação nos estádios etc.
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No entanto, vale observar que a profissionalização não quer dizer apenas
remunerar aqueles que já desempenham as funções. Há que se estabelecer
condições de treinamento e capacitação para que, de fato, existam profissionais
aptos a exercer os cargos de executivos do esporte.
5. Considerações Finais
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No caso brasileiro, conforme foi analisado no capítulo anterior, encontramos
alguns pontos em comum com o perfil genérico do gestor esportivo, mas o que
mostrou-se como uma característica própria do mercado brasileiro é o
conhecimento esportivo, que esteve presente tanto no perfil encontrado, tanto
quanto no perfil esperado.
Não se pretende aqui crucificar o dirigente ex-atleta, até por que existem grandes
exemplos nesta categoria, a começar pelo Sr. João Havelange e o Sr. Carlos
Arthur Nuzman, respectivamente Presidente de Honra da FIFA e Presidente do
COB, membros do Comitê Olímpico Internacional, que sem dúvida alguma têm
prestado um serviço digno de orgulho para o esporte brasileiro.
Calcado no perfil genérico estabelecido pelo arcabouço teórico, que sugere uma
concentração maior nas áreas de estudo da Administração e Comunicação, e
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ainda em estudos mais profundos a respeito das competências básicas
necessárias ao gestor esportivo brasileiro, considerando-se num primeiro
momento os aspectos genéricos e em seguida, os aspectos específicos das
diversas áreas de trabalho:
O momento esportivo é muito difícil, são muitos problemas, e talvez o mais grave
seja a falta de credibilidade e transparência que ocorrem em algumas
organizações esportivas.
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Paralelamente, há que se (re)estruturar as organizações esportivas de modo que
possam estar em conformidade com as exigências e tendências que o mercado
aponta. Ou seja, é necessário a construção de um modelo organizacional que
atenda às nossas características culturais e seja adequado às nossas
necessidades específicas, observando as modernas técnicas gerenciais e os
melhores modelos existentes no mundo (benchmarking). Só então, poder-se-á
contratar os profissionais cujo perfil seja adequado àquele estabelecido pela
organização.
Só dessa forma, poder-se-á promover uma mudança que permita ao Brasil criar
políticas públicas de desenvolvimento do esporte, que através da interface com
outras políticas públicas: saúde, educação, turismo, segurança, meio–ambiente ,
desenvolvimento social e economia, permitirão a legitimação do esporte por parte
da sociedade brasileira.
6. Bibliografia
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managers. Journal of Sport Management. 1(l), 116 – 128, 1987.
MULLIN, B., HARDY, S., e SUTTON, W. Sport Marketing. Illinois: Human Kinetics
Publishers, 1993.
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